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avaLIação de 
PoLÍtICas PÚBLICas: 
ReFleXÕes acadêmicas sobRe o 
desenvolvimento social e o combate à Fome 
1. Introdução e Temas Transversais 
2. Transferência de Renda 
3. Assistência Social e Territorialidades 
4. Segurança Alimentar e Nutricional 
5. Inclusão Produtiva
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Presidenta da República Federativa do Brasil 
Dilma Rousseff 
Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
Tereza Campello 
Secretário Executivo 
Marcelo Cardona 
Secretário de Avaliação e Gestão da Informação 
Paulo de Martino Jannuzzi 
Secretário Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 
Arnoldo Anacleto de Campos 
Secretário Nacional de Renda de Cidadania 
Luis Henrique da Silva de Paiva 
Secretária Nacional de Assistência Social 
Denise Colin 
Secretário Extraordinário de Superação da Extrema Pobreza 
Tiago Falcão 
Expediente : Esta é uma publica ção técnica da Secretaria de Avalia ção e Gest ão da Inf orma ção. SECRETÁRIO 
DE AVALIAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO : Paulo de Martin o Jann uzzi; DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE AVALIAÇÃO : 
Júnia Val éria Quir oga da Cunha ; DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE MONITORAMENTO: Marc oni Fernandes de 
Sousa ; DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO : Cai o Nakashima ; DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE 
FORMAÇÃO E DISSEMINAÇÃO : Patricia Augusta Ferreira Vilas Boas .
Introdução e 
temas transversaIs
© Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
Esta é uma publicação técnica da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação. 
Este livro apresenta, em cinco volumes, um conjunto de artigos elaborados com base na 
experiência de construção e resultados do Edital MCT/MDS-SAGI/CNPq n.º 36/2010. 
Coordenação Editorial: Kátia Ozório 
Equipe de apoio: Victor Gomes de Lima, Valéria Brito, Roberta Cortizo e Clécio Fernandes 
Diagramação: Tarcísio Silva e Jonathan Phelipe 
Bibliotecária: Tatiane Dias 
Revisão: Alexandro Rodrigues Pinto, Júnia Valéria Quiroga da Cunha, Luciana Monteiro 
Vasconcelos Sardinha, Renata Mirandola Bichir, Renato Francisco dos Santos de Paula. 
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 
Avaliação de políticas públicas: reflexões acadêmicas sobre o desen-volvimento 
social e o combate à fome, v.1: Introdução e temas transversais 
-- Brasília, DF: MDS; Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, 2014. 
277p. 
1. Política social, Brasil. 2. Desenvolvimento social, Brasil. 3. Políticas 
públicas, avaliação, Brasil. I. Secretaria de Avaliação e Gestão da Infor-mação. 
CDU 304(81) 
Abril de 2014 
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação 
Esplanada dos Ministérios Bloco A, 3º andar, Sala 340 
CEP: 70.054-906 Brasília DF – Telefones (61) 2030-1501 
http://www.mds.gov.br 
Central de Relacionamento do MDS: 0800-707-2003
FICHA 
TÉCNICA 
Avaliação de políticas públicas: reflexões acadêmicas sobre o Desenvol-vimento 
Social e o Combate à Fome 
Organizadores 
Júnia Valéria Quiroga da Cunha 
Alexandro Rodrigues Pinto 
Renata Mirandola Bichir 
Renato Francisco dos Santos de Paula 
Agradecimentos 
Os organizadores agradecem aos especialistas que se dispuseram a parti-cipar 
como comentaristas nas oficinas de acompanhamento dos projetos. 
Gratidão especial também aos pareceristas, que dispuseram de seu tempo 
e experiência para contribuir com os autores dos artigos seguem lista-dos, 
respeitando a opção daqueles que não autorizaram a publicação de 
seu nome.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Pareceristas 
Alberto Albino dos Santos 
Alcides Fernando Gussi 
Aldaíza Sposati 
Alexandro Rodrigues Pinto 
Ana Maria Segall Corrêa 
Andrea Butto 
Antonio Eduardo Rodríguez Ibarra 
Bruno Barreto 
Carla Cristina Enes 
Crispim Moreira 
Daniela Sherring Siqueira 
Dirce Koga 
Eduardo Cesar Leão Marques 
Eduardo Salomão Condé 
Elizabete Ana Bonavigo 
Elza Maria Franco Braga 
Fabio Veras Soares 
Fátima Valéria Ferreira de Souza 
Fernanda Pereira de Paula 
Frederico Luiz Barbosa de Melo 
Haroldo Torres 
Igor da Costa Arsky 
Jeni Vaitsman 
Juliana Picoli Agatte 
Júlio César Borges 
Júnia Valéria Quiroga da Cunha 
Kyara Michelline França Nascimento 
Leonor Maria Pacheco Santos 
Letícia Bartholo 
Luana Simões Pinheiro 
Lucélia Luiz Pereira 
Luciana Maria de Moura Ramos 
Luís Otávio Pires Farias 
Luiz Rafael Palmier 
Marconi Fernandes de Sousa 
Marcos Costa Lima 
Mariana Helcias Côrtes 
Mariana López Matias 
Marina Pereira Novo 
Marta Arretche 
Marta Battaglia Custódio 
Milena Bendazzoli Simões 
Neuma Figueiredo de Aguiar 
Onaur Ruano 
Paula Montanger 
Paulo de Martino Jannuzzi 
Pedro Antônio Bavaresco 
Pedro Israel Cabral de Lira 
Rafael Guerreiro Osorio 
Renata Mirandola Bichir 
Renato Francisco dos Santos de Paula 
Rodrigo Constante Martins 
Rômulo Paes de Sousa 
Sergei Suarez Dillon Soares 
Silvia Maria Voci 
Simone Amaro dos Santos 
Simone de Araújo Góes Assis 
Sonia Lucia Lucena Sousa de Andrade 
Walquiria Leão Rego
9 
APRESENTAÇÃO 
No contexto de complexidade da ação governamental no Brasil, de arranjos fe-derativos 
e articulação intersetorial na gestão e operação dos programas sociais, 
de volume de recursos e de profissionalização do setor público, as atividades de 
levantamento e organização de dados e produção de estudos e pesquisas de ava-liação 
são fatores críticos para garantir – potencialmente – maior efetividade à Po-lítica 
Social. Informação e conhecimento, sistematizados de forma prática e ope-racional, 
atualizados no tempo e referidos nos domínios territoriais adequados 
e com escopo abrangente e multidisciplinar constituem-se em insumos básicos 
para a tomada de decisão técnico-política em qualquer momento do ciclo de vida 
ou maturação de uma política ou programa social. Dados, indicadores, estudos e 
pesquisas de campo são fundamentais no levantamento de evidências empíricas 
na formulação de uma estratégia de superação ou mitigação de uma problemática 
social específica, no planejamento de um arranjo operativo que permita colocá- 
-la em ação, na coordenação de um conjunto escolhido de agentes públicos, de 
instituições privadas ou do terceiro setor, no monitoramento das atividades plane-jadas, 
e, enfim, na avaliação dos resultados e esforços empreendidos. 
No Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a produção de 
informação e conhecimento para aprimoramento do desenho e gestão de políti-cas 
e programas tem sido uma atividade permanente desde sua criação em 2004, 
com a instituição de uma unidade de monitoramento e avaliação com status de 
Secretaria Nacional: a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI). Em 
parceria com as secretarias finalísticas deste Ministério, a SAGI tem produzido um 
conjunto considerável de pesquisas e estudos avaliativos que contribuem para 
conhecer melhor os diversos públicos-alvo das políticas de desenvolvimento so-cial, 
os desafios da implementação dos programas, os resultados e impactos dos 
serviços e ações. 
Este livro é, nesse sentido, mais uma contribuição para Avaliação de Políticas e 
Programas do MDS. Mais especificamente, trata-se de uma publicação, organiza-da 
em cinco volumes temáticos, com estudos produzidos no âmbito de edital de 
fomento à pesquisa – Edital nº 36/2010 – do Conselho Nacional de Desenvolvi-mento 
Científico e Tecnológico (CNPq) por um conjunto amplo de pesquisadores 
de diversas instituições, de norte a sul do País. 
Com diferentes perspectivas disciplinares, modelos teórico-conceituais e estraté-gias 
de pesquisa, os autores dedicam-se a diferentes temáticas e problemáticas das 
políticas e programas do Ministério, trazendo também suas interfaces com outras 
políticas sociais em educação, saúde e trabalho. É uma boa amostra da abordagem 
multidisciplinar e multi-métodos de produção de estudos avaliativos adotados pela 
SAGI em seus dez anos. Neste sentido, é oportuno registrar nessa introdução alguns 
princípios epistêmicos, aspectos conceituais e metodológicos sobre o que se enten-de 
por Avaliação, e como ela vem se estruturando na Secretaria.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Avaliação de Políticas Públicas tem recebido as mais diferentes definições na lite-ratura 
especializada, segundo os diversos modelos conceituais, paradigmas teóri-cos 
e linhas de pesquisa da Ciência Política, Ciências Sociais, Economia e Adminis-tração 
Pública, tomando a avaliação em perspectiva mais geral como componente 
integrante da Análise de Políticas Públicas, como instrumento de Sistemas de Mo-nitoramento 
e Avaliação de programas governamentais ou, em uma concepção 
mais restrita, avaliação como um tipo particular de investigação empírica acerca 
de programas e projetos sociais, como as avaliações de impacto experimental 
ou quasi-experimental. Em uma definição mais pragmática e aplicada ao campo 
da Gestão Pública, Avaliação refere-se ao conjunto de procedimentos técnicos 
para produzir informação e conhecimento para desenho ex-ante, implementação 
e validação ex-post de programas e projetos sociais, por meio das diferentes abor-dagens 
metodológicas da Pesquisa Social, com a finalidade de garantir o cum-primento 
dos objetivos dos programas e projetos (eficácia), seus impactos mais 
abrangentes em outras dimensões sociais, para além dos públicos-alvo atendidos 
(efetividade), e a custos condizentes com a escala e complexidade da intervenção 
(eficiência). 
Nesta definição, Avaliação não é entendida tão somente como uma investigação 
com métodos validados cientificamente para analisar diferentes aspectos sobre 
um programa – o que se constituiria em uma investigação de cunho acadêmico –, 
mas um levantamento consistente, sistemático e replicável de dados, informações 
e conhecimentos para aprimoramento da intervenção programática, versando so-bre 
características essenciais do contexto de atuação, os públicos-alvo, o desenho, 
os arranjos de implementação, os custos de operação, os resultados de curto pra-zo, 
os impactos sociais e de mais longo prazo de um programa. Enfim, na definição 
aqui advogada, Avaliação tem o objetivo de produzir evidências, compilar dados 
e sistematizar estudos que contribuam para o aperfeiçoamento dos programas e 
projetos sociais e a consecução de seus objetivos. 
Avaliações que, de fato, têm uso efetivo na intervenção são desenhadas confor-me 
as demandas de informação e conhecimento ao longo do ciclo de maturida-de 
do programa ou projeto social. Podem ser de natureza diagnóstica – Avaliação 
Diagnóstica –, apoiada em fontes de dados já existentes, produzidas pelo IBGE, 
nos registros e cadastro públicos dos ministérios, para permitir um rápido dimen-sionamento 
e caracterização da questão social a ser objeto de intervenção. Para 
a formulação de programa ou projeto de mitigação ou equacionamento da pro-blemática 
social identificada, em geral, são necessários novos esforços de levan-tamentos 
de campo – para o aprofundamento do diagnóstico das condições de 
vida, contexto econômico, restrições ambientais, capacidade de gestão e oferta 
de serviços – e de compilação de estudos já realizados na temática, abordando 
determinantes da problemática em questão e eventuais programas e projetos já 
idealizados, que constituem o que se denomina Avaliação de Desenho. Definidos 
os públicos a atender e os arranjos operacionais do programa ou projeto social, é 
preciso colocá-lo em ação, realizando as atividades planejadas, acompanhando 
sua execução mediante indicadores de gestão e de monitoramento, e identifican-do 
problemas na oferta, na regularidade e na qualidade dos serviços por meio de 
pesquisas de Avaliação da Implementação.
11 
Reconhecidos e, tanto quanto possível, sanados os desafios da implementação, as 
demandas de informação e conhecimento voltam-se para a Avaliação de Resulta-dos 
e Impactos do programa ou projeto social. Trata-se de momento de investiga-ção 
mais exaustiva sobre os diversos componentes de uma intervenção, abordan-do 
não apenas o cumprimento dos seus objetivos, mas seu desenho, seus arranjos 
operacionais, seus impactos sociais mais abrangentes – no tempo e no território 
– e sobre a capacidade de inovação e redesenho frente ao contexto dinâmico em 
que operam os programas e projetos. Cabe nesse momento avaliar se a interven-ção 
programática formulada conseguiu provocar mudanças na realidade social 
que a originou, considerando naturalmente a complexidade do seu desenho e dos 
arranjos operacionais, além da criticidade da questão social enfrentada. Identificar 
o momento adequado de avaliações dessa natureza é um misto de técnica, política 
e arte: avaliações precoces podem colocar a perder a legitimidade de um progra-ma 
e projeto meritório que ainda não teve tempo de se estruturar; avaliações tar-dias 
podem comprometer recursos e esforços que poderiam ser usados de forma 
mais eficiente e eficaz na mitigação da problemática social em questão. Enfim, se 
o programa e projeto produzem resultados e impactos, é necessário analisar os 
custos envolvidos na operacionalização de suas atividades, equipamento e pes-soal 
– Avaliação Custo-Efetividade. O custo-efetividade das intervenções, isto é, o 
valor gasto para produzir unidades de resultados e impactos em um período de 
tempo e território específicos, é certamente uma informação fundamental para 
avaliar a sustentabilidade dos programas e projetos no futuro e em outros con-textos. 
Ademais tais avaliações, se bem realizadas – com contabilidade precisa de 
custos e vetor abrangente de indicadores de resultados – fornecem parâmetros 
cruciais para comparar diferentes intervenções sociais e informar gestores nas de-cisões 
técnicas e políticas acerca da continuidade, descontinuidade e expansão 
de programas e projetos. 
Em uma perspectiva metodológica, os esforços de Avaliação podem se estruturar 
em quatro tipos de produtos mais gerais, com maior ou menor aderência e espe-cificidade 
ao problema social ou intervenção programática desenhada: Estudos 
Avaliativos – análises com base em dados secundários ou compilação de artigos 
e trabalhos já realizados anteriormente na temática, com maior ou menor abran-gência; 
Pesquisas de avaliação – levantamentos primários, quali ou quantitativos, 
desenhadas com objetivos de produção de evidências mais específicas necessá-rias 
ao aprimoramento da intervenção; Meta-avaliações – recensões sobre estudos 
avaliativos, pesquisas e experiências nacionais, subnacionais e internacionais de 
programas e projetos implementados; Relatórios-síntese de Avaliação e portais 
Web com informação mais sumária, na forma de indicadores em geral, para comu-nicação 
mais objetiva acerca de aspectos do diagnóstico, implementação e resul-tados 
do programa e projetos. 
As pesquisas de campo podem ser mais estruturadas, como as enquetes quanti-tativas 
com marco amostral probabilístico – necessárias para produção de indica-dores 
de dimensionamento de públicos-alvo ou inferência representativa quan-to 
aos resultados dos programas – ou com amostras intencionais – mais rápidas, 
menos custosas, mas com limitado poder de generalização dos seus resultados. 
Podem ser menos estruturadas, mais exploratórias, de cunho qualitativo, como
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
grupos de discussão ou entrevistas em profundidade, dirigidas a usuários e be-neficiários 
de programas e projetos, assim como aos gestores e técnicos encar-regados 
da operacionalização dos serviços. São especialmente importantes para 
identificar questões latentes acerca da implementação dos programas, não ante-cipados 
quando de seu desenho. Um tipo particular de instrumento estruturado, 
as pesquisas com delineamento quasi-experimental – também denominadas de 
avaliação de impacto – certamente são importantes instrumentos de avaliação de 
programas, mas pelo tempo, recursos e conflitos éticos que estes levantamentos 
envolvem, têm uso muito mais dirigido para a análise do mérito e da contribuição 
específica das intervenções, para fins de prestação de contas a agentes financia-dores 
do programa ou projeto. 
Não existe um método ou estratégia “padrão-ouro” para a produção de uma Ava-liação. 
O melhor método é o que produz as evidências que respondem de forma 
consistente às demandas requeridas, ao tempo de serem utilizadas para decisões 
na Gestão Pública. Informação precisa mas produzida a custos e tempo não con-dizentes 
com a tempestividade da gestão ou informação rapidamente produzida 
mas não consistente nem robusta em termos metodológicos certamente não se 
prestam a orientar decisões cruciais acerca dos rumos de um programa ou projeto 
social. Perspectiva multidisciplinar de investigação, triangulação de métodos e de 
sujeitos entrevistados, esforços combinados de avaliação interna – com gestores 
e técnicos que conhecem os problemas e as atividades do programa e projeto – e 
de avaliação externa – com pesquisadores especializados e apoio de equipe de 
campo – é que garantem a credibilidade e robustez necessárias ao aprimoramento 
da gestão e do desenho das intervenções programáticas.
