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Alguns Versos pela Infância: violações
despercebidas aos direitos das crianças
Claudia Pontes Almeida
O NASCIMENTO DO DESEJO DE DEFENDER A
INFÂNCIA E DE ESCREVER O LIVRO
São doze anos de exercício da advocacia, a maior parte
deles trabalhando com direito do consumidor. É um
ramo desafiador e dinâmico. As violações aos direitos
dos consumidores se renovam o tempo todo e são
cometidas pelos mais diversos segmentos. E foi na
defesa da criança como consumidora, especialmente,
na proteção da criança contra a publicidade abusiva
feita pelos youtubers mirins que nasceu o desejo de
proteger a infância de forma mais ampla. 
Comecei a acompanhar o crescimento numérico dos
youtubers, a assistir vídeos, fazer palestras, dar
entrevistas, participar de debates e a ter algumas
certezas: eu nunca dizia tudo que eu queria dizer e as
violações contra a infância eram maiores do que a
publicidade camuflada feita com crianças vendendo
para crianças. 
Nos próprios vídeos postados no YouTube é possível
visualizar os direitos das crianças sendo violados.
Youtubers mirins cansados e com obrigação de postar
vídeos para não desapontar seus fãs. Os pequenos
brincando com brinquedos inapropriados para a idade
e submetidos a rotina de gente grande. Sensualização
da infância, fomento ao consumo de alimentos com
baixo valor nutricional e por aí vai.
Diante deste cenário, senti o desejo de fazer mais pela
infância. Realizei um sonho de menina e ingressei no
curso de Licenciatura em Letras. Educação e direito,
acreditei na união destes conhecimentos como um
instrumento útil na proteção da infância. 
Alguns versos pela infância: violações despercebidas
aos direitos das crianças, nasceu do desejo de
sensibilizar e de alguma forma minimizar o
desrespeito cotidiano aos direitos básicos das
crianças.
A ILUSTRADORA E AS ILUSTRAÇÕES 
 Uma forma tênue de violação de direitos é
extremamente cruel, porque as pessoas, na maioria
das vezes, praticam e reproduzem essa prática sem
sentir qualquer remorso, pois não conseguem
enxergar que são agentes de algo que é reprovável.
Com o anseio de potencializar a sensibilização para as
violações imperceptíveis aos direitos das crianças,
acreditei ser necessário contar com a ajuda da arte
visual. Para isso tive o apoio e total envolvimento na
causa da minha irmã Rachel de Moraes Pontes. Ela é
formada em artes visuais e atualmente trabalha como
arte educadora, desenvolvendo atividades com
crianças e com a terceira idade. Ao pedir para a
Rachel para fazer a ilustração do livro eu dei a ela
total liberdade para criar, dando apenas uma
orientação: traduz em imagem o que você viu ao ler o
poema. Folgo em dizer que muitas ilustrações estão
mais impactantes do que o próprio poema, pois minha
querida irmã é uma artista muito talentosa e
emocionou-me muitíssimo com cada ilustração.
LITERÁRIO E INFORMATIVO 
Ler e fazer pensar. O poema é um gênero textual
capaz de fazer ecoar versos na cabeça das pessoas e
cada linha lida pode ser sentida e interpretada das
mais diversas maneiras (im)possíveis. Nas aulas de
interpretação literária, ministrada pela apaixonante
professora Isabel Moliterno, presenciei isso. Um
poema, várias visões que tornavam cada verso ainda
mais significante pela beleza de ter interpretações
ilimitadas. E é exatamente isso que eu não quero,
limitar a interpretação dos poemas que escrevi, ao
mesmo tempo que sinto obrigação de explicar porque
cada poema trata de um desrespeito aos direitos
previstos na Constituição Federal e Estatuto da
Criança e do Adolescente. Para não podar a
imaginação e ao mesmo tempo explicar porque o
poema representa uma violação do direito da criança,
consultei familiares, professores e universitários e a
solução foi a seguinte: deixar os poemas na primeira
parte do livro e na segunda colocar a violação do
direito.
SUGESTÃO DE LEITURA
Para que o objetivo deste livro seja alcançado
(sensibilização e atuação do leitor como agente
minimizador de violações aos direitos das crianças),
sugiro primeiro a leitura do poema; uma reflexão com
a utilização do seu conhecimento de mundo ou até
técnico sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente;
pense no direito violado; vá até a segunda parte do
livro e veja se a violação pensada por você é igual à
que eu pensei. Não tem como errar, se a sua
interpretação ao ler o poema foi no sentido de que é
violação ao direito de brincar e eu disse que é violação
ao direito à saúde, isso significa que as crianças
precisam muito de nós, porque o direito à uma
infância protegida tem sido violado de forma mais
despercebida do que eu consegui imaginar. Agradeço
seu interesse pelo tema e espero sua indignação com
a leitura deste livro. Indigne-se e seja um agente de
transformação por uma infância livre de desrespeito.
ALGUNS VERSOS PELA INFÂNCIA 
JOINHA
Brincar por brincar 
Diversão como única marcação 
Sem sentir o tempo passar  
Num mundo de distração 
Era assim na infância 
Brincada na calçada
Na rua movimentada
No quintal da diversão
Para saber se a brincadeira era divertida 
Usava-se velhas medidas 
Gritos e sorrisos 
Preenchiam o lugar
Só que agora é diferente 
O quintal é um sítio 
Que o tamanho não se pode precisar 
Com tantos amigos 
Que o nome não dá para lembrar 
Eles não estão do meu lado 
Mas deixam seu recado
Um sinal para aprovação 
Um like cobrado 
Não é brincar por brincar
Precisa avaliar
Não mede a diversão
Só mede a produção
Deixa a criança brincar 
Corre e pula sem parar 
Tanta energia para gastar
Deixa a criança brincar
E daí que vai sujar 
Toda brincadeira tem um risco
Só precisar avaliar 
Se vale o machucado
Ou o brilho amuado
Se a brincadeira virar esporte  
Que criança de sorte 
Vai queimar a energia 
Com saúde e alegria
Criança não tem que ficar parada
Olhando telas brilhar
Ela é o próprio brilho 
Que não deve apagar
Não é à toa que muitos dizem 
Não deixe a criança dentro de você morrer
Porque o que bom 
Não precisa deixar de ser 
Deixa a criança brincar
Não escolha a brincadeira
Deixa ela escolher 
Deixa ela viver
Com quem meu filho está? 
Você contrataria alguém para cuidar do seu filho que
fala palavrão?
Que tira a sua autoridade
Que olha para seus filhos com maldade 
Que só liga para o dinheiro 
Que não ajuda na lição
Se eu disser que você já contratou
Que essa pessoa tá infiltrada 
Dentro da sua casa 
Dizendo o que seu filho tem que falar 
Dizendo o que ele tem que comprar 
A casa caiu e você não viu 
E ainda pode piorar 
A pessoa vai fazer seu filho te odiar
E quando você se tocar
E quiser mudar 
Vai querer deletar
Só que ela vai continuar lá 
Agora você vê com outros olhos
E se pergunta Como eu deixei ela entrar? 
Com a voz infantilizada
Com roupa colorida 
Entrou e deixou uma ferida 
Difícil de cicatrizar
Nem tudo está perdido 
O bom da infância é poder renovar
Mostra coisas novas 
Muda o olhar
O travesseiro
Devia ser de espuma
Isso não vou lembrar
Hoje tem de plumas 
Isso não faz diferença 
Objeto para descansar a cabeça 
Para desligar o dia 
Sentir o sorriso 
Aparar as lágrimas 
Na infância era um brinquedo 
A arma que não dava medo  
Na guerra de diversão  
Numa casa de muitos irmãos 
Com sonhos leves
O menino acordava com a cabeça no colchão
A irmã ousada furtava o seu objeto de admiração
Nada com muito valor 
Talvez fosse mais macio
Era apenas um travesseiro 
Que julgava ser melhor 
Um dia o irmão cansado de acordar destravesseirado
Deixou um bilhete ao lado do objeto cobiçado
Fingiu dormir 
A irmã sem desconfiar  
Tentou mais uma investida
Leu o bilhete e o riso despertou “ se pegar o meu
travesseiro de novo vai levar tanta porrada que não
saberá nem quem te acertou” 
Todos riram 
O furto acabou 
O travesseiro eternizou
Aquele olhar 
Numa época em que tudo se registra
Nenhuma lente poderia captar
O amor que brotava 
Do teu olhar 
Aquele brilho intenso
Afastava qualquer tormento 
O desejo de dormir 
Sem hora para acordar 
E naquele momento 
Eu era o alimento
Dava o sustento 
Regava o olhar
Puro olhar
Sem julgar 
Sem cobrar 
Só, amar
A balança 
Num Brasil de Brasis  
A fome e a obesidade
Caminham pela cidade 
E nos extremos vis 
Não andam de mãos dadas 
Mas na caminhada
Crianças são maltratadas 
Infâncias são ceifadas
Aquela que não tem o que comer 
Tem dificuldade para estudar
O oco que faz doer
Não a deixa concentrar 
A que repudia a balança 
Na escola não quer ficar
Nos números não vê esperança
E para casa quer voltar
Uma carrega o vazio da fome
O peso da desnutrição
A outra derruba o olhar
Para não ver a desaprovação 
Ambas não fogem do sofrer 
Estão nos extremos da balança
Que nenhuma dama ousa erguer 
A solução não está em uma mão
Não há apenas uma chave para encontrar 
Comece entendendo que faz parte da solução 
Faça o que pode ser feito 
Para a balança equilibrar  
Pode parecer só um grão 
Mas o importante é começar
O amigo do 227 
E de repente eu me pergunto  
Como vivi sem você 
Sem te conhecer 
Sem os teus cuidados 
Tão detalhados
É tão difícil encontrar um amigo 
Alguém que realmente se preocupa 
Que conhece suas necessidades
Que respeita suas prioridades 
Que não se importa com o que você tem 
Mas com quem você é
Penso em tudo que você passou 
Que não foi fácil chegar onde chegou 
E que mesmo assim 
Não se esqueceu de mim
Como posso fazer para te compensar? 
