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UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA
ESTUDO DE MOBILIDADE URBANA
NA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE
RELATÓRIO FINAL
SÃO PAULO
MARÇO/2020
CI XXXX
ÍNDICE
1. CONSTRUÇÃO DE UM ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO A PARTIR DOS DADOS DA UBER
MOVEMENT ____________________________________________________________ 1
1.1 Descrição dos Dados Disponíveis na Plataforma e Utilizados na construção do
Índice 1
1.2 Definição Teórica do Índice ____________________________________________ 2
1.3 Ajustes para a Implementação do Índice na RMR __________________________ 3
1.3.1 Cálculo do Tempo de Fluxo Livre por Par de Zona ________________________________ 3
1.3.2 Número de viagens por par de região _________________________________________ 5
2. RESULTADOS DO ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO_______________________ 9
3. ANÁLISES _______________________________________________________ 14
3.1 Evolução Histórica __________________________________________________ 14
3.2 Análise Multivariada de Fatores Que Impactam o Trânsito na RM de Recife ____ 17
3.3 Tempo Total Perdido nos Congestionamentos____________________________ 20
3.4 Comparação Entre Duas Datas Distintas Hora-a-Hora ______________________ 21
4. CONCLUSÕES ____________________________________________________ 31
Anexo A: Exemplo do Sistema de ponderação do Índice de Congestionamento ___ 32
CI 5273
RESUMO
Este documento é o relatório final do Estudo de Mobilidade Urbana na Região
Metropolitana de Recife (RMR) elaborado pela Fipe em parceria com a Uber com base
nos dados extraídos da plataforma Uber Movement. O estudo replica a metodologia
utilizada em projeto anterior realizado para a Região Metropolitana de São Paulo, fazendo
as alterações e ajustes necessários por conta das diferenças de dados entre as cidades
A plataforma Uber Movement representa uma inovadora ferramenta para a análise da
questão do trânsito em cidades como Recife. A granularidade têmporo-espacial dos dados
permite tanto o estudo de questões locais quanto a avaliação de padrões agregados e
tendências gerais. O índice construído nesse trabalho e as análises apresentadas não
exaurem o potencial de uso da plataforma, correspondendo apenas a uma pequena
amostra das possibilidades oferecidas por essa nova ferramenta. A utilização da
plataforma por demais pesquisadores e agentes da sociedade interessados nas questões
urbanas é não somente possível como altamente recomendada.
Esse relatório divide-se em duas partes principais: 1) a descrição e construção do índice
de congestionamento para a RMR no período entre junho de 2017 e junho de 2019 com
base nos dados da Uber Movement. 2) a apresentação das análises baseadas nesse
indicador.
1) Principais características do índice de congestionamento construído nesse
trabalho
 Baseado no tempo de viagens efetivamente realizadas;
 Construído com dados gratuitos e disponíveis publicamente;
 Possui interpretação direta e intuitiva;
 Comparável em diferentes escalas têmporo-espaciais;
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2) Principais resultados das análises desenvolvidas a partir desse indicador:
i. A RMR apresentou um índice de congestionamento médio de 57,1% entre julho
de 2017 e junho de 2019. Isso é, nesse período, as viagens motorizadas demoraram
em média 57,1% a mais do que o esperado caso fossem feitas sempre em fluxo
livre;
ii. Os moradores da RMR que circulam de carro perderam em média um total de
aproximadamente 14 minutos e 8 segundos por viagem por conta da lentidão
causada pelos congestionamentos;
iii. Com relação à evolução histórica da série, foi observado uma significativa
redução dos níveis de congestionamento ao longo do período analisado
(julho/2017-junho/2019), principalmente no ano de 2018.
iv. Sextas-feiras são os dias mais congestionados das semanas, com um índice médio
de 65,7%;
v. No pico da tarde, o índice de congestionamento atinge o valor médio de 74,8%;
vi. A Zona Oeste da capital é a região mais congestionada de Recife, apresentando
um índice médio de 68,8% no período analisado;
vii. Nos dias de jogo do Brasil durante a Copa do Mundo de 2018, o índice de
congestionamento ficou 13,5 pontos percentuais abaixo do normal;
viii. Durante as férias escolares, a lentidão reduz-se em média 8,9 pontos percentuais;
ix. Nos dias de paralização dos caminhoneiros em maio de 2018, a lentidão no
trânsito de Recife foi reduzida em 13,0 pontos percentuais.
x. Nos dias em que o Sport e Santa Cruz jogam em Recife, há um aumento médio de
respectivamente 1,2 e 2,2 pontos percentuais nos níveis de congestionamento. Já
nos dias em que o Náutico joga, não há variações significativas no trânsito.
xi. Nos dias com mais de 10mm acumulados de chuva, a lentidão do trânsito é em
média 1,9 pontos percentuais maior do que nos dias sem chuva.
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1. CONSTRUÇÃO DE UM ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO A PARTIR DOS DADOS DA
UBER MOVEMENT
Os congestionamentos urbanos são um dos maiores problemas enfrentados pelos
moradores das regiões metropolitanas, principalmente nos países em desenvolvimento.
Os custos associados aos congestionamentos abrangem uma ampla gama de dimensões,
incluindo a poluição, o aumento dos custos de transporte e principalmente o tempo
perdido pelas pessoas.
Apesar de tais custos serem amplamente reconhecidos, o problema dos
congestionamentos carece de medidas quantitativas que permitam o seu monitoramento
e entendimento em escala adequada. Medidas tradicionais de mensuração do trânsito são
limitadas em termo de sua cobertura têmporo-espacial ou requerem altos investimentos
por parte dos órgãos públicos de monitoramento do trânsito, o que nem sempre é factível,
especialmente em cidades dos países em desenvolvimento.
Dessa forma, esse estudo apresenta uma aplicação do Índice de Congestionamento
desenvolvido pela FIPE para a avaliação e monitoramento do trânsito. O Índice utiliza os
dados de tempo das viagens disponibilizados na plataforma Uber Movement e combina
essas informações com uma pesquisa domiciliar de Origem e Destino para ponderar a
representatividade das informações. O índice criado através desse método permite a
avaliação dos congestionamentos na cidade analisada com altíssimo grau de precisão no
tempo e no espaço. O resultado do índice é uma medida simples e intuitiva que pode ser
utilizada para a análise e o entendimento de diversas outras questões relacionadas aos
congestionamentos urbanos, conforme apresentado e ilustrado ao longo desse relatório.
1.1 DESCRIÇÃO DOS DADOS DISPONÍVEIS NA PLATAFORMA E UTILIZADOS NA
CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE
A principal informação disponibilizada pela Uber Movement utilizada nesse trabalho é o
tempo médio das viagens feitas pelos veículos parceiros da Uber entre cada par de zonas
de tráfego da cidade em um determinado momento. Por exemplo, é possível extrair da
plataforma o tempo médio das viagens feitas entre a região da Prefeitura de Recife e o
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Aeroporto Internacional Gilberto Freyre durante o pico da manhã no dia 1º de janeiro de
2018. Para a Região Metropolitana de Recife, os dados estão disponíveis para todo o
período entre junho de 2017 e junho de 2019, e a divisão espacial da cidade foi baseada
nas subdivisões da Pesquisa OD de 2018, que repartiu a RMR em 2.980 zonas de tráfego.
1.2 DEFINIÇÃO TEÓRICA DO ÍNDICE
O índice de congestionamento proposto nesse trabalho pode ser classificado como um
“índice de tempo de deslocamento”1
que compara a razão entre: a) o tempo necessário
para se realizar uma viagem dada a situação do trânsito em um determinado momento,
com b) o tempo que essa mesma viagem levaria caso não houvesse nenhum
congestionamento no trajeto (tempo em fluxo livre). Por exemplo, suponha que uma
viagem demore em média 18 minutos durante o pico da manhã, e que essa mesma viagem
levaria apenas 10 minutos em condições de fluxo livre. Nesse caso, o índice de
congestionamento indicaria que esse trajeto, no pico da manhã, apresenta um nível de
congestionamento médio de 80%. Formalmente, o índice é calculado através da seguinte
equação:
𝑖 𝑜𝑑𝑝 =
𝑡 𝑜𝑑𝑝
𝑡 𝑜𝑑
∗ (1)
Onde o termo “𝑖 𝑜𝑑𝑝” representa o índice de congestionamento das viagens realizadas
entre uma região de origem “𝑜” e uma região de destino “𝑑” durante o período “𝑝”. No
lado direito da equação, o termo “𝑡 𝑜𝑑𝑝” representa o tempo de deslocamento observado
para esse trajeto no período “𝑝”, enquanto “𝑡 𝑜𝑑
∗
” indica o tempo de deslocamento desse
mesmo trajeto na condição de fluxo livre.
A principal vantagem dessa métrica é que ela possui uma interpretação simples e intuitiva.
Outra característica importante é que o indicador pode ser agregado tanto no tempo
1
Essa métrica é normalmente referida na literatura de transportes como “travel time index” e é comumente
utilizada em painéis comparativos de congestionamento entre cidades. Esse tipo de medida faz parte do
relatório anual “Urban Mobility Scorecard” feito pelo Texas Transportation Institute e que compara
diferentes métricas de congestionamento para diversas cidades americanas. Outro exemplo de utilização
desse tipo de métrica é o “Traffic Index” calculado para diversas cidades do mundo pela empresa TomTom
de tecnologias de GPS.
CI ??? 3
quanto no espaço, permitindo a análise de diferentes regiões em momentos distintos.
Além disso, a agregação do índice pode ser ponderada para considerar os diferentes
volumes de viagens entre cada par de região e em diferentes períodos. Tal agregação é
descrita de forma geral pela seguinte fórmula:
𝐼 𝑅𝑃 = ∑ (
𝑡 𝑜𝑑𝑝
𝑡 𝑜𝑑
∗ ×
𝑣 𝑜𝑑𝑝
𝑉𝑅𝑃
)
𝑜𝑑𝑝
| (𝑜, 𝑑 ∈ 𝑅) & ( 𝑝 ∈ 𝑃) (2)
Onde 𝐼 𝑅𝑃 é o índice de congestionamento agregado para uma região 𝑅 ao longo de um
período 𝑃. Além disso, 𝑣 𝑜𝑑𝑝 é o número de viagens observadas entre as zonas 𝑜 e 𝑑 no
período 𝑝, e 𝑉𝑅𝑃 é o total de viagens observadas entre todos os pares que compõem a
região 𝑅 e todos os períodos que compões o período 𝑃. Por exemplo, 𝑃 pode ser definido
como um determinado dia, e 𝑅 a Região Metropolitana como um todo.
O resultado dessa agregação pode ser interpretado diretamente como o nível médio de
congestionamento dentre todas as viagens feitas na região 𝑅 ao longo de todo o período
𝑃.