13 
Por fim, mas não menos importante: a efetividade das Avaliações não pode ser 
medida pelo número de sugestões e recomendações aportadas nas pesquisas e 
estudos avaliativos nos programas e projetos. Avaliações produzem informação e 
conhecimento que, desde que devidamente estruturados e disseminados, podem 
e devem ser usados para interferir cotidianamente na ação do gestor estratégico 
e do técnico na ponta, cujo registro formal é difícil de realizar. Ademais, e fun-damentalmente, 
programas e projetos sociais são empreendimentos complexos, 
seja em termos de contexto político-institucional e escala, seja em arranjos de 
implementação e pessoal técnico envolvido. A introdução de inovações, redese-nho 
de processos, descontinuidade de atividades, contratação de novos agentes 
e serviços – típicas recomendações derivadas de avaliações de implementação 
− cumprem um calendário que deve compatibilizar a agenda de prioridades de 
correção de problemas com as janelas de oportunidades de mudanças, sem o risco 
de interrupção das atividades para os públicos atendidos. 
Os estudos resultantes do referido edital do CNPq aqui compilados – assim como 
outros produzidos por consultores, empresas contratadas ou pela equipe SAGI 
– guardam similitude com algumas das tipologias e classificações aqui apresen-tadas. 
Mas o mais importante é a contribuição substantiva que aportam para o 
debate sobre as políticas e programas do Ministério. 
A SAGI agradece o empenho dos pesquisadores, a participação dos técnicos e ges-tores 
do MDS que se envolveram ao longo da execução dos projetos, e a compe-tência 
do Departamento de Avaliação na condução de todo o processo de gestão 
do Edital, que culminou com a organização dessa relevante publicação. 
Boa leitura!
SUMÁRIO 
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS: UMA 
COMPILAÇÃO CONCEITUAL E METODOLÓGICA PARA 
ORIENTAR A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO APLICADO 
PARA APRIMORAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA 
Paulo de Martino Jannuzzi 
A PESQUISA APLICADA ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS E A POSSI-BILIDADE 
DE CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA ESTRATÉGI-CA 
DE AVALIAÇÃO ENTRE ACADEMIA E GOVERNO 
Júnia Quiroga 
Alexandro Rodrigues Pinto 
Renata Mirandola Bichir 
Renato Francisco dos Santos de Paula 
EDITAL nº 36/2010: O DESAFIO 
Mariomar Almeida 
Renata Gracioso Borges 
Marcelo Gonçalves Valle 
Roberto Camargos Antunes 
Josiane B. Santos 
16 
56 
68 
avaliação de políticas públicas: contribuições acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
INTRODUÇÃO
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: PERSPECTIVAS A PARTIR DO OLHAR DE GÊNERO E 
DA DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS 
Marcelo Cardona Rocha 
Teresa Sacchet 
Kátia Favilla 
1. PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS SOCIODEMO-GRÁFICOS 
E DAS ROTINAS DE CRIANÇAS NOS CONTEXTOS URBANO E RIBEIRI-NHO 
AMAZÔNICO 
2. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E AS RELAÇÕES DE GÊNERO E GERAÇÃO 
NA AGRICULTURA FAMILIAR DO SEMIÁRIDO DO NORDESTE 
3. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA VOZ DAS PESCADORAS ARTESANAIS DO 
LITORAL DE PERNAMBUCO. 
4. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA FOME E CONSTRUÇ ÕES DE GÊ- 
NERO: O cotidian o das quebradeiras de coco baba çu da regi ão dos 
cocais - MA 
5. SEGURANÇA ALIMENTAR E ACESSO AOS PROGRAMAS DE DESENVOL-VIMENTO 
SOCIAL E COMBATE À FOME DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO 
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. 
6. DO PONTO DE VISTA DAS CRIANÇAS: Uma avalia ção do Programa 
Bolsa Família 
7. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ACESSO À EDUCAÇÃO ESCOLAR EM 
COMUNIDADES INDÍGENAS KAINGANG E GUARANI NO PARANÁ 
8. MULHER E TRABALHO NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA 
82 
94 
122 
148 
170 
202 
216 
238 
264 
TEMAS TRANSVERSAIS
avaliação de políticas públicas: ReFleXÕes acadêmicas sobRe o desenvolvimento social e o combate à Fome 
Introdução e temas transversaIs 
monitoRamento e avaliação de 
PROGRAMAS: UMA COMPILAÇÃO CONCEITUAL E 
METODOLÓGICA PARA ORIENTAR A PRODUÇÃO 
de conHecimento aplicado paRa 
APRIMORAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA1 
Paulo de Martino Jannuzzi2 
1 ESTE TExTo é vERSão REvISADA DE ouTRo PRoDuzIDo CoMo MATERIAL DE REFERÊNCIA BÁSICA PARA 
CuRSoS DE AvALIAção DE PRoGRAMAS SoCIAIS DA ESCoLA IBERoAMERICANA DE ADMINISTRAção E PoLÍTICAS PúBLICAS, 
oFERECIDoS NA ESCoLA NACIoNAL DE PoLÍTICAS PúBLICAS DESDE 2009, PuBLICADo EM DuAS PARTES (JANNuzzI 
2011A E 2011B). A REPRoDução DoS MESMoS DE FoRMA INTEGRADA E REvISADA NESSA CoLETâNEA JuSTIFICA-SE PELA 
oPoRTuNIDADE DE DISSEMINAR uMA CoMPILAção úTIL DE ASPECToS HISTÓRICoS, CoNCEITuAIS E METoDoLÓGICoS 
ACERCA DE MoNIToRAMENTo E AvALIAção DE PRoGRAMAS No PAÍS JuNTo À CoMuNIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA, 
INCITADA A PARTICIPAR MAIS DIRETAMENTE DA PRoDução DE CoNHECIMENTo PARA AS PoLÍTICAS E PRoGRAMAS Do 
MINISTéRIo DE DESENvoLvIMENTo SoCIAL E CoMBATE À FoME, PELoS EDITAIS DE FoMENTo À PESQuISA Do CNPQ. 
2 PRoFESSoR DA ESCoLA NACIoNAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS Do INSTITuTo BRASILEIRo DE GEoGRAFIA 
E ESTATÍSTICA, PESQuISADoR Do CNPQ No PRoJETo PQ “INFoRMAção ESTATÍSTICA E SISTEMAS DE MoNIToRAMENTo 
E AvALIAção DE PoLÍTICAS E PRoGRAMAS SoCIAIS No BRASIL E AMéRICA LATINA”. ATuALMENTE ExERCE A FuNção DE 
SECRETÁRIo DE AvALIAção E GESTão DA INFoRMAção (SAGI) Do MINISTéRIo DE DESENvoLvIMENTo SoCIAL E CoMBATE 
À FoME (MDS).
17 
INTRODUÇÃO 
A crescente atuação do Estado Brasileiro na promoção de políticas sociais, em es-pecial 
a partir da Constituição Federal de 1988, tem sido acompanhada, com algu-ma 
defasagem, pelo aprimoramento da capacidade de formulação e avaliação de 
programas públicos no país. De modo geral, os estudos de avaliação de demandas 
sociais, os diagnósticos propositivos para intervenções específicas, os sistemas de 
indicadores de monitoramento e as pesquisas de avaliação de programas vêm se 
tornando mais consistentes e presentes no cotidiano dos gestores públicos, ainda 
que em um ritmo menos veloz que o necessário e de forma bastante desigual 
pelas esferas de governo e regiões do país. Em que pesem os avanços na capaci-dade 
de gestão de programas, ainda são expressivos os contrastes que se podem 
observar, por exemplo, no acompanhamento dos programas nas áreas da saúde 
e da qualificação profissional, ou entre equipes de gestores do governo federal e 
técnicos de prefeituras de pequenos municípios no interior do país. 
Há mesmo quem diga – nos círculos acadêmicos e nas diferentes esferas da admi-nistração 
pública – que não é por falta de estudos, diagnósticos e indicadores que 
os programas sociais não conseguem alcançar os resultados e impactos esperados 
no Brasil. Afinal, é fato que centros de pesquisa, universidades, empresas de con-sultoria 
e equipes de técnicos do setor público têm produzido, de forma sistemá-tica 
ou por meio de projetos contratados, um amplo conjunto de trabalhos, artigos 
e estudos sobre diferentes aspectos da realidade social, referidos direta ou indire-tamente 
ao contexto de operação dos vários programas públicos. Entretanto tam-bém 
é verdade que muitos desses trabalhos, mesmo os contratados para subsidiar 
a formulação de programas específicos, acabam se revelando como diagnósticos 
descritivos bastante gerais, aplicáveis a diferentes programas sociais, com contri-buições 
certamente relevantes, mas desprovidas de informações mais particulares 
e “customizadas” para formatação de ações públicas mais dirigidas, no grau que se 
requer atualmente. Nos diagnósticos contratados pelo setor público, contribuem 
para isso, sem dúvida, as imprecisões ou lacunas dos termos de referência – que 
espelham, muitas vezes, a falta de clareza dos objetivos e natureza do programa 
público a ser implementado, fato decorrente, por sua vez, das deficiências de for-mação 
do gestor público – e a exiguidade de tempo e recursos para realização 
de levantamentos de campo específicos. Nesse contexto, acabam se justificando 
estudos diagnósticos mais gerais, baseados em trabalhos anteriores e em fontes 
de dados e pesquisas já disponíveis. 
Também é preciso reconhecer as limitações das pesquisas de avaliação de pro-gramas 
públicos como fontes de informação para readequação dos programas 
existentes ou proposição de novos. Nas avaliações de impacto, as constatações 
empíricas acerca da efetividade dos programas são, não raras vezes, ambíguas ou 
pouco consistentes. Nos casos em que se adotam delineamentos metodológicos 
quasi-experimentais, as condições para garantir a validade interna dos estudos 
acabam por inviabilizar a apropriação e a generalização dos resultados para ava-liações 
mais abrangentes dos programas3. 
3 WORTHERN et al ., 2004.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Vários estudos avaliativos focados no processo de implementação dos programas 
acabam tendo baixo poder de generalização devido às lacunas de conhecimento so-bre 
as atividades desenvolvidas e o papel dos agentes institucionais envolvidos nos 
programas, seja pelas limitações ou inexistência de sistemas de informações de mo-nitoramento, 
seja pelas decisões metodológicas quanto às técnicas, amostras e aos 
casos investigados, muitas vezes escolhidos mais em função dos prazos e recursos 
disponíveis do que pelas perguntas as quais se quer responder. Avaliações voltadas 
à análise da consistência teórica e do desenho lógico de programas – que poderiam 
gerar conhecimento mais generalizável na área – são menos frequentes ou, pelo 
menos, menos conhecidas do que outros tipos de estudos avaliativos no país. 
Enfim, em que pesem os avanços na área, é preciso reconhecer que a insatisfação 
com esses estudos ainda é mais frequente do que o desejável. Como já revelava 
Cotta há mais de dez anos: 
As metodologias de avaliação de programas sociais têm sido 
objeto de severas críticas. Basicamente, afirma-se que, na 
prática, as avaliações não subsidiam o processo decisório porque 
seus resultados são inconclusivos, inoportunos e irrelevantes. 
Inconclusivos em função das próprias limitações deste tipo 
de estudo, inoportunos devido à morosidade do processo 
avaliativo e irrelevantes porque não respondem às demandas 
informacionais de todos os agentes sociais afetos à intervenção.4 
Situação semelhante parece ter passado os Estados Unidos (EUA) nos anos 1970, a 
julgar pelo relatório do General Accounting Office, que, mobilizado por demanda do 
Senado americano em 1974, constatou que as informações das pesquisas sociais e 
estudos avaliativos financiados com recursos públicos não contribuíam para o de-senho 
das políticas públicas, pela dispersão e fragmentação de temas investigados, 
falta de coordenação e orientação do que era de interesse governamental investigar, 
dificuldade de acesso e compreensão dos relatórios de pesquisas.5 
Mesmo mais recentemente têm-se constatado limitações e problemas nos estu-dos 
avaliativos de programas públicos nos EUA, às vezes com desdobramentos até 
piores que os descritos por Cotta. De fato, como colocam Worthern et al. : 
De vez em quando, uma “avaliação” mal concebida ou mal 
executada produz informações que, no melhor dos casos, 
seriam enganosas e, no pior, absolutamente falsas. Embora 
essas ocorrências sejam raras, podem causar problemas graves. 
Como geralmente tem ar de respeitabilidade, essas avaliações 
não costumam ser questionadas, e o resultado é que decisões 
importantes sobre programas e serviços essenciais baseiam-se 
inadvertidamente em informações falaciosas.6 
4 COTTA, 1998, p.118. 
5 GAO, 1977. 
6 WORTHERN et al ., 2004, p.44.
19 
Conspiram para a conformação de tais problemas, entre tantos fatores, a crença 
desmesurada na capacidade de antecipação e implementação de programas por 
parte de técnicos de alto escalão que, ao não incorporar a contribuição de agentes 
envolvidos no trabalho, acabam por desenhar processos e rotinas que descon-sideram 
as distintas realidades de operação dos programas. Esse tecnocratismo 
ingênuo invariavelmente se esquece das dificuldades de articulação e colabora-ção 
dos três níveis de governo ou de pastas sociais em uma mesma esfera e das 
diferenças de capacidade de gestão e controle social país afora. Tão ou mais grave, 
também desconsidera, na formulação dos programas, a heterogeneidade socioe-conômica 
da população demandante, considerando-a como único público-alvo, 
para o qual se deve disponibilizar um mesmo conjunto de serviços, de Norte a Sul, 
do centro à periferia das cidades. Assim, com problemas nas fases iniciais do ciclo 
de gestão de programas – no reconhecimento das questões sociais e no desenho 
das intervenções idealizadas para mitigá-los – não se poderiam esperar resulta-dos, 
de fato, impactantes. 
Desconhecimento sobre o estágio de avaliabilidade dos programas é outro fator a 
minar a credibilidade dos instrumentos de monitoramento e avaliação. A prematu-ridade 
na encomenda de estudos avaliativos de resultados e impactos, quando se 
sabe que o programa ainda se encontra em fase de implantação ou com problemas 
de gestão; e a antecipação de avaliações externas, com natureza mais de auditoria 
em detrimento de avaliações de caráter mais formativo, conduzidas internamente 
e voltadas ao aprimoramento incremental do programa constituem-se problemas 
mais frequentes do que se poderia esperar. São aportados volumes significativos 
de recursos em pesquisas de avaliação, procurando garantir representatividade 
amostral de resultados em nível nacional, esquecendo-se de estruturar painéis 
ou sistemas de indicadores de monitoramento que – com todas as limitações de 
cobertura, mas com a tempestividade devida – permitiriam identificar boa parte 
dos problemas em tempo de serem corrigidos. 
De fato, um dos achados sistemáticos das avaliações de programas realizadas pelo 
Tribunal de Contas da União é a inexistência de sistemas de informação para o 
acompanhamento das atividades dos programas. É ilustrativa, nesse sentido, a 
constatação, reproduzida a seguir, acerca da avaliação do Programa Nacional Bi-blioteca 
na Escola (PNBE), operado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Es-colar 
(FNDE) do Ministério da Educação (MEC), com objetivo de distribuir acervo de 
livros para formação de bibliotecas nas escolas. 
O trabalho constatou que o FNDE tem mostrado grande 
eficácia operacional na distribuição dos acervos do Programa 
para as escolas beneficiadas. Foram atendidas 20 mil escolas 
em 1998 e 36 mil em 1999, com previsão de atendimento de 
139 mil escolas em 2002. 
Todavia, também se verificou que o PNBE não tem atividades 
de monitoramento e avaliação bem estruturadas. O MEC não 
dispõe de informações que permitam conhecer o nível de 
utilização dos acervos, bem como os problemas que podem estar 
afetando a efetividade do uso dos livros no desenvolvimento
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
escolar dos alunos nas escolas beneficiadas. Tal fato é mais 
preocupante justamente no momento em que aumenta a escala 
de atendimento do Programa. (TCU, 2002, p.10). 
Para isso contribui o estágio do conhecimento do campo aplicado de monitora-mento 
e avaliação de programas no Brasil. Enquanto nos EUA e em países euro-peus 
desenvolvidos a cultura de avaliação de programas já se encontra em estágio 
maduro, depois de mais de três ou quatro décadas de desenvolvimento, com mar-cos 
conceituais abrangentes e testados, com profissionais de formação multidisci-plinar 
e com instituições especializadas, no Brasil, a institucionalização do campo 
é bem mais recente. 