Para que sua amizade não tenha sido em vão
Para que olhem para você e me vejam
Saibam que aprendi a te escutar 
Posso dizer que você existe 
E não importa quanto tempo passe 
Que te levo apesar da idade 
Contarei aos meus filhos 
Sobre a nossa amizade 
Torcendo para que eles encontrem 
Um amigo de verdade.
O asfalto 
Consigo enxergar
Nas ruas que cresci
A infância que vivi 
O brincar sem cansar 
A infância agitada 
A pele marcada 
A bicicleta amassada
As iniciais na calçada 
Um risco no chão
A quadra improvisada
O som da risada
As cores da diversão
Ah, se o asfalto pudesse falar... 
O que ele diria? 
Que sente saudades da gritaria?
Ou que não viu o tempo passar? 
O asfalto mudo 
Viu o melhor do mundo 
A infância ganhada
A infância brincada
Infância dopada 
Ela queria brincar 
Mas alguém achou que ela brincava demais
Ela queria aprender 
Mas alguém achou que ela perguntava demais
Chamou a Rita
A vontade de brincar, passou 
O desejo de aprender, adormeceu.
Podia ser Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade
Podia ser um pedido de atenção 
Chamou a Lina 
Diminuiu a atividade
Apagou o brilho
Ligou o silêncio
Reinou a paz 
Que paz é essa?
Que deixa as coisas no lugar
Não pula no sofá 
Não pede um olhar
A Rita e a Lina não são meninas 
Que se possa brincar 
Nem babás 
Que se possa confiar 
São uma possível solução
Para um mundo de distração
Uma borracha que apaga a criança 
Um remédio que dopa a infância
Nem o nome ele quer dar
Dá para acreditar? 
Que século estamos? XXI?
E ainda tem uns fulanos 
No século passado 
Que acham que o filho fora do casamento é um
bastardo
Não pensa que ele vai se sentir rejeitado?
Ignora que todos os filhos são iguais perante a lei?
Que amor é esse que concebe, mas não cede? E o seu
filho ou filha é só uma semente que vingou no solo
errado?
Então fulano pai de família que não quer dividir a
herança Neste século tem tecnologia Tem um exame
chamado DNA Então não adianta você dizer que não
vai registrar Pensasse antes de sair semeando onde
não podia plantar
Agora vai nascer uma flor
Plantada por um sujeito mesquinho
Um tinhoso cheio de espinhos Ah! Eu clamo que seus
cromossomos sejam bem fraquinhos
Que essa flor em nada se pareça com você
Que puxe para a mãe apaixonada
Um tanto abobada 
Que cedeu ao que ela achou que era amor
E acabou sendo um viveiro de uma linda flor 
Venha minha florzinha inocente 
Porque se depender de mim 
Não lhe faltará amor 
Eu sei que você vai precisar de muito carinho 
Para suavizar os espinhos 
 
Tem uma frase do século passado
Que ainda é muito usada 
Não saiu de moda
Nem foi aniquilada 
“ Pai é quem cria” 
Criar não é uma identidade genética 
Não é um sobrenome no papel 
Criar é cuidar de você todos os dias 
O teu lanche preparar 
Cortar a beirada do seu pão 
Te ensinar a andar de bicicleta 
e desenhar um avião
Nem todos os fulanos
São indignos do teu amor
Ainda existem jardineiros gentis 
Que cuidam das rosas que não plantaram
Que amam o que não semearam 
Que ensinam um pequeno aprendiz
Nem todos os fulanos
São indignos do teu amor
Ainda existem jardineiros gentis 
Que cuidam das rosas que não plantaram
Que amam o que não semearam 
Que ensinam um pequeno aprendiz
Pequena flor não se preocupe um nome não é nada
Sinta-se amada, querida e desejada 
Venha, apenas venha 
Quando você chegar muita coisa vai mudar 
Não sei se os espinhos vão cair 
Mas o amor vai aumentar
A tua comunicação sem palavras muita coisa vai dizer
Venha, apenas venha
e deixe o tempo correr.
Não pode virar paisagem 
Ela está onde não deveria
Mas a minha correria 
Faz-me ignorar 
Foco nos meus problemas 
Cego minha sensibilidade 
Olho, vejo, mas não me importo 
Nem no governo a culpa eu sou capaz de jogar 
Ela integra a paisagem 
E nada precisa mudar 
Eu não preciso fingir 
Não atravesso a rua 
Não desvio o olhar 
Ela é parte da paisagem 
Não me incomoda 
Não me faz pensar
Mas um dia a paisagem ousada decide falar 
Sua voz minguada completa o som da cidade Buzinas,
vendedores, pombos, cachorros e gatos Uma criança
falando é só mais um ruído que preciso suportar 
Não coloquei no mundo 
Não tenho que cuidar 
Frases malditas
Palavras repetidas que precisam parar 
Não! Sua voz não é um ruído 
Sua voz é apelo 
Um choro reprimido 
Um pequeno pedido 
Que precisa ser atendido
Não fiz o rio, mas preciso cuidar
Vivo em sociedade 
Tenho responsabilidade
Que não dá para escapar 
Não é paisagem 
É uma pintura desfalcada
Que precisamos arrumar
Somos todos artistas na cidade
Com uma tela e um pincel 
Um pinta a realidade 
O outro desenha o céu .
Não quero um rótulo 
Olho no espelho e não vejo nada errado
Corro, brinco e não fico parado
Mas no papel as coisas mudam 
Sinto-me torto e acanhado
As letras correm, dançam e mudam de lado 
Parece um tipo de trapaça, um circo sem graça Penso
que sou o palhaço 
Que finge não acertar o traço 
Mas não é fingimento 
Eu não sei explicar 
Minha mãe diz para eu ter paciência
E eu tenho vontade de parar
Estou cansado de ser maltratado colocado de lado
como as letras que eu não consigo ler 
Tem razão os que dizem que eu sou desajustado?
Talvez eu não tenha nascido para aprender.
Uma alma abençoada um certo dia 
Deu um nome para a dificuldade que eu sentia
Disse que era dislexia 
Uau! E agora tudo vai mudar?
As letras vão parar de girar?
Não e não. Neste circo não tem magia 
E não adianta só dizer que eu tenho dislexia 
Para minimizar o atraso, eu preciso de atenção, de
exercícios diferentes 
Professores dedicados e um bom aparato
E o que eu posso fazer por mim? 
Olhar no espelho e não ver nada de errado
Tenho um transtorno de aprendizado 
Mas não sou transtornado 
Datas, nomes e sequências 
Eu sempre vou esquecer 
Tenha paciência comigo 
Mesmo depois que eu crescer. 
Marrom 
Cinco anos em mundo que deveria ser colorido 
E de repente uma pergunta que dói o ouvido
Você gosta de pessoa marrom? 
Um cinza sem sentido 
A fala embargada e a busca pela resposta mais
adequada.
Brinquedos, amigos e mimos e do nada uma flechada
que acertou em cheio o meu coração. 
Tirou-me a razão, o chão.
Antes de pensar na resposta, questiono a pergunta.
Por que ela quer saber? Não sei. 
Não tenho coragem de perguntar. 
Não estou preparada para ouvir. 
Os lindos olhos castanhos aguardam uma resposta.
Você é linda, educada, gentil e amada.
Você é boa com as outras pessoas e é isso que
importa.
Amarela, branca, preta, marrom ou vermelha a cor da
pele não faz você.
Não diz quem você é. 
Senti que a dúvida ainda pairava e respondi o que ela
queria ouvir: eu amo pessoas marrons!
 
Contrariei o que eu havia dito. 
Devia ter respondido: eu amo pessoas de todas as
cores. É a pura verdade, mas eu fui covarde.
Não quis acreditar que uma criança de 5 anos de
alguma forma sentiu-se diferente. 
Diferente porque carrega na pele uma cor
questionada. Uma cor humilhada.
Por anos escravizada e ainda estigmatizada
A cor da pele não importa? Menti. 
Racismo criminalizado, às vezes velado muitas vezes
escancarado, poucas vezes penalizado. 
Não escolhe idade, descolori e fere.