1.3 AJUSTES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO ÍNDICE NA RMR
A plataforma Uber Movement fornece os dados relativos ao tempo médio das viagens a
cada momento e para cada par de zonas de tráfego na RMR; entretanto, a plataforma não
possui informações relativas a 1) o tempo de fluxo livre entre cada par de zonas, e 2) o
número de viagens feitas entre cada região a cada período. Nessa seção, nós descrevemos
como cada um desses fatores calculados para a construção do nosso índice.
1.3.1 Cálculo do Tempo de Fluxo Livre por Par de Zona
O tempo de fluxo livre é o tempo que uma viagem levaria caso as vias estivessem
completamente livres de outros veículos e de outros fatores causadores de lentidão,
tratando-se, portanto, de uma medida teórica.
Existem diferentes alternativas para a estimação desse valor. Uma estratégia comum é
explorar a distribuição dos tempos de deslocamento e selecionar um percentil baixo mas
CI ??? 4
não mínimo, de forma a evitar a escolha de outliers, e assumir que para tal valor, os níveis
de congestionamento seriam nulos.
Para exemplificar esse procedimento, a Figura 1 apresenta o valor médio do tempo de
deslocamento entre o Aeroporto Internacional e a JUCEPE em Joana Bezerra ao longo de
junho de 2017, que é o período tomado como baseline para todas as análises do estudo.
Figura 1: Identificação do Tempo de Fluxo Livre a Partir da Distribuição do
Tempo Médio de Viagem – (Aeroporto Internacional para JUCEPE - Junho de
2017)
Baseando-se nesse procedimento, nós identificamos para cada par de zonas de tráfego, a
distribuição do tempo médio de deslocamento a cada hora do mês de junho de 2017, e
selecionamos o décimo percentil dessa distribuição como a nossa proxy do tempo de fluxo
livre entre cada par.
Vale ressaltar que tal procedimento difere do caso do estudo de São Paulo, onde o tempo
médio da madrugada foi utilizado para definir o tempo de fluxo livre. A diferença de
procedimento foi utilizada por conta da maior granularidade espacial dos dados de Recife,
o que reduz a representatividade de observações de períodos com menos viagens
CI ??? 5
1.3.2 Número de viagens por par de região
Para identificar os fluxos de viagens entre cada para de zona de tráfego e a cada período,
nós utilizamos os microdados da pesquisa Origem-Destino (OD) de 2018 da Região
Metropolitana de Recife, que coletou informações relativas aos deslocamentos realizados
pelos moradores da cidade.
Diferente da pesquisa OD de São Paulo, a pesquisa de Recife não é desenhada para ser
estatisticamente representativa para todos os padrões de deslocamentos realizados pelos
moradores e não possui pesos estatísticos associados a cada observação. Dessa forma,
apenas as viagens motivadas para o trabalho foram incluídas na ponderação e todas foram
consideradas como tendo os mesmos pesos.
Uma importante restrição de ordem prática que precisa ser considerada na utilização dos
dados da pesquisa OD para calcular as variáveis de ponderação do índice é que a
amostragem da pesquisa OD não possui densidade estatística no nível dos pares de zonas
por período (2.980 zonas × 2.980 zonas × 5 períodos). Sendo assim, os pares de zonas
não são observados em todos os dias e em todos os períodos.
Mesmo a base de dados da Uber Movement não possui completa densidade nesse nível
de desagregação. Dessa forma, há o risco de viés de composição na análise a depender da
mudança de pares observados a cada dia e ao longo do período analisado. Para que os
valores sejam comparáveis ao longo do tempo, foi selecionado um período base (junho
de 2017), e dentro desse período, foi selecionado um grupo de pares com uma densidade
mínima de observações. O critério utilizado para esse filtro foram os pares de zonas
observado ao menos 100 vezes em pelo menos 22 dias do período base
Com esse critério, 87.281 pares foram selecionados, cobrindo 64,3% das zonas de tráfego
da RMC e incluindo aproximadamente 85% das viagens registradas na plataforma Uber
Movement.
A Figura 2 mostra que, apesar dos pares selecionados corresponderem a apenas 0,9% do
total de combinações possíveis entre pares de zonas, eles abrangem praticamente toda a
área urbanizada da RMR, com exceção de alguns bairros mais afastados.
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Figura 2: Zonas de Tráfego Incluídas nos Pares de Zonas Selecionados para a
Análise
Observações: Somente a área urbana de cada zona de tráfego foi considerada para a construção do mapa.
CI ??? 7
Figura 3: Macrorregiões Utilizadas para a Ponderação do Índice de
Congestionamento
Observações: As macrorregiões foram definidas a partir da agregação das zonas de tráfego da OD de 2018.
As regiões internas da cidade de Recife foram definidas conforme as Regiões Político-Administrativas
(RPAs) utilizadas pela Prefeitura de Recife. As regiões compostas pelas demais zonas de tráfego da RM
foram definidas pela distribuição geográfica das mesmas. Foram excluídas as zonas de tráfego onde não
havia observações suficientes na plataforma Uber Movement no período analisado.
CI ??? 8
Além disso, é importante considerar que a base da Pesquisa OD também não possuí
densidade estatística no nível dos pares de zonas. Sendo assim, para o cálculo da
ponderação do índice de congestionamento, a solução utilizada foi ajustar o cálculo dos
pesos de cada observação a partir de um nível superior de agregação espacial.
Especificamente, a área urbana da RMR foi dividida em 9 macrorregiões e os pesos
passaram a ser calculados com base no número de viagens observadas na OD entre pares
de macrorregiões ao invés do número de viagens entre cada par de zonas, garantindo
assim, uma ponderação mais razoável dos padrões de deslocamento observados entre
cada par utilizado para a ponderação. As macrorregiões utilizadas no estudo foram
definidas conforme a Figura 3 na página anterior.
Por fim, para garantir que a proporção de viagens entre cada macrorregião fique
constante, mesmo que o número de pares de zonas observados na Uber Movement varie
a cada dia, foi necessário adicionar um componente na ponderação que mantém constante
o peso total de cada par de macrorregiões. Esse ajuste garante também que mesmo que os
pares selecionados para a construção do índice componham apenas uma parcela do total
de pares existentes na RMR, ainda assim a ponderação ajustada garante que os resultados
sejam representativos dos padrões das viagens feitas pelos moradores da cidade. Dessa
forma, o peso 𝑤 de cada observação utilizada na composição do índice foi calculado a
partir da seguinte fórmula:
𝑤 𝑜𝑑𝑝 =
(𝑣 𝑂̅ 𝐷̅ 𝑝)/𝑁 𝑂̅ 𝐷̅ 𝑝
𝑉𝑅𝑃
(3)
Onde 𝑣 𝑂̅ 𝐷̅ 𝑝 é o total de viagens observadas na pesquisa OD entre as macrorregiões 𝑂̅ e 𝐷̅
no período 𝑝, tal que 𝑜 ∈ 𝑂̅ e 𝑑 ∈ 𝐷̅. Além disso, 𝑁 𝑂̅ 𝐷̅ é o total de pares de zonas que
compõem o par de macrorregiões 𝑂̅ 𝐷̅ e que possuem informações de tempo de viagem
no período 𝑝 na plataforma Uber Movement. Com esses ajustes, se um par de
macrorregiões contiver 10% do total de viagens, então o somatório de pesos dos pares de
zonas que compõem esse par de macrorregiões também será igual a 10%, e essa
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equivalência será independente do número de pares observados em cada período na Uber
Movement.2
Portanto, o cálculo final do índice de congestionamento para a RMR pode ser descrito
pela seguinte fórmula, onde cada elemento é descrito conforme as equações (1) ,(2) e (3)
𝐼 𝑅𝑃 = ∑ (
𝑡 𝑜𝑑𝑝
𝑡 𝑜𝑑
∗ × 𝑤 𝑜𝑑𝑝)
𝑜𝑑𝑝
(4)
2. RESULTADOS DO ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO
Com bases nos ajustes descritos anteriormente, o índice de congestionamento foi
calculado para todos os dias entre 1 de junho de 2017 e 30 de junho de 2019. Para cada
dia, o índice foi também calculado nos períodos definidos pela plataforma Uber
Movement3
e nas macrorregiões descritas na seção anterior.
As Figuras 4 a 9 apresentam os resultados da segmentação do índice por diferentes
características. Em todas essas figuras, a linha vermelha pontilhada indica a média geral
do índice de congestionamento na RMR ao longo de todo o período analisado, que foi
igual a 57,1%.
A Figura 4 apresenta o índice médio de congestionamento em períodos comparáveis de
um ano (julho/2017-junho/2018 e julho/2018-junho/2019).4
A comparação das médias de
cada ano indica uma redução de aproximadamente 9,7 pontos percentuais entre o índice
de 2017/2018 (61,9%) e o índice de 2017/2018 (52,2%).
2
O anexo A desse relatório apresenta um exemplo que ilustra esse sistema de ponderação ajustado.
3
Madrugada (0:00-7:00), pico da manhã (7:00-10:00), meio do dia (10:00-16:00), pico da tarde (16:00-
19:00) e noite (19:00-24:00). Os períodos definidos na plataforma Uber Movement são globais, logo
consideram faixas horárias que tem por objetivo representar padrões comuns à maior parte das mais de 20
cidades que fazem parte da plataforma.
4
A escolha de períodos de 12 meses começando em julho se deu porque a base da Uber Movement de
Recife estudada nesse trabalho ainda não incluía informações sobre o primeiro semestre de 2017 nem sobre
o segundo semestre de 2018. Sendo assim, a forma de definir dois períodos comparáveis de 12 meses foi
através da definição de julho como o primeiro mês de cada período.
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A Figura 5 compara a sazonalidade dentro do ano ao comparar os níveis médios de
congestionamento em cada mês. Vale ressaltar que o objetivo dessa análise não é avaliar
a evolução temporal do índice, mas sim o componente de sazonalidade intra-anual do
mesmo. Os resultados indicam que o mês de janeiro, durante as férias escolares de verão,
possui a menor média de congestionamento (47,6%). Já abril é o mês com as maiores
taxas médias de congestionamento (61,7%).
Na Figura 6 é possível observar a dinâmica do congestionamento nos dias da semana.
Nos finais de semana, o índice fica bem abaixo da média (36,3% no domingo e 40,8% no
sábado). Já nos dias de semana, os níveis de congestionamento são bastante estáveis,
oscilando entre 63,3% nas quintas-feiras e 65,7% nas sextas-feiras.
Já a Figura 7 indica a dinâmica dos níveis de congestionamento nos diferentes períodos
do dia. O pico da tarde, definido como o período entre 16:00 e 19:00, possui o maior
índice de lentidão (74,8%). Já os períodos da noite e da madrugada apresentam índices
abaixo da média, sendo os valores respectivamente 31,5% e 23,5%.