Como comentam Worthern et al.7, a cultura de monitoramento e avaliação de 
programas nos Estados Unidos – assim como os instrumentos de planejamento e 
programação orçamentária – começou a se fortalecer nos anos 1960 no Governo 
Lyndon Johnson, quando da estruturação de vários programas sociais em nível 
federal, no contexto do que se denominou Great Society, e da necessidade, por-tanto, 
de garantir melhor gestão dos programas públicos naquele país. Rossi et al.8 
identificam esforços sistemáticos em avaliação de programas sociais norte-ameri-canos, 
já a partir da década de 1930, como desdobramento do papel crescente do 
Estado americano no financiamento de serviços sociais (respondendo aos efeitos 
da crise de 1929). A avaliação de programas, que se concentrava, inicialmente, 
nas áreas de educação (sobretudo na investigação de programas de alfabetiza-ção), 
de saúde pública (nas ações de combate à mortalidade por doenças infecto- 
-parasitárias) e de qualificação profissional, passa, no pós-guerra, a abranger áreas 
como prevenção da violência juvenil, planejamento familiar, nutrição, programas 
habitacionais, desenvolvimento rural. 
No entanto, nos anos 1960, o campo da avaliação de programas passa por uma alta 
repentina e significativa, com a já mencionada ampliação dos programas sociais, e 
também, como lembram Rossi et al.9, com o avanço e a disseminação das técnicas 
aplicadas da pesquisa social, desenvolvidas nas universidades americanas. 
Ao contrário do que se poderia imaginar, nas décadas seguintes, a ênfase na 
desregulamentação e descentralização da prestação de serviços públicos e no 
questionamento sobre a pertinência e o tamanho dos programas sociais nos go-vernos 
republicanos conservadores, que assumiram o poder mais tarde, acabou 
por valorizar a prática da avaliação, ao disseminar a cultura de monitoramento 
e avaliação para governos estaduais, municipais e organizações não governa-mentais. 
Afinal, mesmo um “estado regulador” requer instrumentos de medi-ção 
de resultados para acompanhar a prestação dos serviços financiados com 
recursos públicos, até para justificar, com alguma base técnica e transparência, 
a descontinuidade de programas sociais “ineficazes” e redirecionar os gastos 
para outras áreas (como para as despesas militares da Guerra do Vietnã, no go-verno 
Nixon, e para defesa militar no Governo Reagan). Respondendo a essas 
7 Worthern et al ., 2004. 
8 Rossi et al ., 2004. 
9 Rossi et al ., 2004.
21 
demandas, comentam os autores que, nos anos 1970, são estruturados cursos 
de pós-graduação, de natureza disciplinar e, mais tarde, multidisciplinar, com 
forte ênfase em técnicas de pesquisa (quantitativas e qualitativas), abrindo a 
possibilidade para criação de uma comunidade profissional de avaliadores.10 
A avaliação de programas deixaria de ser preocupação apenas de cientistas so-ciais, 
em temas de pesquisas acadêmicas nas universidades, ganhando projeção 
e interesse na comunidade de gestores públicos como ferramenta para aprimora-mento 
dos serviços públicos. Essa mudança qualitativa da produção e apropriação 
de conhecimentos na área – que parece se processar neste momento no Brasil – é 
muito bem registrada pela seguinte passagem de Rossi et al.:11 
In its early years, evaluation was shaped mainly by the 
interests of social researchers. In later stages, however, the 
consumers of evatuation research exercised a significant 
influence on the filed. Evaluation in now sustained primarily 
by funding from policymakers, program planners, and 
administrators who use the findings and by the interests of 
general public and the clients of the programs evaluated. 
Evaluation results may not make front-page headlines, but 
they are often matters of intense concern to informed citizens, 
program sponsors, and decisionmakers, and those whose lives 
are affected, directly or indirectly, by the programs at issue. 
No caso brasileiro, atualmente, parte significativa da avaliação de programas pú-blicos 
tem sido realizada por equipes de centros de pesquisa e universidades, 
com boa experiência em análise de macropolíticas, conjuntura social ou projetos 
de pesquisa acadêmicos, mas, em geral, sem experiência na implementação real 
de programas e sem reunir o conhecimento multidisciplinar requerido para a abor-dagem 
dos problemas complexos em que os programas procuram atuar.12 Não há 
10 Vide , por exempl o, as publica ções , event os e sites das ass ocia ções pr ofissi onais ou acadêmicas de 
avalia ção nesses países , entre os quais : American Eval uati on Associati on (www .eval .org); Canadian Eval uati on 
Societ y (www .eval uati oncanada .ca ); European Eval uati on Societ y (www .europeane val uati on.org); e Societ é 
Fran çaise d’Eval uati on (www .afe .ass o.fr ). 
11 Rossi et al ., 2004, p.9. 
12 De fato, no Brasil , os trabalh os de avalia ção de pr ogramas públic os e se us autores enc ontram -se 
dispers os pelas principais ass ocia ções científicas disciplinares , tais como: Anpad (administra ção e administra ção 
pública ); Anpec (ec onomia ); Anp ocs (ciências sociais ); Anped (ed uca ção); Abep (est udos populaci onais ); Abet (est udos do 
trabalh o); Abrasc o (sa úde coleti va). Vale destacar alg uns dos principais periódic os em que se pode enc ontrar est udos 
avaliati vos: Revista do Ser viço Públic o; Revista Brasileira de Ciências Sociais ; Revista de Administra ção Pública ; Revista 
São Paulo em Perspecti va; Textos de Disc ussão (Ipea ); Planejament o e Políticas Públicas ; Pesq uisa de Planejament o 
Econômic o; Texto de Disc ussão Ence , entre outr os (alg uns desses periódic os est ão disp oní veis no portal www .sciel o. 
br . A partir dos an os 2000, foram criad os espa ços mais multidisciplinares para disc ussão e apresenta ção de est udos 
de avalia ção de políticas públicas , entre eles a Associa ção Brasileira de Avalia ção Educaci onal (www .aba ve.org.br ); a 
Rede Brasileira de Monit orament o e Avalia ção (http ://redebrasileirademea .ning .com); o portal Políticas Públicas em 
Foco (www .boletim -fundap .cebrap .org.br ), mantid o pela Fundap e Cebrap ; o síti o do Trib unal de Contas da Uni ão (www . 
tcu.gov.br ) e da Contr olad oria -geral da Uni ão (www .cgu.gov.br ), al ém dos fór uns criad os pel os pr ogramas de pós - 
grad uação lat o e strict o sens u, acadêmic os e pr ofissi onais , e das linhas de pesq uisa nesse sentid o em pr ogramas de 
pós -grad uação em administra ção pública , ec onomia social , sa úde coleti va, direit o etc .
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
dúvidas de que, em geral, essas avaliações de programas contam com equipes 
competentes no emprego das boas práticas da pesquisa social e no uso rigoroso 
de técnicas quantitativas e qualitativas de coleta e análise de dados. Como nas 
pesquisas acadêmicas, é fundamental garantir o rigor metodológico nos estudos 
avaliativos, para permitir conhecimento mais circunstanciado dos problemas, as 
soluções idealizadas para mitigá-los e para conferir legitimidade técnica-científica 
na avaliação da ação governamental. Mas, como já alertado em um dos primeiros 
manuais abrangentes de avaliação de programas no início dos anos 1970, progra-mas 
sociais são “objetos de pesquisa” inerentemente difíceis de serem tratados, 
pelo ambiente muitas vezes inóspito e pouco colaborativo, pelo contexto político 
menos ou mais favorável, pela natureza fugidia das perguntas e questões que o 
avaliador deve responder, pela menor ou maior disponibilidade de dados, pelo 
tempo e recursos disponíveis para conduzir análises mais consistentes.13 Em ma-nuais 
mais recentes, como os já citados de Worthern et al. e Rossi et.al., recomen-da- 
se que os estudos avaliativos sejam realizados por pesquisadores com conhe-cimento 
técnico e metodológico apropriado à temática em questão, mas também 
com experiência empírica anterior e, sobretudo, com desprendimento para inovar 
e improvisar nas diversas circunstâncias e dificuldades que insistem em aparecer 
no cotidiano prático da área. Não é incomum, pois, que estudos avaliativos realiza-dos 
por “puristas metodológicos” cheguem a resultados já conhecidos do gestor 
de programas, ou concluam – com ingênua assertividade – acerca da necessidade 
de descontinuidade do programa avaliado, pela suposta baixa efetividade apura-da, 
segundo suas escolhas metodológicas sobre o que investigar e como fazê-lo. 
Essas considerações iniciais – um tanto extensas, mas necessárias para contex-tualização 
e justificativa da discussão aqui pretendida – procuram situar o qua-dro 
de deficiência de sistemas de monitoramento para acompanhar as ações e os 
programas governamentais no Brasil e os frequentes problemas de especificação 
de pesquisas de avaliação desses programas na gestão pública no país. Não é 
tão comum encontrar, nos gabinetes e escritórios de gestores e técnicos do setor 
público, especialmente em nível estadual e dos grandes municípios, sistemas de 
monitoramento que permitam acompanhar, por meio de um conjunto consistente 
e atualizado de indicadores, a ação governamental, desde a alocação do gasto 
público ao impacto junto aos públicos beneficiários. Muitos são os exemplos de 
pesquisas de avaliação que, mesmo motivadas por preocupação legítima e meri-tória 
com a eficácia e efetividade do gasto público, revelam, infelizmente, resul-tados 
triviais, metodologicamente questionáveis ou com baixa apropriação para 
reformulação dos programas. 
Este texto procura trazer alguma contribuição de natureza conceitual e metodoló-gica 
para ajudar a “debelar os males” apontados anteriormente; isto é, para auxiliar 
na estruturação de sistemas de monitoramento e na especificação de pesquisas 
de avaliação que realmente se prestem ao objetivo de permitir o acompanhamen-to 
contínuo e o efetivo aprimoramento da ação governamental e, portanto, da ges-tão 
de programas. 
13 WEISS, 1972.
23 
Inicia-se com uma exposição do Ciclo de Formulação e Avaliação de Políticas Pú-blicas 
e Programas, para em seguida discutir como os sistemas de indicadores de 
monitoramento e as pesquisas de avaliação podem e devem se integrar naquele. 
Esse caminho escolhido parte da hipótese de que as dificuldades apontadas no 
monitoramento e avaliação de programas no Brasil – e as frustrações daí decor-rentes 
– são consequência, em boa medida, de desenvolvê-los seguindo modelos 
e prescrições muito particulares e padronizados, sem a devida “customização” que 
deveriam ter em função do estágio de maturidade dos programas – ou do momen-to 
do “ciclo de vida” em que eles se encontram –, ou, ainda, de conduzi-los sem 
uma análise prévia do grau de avaliabilidade dos programas e sem uma compre-ensão 
de que essas atividades se integram a processos mais amplos, igualmente 
importantes, da gestão de programas. 
Forçando um pouco o argumento para torná-lo mais claro – ainda que em prejuízo 
do reconhecimento do esforço meritório e do trabalho competente observado em 
diversos setores da administração pública brasileira –, o fato é que as lacunas de 
formação e o pouco domínio de conceitos e técnicas no campo de monitoramento 
e avaliação, na comunidade de gestores, acabam trazendo problemas na especifi-cação 
dos instrumentos de monitoramento e avaliação das ações governamentais. 
Isso leva às conhecidas frustrações com resultados tão ansiosamente esperados e 
aos questionamentos sobre a utilidade dos estudos. 
Explicitando melhor a motivação para elaboração desse texto – agora sob o risco 
de simplificar demais a natureza e minimizar o alcance dos estudos avaliativos 
conduzidos por colegas pesquisadores nas universidades e centros de pesquisa 
no país –, a abordagem marcadamente disciplinar da pesquisa aplicada no campo, 
a sobrevalorização de algumas abordagens e modelos específicos de avaliação, o 
desconhecimento do contexto de operação da ação pública e da forma com que 
os resultados dos estudos podem ser usados mais efetivamente pelos gestores 
são elementos que também contribuem para conformação de tal quadro. Este tex-to 
procura, assim, em uma perspectiva modesta em substância, mas comprometida 
em seu sentido público, colaborar para a melhoria na especificação da demanda 
de instrumentos de monitoramento e pesquisa de avaliação por parte da comuni-dade 
de gestores públicos e na estruturação dos serviços a serem oferecidos pela 
comunidade de pesquisadores acadêmicos e profissionais. 
Antes de passar a uma explicação mais detalhada de cada etapa desse ciclo, vale 
formalizar dois termos citados correntemente no texto – políticas públicas e pro-gramas. 
Isso é importante para circunstanciar os limites do campo de diálogo es-tabelecido 
neste texto, já que avaliação de políticas públicas e avaliação de pro-gramas 
públicos são termos muito imbricados, mas referem-se a contextos muito 
diferentes (em amplitude) da análise da intervenção estatal. 
Evitando entrar em uma discussão muito extensa sobre os diferentes significados 
do termo – sistematizados em Villanueva14 – política pública é, na definição de 
Nascimento15, o conjunto de decisões tomadas por aqueles que detêm competên- 
14 VILLANUEVA, 2006. 
15 NASCIMENTO, 1991.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
cia legal para deliberar em nome da coletividade – as instituições de Estado – vi-sando 
à solução de um problema ou ao redirecionamento de uma tendência, com 
a intenção de orientar sua evolução para um fim estabelecido como o desejável. 
Como esclarece Saravia, em 
[...] uma perspectiva mais operacional, poderíamos dizer que 
ela [a política pública] é um sistema de decisões públicas 
que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, 
destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários 
setores da vida social, por meio da definição de objetivos e 
estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários 
para atingir os objetivos estabelecidos.16 
As decisões que conformam tal política pública – distributiva, redistributiva ou 
regulatória, universal ou focalizada – assumem diferentes formatos: podem ser 
enunciados de diretrizes estratégicas de governo, leis e decretos normativos, 
que especificam de forma mais clara e operacional tais diretrizes, a criação de 
organizações ou programas que vão conferir operacionalidade às diretrizes, leis 
e normas.17 
O programa público é, pois, um dos instrumentos operacionais das políticas pú-blicas. 
Mais especificamente, trata-se de um conjunto sistêmico de ações pro-gramadas 
e articuladas entre si, com objetivo de atender uma demanda pública 
específica, encampada na agenda de prioridades do Estado ou governo quanto a 
essas políticas. Assim, um programa social é um conjunto de atividades direcio-nadas 
para solucionar um problema vivenciado pela sociedade, em seu conjunto 
ou por grupos.18 
Avaliação de políticas públicas, ou melhor, análise de políticas públicas, termo 
preferido por Owen19, é, pois, uma atividade muito mais ampla que a avaliação de 
programas. Trata do contexto político-social de surgimento da política, dos ato-res 
participantes. Volta-se mais ao esclarecimento de seu processo de construção 
do que da recomendação prática de como aprimorá-la, constituindo, na realida-de, 
um campo de investigação mais propriamente acadêmico que a perspectiva 
técnica-profissional em que se realiza a avaliação de programas. Vale observar 
que há Programas, inclusive, com escopo temático e escala de operação muito 
mais abrangente que o usual, revelando-se mais como um guarda-chuva de outros 
programas mais específicos. Outros podem ser projetos de curto alcance, ou ativi-dades 
que visam à produção de um produto ou serviço finalístico ou da área-meio. 
A discussão aqui empreendida é suficientemente ampla para contemplar essas 
modalidades. 
16 SARAVIA, 2006, p.29. 
17 VILLANUEVA, 2006. 
18 ROSSI et al ., 2004. 
19 OWEN, 2007.
25 
O Ciclo de Políticas Públicas e Programas 
Nos manuais clássicos de Ciência Política, o processo de formulação de políticas 
públicas tem sido apresentado recorrentemente pelo ciclo de etapas sucessivas 
(Policy Cycle), com mais ou menos estágios, como ilustrado no Diagrama 120. Em 
que pesem as críticas de longa data quanto à forma simplificada com que esse 
diagrama apresenta o processo político e sua própria veracidade empírica, a se-paração 
em etapas se presta aos objetivos de evidenciar, ao longo do processo, 
ênfases diferenciadas no planejamento, na operação ou avaliação dos programas. 
Justifica-se ainda para fins didáticos e para orientar o recorte analítico na pesquisa 
acadêmica na área.21 
Nesse modelo, a primeira etapa – Definição da Agenda Política (Agenda-Setting) 
– corresponde aos múltiplos caminhos e processos que culminam com o reconhe-cimento 
de uma questão social como problema público e da necessidade da ação 
governamental para sua solução; isto é, a legitimação da questão social na pauta 
pública ou agenda das políticas públicas do país, em determinado momento. A 
etapa seguinte – Formulação de Políticas e Programas (Policy Formulation) – refe-re- 
se aos processos e atividades relacionados à construção de possíveis soluções, 
encaminhamentos e programas para lidar com a questão recém-legitimada na 
agenda. É preciso, então, em sequência – na Tomada de Decisão Técnica-Política 
(Decision Making) –, escolher o rumo a seguir, de ação efetiva ou não, decidindo-se 
por uma ou algumas das alternativas formuladas. A quarta etapa – Implementa-ção 
de Políticas e Programas (Policy Implementation) – corresponde aos esforços 
de execução da ação governamental, na alocação de recursos e desenvolvimento 
dos processos previstos nas alternativas e programas escolhidos anteriormente. 
