Uma ferramenta para analisar e otimizar viagens de bicicleta e a pé
1.
2. Ver para crer.
Uma ferramenta para ver
e analisar viagens
em modos suaves!
Em Gante (Bélgica), os técnicos do município decidiram colocar um sinal a apontar
para o percurso que ia dar a uma “autoestrada” para bicicletas. Essa decisão veio
na sequência de terem observado os dados GPS das trajetórias de utilizadores
de bicicleta que estavam a usar a aplicação de telemóvel B-Riders. Parte dos ciclistas,
não compreenderam os técnicos, continuam a fazer o seu caminho habitual, paralelo
e do outro lado do canal, sem se aperceberem que podiam chegar de forma bem mais
rápida e confortável se seguissem pela nova “autoestrada”!
reção à Baixa. Uma simples visualização do
mapa de calor da aplicação Strava permitiu
perceber que, apesar dos constrangimen-
tos, era ali mesmo, na Av. Fontes Pereira de
Melo, que os ciclistas preferiam passar.
O tipo de questões que a observação e aná-
A QUALIDADE DA INFRAESTRUTURA ciclá-
vel faz toda a diferença na rapidez, con-
forto e segurança de quem se desloca de
bicicleta. Já em Lisboa, nas discussões que
precederam a realização do percurso ciclá-
vel no Eixo Central, houve também uma in-
fluência importante dos dados de tracking,
que revelaram por onde é que os ciclistas
preferiam passar ao fazer o percurso em di-
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ATUALIDADES
modos suaves
André Ramos / João Bernardino
andre.ramos@tis.pt / joao.bernardino@tis.pt
3. A equipa
O TAToo foi um esforço conjunto da
TIS (especificações e UI), do INESC-ID
(módulo de conversão de mapas OSM)
e da PTV SISTeMA (mapmatching e
cálculo de indicadores). Os parceiros
do projeto TRACE encontram-se já a
testar a ferramenta, mas se pretender
também conhecer melhor o seu po-
tencial e utilizá-la para conhecer mais
eficazmente a mobilidade em modos
suaves na sua cidade ou área metro-
politana, pode contactar a equipa atra-
vés do seguinte endereço eletrónico:
tatoo@tis.pt
A especificação destes indicadores foi realiza-
da pela TIS e o desenvolvimento dos módulos
de mapmatching e cálculo de indicadores foi
feito pela PTV SISTeMA.
lise de dados de tracking suscitam varia bas-
tante conforme o nível de adesão à bicicle-
ta. Nas cidades “principiantes”, as questões
são mais básicas, como perceber de onde e
para onde devemos criar percursos cicláveis
ou, como aconteceu em Bologna (Itália),
definir os locais para instalação prioritária
de estacionamentos para bicicleta. Em ci-
dades “avançadas”, as questões tendem a
relacionar-se mais com a fluidez, como em
Eindhoven (Holanda), onde se procurou ca-
librar com dados reais os impactos de uma
nova “autoestrada” para bicicletas.
Contudo, foi surpreendente verificar, no
inquérito desenvolvido no âmbito do pro-
jeto europeu TRACE – Walking and Cycling
Tracking Services (http://h2020-trace.eu/),
que a utilidade percecionada deste tipo de
ferramenta pelos stakeholders consultados
era mais “política” do que técnica: a razão
número um para passar a usar dados de
trajetórias era “comunicar com os decisores
políticos” – só depois disso apareciam as ra-
zões técnicas! A verdade é que os dados de
tracking tornam os utilizadores de bicicleta
e os peões visíveis, e isso aumenta a consi-
deração pelas suas necessidades!
O projeto TRACE e a ferramenta
TAToo
O projeto TRACE, do Programa Horizon-
te 2020, a decorrer desde 2015, tem como
missão avaliação do potencial de ferramen-
tas que possibilitem a análise das trajetórias
pedonais e cicláveis e criar ferramentas que
promovam a mudança de comportamento e
a melhoria dos processos de planeamento e
decisão.
Uma das vertentes do TRACE é o incentivo à
utilização dos modos suaves, através das apps
Biklio (desenvolvida pela TIS e INESC-ID) e Po-
sitive Drive, que oferecem benefícios a quem
se deslocar de forma sustentável.
Este tipo de apps geram dados GPS de traje-
tórias das viagens realizadas a pé ou de bici-
cleta, que podem ser muito valiosas para efei-
tos de planeamento e definição de políticas
relacionadas com os modos suaves por parte
de autarquias, autoridades de transportes ou
outro tipo de utilizadores. Para o efeito, é ne-
cessário que os dados disponíveis se transfor-
mem em informação clara e legível, pelo que
se criou também (e se encontra a ser testada)
a ferramenta TAToo – Tracking Analysis Tool,
destinada a transformar os dados de tracking
de peões e ciclistas em informação relevante.