A Figura 8 apresenta o índice de congestionamento para as viagens internas a cada
macrorregião da cidade.5
Essa comparação revela que as regiões Oeste, Sudoeste e Centro
da cidade de Recife apresentam as maiores médias de congestionamento (respectivamente
68,8%, 64,0% e 63,3%). Já as regiões externas à cidade de Recife na RM apresentam
níveis médios de congestionamento mais baixos, sendo 46,5% a média para a região norte
da RM, 50,8% para a região Sul da RM e 50,7% o índice médio para a região Oeste da
RM. Além disso, o Sul da cidade de Recife também apresenta um índice médio de 52,0%,
que é relativamente mais baixo que o das demais regiões da capital.
Por fim, a Figura 9 apresenta o índice de congestionamento para as viagens internas a
cada macrorregião da cidade a cada ano. Os resultados dessa análise indicam que em
todas as regiões, foi observada uma redução dos níveis de congestionamento ao longo dos
períodos analisados. A região Oeste de Recife foi onde ocorreu a maior redução (-14,1
pontos percentuais), já o Sudoeste observou a menor redução (-1,1 pontos percentuais).
5
Isso é, as viagens entre diferentes macrorregiões são excluídas dessa análise
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Figura 4: Índice de Congestionamento Médio por Ano
Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada
dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha
pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado
(57,1%).
Figura 5: Índice de Congestionamento Médio por Mês do Ano
(jul/2017-jun/2019)
Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada
dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha
pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado
(57,1%).
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Figura 6: Índice de Congestionamento Médio por Dia da Semana
(jul/2017-jun/2019)
Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada
dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha
pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado
(57,1%).
Figura 7: Índice de Congestionamento Médio por Período do Dia
(jul/2017-jun/2019)
Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada
dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha
pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado
(76,9%).
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Figura 8: Índice de Congestionamento Médio por Região
(julho/2017-junho/2019)
Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada
dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha
pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado
(57,1%).
Figura 9: Índice de Congestionamento Médio por Região e por Ano
(julho/2017-junho/2019)
Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada
dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha
pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado
(57,1%).
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3. ANÁLISES
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Nesta seção nós analisamos a evolução histórica do índice de congestionamento na RMR.
A análise foca nos dias úteis típicos, de tal forma que os feriados, finais de semana e dias
com eventos extraordinários foram excluídos. A Figura 10 apresenta a série bruta do
índice de congestionamento nos dias úteis selecionados entre julho de 2017 e junho de
2018, período para o qual a base da Uber Movement de Recife foi analisada.
Figura 10: Índice de Congestionamento – RMR
Dias Úteis entre Julho/2017-Junho/2019
Observações: Cada ponto representa o índice de congestionamento da RMR em uma determinada data.
Foram excluídos os finais de semana, feriados, emendas de feriados, férias escolares e dias de suspenção
do rodízio incluindo eventos especiais tais como as greves do transporte público e a paralização dos
caminhoneiros em maio de 2018. Também foi excluído o período da Copa do Mundo de 2018. A linha
tracejada azul represnta as mudanças de ano.
A análise gráfica inicial da figura não permite a identificação de nenhum padrão claro da
série ao longo do tempo, há aparentemente uma redução dos níveis médios do índice ao
longo do tempo, mas há também uma elevada heterogeneidade e variância na série. Sendo
assim, uma modelagem formal quantitativa é necessária para a avaliação das tendências
históricas.
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Uma primeira questão que precisa ser considerada é a sazonalidade da série. Conforme
observado na seção 2, diferentes meses do ano possuem padrões próprios de
congestionamento, assim como os diferentes dias da semana. Dessa forma, para aumentar
a precisão das estimativas, o primeiro passo da nossa análise é a dessazonalização da
série, que é feita através da estimação do seguinte modelo de efeitos fixos:
𝐶𝑡 = 𝛼 + 𝛿 𝑑 + 𝜇 𝑚 + 𝜀𝑡 (4)
Onde:
𝐶𝑡: é o índice de congestionamento 𝐶 em cada data 𝑡
𝛿 𝑑: é um vetor de efeitos fixos associados a cada dia 𝑑 da semana (seg., ter., ...)
𝜇 𝑚: é um vetor de efeitos fixos associados a cada mês 𝑚 do ano (jan., fev., ...)
𝜀𝑡: é um termo de erro que captura todos os demais efeitos não observados
A partir dos resultados dessa estimação, nós construímos a série dessazonalizada 𝐶𝑡
∗
do
índice:
𝐶𝑡
∗
= 𝐶𝑡 − 𝛿̂ 𝑑 − 𝜇̂ 𝑚 (5)
Onde 𝛿̂ 𝑑 e 𝜇̂ 𝑚 são os valores estimados dos efeitos fixos.
Em seguida, para avaliar a evolução da série ao longo do período analisado, nós adotamos
duas estratégias com objetivos distintos:
(1) Nós estimamos o valor médio do índice por mês e o erro padrão dessas médias,
o que permite a visualização das tendências de longo prazo e a comparação
estatística do valor médio de congestionamento em diferentes períodos.
(2) Nós calculamos também a inclinação da série a cada semestre, o que permite
avaliar a tendência local de variação em cada período.
Os resultados de ambas as análises são apresentados na Figura 11 a seguir. A média de
congestionamento de cada mês é representada pelos pontos pretos. A barra de erro vertical
associada a cada ponto representa o intervalo de confiança de 95% dessas médias locais,
e permite a visualização da significância estatística da diferença entre os pontos. A partir
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dessas médias, é possível observar que o índice de congestionamento apresentava valores
significativamente mais altos no início em 2017 e nos primeiros meses de 2018, passando
a cair gradualmente a partir de abril daquele ano. A partir de 2019, o índice variou de
forma praticamente estacionária.
Figura 11: Análise da Evolução do Índice de Congestionamento
Série Dessazonalizada de Dias Úteis Entre Julho/2017 e Junho/2019
Observações: A figura apresenta os valores médios do índice de congestionamento dessazonalizado (pontos
pretos) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (barras de erro verticais). As linhas azuis
apresentam o ajuste da série através de regressões lineares locais estimadas para cada ano da série.
Entretanto, alguns padrões adicionais são revelados pela análise das inclinações locais da
série representadas pelas linhas azuis na mesma figura. A Tabela 1 apresenta os resultados
da estimação dos coeficientes angulares de cada linha.
No segundo semestre de 2017 a variação média do índice não foi significativa. Já em
2018, o índice decresceu de forma significativa, primeiro caindo 6.28 pontos percentuais
ao longo do primeiro semestre, e depois caindo mais 7,13 pontos percentuais no segundo
semestre. Por fim, no primeiro semestre de 2018 a série voltou a apresentar uma variação
semestral não significativa.
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Tabela 1: Estimação do Coeficiente Angular da Série Temporal do Índice de
Congestionamento por Ano – Dias Úteis de Julho/2017-Junho/2019
Observações: Os coeficientes foram estimados a partir de regressões lineares bivariadas independentes
realizadas com os dados dos dias úteis de cada ano da série. Os coeficientes indicam a inclinação média
anual da série, ou seja, um coeficiente de 10 pode ser interpretado como um aumento médio do índice de
10 pontos percentuais ao longo de um ano.
Combinadas as análises, é possível concluir que houve uma significativa redução do
índice de congestionamento no período analisado (julho/2017-junho/209),
principalmente ao longo do ano de 2018. A partir de então, o indicador ficou praticamente
estável, e apesar de haver uma leve tendência de alta no período final da série, os índices
ainda se encontram em patamares significativamente inferiores aos observados no
primeiro semestre da análise.
3.2 ANÁLISE MULTIVARIADA DE FATORES QUE IMPACTAM O TRÂNSITO NA RM DE
RECIFE
Existem diversos fatores que podem afetar o nível de congestionamento em uma cidade
como Recife, incluindo eventos climáticos, greves, manifestações políticas, festividades
e outros eventos atípicos. Dada a granularidade da série de tempo do índice de
congestionamento, é possível estimar e comparar o impacto de diferentes eventos no
trânsito da cidade através de uma análise multivariada.
No período analisado, a título de ilustração, nós identificamos os seguintes fatores que
poderiam potencialmente afetar o trânsito de Recife:
 Chuvas;
 Greve nacional de caminhoneiros em maio (entre os dias 21 e 31);
 Copa do Mundo de 2018 (especialmente os dias de jogo do Brasil);
 Férias escolares;
CI ??? 18
Para avaliar o impacto de cada uma dessas variáveis (eventos), nós estimamos o seguinte
modelo de regressão multivariado baseado na série diária de congestionamento:
𝐶𝑡 = 𝛼 + 𝛿 𝑑 + 𝛽𝑅𝑡 + 𝜎𝑆𝑡 + 𝛾𝑊𝑡 + 𝛾𝑊𝐵𝑡 + 𝜙𝐹𝑡 + 𝜂𝐻𝑡 + 𝜃𝐸𝑡 + 𝜔 𝑝 𝑡 𝑝
+ 𝜀𝑡 (6)
Onde:
𝐶𝑡: é o índice de congestionamento 𝐶 em cada data 𝑡
𝛿 𝑑: é um vetor de efeitos fixos associados a cada dia 𝑑 da semana (seg., ter., ...)
𝑅𝑡: dummy para os dias com o acúmulo de mais de 10 mm de chuva na RMR
𝑆𝑡: dias de paralização da greve dos caminhoneiros (21-31/05/2018)
𝑊𝑡: período da Copa do Mundo de 2018 (14/06/2018-15/07/2018)
𝑊𝐵𝑡: dias de jogo do Brasil na Copa do Mundo
𝐻𝑡: feriados
𝐸𝑡: emendas de feriado
𝐹𝑡: dias com jogos dos principais times (Náutico, Santa Cruz e Sport) nos estádios
da RMR
𝑆𝑡: férias escolares (Inverno e verão)
𝑡 𝑝
: termos polinomiais de ajuste das tendências não lineares da série
A Figura 14 apresenta os resultados dessa regressão. Os resultados da análise são
discutidos a seguir:
CI ??? 19
Figura 14: Impactos de diferentes eventos sobre o Índice de Congestionamento
diário da RMR
Observações: Os pontos representam os coeficientes estimados para cada variável, e as barras horizonais
indicam o intervalo de confiança de 95% dos mesmos. Os impactos podem ser interpretados como variações
absolutas do índice. Isso é, um coeficiente de 10 inidca um aumento de 10 pontos percentuais.
CI ??? 20
Eventos: conforme esperado, os dias de feriado possuem um nível de lentidão bem abaixo
do usual, sendo o coeficiente associado a essas datas igual a -20,0 pontos percentuais. As
emendas de feriado também apresentam um impacto médio semelhante (-14,8 pontos). Já
durante as férias escolares, os congestionamentos reduzem-se, em média, 8,9 pontos.
Durante a greve dos caminhoneiros, a circulação de veículos foi bastante reduzida devido
à ausência de combustíveis nos postos de abastecimento. Por conta disso, o índice de
congestionamento durante a greve ficou 13,0 pontos abaixo do que o normal. Por fim,
nos dias com chuva média acima 10 mm por dia, a lentidão do trânsito é em média 1.98
pontos maior do que nos dias sem chuva.