Por fim, é preciso analisar se os esforços empreendidos estão atuando no sentido 
esperado de solucionar o problema original – etapa de Avaliação das Políticas e 
Programas (Policy Evaluation). É necessário avaliar se é preciso realizar mudanças 
nos programas implementados para garantir sua efetividade; descontinuá-los, se o 
problema deixou de compor a agenda; ou então adaptá-los a uma nova realidade, 
reiniciando o ciclo. 
É oportuno registrar que a avaliação, como etapa do ciclo, realiza-se após a imple-mentação. 
Trata-se de um momento de natureza mais reflexiva para continuidade 
ou não do programa. Distingue-se, portanto, das atividades de monitoramento e 
avaliação, que se realizam mediante os sistemas de indicadores e as pesquisas de 
avaliação, instrumentos investigativos que podem ser empregados a qualquer mo-mento 
do ciclo, conforme discutido mais adiante. Denominar essa etapa decisiva 
do ciclo como avaliação somativa talvez ajudasse a evitar o duplo sentido que o 
termo assume na área. 
20 Como apresentad o nos vári os te xtos re unid os na vali osa colet ânea sobre políticas públicas 
organi zada por Sara via e Ferrare zi (2006), publicada pela ENAP e disp onibili zada em se u síti o eletrônic o 
(www .enap .gov.br ), o Cicl o de Políticas Públicas pode ser descrit o com um númer o mai or ou men or 
de etapas . De modo geral , disting uem -se pel o men os três macr oetapas : form ula ção (na qual estaria a 
forma ção da agenda ), a implementa ção e a avalia ção. Essa publica ção, organi zada seg und o as etapas do 
cicl o, tra z artig os clássic os que apr ofundam a vasta disc ussão en volvida em cada uma delas . 
21 NASCIMENTO, 1991.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
DIAGRAMA 1: O CICLO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS PÚBLICOS 
A agenda política corresponde ao conjunto de assuntos e problemas que os ges-tores 
públicos e a comunidade política entendem como mais relevantes em dado 
momento e, não necessariamente, à lista de preocupações da sociedade ou des-taques 
da imprensa.22 Afinal, o reconhecimento de uma questão social como pro-blema 
de governo ou Estado não é um processo simples e imediato, que responde 
automaticamente às estatísticas disponíveis, por mais reveladoras que sejam da 
gravidade da questão, quando comparada a outros países ou a outros momentos 
do passado. Não é a vontade de um técnico do setor público, um pesquisador aca-dêmico 
ou governante eleito, portador de conhecimento empírico consistente da 
realidade ou com uma visão ousada, que garante imediatamente sua incorporação 
na agenda formal de governo. Como coloca Parada, “no toda idea entra a la agen-da. 
No todos temas de la agenda se convierten em programas”.23 
Quando existe a convicção de que um problema social precisa ser dominado po-lítica 
e administrativamente, é que ele se transforma em uma questão pública.24 
Se parece haver solução técnica viável e factível para determinada questão social, 
essa entra mais facilmente na agenda. Afinal, a estrutura do setor público, pelos 
mecanismos institucionais existentes e operantes, é um ambiente que “digere” 
inovações a seu próprio tempo e estilo.25 
22 JANN; WEGRICH, 2007. 
23 PARADA, 2006, p.73. 
24 FREY, 1997. 
25 A resistência à mudan ça e à inc orp ora ção de in ovações não é pr oblema só no set or públic o, 
mas tamb ém nas empresas pri vadas . Os mecanism os de moti vação, press ão e coer ção nessas últimas 
acabam mobili zand o mudan ças , às vezes a ele vad os cust os pess oais e instit uci onais . No set or públic o, os 
instr ument os para mobili zação en volvem , em tese , mais coordena ção de esf orços e convenciment o, até 
porque as resistências podem ser bastante legítimas . Ou seja , nem toda mudan ça é necessariamente uma 
in ovação “positi va”. Para o bem ou para o mal , são conhecid os os cas os em que a resistência da burocracia 
pública acaba re vertend o ou minand o pr opostas consideradas muit o ousadas .
27 
Há várias interpretações de como a agenda é construída. Em todas as perspectivas, 
ela é entendida como um processo coletivo e conflituoso de definição, como as-sinalam 
Howlett & Ramesh.26 Vai sendo formada por meio de diferentes mecanis-mos 
de pressão externa de grupos organizados em partidos políticos, sindicatos, 
associações patronais, imprensa e outras instituições, pelas temáticas por eles en-tendidas 
como relevantes; por iniciativa interna do governo e mobilização social 
em função de compromissos assumidos nas eleições; pela atuação da burocracia 
pública no encaminhamento das demandas setoriais etc. 
Os atores políticos se constituem em elementos catalisadores desse processo. 
Eles são diversos e possuem características distintas: políticos e burocratas; em-presários, 
trabalhadores/sindicatos, servidores públicos e os meios de comunica-ção. 
27 Grandes empresários, individualmente ou por meio de seus lobbies (gru-pos 
de pressão), encaminham suas demandas e pressionam os atores públicos, 
nas decisões governamentais, em favor de seus interesses. Outro ator político de 
grande importância são os agentes internacionais, tais como o Fundo Monetário 
Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU), a 
Organização Mundial do Comércio (OMC) etc.; ou ainda os países com os quais o 
Brasil mantém relações políticas. Esses atores podem afetar não apenas a econo-mia, 
como também a política interna do país.28 Além desses, os meios de comuni-cação 
são outros agentes importantes no processo – de modo especial, a televisão, 
com difusão massificada em todas as camadas da população – pois dispõem de 
recursos para influenciar a opinião pública na formação das demandas.29 Enfim, 
as organizações políticas – partidos, sindicatos, grupos de interesse – são funda-mentais 
para que as demandas entrem na agenda política do governo e para que, 
uma vez nela presentes, possam se transformar em ações e programas concretos. 
A amplitude da agenda política estaria condicionada também ao nível de desen-volvimento 
econômico e tecnológico do país, já que tais fatores, ao viabilizar ga-nhos 
crescentes de produtividade na economia, permitiriam o atendimento de de-mandas 
de grupos de interesse organizados, pela ampliação da oferta, cobertura e 
diversidade dos serviços sociais.30 O ritmo de constituição de tal agenda de bem- 
-estar social seria potencializado, em contextos de maior liberdade e participação 
política, com maior atuação de partidos políticos, sindicatos, imprensa e outros 
grupos de interesse. Os níveis de urbanização e envelhecimento populacional 
também seriam outros condicionantes importantes para entender a formação da 
agenda política, pela visibilidade e concretude que conferem aos problemas so-ciais 
deles decorrentes. 
26 HOWLETT & RAMESH, 2003. 
27 RUA, 1998. 
28 Idem , ibidem . 
29 FREY, 1997. 
30 CAREY, 2006.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Na etapa da formulação da política, os problemas, as propostas e demandas ex-plicitadas 
na agenda transformam-se em leis, programas e propostas de ações. 
Isto é, a formulação de política envolve a busca de possíveis soluções para as 
questões priorizadas na agenda. Nesse momento, os elementos operacionais da 
política em questão precisam ser evidenciados: diretrizes estratégicas, propos-tas 
de leis, decretos normativos, programas e projetos. Em uma visão simpli-ficada 
– e um tanto romântica e ingênua, como diria Charles Lindblom –, tais 
programas e propostas seriam elaborados pelo emprego de técnicas gerais de 
planejamento de projetos; conhecimentos setoriais específicos; análise de via-bilidade 
política, de custo-benefício ou custo-efetividade das soluções; revisão 
crítica de experiências anteriores e boas práticas identificadas. Essas tarefas são 
conduzidas por técnicos do setor público, com maior ou menor participação de 
consultores externos, seguindo orientações emanadas de gestores públicos no 
topo da hierarquia. 
Em função da natureza do problema e orientação geral de governo, os programas 
propostos se classificariam em ações de cunho distributivo, redistributivo ou re-gulamentório. 
31 Na realidade, essa fase não está tão desvinculada do cotidiano 
da política ou tão isolada das influências das propostas dos grupos de interesse, 
como se supõe. Muitas vezes, as propostas de encaminhamento de soluções che-gam 
junto com as pressões para introduzir a questão na agenda formal de governo. 
Se não, colocada a questão, há sempre atores com maior ou menor influência na 
formatação dos possíveis programas e ações.32 
Levantadas as diferentes alternativas para uma dada questão social, é preciso es-colher 
qual deverá ser adotada. Enquanto que na definição da agenda política e 
formulação de programas a participação de agentes não pertencentes ao governo 
ou Estado desempenha papel central, a tomada de decisão envolve os gestores e 
técnicos mais diretamente relacionados à política ou ao programa. Esse é o ônus 
e o bônus do exercício da atividade pública. Isso não significa que outros agentes 
e atores não estejam ativos no processo, de modo a influenciar a decisão em um 
ou outro sentido, introduzindo – legitimamente em muitos casos – considerações 
de ordem política em rotinas de cunho mais eminentemente técnico. Como bem 
colocam Howlett & Ramesh: 
These actors can and do, of course, engage in various kinds 
of lobbying activities aimed at persuading, encouraging, 
and sometimes even coercing authoritative office-houlders 
to adopt options of which they approve. However, unlike 
office-holders, those other actors have, at best, a voice in the 
decision-making process, but they do not have a vote per se.33 
31 HOWLETT & RAMESH, 2003 
32 JANN; WEGRICH, 2007. 
33 HOWLETT & RAMESH, 2003, p.163.
29 
Chega então o momento da implementação dos programas, projetos e ações pontuais 
ou mais abrangentes. A fase de Implementação é o momento em que a política públi-ca 
começa a ser executada, em que os recursos alocados passam a se transformar em 
ações capazes de agir e mudar certa realidade. Aqui, a política adquire uma concre-tude 
objetiva maior e, por isso, começa a revelar mais explicitamente as dificuldades 
de sua introdução e operação pelos agentes encarregados de “pôr a mão na massa”.34 
Trata-se da gestão das ações para fazer uma política sair do papel e funcionar efetiva-mente, 
compreendendo o conjunto de ações realizadas, por grupos ou atores de na-tureza 
pública ou privada, para a consecução de objetivos definidos. Envolve progra-mação 
de atividades, previsionamento de recursos financeiros, alocação de recursos 
humanos, mobilização de agentes, interlocução com atores estratégicos, manejo dos 
mecanismos que assegurem a governabilidade das atividades e correção de cursos, 
caso se identifiquem obstáculos ou surpresas não antecipadas. 
É na avaliação – ou melhor, na avaliação somativa – que são confrontados os resul-tados 
esperados com os resultados alcançados. É o momento em que se dá um re-torno 
à etapa inicial de formulação, com correções no plano de ação, caso seja uma 
política de ordem contínua; ou quando se decide pelo encerramento da política. É 
também uma etapa de verificação dos impactos desejados e indesejados. Trata-se 
de verificar os efeitos obtidos para deduzir consequências indesejadas nas ações 
e programas futuros. Como bem coloca Frey,35 a avaliação é imprescindível para o 
desenvolvimento e a adaptação contínua das formas e dos instrumentos de ação 
pública, o que pode ser denominado como a fase de “aprendizagem política”. 
O ciclo de políticas públicas tal como descrito é, certamente, um modelo idealiza-do, 
com aderência bastante limitada ao cotidiano verificado no Brasil ou em outros 
países. Como bem observa Saravia, “o processo de política pública não possui uma 
racionalidade manifesta. Não é uma ordenação tranquila na qual cada ator social 
conhece e desempenha o papel esperado”.36 Pelo que sugere Lindblom,37 atuali-zação 
da agenda, formulação de políticas e programas, implementação e avaliação 
seriam estágios permanentes e concomitantes do processo político. A atualização 
da agenda política e as inovações dos programas seriam, de fato, muito mais in-crementais 
e contínuas do que gostariam os gestores públicos. Tampouco haveria, 
segundo Parada, um momento de avaliação cabal das políticas e programas, sendo 
“[...] más habitual que cambien o se combinen com outras. Se há llegado a decir 
que lãs políticas públicas son imortables”.38 
Boa parte da crítica feita a esse modelo se refere ao fato de ele sugerir que a 
administração pública, seus gestores, os atores políticos e os técnicos atuem de 
forma bastante sistemática e cooperativa, como se estivessem todos envolvidos 
na resolução de um problema consensualmente percebido, empregando métodos 
34 NASCIMENTO, 1991 
35 FREY, 1997. 
36 SARAVIA, 2006, p.29. 
37 LINDBLOM, 2006. 
38 PARADA, 2006, p.72.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
racionais e objetivos na busca da solução, de acordo com uma sequência linear 
de etapas bem definidas. Como diria Lindblom,39 mais uma vez, o imperativo da 
racionalidade técnica no processo, a análise exaustiva dos problemas, a busca de 
soluções ótimas e a crença no poder revelador e conciliador do discurso técnico- 
-científico – tão presentes nos órgãos de planejamento público – não seriam em-piricamente 
constatáveis, nem factíveis e muito menos desejáveis. 
Na realidade, a formulação de políticas configura-se como um processo que envol-ve 
a interação de muitos agentes, com diferentes interesses. É marcada por apoios 
entusiasmados de alguns, resistências legítimas ou não de outros. Está repleta de 
avanços e retrocessos, com desdobramentos não necessariamente sequenciais e 
não plenamente antecipáveis. Como observam Jann & Wegrich: 
Policy process rarely features clear-cut beginnings and 
endings. At the same time, policies have always been 
constantly reviewed, controlled, modified and sometimes 
even terminated; policies are perpetually reformulated, 
implemented, evaluated and adapted. […] Moreover, policies 
do not develop in a vacuum, but are adopted in a crowded 
policy space that leaves little space for innovation […].40 
Contudo, na visão de Howlett & Ramesh,41 esse modelo de representação tem a 
grande virtude de facilitar o entendimento do processo complexo de interação 
de diversos agentes, nos múltiplos estágios por que passa a formulação de políti-cas 
públicas, oferecendo um marco metodológico geral para análises isoladas de 
cada etapa do processo ou das relações de cada uma com as demais, à frente ou 
à jusante. Esse modelo seria também suficientemente geral para ser aplicado no 
entendimento do processo na maioria dos âmbitos e contextos de formulação de 
políticas e programas – em nível federal, estadual, local e mesmo setorial. 
Jann & Wegrich42 acrescentam ainda que o sucesso e a “resiliência” desse mode-lo 
clássico às críticas de pesquisadores acadêmicos é que ele parece como um 
modelo prescritivo ideal a ser adotado, em que gestores eleitos governam com 
corpos burocráticos dotados de grande capacidade de diagnóstico de problemas, 
com posturas ativas e inovadoras na formulação de programas, operando com ra-cionalidade 
técnica na tomada de decisões, com controle efetivo das atividades 
na implementação dos programas públicos e objetividade na avaliação desses. 
Os sistemas de indicadores de monitoramento no Ciclo 
de Políticas e Programas 
A preocupação com a construção de indicadores de monitoramento da ação go-vernamental 
é tão ou mais antiga que a própria avaliação de programas públicos, 
39 LINDBLOM, 2006. 
40 JANN; WEGRICH, 2007, p.44-45. 
41 HOWLETT & RAMESH, 2003. 
42 JANN & WEGRICH, 2007.
31 
se forem consideradas as medidas de performance mais geral do setor pú-blico 
baseadas na entrega de obras e produtos e na computação de indi-cadores 
de custos de serviços, a partir da execução orçamentária. Como 
registram Mcdavid e Hawthorn em livro que procura oferecer uma visão inte-grada 
entre avaliação de programas e medição do desempenho governamental: 
While we have tended to situate the beginnings of 
performance measures in the United States, in the 1960s, with 
the development of performance management systems such 
as programmed planned budgeting systems (PPBS) […] there is 
good evidence that performance measurement and reporting 
was well-developed in some American local governments 
early in the 20th century.43 
Os autores citam as iniciativas de alguns governos locais nos EUA, antes da 2ª 
Guerra Mundial, na elaboração de relatórios com computação regular de medi-das 
de eficiência dos serviços públicos então oferecidos, como a construção e 
manutenção das ruas e rodovias, distribuição de água e recolhimento de lixo. Os 
produtos e serviços disponibilizados pelo setor público municipal eram bastante 
simples e tangíveis, assim como a contabilização dos custos para sua produção. 
Mas foi a introdução das técnicas de programação orçamentária por programas no 
Governo Kennedy que marcaria um momento de maior aprimoramento na medi-ção 
do desempenho – expresso por indicadores de eficiência e efetividade – na 
esfera federal americana. Ao propor a estruturação do orçamento segundo conjun-to 
de atividades e programas afins – agora bem mais complexos que os oferecidos 
pelos municípios na primeira metade do século XX – e não segundo as agências e 
organizações que as executavam, esperava-se conseguir apurar resultados e cus-tos 
mais consistentes dos serviços públicos disponibilizados e, portanto, medidas 
de eficiência mais precisas.44 
Em que pesem o fracasso na implementação do orçamento-programa – na vincula-ção 
entre recursos-produtos ao nível de programas – e o contexto de crise fiscal do 
Estado, comentam os autores que a orientação voltada à medição dos resultados 
ganhou força nos anos 1970 e na década seguinte. Os governos conservadores 
desse período (em especial na Inglaterra, com Thatcher, e nos EUA, com Reagan) 
imprimem reformas no setor público, que vieram a ser conhecidas como o movi-mento 
da Nova Administração Pública, preconizando a adoção de instrumentos de 
controle e gestão de resultados do setor privado. 
