SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
A banalidade do mal e o esquecimento
do bem
O Brasil também continua de pé graças à maioria das
pessoas, que sofre sem vender sua consciência
Acostumados todo dia a receber notícias de corruptos e canalhas sem escrúpulos,
de violências e direitos pisoteados, poderíamos cair na tentação de acreditar que
no Brasil não há pessoas boas e honradas. Elas existem, e são a imensa maioria. São
elas que mantêm o país de pé, que o fazem funcionar. Graças a elas, conseguimos
viver e até manter um fio de esperança.
Enquanto crescia, aqui e no mundo, o monstro da violência, do terrorismo e
dos novos nazismos, dois personagens históricos, dois pensadores, ambos
mulheres, ambas perseguidas por sua condição de judias, a alemã Hannah Arendt e
a húngara Agnes Heller – esta última, inclusive, sobrevivente de um campo de
concentração – se transformaram em atualidade. Arendt, após ter peregrinado
fugindo da perseguição, conhecedora privilegiada dos horrores do Holocausto e
seus verdugos, cunhou o conceito de “banalidade do mal”. Trata-se do perigo, como
ocorreu durante o nazismo, de que as pessoas comuns acabem vendo o mal como
algo normal, como algo que realizamos por dever ou por simples seguimento de
uma ideologia fanática. É a obediência às ordens do tirano, sem medir as suas
consequências. O mecanismo que transforma em normal e burocrático os
massacres e holocaustos.
Um perigo que hoje se torna tragicamente atual, com o ressurgimento de velhas e
novas ideologias de ódio e discriminação dos diferentes. Mas além desse perigo
real, que a extrema-direita e as ideologias de várias tendências ressuscitam, existe
outro, oposto. À banalidade do mal se opõe, hoje, o chamado “esquecimento do
bem”, como se a humanidade estivesse possuída definitivamente pelo mal, sem
espaços para a bondade. É o que a pensadora húngara Agnes Heller acaba de
recordar a este jornal numa entrevista, em sua casa de Budapeste, ao jornalista
Guillermo Altares, quando afirma que hoje, com seus quase 90 anos e depois de ter
vivido guerras e exílios, de seu pai ter morrido em Auschwitz e de ela ter se
salvado junto com sua mãe, a única fé que lhe resta é que, até no meio do pior
inferno, continuam existindo “pessoas boas, capazes de ajudar os demais a se
salvarem.”
O esquecimento e o silêncio da existência do bem podem ser, de fato, tão perigosos
quanto a banalização do mal, pois acabam com as chances de esperança. Outro
judeu, Sigmund Freud, pai da psicanálise, já tinha recordado, em meio aos horrores
do nazismo, que o impulso da vida supera o da morte, que é como dizer que o bem
acaba vencendo o mal. Do contrário, dizia Freud, o mundo já não existiria.
O Brasil também continua de pé, apesar de todos os tropeços e de todos os seus
demônios, graças à grande maioria das pessoas que são honradas e trabalhadoras,
que se sacrificam e sofrem sem vender sua consciência. É esse exército que,
mesmo furioso com os corruptos e consciente da existência do mal, continua em
seu caminho, sem se vender ao deus do derrotismo, buscando seus espaços de
felicidade – sua e dos demais. Sem essas pessoas boas e normais, nosso cotidiano
seria um inferno. Sem esses milhões de trabalhadores que não se vendem e
geralmente sofrem injustiças e penalidades todo dia, nosso cotidiano pararia. Toda
vez que acendemos uma luz, abrimos a torneira, pegamos um ônibus, compramos
num mercado e encontramos nossas ruas limpas, deveríamos pensar que, por trás
disso tudo, existe alguém que está trabalhando de forma honrada e silenciosa para
que isso seja possível.
Todos nós já cruzamos algum dia com uma dessas pessoas generosas, capazes de
ajudar sem esperar recompensa. É das pessoas boas que fala a filósofa húngara
após ter vivido os horrores do mundo. Neste momento, eu não poderia deixar de
lembrar que, se hoje estou escrevendo estas linhas, é porque, quando ainda era
criança, uma família pagou meus estudos, o que meus pais, professores de escola,
não teriam podido fazer. Uma família que não conheci porque preferiu o
anonimato. São essas famílias, e não os banalizadores do mal, as verdadeiras
construtoras e donas do mundo.
Que não se enganem os corruptos e violentos, pois essas pessoas boas, se
quiserem, também podem se rebelar. E nada mais perigoso para os canalhas que a
ira dos inocentes. O que seria, por exemplo, das pessoas abastadas das cidades
brasileiras se, por exemplo, esses milhões de favelados, deixados à própria sorte,
vítimas da banalização da violência, decidissem baixar em massa e incendiá-las?
Não é que não haja pessoas de bem. Às vezes, frente ao mal e à injustiça que as
rodeia, ao descaramento do mal, dá até vontade de pensar que são boas demais
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/26/opinion/1503698941_685704.html