Copa do Mundo: nos dias em que o Brasil não foi a campo, o congestionamento médio
foi um pouco mais baixo do que o usual, ficando em média 5,6 pontos percentuais abaixo
do esperado. Entretanto, nos dias de jogos do Brasil, o índice de lentidão ficou em média
13,4 pontos abaixo do usual.
Jogos de futebol locais: Por fim, a regressão avaliou a variação média no trânsito de
Recife nos dias em que os maiores times locais realizaram jogos nos estádios da RMR.
Tanto nos dias de jogos do Sport e do Santa Cruz, os níveis médios de congestionamento
foram um pouco maiores que o normal, sendo os aumentos de respectivamente 1,2 e 2,2
pontos percentuais. Já no caso dos dias de jogos do Náutico, os níveis de
congestionamento não apresentaram alterações estatisticamente significativas.
3.3 TEMPO TOTAL PERDIDO NOS CONGESTIONAMENTOS
Com base nos cálculos do índice de congestionamento e nos microdados da OD de 2018,
é possível calcular uma aproximação do tempo médio que os paulistanos perdem por
causa do trânsito em um dia útil típico.
Segundo os cálculos descritos na Seção 2, entre julho de 2017 e junho de 2019, observou-
se um índice de congestionamento médio de 57,1% na RMR. Já segundo os dados da OD
de 2018, as viagens feitas por automóveis demoram em média aproximadamente 38
minutos e 45 segundos. Isso significa que no período analisado, caso não houvesse
nenhum nível de congestionamento na cidade (obviamente uma hipótese extrema), as
CI ??? 21
pessoas que utilizam automóveis economizariam aproximadamente 14 minutos e 8
segundos por viagem.
Tal cálculo pode ser realizado para diferentes períodos e níveis de agregação. Por
exemplo, utilizando a mesma fórmula de cálculo, é possível estimar que o tempo
excessivo médio gasto no trânsito pelos moradores da RMR por viagem caiu de 14
minutos e 49 segundos em 2017/2018 para 13 minutos e 17 segundos em 2018/2019, isso
é, uma redução média de aproximadamente 1 minuto e 32 segundos por viagem entre um
ano e outro. Outro exemplo, se consideradas somente as viagens realizadas durante o pico
da tarde (16:00-19:00), o atraso médio por viagem é de 16 minutos e 34 segundos. Já se
fizermos o mesmo cálculo para as viagens feitas no horário da noite (19:00-24:00), o
tempo médio perdido por viagem é de apenas 9 minutos e 37 segundos.
Vale ressaltar que uma importante limitação desse cálculo é que ele se restringe às viagens
feitas com automóveis. Obviamente outros modais, tais como ônibus e motos, também
são afetados pelos congestionamentos, mas em diferentes escalas. Destarte, a medida
estimada aqui não contempla o total de horas perdidas por todos os moradores da RMR,
mas somente pela parcela que circula de carro. A estimação das perdas totais é sem
dúvidas um exercício interessante, mas que necessitaria de dados e análises adicionais,
ficando assim como sugestão para estudos futuros.
3.4 COMPARAÇÃO ENTRE DUAS DATAS DISTINTAS HORA-A-HORA
Um último resultado apresentado nesse relatório refere-se à apresentação visual da
comparação do índice de congestionamento entre duas datas. O objetivo principal desse
exercício é ilustrar como os elementos que compõem o índice de congestionamento
diferem em dias com características distintas. Para tanto, foram selecionadas duas datas
correspondendo ao mesmo dia da semana em duas semanas consecutivas, de forma a
atenuar diferenças sazonais e tendências de longo prazo. Entretanto, enquanto a primeira
data (08/11/2017) foi um dia útil comum, a segunda data (15/11/2017) foi um feriado
nacional.
Em seguida, nós computamos o índice de congestionamento para cada par de zona
selecionadas em nossas análises a cada hora desses dois dias. O índice de
CI ??? 22
congestionamento de cada par foi então associado ao trajeto ideal entre o ponto de origem
mais comum de cada zona6
e o ponto de destino mais comum de cada zona. Esse trajeto
ideal foi calculado com base no API OSRM. Vale ressaltar que o trajeto estimado pelo
API não corresponde necessariamente aos trajetos utilizados pelos motoristas, sendo
apenas uma aproximação do viário utilizado nas viagens entre cada par de zona.
Por fim, esses trajetos foram mapeados e coloridos em uma escala derivada do índice de
congestionamento calculado a cada hora para cada par de zona. s resultados desse
exercício são apresentados na Figura 15 a seguir.
Destacamos os seguintes pontos com relação aos resultados observados:
- No dia útil, o período entre 1:00-4:00 apresenta níveis de congestionamento
praticamente nulos. Já no feriado, há uma concentração com um nível razoável de
congestionamento nos entornos de Boa Viagem e de Graças, regiões com maior
concentração de bares e clubes noturnos. Apesar de tal tipo de evento afetar
significativamente o número de viagens feitas por aplicativos como a Uber, essa
demanda atípica não distorce o índice de deslocamento uma vez que o mesmo é
ponderado pelos volumes de deslocamento de um típico dia útil observado na
Pesquisa OD.
- A partir das 6:00, no dia útil, é observada um grande aumento dos níveis de
congestionamento. sse aumento começa nas regiões periféricas e permanece em
praticamente toda a cidade até às 19:00. Já no feriado, o nível de
congestionamento geral é bem menor ao longo do dia, apresentando somente
alguns pontos de elevação mais concentrada na parte da noite, principalmente
entre às 18:00 e às 21:00.
- Os maiores níveis de congestionamento generalizados no dia útil ocorrem às
18:00.
6
Coordenada de origem com a maior quantidade de viagens na pesquisa OD.
CI ??? 23
Figura 15: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 24
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 25
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 26
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 27
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 28
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 29
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 30
Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em
Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma
Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação)
Dia Útil
08/11/2017 – Quarta-Feira
Feriado – Dia da República
15/11/2017 – Quarta-Feira
CI ??? 31
4. CONCLUSÕES
Assim como ocorre em diversas grandes cidades do mundo, o trânsito é um dos maiores
problemas enfrentados pelos moradores da RMR, gerando perdas econômicas e de bem-
estar para os moradores da cidade. Os impactos econômicos do trânsito não se restringem
aos atrasos e ao desperdício de combustível, mas estão principalmente associados ao
tempo perdido pelas pessoas e que poderia ser utilizado para atividades produtivas ou de
lazer.
O enfrentamento do problema do trânsito requer o entendimento e acompanhamento do
fenômeno. Entretanto, uma dificuldade enfrentada por técnicos e pesquisadores que
estudam o tema é a inexistência de medidas quantitativas de larga escala para tal. As
medidas tradicionais enfrentam pelo menos uma das seguintes limitações: 1) são restritas
espacialmente (e.g. câmeras de monitoramento) 2) são extremamente onerosas (e.g.
veículos de teste se deslocando junto ao tráfego).
Sendo assim, o índice de congestionamento construído nesse estudo, a partir dos dados
da Uber Movement e complementado com outras fontes de dados públicos, oferece uma
nova ferramenta de análise para a avaliação da questão do trânsito em Recife e
potencialmente em outras cidades. A medida diferencia-se dos parâmetros tradicionais
por basear-se diretamente em tempos de viagens efetivamente realizadas, e não em
métricas relacionadas ao fluxo de veículos em determinadas vias. Dessa forma, o índice
contempla de forma direta a principal dimensão de impacto do problema do trânsito, isso
é, o tempo excessivo despendido em deslocamentos urbanos pelos indivíduos.
O índice está aberto a aprimoramentos técnicos e ajustes, tais como o refinamento das
métricas de fluxo livre e da ponderação das viagens. De qualquer forma, as análises aqui
apresentadas representam um esboço inicial das possíveis aplicações da medida. Dessa
forma, outros estudos utilizando e aprimorando o indicador, e explorando a base de dados
da Uber Movement são altamente recomendados. Espera-se principalmente que tais
ferramentas e estudos sejam utilizados para informar de forma objetiva o debate sobre a
mobilidade urbana e auxiliar os planejadores de políticas públicas em suas decisões.
CI ??? 32
Anexo A: Exemplo do Sistema de ponderação do Índice de Congestionamento
Suponha uma cidade composta por 4 zonas (𝑎1, 𝑎2, 𝑏1 e 𝑏2). Essas zonas são agregadas
em 2 macrorregiões (𝐴 e 𝐵 tal que 𝑎1, 𝑎2 ∈ 𝐴 e 𝑏1, 𝑏2 ∈ 𝐵).
O total de viagens entre cada zona é dado pela seguinte tabela:
A1: Viagens por par de zona
a1 a2 b1 b2
a1 230 140 54 10
a2 170 200 36 60
b1 10 20 36 0
b2 0 10 4 20
Ou seja, são feitas 1000 viagens por dia nessa cidade7
as quais podem ser agregadas por
macrorregiões conforme a tabela abaixo:
A2: Viagens por par de macrorregião
A B
A 740 160
B 40 60
Já o congestionamento das viagens entre cada par é dado pelos valores:
7
Por simplicidade, nós assumimos nesse exemplo um único período h.
CI ??? 33
A3: Congestionamento por par de zona
a1 a2 b1 b2
a1 2,00 1,75 1,70
a2 1,80 1,90 1,50
b1 1,05 1,02 1,40
b2 1,10 1,25 1,30
As células em branco indicam pares para os quais os tempos de viagem não são
observados. Ou seja, o total de pares de zonas observados para cada par de macrorregiões
é:
A4: Pares de zonas observados por par de macrorregião
A B
A 4 2
B 3 3
Sendo assim, o peso de cada par de zonas poderia ser calculado conforme a equação 3 da
seção 1.2. Por exemplo, o peso do congestionamento entre as zonas a1 e a2 seria:
𝑤 𝑎1,𝑎2 =
(𝑣 𝐴𝐵)/𝑁𝐴𝐵
𝑉
𝑤 𝑎1,𝑎2 =
(740)/4
1000
𝑤 𝑎1,𝑎2 = 0,185
Calculando o mesmo valor para todas as zonas, nós temos:
CI ??? 34
A5: Peso de cada par de zona
a1 a2 b1 b2
a1 0,185 0,185 0,080
a2 0,185 0,185 0,080
b1 0,013 0,013 0,020
b2 0,013 0,020 0,020
Vale notar que o somatório dos pesos para cada par de macrorregiões é igual à proporção
entre o total de viagens dos pares de macrorregiões dividido pelo total de viagens na
cidade.
A6: Somatório de pesos por par de macrorregiões
A B
A 0,74 0,16
B 0,04 0,06
A7: Total de viagens por par de macrorregiões
dividido pelo total de viagens na cidade
A B
A 0,74 0,16
B 0,04 0,06
Por fim, ao multiplicar o nível de congestionamento de cada observação (Tabela A3) pelo
peso ajustado de cada observação (Tabela A5), nós teríamos o índice de
congestionamento total, que seria igual a 1,755.