Sem entrar na discussão acerca dos excessos, limitações e aspectos meritórios de 
tal movimento – debate esse já empreendido no Brasil por vários autores, com 
muito mais competência, autoridade e espaço do que o disponível para este tex-to 
–, o legado de preocupação com a transparência e responsabilização pública 
criou oportunidades para aprimoramento da gestão de programas, seja para a 
43 MCDAVID; HAWTHORN, 2006, p.283. 
44 MCDAVID; HAWTHORN, 2006.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
estruturação de sistemas de indicadores de monitoramento, seja para a realização 
das pesquisas de avaliação. Neste tópico do texto, discute-se o primeiro desses 
instrumentos de gestão: os sistemas de monitoramento. 
O modelo idealizado de “ciclo de vida” de políticas e programas apresentado ante-riormente 
é uma referência conceitual interessante para ilustrar como os sistemas 
de indicadores de monitoramento podem ser estruturados e como as pesquisas 
de avaliação podem ser especificadas de forma a potencializar seu emprego na 
gestão dos programas. A proposta básica desta seção é mostrar a importância de 
se dispor de indicadores relevantes e periodicamente atualizados para acompa-nhar 
as atividades e a produção de serviços dos programas, que permitam corri-gir 
desvios, reprogramar atividades ou mesmo especificar pesquisas de avaliação 
para entender por que determinados processos não estão se encaminhando no 
sentido idealizado originalmente. 
Como discutido em texto anterior,45 as atividades de cada etapa do ciclo apoiam-se 
em um conjunto específico de indicadores. Na definição da agenda, os indicadores 
são recursos valiosos para dimensionar os problemas sociais, servindo como ins-trumentos 
de advocacy e pressão de demandas sociais não satisfeitas. Indicadores 
produzidos pelas instituições oficiais de estatísticas – sobretudos os computados 
a partir de censos demográficos e pesquisas amostrais regulares – prestam-se bem 
a esse papel, pela legitimidade que gozam perante diferentes públicos. No Brasil, 
o relatório “Síntese de Indicadores Sociais”, publicado anualmente pelo IBGE, é 
uma referência importante nesse sentido, provocando grande interesse na mídia 
quando de sua divulgação.46 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) compu-tado 
para países, municípios, mulheres e negros é outro bom exemplo de como 
uma medida simples pode mobilizar os veículos de comunicação e recolocar anu-almente 
o debate sobre desigualdade social e os impactos das políticas públicas 
na mídia e nas esferas de governo.47 
Na elaboração dos diagnósticos para formulação de programas, os indicadores 
são imprescindíveis para qualificar os públicos-alvo, localizá-los e retratá-los de 
modo tão amplo e detalhado quanto possível. É preciso adequar as intervenções 
às características e necessidades dos demandantes dos programas. De modo ge-ral, 
na elaboração de diagnósticos socioeconômicos propositivos para programas 
públicos, empregam-se indicadores de várias áreas temáticas analíticas ou de atu-ação 
governamental. Para desenvolver programas no campo da educação básica, 
por exemplo, é preciso conhecer não apenas as condições de acesso à escola, a 
infraestrutura escolar, o desempenho dos alunos, mas também aspectos relacio-nados 
às condições de vida dos estudantes, como moradia, nível de pobreza e 
45 Jann uzzi (2005), disp oní vel para downl oad na Revista do Ser viço Públic o, v.56, n.2, em www . 
enap .gov.br . Outra referência para apr ofundament o nesse camp o é Jann uzzi (2004). 
46 Essa publica ção do IBGE, assim como di versas outras da instit uição, está disp oní vel para 
downl oad em www .ibge .gov.br . 
47 Uma disc ussão dos limites e potencialidades do IDH pode ser vista em Guimar ães e Jann uzzi 
(2005).
33 
renda familiar, acesso a serviços de saúde, escolaridade dos pais, fatores esses que 
certamente podem afetar ou potencializar as ações programáticas específicas.48 
Indicadores construídos a partir dos censos demográficos são particularmente 
úteis nessa fase, pela amplitude do escopo temático investigado e pela possibi-lidade 
de desagregação territorial ou por grupos sociodemográficos específicos. 
O Censo Demográfico 2010 potencializará ainda mais essas duas características 
– escopo e desagregabilidade –, constituindo-se em marco importante para reava-liação 
das demandas sociais da população brasileira, nesse momento de amplia-ção 
da estrutura de proteção social no país. 
Na seleção de alternativas programáticas idealizadas para atender à questão pú-blica 
colocada na agenda e eleger prioridades de intervenção, é preciso dispor de 
indicadores que operacionalizem os critérios técnicos e políticos definidos. Indi-cadores 
sintéticos, como o já citado Índice de Desenvolvimento Humano, o Índice 
de Desenvolvimento da Educação Básica, o Índice da Pegada Humana (Footprint 
Index) ou as classificações geradas por técnicas de análise multicritério podem ser 
úteis para apoiar decisões nessa fase do ciclo,49 como discutido em Scandar et al.50 
e Jannuzzi et al.51 
Para acompanhar a implementação dos programas e, posteriormente, para ges-tão, 
quando eles entrarem em plena operação, são necessários indicadores que 
permitam acompanhar regularmente as ações programadas, do previsionamento e 
alocação do gasto à produção dos serviços e, idealmente, aos eventuais resultados 
e impactos esperados quando da idealização dos programas. São os indicadores 
que estruturam processos formais de monitoramento, entendido, nas palavras de 
Coutinho, como “um processo sistemático e contínuo que, produzindo informa-ções 
sintéticas e em tempo eficaz, permite rápida avaliação situacional e a inter-venção 
oportuna que confirma ou corrige as ações monitoradas”.52 
Dispostos em painéis ou em sistemas informatizados, os indicadores de monitora-mento 
devem ser atualizados com regularidade e tempestividade adequada à to-mada 
de decisão. Idealmente, esses indicadores devem ser específicos e sensíveis 
às ações programadas, a fim de se tornarem, de fato, úteis para inferir se o progra-ma 
está sendo implantado conforme planejado ou para permitir as correções de 
rumo (aspectos que só poderão ser comprovados mais precisamente por meio de 
pesquisas de avaliação específicas, durante ou após a implantação). 
48 Um bom exempl o de indicad ores para diagnóstic os de pr ogramas set oriais é dem onstrad o 
na publica ção “Constr uind o o diagnóstic o municipal ”, disp oní vel em www .cepam .sp .gov.br . Outr o exempl o 
de diagnóstic o ap oiad o em indicad ores multitemátic os é o Diagnóstic o para Programa de Qualifica ção 
Profissi onal do Estad o de São Paulo, disp oní vel em www .empreg o.sp .gov.br . 
49 No síti o www .anipes .org.br está disp oní vel um aplicati vo (Pradin ) que permite entender o 
potencial da Análise Multicrit éri o na tomada de decis ão em políticas públicas . 
50 SCANDAR et al ., 2006. 
51 JANNUZZ I et al ., 2009. 
52 COU TINHO, 2001, p.11.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Para isso, esses painéis ou sistemas de indicadores de monitoramento devem se 
valer dos dados continuamente atualizados nos cadastros e registros administra-dos 
pelos gestores e operadores envolvidos nos programas. Devem estar interli-gados 
aos sistemas informatizados de gestão do programa, no qual são registrados 
atendimentos prestados, informações dos agentes que o operam, características 
dos beneficiários, processos intermediários, que produzirão os efeitos idealizados 
pelo programa. Diferentemente do que se passa nas pesquisas de avaliação, na 
estruturação de sistemas de monitoramento não se prevê levantamentos primá-rios 
de dados. Pode ser necessário criar rotinas de coleta de dados que operem 
fora dos círculos normais de produção de serviços dos programas, mas é preciso 
fazer esforços para aproveitar as informações geradas no âmbito de operação co-tidiana 
dos programas. A criação de mais uma rotina para registro de informação, 
pelo beneficiário do programa ou pelo agente envolvido na implementação, pode 
implicar atrasos indesejados e, pior, declarações mal preenchidas que acabam não 
se prestando à sua finalidade original. 
Vale observar que, em geral, as informações compiladas e enviadas para atualização 
dos registros de acompanhamento do Plano Plurianual, no Ministério do Planeja-mento, 
Orçamento e Gestão, são somente a ponta do iceberg de dados armazenados 
em planilhas eletrônicas e gavetas nos escritórios da administração pública. Aliás, é 
curioso que, nas médias e altas gerências do setor público – prefeituras, secretarias 
de estados ou ministérios –, reclame-se de falta de informação para gestão em meio 
a tanta informação continuamente produzida nas unidades de prestação de serviços 
públicos (escolas, postos de saúde, delegacias, centros de referência da assistência 
social, postos de intermediação de mão de obra, agências do INSS etc.). Para superar 
esse paradoxo da “escassez na abundância”, é preciso aprimorar os processos de 
gestão da informação nos escritórios em que se planejam e coordenam as políticas 
e programas públicos. Os fluxos de informação, os processos de tratamento, vali-dação, 
classificação e, naturalmente, de armazenamento precisam ser pensados de 
forma articulada, valendo-se de aplicativos e ferramentas de integração de dados (e 
não dos custosos – em planejamento, tempo é dinheiro – sistemas informatizados 
de 4ª, 5ª ou enésima geração propostos por consultorias experientes em automa-ção 
de processos na iniciativa privada, mas pouco conhecedoras da complexidade 
operacional da gestão de programas públicos). 
É possível que algumas informações produzidas pelas agências estatísticas – no 
caso brasileiro, o IBGE, o Datasus, o Inep, entre outros53 – possam ser úteis para 
a construção de indicadores de monitoramento de programas, sobretudo de na-tureza 
universal ou com público-alvo numeroso. Em geral, essas fontes proveem 
informações para avaliações de políticas ou para um conjunto de políticas e ma-croações 
governamentais – mais adequadas para composição de mapas estraté-gicos 
da ação governamental – e não para os propósitos de monitoramento de 
programas específicos, em função da escala territorial de desagregação dos dados 
ou do tempo que levam para serem produzidas. Esse quadro pode mudar para 
melhor com as transformações anunciadas nas pesquisas amostrais do IBGE para 
53 As pesq uisas e dad os destas instit uições podem ser cons ultadas , respecti vamente , em www . 
ibge .gov.br , www .datas us.gov.br , www .inep .gov.br . No portal www .anipes .org.br , podem ser acessad os 
síti os eletrônic os de órg ãos subnaci onais de estatística no Brasil .
35 
a década de 2010, com maior integração conceitual, maior possibilidade de in-corporação 
de temas suplementares, ampliação e adensamento da amostra pelo 
interior do país. Não só se poderá dispor de um escopo mais amplo de estatísticas 
e indicadores sociais divulgados mais regularmente ao longo do ano, como tam-bém 
referidos para domínios territoriais e grupos sociodemográficos bem mais 
diversos. Aos indicadores mensais de emprego, hoje restritos às seis principais re-giões 
metropolitanas, somar-se-ão muitos outros – educacionais, habitacionais, de 
rendimentos etc. –, divulgados em base trimestral (semestral ou anual) para todos 
os estados brasileiros. Mediante o emprego de métodos estatísticos avançados, 
usando informação combinada dessas pesquisas com outras fontes de dados, pes-quisadores 
de centros de análise de políticas públicas e universidades poderão 
estimar indicadores sociais com bom grau de precisão para domínios territoriais 
ainda mais específicos.54 
De qualquer forma, as informações estatísticas mais gerais são úteis para que se 
possam disponibilizar alguns indicadores de contexto socioeconômico no âmbito 
do sistema de monitoramento. Afinal, todo sistema aberto, como são os programas 
públicos, está sujeito aos efeitos de fatores externos, que podem potencializar ou 
atenuar resultados. Sistemas de indicadores de monitoramento de programas de 
qualificação profissional, por exemplo, devem dispor de indicadores de mercado 
de trabalho e de produção econômica como informações de contexto, pelos im-pactos 
que uma conjuntura econômica menos ou mais favorável podem ocasionar 
na operação do programa. 
Como alternativa ou complemento às pesquisas estatísticas oficiais, é possível 
construir indicadores de contexto ou mesmo de monitoramento de programas, a 
partir dos registros administrativos de programas de grande cobertura populacio-nal, 
como o Cadastro Único de Programas Sociais do Ministério de Desenvolvimen-to 
Social e Combate à Fome; a Relação Anual de Informações Sociais e o Cadastro 
Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho; e o Cadastro 
Nacional de Informações Sociais do INSS/Ministério da Previdência. Naturalmen-te, 
os registros de provimento e execução orçamentária do Sistema Integrado de 
Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) também são importantes fon-tes 
de informação para construção de indicadores de monitoramento (sobretudo 
porque permitem computar indicadores de regularidade de repasse de recursos, 
dimensão crucial para programas que envolvem diversas ações intermediárias 
para viabilizar a consecução das atividades mais finalísticas). Vale registrar que 
os ministérios responsáveis pela gestão desses cadastros têm feito esforços im-portantes 
com o objetivo de disponibilizar as informações neles depositadas para 
pesquisadores e público em geral.55 
54 Vide , nesse sentid o, o que as agências estatísticas americanas pr oduzem reg ularmente , 
acessand o o portal www .fedstats .gov. O Burea u of Lab or Statistics gera , por exempl o, estimati vas mensais 
de taxa de desempreg o para 372 áreas metr opolitanas e taxas an uais para os mais de 3 mil condad os e as 50 
mai ores cidades americanas . O Burea u of Cens us, por sua vez, tra z an ualmente estimati vas populaci onais 
para mais de 20 mil localidades e indicad ores sociais referid os a mais de 10 temáticas – de ocupação, 
moradia à ed uca ção – para municípi os acima de 65 mil habitantes . 
55 Vide , nesse sentid o, os aplicati vos da Senarc /MDS (www .mds .gov.br ), os sistemas de cons ulta 
on-line da Rais e do Caged no MTE (www .mte .gov.br ), e os dad os da Pre vidência na ferramenta Inf ologo em 
www .datapre v.gov.br .
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Um bom sistema de indicadores de monitoramento não é necessariamente com-posto 
de grande quantidade de informação, mas uma rede em que a informação 
foi selecionada de diferentes fontes e está organizada de forma sintetizada e mais 
adequada ao uso analítico pelos diferentes gestores (Diagrama 2). É preciso en-contrar 
um ponto de equilíbrio entre o “caos informacional”, potencialmente ge-rado 
pela estruturação de sistemas de monitoramento construídos de baixo para 
cima (em que participam inicialmente técnicos e gestores da base e depois de 
níveis táticos e mais estratégicos), e a pobreza analítica das propostas desenvol-vidas 
de cima para baixo. Um sistema de indicadores de monitoramento não é 
um sistema de gestão operacional do programa, que provê acesso aos incontáveis 
registros diários e individuais de operação de convênios, prestação de serviços, 
recursos transferidos, projetos e atividades concluídas. Um sistema de monito-ramento 
vale-se do(s) sistema(s) de gestão dos programas para buscar informa-ções, 
integrá-las segundo unidades de referência comum (município, escola etc.), 
sintetizá-las em indicadores e conferir-lhes significado analítico. Ao apresentar 
informações sintetizadas na forma de indicadores, que podem ser analisados no 
tempo, por regiões e públicos-alvo, ou comparados com metas esperadas, esses 
sistemas permitem ao gestor avaliar se os diversos processos e inúmeras ativida-des 
sob sua coordenação estão se “somando” no sentido preconizado. Um sistema 
de monitoramento não é, pois, um conjunto exaustivo de medidas desarticuladas, 
mas uma seleção de indicadores de processos e ações mais importantes. 
Um sistema que não provê acesso orientado às centenas de indicadores dispo-níveis 
talvez não se preste ao propósito de monitoramento (ainda que possa ser 
útil como base de dados para estudos avaliativos a posteriori). Também não se 
vale ao monitoramento um sistema em que a informação não está organizada se-gundo 
o nível de relevância operacional-estratégica do gestor usuário. Ao gerente 
de processos operacionais básicos, deve estar disponível a informação essencial 
para o bom desempenho das atividades de seus coordenados. Ao gestor mais es-tratégico, 
devem estar disponíveis indicadores que lhe permitam acompanhar os 
macroprocessos segundo o modelo lógico do programa.
37 
DIAGRAMA 2: INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES DE DIFERENTES 
FONTES NA ESTRUTURAÇÃO DE UM SISTEMA DE INDICADORES DE 
MONITORAMENTO 
Para um e para outro gestor, os indicadores devem ser os pertinentes à sua esfera 
de decisão, ajustados à referência temporal e territorial que lhes compete e inte-ressa. 
