O documento discute o nascimento do desejo da autora em defender os direitos da infância, especialmente contra a publicidade abusiva de youtubers mirins. Também aborda as ilustrações criadas pela irmã da autora para o livro e como o livro usa poemas e explicações para sensibilizar sobre violações imperceptíveis dos direitos das crianças.
1. Alguns Versos pela Infância: violações
despercebidas aos direitos das crianças
Claudia Pontes Almeida
2. O NASCIMENTO DO DESEJO DE DEFENDER A
INFÂNCIA E DE ESCREVER O LIVRO
São doze anos de exercício da advocacia, a maior parte
deles trabalhando com direito do consumidor. É um
ramo desafiador e dinâmico. As violações aos direitos
dos consumidores se renovam o tempo todo e são
cometidas pelos mais diversos segmentos. E foi na
defesa da criança como consumidora, especialmente,
na proteção da criança contra a publicidade abusiva
feita pelos youtubers mirins que nasceu o desejo de
proteger a infância de forma mais ampla.
Comecei a acompanhar o crescimento numérico dos
youtubers, a assistir vídeos, fazer palestras, dar
entrevistas, participar de debates e a ter algumas
certezas: eu nunca dizia tudo que eu queria dizer e as
violações contra a infância eram maiores do que a
publicidade camuflada feita com crianças vendendo
para crianças.
3. Nos próprios vídeos postados no YouTube é possível
visualizar os direitos das crianças sendo violados.
Youtubers mirins cansados e com obrigação de postar
vídeos para não desapontar seus fãs. Os pequenos
brincando com brinquedos inapropriados para a idade
e submetidos a rotina de gente grande. Sensualização
da infância, fomento ao consumo de alimentos com
baixo valor nutricional e por aí vai.
Diante deste cenário, senti o desejo de fazer mais pela
infância. Realizei um sonho de menina e ingressei no
curso de Licenciatura em Letras. Educação e direito,
acreditei na união destes conhecimentos como um
instrumento útil na proteção da infância.
Alguns versos pela infância: violações despercebidas
aos direitos das crianças, nasceu do desejo de
sensibilizar e de alguma forma minimizar o
desrespeito cotidiano aos direitos básicos das
crianças.
4. A ILUSTRADORA E AS ILUSTRAÇÕES
Uma forma tênue de violação de direitos é
extremamente cruel, porque as pessoas, na maioria
das vezes, praticam e reproduzem essa prática sem
sentir qualquer remorso, pois não conseguem
enxergar que são agentes de algo que é reprovável.
Com o anseio de potencializar a sensibilização para as
violações imperceptíveis aos direitos das crianças,
acreditei ser necessário contar com a ajuda da arte
visual. Para isso tive o apoio e total envolvimento na
causa da minha irmã Rachel de Moraes Pontes. Ela é
formada em artes visuais e atualmente trabalha como
arte educadora, desenvolvendo atividades com
crianças e com a terceira idade. Ao pedir para a
Rachel para fazer a ilustração do livro eu dei a ela
total liberdade para criar, dando apenas uma
orientação: traduz em imagem o que você viu ao ler o
poema. Folgo em dizer que muitas ilustrações estão
mais impactantes do que o próprio poema, pois minha
querida irmã é uma artista muito talentosa e
emocionou-me muitíssimo com cada ilustração.
5. LITERÁRIO E INFORMATIVO
Ler e fazer pensar. O poema é um gênero textual
capaz de fazer ecoar versos na cabeça das pessoas e
cada linha lida pode ser sentida e interpretada das
mais diversas maneiras (im)possíveis. Nas aulas de
interpretação literária, ministrada pela apaixonante
professora Isabel Moliterno, presenciei isso. Um
poema, várias visões que tornavam cada verso ainda
mais significante pela beleza de ter interpretações
ilimitadas. E é exatamente isso que eu não quero,
limitar a interpretação dos poemas que escrevi, ao
mesmo tempo que sinto obrigação de explicar porque
cada poema trata de um desrespeito aos direitos
previstos na Constituição Federal e Estatuto da
Criança e do Adolescente. Para não podar a
imaginação e ao mesmo tempo explicar porque o
poema representa uma violação do direito da criança,
consultei familiares, professores e universitários e a
solução foi a seguinte: deixar os poemas na primeira
parte do livro e na segunda colocar a violação do
direito.