Um dia, quando sua idade avançar 
Ou minha coragem aumentar 
Direi a verdade 
A cor da sua pele diz quem você é 
Diz de onde você veio, conta uma história 
Ressalta a ignorância e a pequenez 
humana  
Enaltece a luta de homens e mulheres
Que ousaram e ainda ousam colorir o mundo para
você, para mim e para todos que conseguem enxergar
a beleza do arco íris de gente.
Imagens distorcidas, infância perdida.
O que pode ser tão importante 
Para manter-me tão distante?
Luzes artificiais, amizades virtuais 
Piadas repetidas e imagens distorcidas
O que pode ser tão importante 
Para ofuscar o brilho do teu olhar 
Para ignorar os teus pedidos 
E com tuas lágrimas não me sensibilizar
O que pode ser mais importante 
Do que o doce dever de uma rosa cuidar
De ver cada pétala abrir 
E sentir o seu perfume exalar 
Um comportamento tão mesquinho Olho para a rosa e
só vejo os espinhos
E eu sigo sem notar
O que de fato importa
Vai embora e não vai voltar
O sorriso será silenciado e o brilho será apagado
As luzes sem relevância 
apagaram o brilho da infância 
os sons sem sentido abafaram teu lindo sorriso 
Nada deveria ser mais importante 
Do que os teus olhos brilhantes 
Do que seu sorriso contagiante
Do que a voz que só pedia um instante.
VIOLAÇÕES DESPERCEBIDAS AOS DIREITOS DAS
CRIANÇAS 
Joinha 
 Violação legal - Artigo 15 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
 Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à
liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis. 
Submeter a criança à rotina de adultos desrespeita a
sua condição de pessoa em desenvolvimento. E é
exatamente isso que acontece quando crianças
postam vídeos no YouTube, cobram e esperam likes. É
óbvio que esse poema foi inspirado nos youtubers
mirins que têm suas vidas envolvidas com avaliações,
resultados e desempenho. 
Medem sua popularidade com seguidores e
visualizações. Vivem uma rotina pautada em
produtividade e mercantilização de suas
“brincadeiras”. Tudo é vendido desde a imagem da
criança até a própria infância.
Mesmo que se encare o ato de postar vídeos e ter
seguidores como uma brincadeira moderna, não
parece razoável pensar que as crianças deixaram de
ser crianças. Acreditar nisso é um verdadeiro
retrocesso à época medieval. Crianças não são mini
adultos. Igualmente, inaceitável é pensar que as
crianças são colocadas totalmente alheias a sua
reputação no YouTube, sem acesso à número de likes,
seguidores e visualizações. Por que esse vídeo tem
poucos likes? O que eu fiz de errado? O que eu preciso
fazer para ter mais likes? É bem possível que os
youtubers mirins façam esses questionamentos e
definitivamente isso é um desrespeito a condição da
criança de pessoa em desenvolvimento.
Deixa a criança brincar 
Violação legal: Artigo 16 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
 Art. 16. O direito à liberdade compreende os
seguintes aspectos: (...) IV - brincar, praticar
esportes e divertir-se; 
Direito de brincar, precisou de uma lei para garantir
isso. Brincar deveria ser inerente à infância. E mesmo
com uma lei, não é difícil encontrar crianças que
quase não brincam, independentemente da classe
social, umas envolvidas com várias atividades
curriculares e outras hipnotizadas em telas.
Infelizmente, cada vez mais as crianças estão longe do
desenvolvimento de atividades lúdicas. Viver no mundo
da fantasia, da imaginação é uma realidade distante da
infância moderna. Presas com medo da violência.
Muitas vezes sem a presença dos pais, a infância tem
perdido o brilho. É preciso que o direito de brincar seja
amplamente exercido. Deixe a criança brincar e
brinque!
Com quem meu filho está? 
Violação legal: Artigo 17 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica
e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Tem tanto adulto falando tolices em tanto lugar, mas
no YouTube as asneiras são coloridas e atraentes.
Esse poema foi inspirado em uns youtubers adultos,
que fizeram da profissão uma caixa registradora e não
têm qualquer preocupação com os valores distorcidos
que passam aos pequenos. Incentivam a alimentação
não saudável, o consumo desenfreado de coisas
inúteis, fomentam a violência, o preconceito e o ódio.
O fato é que as crianças quando seguem e assistem
alguns youtubers estão sendo vistas apenas como um
número. Não se pensa no teor dos vídeos e no impacto
psicológico que se pode causar nos pequenos. O único
pensamento é: como eu posso vender para eles.
 YouTube não é brinquedo. Têm vídeos bons? Sim, mas
não dá para colocar uma tela na mão da criança e
achar que ela está segura. É preciso orientar e
acompanhar o que as crianças assistem. 
Alguns teóricos acreditam que a formação do caráter
se dá por hábitos e estes por repetições, seguindo
essa linha de estudo não quero prever como será o
desenvolvido do caráter das crianças que são deixadas
aos cuidados desses faladores de tolices que postam
vídeos.
O travesseiro
Violação legal: Artigo 19 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 19. É direito da criança e do
adolescente ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família
substituta , assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente que
garanta seu desenvolvimento integra. 
Tenho três irmãs e um irmão e quando pensei em
fazer um poema sobre convívio familiar a primeira
coisa que veio à mente foi o bilhete que meu irmão
Jason deixou no travesseiro para a minha irmã Rachel
(a ilustradora). Esse momento tornou-se inesquecível,
não só pela graça, mas pela ternura de ter
experiências que somente podem ser vivenciadas no
seio familiar. 
São coisas pequenas e bobas, mas enchem os olhos
de lágrimas e gratidão por ter tido uma família
numerosa e divertida. Penso nas crianças privadas do
convívio familiar, pelos mais diversos motivos, e de
como isso é triste.
Aquele olhar 
 Violação legal: Artigo 7º Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
 Art. 7º A criança e o adolescente
têm direito a proteção à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de
existência.
 § 7o A gestante deverá receber orientação
sobre aleitamento materno, alimentação
complementar saudável e crescimento e
desenvolvimento infantil, bem como sobre
formas de favorecer a criação de vínculos
afetivos e de estimular o desenvolvimento
integral da criança.
.
No dia 03 de abril de 2000, dei à luz ao Daniel, meu
primeiro filho. Maior que a alegria que senti por ser
mãe foi a satisfação que tive ao amamentá-lo
Lembrando do olhar do meu menino quando eu o
amamentava, escrevi “Aquele olhar”. Nada é mais
saudável para o bebê do que receber o leite da mãe. A
mãe também recebe. Eu recebi aquele olhar que
guardei no coração, transformei em versos e agora
compartilho. 
Aquele olhar é para mostrar que a criança tem direito
à uma alimentação saudável e essa alimentação deve
começar desde o nascimento. 
Existem muitos mitos com relação à amamentação.
Amamentei os meus dois filhos. Eu dormia
pouquíssimo e tinha sensação que o alimento não
chegava no estômago, ia direto para os seios. Parecia
uma experiência muito árdua, mas fui bem orientada
e tinha consciência de como o aleitamento materno
era importante tanto para o bebê quanto para a mãe.
Mesmo com a atuação de organizações do terceiro
setor que promovem oficinas e campanhas de
orientação sobre a importância do aleitamento
materno. Há a necessidade de uma política pública
mais eficiente neste ponto. 
Ainda existem mães que acreditam que seu leite é
fraco e completam a alimentação da criança com
fórmulas.
Além do valor nutricional do leite materno que é
incontestável, o laço emocional que une mãe e filho
neste ato é maravilhoso.
A balança 
Violação legal: Artigo 8º Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente e artigo 6º da Constituição
Federal
Art. 6º São direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 90, de 2015)
O direito à alimentação é um direito social. O Estado
deve atuar de forma efetiva para que toda a sociedade
tenha o direito humano à alimentação adequada. Não é
aceitável que nossas crianças passem fome ou vivam
com alimentação inadequada. A vulnerabilidade social
faz com que muitas famílias busquem alimentos de
baixo valor nutricional e ricas em açúcar, gordura e
sódio.
Muitas crianças estudam de barriga vazia, enquanto
outras não têm vontade de ir à escola por estarem
com sobrepeso. Essa é uma realidade muito triste. E
esse foi o poema mais difícil para terminar, porque
não queria cair no senso comum e jogar a
responsabilidade unicamente para o Estado ou
reproduzir o discurso de muitos gigantes cruéis que
culpam os pais.
Leio esse poema com um nó na garganta porque não
consigo enxergar uma solução imediata. Já tive a
oportunidade de participar de reuniões e palestras
com representantes da indústria de alimentos e ouvi
coisas que são difíceis de engolir. Em uma das
reuniões da Câmara Técnica do Procon Paulistano
sobre Publicidade direcionada ao público infantil
escutei uma nutricionista (que trabalha para alguma
indústria) dizer que um bolinho industrializado tem
menos açúcar do que um bolo feito pela vovó. 
Embora isso me pareça bastante estranho, não sou
especialista para contestar, mas sei que a vovó não
coloca no bolo açúcar invertido, pirofosfato ácido de
sódio conservador propionato de cálcio, aromatizante,
conservador sorbato de potássio, estabilizantes
monodiglicerídeos e polisorbato 60, todos ingredientes
que estão no bolinho industrializado.