OpenStreetMap
Map
OSM to TRACE conversion tool
Map-matching
engine
KPI
engine
GIS analyses Statistics
+
Tracking data
TAToo User Interface
Indicadores TAToo
O processo de seleção dos indicadores a cons-
tar no TAToo baseou-se numa consulta de
stakeholders (predominantemente técnicos de
mobilidade e representantes de utilizadores),
através dos inquéritos e de um workshop, que
resultou numa lista de indicadores desejáveis.
Graças à operação de mapmatching (perceber
e registar a que elementos da rede de mobi-
lidade pertencem os pontos das trajetórias
registadas), o TAToo permite calcular indica-
dores para quatro “dimensões” de análise
da rede: os nós, os arcos, as zonas e os pa-
res origem/destino. Os indicadores oferecidos
pela ferramenta são o volume de utilizadores,
a velocidade média, a distância de viagem, o
tempo de espera e, em função deste, o nível
de serviço e o congestionamento.
Indicador Nó Arco Zona Par OD
Volume de utilizadores
Número de viagens iniciadas/terminadas
Velocidade média
Nível de serviço
Distância média
Tempo médio de viagem
Congestionamento
Tempo de espera
Outros inputs permitidos
pelo TAToo...
Um dos pontos fortes da ferramenta é per-
mitir utilizar tanto um mapa próprio como
aplicar um mapa baseado no OpenStreetMap
(OSM), que está disponível para todo o mun-
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ATUALIDADES
modos suaves
4. do, e cuja conversão é realizada por um mó-
dulo do TAToo desenvolvido pelo INESC-ID.
O TAToo permite também a utilização de zo-
namentos definidos pelo utilizador (p.e., bair-
ros, freguesias ou cidades). No caso de o uti-
lizador não possuir um zonamento próprio, a
ferramenta cria um automaticamente.
É permitida ainda a segmentação por tipo de
utilizador, com dados de género, idade, enti-
dade patronal ou qualquer outro parâmetro
que seja útil para perceber o comportamento
de diferentes segmentos de utilizadores. As
análises realizadas podem também ser vistas
separadamente para cada dia da semana e
horário. Uma vez filtrada a informação pre-
tendida, os resultados podem ser visualizados
com recurso a softwares SIG e gráficos pro-
duzidos pelo próprio TAToo. Para facilitar a vi-
sualização em SIG e potenciar a sua utilização
por utilizadores não proficientes, a ferramen-
ta produz automaticamente um conjunto de
mapas temáticos que podem ser visualizados
no software gratuito QGIS.
portes; imagine-se, por isso, o potencial – a
vários níveis – de uma ferramenta capaz de
tratar esta informação e produzir resultados
visíveis.
A um nível “macro”, o TAToo possibilita o
cálculo de indicadores globais descritivos da
mobilidade pedonal e ciclável numa deter-
minada área, que podem ser comparados
com outros locais.
Podem também analisar-se características
específicas dos fluxos numa área, e quais os
percursos mais escolhidos; esta informação
poderá ser especialmente importante na
preparação de planos de mobilidade susten-
táveis, ou ainda na definição de uma hie-
rarquia da rede ciclável ou planeamento de
uma rede de bikesharing.
A um nível “micro”, é possível retirar do TA-
Too conclusões relevantes sobre eventuais
estrangulamentos na rede ou identificar lo-
cais com menor qualidade de circulação. É
também possível monitorizar o efeito de in-
tervenções na rede, ou cruzar os indicadores
da ferramenta com outro tipo de informação
disponível (como a influência dos usos do
solo na utilização).
FILTERS
SEGMENTS
bicycle Sunday
Monday
Tuesday
Wednesday
Thursday
Friday
Saturday
00:00 - 00:15
00:15 - 00:30
00:30 - 00:45
00:45 - 01:00
01:00 - 01:15
01:15 - 01:30
01:30 - 01:45
01:45 - 02:00
02:00 - 02:15
02:15 - 02:30
02:30 - 02:45
DAYS PERIODS
< 5 sec.
5 to 10 sec.
10 to 20 sec.
20 to 60 sec.
> 60 sec.
Average Waiting
Time per Node
58%
19%
12%
9%
... e o seu enorme potencial!
De acordo com os inquéritos realizados no
âmbito do projeto TRACE, as trajetórias GPS
de deslocações em bicicleta (“em bruto”) já
são, hoje em dia, uma valiosa fonte de infor-
mação para 62% dos consultores de trans-
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modos suaves