6. SUGESTÃO DE LEITURA
Para que o objetivo deste livro seja alcançado
(sensibilização e atuação do leitor como agente
minimizador de violações aos direitos das crianças),
sugiro primeiro a leitura do poema; uma reflexão com
a utilização do seu conhecimento de mundo ou até
técnico sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente;
pense no direito violado; vá até a segunda parte do
livro e veja se a violação pensada por você é igual à
que eu pensei. Não tem como errar, se a sua
interpretação ao ler o poema foi no sentido de que é
violação ao direito de brincar e eu disse que é violação
ao direito à saúde, isso significa que as crianças
precisam muito de nós, porque o direito à uma
infância protegida tem sido violado de forma mais
despercebida do que eu consegui imaginar. Agradeço
seu interesse pelo tema e espero sua indignação com
a leitura deste livro. Indigne-se e seja um agente de
transformação por uma infância livre de desrespeito.
7. ALGUNS VERSOS PELA INFÂNCIA
JOINHA
Brincar por brincar
Diversão como única marcação
Sem sentir o tempo passar
Num mundo de distração
Era assim na infância
Brincada na calçada
Na rua movimentada
No quintal da diversão
Para saber se a brincadeira era divertida
Usava-se velhas medidas
Gritos e sorrisos
Preenchiam o lugar
Só que agora é diferente
O quintal é um sítio
Que o tamanho não se pode precisar
Com tantos amigos
Que o nome não dá para lembrar
8. Eles não estão do meu lado
Mas deixam seu recado
Um sinal para aprovação
Um like cobrado
Não é brincar por brincar
Precisa avaliar
Não mede a diversão
Só mede a produção
9.
10. Deixa a criança brincar
Corre e pula sem parar
Tanta energia para gastar
Deixa a criança brincar
E daí que vai sujar
Toda brincadeira tem um risco
Só precisar avaliar
Se vale o machucado
Ou o brilho amuado
Se a brincadeira virar esporte
Que criança de sorte
Vai queimar a energia
Com saúde e alegria
Criança não tem que ficar parada
Olhando telas brilhar
Ela é o próprio brilho
Que não deve apagar
11. Não é à toa que muitos dizem
Não deixe a criança dentro de você morrer
Porque o que bom
Não precisa deixar de ser
Deixa a criança brincar
Não escolha a brincadeira
Deixa ela escolher
Deixa ela viver
12.
13. Com quem meu filho está?
Você contrataria alguém para cuidar do seu filho que
fala palavrão?
Que tira a sua autoridade
Que olha para seus filhos com maldade
Que só liga para o dinheiro
Que não ajuda na lição
Se eu disser que você já contratou
Que essa pessoa tá infiltrada
Dentro da sua casa
Dizendo o que seu filho tem que falar
Dizendo o que ele tem que comprar
A casa caiu e você não viu
E ainda pode piorar
A pessoa vai fazer seu filho te odiar
14. E quando você se tocar
E quiser mudar
Vai querer deletar
Só que ela vai continuar lá
Agora você vê com outros olhos
E se pergunta Como eu deixei ela entrar?
Com a voz infantilizada
Com roupa colorida
Entrou e deixou uma ferida
Difícil de cicatrizar
Nem tudo está perdido
O bom da infância é poder renovar
Mostra coisas novas
Muda o olhar
15.
16. O travesseiro
Devia ser de espuma
Isso não vou lembrar
Hoje tem de plumas
Isso não faz diferença
Objeto para descansar a cabeça
Para desligar o dia
Sentir o sorriso
Aparar as lágrimas
Na infância era um brinquedo
A arma que não dava medo
Na guerra de diversão
Numa casa de muitos irmãos
Com sonhos leves
O menino acordava com a cabeça no colchão
A irmã ousada furtava o seu objeto de admiração
17. Nada com muito valor
Talvez fosse mais macio
Era apenas um travesseiro
Que julgava ser melhor
Um dia o irmão cansado de acordar destravesseirado
Deixou um bilhete ao lado do objeto cobiçado
Fingiu dormir
A irmã sem desconfiar
Tentou mais uma investida
Leu o bilhete e o riso despertou “ se pegar o meu
travesseiro de novo vai levar tanta porrada que não
saberá nem quem te acertou”
Todos riram
O furto acabou
O travesseiro eternizou
18.
19. Aquele olhar
Numa época em que tudo se registra
Nenhuma lente poderia captar
O amor que brotava
Do teu olhar
Aquele brilho intenso
Afastava qualquer tormento
O desejo de dormir
Sem hora para acordar
E naquele momento
Eu era o alimento
Dava o sustento
Regava o olhar
Puro olhar
Sem julgar
Sem cobrar
Só, amar
20.
21. A balança
Num Brasil de Brasis
A fome e a obesidade
Caminham pela cidade
E nos extremos vis
Não andam de mãos dadas
Mas na caminhada
Crianças são maltratadas
Infâncias são ceifadas
Aquela que não tem o que comer
Tem dificuldade para estudar
O oco que faz doer
Não a deixa concentrar
A que repudia a balança
Na escola não quer ficar
Nos números não vê esperança
E para casa quer voltar
22. Uma carrega o vazio da fome
O peso da desnutrição
A outra derruba o olhar
Para não ver a desaprovação
Ambas não fogem do sofrer
Estão nos extremos da balança
Que nenhuma dama ousa erguer
A solução não está em uma mão
Não há apenas uma chave para encontrar
Comece entendendo que faz parte da solução
Faça o que pode ser feito
Para a balança equilibrar
Pode parecer só um grão
Mas o importante é começar
23.