Convivi com nutricionistas maravilhosas quando
trabalhava no Idec e aprendi que um preparo culinário
é muito mais saudável que um produto
ultraprocessado. Prefiro guardar esse aprendizado e
pedir para que as vovós continuem fazendo bolo para
seus netos. Esses bolos têm um gosto especial que a
indústria nunca vai conseguir reproduzir. Não tenho
uma solução imediata para o desequilíbrio da balança,
mas tenho certeza que o equilíbrio somente
acontecerá se o Estado, a sociedade e as famílias
atuarem conjuntamente. E para as famílias que
conseguem comprar alimentos in natura para seus
filhos, uma dica: cozinhem! Utilizem menos açúcar,
menos gordura, menos sódio e muito amor.
O amigo do 227 
Violação legal: Artigo 8º Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente e artigo 227 da Constituição
Federal. 
 Art. 227  É dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
Art. 4º É dever da família, da comunidade,
da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
Neste poema não tem uma violação
propriamente dita, mas uma informação e uma
homenagem. O artigo 227 da Constituição
Federal e o artigo 4º do ECA, preveem para as
crianças e adolescentes o Princípio da
Prioridade Absoluta. Isso significa dizer que a
efetivação de todos os direitos fundamentais
deve ser garantida primeiramente para as
crianças e adolescentes.
Quando vimos o desrespeito com que as crianças são
tratadas, nem conseguimos acreditar que a lei prevê
uma proteção mais ampla para as pessoas que ainda
estão em condição de desenvolvimento.
Para entender melhor o Princípio da Prioridade
Absoluta no Brasil, poderíamos mudar a famosa frase
“ Mulheres e crianças primeiro” para “ Crianças e
mulheres primeiro”.
Para dar efetividade ao referido princípio, num
exemplo hipotético, em que se discutisse na Câmara
Legislativa o aumento da taxação de bebidas
açucaradas para diminuição do consumo entre as
crianças, o Princípio da Prioridade Absoluta poderia
ser invocado e a proteção da criança venceria em
detrimento da indústria de bebidas.
Dada a informação passo a homenagem para o
Instituto Alana, que todos os dias e por várias frentes
fortalece e faz com que seja efetivo o Princípio da
Prioridade Absoluta. Sou completamente apaixonada
pelo trabalho deles. Não aprendi na faculdade sobre a
proteção da infância, aprendi com o Instituto Alana.
Em cada palestra, roda de conversas que tive a
oportunidade de vê-los defender a infância de forma
robusta, baseada em estudos e fatos. 
Mais do que pensar no artigo 227 da Constituição
Federal quando escrevi esse poema, pensei no
trabalho do Alana e como eles são verdadeiramente “
O amigo do 227”. Vida longa ao Amigo Alana!
O asfalto 
Violação legal: Artigos 15 e 16 da Lei 8.069/90 -
Estatuto da Criança e do Adolescente 
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito
à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis. 
Art. 16. O direito à liberdade compreende os
seguintes aspectos: 
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; 
 A falta de segurança pública tem tirado as crianças
de vários lugares, principalmente nas grandes
cidades. Raramente vejo crianças brincando nas ruas
do meu bairro. Uma realidade bem diferente da
infância que tive, vivia na rua. Brincava tanto que
esquecia de comer. Minha mãe tinha que me lembrar.
Chegar da escola, comer, fazer a lição e depois ficar
grudado em alguma tela não pode ser considerado
brincar. Não existe o desenvolvimento da imaginação
quando a criança olha outra brincando e se divertindo
num vídeo. 
Sei que muitas crianças não vão à escola, não têm o
que comer e muito menos uma caixa mágica de
observação da diversão alheia. Mais uma vez digo que
não tenho a solução para salvar a infância de todos os
males. Esse livro é a forma que encontrei para que a
minha indignação não fosse uma mosca sem asas que
não ultrapassa a barreira de minha casa, como na
música In(dig)nação do Samuel Rosa e do Chico
Amaral. 
Eu estou usando a liberdade que muitas crianças não
têm. A liberdade de dizer o que penso, de conseguir
textualizar meus pensamentos.
Não tive uma infância fácil, muitas vezes faltou o
alimento, a roupa, mas não posso dizer que não tive
liberdade para ser criança. 
Não é somente a falta de segurança pública que tira a
liberdade das crianças, às vezes a própria família faz
isso. Lembro-me de uma menina triste como o sapato
novo e perguntei o porquê. A garotinha falou que
estava triste porque com os sapatos novos não podia
brincar para não os estragar.
Precisamos deixar as crianças serem livres para
serem crianças.
Infância dopada 
Violação legal: Artigo 7º da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação
de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.
Quando cheguei na Faculdade de Letras alguns alunos
já atuavam na área da educação e foi lá que ouvi pela
primeira vez sobre Ritalina nome comercial do
metilfenidato. Medicamento indicado para melhorar a
cognição de pacientes diagnosticados com transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). 
É apenas um medicamento que, segundo dizem, é
eficaz para o fim que se destina. O problema é que
esse remédio, tarja preta, tem sido usado
indiscriminadamente. 
Mesmo para as crianças que são diagnosticadas com
TDAH, o uso do metilfenidato não é obrigatório,
segundo alguns estudiosos sobre o assunto. O fato é
que esse medicamento tira o brilho da infância. E o
que apaga uma criança é uma violação aos direitos da
infância.
Nem o nome ele quer dar 
Violação legal: Artigo 17 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais. 
Muitas crianças não têm o nome do pai no registro de
nascimento. Isso é um desrespeito a criança que tem
o direito de ter o nome de seu genitor em seu
documento.
Convivi de perto com mães que passaram por isso,
recentemente. Não eram casos de investigação de
paternidade, os pais eram muito bem conhecidos.
Tinham outra família, uma reputação a zelar, ou não
tinham disposição nenhuma de comparecer ao
cartório.
Não consigo entender como alguém deixa de
reconhecer um filho, da mesma maneira que não
entendo o desprezo que muitos pais têm por seus
filhos, mesmo aqueles “ganham” um nome. 
É muito egoísmo e falta de amor. 
É mais um desrespeito ao direito da criança que
macula a infância.
Não pode virar paisagem 
Violação legal: Constituição Federal, Estatuto da
criança e do Adolescente e toda legislação nacional e
internacional sobre direitos humanos. 
Crianças em situação de rua ainda são uma realidade
no Brasil. E quantos direitos são violados de quem não
tem a certeza do alimento. Sabe que a escola é um
lugar distante. Não tem o direito de ir e vir. É olhado
com desprezo e medo. Sofre violência. Passa frio. Não
tem cuidados básicos de higiene pessoal. Não tem um
lugar certo para dormir. Pensar nas violações sofridas
pelas crianças em situação de rua é extremamente
pesado e como já foi dito, a proposta deste livro não é
apontar uma solução. Quero finalizar esse comentário
relatando uma cena que vi quando tinha 15 anos e foi
inspiração para uma crônica intitulada “ Pátio Barão”.
Vi crianças brincando à noite na Rua Barão de
Itapetininga. Não sei se iriam dormir num abrigo ou
ali próximo, não quis pensar nisso. 
Foquei meu olhar no fato que eram crianças e
continuavam a ser crianças mesmo sem tantos
direitos.
Não quero um rótulo 
Violação legal: Artigo 53 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito
à educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se lhes: (...) 
Dislexia, mais um que aprendizado adquirido na
Faculdade Letras, especificamente na disciplina de
Psicologia da Educação ministrada pela professora
Roselaine Pontes de Almeida, carinhosamente e
merecidamente chamada de Rosalinda.
Fiz esse poema para uma apresentação na aula sobre
transtornos de aprendizagem. E percebi que tinha
compreendido a questão quando vi o brilho nos olhos
da Rosalinda e ouvi o relato de uma colega de turma
que tem dislexia e discalculia.
Muito se fala na dificuldade que um professor da rede
pública tem para lecionar em uma sala com mais de
30 alunos, mas pouco é falado que alguns desses
alunos podem ter algum transtorno de aprendizagem,
o que potencializa a dificuldade do professor que
precisa encontrar maneiras diferentes de ensinar
para cada aluno.
As crianças não têm somente o direito à educação,
mas também o direito de ter respeitada a sua
condição de indivíduo que possui uma forma diferente
de aprender. Todos nós aprendemos de maneiras
diferentes, e infelizmente isso não é observado na
maior parte das escolas, sejam elas públicas ou
privadas.
Marrom
Violação legal: Artigo 5º da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será
objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais. 
Essa violação foi fácil de adivinhar. Difícil é aceitar que
ainda exista preconceito racial. Mais difícil ainda é
saber que as crianças também são vítimas de
racismo.
Você gosta de pessoas marrom? Minha filha Estela
que fez essa pergunta. A resposta vocês viram no
poema.
Quantas crianças não perguntam nada e crescem
pensando que não são bonitas ou não são dignas de
algo por serem marrons, rosas, amarelas, azuis.
Tem tanta coisa que precisa mudar, mas essas
mudanças só vão começar quando deixarmos de achar
que o racismo não existe. Que é um exagero. Uma
mania de perseguição.
Recentemente, minha filha fez um desenho com toda
a família. Em seu desenho todos eram marrons.