As novas ferramentas de integração de dados permitem construir painéis 
de indicadores de forma “customizada”, possibilitando, inclusive, acesso a infor-mação 
mais detalhada se assim o gestor o desejar. Podem-se construir painéis em 
camadas “explicativas”, isto é, organizando indicadores segundo uma estrutura 
nodal, em que um primeiro conjunto reduzido de indicadores estratégicos seja 
acompanhado de um segundo conjunto mais amplo de indicadores mais específi-cos, 
que ajudem a entender o comportamento e a evolução dos primeiros, e assim 
por diante. Na realidade, trata-se de um sistema de monitoramento que reúne 
informações sintéticas – para análise de tendências gerais das atividades estraté-gicas 
– e informações analíticas – para entendimento mais aprofundado das ten-dências 
observadas. A proposta de acompanhamento das metas de inclusão social 
nos países da Comunidade Europeia segue essa lógica de estruturação, dispondo 
os indicadores em três painéis articulados:56 
Nível 1 – conjunto restrito de indicadores-chave (lead indicators) cobrindo as di-mensões 
consideradas mais importantes para acompanhar a exclusão social. 
Nível 2 – indicadores complementares em cada dimensão, que ajudam a interpre-tar 
cada um dos indicadores-chave. 
Nível 3 – indicadores que cada país-membro decidir incluir para acompanhar as 
especificidades nacionais e que ajudem a entender aqueles dos níveis 1 e 2. 
56 ATKINSON et al ., 2005.
avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome 
Introdução e Temas transversais 
Tal proposta de organização vem com algumas premissas básicas para escolha de 
indicadores que parece oportuno resgatar neste texto, pois podem ser úteis em 
outras aplicações (Quadro 1). Vale registrar que tal escolha deveria se orientar 
também pela análise da aderência dos indicadores às propriedades de relevân-cia 
social, validade de constructo, confiabilidade, periodicidade, sensibilidade às 
mudanças, especificidades das ações programadas, como discutido em Jannuzzi.57 
QUADRO 1: PREMISSAS PARA ESCOLHA DE INDICADORES 
DE MONITORAMENTO DA INCLUSÃO/EXCLUSÃO SOCIAL NA 
COMUNIDADE EUROPEIA 
• O conjunto de indicadores não pode se pretender exaustivo e deve ser 
equilibrado entre as dimensões da exclusão social (saúde, educação, 
moradia etc.). Um conjunto muito amplo de indicadores leva à perda de 
objetividade, perda de transparência e credibilidade. 
• Os indicadores devem ter uma interpretação normativa claramente defi-nida 
(Para monitorar a exclusão social a taxa de desemprego cumpre tal 
requisito; já um indicador de produtividade do trabalho não). 
• Os indicadores devem ser mutuamente consistentes, isto é, não devem 
sugerir tendências inconsistentes (indicadores de desigualdade como o 
Índice de Gini e a Proporção de Massa Salarial Apropriada podem ter 
comportamentos diferentes ao longo do tempo, já que medem aspectos 
distributivos diferentes). 
• Os indicadores devem ser inteligíveis e acessíveis a toda a sociedade. 
São preferíveis medidas simples, de fácil entendimento. Deve-se resistir 
às simplificações indevidas (indicadores sintéticos). 
Se o programa foi especificado segundo as boas práticas e técnicas de planeja-mento 
de projetos, deve haver um desenho lógico de encadeamento de ativida-des 
e etapas. Tal sistema deve conseguir oferecer evidências acerca da execução 
do gasto, da produção, eficiência e qualidade dos serviços, do consumo e usufruto 
por parte do público-alvo e, se possível, antecipar dimensões impactadas pelo 
programa. Isto é, um bom sistema de monitoramento deve prover indicadores de 
insumo, processo, resultado e possíveis impactos do programa. Exemplificando, 
tal sistema deve permitir monitorar, simultaneamente: o dispêndio realizado por 
algum tipo de unidade operacional prestadora de serviços ou subprojeto; o uso 
dos recursos humanos, financeiros e físicos; a geração de produtos e a percepção 
dos efeitos gerados pelos programas. Em Resende e Jannuzzi,58 é apresentado o 
exemplo de Painel de Indicadores de Monitoramento do Plano de Desenvolvimen 
57 JANNUZZ I, 2005. 
58 RESENDE; JANNUZZ I, 2008.
39 
to da Educação (PDE) estruturado na lógica insumo-processo-resultado-impacto. 
Na dimensão insumo, deu-se prioridade aos indicadores voltados para o financia-mento 
da educação. Para a dimensão processo, foram definidos indicadores que 
pudessem ser produzidos com certa regularidade e estivessem relacionados ao 
processo de ensino-aprendizagem, como percentual de docentes com nível supe-rior, 
percentual de alunos atendidos por turno integral, entre outros. Como medida 
de resultados, os indicadores de proficiência da Prova Brasil, defasagem idade-sé-rie 
e taxa de abandono. Como apontamentos de impactos potenciais, o ingresso 
de jovens no ensino superior.59 
Os aplicativos voltados à disponibilização de indicadores da Secretaria de Avalia-ção 
e Gestão da Informação do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate 
à Fome- como a MI-Social, DataSocial e Monib- são referências certamente úteis 
para estruturação de sistemas de monitoramento de programas nessa perspectiva 
processual, não apenas no âmbito do ministério, mas de outros setores da admi-nistração 
pública.60 
O documento “Guia metodológico para construção de indicadores do PPA”,61 ela-borado 
pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, é outra referência 
importante para especificação de sistemas de indicadores de monitoramento de 
programas, pela extensa revisão bibliográfica empreendida em sua elaboração; 
pela preocupação em incorporar aspectos de propostas desenvolvidas em outros 
estados e contextos do setor público brasileiro; pela experiência de mais de dez 
anos na elaboração de planos plurianuais no governo federal; e pela preocupação 
com clareza na exposição de conceitos, etapas e fontes de dados. 
Em geral, há maior disponibilidade de indicadores de processos, que espelham 
os esforços e produtos gerados nas ações programadas, para os quais há registros 
formais e maior controle operacional pelos gestores. Ainda assim, em alguns casos, 
é possível dispor, no painel de monitoramento, de indicadores de resultados e im-pactos 
junto ao público-alvo dos programas, buscando informações nos registros 
e cadastros públicos citados anteriormente. No caso do Sistema de Indicadores 
de Monitoramento de Programas de Qualificação Profissional, ilustrado há pouco, 
seria possível dispor de alguma medida de impacto do programa, com a integração 
de informações cadastrais dos trabalhadores qualificados com os dados da Rais 
ou mesmo do CadÚnico, mediante o uso do Número de Identificação do Trabalha-dor 
ou do CPF (de fato, procedimentos análogos são usados correntemente pelo 
Ministério do Desenvolvimento Social para fins de fiscalização na concessão de 
benefícios do Programa Bolsa Família). 
59 No referid o te xto, empreg ou-se o aplicati vo Monit – disp oní vel em www .anipes .org.br – para 
comp or um painel sit uaci onal com gráfic os dos indicad ores esc olhid os para duas unidades territ oriais 
de interesse de monit orament o. Uma bre ve apresenta ção do aplicati vo é enc ontrada em Jann uzi e Miranda 
(2008), disp oní vel no Boletim de Estatísticas Públicas n.4, no mesm o site . 
60 Cons ultar o “Dici onári o de variá veis , indicad ores e pr ogramas sociais ” no endere ço http :// 
aplicac oes .mds .gov.br /sagi /dici vip . Esse dici onári o tamb ém está disp oní vel para downl oad em www .mds . 
gov.br /sagi . 
61 MPO, 2009.
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Cnpq 1 introducao e temas transversais

  • 1. avaLIação de PoLÍtICas PÚBLICas: ReFleXÕes acadêmicas sobRe o desenvolvimento social e o combate à Fome 1. Introdução e Temas Transversais 2. Transferência de Renda 3. Assistência Social e Territorialidades 4. Segurança Alimentar e Nutricional 5. Inclusão Produtiva
  • 2. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Presidenta da República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello Secretário Executivo Marcelo Cardona Secretário de Avaliação e Gestão da Informação Paulo de Martino Jannuzzi Secretário Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Arnoldo Anacleto de Campos Secretário Nacional de Renda de Cidadania Luis Henrique da Silva de Paiva Secretária Nacional de Assistência Social Denise Colin Secretário Extraordinário de Superação da Extrema Pobreza Tiago Falcão Expediente : Esta é uma publica ção técnica da Secretaria de Avalia ção e Gest ão da Inf orma ção. SECRETÁRIO DE AVALIAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO : Paulo de Martin o Jann uzzi; DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE AVALIAÇÃO : Júnia Val éria Quir oga da Cunha ; DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE MONITORAMENTO: Marc oni Fernandes de Sousa ; DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO : Cai o Nakashima ; DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO E DISSEMINAÇÃO : Patricia Augusta Ferreira Vilas Boas .
  • 3. Introdução e temas transversaIs
  • 4. © Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Esta é uma publicação técnica da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação. Este livro apresenta, em cinco volumes, um conjunto de artigos elaborados com base na experiência de construção e resultados do Edital MCT/MDS-SAGI/CNPq n.º 36/2010. Coordenação Editorial: Kátia Ozório Equipe de apoio: Victor Gomes de Lima, Valéria Brito, Roberta Cortizo e Clécio Fernandes Diagramação: Tarcísio Silva e Jonathan Phelipe Bibliotecária: Tatiane Dias Revisão: Alexandro Rodrigues Pinto, Júnia Valéria Quiroga da Cunha, Luciana Monteiro Vasconcelos Sardinha, Renata Mirandola Bichir, Renato Francisco dos Santos de Paula. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Avaliação de políticas públicas: reflexões acadêmicas sobre o desen-volvimento social e o combate à fome, v.1: Introdução e temas transversais -- Brasília, DF: MDS; Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, 2014. 277p. 1. Política social, Brasil. 2. Desenvolvimento social, Brasil. 3. Políticas públicas, avaliação, Brasil. I. Secretaria de Avaliação e Gestão da Infor-mação. CDU 304(81) Abril de 2014 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação Esplanada dos Ministérios Bloco A, 3º andar, Sala 340 CEP: 70.054-906 Brasília DF – Telefones (61) 2030-1501 http://www.mds.gov.br Central de Relacionamento do MDS: 0800-707-2003
  • 5. FICHA TÉCNICA Avaliação de políticas públicas: reflexões acadêmicas sobre o Desenvol-vimento Social e o Combate à Fome Organizadores Júnia Valéria Quiroga da Cunha Alexandro Rodrigues Pinto Renata Mirandola Bichir Renato Francisco dos Santos de Paula Agradecimentos Os organizadores agradecem aos especialistas que se dispuseram a parti-cipar como comentaristas nas oficinas de acompanhamento dos projetos. Gratidão especial também aos pareceristas, que dispuseram de seu tempo e experiência para contribuir com os autores dos artigos seguem lista-dos, respeitando a opção daqueles que não autorizaram a publicação de seu nome.
  • 6. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Pareceristas Alberto Albino dos Santos Alcides Fernando Gussi Aldaíza Sposati Alexandro Rodrigues Pinto Ana Maria Segall Corrêa Andrea Butto Antonio Eduardo Rodríguez Ibarra Bruno Barreto Carla Cristina Enes Crispim Moreira Daniela Sherring Siqueira Dirce Koga Eduardo Cesar Leão Marques Eduardo Salomão Condé Elizabete Ana Bonavigo Elza Maria Franco Braga Fabio Veras Soares Fátima Valéria Ferreira de Souza Fernanda Pereira de Paula Frederico Luiz Barbosa de Melo Haroldo Torres Igor da Costa Arsky Jeni Vaitsman Juliana Picoli Agatte Júlio César Borges Júnia Valéria Quiroga da Cunha Kyara Michelline França Nascimento Leonor Maria Pacheco Santos Letícia Bartholo Luana Simões Pinheiro Lucélia Luiz Pereira Luciana Maria de Moura Ramos Luís Otávio Pires Farias Luiz Rafael Palmier Marconi Fernandes de Sousa Marcos Costa Lima Mariana Helcias Côrtes Mariana López Matias Marina Pereira Novo Marta Arretche Marta Battaglia Custódio Milena Bendazzoli Simões Neuma Figueiredo de Aguiar Onaur Ruano Paula Montanger Paulo de Martino Jannuzzi Pedro Antônio Bavaresco Pedro Israel Cabral de Lira Rafael Guerreiro Osorio Renata Mirandola Bichir Renato Francisco dos Santos de Paula Rodrigo Constante Martins Rômulo Paes de Sousa Sergei Suarez Dillon Soares Silvia Maria Voci Simone Amaro dos Santos Simone de Araújo Góes Assis Sonia Lucia Lucena Sousa de Andrade Walquiria Leão Rego
  • 7. 9 APRESENTAÇÃO No contexto de complexidade da ação governamental no Brasil, de arranjos fe-derativos e articulação intersetorial na gestão e operação dos programas sociais, de volume de recursos e de profissionalização do setor público, as atividades de levantamento e organização de dados e produção de estudos e pesquisas de ava-liação são fatores críticos para garantir – potencialmente – maior efetividade à Po-lítica Social. Informação e conhecimento, sistematizados de forma prática e ope-racional, atualizados no tempo e referidos nos domínios territoriais adequados e com escopo abrangente e multidisciplinar constituem-se em insumos básicos para a tomada de decisão técnico-política em qualquer momento do ciclo de vida ou maturação de uma política ou programa social. Dados, indicadores, estudos e pesquisas de campo são fundamentais no levantamento de evidências empíricas na formulação de uma estratégia de superação ou mitigação de uma problemática social específica, no planejamento de um arranjo operativo que permita colocá- -la em ação, na coordenação de um conjunto escolhido de agentes públicos, de instituições privadas ou do terceiro setor, no monitoramento das atividades plane-jadas, e, enfim, na avaliação dos resultados e esforços empreendidos. No Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a produção de informação e conhecimento para aprimoramento do desenho e gestão de políti-cas e programas tem sido uma atividade permanente desde sua criação em 2004, com a instituição de uma unidade de monitoramento e avaliação com status de Secretaria Nacional: a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI). Em parceria com as secretarias finalísticas deste Ministério, a SAGI tem produzido um conjunto considerável de pesquisas e estudos avaliativos que contribuem para conhecer melhor os diversos públicos-alvo das políticas de desenvolvimento so-cial, os desafios da implementação dos programas, os resultados e impactos dos serviços e ações. Este livro é, nesse sentido, mais uma contribuição para Avaliação de Políticas e Programas do MDS. Mais especificamente, trata-se de uma publicação, organiza-da em cinco volumes temáticos, com estudos produzidos no âmbito de edital de fomento à pesquisa – Edital nº 36/2010 – do Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq) por um conjunto amplo de pesquisadores de diversas instituições, de norte a sul do País. Com diferentes perspectivas disciplinares, modelos teórico-conceituais e estraté-gias de pesquisa, os autores dedicam-se a diferentes temáticas e problemáticas das políticas e programas do Ministério, trazendo também suas interfaces com outras políticas sociais em educação, saúde e trabalho. É uma boa amostra da abordagem multidisciplinar e multi-métodos de produção de estudos avaliativos adotados pela SAGI em seus dez anos. Neste sentido, é oportuno registrar nessa introdução alguns princípios epistêmicos, aspectos conceituais e metodológicos sobre o que se enten-de por Avaliação, e como ela vem se estruturando na Secretaria.
  • 8. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Avaliação de Políticas Públicas tem recebido as mais diferentes definições na lite-ratura especializada, segundo os diversos modelos conceituais, paradigmas teóri-cos e linhas de pesquisa da Ciência Política, Ciências Sociais, Economia e Adminis-tração Pública, tomando a avaliação em perspectiva mais geral como componente integrante da Análise de Políticas Públicas, como instrumento de Sistemas de Mo-nitoramento e Avaliação de programas governamentais ou, em uma concepção mais restrita, avaliação como um tipo particular de investigação empírica acerca de programas e projetos sociais, como as avaliações de impacto experimental ou quasi-experimental. Em uma definição mais pragmática e aplicada ao campo da Gestão Pública, Avaliação refere-se ao conjunto de procedimentos técnicos para produzir informação e conhecimento para desenho ex-ante, implementação e validação ex-post de programas e projetos sociais, por meio das diferentes abor-dagens metodológicas da Pesquisa Social, com a finalidade de garantir o cum-primento dos objetivos dos programas e projetos (eficácia), seus impactos mais abrangentes em outras dimensões sociais, para além dos públicos-alvo atendidos (efetividade), e a custos condizentes com a escala e complexidade da intervenção (eficiência). Nesta definição, Avaliação não é entendida tão somente como uma investigação com métodos validados cientificamente para analisar diferentes aspectos sobre um programa – o que se constituiria em uma investigação de cunho acadêmico –, mas um levantamento consistente, sistemático e replicável de dados, informações e conhecimentos para aprimoramento da intervenção programática, versando so-bre características essenciais do contexto de atuação, os públicos-alvo, o desenho, os arranjos de implementação, os custos de operação, os resultados de curto pra-zo, os impactos sociais e de mais longo prazo de um programa. Enfim, na definição aqui advogada, Avaliação tem o objetivo de produzir evidências, compilar dados e sistematizar estudos que contribuam para o aperfeiçoamento dos programas e projetos sociais e a consecução de seus objetivos. Avaliações que, de fato, têm uso efetivo na intervenção são desenhadas confor-me as demandas de informação e conhecimento ao longo do ciclo de maturida-de do programa ou projeto social. Podem ser de natureza diagnóstica – Avaliação Diagnóstica –, apoiada em fontes de dados já existentes, produzidas pelo IBGE, nos registros e cadastro públicos dos ministérios, para permitir um rápido dimen-sionamento e caracterização da questão social a ser objeto de intervenção. Para a formulação de programa ou projeto de mitigação ou equacionamento da pro-blemática social identificada, em geral, são necessários novos esforços de levan-tamentos de campo – para o aprofundamento do diagnóstico das condições de vida, contexto econômico, restrições ambientais, capacidade de gestão e oferta de serviços – e de compilação de estudos já realizados na temática, abordando determinantes da problemática em questão e eventuais programas e projetos já idealizados, que constituem o que se denomina Avaliação de Desenho. Definidos os públicos a atender e os arranjos operacionais do programa ou projeto social, é preciso colocá-lo em ação, realizando as atividades planejadas, acompanhando sua execução mediante indicadores de gestão e de monitoramento, e identifican-do problemas na oferta, na regularidade e na qualidade dos serviços por meio de pesquisas de Avaliação da Implementação.