24. O amigo do 227
E de repente eu me pergunto
Como vivi sem você
Sem te conhecer
Sem os teus cuidados
Tão detalhados
É tão difícil encontrar um amigo
Alguém que realmente se preocupa
Que conhece suas necessidades
Que respeita suas prioridades
Que não se importa com o que você tem
Mas com quem você é
Penso em tudo que você passou
Que não foi fácil chegar onde chegou
E que mesmo assim
Não se esqueceu de mim
25. Como posso fazer para te compensar?
Para que sua amizade não tenha sido em vão
Para que olhem para você e me vejam
Saibam que aprendi a te escutar
Posso dizer que você existe
E não importa quanto tempo passe
Que te levo apesar da idade
Contarei aos meus filhos
Sobre a nossa amizade
Torcendo para que eles encontrem
Um amigo de verdade.
26.
27. O asfalto
Consigo enxergar
Nas ruas que cresci
A infância que vivi
O brincar sem cansar
A infância agitada
A pele marcada
A bicicleta amassada
As iniciais na calçada
Um risco no chão
A quadra improvisada
O som da risada
As cores da diversão
Ah, se o asfalto pudesse falar...
O que ele diria?
Que sente saudades da gritaria?
Ou que não viu o tempo passar?
28. O asfalto mudo
Viu o melhor do mundo
A infância ganhada
A infância brincada
29.
30. Infância dopada
Ela queria brincar
Mas alguém achou que ela brincava demais
Ela queria aprender
Mas alguém achou que ela perguntava demais
Chamou a Rita
A vontade de brincar, passou
O desejo de aprender, adormeceu.
Podia ser Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade
Podia ser um pedido de atenção
Chamou a Lina
Diminuiu a atividade
Apagou o brilho
Ligou o silêncio
Reinou a paz
31. Que paz é essa?
Que deixa as coisas no lugar
Não pula no sofá
Não pede um olhar
A Rita e a Lina não são meninas
Que se possa brincar
Nem babás
Que se possa confiar
São uma possível solução
Para um mundo de distração
Uma borracha que apaga a criança
Um remédio que dopa a infância
32.
33. Nem o nome ele quer dar
Dá para acreditar?
Que século estamos? XXI?
E ainda tem uns fulanos
No século passado
Que acham que o filho fora do casamento é um
bastardo
Não pensa que ele vai se sentir rejeitado?
Ignora que todos os filhos são iguais perante a lei?
Que amor é esse que concebe, mas não cede? E o seu
filho ou filha é só uma semente que vingou no solo
errado?
Então fulano pai de família que não quer dividir a
herança Neste século tem tecnologia Tem um exame
chamado DNA Então não adianta você dizer que não
vai registrar Pensasse antes de sair semeando onde
não podia plantar
34. Agora vai nascer uma flor
Plantada por um sujeito mesquinho
Um tinhoso cheio de espinhos Ah! Eu clamo que seus
cromossomos sejam bem fraquinhos
Que essa flor em nada se pareça com você
Que puxe para a mãe apaixonada
Um tanto abobada
Que cedeu ao que ela achou que era amor
E acabou sendo um viveiro de uma linda flor
Venha minha florzinha inocente
Porque se depender de mim
Não lhe faltará amor
Eu sei que você vai precisar de muito carinho
Para suavizar os espinhos
35. Tem uma frase do século passado
Que ainda é muito usada
Não saiu de moda
Nem foi aniquilada
“ Pai é quem cria”
Criar não é uma identidade genética
Não é um sobrenome no papel
Criar é cuidar de você todos os dias
O teu lanche preparar
Cortar a beirada do seu pão
Te ensinar a andar de bicicleta
e desenhar um avião
Nem todos os fulanos
São indignos do teu amor
Ainda existem jardineiros gentis
Que cuidam das rosas que não plantaram
Que amam o que não semearam
Que ensinam um pequeno aprendiz
36. Nem todos os fulanos
São indignos do teu amor
Ainda existem jardineiros gentis
Que cuidam das rosas que não plantaram
Que amam o que não semearam
Que ensinam um pequeno aprendiz
Pequena flor não se preocupe um nome não é nada
Sinta-se amada, querida e desejada
Venha, apenas venha
Quando você chegar muita coisa vai mudar
Não sei se os espinhos vão cair
Mas o amor vai aumentar
A tua comunicação sem palavras muita coisa vai dizer
Venha, apenas venha
e deixe o tempo correr.