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Estudo congestionamento recife_Uber/FipeUSP

  • 1. CI XXXX UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA ESTUDO DE MOBILIDADE URBANA NA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE RELATÓRIO FINAL SÃO PAULO MARÇO/2020
  • 2. CI XXXX ÍNDICE 1. CONSTRUÇÃO DE UM ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO A PARTIR DOS DADOS DA UBER MOVEMENT ____________________________________________________________ 1 1.1 Descrição dos Dados Disponíveis na Plataforma e Utilizados na construção do Índice 1 1.2 Definição Teórica do Índice ____________________________________________ 2 1.3 Ajustes para a Implementação do Índice na RMR __________________________ 3 1.3.1 Cálculo do Tempo de Fluxo Livre por Par de Zona ________________________________ 3 1.3.2 Número de viagens por par de região _________________________________________ 5 2. RESULTADOS DO ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO_______________________ 9 3. ANÁLISES _______________________________________________________ 14 3.1 Evolução Histórica __________________________________________________ 14 3.2 Análise Multivariada de Fatores Que Impactam o Trânsito na RM de Recife ____ 17 3.3 Tempo Total Perdido nos Congestionamentos____________________________ 20 3.4 Comparação Entre Duas Datas Distintas Hora-a-Hora ______________________ 21 4. CONCLUSÕES ____________________________________________________ 31 Anexo A: Exemplo do Sistema de ponderação do Índice de Congestionamento ___ 32
  • 3. CI 5273 RESUMO Este documento é o relatório final do Estudo de Mobilidade Urbana na Região Metropolitana de Recife (RMR) elaborado pela Fipe em parceria com a Uber com base nos dados extraídos da plataforma Uber Movement. O estudo replica a metodologia utilizada em projeto anterior realizado para a Região Metropolitana de São Paulo, fazendo as alterações e ajustes necessários por conta das diferenças de dados entre as cidades A plataforma Uber Movement representa uma inovadora ferramenta para a análise da questão do trânsito em cidades como Recife. A granularidade têmporo-espacial dos dados permite tanto o estudo de questões locais quanto a avaliação de padrões agregados e tendências gerais. O índice construído nesse trabalho e as análises apresentadas não exaurem o potencial de uso da plataforma, correspondendo apenas a uma pequena amostra das possibilidades oferecidas por essa nova ferramenta. A utilização da plataforma por demais pesquisadores e agentes da sociedade interessados nas questões urbanas é não somente possível como altamente recomendada. Esse relatório divide-se em duas partes principais: 1) a descrição e construção do índice de congestionamento para a RMR no período entre junho de 2017 e junho de 2019 com base nos dados da Uber Movement. 2) a apresentação das análises baseadas nesse indicador. 1) Principais características do índice de congestionamento construído nesse trabalho  Baseado no tempo de viagens efetivamente realizadas;  Construído com dados gratuitos e disponíveis publicamente;  Possui interpretação direta e intuitiva;  Comparável em diferentes escalas têmporo-espaciais;
  • 4. CI 5273 2) Principais resultados das análises desenvolvidas a partir desse indicador: i. A RMR apresentou um índice de congestionamento médio de 57,1% entre julho de 2017 e junho de 2019. Isso é, nesse período, as viagens motorizadas demoraram em média 57,1% a mais do que o esperado caso fossem feitas sempre em fluxo livre; ii. Os moradores da RMR que circulam de carro perderam em média um total de aproximadamente 14 minutos e 8 segundos por viagem por conta da lentidão causada pelos congestionamentos; iii. Com relação à evolução histórica da série, foi observado uma significativa redução dos níveis de congestionamento ao longo do período analisado (julho/2017-junho/2019), principalmente no ano de 2018. iv. Sextas-feiras são os dias mais congestionados das semanas, com um índice médio de 65,7%; v. No pico da tarde, o índice de congestionamento atinge o valor médio de 74,8%; vi. A Zona Oeste da capital é a região mais congestionada de Recife, apresentando um índice médio de 68,8% no período analisado; vii. Nos dias de jogo do Brasil durante a Copa do Mundo de 2018, o índice de congestionamento ficou 13,5 pontos percentuais abaixo do normal; viii. Durante as férias escolares, a lentidão reduz-se em média 8,9 pontos percentuais; ix. Nos dias de paralização dos caminhoneiros em maio de 2018, a lentidão no trânsito de Recife foi reduzida em 13,0 pontos percentuais. x. Nos dias em que o Sport e Santa Cruz jogam em Recife, há um aumento médio de respectivamente 1,2 e 2,2 pontos percentuais nos níveis de congestionamento. Já nos dias em que o Náutico joga, não há variações significativas no trânsito. xi. Nos dias com mais de 10mm acumulados de chuva, a lentidão do trânsito é em média 1,9 pontos percentuais maior do que nos dias sem chuva.
  • 5. CI ??? 1 1. CONSTRUÇÃO DE UM ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO A PARTIR DOS DADOS DA UBER MOVEMENT Os congestionamentos urbanos são um dos maiores problemas enfrentados pelos moradores das regiões metropolitanas, principalmente nos países em desenvolvimento. Os custos associados aos congestionamentos abrangem uma ampla gama de dimensões, incluindo a poluição, o aumento dos custos de transporte e principalmente o tempo perdido pelas pessoas. Apesar de tais custos serem amplamente reconhecidos, o problema dos congestionamentos carece de medidas quantitativas que permitam o seu monitoramento e entendimento em escala adequada. Medidas tradicionais de mensuração do trânsito são limitadas em termo de sua cobertura têmporo-espacial ou requerem altos investimentos por parte dos órgãos públicos de monitoramento do trânsito, o que nem sempre é factível, especialmente em cidades dos países em desenvolvimento. Dessa forma, esse estudo apresenta uma aplicação do Índice de Congestionamento desenvolvido pela FIPE para a avaliação e monitoramento do trânsito. O Índice utiliza os dados de tempo das viagens disponibilizados na plataforma Uber Movement e combina essas informações com uma pesquisa domiciliar de Origem e Destino para ponderar a representatividade das informações. O índice criado através desse método permite a avaliação dos congestionamentos na cidade analisada com altíssimo grau de precisão no tempo e no espaço. O resultado do índice é uma medida simples e intuitiva que pode ser utilizada para a análise e o entendimento de diversas outras questões relacionadas aos congestionamentos urbanos, conforme apresentado e ilustrado ao longo desse relatório. 1.1 DESCRIÇÃO DOS DADOS DISPONÍVEIS NA PLATAFORMA E UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE A principal informação disponibilizada pela Uber Movement utilizada nesse trabalho é o tempo médio das viagens feitas pelos veículos parceiros da Uber entre cada par de zonas de tráfego da cidade em um determinado momento. Por exemplo, é possível extrair da plataforma o tempo médio das viagens feitas entre a região da Prefeitura de Recife e o
  • 6. CI ??? 2 Aeroporto Internacional Gilberto Freyre durante o pico da manhã no dia 1º de janeiro de 2018. Para a Região Metropolitana de Recife, os dados estão disponíveis para todo o período entre junho de 2017 e junho de 2019, e a divisão espacial da cidade foi baseada nas subdivisões da Pesquisa OD de 2018, que repartiu a RMR em 2.980 zonas de tráfego. 1.2 DEFINIÇÃO TEÓRICA DO ÍNDICE O índice de congestionamento proposto nesse trabalho pode ser classificado como um “índice de tempo de deslocamento”1 que compara a razão entre: a) o tempo necessário para se realizar uma viagem dada a situação do trânsito em um determinado momento, com b) o tempo que essa mesma viagem levaria caso não houvesse nenhum congestionamento no trajeto (tempo em fluxo livre). Por exemplo, suponha que uma viagem demore em média 18 minutos durante o pico da manhã, e que essa mesma viagem levaria apenas 10 minutos em condições de fluxo livre. Nesse caso, o índice de congestionamento indicaria que esse trajeto, no pico da manhã, apresenta um nível de congestionamento médio de 80%. Formalmente, o índice é calculado através da seguinte equação: 𝑖 𝑜𝑑𝑝 = 𝑡 𝑜𝑑𝑝 𝑡 𝑜𝑑 ∗ (1) Onde o termo “𝑖 𝑜𝑑𝑝” representa o índice de congestionamento das viagens realizadas entre uma região de origem “𝑜” e uma região de destino “𝑑” durante o período “𝑝”. No lado direito da equação, o termo “𝑡 𝑜𝑑𝑝” representa o tempo de deslocamento observado para esse trajeto no período “𝑝”, enquanto “𝑡 𝑜𝑑 ∗ ” indica o tempo de deslocamento desse mesmo trajeto na condição de fluxo livre. A principal vantagem dessa métrica é que ela possui uma interpretação simples e intuitiva. Outra característica importante é que o indicador pode ser agregado tanto no tempo 1 Essa métrica é normalmente referida na literatura de transportes como “travel time index” e é comumente utilizada em painéis comparativos de congestionamento entre cidades. Esse tipo de medida faz parte do relatório anual “Urban Mobility Scorecard” feito pelo Texas Transportation Institute e que compara diferentes métricas de congestionamento para diversas cidades americanas. Outro exemplo de utilização desse tipo de métrica é o “Traffic Index” calculado para diversas cidades do mundo pela empresa TomTom de tecnologias de GPS.