Somos todos coloridos na minha família, uma boa
mistura de raças, mas para a Estela todos são como
ela, todos somos marrons.
Imagens distorcidas, infância perdida.
Violação legal: Artigo 18 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente 
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Esse foi o primeiro poema que escrevi para o livro.
Quando o leio, vejo várias imagens de famílias que têm
preferido o celular do que mais tempo com as
crianças. Um dia eu estava fazendo alguma coisa no
celular e minha filha Estela conversando comigo e de
repente ela disse: mãe repete o que eu disse. Eu sabia
a metade. Depois disso, o uso de celular na minha
casa mudou. Praticamente eu e meu marido não
usamos o celular quando estamos com a Estela. 
Meu filho Daniel já está com 18 anos e passou tão
rápido. Penso que tenho que curtir cada minuto que
estou com minha filha, porque por mais difícil que
seja para os pais entenderem isso, os filhos crescem. 
Fica a dica: descelularize quando estiver com seus
filhos. Nenhum brilho é mais importante.

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Poemas infantil

  • 1. Alguns Versos pela Infância: violações despercebidas aos direitos das crianças Claudia Pontes Almeida
  • 2. O NASCIMENTO DO DESEJO DE DEFENDER A INFÂNCIA E DE ESCREVER O LIVRO São doze anos de exercício da advocacia, a maior parte deles trabalhando com direito do consumidor. É um ramo desafiador e dinâmico. As violações aos direitos dos consumidores se renovam o tempo todo e são cometidas pelos mais diversos segmentos. E foi na defesa da criança como consumidora, especialmente, na proteção da criança contra a publicidade abusiva feita pelos youtubers mirins que nasceu o desejo de proteger a infância de forma mais ampla.  Comecei a acompanhar o crescimento numérico dos youtubers, a assistir vídeos, fazer palestras, dar entrevistas, participar de debates e a ter algumas certezas: eu nunca dizia tudo que eu queria dizer e as violações contra a infância eram maiores do que a publicidade camuflada feita com crianças vendendo para crianças. 
  • 3. Nos próprios vídeos postados no YouTube é possível visualizar os direitos das crianças sendo violados. Youtubers mirins cansados e com obrigação de postar vídeos para não desapontar seus fãs. Os pequenos brincando com brinquedos inapropriados para a idade e submetidos a rotina de gente grande. Sensualização da infância, fomento ao consumo de alimentos com baixo valor nutricional e por aí vai. Diante deste cenário, senti o desejo de fazer mais pela infância. Realizei um sonho de menina e ingressei no curso de Licenciatura em Letras. Educação e direito, acreditei na união destes conhecimentos como um instrumento útil na proteção da infância.  Alguns versos pela infância: violações despercebidas aos direitos das crianças, nasceu do desejo de sensibilizar e de alguma forma minimizar o desrespeito cotidiano aos direitos básicos das crianças.
  • 4. A ILUSTRADORA E AS ILUSTRAÇÕES   Uma forma tênue de violação de direitos é extremamente cruel, porque as pessoas, na maioria das vezes, praticam e reproduzem essa prática sem sentir qualquer remorso, pois não conseguem enxergar que são agentes de algo que é reprovável. Com o anseio de potencializar a sensibilização para as violações imperceptíveis aos direitos das crianças, acreditei ser necessário contar com a ajuda da arte visual. Para isso tive o apoio e total envolvimento na causa da minha irmã Rachel de Moraes Pontes. Ela é formada em artes visuais e atualmente trabalha como arte educadora, desenvolvendo atividades com crianças e com a terceira idade. Ao pedir para a Rachel para fazer a ilustração do livro eu dei a ela total liberdade para criar, dando apenas uma orientação: traduz em imagem o que você viu ao ler o poema. Folgo em dizer que muitas ilustrações estão mais impactantes do que o próprio poema, pois minha querida irmã é uma artista muito talentosa e emocionou-me muitíssimo com cada ilustração.
  • 5. LITERÁRIO E INFORMATIVO  Ler e fazer pensar. O poema é um gênero textual capaz de fazer ecoar versos na cabeça das pessoas e cada linha lida pode ser sentida e interpretada das mais diversas maneiras (im)possíveis. Nas aulas de interpretação literária, ministrada pela apaixonante professora Isabel Moliterno, presenciei isso. Um poema, várias visões que tornavam cada verso ainda mais significante pela beleza de ter interpretações ilimitadas. E é exatamente isso que eu não quero, limitar a interpretação dos poemas que escrevi, ao mesmo tempo que sinto obrigação de explicar porque cada poema trata de um desrespeito aos direitos previstos na Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente. Para não podar a imaginação e ao mesmo tempo explicar porque o poema representa uma violação do direito da criança, consultei familiares, professores e universitários e a solução foi a seguinte: deixar os poemas na primeira parte do livro e na segunda colocar a violação do direito.
  • 6. SUGESTÃO DE LEITURA Para que o objetivo deste livro seja alcançado (sensibilização e atuação do leitor como agente minimizador de violações aos direitos das crianças), sugiro primeiro a leitura do poema; uma reflexão com a utilização do seu conhecimento de mundo ou até técnico sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; pense no direito violado; vá até a segunda parte do livro e veja se a violação pensada por você é igual à que eu pensei. Não tem como errar, se a sua interpretação ao ler o poema foi no sentido de que é violação ao direito de brincar e eu disse que é violação ao direito à saúde, isso significa que as crianças precisam muito de nós, porque o direito à uma infância protegida tem sido violado de forma mais despercebida do que eu consegui imaginar. Agradeço seu interesse pelo tema e espero sua indignação com a leitura deste livro. Indigne-se e seja um agente de transformação por uma infância livre de desrespeito.
  • 7. ALGUNS VERSOS PELA INFÂNCIA  JOINHA Brincar por brincar  Diversão como única marcação  Sem sentir o tempo passar   Num mundo de distração  Era assim na infância  Brincada na calçada Na rua movimentada No quintal da diversão Para saber se a brincadeira era divertida  Usava-se velhas medidas  Gritos e sorrisos  Preenchiam o lugar Só que agora é diferente  O quintal é um sítio  Que o tamanho não se pode precisar  Com tantos amigos  Que o nome não dá para lembrar 
  • 8. Eles não estão do meu lado  Mas deixam seu recado Um sinal para aprovação  Um like cobrado  Não é brincar por brincar Precisa avaliar Não mede a diversão Só mede a produção
  • 9.
  • 10. Deixa a criança brincar  Corre e pula sem parar  Tanta energia para gastar Deixa a criança brincar E daí que vai sujar  Toda brincadeira tem um risco Só precisar avaliar  Se vale o machucado Ou o brilho amuado Se a brincadeira virar esporte   Que criança de sorte  Vai queimar a energia  Com saúde e alegria Criança não tem que ficar parada Olhando telas brilhar Ela é o próprio brilho  Que não deve apagar
  • 11. Não é à toa que muitos dizem  Não deixe a criança dentro de você morrer Porque o que bom  Não precisa deixar de ser  Deixa a criança brincar Não escolha a brincadeira Deixa ela escolher  Deixa ela viver
  • 12.
  • 13. Com quem meu filho está?  Você contrataria alguém para cuidar do seu filho que fala palavrão? Que tira a sua autoridade Que olha para seus filhos com maldade  Que só liga para o dinheiro  Que não ajuda na lição Se eu disser que você já contratou Que essa pessoa tá infiltrada  Dentro da sua casa  Dizendo o que seu filho tem que falar  Dizendo o que ele tem que comprar  A casa caiu e você não viu  E ainda pode piorar  A pessoa vai fazer seu filho te odiar
  • 14. E quando você se tocar E quiser mudar  Vai querer deletar Só que ela vai continuar lá  Agora você vê com outros olhos E se pergunta Como eu deixei ela entrar?  Com a voz infantilizada Com roupa colorida  Entrou e deixou uma ferida  Difícil de cicatrizar Nem tudo está perdido  O bom da infância é poder renovar Mostra coisas novas  Muda o olhar
  • 15.
  • 16. O travesseiro Devia ser de espuma Isso não vou lembrar Hoje tem de plumas  Isso não faz diferença  Objeto para descansar a cabeça  Para desligar o dia  Sentir o sorriso  Aparar as lágrimas  Na infância era um brinquedo  A arma que não dava medo   Na guerra de diversão   Numa casa de muitos irmãos  Com sonhos leves O menino acordava com a cabeça no colchão A irmã ousada furtava o seu objeto de admiração
  • 17. Nada com muito valor  Talvez fosse mais macio Era apenas um travesseiro  Que julgava ser melhor  Um dia o irmão cansado de acordar destravesseirado Deixou um bilhete ao lado do objeto cobiçado Fingiu dormir  A irmã sem desconfiar   Tentou mais uma investida Leu o bilhete e o riso despertou “ se pegar o meu travesseiro de novo vai levar tanta porrada que não saberá nem quem te acertou”  Todos riram  O furto acabou  O travesseiro eternizou
  • 18.
  • 19. Aquele olhar  Numa época em que tudo se registra Nenhuma lente poderia captar O amor que brotava  Do teu olhar  Aquele brilho intenso Afastava qualquer tormento  O desejo de dormir  Sem hora para acordar  E naquele momento  Eu era o alimento Dava o sustento  Regava o olhar Puro olhar Sem julgar  Sem cobrar  Só, amar
  • 20.