37.
38. Não pode virar paisagem
Ela está onde não deveria
Mas a minha correria
Faz-me ignorar
Foco nos meus problemas
Cego minha sensibilidade
Olho, vejo, mas não me importo
Nem no governo a culpa eu sou capaz de jogar
Ela integra a paisagem
E nada precisa mudar
Eu não preciso fingir
Não atravesso a rua
Não desvio o olhar
Ela é parte da paisagem
Não me incomoda
Não me faz pensar
39. Mas um dia a paisagem ousada decide falar
Sua voz minguada completa o som da cidade Buzinas,
vendedores, pombos, cachorros e gatos Uma criança
falando é só mais um ruído que preciso suportar
Não coloquei no mundo
Não tenho que cuidar
Frases malditas
Palavras repetidas que precisam parar
Não! Sua voz não é um ruído
Sua voz é apelo
Um choro reprimido
Um pequeno pedido
Que precisa ser atendido
40. Não fiz o rio, mas preciso cuidar
Vivo em sociedade
Tenho responsabilidade
Que não dá para escapar
Não é paisagem
É uma pintura desfalcada
Que precisamos arrumar
Somos todos artistas na cidade
Com uma tela e um pincel
Um pinta a realidade
O outro desenha o céu .
41.
42. Não quero um rótulo
Olho no espelho e não vejo nada errado
Corro, brinco e não fico parado
Mas no papel as coisas mudam
Sinto-me torto e acanhado
As letras correm, dançam e mudam de lado
Parece um tipo de trapaça, um circo sem graça Penso
que sou o palhaço
Que finge não acertar o traço
Mas não é fingimento
Eu não sei explicar
Minha mãe diz para eu ter paciência
E eu tenho vontade de parar
Estou cansado de ser maltratado colocado de lado
como as letras que eu não consigo ler
Tem razão os que dizem que eu sou desajustado?
Talvez eu não tenha nascido para aprender.
43. Uma alma abençoada um certo dia
Deu um nome para a dificuldade que eu sentia
Disse que era dislexia
Uau! E agora tudo vai mudar?
As letras vão parar de girar?
Não e não. Neste circo não tem magia
E não adianta só dizer que eu tenho dislexia
Para minimizar o atraso, eu preciso de atenção, de
exercícios diferentes
Professores dedicados e um bom aparato
E o que eu posso fazer por mim?
Olhar no espelho e não ver nada de errado
Tenho um transtorno de aprendizado
Mas não sou transtornado
Datas, nomes e sequências
Eu sempre vou esquecer
Tenha paciência comigo
Mesmo depois que eu crescer.
44.
45. Marrom
Cinco anos em mundo que deveria ser colorido
E de repente uma pergunta que dói o ouvido
Você gosta de pessoa marrom?
Um cinza sem sentido
A fala embargada e a busca pela resposta mais
adequada.
Brinquedos, amigos e mimos e do nada uma flechada
que acertou em cheio o meu coração.
Tirou-me a razão, o chão.
Antes de pensar na resposta, questiono a pergunta.
Por que ela quer saber? Não sei.
Não tenho coragem de perguntar.
Não estou preparada para ouvir.
Os lindos olhos castanhos aguardam uma resposta.
46. Você é linda, educada, gentil e amada.
Você é boa com as outras pessoas e é isso que
importa.
Amarela, branca, preta, marrom ou vermelha a cor da
pele não faz você.
Não diz quem você é.
Senti que a dúvida ainda pairava e respondi o que ela
queria ouvir: eu amo pessoas marrons!
Contrariei o que eu havia dito.
Devia ter respondido: eu amo pessoas de todas as
cores. É a pura verdade, mas eu fui covarde.
Não quis acreditar que uma criança de 5 anos de
alguma forma sentiu-se diferente.
Diferente porque carrega na pele uma cor
questionada. Uma cor humilhada.
Por anos escravizada e ainda estigmatizada
A cor da pele não importa? Menti.
Racismo criminalizado, às vezes velado muitas vezes
escancarado, poucas vezes penalizado.
Não escolhe idade, descolori e fere.
47. Um dia, quando sua idade avançar
Ou minha coragem aumentar
Direi a verdade
A cor da sua pele diz quem você é
Diz de onde você veio, conta uma história
Ressalta a ignorância e a pequenez
humana
Enaltece a luta de homens e mulheres
Que ousaram e ainda ousam colorir o mundo para
você, para mim e para todos que conseguem enxergar
a beleza do arco íris de gente.
48.
49. Imagens distorcidas, infância perdida.
O que pode ser tão importante
Para manter-me tão distante?