  • 7. CI ??? 3 quanto no espaço, permitindo a análise de diferentes regiões em momentos distintos. Além disso, a agregação do índice pode ser ponderada para considerar os diferentes volumes de viagens entre cada par de região e em diferentes períodos. Tal agregação é descrita de forma geral pela seguinte fórmula: 𝐼 𝑅𝑃 = ∑ ( 𝑡 𝑜𝑑𝑝 𝑡 𝑜𝑑 ∗ × 𝑣 𝑜𝑑𝑝 𝑉𝑅𝑃 ) 𝑜𝑑𝑝 | (𝑜, 𝑑 ∈ 𝑅) & ( 𝑝 ∈ 𝑃) (2) Onde 𝐼 𝑅𝑃 é o índice de congestionamento agregado para uma região 𝑅 ao longo de um período 𝑃. Além disso, 𝑣 𝑜𝑑𝑝 é o número de viagens observadas entre as zonas 𝑜 e 𝑑 no período 𝑝, e 𝑉𝑅𝑃 é o total de viagens observadas entre todos os pares que compõem a região 𝑅 e todos os períodos que compões o período 𝑃. Por exemplo, 𝑃 pode ser definido como um determinado dia, e 𝑅 a Região Metropolitana como um todo. O resultado dessa agregação pode ser interpretado diretamente como o nível médio de congestionamento dentre todas as viagens feitas na região 𝑅 ao longo de todo o período 𝑃. 1.3 AJUSTES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO ÍNDICE NA RMR A plataforma Uber Movement fornece os dados relativos ao tempo médio das viagens a cada momento e para cada par de zonas de tráfego na RMR; entretanto, a plataforma não possui informações relativas a 1) o tempo de fluxo livre entre cada par de zonas, e 2) o número de viagens feitas entre cada região a cada período. Nessa seção, nós descrevemos como cada um desses fatores calculados para a construção do nosso índice. 1.3.1 Cálculo do Tempo de Fluxo Livre por Par de Zona O tempo de fluxo livre é o tempo que uma viagem levaria caso as vias estivessem completamente livres de outros veículos e de outros fatores causadores de lentidão, tratando-se, portanto, de uma medida teórica. Existem diferentes alternativas para a estimação desse valor. Uma estratégia comum é explorar a distribuição dos tempos de deslocamento e selecionar um percentil baixo mas
  • 8. CI ??? 4 não mínimo, de forma a evitar a escolha de outliers, e assumir que para tal valor, os níveis de congestionamento seriam nulos. Para exemplificar esse procedimento, a Figura 1 apresenta o valor médio do tempo de deslocamento entre o Aeroporto Internacional e a JUCEPE em Joana Bezerra ao longo de junho de 2017, que é o período tomado como baseline para todas as análises do estudo. Figura 1: Identificação do Tempo de Fluxo Livre a Partir da Distribuição do Tempo Médio de Viagem – (Aeroporto Internacional para JUCEPE - Junho de 2017) Baseando-se nesse procedimento, nós identificamos para cada par de zonas de tráfego, a distribuição do tempo médio de deslocamento a cada hora do mês de junho de 2017, e selecionamos o décimo percentil dessa distribuição como a nossa proxy do tempo de fluxo livre entre cada par. Vale ressaltar que tal procedimento difere do caso do estudo de São Paulo, onde o tempo médio da madrugada foi utilizado para definir o tempo de fluxo livre. A diferença de procedimento foi utilizada por conta da maior granularidade espacial dos dados de Recife, o que reduz a representatividade de observações de períodos com menos viagens
  • 9. CI ??? 5 1.3.2 Número de viagens por par de região Para identificar os fluxos de viagens entre cada para de zona de tráfego e a cada período, nós utilizamos os microdados da pesquisa Origem-Destino (OD) de 2018 da Região Metropolitana de Recife, que coletou informações relativas aos deslocamentos realizados pelos moradores da cidade. Diferente da pesquisa OD de São Paulo, a pesquisa de Recife não é desenhada para ser estatisticamente representativa para todos os padrões de deslocamentos realizados pelos moradores e não possui pesos estatísticos associados a cada observação. Dessa forma, apenas as viagens motivadas para o trabalho foram incluídas na ponderação e todas foram consideradas como tendo os mesmos pesos. Uma importante restrição de ordem prática que precisa ser considerada na utilização dos dados da pesquisa OD para calcular as variáveis de ponderação do índice é que a amostragem da pesquisa OD não possui densidade estatística no nível dos pares de zonas por período (2.980 zonas × 2.980 zonas × 5 períodos). Sendo assim, os pares de zonas não são observados em todos os dias e em todos os períodos. Mesmo a base de dados da Uber Movement não possui completa densidade nesse nível de desagregação. Dessa forma, há o risco de viés de composição na análise a depender da mudança de pares observados a cada dia e ao longo do período analisado. Para que os valores sejam comparáveis ao longo do tempo, foi selecionado um período base (junho de 2017), e dentro desse período, foi selecionado um grupo de pares com uma densidade mínima de observações. O critério utilizado para esse filtro foram os pares de zonas observado ao menos 100 vezes em pelo menos 22 dias do período base Com esse critério, 87.281 pares foram selecionados, cobrindo 64,3% das zonas de tráfego da RMC e incluindo aproximadamente 85% das viagens registradas na plataforma Uber Movement. A Figura 2 mostra que, apesar dos pares selecionados corresponderem a apenas 0,9% do total de combinações possíveis entre pares de zonas, eles abrangem praticamente toda a área urbanizada da RMR, com exceção de alguns bairros mais afastados.
  • 10. CI ??? 6 Figura 2: Zonas de Tráfego Incluídas nos Pares de Zonas Selecionados para a Análise Observações: Somente a área urbana de cada zona de tráfego foi considerada para a construção do mapa.
  • 11. CI ??? 7 Figura 3: Macrorregiões Utilizadas para a Ponderação do Índice de Congestionamento Observações: As macrorregiões foram definidas a partir da agregação das zonas de tráfego da OD de 2018. As regiões internas da cidade de Recife foram definidas conforme as Regiões Político-Administrativas (RPAs) utilizadas pela Prefeitura de Recife. As regiões compostas pelas demais zonas de tráfego da RM foram definidas pela distribuição geográfica das mesmas. Foram excluídas as zonas de tráfego onde não havia observações suficientes na plataforma Uber Movement no período analisado.
  • 12. CI ??? 8 Além disso, é importante considerar que a base da Pesquisa OD também não possuí densidade estatística no nível dos pares de zonas. Sendo assim, para o cálculo da ponderação do índice de congestionamento, a solução utilizada foi ajustar o cálculo dos pesos de cada observação a partir de um nível superior de agregação espacial. Especificamente, a área urbana da RMR foi dividida em 9 macrorregiões e os pesos passaram a ser calculados com base no número de viagens observadas na OD entre pares de macrorregiões ao invés do número de viagens entre cada par de zonas, garantindo assim, uma ponderação mais razoável dos padrões de deslocamento observados entre cada par utilizado para a ponderação. As macrorregiões utilizadas no estudo foram definidas conforme a Figura 3 na página anterior. Por fim, para garantir que a proporção de viagens entre cada macrorregião fique constante, mesmo que o número de pares de zonas observados na Uber Movement varie a cada dia, foi necessário adicionar um componente na ponderação que mantém constante o peso total de cada par de macrorregiões. Esse ajuste garante também que mesmo que os pares selecionados para a construção do índice componham apenas uma parcela do total de pares existentes na RMR, ainda assim a ponderação ajustada garante que os resultados sejam representativos dos padrões das viagens feitas pelos moradores da cidade. Dessa forma, o peso 𝑤 de cada observação utilizada na composição do índice foi calculado a partir da seguinte fórmula: 𝑤 𝑜𝑑𝑝 = (𝑣 𝑂̅ 𝐷̅ 𝑝)/𝑁 𝑂̅ 𝐷̅ 𝑝 𝑉𝑅𝑃 (3) Onde 𝑣 𝑂̅ 𝐷̅ 𝑝 é o total de viagens observadas na pesquisa OD entre as macrorregiões 𝑂̅ e 𝐷̅ no período 𝑝, tal que 𝑜 ∈ 𝑂̅ e 𝑑 ∈ 𝐷̅. Além disso, 𝑁 𝑂̅ 𝐷̅ é o total de pares de zonas que compõem o par de macrorregiões 𝑂̅ 𝐷̅ e que possuem informações de tempo de viagem no período 𝑝 na plataforma Uber Movement. Com esses ajustes, se um par de macrorregiões contiver 10% do total de viagens, então o somatório de pesos dos pares de zonas que compõem esse par de macrorregiões também será igual a 10%, e essa
  • 13. CI ??? 9 equivalência será independente do número de pares observados em cada período na Uber Movement.2 Portanto, o cálculo final do índice de congestionamento para a RMR pode ser descrito pela seguinte fórmula, onde cada elemento é descrito conforme as equações (1) ,(2) e (3) 𝐼 𝑅𝑃 = ∑ ( 𝑡 𝑜𝑑𝑝 𝑡 𝑜𝑑 ∗ × 𝑤 𝑜𝑑𝑝) 𝑜𝑑𝑝 (4) 2. RESULTADOS DO ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO Com bases nos ajustes descritos anteriormente, o índice de congestionamento foi calculado para todos os dias entre 1 de junho de 2017 e 30 de junho de 2019. Para cada dia, o índice foi também calculado nos períodos definidos pela plataforma Uber Movement3 e nas macrorregiões descritas na seção anterior. As Figuras 4 a 9 apresentam os resultados da segmentação do índice por diferentes características. Em todas essas figuras, a linha vermelha pontilhada indica a média geral do índice de congestionamento na RMR ao longo de todo o período analisado, que foi igual a 57,1%. A Figura 4 apresenta o índice médio de congestionamento em períodos comparáveis de um ano (julho/2017-junho/2018 e julho/2018-junho/2019).4 A comparação das médias de cada ano indica uma redução de aproximadamente 9,7 pontos percentuais entre o índice de 2017/2018 (61,9%) e o índice de 2017/2018 (52,2%). 2 O anexo A desse relatório apresenta um exemplo que ilustra esse sistema de ponderação ajustado. 3 Madrugada (0:00-7:00), pico da manhã (7:00-10:00), meio do dia (10:00-16:00), pico da tarde (16:00- 19:00) e noite (19:00-24:00). Os períodos definidos na plataforma Uber Movement são globais, logo consideram faixas horárias que tem por objetivo representar padrões comuns à maior parte das mais de 20 cidades que fazem parte da plataforma. 4 A escolha de períodos de 12 meses começando em julho se deu porque a base da Uber Movement de Recife estudada nesse trabalho ainda não incluía informações sobre o primeiro semestre de 2017 nem sobre o segundo semestre de 2018. Sendo assim, a forma de definir dois períodos comparáveis de 12 meses foi através da definição de julho como o primeiro mês de cada período.
  • 14. CI ??? 10 A Figura 5 compara a sazonalidade dentro do ano ao comparar os níveis médios de congestionamento em cada mês. Vale ressaltar que o objetivo dessa análise não é avaliar a evolução temporal do índice, mas sim o componente de sazonalidade intra-anual do mesmo. Os resultados indicam que o mês de janeiro, durante as férias escolares de verão, possui a menor média de congestionamento (47,6%). Já abril é o mês com as maiores taxas médias de congestionamento (61,7%). Na Figura 6 é possível observar a dinâmica do congestionamento nos dias da semana. Nos finais de semana, o índice fica bem abaixo da média (36,3% no domingo e 40,8% no sábado). Já nos dias de semana, os níveis de congestionamento são bastante estáveis, oscilando entre 63,3% nas quintas-feiras e 65,7% nas sextas-feiras. Já a Figura 7 indica a dinâmica dos níveis de congestionamento nos diferentes períodos do dia. O pico da tarde, definido como o período entre 16:00 e 19:00, possui o maior índice de lentidão (74,8%). Já os períodos da noite e da madrugada apresentam índices abaixo da média, sendo os valores respectivamente 31,5% e 23,5%. A Figura 8 apresenta o índice de congestionamento para as viagens internas a cada macrorregião da cidade.5 Essa comparação revela que as regiões Oeste, Sudoeste e Centro da cidade de Recife apresentam as maiores médias de congestionamento (respectivamente 68,8%, 64,0% e 63,3%). Já as regiões externas à cidade de Recife na RM apresentam níveis médios de congestionamento mais baixos, sendo 46,5% a média para a região norte da RM, 50,8% para a região Sul da RM e 50,7% o índice médio para a região Oeste da RM. Além disso, o Sul da cidade de Recife também apresenta um índice médio de 52,0%, que é relativamente mais baixo que o das demais regiões da capital. Por fim, a Figura 9 apresenta o índice de congestionamento para as viagens internas a cada macrorregião da cidade a cada ano. Os resultados dessa análise indicam que em todas as regiões, foi observada uma redução dos níveis de congestionamento ao longo dos períodos analisados. A região Oeste de Recife foi onde ocorreu a maior redução (-14,1 pontos percentuais), já o Sudoeste observou a menor redução (-1,1 pontos percentuais). 5 Isso é, as viagens entre diferentes macrorregiões são excluídas dessa análise
  • 15. CI ??? 11 Figura 4: Índice de Congestionamento Médio por Ano Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado (57,1%). Figura 5: Índice de Congestionamento Médio por Mês do Ano (jul/2017-jun/2019) Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado (57,1%).