  • 21. A balança  Num Brasil de Brasis   A fome e a obesidade Caminham pela cidade  E nos extremos vis  Não andam de mãos dadas  Mas na caminhada Crianças são maltratadas  Infâncias são ceifadas Aquela que não tem o que comer  Tem dificuldade para estudar O oco que faz doer Não a deixa concentrar  A que repudia a balança  Na escola não quer ficar Nos números não vê esperança E para casa quer voltar
  • 22. Uma carrega o vazio da fome O peso da desnutrição A outra derruba o olhar Para não ver a desaprovação  Ambas não fogem do sofrer  Estão nos extremos da balança Que nenhuma dama ousa erguer  A solução não está em uma mão Não há apenas uma chave para encontrar  Comece entendendo que faz parte da solução  Faça o que pode ser feito  Para a balança equilibrar   Pode parecer só um grão  Mas o importante é começar
  • 23.
  • 24. O amigo do 227  E de repente eu me pergunto   Como vivi sem você  Sem te conhecer  Sem os teus cuidados  Tão detalhados É tão difícil encontrar um amigo  Alguém que realmente se preocupa  Que conhece suas necessidades Que respeita suas prioridades  Que não se importa com o que você tem  Mas com quem você é Penso em tudo que você passou  Que não foi fácil chegar onde chegou  E que mesmo assim  Não se esqueceu de mim
  • 25. Como posso fazer para te compensar?  Para que sua amizade não tenha sido em vão Para que olhem para você e me vejam Saibam que aprendi a te escutar  Posso dizer que você existe  E não importa quanto tempo passe  Que te levo apesar da idade  Contarei aos meus filhos  Sobre a nossa amizade  Torcendo para que eles encontrem  Um amigo de verdade.
  • 26.
  • 27. O asfalto  Consigo enxergar Nas ruas que cresci A infância que vivi  O brincar sem cansar  A infância agitada  A pele marcada  A bicicleta amassada As iniciais na calçada  Um risco no chão A quadra improvisada O som da risada As cores da diversão Ah, se o asfalto pudesse falar...  O que ele diria?  Que sente saudades da gritaria? Ou que não viu o tempo passar? 
  • 28. O asfalto mudo  Viu o melhor do mundo  A infância ganhada A infância brincada
  • 29.
  • 30. Infância dopada  Ela queria brincar  Mas alguém achou que ela brincava demais Ela queria aprender  Mas alguém achou que ela perguntava demais Chamou a Rita A vontade de brincar, passou  O desejo de aprender, adormeceu. Podia ser Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade Podia ser um pedido de atenção  Chamou a Lina  Diminuiu a atividade Apagou o brilho Ligou o silêncio Reinou a paz 
  • 31. Que paz é essa? Que deixa as coisas no lugar Não pula no sofá  Não pede um olhar A Rita e a Lina não são meninas  Que se possa brincar  Nem babás  Que se possa confiar  São uma possível solução Para um mundo de distração Uma borracha que apaga a criança  Um remédio que dopa a infância
  • 32.
  • 33. Nem o nome ele quer dar Dá para acreditar?  Que século estamos? XXI? E ainda tem uns fulanos  No século passado  Que acham que o filho fora do casamento é um bastardo Não pensa que ele vai se sentir rejeitado? Ignora que todos os filhos são iguais perante a lei? Que amor é esse que concebe, mas não cede? E o seu filho ou filha é só uma semente que vingou no solo errado? Então fulano pai de família que não quer dividir a herança Neste século tem tecnologia Tem um exame chamado DNA Então não adianta você dizer que não vai registrar Pensasse antes de sair semeando onde não podia plantar
  • 34. Agora vai nascer uma flor Plantada por um sujeito mesquinho Um tinhoso cheio de espinhos Ah! Eu clamo que seus cromossomos sejam bem fraquinhos Que essa flor em nada se pareça com você Que puxe para a mãe apaixonada Um tanto abobada  Que cedeu ao que ela achou que era amor E acabou sendo um viveiro de uma linda flor  Venha minha florzinha inocente  Porque se depender de mim  Não lhe faltará amor  Eu sei que você vai precisar de muito carinho  Para suavizar os espinhos   
  • 35. Tem uma frase do século passado Que ainda é muito usada  Não saiu de moda Nem foi aniquilada  “ Pai é quem cria”  Criar não é uma identidade genética  Não é um sobrenome no papel  Criar é cuidar de você todos os dias  O teu lanche preparar  Cortar a beirada do seu pão  Te ensinar a andar de bicicleta  e desenhar um avião Nem todos os fulanos São indignos do teu amor Ainda existem jardineiros gentis  Que cuidam das rosas que não plantaram Que amam o que não semearam  Que ensinam um pequeno aprendiz
  • 36. Nem todos os fulanos São indignos do teu amor Ainda existem jardineiros gentis  Que cuidam das rosas que não plantaram Que amam o que não semearam  Que ensinam um pequeno aprendiz Pequena flor não se preocupe um nome não é nada Sinta-se amada, querida e desejada  Venha, apenas venha  Quando você chegar muita coisa vai mudar  Não sei se os espinhos vão cair  Mas o amor vai aumentar A tua comunicação sem palavras muita coisa vai dizer Venha, apenas venha e deixe o tempo correr.
  • 37.
  • 38. Não pode virar paisagem  Ela está onde não deveria Mas a minha correria  Faz-me ignorar  Foco nos meus problemas  Cego minha sensibilidade  Olho, vejo, mas não me importo  Nem no governo a culpa eu sou capaz de jogar  Ela integra a paisagem  E nada precisa mudar  Eu não preciso fingir  Não atravesso a rua  Não desvio o olhar  Ela é parte da paisagem  Não me incomoda  Não me faz pensar
  • 39. Mas um dia a paisagem ousada decide falar  Sua voz minguada completa o som da cidade Buzinas, vendedores, pombos, cachorros e gatos Uma criança falando é só mais um ruído que preciso suportar  Não coloquei no mundo  Não tenho que cuidar  Frases malditas Palavras repetidas que precisam parar  Não! Sua voz não é um ruído  Sua voz é apelo  Um choro reprimido  Um pequeno pedido  Que precisa ser atendido
  • 40. Não fiz o rio, mas preciso cuidar Vivo em sociedade  Tenho responsabilidade Que não dá para escapar  Não é paisagem  É uma pintura desfalcada Que precisamos arrumar Somos todos artistas na cidade Com uma tela e um pincel  Um pinta a realidade  O outro desenha o céu .
  • 41.
  • 42. Não quero um rótulo  Olho no espelho e não vejo nada errado Corro, brinco e não fico parado Mas no papel as coisas mudam  Sinto-me torto e acanhado As letras correm, dançam e mudam de lado  Parece um tipo de trapaça, um circo sem graça Penso que sou o palhaço  Que finge não acertar o traço  Mas não é fingimento  Eu não sei explicar  Minha mãe diz para eu ter paciência E eu tenho vontade de parar Estou cansado de ser maltratado colocado de lado como as letras que eu não consigo ler  Tem razão os que dizem que eu sou desajustado? Talvez eu não tenha nascido para aprender.
  • 43. Uma alma abençoada um certo dia  Deu um nome para a dificuldade que eu sentia Disse que era dislexia  Uau! E agora tudo vai mudar? As letras vão parar de girar? Não e não. Neste circo não tem magia  E não adianta só dizer que eu tenho dislexia  Para minimizar o atraso, eu preciso de atenção, de exercícios diferentes  Professores dedicados e um bom aparato E o que eu posso fazer por mim?  Olhar no espelho e não ver nada de errado Tenho um transtorno de aprendizado  Mas não sou transtornado  Datas, nomes e sequências  Eu sempre vou esquecer  Tenha paciência comigo  Mesmo depois que eu crescer. 
  • 44.
  • 45. Marrom  Cinco anos em mundo que deveria ser colorido  E de repente uma pergunta que dói o ouvido Você gosta de pessoa marrom?  Um cinza sem sentido  A fala embargada e a busca pela resposta mais adequada. Brinquedos, amigos e mimos e do nada uma flechada que acertou em cheio o meu coração.  Tirou-me a razão, o chão. Antes de pensar na resposta, questiono a pergunta. Por que ela quer saber? Não sei.  Não tenho coragem de perguntar.  Não estou preparada para ouvir.  Os lindos olhos castanhos aguardam uma resposta.
  • 46. Você é linda, educada, gentil e amada. Você é boa com as outras pessoas e é isso que importa. Amarela, branca, preta, marrom ou vermelha a cor da pele não faz você. Não diz quem você é.  Senti que a dúvida ainda pairava e respondi o que ela queria ouvir: eu amo pessoas marrons!   Contrariei o que eu havia dito.  Devia ter respondido: eu amo pessoas de todas as cores. É a pura verdade, mas eu fui covarde. Não quis acreditar que uma criança de 5 anos de alguma forma sentiu-se diferente.  Diferente porque carrega na pele uma cor questionada. Uma cor humilhada. Por anos escravizada e ainda estigmatizada A cor da pele não importa? Menti.  Racismo criminalizado, às vezes velado muitas vezes escancarado, poucas vezes penalizado.  Não escolhe idade, descolori e fere.