Luzes artificiais, amizades virtuais
Piadas repetidas e imagens distorcidas
O que pode ser tão importante
Para ofuscar o brilho do teu olhar
Para ignorar os teus pedidos
E com tuas lágrimas não me sensibilizar
O que pode ser mais importante
Do que o doce dever de uma rosa cuidar
De ver cada pétala abrir
E sentir o seu perfume exalar
Um comportamento tão mesquinho Olho para a rosa e
só vejo os espinhos
50. E eu sigo sem notar
O que de fato importa
Vai embora e não vai voltar
O sorriso será silenciado e o brilho será apagado
As luzes sem relevância
apagaram o brilho da infância
os sons sem sentido abafaram teu lindo sorriso
Nada deveria ser mais importante
Do que os teus olhos brilhantes
Do que seu sorriso contagiante
Do que a voz que só pedia um instante.
51.
52. VIOLAÇÕES DESPERCEBIDAS AOS DIREITOS DAS
CRIANÇAS
Joinha
Violação legal - Artigo 15 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à
liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.
Submeter a criança à rotina de adultos desrespeita a
sua condição de pessoa em desenvolvimento. E é
exatamente isso que acontece quando crianças
postam vídeos no YouTube, cobram e esperam likes. É
óbvio que esse poema foi inspirado nos youtubers
mirins que têm suas vidas envolvidas com avaliações,
resultados e desempenho.
53. Medem sua popularidade com seguidores e
visualizações. Vivem uma rotina pautada em
produtividade e mercantilização de suas
“brincadeiras”. Tudo é vendido desde a imagem da
criança até a própria infância.
Mesmo que se encare o ato de postar vídeos e ter
seguidores como uma brincadeira moderna, não
parece razoável pensar que as crianças deixaram de
ser crianças. Acreditar nisso é um verdadeiro
retrocesso à época medieval. Crianças não são mini
adultos. Igualmente, inaceitável é pensar que as
crianças são colocadas totalmente alheias a sua
reputação no YouTube, sem acesso à número de likes,
seguidores e visualizações. Por que esse vídeo tem
poucos likes? O que eu fiz de errado? O que eu preciso
fazer para ter mais likes? É bem possível que os
youtubers mirins façam esses questionamentos e
definitivamente isso é um desrespeito a condição da
criança de pessoa em desenvolvimento.
54. Deixa a criança brincar
Violação legal: Artigo 16 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 16. O direito à liberdade compreende os
seguintes aspectos: (...) IV - brincar, praticar
esportes e divertir-se;
Direito de brincar, precisou de uma lei para garantir
isso. Brincar deveria ser inerente à infância. E mesmo
com uma lei, não é difícil encontrar crianças que
quase não brincam, independentemente da classe
social, umas envolvidas com várias atividades
curriculares e outras hipnotizadas em telas.
Infelizmente, cada vez mais as crianças estão longe do
desenvolvimento de atividades lúdicas. Viver no mundo
da fantasia, da imaginação é uma realidade distante da
infância moderna. Presas com medo da violência.
Muitas vezes sem a presença dos pais, a infância tem
perdido o brilho. É preciso que o direito de brincar seja
amplamente exercido. Deixe a criança brincar e
brinque!
55. Com quem meu filho está?
Violação legal: Artigo 17 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica
e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Tem tanto adulto falando tolices em tanto lugar, mas
no YouTube as asneiras são coloridas e atraentes.
Esse poema foi inspirado em uns youtubers adultos,
que fizeram da profissão uma caixa registradora e não
têm qualquer preocupação com os valores distorcidos
que passam aos pequenos. Incentivam a alimentação
não saudável, o consumo desenfreado de coisas
inúteis, fomentam a violência, o preconceito e o ódio.
56. O fato é que as crianças quando seguem e assistem
alguns youtubers estão sendo vistas apenas como um
número. Não se pensa no teor dos vídeos e no impacto
psicológico que se pode causar nos pequenos. O único
pensamento é: como eu posso vender para eles.
YouTube não é brinquedo. Têm vídeos bons? Sim, mas
não dá para colocar uma tela na mão da criança e
achar que ela está segura. É preciso orientar e
acompanhar o que as crianças assistem.
Alguns teóricos acreditam que a formação do caráter
se dá por hábitos e estes por repetições, seguindo
essa linha de estudo não quero prever como será o
desenvolvido do caráter das crianças que são deixadas
aos cuidados desses faladores de tolices que postam
vídeos.
57. O travesseiro
Violação legal: Artigo 19 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 19. É direito da criança e do
adolescente ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família
substituta , assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente que
garanta seu desenvolvimento integra.
Tenho três irmãs e um irmão e quando pensei em
fazer um poema sobre convívio familiar a primeira
coisa que veio à mente foi o bilhete que meu irmão
Jason deixou no travesseiro para a minha irmã Rachel
(a ilustradora). Esse momento tornou-se inesquecível,
não só pela graça, mas pela ternura de ter
experiências que somente podem ser vivenciadas no
seio familiar.
