Para os que não entendem bem o inglês, transcrevi o filme sobre cultura da convergência, onde Henry Jenkis fala sobre transmedia storytelling.
Especial Thanks: Heloisa, que transcreveu e traduziu o filme.
Transcrição do filme Transmedia missionaris: Henry Jenkins
1. Cultura da convergência, o filme
Nós estamos definitivamente em um momento de transição. Um momento em que
um velho sistema de mídia está morrendo e um novo sitema de mídia está nascendo.
Uma era em que a cultura do espectador está dando lugar a uma cultura
participatória. Em que uma sociedade baseada num pequeno número de companhias
controlando os aparatos de narrativa está dando lugar a uma estrutura de mídia
muito mais complexa onde os cidadãos médios têm a habilidade de tomar controle
das tecnologias e contar suas próprias histórias de maneira nova e eficaz.
Henry Jenkins, PhD
Estudos de Mídias Comparativas, MIT
Se nós voltarmos milhares de anos na história da raça humana, as mesmas histórias
foram recontadas muitas e muitas vezes ao redor da fogueira. Elas pertencem ao
povo. Ao chegarmos ao século XX, essas imagens agora pertencem a grande
companhias de mídia, que reivindicam propriedade exclusiva sobre elas. O que
estamos vendo é que, na era digital, à medida que o público começa a tomar a mídia
em suas próprias mãos, e começa a afirmar seu direito de recontar essas histórias, o
público está tomando a mídia sem a permissão dos proprietários do copyright, e
inovando, experimentando, recontextualizando, respondendo a essas imagens de
jeitos novos.
Nós tomamos controle da mídia que entra em nossas vidas, e essa é a essência da
cultura da convergência.
Cultura da convergência é um mundo onde toda história, todo som, marca, imagem,
relacionamento, se desenrola através do máximo número de canais de mídia. Ela é
formada tanto pelas decisões tomadas num quarto de adolescente quanto pelas
decisões tomadas na sala de diretoria da [biocom? 1:58]. Então uma lista de
discussão online, ou a wikipedia, funciona de acordo com uma inteligência coletiva
onde o grupo como um todo pode juntar conhecimento de uma maneira mais
complexa do que um membro seria capaz de fazer.
Estamos desenvolvendo tecnologias em torno da inteligência coletiva que permitem
que monitoremos dados produzidos pelo governo de maneiras que seriam impossíveis
antes. Ou vendo ativistas de direitos humanos pegarem vídeos gravados por
torturadores e inverterem a situação e usando-os para chamar a atenção para o papel
da tortura ao redor do planeta.
George Orwell imaginou um mundo em que o Grande Irmão nos estaria vigiando, mas
ao invés disso nós mesmos nos colocamos diante de câmeras ou assistimos Big
Brother todas as horas do dia.
Projeto Transmídia
Num projeto transmídia, a história ou experiência está espalhada entre uma gama de
plataformas, não de uma maneira redundante, mas de um jeito complementar, de
modo que cada plataforma contribui com o que tem de melhor.
2. A Matrix está em todos os lugares. Está ao redor de nós. Mesmo agora,
nesta sala.
O entretenimento popular até agora foi o melhor a explorar esses princípios centrais.
Podemos olhar para a série Matrix, uma história que se desenrola em 3 filmes longa-
metragem, 12 curta-metragens de animação, cerca de 20 revistas em quadrinhos,
uns 3 videogames, e pode até se expandir quando os fãs se dedicam e criam fan-
fiction (ficção), ou fan-art (arte), ou fan-theater (teatro).
A vantagem para um cineasta de documentário é que nós já estamos retratando o
mundo. A realidade já é multi-plataforma, e a realidade é complexa o suficiente para
permitir que tenhamos muitos personagens e muitas histórias em muitas plataformas.
Era um credo escrito nos documentos fundadores e que declararam o
destino de uma nação: Sim, podemos.
Até agora a história mais bem sucedida de transmídia de não-ficção foi a campanha
de Obama. Aqui vemos essa figura política que era relativamente desconhecida
quatro anos atrás, que explodiu na cena nacional explorando todas as mídias
disponíveis. Redes sociais, como MySpace e Facebook, tecnologia celular para
conectar com os eleitores, YouTube como uma plataforma para distribuir vídeos
oficiais e permitindo aos consumidores que produzissem seus próprios vídeos.
Nós responderemos com aquele credo atemporal que sumariza o
espírito do povo: Sim, podemos.
Um mundo governado pelos princípios da cultura participatória tem potencial para ser
muito mais diverso do que um mundo controlado por um pequeno número de
produtores de mídia. À medida em que a média das pessoas desenvolve a habilidade
de contar suas próprias histórias, estamos vendo emergir novas perspectivas.
Estamos vendo grupos ganhando representação, estamos vendo grupos desafiando as
imagens dominantes na mídia que foram construídas ao longo de suas vidas. E o
desafio para nós que nos importamos com questões de justiça social é ter certeza de
que essas ferramentas cheguem às mãos daqueles que são os mais oprimidos e
empobrecidos para levar suas histórias para fora, colocar suas histórias em
circulação.
Quando expandimos o poder de contar histórias, temos o potencial para que as
histórias que capturam nossa imaginação e tocam nosso coração não venham da
infraestrutura de entretenimento mas de um cidadão comum cuja realidade nunca foi
mostrada numa tela antes. E eu acho que essa é a empogação real deste momento
de mudança nas mídias.