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A Questão da Pena de Morte
A Questão da Pena de MorteA Questão da Pena de Morte
A Questão da Pena de MorteChris x-MS
 
Carta testamento 3ºC - História
Carta testamento 3ºC - HistóriaCarta testamento 3ºC - História
Carta testamento 3ºC - Histórialiceuterceiroc
 
Nós que aqui estamos por vós esperamos
Nós que aqui estamos por vós esperamosNós que aqui estamos por vós esperamos
Nós que aqui estamos por vós esperamosLetróloga Blog
 
Sabe como capturar porcos?
Sabe como capturar porcos?Sabe como capturar porcos?
Sabe como capturar porcos?pr_afsalbergaria
 
Sabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcosSabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcosLuís Sérgio
 
Sabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcosSabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcosCantacunda
 
Sabe como capturar porcos ?
Sabe como capturar porcos ?Sabe como capturar porcos ?
Sabe como capturar porcos ?Umberto Pacheco
 
Vidioeteca CAPSI
Vidioeteca CAPSIVidioeteca CAPSI
Vidioeteca CAPSICAPSI-UFAL
 
Miranda mns intervém no stf
Miranda mns intervém no stfMiranda mns intervém no stf
Miranda mns intervém no stffábio ramirez
 

Mais procurados (11)

A Questão da Pena de Morte
A Questão da Pena de MorteA Questão da Pena de Morte
A Questão da Pena de Morte
 
Carta testamento 3ºC - História
Carta testamento 3ºC - HistóriaCarta testamento 3ºC - História
Carta testamento 3ºC - História
 
Holocausto
HolocaustoHolocausto
Holocausto
 
Nós que aqui estamos por vós esperamos
Nós que aqui estamos por vós esperamosNós que aqui estamos por vós esperamos
Nós que aqui estamos por vós esperamos
 
Sabe como capturar porcos?
Sabe como capturar porcos?Sabe como capturar porcos?
Sabe como capturar porcos?
 
Sabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcosSabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcos
 
Sabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcosSabe como capturar porcos
Sabe como capturar porcos
 
Sabe como capturar porcos ?
Sabe como capturar porcos ?Sabe como capturar porcos ?
Sabe como capturar porcos ?
 
468 an 26_março_2014.ok
468 an 26_março_2014.ok468 an 26_março_2014.ok
468 an 26_março_2014.ok
 
Vidioeteca CAPSI
Vidioeteca CAPSIVidioeteca CAPSI
Vidioeteca CAPSI
 
Miranda mns intervém no stf
Miranda mns intervém no stfMiranda mns intervém no stf
Miranda mns intervém no stf
 

Semelhante a Bem vs Mal no Brasil

O dever para com o refugiado na era da globalização
O dever para com o refugiado na era da globalizaçãoO dever para com o refugiado na era da globalização
O dever para com o refugiado na era da globalizaçãoCecília Tomás
 
Ganhei Coragem (Rubem Alves)
Ganhei Coragem (Rubem Alves)Ganhei Coragem (Rubem Alves)
Ganhei Coragem (Rubem Alves)Giba Canto
 
O homem-revoltado-pt-texto
O homem-revoltado-pt-textoO homem-revoltado-pt-texto
O homem-revoltado-pt-textoKarina Schil
 