  • 16. CI ??? 12 Figura 6: Índice de Congestionamento Médio por Dia da Semana (jul/2017-jun/2019) Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado (57,1%). Figura 7: Índice de Congestionamento Médio por Período do Dia (jul/2017-jun/2019) Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado (76,9%).
  • 17. CI ??? 13 Figura 8: Índice de Congestionamento Médio por Região (julho/2017-junho/2019) Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado (57,1%). Figura 9: Índice de Congestionamento Médio por Região e por Ano (julho/2017-junho/2019) Observações: As médias foram calculadas com base no índice de congestionamento calculado para cada dia do período analisado. A barra de erro indica o intervalo de confiança de 95% dessas médias. A linha pontilhada vermelha índica o índice de congestionamento médio ao longo de todo o período analisado (57,1%).
  • 18. CI ??? 14 3. ANÁLISES 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Nesta seção nós analisamos a evolução histórica do índice de congestionamento na RMR. A análise foca nos dias úteis típicos, de tal forma que os feriados, finais de semana e dias com eventos extraordinários foram excluídos. A Figura 10 apresenta a série bruta do índice de congestionamento nos dias úteis selecionados entre julho de 2017 e junho de 2018, período para o qual a base da Uber Movement de Recife foi analisada. Figura 10: Índice de Congestionamento – RMR Dias Úteis entre Julho/2017-Junho/2019 Observações: Cada ponto representa o índice de congestionamento da RMR em uma determinada data. Foram excluídos os finais de semana, feriados, emendas de feriados, férias escolares e dias de suspenção do rodízio incluindo eventos especiais tais como as greves do transporte público e a paralização dos caminhoneiros em maio de 2018. Também foi excluído o período da Copa do Mundo de 2018. A linha tracejada azul represnta as mudanças de ano. A análise gráfica inicial da figura não permite a identificação de nenhum padrão claro da série ao longo do tempo, há aparentemente uma redução dos níveis médios do índice ao longo do tempo, mas há também uma elevada heterogeneidade e variância na série. Sendo assim, uma modelagem formal quantitativa é necessária para a avaliação das tendências históricas.
  • 19. CI ??? 15 Uma primeira questão que precisa ser considerada é a sazonalidade da série. Conforme observado na seção 2, diferentes meses do ano possuem padrões próprios de congestionamento, assim como os diferentes dias da semana. Dessa forma, para aumentar a precisão das estimativas, o primeiro passo da nossa análise é a dessazonalização da série, que é feita através da estimação do seguinte modelo de efeitos fixos: 𝐶𝑡 = 𝛼 + 𝛿 𝑑 + 𝜇 𝑚 + 𝜀𝑡 (4) Onde: 𝐶𝑡: é o índice de congestionamento 𝐶 em cada data 𝑡 𝛿 𝑑: é um vetor de efeitos fixos associados a cada dia 𝑑 da semana (seg., ter., ...) 𝜇 𝑚: é um vetor de efeitos fixos associados a cada mês 𝑚 do ano (jan., fev., ...) 𝜀𝑡: é um termo de erro que captura todos os demais efeitos não observados A partir dos resultados dessa estimação, nós construímos a série dessazonalizada 𝐶𝑡 ∗ do índice: 𝐶𝑡 ∗ = 𝐶𝑡 − 𝛿̂ 𝑑 − 𝜇̂ 𝑚 (5) Onde 𝛿̂ 𝑑 e 𝜇̂ 𝑚 são os valores estimados dos efeitos fixos. Em seguida, para avaliar a evolução da série ao longo do período analisado, nós adotamos duas estratégias com objetivos distintos: (1) Nós estimamos o valor médio do índice por mês e o erro padrão dessas médias, o que permite a visualização das tendências de longo prazo e a comparação estatística do valor médio de congestionamento em diferentes períodos. (2) Nós calculamos também a inclinação da série a cada semestre, o que permite avaliar a tendência local de variação em cada período. Os resultados de ambas as análises são apresentados na Figura 11 a seguir. A média de congestionamento de cada mês é representada pelos pontos pretos. A barra de erro vertical associada a cada ponto representa o intervalo de confiança de 95% dessas médias locais, e permite a visualização da significância estatística da diferença entre os pontos. A partir
  • 20. CI ??? 16 dessas médias, é possível observar que o índice de congestionamento apresentava valores significativamente mais altos no início em 2017 e nos primeiros meses de 2018, passando a cair gradualmente a partir de abril daquele ano. A partir de 2019, o índice variou de forma praticamente estacionária. Figura 11: Análise da Evolução do Índice de Congestionamento Série Dessazonalizada de Dias Úteis Entre Julho/2017 e Junho/2019 Observações: A figura apresenta os valores médios do índice de congestionamento dessazonalizado (pontos pretos) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (barras de erro verticais). As linhas azuis apresentam o ajuste da série através de regressões lineares locais estimadas para cada ano da série. Entretanto, alguns padrões adicionais são revelados pela análise das inclinações locais da série representadas pelas linhas azuis na mesma figura. A Tabela 1 apresenta os resultados da estimação dos coeficientes angulares de cada linha. No segundo semestre de 2017 a variação média do índice não foi significativa. Já em 2018, o índice decresceu de forma significativa, primeiro caindo 6.28 pontos percentuais ao longo do primeiro semestre, e depois caindo mais 7,13 pontos percentuais no segundo semestre. Por fim, no primeiro semestre de 2018 a série voltou a apresentar uma variação semestral não significativa.
  • 21. CI ??? 17 Tabela 1: Estimação do Coeficiente Angular da Série Temporal do Índice de Congestionamento por Ano – Dias Úteis de Julho/2017-Junho/2019 Observações: Os coeficientes foram estimados a partir de regressões lineares bivariadas independentes realizadas com os dados dos dias úteis de cada ano da série. Os coeficientes indicam a inclinação média anual da série, ou seja, um coeficiente de 10 pode ser interpretado como um aumento médio do índice de 10 pontos percentuais ao longo de um ano. Combinadas as análises, é possível concluir que houve uma significativa redução do índice de congestionamento no período analisado (julho/2017-junho/209), principalmente ao longo do ano de 2018. A partir de então, o indicador ficou praticamente estável, e apesar de haver uma leve tendência de alta no período final da série, os índices ainda se encontram em patamares significativamente inferiores aos observados no primeiro semestre da análise. 3.2 ANÁLISE MULTIVARIADA DE FATORES QUE IMPACTAM O TRÂNSITO NA RM DE RECIFE Existem diversos fatores que podem afetar o nível de congestionamento em uma cidade como Recife, incluindo eventos climáticos, greves, manifestações políticas, festividades e outros eventos atípicos. Dada a granularidade da série de tempo do índice de congestionamento, é possível estimar e comparar o impacto de diferentes eventos no trânsito da cidade através de uma análise multivariada. No período analisado, a título de ilustração, nós identificamos os seguintes fatores que poderiam potencialmente afetar o trânsito de Recife:  Chuvas;  Greve nacional de caminhoneiros em maio (entre os dias 21 e 31);  Copa do Mundo de 2018 (especialmente os dias de jogo do Brasil);  Férias escolares;
  • 22. CI ??? 18 Para avaliar o impacto de cada uma dessas variáveis (eventos), nós estimamos o seguinte modelo de regressão multivariado baseado na série diária de congestionamento: 𝐶𝑡 = 𝛼 + 𝛿 𝑑 + 𝛽𝑅𝑡 + 𝜎𝑆𝑡 + 𝛾𝑊𝑡 + 𝛾𝑊𝐵𝑡 + 𝜙𝐹𝑡 + 𝜂𝐻𝑡 + 𝜃𝐸𝑡 + 𝜔 𝑝 𝑡 𝑝 + 𝜀𝑡 (6) Onde: 𝐶𝑡: é o índice de congestionamento 𝐶 em cada data 𝑡 𝛿 𝑑: é um vetor de efeitos fixos associados a cada dia 𝑑 da semana (seg., ter., ...) 𝑅𝑡: dummy para os dias com o acúmulo de mais de 10 mm de chuva na RMR 𝑆𝑡: dias de paralização da greve dos caminhoneiros (21-31/05/2018) 𝑊𝑡: período da Copa do Mundo de 2018 (14/06/2018-15/07/2018) 𝑊𝐵𝑡: dias de jogo do Brasil na Copa do Mundo 𝐻𝑡: feriados 𝐸𝑡: emendas de feriado 𝐹𝑡: dias com jogos dos principais times (Náutico, Santa Cruz e Sport) nos estádios da RMR 𝑆𝑡: férias escolares (Inverno e verão) 𝑡 𝑝 : termos polinomiais de ajuste das tendências não lineares da série A Figura 14 apresenta os resultados dessa regressão. Os resultados da análise são discutidos a seguir:
  • 23. CI ??? 19 Figura 14: Impactos de diferentes eventos sobre o Índice de Congestionamento diário da RMR Observações: Os pontos representam os coeficientes estimados para cada variável, e as barras horizonais indicam o intervalo de confiança de 95% dos mesmos. Os impactos podem ser interpretados como variações absolutas do índice. Isso é, um coeficiente de 10 inidca um aumento de 10 pontos percentuais.