58. São coisas pequenas e bobas, mas enchem os olhos
de lágrimas e gratidão por ter tido uma família
numerosa e divertida. Penso nas crianças privadas do
convívio familiar, pelos mais diversos motivos, e de
como isso é triste.
59. Aquele olhar
Violação legal: Artigo 7º Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 7º A criança e o adolescente
têm direito a proteção à vida e à saúde,
mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de
existência.
§ 7o A gestante deverá receber orientação
sobre aleitamento materno, alimentação
complementar saudável e crescimento e
desenvolvimento infantil, bem como sobre
formas de favorecer a criação de vínculos
afetivos e de estimular o desenvolvimento
integral da criança.
.
60. No dia 03 de abril de 2000, dei à luz ao Daniel, meu
primeiro filho. Maior que a alegria que senti por ser
mãe foi a satisfação que tive ao amamentá-lo
Lembrando do olhar do meu menino quando eu o
amamentava, escrevi “Aquele olhar”. Nada é mais
saudável para o bebê do que receber o leite da mãe. A
mãe também recebe. Eu recebi aquele olhar que
guardei no coração, transformei em versos e agora
compartilho.
Aquele olhar é para mostrar que a criança tem direito
à uma alimentação saudável e essa alimentação deve
começar desde o nascimento.
Existem muitos mitos com relação à amamentação.
Amamentei os meus dois filhos. Eu dormia
pouquíssimo e tinha sensação que o alimento não
chegava no estômago, ia direto para os seios. Parecia
uma experiência muito árdua, mas fui bem orientada
e tinha consciência de como o aleitamento materno
era importante tanto para o bebê quanto para a mãe.
61. Mesmo com a atuação de organizações do terceiro
setor que promovem oficinas e campanhas de
orientação sobre a importância do aleitamento
materno. Há a necessidade de uma política pública
mais eficiente neste ponto.
Ainda existem mães que acreditam que seu leite é
fraco e completam a alimentação da criança com
fórmulas.
Além do valor nutricional do leite materno que é
incontestável, o laço emocional que une mãe e filho
neste ato é maravilhoso.
62. A balança
Violação legal: Artigo 8º Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente e artigo 6º da Constituição
Federal
Art. 6º São direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 90, de 2015)
O direito à alimentação é um direito social. O Estado
deve atuar de forma efetiva para que toda a sociedade
tenha o direito humano à alimentação adequada. Não é
aceitável que nossas crianças passem fome ou vivam
com alimentação inadequada. A vulnerabilidade social
faz com que muitas famílias busquem alimentos de
baixo valor nutricional e ricas em açúcar, gordura e
sódio.
63. Muitas crianças estudam de barriga vazia, enquanto
outras não têm vontade de ir à escola por estarem
com sobrepeso. Essa é uma realidade muito triste. E
esse foi o poema mais difícil para terminar, porque
não queria cair no senso comum e jogar a
responsabilidade unicamente para o Estado ou
reproduzir o discurso de muitos gigantes cruéis que
culpam os pais.
Leio esse poema com um nó na garganta porque não
consigo enxergar uma solução imediata. Já tive a
oportunidade de participar de reuniões e palestras
com representantes da indústria de alimentos e ouvi
coisas que são difíceis de engolir. Em uma das
reuniões da Câmara Técnica do Procon Paulistano
sobre Publicidade direcionada ao público infantil
escutei uma nutricionista (que trabalha para alguma
indústria) dizer que um bolinho industrializado tem
menos açúcar do que um bolo feito pela vovó.
64. Embora isso me pareça bastante estranho, não sou
especialista para contestar, mas sei que a vovó não
coloca no bolo açúcar invertido, pirofosfato ácido de
sódio conservador propionato de cálcio, aromatizante,
conservador sorbato de potássio, estabilizantes
monodiglicerídeos e polisorbato 60, todos ingredientes
que estão no bolinho industrializado.
Convivi com nutricionistas maravilhosas quando
trabalhava no Idec e aprendi que um preparo culinário
é muito mais saudável que um produto
ultraprocessado. Prefiro guardar esse aprendizado e
pedir para que as vovós continuem fazendo bolo para
seus netos. Esses bolos têm um gosto especial que a
indústria nunca vai conseguir reproduzir. Não tenho
uma solução imediata para o desequilíbrio da balança,
mas tenho certeza que o equilíbrio somente
acontecerá se o Estado, a sociedade e as famílias
atuarem conjuntamente. E para as famílias que
conseguem comprar alimentos in natura para seus
filhos, uma dica: cozinhem! Utilizem menos açúcar,
menos gordura, menos sódio e muito amor.
65. O amigo do 227
Violação legal: Artigo 8º Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente e artigo 227 da Constituição
Federal.