Ganhei Coragem - Rubem Alves
Ganhei Coragem - Rubem AlvesGanhei Coragem - Rubem Alves
Ganhei Coragem - Rubem AlvesGiba Canto
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...ls4231294
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...ignaciosilva517
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...carlos784vt
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...carlos784vt
 
Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...
Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...
Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...moratonoise
 
A ditadura da beleza e a revolução das mulheres augusto cury
A ditadura da beleza e a revolução das mulheres   augusto curyA ditadura da beleza e a revolução das mulheres   augusto cury
A ditadura da beleza e a revolução das mulheres augusto curylias7
 
Período Moderno: contos e mentalidade
Período Moderno: contos e mentalidade Período Moderno: contos e mentalidade
Período Moderno: contos e mentalidade Juliana
 
Era uma vez 25 de abril!
Era uma vez 25 de abril!Era uma vez 25 de abril!
Era uma vez 25 de abril!Susana Cardoso
 
Augusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheres
Augusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheresAugusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheres
Augusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheresNatália Martins
 
Modernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdf
Modernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdfModernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdf
Modernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdfVIEIRA RESENDE
 

Semelhante a Bem vs Mal no Brasil (20)

O dever para com o refugiado na era da globalização
O dever para com o refugiado na era da globalizaçãoO dever para com o refugiado na era da globalização
O dever para com o refugiado na era da globalização
 
Uma certa Aracy
Uma certa AracyUma certa Aracy
Uma certa Aracy
 
Uma certa aracy
Uma certa aracyUma certa aracy
Uma certa aracy
 
Ganhei Coragem (Rubem Alves)
Ganhei Coragem (Rubem Alves)Ganhei Coragem (Rubem Alves)
Ganhei Coragem (Rubem Alves)
 
O homem-revoltado-pt-texto
O homem-revoltado-pt-textoO homem-revoltado-pt-texto
O homem-revoltado-pt-texto
 
Ganhei Coragem - Rubem Alves
Ganhei Coragem - Rubem AlvesGanhei Coragem - Rubem Alves
Ganhei Coragem - Rubem Alves
 
Hannat arendt
Hannat arendtHannat arendt
Hannat arendt
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
 
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
O PRECO DA IGNORANCIA E DA SOCIEDADE DOENTE SUAS CONSEQUENCIAS NEGATIVAS PARA...
 
ATÉ QUANDO?
ATÉ QUANDO?ATÉ QUANDO?
ATÉ QUANDO?
 
O holocausto
O holocaustoO holocausto
O holocausto
 
Ciclo de massacre
Ciclo de massacreCiclo de massacre
Ciclo de massacre
 
Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...
Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...
Natalia montebello a mulher mais perigosa da américa...
 
A ditadura da beleza e a revolução das mulheres augusto cury
A ditadura da beleza e a revolução das mulheres   augusto curyA ditadura da beleza e a revolução das mulheres   augusto cury
A ditadura da beleza e a revolução das mulheres augusto cury
 
Período Moderno: contos e mentalidade
Período Moderno: contos e mentalidade Período Moderno: contos e mentalidade
Período Moderno: contos e mentalidade
 
Era uma vez 25 de abril!
Era uma vez 25 de abril!Era uma vez 25 de abril!
Era uma vez 25 de abril!
 
Augusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheres
Augusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheresAugusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheres
Augusto cury -_a_ditadura_da_beleza_e_a_revolução_das_mulheres
 
Modernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdf
Modernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdfModernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdf
Modernidade e Holocausto - Zygmunt Bauman.pdf
 

Último

Aula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdf
Aula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdfAula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdf
Aula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 2.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo -  PARTE 2.pdfAula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo -  PARTE 2.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 2.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdfAula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdf
Aula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdfAula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdf
Aula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdf
Aula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdfAula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdf
Aula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdf
Aula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdfAula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdf
Aula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdf
Aula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdfAula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdf
Aula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdf
Aula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdfAula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdf
Aula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdfAula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 3- CME - Tipos de Instrumentais - Pacotes -.pdf
Aula 3- CME - Tipos de Instrumentais -  Pacotes -.pdfAula 3- CME - Tipos de Instrumentais -  Pacotes -.pdf
Aula 3- CME - Tipos de Instrumentais - Pacotes -.pdfGiza Carla Nitz
 