  • 9. 11 Reconhecidos e, tanto quanto possível, sanados os desafios da implementação, as demandas de informação e conhecimento voltam-se para a Avaliação de Resulta-dos e Impactos do programa ou projeto social. Trata-se de momento de investiga-ção mais exaustiva sobre os diversos componentes de uma intervenção, abordan-do não apenas o cumprimento dos seus objetivos, mas seu desenho, seus arranjos operacionais, seus impactos sociais mais abrangentes – no tempo e no território – e sobre a capacidade de inovação e redesenho frente ao contexto dinâmico em que operam os programas e projetos. Cabe nesse momento avaliar se a interven-ção programática formulada conseguiu provocar mudanças na realidade social que a originou, considerando naturalmente a complexidade do seu desenho e dos arranjos operacionais, além da criticidade da questão social enfrentada. Identificar o momento adequado de avaliações dessa natureza é um misto de técnica, política e arte: avaliações precoces podem colocar a perder a legitimidade de um progra-ma e projeto meritório que ainda não teve tempo de se estruturar; avaliações tar-dias podem comprometer recursos e esforços que poderiam ser usados de forma mais eficiente e eficaz na mitigação da problemática social em questão. Enfim, se o programa e projeto produzem resultados e impactos, é necessário analisar os custos envolvidos na operacionalização de suas atividades, equipamento e pes-soal – Avaliação Custo-Efetividade. O custo-efetividade das intervenções, isto é, o valor gasto para produzir unidades de resultados e impactos em um período de tempo e território específicos, é certamente uma informação fundamental para avaliar a sustentabilidade dos programas e projetos no futuro e em outros con-textos. Ademais tais avaliações, se bem realizadas – com contabilidade precisa de custos e vetor abrangente de indicadores de resultados – fornecem parâmetros cruciais para comparar diferentes intervenções sociais e informar gestores nas de-cisões técnicas e políticas acerca da continuidade, descontinuidade e expansão de programas e projetos. Em uma perspectiva metodológica, os esforços de Avaliação podem se estruturar em quatro tipos de produtos mais gerais, com maior ou menor aderência e espe-cificidade ao problema social ou intervenção programática desenhada: Estudos Avaliativos – análises com base em dados secundários ou compilação de artigos e trabalhos já realizados anteriormente na temática, com maior ou menor abran-gência; Pesquisas de avaliação – levantamentos primários, quali ou quantitativos, desenhadas com objetivos de produção de evidências mais específicas necessá-rias ao aprimoramento da intervenção; Meta-avaliações – recensões sobre estudos avaliativos, pesquisas e experiências nacionais, subnacionais e internacionais de programas e projetos implementados; Relatórios-síntese de Avaliação e portais Web com informação mais sumária, na forma de indicadores em geral, para comu-nicação mais objetiva acerca de aspectos do diagnóstico, implementação e resul-tados do programa e projetos. As pesquisas de campo podem ser mais estruturadas, como as enquetes quanti-tativas com marco amostral probabilístico – necessárias para produção de indica-dores de dimensionamento de públicos-alvo ou inferência representativa quan-to aos resultados dos programas – ou com amostras intencionais – mais rápidas, menos custosas, mas com limitado poder de generalização dos seus resultados. Podem ser menos estruturadas, mais exploratórias, de cunho qualitativo, como
  • 10. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais grupos de discussão ou entrevistas em profundidade, dirigidas a usuários e be-neficiários de programas e projetos, assim como aos gestores e técnicos encar-regados da operacionalização dos serviços. São especialmente importantes para identificar questões latentes acerca da implementação dos programas, não ante-cipados quando de seu desenho. Um tipo particular de instrumento estruturado, as pesquisas com delineamento quasi-experimental – também denominadas de avaliação de impacto – certamente são importantes instrumentos de avaliação de programas, mas pelo tempo, recursos e conflitos éticos que estes levantamentos envolvem, têm uso muito mais dirigido para a análise do mérito e da contribuição específica das intervenções, para fins de prestação de contas a agentes financia-dores do programa ou projeto. Não existe um método ou estratégia “padrão-ouro” para a produção de uma Ava-liação. O melhor método é o que produz as evidências que respondem de forma consistente às demandas requeridas, ao tempo de serem utilizadas para decisões na Gestão Pública. Informação precisa mas produzida a custos e tempo não con-dizentes com a tempestividade da gestão ou informação rapidamente produzida mas não consistente nem robusta em termos metodológicos certamente não se prestam a orientar decisões cruciais acerca dos rumos de um programa ou projeto social. Perspectiva multidisciplinar de investigação, triangulação de métodos e de sujeitos entrevistados, esforços combinados de avaliação interna – com gestores e técnicos que conhecem os problemas e as atividades do programa e projeto – e de avaliação externa – com pesquisadores especializados e apoio de equipe de campo – é que garantem a credibilidade e robustez necessárias ao aprimoramento da gestão e do desenho das intervenções programáticas.
  • 11. 13 Por fim, mas não menos importante: a efetividade das Avaliações não pode ser medida pelo número de sugestões e recomendações aportadas nas pesquisas e estudos avaliativos nos programas e projetos. Avaliações produzem informação e conhecimento que, desde que devidamente estruturados e disseminados, podem e devem ser usados para interferir cotidianamente na ação do gestor estratégico e do técnico na ponta, cujo registro formal é difícil de realizar. Ademais, e fun-damentalmente, programas e projetos sociais são empreendimentos complexos, seja em termos de contexto político-institucional e escala, seja em arranjos de implementação e pessoal técnico envolvido. A introdução de inovações, redese-nho de processos, descontinuidade de atividades, contratação de novos agentes e serviços – típicas recomendações derivadas de avaliações de implementação − cumprem um calendário que deve compatibilizar a agenda de prioridades de correção de problemas com as janelas de oportunidades de mudanças, sem o risco de interrupção das atividades para os públicos atendidos. Os estudos resultantes do referido edital do CNPq aqui compilados – assim como outros produzidos por consultores, empresas contratadas ou pela equipe SAGI – guardam similitude com algumas das tipologias e classificações aqui apresen-tadas. Mas o mais importante é a contribuição substantiva que aportam para o debate sobre as políticas e programas do Ministério. A SAGI agradece o empenho dos pesquisadores, a participação dos técnicos e ges-tores do MDS que se envolveram ao longo da execução dos projetos, e a compe-tência do Departamento de Avaliação na condução de todo o processo de gestão do Edital, que culminou com a organização dessa relevante publicação. Boa leitura!
  • 12. SUMÁRIO MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS: UMA COMPILAÇÃO CONCEITUAL E METODOLÓGICA PARA ORIENTAR A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO APLICADO PARA APRIMORAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA Paulo de Martino Jannuzzi A PESQUISA APLICADA ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS E A POSSI-BILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA ESTRATÉGI-CA DE AVALIAÇÃO ENTRE ACADEMIA E GOVERNO Júnia Quiroga Alexandro Rodrigues Pinto Renata Mirandola Bichir Renato Francisco dos Santos de Paula EDITAL nº 36/2010: O DESAFIO Mariomar Almeida Renata Gracioso Borges Marcelo Gonçalves Valle Roberto Camargos Antunes Josiane B. Santos 16 56 68 avaliação de políticas públicas: contribuições acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais INTRODUÇÃO
  • 13. PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: PERSPECTIVAS A PARTIR DO OLHAR DE GÊNERO E DA DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS Marcelo Cardona Rocha Teresa Sacchet Kátia Favilla 1. PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS SOCIODEMO-GRÁFICOS E DAS ROTINAS DE CRIANÇAS NOS CONTEXTOS URBANO E RIBEIRI-NHO AMAZÔNICO 2. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E AS RELAÇÕES DE GÊNERO E GERAÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR DO SEMIÁRIDO DO NORDESTE 3. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA VOZ DAS PESCADORAS ARTESANAIS DO LITORAL DE PERNAMBUCO. 4. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA FOME E CONSTRUÇ ÕES DE GÊ- NERO: O cotidian o das quebradeiras de coco baba çu da regi ão dos cocais - MA 5. SEGURANÇA ALIMENTAR E ACESSO AOS PROGRAMAS DE DESENVOL-VIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. 6. DO PONTO DE VISTA DAS CRIANÇAS: Uma avalia ção do Programa Bolsa Família 7. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O ACESSO À EDUCAÇÃO ESCOLAR EM COMUNIDADES INDÍGENAS KAINGANG E GUARANI NO PARANÁ 8. MULHER E TRABALHO NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA 82 94 122 148 170 202 216 238 264 TEMAS TRANSVERSAIS
  • 14. avaliação de políticas públicas: ReFleXÕes acadêmicas sobRe o desenvolvimento social e o combate à Fome Introdução e temas transversaIs monitoRamento e avaliação de PROGRAMAS: UMA COMPILAÇÃO CONCEITUAL E METODOLÓGICA PARA ORIENTAR A PRODUÇÃO de conHecimento aplicado paRa APRIMORAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA1 Paulo de Martino Jannuzzi2 1 ESTE TExTo é vERSão REvISADA DE ouTRo PRoDuzIDo CoMo MATERIAL DE REFERÊNCIA BÁSICA PARA CuRSoS DE AvALIAção DE PRoGRAMAS SoCIAIS DA ESCoLA IBERoAMERICANA DE ADMINISTRAção E PoLÍTICAS PúBLICAS, oFERECIDoS NA ESCoLA NACIoNAL DE PoLÍTICAS PúBLICAS DESDE 2009, PuBLICADo EM DuAS PARTES (JANNuzzI 2011A E 2011B). A REPRoDução DoS MESMoS DE FoRMA INTEGRADA E REvISADA NESSA CoLETâNEA JuSTIFICA-SE PELA oPoRTuNIDADE DE DISSEMINAR uMA CoMPILAção úTIL DE ASPECToS HISTÓRICoS, CoNCEITuAIS E METoDoLÓGICoS ACERCA DE MoNIToRAMENTo E AvALIAção DE PRoGRAMAS No PAÍS JuNTo À CoMuNIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA, INCITADA A PARTICIPAR MAIS DIRETAMENTE DA PRoDução DE CoNHECIMENTo PARA AS PoLÍTICAS E PRoGRAMAS Do MINISTéRIo DE DESENvoLvIMENTo SoCIAL E CoMBATE À FoME, PELoS EDITAIS DE FoMENTo À PESQuISA Do CNPQ. 2 PRoFESSoR DA ESCoLA NACIoNAL DE CIÊNCIAS ESTATÍSTICAS Do INSTITuTo BRASILEIRo DE GEoGRAFIA E ESTATÍSTICA, PESQuISADoR Do CNPQ No PRoJETo PQ “INFoRMAção ESTATÍSTICA E SISTEMAS DE MoNIToRAMENTo E AvALIAção DE PoLÍTICAS E PRoGRAMAS SoCIAIS No BRASIL E AMéRICA LATINA”. ATuALMENTE ExERCE A FuNção DE SECRETÁRIo DE AvALIAção E GESTão DA INFoRMAção (SAGI) Do MINISTéRIo DE DESENvoLvIMENTo SoCIAL E CoMBATE À FoME (MDS).
  • 15. 17 INTRODUÇÃO A crescente atuação do Estado Brasileiro na promoção de políticas sociais, em es-pecial a partir da Constituição Federal de 1988, tem sido acompanhada, com algu-ma defasagem, pelo aprimoramento da capacidade de formulação e avaliação de programas públicos no país. De modo geral, os estudos de avaliação de demandas sociais, os diagnósticos propositivos para intervenções específicas, os sistemas de indicadores de monitoramento e as pesquisas de avaliação de programas vêm se tornando mais consistentes e presentes no cotidiano dos gestores públicos, ainda que em um ritmo menos veloz que o necessário e de forma bastante desigual pelas esferas de governo e regiões do país. Em que pesem os avanços na capaci-dade de gestão de programas, ainda são expressivos os contrastes que se podem observar, por exemplo, no acompanhamento dos programas nas áreas da saúde e da qualificação profissional, ou entre equipes de gestores do governo federal e técnicos de prefeituras de pequenos municípios no interior do país. Há mesmo quem diga – nos círculos acadêmicos e nas diferentes esferas da admi-nistração pública – que não é por falta de estudos, diagnósticos e indicadores que os programas sociais não conseguem alcançar os resultados e impactos esperados no Brasil. Afinal, é fato que centros de pesquisa, universidades, empresas de con-sultoria e equipes de técnicos do setor público têm produzido, de forma sistemá-tica ou por meio de projetos contratados, um amplo conjunto de trabalhos, artigos e estudos sobre diferentes aspectos da realidade social, referidos direta ou indire-tamente ao contexto de operação dos vários programas públicos. Entretanto tam-bém é verdade que muitos desses trabalhos, mesmo os contratados para subsidiar a formulação de programas específicos, acabam se revelando como diagnósticos descritivos bastante gerais, aplicáveis a diferentes programas sociais, com contri-buições certamente relevantes, mas desprovidas de informações mais particulares e “customizadas” para formatação de ações públicas mais dirigidas, no grau que se requer atualmente. Nos diagnósticos contratados pelo setor público, contribuem para isso, sem dúvida, as imprecisões ou lacunas dos termos de referência – que espelham, muitas vezes, a falta de clareza dos objetivos e natureza do programa público a ser implementado, fato decorrente, por sua vez, das deficiências de for-mação do gestor público – e a exiguidade de tempo e recursos para realização de levantamentos de campo específicos. Nesse contexto, acabam se justificando estudos diagnósticos mais gerais, baseados em trabalhos anteriores e em fontes de dados e pesquisas já disponíveis. Também é preciso reconhecer as limitações das pesquisas de avaliação de pro-gramas públicos como fontes de informação para readequação dos programas existentes ou proposição de novos. Nas avaliações de impacto, as constatações empíricas acerca da efetividade dos programas são, não raras vezes, ambíguas ou pouco consistentes. Nos casos em que se adotam delineamentos metodológicos quasi-experimentais, as condições para garantir a validade interna dos estudos acabam por inviabilizar a apropriação e a generalização dos resultados para ava-liações mais abrangentes dos programas3. 3 WORTHERN et al ., 2004.
  • 16. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Vários estudos avaliativos focados no processo de implementação dos programas acabam tendo baixo poder de generalização devido às lacunas de conhecimento so-bre as atividades desenvolvidas e o papel dos agentes institucionais envolvidos nos programas, seja pelas limitações ou inexistência de sistemas de informações de mo-nitoramento, seja pelas decisões metodológicas quanto às técnicas, amostras e aos casos investigados, muitas vezes escolhidos mais em função dos prazos e recursos disponíveis do que pelas perguntas as quais se quer responder. Avaliações voltadas à análise da consistência teórica e do desenho lógico de programas – que poderiam gerar conhecimento mais generalizável na área – são menos frequentes ou, pelo menos, menos conhecidas do que outros tipos de estudos avaliativos no país. Enfim, em que pesem os avanços na área, é preciso reconhecer que a insatisfação com esses estudos ainda é mais frequente do que o desejável. Como já revelava Cotta há mais de dez anos: As metodologias de avaliação de programas sociais têm sido objeto de severas críticas. Basicamente, afirma-se que, na prática, as avaliações não subsidiam o processo decisório porque seus resultados são inconclusivos, inoportunos e irrelevantes. Inconclusivos em função das próprias limitações deste tipo de estudo, inoportunos devido à morosidade do processo avaliativo e irrelevantes porque não respondem às demandas informacionais de todos os agentes sociais afetos à intervenção.4 Situação semelhante parece ter passado os Estados Unidos (EUA) nos anos 1970, a julgar pelo relatório do General Accounting Office, que, mobilizado por demanda do Senado americano em 1974, constatou que as informações das pesquisas sociais e estudos avaliativos financiados com recursos públicos não contribuíam para o de-senho das políticas públicas, pela dispersão e fragmentação de temas investigados, falta de coordenação e orientação do que era de interesse governamental investigar, dificuldade de acesso e compreensão dos relatórios de pesquisas.5 Mesmo mais recentemente têm-se constatado limitações e problemas nos estu-dos avaliativos de programas públicos nos EUA, às vezes com desdobramentos até piores que os descritos por Cotta. De fato, como colocam Worthern et al. : De vez em quando, uma “avaliação” mal concebida ou mal executada produz informações que, no melhor dos casos, seriam enganosas e, no pior, absolutamente falsas. Embora essas ocorrências sejam raras, podem causar problemas graves. Como geralmente tem ar de respeitabilidade, essas avaliações não costumam ser questionadas, e o resultado é que decisões importantes sobre programas e serviços essenciais baseiam-se inadvertidamente em informações falaciosas.6 4 COTTA, 1998, p.118. 5 GAO, 1977. 6 WORTHERN et al ., 2004, p.44.