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
66. Art. 4º É dever da família, da comunidade,
da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
Neste poema não tem uma violação
propriamente dita, mas uma informação e uma
homenagem. O artigo 227 da Constituição
Federal e o artigo 4º do ECA, preveem para as
crianças e adolescentes o Princípio da
Prioridade Absoluta. Isso significa dizer que a
efetivação de todos os direitos fundamentais
deve ser garantida primeiramente para as
crianças e adolescentes.
67. Quando vimos o desrespeito com que as crianças são
tratadas, nem conseguimos acreditar que a lei prevê
uma proteção mais ampla para as pessoas que ainda
estão em condição de desenvolvimento.
Para entender melhor o Princípio da Prioridade
Absoluta no Brasil, poderíamos mudar a famosa frase
“ Mulheres e crianças primeiro” para “ Crianças e
mulheres primeiro”.
Para dar efetividade ao referido princípio, num
exemplo hipotético, em que se discutisse na Câmara
Legislativa o aumento da taxação de bebidas
açucaradas para diminuição do consumo entre as
crianças, o Princípio da Prioridade Absoluta poderia
ser invocado e a proteção da criança venceria em
detrimento da indústria de bebidas.
68. Dada a informação passo a homenagem para o
Instituto Alana, que todos os dias e por várias frentes
fortalece e faz com que seja efetivo o Princípio da
Prioridade Absoluta. Sou completamente apaixonada
pelo trabalho deles. Não aprendi na faculdade sobre a
proteção da infância, aprendi com o Instituto Alana.
Em cada palestra, roda de conversas que tive a
oportunidade de vê-los defender a infância de forma
robusta, baseada em estudos e fatos.
Mais do que pensar no artigo 227 da Constituição
Federal quando escrevi esse poema, pensei no
trabalho do Alana e como eles são verdadeiramente “
O amigo do 227”. Vida longa ao Amigo Alana!
69. O asfalto
Violação legal: Artigos 15 e 16 da Lei 8.069/90 -
Estatuto da Criança e do Adolescente
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito
à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os
seguintes aspectos:
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
A falta de segurança pública tem tirado as crianças
de vários lugares, principalmente nas grandes
cidades. Raramente vejo crianças brincando nas ruas
do meu bairro. Uma realidade bem diferente da
infância que tive, vivia na rua. Brincava tanto que
esquecia de comer. Minha mãe tinha que me lembrar.
70. Chegar da escola, comer, fazer a lição e depois ficar
grudado em alguma tela não pode ser considerado
brincar. Não existe o desenvolvimento da imaginação
quando a criança olha outra brincando e se divertindo
num vídeo.
Sei que muitas crianças não vão à escola, não têm o
que comer e muito menos uma caixa mágica de
observação da diversão alheia. Mais uma vez digo que
não tenho a solução para salvar a infância de todos os
males. Esse livro é a forma que encontrei para que a
minha indignação não fosse uma mosca sem asas que
não ultrapassa a barreira de minha casa, como na
música In(dig)nação do Samuel Rosa e do Chico
Amaral.
Eu estou usando a liberdade que muitas crianças não
têm. A liberdade de dizer o que penso, de conseguir
textualizar meus pensamentos.
71. Não tive uma infância fácil, muitas vezes faltou o
alimento, a roupa, mas não posso dizer que não tive
liberdade para ser criança.
Não é somente a falta de segurança pública que tira a
liberdade das crianças, às vezes a própria família faz
isso. Lembro-me de uma menina triste como o sapato
novo e perguntei o porquê. A garotinha falou que
estava triste porque com os sapatos novos não podia
brincar para não os estragar.
Precisamos deixar as crianças serem livres para
serem crianças.
72. Infância dopada
Violação legal: Artigo 7º da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação
de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.
Quando cheguei na Faculdade de Letras alguns alunos
já atuavam na área da educação e foi lá que ouvi pela
primeira vez sobre Ritalina nome comercial do
metilfenidato. Medicamento indicado para melhorar a
cognição de pacientes diagnosticados com transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
73. É apenas um medicamento que, segundo dizem, é
eficaz para o fim que se destina. O problema é que
esse remédio, tarja preta, tem sido usado
indiscriminadamente.
Mesmo para as crianças que são diagnosticadas com
TDAH, o uso do metilfenidato não é obrigatório,
segundo alguns estudiosos sobre o assunto. O fato é
que esse medicamento tira o brilho da infância. E o
que apaga uma criança é uma violação aos direitos da
infância.
74. Nem o nome ele quer dar
Violação legal: Artigo 17 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais.
Muitas crianças não têm o nome do pai no registro de
nascimento. Isso é um desrespeito a criança que tem
o direito de ter o nome de seu genitor em seu
documento.