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptxNR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptxWilliamPratesMoreira
 
Aula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdf
Aula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdfAula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdf
Aula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdfGiza Carla Nitz
 
AULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLA
AULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLAAULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLA
AULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLAgabriella462340
 
2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações
2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações
2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptaçõesTHIALYMARIASILVADACU
 
Aula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdf
Aula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdfAula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdf
Aula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdfAula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdfGiza Carla Nitz
 
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdfHistologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdfzsasukehdowna
 
Aula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdf
Aula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdfAula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdf
Aula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdf
Aula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdfAula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdf
Aula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdfGiza Carla Nitz
 
Aula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdf
Aula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdfAula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdf
Aula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdfGiza Carla Nitz
 

Último (20)

Aula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdf
Aula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdfAula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdf
Aula 11 - Prevenção e Controle da Hanseníase e Tuberculose - Parte II.pdf
 
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 2.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo -  PARTE 2.pdfAula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo -  PARTE 2.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 2.pdf
 
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdfAula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdf
Aula 7 - Tempos Cirurgicos - A Cirurgia Passo A Passo - PARTE 1.pdf
 
Aula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdf
Aula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdfAula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdf
Aula 7 - Sistema Linfático - Anatomia humana.pdf
 
Aula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdf
Aula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdfAula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdf
Aula 6 - Sistema Circulatório cardiovascular - Anatomia humana.pdf
 
Aula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdf
Aula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdfAula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdf
Aula 2 - Contrução do SUS - Linha do Tempo da Saúde no Brasil.pdf
 
Aula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdf
Aula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdfAula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdf
Aula 6 - Primeiros Socorros - Choque Elétrico .pdf
 
Aula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdf
Aula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdfAula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdf
Aula 9 - Doenças Transmitidas Por Vetores.pdf
 
Aula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdfAula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Médica -Organização, Estrutura, Funcionamento.pdf
 
Aula 3- CME - Tipos de Instrumentais - Pacotes -.pdf
Aula 3- CME - Tipos de Instrumentais -  Pacotes -.pdfAula 3- CME - Tipos de Instrumentais -  Pacotes -.pdf
Aula 3- CME - Tipos de Instrumentais - Pacotes -.pdf
 
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptxNR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
NR32 - Treinamento Perfurocortantes - 2023.pptx
 
Aula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdf
Aula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdfAula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdf
Aula 5- Biologia Celular - Célula Eucarionte Vegetal.pdf
 
AULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLA
AULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLAAULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLA
AULA NUTRIÇÃO EM ENFERMAGEM.2024 PROF GABRIELLA
 
2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações
2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações
2. ADAPTAÇÕES VIDA EXTRA UTERINA.pdftodas as adaptações
 
Aula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdf
Aula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdfAula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdf
Aula 8 - Primeiros Socorros - IAM- INFARTO AGUDO DO MIOCARDIO.pdf
 
Aula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdfAula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdf
Aula 1 - Clínica Cirurgica -organização, estrutura, funcionamento.pdf
 
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdfHistologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
Histologia- Tecido muscular e nervoso.pdf
 
Aula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdf
Aula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdfAula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdf
Aula 2- CME - Central de Material Esterelizado - Parte 1.pdf
 
Aula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdf
Aula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdfAula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdf
Aula 3 - Sistema Esquelético - Anatomia Humana.pdf
 
Aula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdf
Aula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdfAula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdf
Aula 5 - Sistema Muscular- Anatomia Humana.pdf
 