  • 47. Um dia, quando sua idade avançar  Ou minha coragem aumentar  Direi a verdade  A cor da sua pele diz quem você é  Diz de onde você veio, conta uma história  Ressalta a ignorância e a pequenez  humana   Enaltece a luta de homens e mulheres Que ousaram e ainda ousam colorir o mundo para você, para mim e para todos que conseguem enxergar a beleza do arco íris de gente.
  • 48.
  • 49. Imagens distorcidas, infância perdida. O que pode ser tão importante  Para manter-me tão distante? Luzes artificiais, amizades virtuais  Piadas repetidas e imagens distorcidas O que pode ser tão importante  Para ofuscar o brilho do teu olhar  Para ignorar os teus pedidos  E com tuas lágrimas não me sensibilizar O que pode ser mais importante  Do que o doce dever de uma rosa cuidar De ver cada pétala abrir  E sentir o seu perfume exalar  Um comportamento tão mesquinho Olho para a rosa e só vejo os espinhos
  • 50. E eu sigo sem notar O que de fato importa Vai embora e não vai voltar O sorriso será silenciado e o brilho será apagado As luzes sem relevância  apagaram o brilho da infância  os sons sem sentido abafaram teu lindo sorriso  Nada deveria ser mais importante  Do que os teus olhos brilhantes  Do que seu sorriso contagiante Do que a voz que só pedia um instante.
  • 51.
  • 52. VIOLAÇÕES DESPERCEBIDAS AOS DIREITOS DAS CRIANÇAS  Joinha   Violação legal - Artigo 15 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente   Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.  Submeter a criança à rotina de adultos desrespeita a sua condição de pessoa em desenvolvimento. E é exatamente isso que acontece quando crianças postam vídeos no YouTube, cobram e esperam likes. É óbvio que esse poema foi inspirado nos youtubers mirins que têm suas vidas envolvidas com avaliações, resultados e desempenho. 
  • 53. Medem sua popularidade com seguidores e visualizações. Vivem uma rotina pautada em produtividade e mercantilização de suas “brincadeiras”. Tudo é vendido desde a imagem da criança até a própria infância. Mesmo que se encare o ato de postar vídeos e ter seguidores como uma brincadeira moderna, não parece razoável pensar que as crianças deixaram de ser crianças. Acreditar nisso é um verdadeiro retrocesso à época medieval. Crianças não são mini adultos. Igualmente, inaceitável é pensar que as crianças são colocadas totalmente alheias a sua reputação no YouTube, sem acesso à número de likes, seguidores e visualizações. Por que esse vídeo tem poucos likes? O que eu fiz de errado? O que eu preciso fazer para ter mais likes? É bem possível que os youtubers mirins façam esses questionamentos e definitivamente isso é um desrespeito a condição da criança de pessoa em desenvolvimento.
  • 54. Deixa a criança brincar  Violação legal: Artigo 16 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente   Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: (...) IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;  Direito de brincar, precisou de uma lei para garantir isso. Brincar deveria ser inerente à infância. E mesmo com uma lei, não é difícil encontrar crianças que quase não brincam, independentemente da classe social, umas envolvidas com várias atividades curriculares e outras hipnotizadas em telas. Infelizmente, cada vez mais as crianças estão longe do desenvolvimento de atividades lúdicas. Viver no mundo da fantasia, da imaginação é uma realidade distante da infância moderna. Presas com medo da violência. Muitas vezes sem a presença dos pais, a infância tem perdido o brilho. É preciso que o direito de brincar seja amplamente exercido. Deixe a criança brincar e brinque!
  • 55. Com quem meu filho está?  Violação legal: Artigo 17 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente  Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Tem tanto adulto falando tolices em tanto lugar, mas no YouTube as asneiras são coloridas e atraentes. Esse poema foi inspirado em uns youtubers adultos, que fizeram da profissão uma caixa registradora e não têm qualquer preocupação com os valores distorcidos que passam aos pequenos. Incentivam a alimentação não saudável, o consumo desenfreado de coisas inúteis, fomentam a violência, o preconceito e o ódio.
  • 56. O fato é que as crianças quando seguem e assistem alguns youtubers estão sendo vistas apenas como um número. Não se pensa no teor dos vídeos e no impacto psicológico que se pode causar nos pequenos. O único pensamento é: como eu posso vender para eles.  YouTube não é brinquedo. Têm vídeos bons? Sim, mas não dá para colocar uma tela na mão da criança e achar que ela está segura. É preciso orientar e acompanhar o que as crianças assistem.  Alguns teóricos acreditam que a formação do caráter se dá por hábitos e estes por repetições, seguindo essa linha de estudo não quero prever como será o desenvolvido do caráter das crianças que são deixadas aos cuidados desses faladores de tolices que postam vídeos.
  • 57. O travesseiro Violação legal: Artigo 19 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta , assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integra.  Tenho três irmãs e um irmão e quando pensei em fazer um poema sobre convívio familiar a primeira coisa que veio à mente foi o bilhete que meu irmão Jason deixou no travesseiro para a minha irmã Rachel (a ilustradora). Esse momento tornou-se inesquecível, não só pela graça, mas pela ternura de ter experiências que somente podem ser vivenciadas no seio familiar. 
  • 58. São coisas pequenas e bobas, mas enchem os olhos de lágrimas e gratidão por ter tido uma família numerosa e divertida. Penso nas crianças privadas do convívio familiar, pelos mais diversos motivos, e de como isso é triste.
  • 59. Aquele olhar   Violação legal: Artigo 7º Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente   Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.  § 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança. .
  • 60. No dia 03 de abril de 2000, dei à luz ao Daniel, meu primeiro filho. Maior que a alegria que senti por ser mãe foi a satisfação que tive ao amamentá-lo Lembrando do olhar do meu menino quando eu o amamentava, escrevi “Aquele olhar”. Nada é mais saudável para o bebê do que receber o leite da mãe. A mãe também recebe. Eu recebi aquele olhar que guardei no coração, transformei em versos e agora compartilho.  Aquele olhar é para mostrar que a criança tem direito à uma alimentação saudável e essa alimentação deve começar desde o nascimento.  Existem muitos mitos com relação à amamentação. Amamentei os meus dois filhos. Eu dormia pouquíssimo e tinha sensação que o alimento não chegava no estômago, ia direto para os seios. Parecia uma experiência muito árdua, mas fui bem orientada e tinha consciência de como o aleitamento materno era importante tanto para o bebê quanto para a mãe.
  • 61. Mesmo com a atuação de organizações do terceiro setor que promovem oficinas e campanhas de orientação sobre a importância do aleitamento materno. Há a necessidade de uma política pública mais eficiente neste ponto.  Ainda existem mães que acreditam que seu leite é fraco e completam a alimentação da criança com fórmulas. Além do valor nutricional do leite materno que é incontestável, o laço emocional que une mãe e filho neste ato é maravilhoso.
  • 62. A balança  Violação legal: Artigo 8º Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 6º da Constituição Federal Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) O direito à alimentação é um direito social. O Estado deve atuar de forma efetiva para que toda a sociedade tenha o direito humano à alimentação adequada. Não é aceitável que nossas crianças passem fome ou vivam com alimentação inadequada. A vulnerabilidade social faz com que muitas famílias busquem alimentos de baixo valor nutricional e ricas em açúcar, gordura e sódio.
  • 63. Muitas crianças estudam de barriga vazia, enquanto outras não têm vontade de ir à escola por estarem com sobrepeso. Essa é uma realidade muito triste. E esse foi o poema mais difícil para terminar, porque não queria cair no senso comum e jogar a responsabilidade unicamente para o Estado ou reproduzir o discurso de muitos gigantes cruéis que culpam os pais. Leio esse poema com um nó na garganta porque não consigo enxergar uma solução imediata. Já tive a oportunidade de participar de reuniões e palestras com representantes da indústria de alimentos e ouvi coisas que são difíceis de engolir. Em uma das reuniões da Câmara Técnica do Procon Paulistano sobre Publicidade direcionada ao público infantil escutei uma nutricionista (que trabalha para alguma indústria) dizer que um bolinho industrializado tem menos açúcar do que um bolo feito pela vovó. 
  • 64. Embora isso me pareça bastante estranho, não sou especialista para contestar, mas sei que a vovó não coloca no bolo açúcar invertido, pirofosfato ácido de sódio conservador propionato de cálcio, aromatizante, conservador sorbato de potássio, estabilizantes monodiglicerídeos e polisorbato 60, todos ingredientes que estão no bolinho industrializado. Convivi com nutricionistas maravilhosas quando trabalhava no Idec e aprendi que um preparo culinário é muito mais saudável que um produto ultraprocessado. Prefiro guardar esse aprendizado e pedir para que as vovós continuem fazendo bolo para seus netos. Esses bolos têm um gosto especial que a indústria nunca vai conseguir reproduzir. Não tenho uma solução imediata para o desequilíbrio da balança, mas tenho certeza que o equilíbrio somente acontecerá se o Estado, a sociedade e as famílias atuarem conjuntamente. E para as famílias que conseguem comprar alimentos in natura para seus filhos, uma dica: cozinhem! Utilizem menos açúcar, menos gordura, menos sódio e muito amor.
