1. Silêncio
No silêncio do quarto ouço o teu silêncio.
No silêncio da casa ouço o teu silêncio.
No silêncio das horas ouço o teu silêncio.
Silêncio de lábios, silêncio de ouvido, silêncio de mente.
Vejo-te tentando entender no silêncio, aquilo que não o podes.
Vejo-te amargurado, tentando compreender e ser compreendido.
Vejo-te no pensando alto para romper o silêncio.
Vejo-te no espelho, olhando vazio, tentando compreender o silêncio.
É o silêncio fruto de um silêncio maior?
É o silêncio só por quem quer o silêncio?
É o silêncio de quem não quer se comprometer com o silêncio?
É o silêncio fruto de um aprendizado do silêncio?
Será ele tão prazeroso que só há necessidade de silêncio?
Será ele fruto de um remorso?
Será ele resultado do medo?
Será ele produto de uma angústia?
Vejo-te escutar música em silêncio,
Tentando fazer com que a música preencha o silêncio.
Vejo-te escrever em silêncio,
Tentando fazer com que as letras tomem conta de tudo.
Não dá para preencher o silêncio sem silêncio?
Silêncio que foi criado para não mais ouvir.
Silêncio que passou a existir porque era necessário o silêncio.
Silêncio necessário para preservar o silêncio. Silêncio de tudo.
Tomara Deus que o silêncio seja quebrado.
Não com mais silêncio ou com confusão,
Rompamos juntos o silêncio, transformando esta vida em algo belo.
Belo sem sombras, sem rancores, sem mágoas e nem tristezas.
Quero-te ver brincar de bem com a vida, tendo-a como amiga.
Quero-te ver crescer teu espírito, para que percebas o teu silêncio.
Quero-te ver enxergando no silêncio o nevoeiro de tua alma.
Quero-te ver compreendendo como dissipar esse nevoeiro.
Dê-me tua mão para te ajudar a sair desse silêncio.
Antonio Fernando Navarro, /2002