Convivi de perto com mães que passaram por isso,
recentemente. Não eram casos de investigação de
paternidade, os pais eram muito bem conhecidos.
Tinham outra família, uma reputação a zelar, ou não
tinham disposição nenhuma de comparecer ao
cartório.
75. Não consigo entender como alguém deixa de
reconhecer um filho, da mesma maneira que não
entendo o desprezo que muitos pais têm por seus
filhos, mesmo aqueles “ganham” um nome.
É muito egoísmo e falta de amor.
É mais um desrespeito ao direito da criança que
macula a infância.
76. Não pode virar paisagem
Violação legal: Constituição Federal, Estatuto da
criança e do Adolescente e toda legislação nacional e
internacional sobre direitos humanos.
Crianças em situação de rua ainda são uma realidade
no Brasil. E quantos direitos são violados de quem não
tem a certeza do alimento. Sabe que a escola é um
lugar distante. Não tem o direito de ir e vir. É olhado
com desprezo e medo. Sofre violência. Passa frio. Não
tem cuidados básicos de higiene pessoal. Não tem um
lugar certo para dormir. Pensar nas violações sofridas
pelas crianças em situação de rua é extremamente
pesado e como já foi dito, a proposta deste livro não é
apontar uma solução. Quero finalizar esse comentário
relatando uma cena que vi quando tinha 15 anos e foi
inspiração para uma crônica intitulada “ Pátio Barão”.
Vi crianças brincando à noite na Rua Barão de
Itapetininga. Não sei se iriam dormir num abrigo ou
ali próximo, não quis pensar nisso.
77. Foquei meu olhar no fato que eram crianças e
continuavam a ser crianças mesmo sem tantos
direitos.
78. Não quero um rótulo
Violação legal: Artigo 53 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito
à educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se lhes: (...)
Dislexia, mais um que aprendizado adquirido na
Faculdade Letras, especificamente na disciplina de
Psicologia da Educação ministrada pela professora
Roselaine Pontes de Almeida, carinhosamente e
merecidamente chamada de Rosalinda.
Fiz esse poema para uma apresentação na aula sobre
transtornos de aprendizagem. E percebi que tinha
compreendido a questão quando vi o brilho nos olhos
da Rosalinda e ouvi o relato de uma colega de turma
que tem dislexia e discalculia.
79. Muito se fala na dificuldade que um professor da rede
pública tem para lecionar em uma sala com mais de
30 alunos, mas pouco é falado que alguns desses
alunos podem ter algum transtorno de aprendizagem,
o que potencializa a dificuldade do professor que
precisa encontrar maneiras diferentes de ensinar
para cada aluno.
As crianças não têm somente o direito à educação,
mas também o direito de ter respeitada a sua
condição de indivíduo que possui uma forma diferente
de aprender. Todos nós aprendemos de maneiras
diferentes, e infelizmente isso não é observado na
maior parte das escolas, sejam elas públicas ou
privadas.
80. Marrom
Violação legal: Artigo 5º da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será
objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.
Essa violação foi fácil de adivinhar. Difícil é aceitar que
ainda exista preconceito racial. Mais difícil ainda é
saber que as crianças também são vítimas de
racismo.
Você gosta de pessoas marrom? Minha filha Estela
que fez essa pergunta. A resposta vocês viram no
poema.
81. Quantas crianças não perguntam nada e crescem
pensando que não são bonitas ou não são dignas de
algo por serem marrons, rosas, amarelas, azuis.
Tem tanta coisa que precisa mudar, mas essas
mudanças só vão começar quando deixarmos de achar
que o racismo não existe. Que é um exagero. Uma
mania de perseguição.
Recentemente, minha filha fez um desenho com toda
a família. Em seu desenho todos eram marrons.
Somos todos coloridos na minha família, uma boa
mistura de raças, mas para a Estela todos são como
ela, todos somos marrons.
82. Imagens distorcidas, infância perdida.
Violação legal: Artigo 18 da Lei 8.069/90 - Estatuto da
Criança e do Adolescente
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Esse foi o primeiro poema que escrevi para o livro.
Quando o leio, vejo várias imagens de famílias que têm
preferido o celular do que mais tempo com as
crianças. Um dia eu estava fazendo alguma coisa no
celular e minha filha Estela conversando comigo e de
repente ela disse: mãe repete o que eu disse. Eu sabia
a metade. Depois disso, o uso de celular na minha
casa mudou. Praticamente eu e meu marido não
usamos o celular quando estamos com a Estela.
83. Meu filho Daniel já está com 18 anos e passou tão
rápido. Penso que tenho que curtir cada minuto que
estou com minha filha, porque por mais difícil que
seja para os pais entenderem isso, os filhos crescem.
Fica a dica: descelularize quando estiver com seus
filhos. Nenhum brilho é mais importante.