  • 24. CI ??? 20 Eventos: conforme esperado, os dias de feriado possuem um nível de lentidão bem abaixo do usual, sendo o coeficiente associado a essas datas igual a -20,0 pontos percentuais. As emendas de feriado também apresentam um impacto médio semelhante (-14,8 pontos). Já durante as férias escolares, os congestionamentos reduzem-se, em média, 8,9 pontos. Durante a greve dos caminhoneiros, a circulação de veículos foi bastante reduzida devido à ausência de combustíveis nos postos de abastecimento. Por conta disso, o índice de congestionamento durante a greve ficou 13,0 pontos abaixo do que o normal. Por fim, nos dias com chuva média acima 10 mm por dia, a lentidão do trânsito é em média 1.98 pontos maior do que nos dias sem chuva. Copa do Mundo: nos dias em que o Brasil não foi a campo, o congestionamento médio foi um pouco mais baixo do que o usual, ficando em média 5,6 pontos percentuais abaixo do esperado. Entretanto, nos dias de jogos do Brasil, o índice de lentidão ficou em média 13,4 pontos abaixo do usual. Jogos de futebol locais: Por fim, a regressão avaliou a variação média no trânsito de Recife nos dias em que os maiores times locais realizaram jogos nos estádios da RMR. Tanto nos dias de jogos do Sport e do Santa Cruz, os níveis médios de congestionamento foram um pouco maiores que o normal, sendo os aumentos de respectivamente 1,2 e 2,2 pontos percentuais. Já no caso dos dias de jogos do Náutico, os níveis de congestionamento não apresentaram alterações estatisticamente significativas. 3.3 TEMPO TOTAL PERDIDO NOS CONGESTIONAMENTOS Com base nos cálculos do índice de congestionamento e nos microdados da OD de 2018, é possível calcular uma aproximação do tempo médio que os paulistanos perdem por causa do trânsito em um dia útil típico. Segundo os cálculos descritos na Seção 2, entre julho de 2017 e junho de 2019, observou- se um índice de congestionamento médio de 57,1% na RMR. Já segundo os dados da OD de 2018, as viagens feitas por automóveis demoram em média aproximadamente 38 minutos e 45 segundos. Isso significa que no período analisado, caso não houvesse nenhum nível de congestionamento na cidade (obviamente uma hipótese extrema), as
  • 25. CI ??? 21 pessoas que utilizam automóveis economizariam aproximadamente 14 minutos e 8 segundos por viagem. Tal cálculo pode ser realizado para diferentes períodos e níveis de agregação. Por exemplo, utilizando a mesma fórmula de cálculo, é possível estimar que o tempo excessivo médio gasto no trânsito pelos moradores da RMR por viagem caiu de 14 minutos e 49 segundos em 2017/2018 para 13 minutos e 17 segundos em 2018/2019, isso é, uma redução média de aproximadamente 1 minuto e 32 segundos por viagem entre um ano e outro. Outro exemplo, se consideradas somente as viagens realizadas durante o pico da tarde (16:00-19:00), o atraso médio por viagem é de 16 minutos e 34 segundos. Já se fizermos o mesmo cálculo para as viagens feitas no horário da noite (19:00-24:00), o tempo médio perdido por viagem é de apenas 9 minutos e 37 segundos. Vale ressaltar que uma importante limitação desse cálculo é que ele se restringe às viagens feitas com automóveis. Obviamente outros modais, tais como ônibus e motos, também são afetados pelos congestionamentos, mas em diferentes escalas. Destarte, a medida estimada aqui não contempla o total de horas perdidas por todos os moradores da RMR, mas somente pela parcela que circula de carro. A estimação das perdas totais é sem dúvidas um exercício interessante, mas que necessitaria de dados e análises adicionais, ficando assim como sugestão para estudos futuros. 3.4 COMPARAÇÃO ENTRE DUAS DATAS DISTINTAS HORA-A-HORA Um último resultado apresentado nesse relatório refere-se à apresentação visual da comparação do índice de congestionamento entre duas datas. O objetivo principal desse exercício é ilustrar como os elementos que compõem o índice de congestionamento diferem em dias com características distintas. Para tanto, foram selecionadas duas datas correspondendo ao mesmo dia da semana em duas semanas consecutivas, de forma a atenuar diferenças sazonais e tendências de longo prazo. Entretanto, enquanto a primeira data (08/11/2017) foi um dia útil comum, a segunda data (15/11/2017) foi um feriado nacional. Em seguida, nós computamos o índice de congestionamento para cada par de zona selecionadas em nossas análises a cada hora desses dois dias. O índice de
  • 26. CI ??? 22 congestionamento de cada par foi então associado ao trajeto ideal entre o ponto de origem mais comum de cada zona6 e o ponto de destino mais comum de cada zona. Esse trajeto ideal foi calculado com base no API OSRM. Vale ressaltar que o trajeto estimado pelo API não corresponde necessariamente aos trajetos utilizados pelos motoristas, sendo apenas uma aproximação do viário utilizado nas viagens entre cada par de zona. Por fim, esses trajetos foram mapeados e coloridos em uma escala derivada do índice de congestionamento calculado a cada hora para cada par de zona. s resultados desse exercício são apresentados na Figura 15 a seguir. Destacamos os seguintes pontos com relação aos resultados observados: - No dia útil, o período entre 1:00-4:00 apresenta níveis de congestionamento praticamente nulos. Já no feriado, há uma concentração com um nível razoável de congestionamento nos entornos de Boa Viagem e de Graças, regiões com maior concentração de bares e clubes noturnos. Apesar de tal tipo de evento afetar significativamente o número de viagens feitas por aplicativos como a Uber, essa demanda atípica não distorce o índice de deslocamento uma vez que o mesmo é ponderado pelos volumes de deslocamento de um típico dia útil observado na Pesquisa OD. - A partir das 6:00, no dia útil, é observada um grande aumento dos níveis de congestionamento. sse aumento começa nas regiões periféricas e permanece em praticamente toda a cidade até às 19:00. Já no feriado, o nível de congestionamento geral é bem menor ao longo do dia, apresentando somente alguns pontos de elevação mais concentrada na parte da noite, principalmente entre às 18:00 e às 21:00. - Os maiores níveis de congestionamento generalizados no dia útil ocorrem às 18:00. 6 Coordenada de origem com a maior quantidade de viagens na pesquisa OD.
  • 27. CI ??? 23 Figura 15: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 28. CI ??? 24 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 29. CI ??? 25 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 30. CI ??? 26 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 31. CI ??? 27 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 32. CI ??? 28 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 33. CI ??? 29 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 34. CI ??? 30 Figura 14: Comparação Visual Hora-a-Hora do Índice de Congestionamento em Duas Datas distintas – 08/11/2017, uma Quarta-Feira Comum, e 15/11/2017, uma Quarta-Feira em um Feriado Nacional – (Continuação) Dia Útil 08/11/2017 – Quarta-Feira Feriado – Dia da República 15/11/2017 – Quarta-Feira
  • 35. CI ??? 31 4. CONCLUSÕES Assim como ocorre em diversas grandes cidades do mundo, o trânsito é um dos maiores problemas enfrentados pelos moradores da RMR, gerando perdas econômicas e de bem- estar para os moradores da cidade. Os impactos econômicos do trânsito não se restringem aos atrasos e ao desperdício de combustível, mas estão principalmente associados ao tempo perdido pelas pessoas e que poderia ser utilizado para atividades produtivas ou de lazer. O enfrentamento do problema do trânsito requer o entendimento e acompanhamento do fenômeno. Entretanto, uma dificuldade enfrentada por técnicos e pesquisadores que estudam o tema é a inexistência de medidas quantitativas de larga escala para tal. As medidas tradicionais enfrentam pelo menos uma das seguintes limitações: 1) são restritas espacialmente (e.g. câmeras de monitoramento) 2) são extremamente onerosas (e.g. veículos de teste se deslocando junto ao tráfego). Sendo assim, o índice de congestionamento construído nesse estudo, a partir dos dados da Uber Movement e complementado com outras fontes de dados públicos, oferece uma nova ferramenta de análise para a avaliação da questão do trânsito em Recife e potencialmente em outras cidades. A medida diferencia-se dos parâmetros tradicionais por basear-se diretamente em tempos de viagens efetivamente realizadas, e não em métricas relacionadas ao fluxo de veículos em determinadas vias. Dessa forma, o índice contempla de forma direta a principal dimensão de impacto do problema do trânsito, isso é, o tempo excessivo despendido em deslocamentos urbanos pelos indivíduos. O índice está aberto a aprimoramentos técnicos e ajustes, tais como o refinamento das métricas de fluxo livre e da ponderação das viagens. De qualquer forma, as análises aqui apresentadas representam um esboço inicial das possíveis aplicações da medida. Dessa forma, outros estudos utilizando e aprimorando o indicador, e explorando a base de dados da Uber Movement são altamente recomendados. Espera-se principalmente que tais ferramentas e estudos sejam utilizados para informar de forma objetiva o debate sobre a mobilidade urbana e auxiliar os planejadores de políticas públicas em suas decisões.
  • 36. CI ??? 32 Anexo A: Exemplo do Sistema de ponderação do Índice de Congestionamento Suponha uma cidade composta por 4 zonas (𝑎1, 𝑎2, 𝑏1 e 𝑏2). Essas zonas são agregadas em 2 macrorregiões (𝐴 e 𝐵 tal que 𝑎1, 𝑎2 ∈ 𝐴 e 𝑏1, 𝑏2 ∈ 𝐵). O total de viagens entre cada zona é dado pela seguinte tabela: A1: Viagens por par de zona a1 a2 b1 b2 a1 230 140 54 10 a2 170 200 36 60 b1 10 20 36 0 b2 0 10 4 20 Ou seja, são feitas 1000 viagens por dia nessa cidade7 as quais podem ser agregadas por macrorregiões conforme a tabela abaixo: A2: Viagens por par de macrorregião A B A 740 160 B 40 60 Já o congestionamento das viagens entre cada par é dado pelos valores: 7 Por simplicidade, nós assumimos nesse exemplo um único período h.
  • 37. CI ??? 33 A3: Congestionamento por par de zona a1 a2 b1 b2 a1 2,00 1,75 1,70 a2 1,80 1,90 1,50 b1 1,05 1,02 1,40 b2 1,10 1,25 1,30 As células em branco indicam pares para os quais os tempos de viagem não são observados. Ou seja, o total de pares de zonas observados para cada par de macrorregiões é: A4: Pares de zonas observados por par de macrorregião A B A 4 2 B 3 3 Sendo assim, o peso de cada par de zonas poderia ser calculado conforme a equação 3 da seção 1.2. Por exemplo, o peso do congestionamento entre as zonas a1 e a2 seria: 𝑤 𝑎1,𝑎2 = (𝑣 𝐴𝐵)/𝑁𝐴𝐵 𝑉 𝑤 𝑎1,𝑎2 = (740)/4 1000 𝑤 𝑎1,𝑎2 = 0,185 Calculando o mesmo valor para todas as zonas, nós temos:
  • 38. CI ??? 34 A5: Peso de cada par de zona a1 a2 b1 b2 a1 0,185 0,185 0,080 a2 0,185 0,185 0,080 b1 0,013 0,013 0,020 b2 0,013 0,020 0,020 Vale notar que o somatório dos pesos para cada par de macrorregiões é igual à proporção entre o total de viagens dos pares de macrorregiões dividido pelo total de viagens na cidade. A6: Somatório de pesos por par de macrorregiões A B A 0,74 0,16 B 0,04 0,06 A7: Total de viagens por par de macrorregiões dividido pelo total de viagens na cidade A B A 0,74 0,16 B 0,04 0,06 Por fim, ao multiplicar o nível de congestionamento de cada observação (Tabela A3) pelo peso ajustado de cada observação (Tabela A5), nós teríamos o índice de congestionamento total, que seria igual a 1,755.