  • 65. O amigo do 227  Violação legal: Artigo 8º Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 227 da Constituição Federal.   Art. 227  É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
  • 66. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Neste poema não tem uma violação propriamente dita, mas uma informação e uma homenagem. O artigo 227 da Constituição Federal e o artigo 4º do ECA, preveem para as crianças e adolescentes o Princípio da Prioridade Absoluta. Isso significa dizer que a efetivação de todos os direitos fundamentais deve ser garantida primeiramente para as crianças e adolescentes.
  • 67. Quando vimos o desrespeito com que as crianças são tratadas, nem conseguimos acreditar que a lei prevê uma proteção mais ampla para as pessoas que ainda estão em condição de desenvolvimento. Para entender melhor o Princípio da Prioridade Absoluta no Brasil, poderíamos mudar a famosa frase “ Mulheres e crianças primeiro” para “ Crianças e mulheres primeiro”. Para dar efetividade ao referido princípio, num exemplo hipotético, em que se discutisse na Câmara Legislativa o aumento da taxação de bebidas açucaradas para diminuição do consumo entre as crianças, o Princípio da Prioridade Absoluta poderia ser invocado e a proteção da criança venceria em detrimento da indústria de bebidas.
  • 68. Dada a informação passo a homenagem para o Instituto Alana, que todos os dias e por várias frentes fortalece e faz com que seja efetivo o Princípio da Prioridade Absoluta. Sou completamente apaixonada pelo trabalho deles. Não aprendi na faculdade sobre a proteção da infância, aprendi com o Instituto Alana. Em cada palestra, roda de conversas que tive a oportunidade de vê-los defender a infância de forma robusta, baseada em estudos e fatos.  Mais do que pensar no artigo 227 da Constituição Federal quando escrevi esse poema, pensei no trabalho do Alana e como eles são verdadeiramente “ O amigo do 227”. Vida longa ao Amigo Alana!
  • 69. O asfalto  Violação legal: Artigos 15 e 16 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente  Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.  Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:  IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;   A falta de segurança pública tem tirado as crianças de vários lugares, principalmente nas grandes cidades. Raramente vejo crianças brincando nas ruas do meu bairro. Uma realidade bem diferente da infância que tive, vivia na rua. Brincava tanto que esquecia de comer. Minha mãe tinha que me lembrar.
  • 70. Chegar da escola, comer, fazer a lição e depois ficar grudado em alguma tela não pode ser considerado brincar. Não existe o desenvolvimento da imaginação quando a criança olha outra brincando e se divertindo num vídeo.  Sei que muitas crianças não vão à escola, não têm o que comer e muito menos uma caixa mágica de observação da diversão alheia. Mais uma vez digo que não tenho a solução para salvar a infância de todos os males. Esse livro é a forma que encontrei para que a minha indignação não fosse uma mosca sem asas que não ultrapassa a barreira de minha casa, como na música In(dig)nação do Samuel Rosa e do Chico Amaral.  Eu estou usando a liberdade que muitas crianças não têm. A liberdade de dizer o que penso, de conseguir textualizar meus pensamentos.
  • 71. Não tive uma infância fácil, muitas vezes faltou o alimento, a roupa, mas não posso dizer que não tive liberdade para ser criança.  Não é somente a falta de segurança pública que tira a liberdade das crianças, às vezes a própria família faz isso. Lembro-me de uma menina triste como o sapato novo e perguntei o porquê. A garotinha falou que estava triste porque com os sapatos novos não podia brincar para não os estragar. Precisamos deixar as crianças serem livres para serem crianças.
  • 72. Infância dopada  Violação legal: Artigo 7º da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente  Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Quando cheguei na Faculdade de Letras alguns alunos já atuavam na área da educação e foi lá que ouvi pela primeira vez sobre Ritalina nome comercial do metilfenidato. Medicamento indicado para melhorar a cognição de pacientes diagnosticados com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). 
  • 73. É apenas um medicamento que, segundo dizem, é eficaz para o fim que se destina. O problema é que esse remédio, tarja preta, tem sido usado indiscriminadamente.  Mesmo para as crianças que são diagnosticadas com TDAH, o uso do metilfenidato não é obrigatório, segundo alguns estudiosos sobre o assunto. O fato é que esse medicamento tira o brilho da infância. E o que apaga uma criança é uma violação aos direitos da infância.
  • 74. Nem o nome ele quer dar  Violação legal: Artigo 17 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.  Muitas crianças não têm o nome do pai no registro de nascimento. Isso é um desrespeito a criança que tem o direito de ter o nome de seu genitor em seu documento. Convivi de perto com mães que passaram por isso, recentemente. Não eram casos de investigação de paternidade, os pais eram muito bem conhecidos. Tinham outra família, uma reputação a zelar, ou não tinham disposição nenhuma de comparecer ao cartório.
  • 75. Não consigo entender como alguém deixa de reconhecer um filho, da mesma maneira que não entendo o desprezo que muitos pais têm por seus filhos, mesmo aqueles “ganham” um nome.  É muito egoísmo e falta de amor.  É mais um desrespeito ao direito da criança que macula a infância.
  • 76. Não pode virar paisagem  Violação legal: Constituição Federal, Estatuto da criança e do Adolescente e toda legislação nacional e internacional sobre direitos humanos.  Crianças em situação de rua ainda são uma realidade no Brasil. E quantos direitos são violados de quem não tem a certeza do alimento. Sabe que a escola é um lugar distante. Não tem o direito de ir e vir. É olhado com desprezo e medo. Sofre violência. Passa frio. Não tem cuidados básicos de higiene pessoal. Não tem um lugar certo para dormir. Pensar nas violações sofridas pelas crianças em situação de rua é extremamente pesado e como já foi dito, a proposta deste livro não é apontar uma solução. Quero finalizar esse comentário relatando uma cena que vi quando tinha 15 anos e foi inspiração para uma crônica intitulada “ Pátio Barão”. Vi crianças brincando à noite na Rua Barão de Itapetininga. Não sei se iriam dormir num abrigo ou ali próximo, não quis pensar nisso. 
  • 77. Foquei meu olhar no fato que eram crianças e continuavam a ser crianças mesmo sem tantos direitos.
  • 78. Não quero um rótulo  Violação legal: Artigo 53 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: (...)  Dislexia, mais um que aprendizado adquirido na Faculdade Letras, especificamente na disciplina de Psicologia da Educação ministrada pela professora Roselaine Pontes de Almeida, carinhosamente e merecidamente chamada de Rosalinda. Fiz esse poema para uma apresentação na aula sobre transtornos de aprendizagem. E percebi que tinha compreendido a questão quando vi o brilho nos olhos da Rosalinda e ouvi o relato de uma colega de turma que tem dislexia e discalculia.
  • 79. Muito se fala na dificuldade que um professor da rede pública tem para lecionar em uma sala com mais de 30 alunos, mas pouco é falado que alguns desses alunos podem ter algum transtorno de aprendizagem, o que potencializa a dificuldade do professor que precisa encontrar maneiras diferentes de ensinar para cada aluno. As crianças não têm somente o direito à educação, mas também o direito de ter respeitada a sua condição de indivíduo que possui uma forma diferente de aprender. Todos nós aprendemos de maneiras diferentes, e infelizmente isso não é observado na maior parte das escolas, sejam elas públicas ou privadas.
  • 80. Marrom Violação legal: Artigo 5º da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente  Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.  Essa violação foi fácil de adivinhar. Difícil é aceitar que ainda exista preconceito racial. Mais difícil ainda é saber que as crianças também são vítimas de racismo. Você gosta de pessoas marrom? Minha filha Estela que fez essa pergunta. A resposta vocês viram no poema.
  • 81. Quantas crianças não perguntam nada e crescem pensando que não são bonitas ou não são dignas de algo por serem marrons, rosas, amarelas, azuis. Tem tanta coisa que precisa mudar, mas essas mudanças só vão começar quando deixarmos de achar que o racismo não existe. Que é um exagero. Uma mania de perseguição. Recentemente, minha filha fez um desenho com toda a família. Em seu desenho todos eram marrons. Somos todos coloridos na minha família, uma boa mistura de raças, mas para a Estela todos são como ela, todos somos marrons.
  • 82. Imagens distorcidas, infância perdida. Violação legal: Artigo 18 da Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente  Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Esse foi o primeiro poema que escrevi para o livro. Quando o leio, vejo várias imagens de famílias que têm preferido o celular do que mais tempo com as crianças. Um dia eu estava fazendo alguma coisa no celular e minha filha Estela conversando comigo e de repente ela disse: mãe repete o que eu disse. Eu sabia a metade. Depois disso, o uso de celular na minha casa mudou. Praticamente eu e meu marido não usamos o celular quando estamos com a Estela. 
  • 83. Meu filho Daniel já está com 18 anos e passou tão rápido. Penso que tenho que curtir cada minuto que estou com minha filha, porque por mais difícil que seja para os pais entenderem isso, os filhos crescem.  Fica a dica: descelularize quando estiver com seus filhos. Nenhum brilho é mais importante.