Bem vs Mal no Brasil

  • 1. A banalidade do mal e o esquecimento do bem O Brasil também continua de pé graças à maioria das pessoas, que sofre sem vender sua consciência Acostumados todo dia a receber notícias de corruptos e canalhas sem escrúpulos, de violências e direitos pisoteados, poderíamos cair na tentação de acreditar que no Brasil não há pessoas boas e honradas. Elas existem, e são a imensa maioria. São elas que mantêm o país de pé, que o fazem funcionar. Graças a elas, conseguimos viver e até manter um fio de esperança. Enquanto crescia, aqui e no mundo, o monstro da violência, do terrorismo e dos novos nazismos, dois personagens históricos, dois pensadores, ambos mulheres, ambas perseguidas por sua condição de judias, a alemã Hannah Arendt e a húngara Agnes Heller – esta última, inclusive, sobrevivente de um campo de concentração – se transformaram em atualidade. Arendt, após ter peregrinado fugindo da perseguição, conhecedora privilegiada dos horrores do Holocausto e seus verdugos, cunhou o conceito de “banalidade do mal”. Trata-se do perigo, como ocorreu durante o nazismo, de que as pessoas comuns acabem vendo o mal como algo normal, como algo que realizamos por dever ou por simples seguimento de uma ideologia fanática. É a obediência às ordens do tirano, sem medir as suas consequências. O mecanismo que transforma em normal e burocrático os massacres e holocaustos. Um perigo que hoje se torna tragicamente atual, com o ressurgimento de velhas e novas ideologias de ódio e discriminação dos diferentes. Mas além desse perigo real, que a extrema-direita e as ideologias de várias tendências ressuscitam, existe outro, oposto. À banalidade do mal se opõe, hoje, o chamado “esquecimento do bem”, como se a humanidade estivesse possuída definitivamente pelo mal, sem espaços para a bondade. É o que a pensadora húngara Agnes Heller acaba de recordar a este jornal numa entrevista, em sua casa de Budapeste, ao jornalista Guillermo Altares, quando afirma que hoje, com seus quase 90 anos e depois de ter vivido guerras e exílios, de seu pai ter morrido em Auschwitz e de ela ter se salvado junto com sua mãe, a única fé que lhe resta é que, até no meio do pior inferno, continuam existindo “pessoas boas, capazes de ajudar os demais a se salvarem.” O esquecimento e o silêncio da existência do bem podem ser, de fato, tão perigosos quanto a banalização do mal, pois acabam com as chances de esperança. Outro judeu, Sigmund Freud, pai da psicanálise, já tinha recordado, em meio aos horrores do nazismo, que o impulso da vida supera o da morte, que é como dizer que o bem acaba vencendo o mal. Do contrário, dizia Freud, o mundo já não existiria. O Brasil também continua de pé, apesar de todos os tropeços e de todos os seus demônios, graças à grande maioria das pessoas que são honradas e trabalhadoras,
  • 2. que se sacrificam e sofrem sem vender sua consciência. É esse exército que, mesmo furioso com os corruptos e consciente da existência do mal, continua em seu caminho, sem se vender ao deus do derrotismo, buscando seus espaços de felicidade – sua e dos demais. Sem essas pessoas boas e normais, nosso cotidiano seria um inferno. Sem esses milhões de trabalhadores que não se vendem e geralmente sofrem injustiças e penalidades todo dia, nosso cotidiano pararia. Toda vez que acendemos uma luz, abrimos a torneira, pegamos um ônibus, compramos num mercado e encontramos nossas ruas limpas, deveríamos pensar que, por trás disso tudo, existe alguém que está trabalhando de forma honrada e silenciosa para que isso seja possível. Todos nós já cruzamos algum dia com uma dessas pessoas generosas, capazes de ajudar sem esperar recompensa. É das pessoas boas que fala a filósofa húngara após ter vivido os horrores do mundo. Neste momento, eu não poderia deixar de lembrar que, se hoje estou escrevendo estas linhas, é porque, quando ainda era criança, uma família pagou meus estudos, o que meus pais, professores de escola, não teriam podido fazer. Uma família que não conheci porque preferiu o anonimato. São essas famílias, e não os banalizadores do mal, as verdadeiras construtoras e donas do mundo. Que não se enganem os corruptos e violentos, pois essas pessoas boas, se quiserem, também podem se rebelar. E nada mais perigoso para os canalhas que a ira dos inocentes. O que seria, por exemplo, das pessoas abastadas das cidades brasileiras se, por exemplo, esses milhões de favelados, deixados à própria sorte, vítimas da banalização da violência, decidissem baixar em massa e incendiá-las? Não é que não haja pessoas de bem. Às vezes, frente ao mal e à injustiça que as rodeia, ao descaramento do mal, dá até vontade de pensar que são boas demais https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/26/opinion/1503698941_685704.html