  • 17. 19 Conspiram para a conformação de tais problemas, entre tantos fatores, a crença desmesurada na capacidade de antecipação e implementação de programas por parte de técnicos de alto escalão que, ao não incorporar a contribuição de agentes envolvidos no trabalho, acabam por desenhar processos e rotinas que descon-sideram as distintas realidades de operação dos programas. Esse tecnocratismo ingênuo invariavelmente se esquece das dificuldades de articulação e colabora-ção dos três níveis de governo ou de pastas sociais em uma mesma esfera e das diferenças de capacidade de gestão e controle social país afora. Tão ou mais grave, também desconsidera, na formulação dos programas, a heterogeneidade socioe-conômica da população demandante, considerando-a como único público-alvo, para o qual se deve disponibilizar um mesmo conjunto de serviços, de Norte a Sul, do centro à periferia das cidades. Assim, com problemas nas fases iniciais do ciclo de gestão de programas – no reconhecimento das questões sociais e no desenho das intervenções idealizadas para mitigá-los – não se poderiam esperar resulta-dos, de fato, impactantes. Desconhecimento sobre o estágio de avaliabilidade dos programas é outro fator a minar a credibilidade dos instrumentos de monitoramento e avaliação. A prematu-ridade na encomenda de estudos avaliativos de resultados e impactos, quando se sabe que o programa ainda se encontra em fase de implantação ou com problemas de gestão; e a antecipação de avaliações externas, com natureza mais de auditoria em detrimento de avaliações de caráter mais formativo, conduzidas internamente e voltadas ao aprimoramento incremental do programa constituem-se problemas mais frequentes do que se poderia esperar. São aportados volumes significativos de recursos em pesquisas de avaliação, procurando garantir representatividade amostral de resultados em nível nacional, esquecendo-se de estruturar painéis ou sistemas de indicadores de monitoramento que – com todas as limitações de cobertura, mas com a tempestividade devida – permitiriam identificar boa parte dos problemas em tempo de serem corrigidos. De fato, um dos achados sistemáticos das avaliações de programas realizadas pelo Tribunal de Contas da União é a inexistência de sistemas de informação para o acompanhamento das atividades dos programas. É ilustrativa, nesse sentido, a constatação, reproduzida a seguir, acerca da avaliação do Programa Nacional Bi-blioteca na Escola (PNBE), operado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Es-colar (FNDE) do Ministério da Educação (MEC), com objetivo de distribuir acervo de livros para formação de bibliotecas nas escolas. O trabalho constatou que o FNDE tem mostrado grande eficácia operacional na distribuição dos acervos do Programa para as escolas beneficiadas. Foram atendidas 20 mil escolas em 1998 e 36 mil em 1999, com previsão de atendimento de 139 mil escolas em 2002. Todavia, também se verificou que o PNBE não tem atividades de monitoramento e avaliação bem estruturadas. O MEC não dispõe de informações que permitam conhecer o nível de utilização dos acervos, bem como os problemas que podem estar afetando a efetividade do uso dos livros no desenvolvimento
  • 18. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais escolar dos alunos nas escolas beneficiadas. Tal fato é mais preocupante justamente no momento em que aumenta a escala de atendimento do Programa. (TCU, 2002, p.10). Para isso contribui o estágio do conhecimento do campo aplicado de monitora-mento e avaliação de programas no Brasil. Enquanto nos EUA e em países euro-peus desenvolvidos a cultura de avaliação de programas já se encontra em estágio maduro, depois de mais de três ou quatro décadas de desenvolvimento, com mar-cos conceituais abrangentes e testados, com profissionais de formação multidisci-plinar e com instituições especializadas, no Brasil, a institucionalização do campo é bem mais recente. Como comentam Worthern et al.7, a cultura de monitoramento e avaliação de programas nos Estados Unidos – assim como os instrumentos de planejamento e programação orçamentária – começou a se fortalecer nos anos 1960 no Governo Lyndon Johnson, quando da estruturação de vários programas sociais em nível federal, no contexto do que se denominou Great Society, e da necessidade, por-tanto, de garantir melhor gestão dos programas públicos naquele país. Rossi et al.8 identificam esforços sistemáticos em avaliação de programas sociais norte-ameri-canos, já a partir da década de 1930, como desdobramento do papel crescente do Estado americano no financiamento de serviços sociais (respondendo aos efeitos da crise de 1929). A avaliação de programas, que se concentrava, inicialmente, nas áreas de educação (sobretudo na investigação de programas de alfabetiza-ção), de saúde pública (nas ações de combate à mortalidade por doenças infecto- -parasitárias) e de qualificação profissional, passa, no pós-guerra, a abranger áreas como prevenção da violência juvenil, planejamento familiar, nutrição, programas habitacionais, desenvolvimento rural. No entanto, nos anos 1960, o campo da avaliação de programas passa por uma alta repentina e significativa, com a já mencionada ampliação dos programas sociais, e também, como lembram Rossi et al.9, com o avanço e a disseminação das técnicas aplicadas da pesquisa social, desenvolvidas nas universidades americanas. Ao contrário do que se poderia imaginar, nas décadas seguintes, a ênfase na desregulamentação e descentralização da prestação de serviços públicos e no questionamento sobre a pertinência e o tamanho dos programas sociais nos go-vernos republicanos conservadores, que assumiram o poder mais tarde, acabou por valorizar a prática da avaliação, ao disseminar a cultura de monitoramento e avaliação para governos estaduais, municipais e organizações não governa-mentais. Afinal, mesmo um “estado regulador” requer instrumentos de medi-ção de resultados para acompanhar a prestação dos serviços financiados com recursos públicos, até para justificar, com alguma base técnica e transparência, a descontinuidade de programas sociais “ineficazes” e redirecionar os gastos para outras áreas (como para as despesas militares da Guerra do Vietnã, no go-verno Nixon, e para defesa militar no Governo Reagan). Respondendo a essas 7 Worthern et al ., 2004. 8 Rossi et al ., 2004. 9 Rossi et al ., 2004.
  • 19. 21 demandas, comentam os autores que, nos anos 1970, são estruturados cursos de pós-graduação, de natureza disciplinar e, mais tarde, multidisciplinar, com forte ênfase em técnicas de pesquisa (quantitativas e qualitativas), abrindo a possibilidade para criação de uma comunidade profissional de avaliadores.10 A avaliação de programas deixaria de ser preocupação apenas de cientistas so-ciais, em temas de pesquisas acadêmicas nas universidades, ganhando projeção e interesse na comunidade de gestores públicos como ferramenta para aprimora-mento dos serviços públicos. Essa mudança qualitativa da produção e apropriação de conhecimentos na área – que parece se processar neste momento no Brasil – é muito bem registrada pela seguinte passagem de Rossi et al.:11 In its early years, evaluation was shaped mainly by the interests of social researchers. In later stages, however, the consumers of evatuation research exercised a significant influence on the filed. Evaluation in now sustained primarily by funding from policymakers, program planners, and administrators who use the findings and by the interests of general public and the clients of the programs evaluated. Evaluation results may not make front-page headlines, but they are often matters of intense concern to informed citizens, program sponsors, and decisionmakers, and those whose lives are affected, directly or indirectly, by the programs at issue. No caso brasileiro, atualmente, parte significativa da avaliação de programas pú-blicos tem sido realizada por equipes de centros de pesquisa e universidades, com boa experiência em análise de macropolíticas, conjuntura social ou projetos de pesquisa acadêmicos, mas, em geral, sem experiência na implementação real de programas e sem reunir o conhecimento multidisciplinar requerido para a abor-dagem dos problemas complexos em que os programas procuram atuar.12 Não há 10 Vide , por exempl o, as publica ções , event os e sites das ass ocia ções pr ofissi onais ou acadêmicas de avalia ção nesses países , entre os quais : American Eval uati on Associati on (www .eval .org); Canadian Eval uati on Societ y (www .eval uati oncanada .ca ); European Eval uati on Societ y (www .europeane val uati on.org); e Societ é Fran çaise d’Eval uati on (www .afe .ass o.fr ). 11 Rossi et al ., 2004, p.9. 12 De fato, no Brasil , os trabalh os de avalia ção de pr ogramas públic os e se us autores enc ontram -se dispers os pelas principais ass ocia ções científicas disciplinares , tais como: Anpad (administra ção e administra ção pública ); Anpec (ec onomia ); Anp ocs (ciências sociais ); Anped (ed uca ção); Abep (est udos populaci onais ); Abet (est udos do trabalh o); Abrasc o (sa úde coleti va). Vale destacar alg uns dos principais periódic os em que se pode enc ontrar est udos avaliati vos: Revista do Ser viço Públic o; Revista Brasileira de Ciências Sociais ; Revista de Administra ção Pública ; Revista São Paulo em Perspecti va; Textos de Disc ussão (Ipea ); Planejament o e Políticas Públicas ; Pesq uisa de Planejament o Econômic o; Texto de Disc ussão Ence , entre outr os (alg uns desses periódic os est ão disp oní veis no portal www .sciel o. br . A partir dos an os 2000, foram criad os espa ços mais multidisciplinares para disc ussão e apresenta ção de est udos de avalia ção de políticas públicas , entre eles a Associa ção Brasileira de Avalia ção Educaci onal (www .aba ve.org.br ); a Rede Brasileira de Monit orament o e Avalia ção (http ://redebrasileirademea .ning .com); o portal Políticas Públicas em Foco (www .boletim -fundap .cebrap .org.br ), mantid o pela Fundap e Cebrap ; o síti o do Trib unal de Contas da Uni ão (www . tcu.gov.br ) e da Contr olad oria -geral da Uni ão (www .cgu.gov.br ), al ém dos fór uns criad os pel os pr ogramas de pós - grad uação lat o e strict o sens u, acadêmic os e pr ofissi onais , e das linhas de pesq uisa nesse sentid o em pr ogramas de pós -grad uação em administra ção pública , ec onomia social , sa úde coleti va, direit o etc .
  • 20. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais dúvidas de que, em geral, essas avaliações de programas contam com equipes competentes no emprego das boas práticas da pesquisa social e no uso rigoroso de técnicas quantitativas e qualitativas de coleta e análise de dados. Como nas pesquisas acadêmicas, é fundamental garantir o rigor metodológico nos estudos avaliativos, para permitir conhecimento mais circunstanciado dos problemas, as soluções idealizadas para mitigá-los e para conferir legitimidade técnica-científica na avaliação da ação governamental. Mas, como já alertado em um dos primeiros manuais abrangentes de avaliação de programas no início dos anos 1970, progra-mas sociais são “objetos de pesquisa” inerentemente difíceis de serem tratados, pelo ambiente muitas vezes inóspito e pouco colaborativo, pelo contexto político menos ou mais favorável, pela natureza fugidia das perguntas e questões que o avaliador deve responder, pela menor ou maior disponibilidade de dados, pelo tempo e recursos disponíveis para conduzir análises mais consistentes.13 Em ma-nuais mais recentes, como os já citados de Worthern et al. e Rossi et.al., recomen-da- se que os estudos avaliativos sejam realizados por pesquisadores com conhe-cimento técnico e metodológico apropriado à temática em questão, mas também com experiência empírica anterior e, sobretudo, com desprendimento para inovar e improvisar nas diversas circunstâncias e dificuldades que insistem em aparecer no cotidiano prático da área. Não é incomum, pois, que estudos avaliativos realiza-dos por “puristas metodológicos” cheguem a resultados já conhecidos do gestor de programas, ou concluam – com ingênua assertividade – acerca da necessidade de descontinuidade do programa avaliado, pela suposta baixa efetividade apura-da, segundo suas escolhas metodológicas sobre o que investigar e como fazê-lo. Essas considerações iniciais – um tanto extensas, mas necessárias para contex-tualização e justificativa da discussão aqui pretendida – procuram situar o qua-dro de deficiência de sistemas de monitoramento para acompanhar as ações e os programas governamentais no Brasil e os frequentes problemas de especificação de pesquisas de avaliação desses programas na gestão pública no país. Não é tão comum encontrar, nos gabinetes e escritórios de gestores e técnicos do setor público, especialmente em nível estadual e dos grandes municípios, sistemas de monitoramento que permitam acompanhar, por meio de um conjunto consistente e atualizado de indicadores, a ação governamental, desde a alocação do gasto público ao impacto junto aos públicos beneficiários. Muitos são os exemplos de pesquisas de avaliação que, mesmo motivadas por preocupação legítima e meri-tória com a eficácia e efetividade do gasto público, revelam, infelizmente, resul-tados triviais, metodologicamente questionáveis ou com baixa apropriação para reformulação dos programas. Este texto procura trazer alguma contribuição de natureza conceitual e metodoló-gica para ajudar a “debelar os males” apontados anteriormente; isto é, para auxiliar na estruturação de sistemas de monitoramento e na especificação de pesquisas de avaliação que realmente se prestem ao objetivo de permitir o acompanhamen-to contínuo e o efetivo aprimoramento da ação governamental e, portanto, da ges-tão de programas. 13 WEISS, 1972.
  • 21. 23 Inicia-se com uma exposição do Ciclo de Formulação e Avaliação de Políticas Pú-blicas e Programas, para em seguida discutir como os sistemas de indicadores de monitoramento e as pesquisas de avaliação podem e devem se integrar naquele. Esse caminho escolhido parte da hipótese de que as dificuldades apontadas no monitoramento e avaliação de programas no Brasil – e as frustrações daí decor-rentes – são consequência, em boa medida, de desenvolvê-los seguindo modelos e prescrições muito particulares e padronizados, sem a devida “customização” que deveriam ter em função do estágio de maturidade dos programas – ou do momen-to do “ciclo de vida” em que eles se encontram –, ou, ainda, de conduzi-los sem uma análise prévia do grau de avaliabilidade dos programas e sem uma compre-ensão de que essas atividades se integram a processos mais amplos, igualmente importantes, da gestão de programas. Forçando um pouco o argumento para torná-lo mais claro – ainda que em prejuízo do reconhecimento do esforço meritório e do trabalho competente observado em diversos setores da administração pública brasileira –, o fato é que as lacunas de formação e o pouco domínio de conceitos e técnicas no campo de monitoramento e avaliação, na comunidade de gestores, acabam trazendo problemas na especifi-cação dos instrumentos de monitoramento e avaliação das ações governamentais. Isso leva às conhecidas frustrações com resultados tão ansiosamente esperados e aos questionamentos sobre a utilidade dos estudos. Explicitando melhor a motivação para elaboração desse texto – agora sob o risco de simplificar demais a natureza e minimizar o alcance dos estudos avaliativos conduzidos por colegas pesquisadores nas universidades e centros de pesquisa no país –, a abordagem marcadamente disciplinar da pesquisa aplicada no campo, a sobrevalorização de algumas abordagens e modelos específicos de avaliação, o desconhecimento do contexto de operação da ação pública e da forma com que os resultados dos estudos podem ser usados mais efetivamente pelos gestores são elementos que também contribuem para conformação de tal quadro. Este tex-to procura, assim, em uma perspectiva modesta em substância, mas comprometida em seu sentido público, colaborar para a melhoria na especificação da demanda de instrumentos de monitoramento e pesquisa de avaliação por parte da comuni-dade de gestores públicos e na estruturação dos serviços a serem oferecidos pela comunidade de pesquisadores acadêmicos e profissionais. Antes de passar a uma explicação mais detalhada de cada etapa desse ciclo, vale formalizar dois termos citados correntemente no texto – políticas públicas e pro-gramas. Isso é importante para circunstanciar os limites do campo de diálogo es-tabelecido neste texto, já que avaliação de políticas públicas e avaliação de pro-gramas públicos são termos muito imbricados, mas referem-se a contextos muito diferentes (em amplitude) da análise da intervenção estatal. Evitando entrar em uma discussão muito extensa sobre os diferentes significados do termo – sistematizados em Villanueva14 – política pública é, na definição de Nascimento15, o conjunto de decisões tomadas por aqueles que detêm competên- 14 VILLANUEVA, 2006. 15 NASCIMENTO, 1991.
  • 22. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais cia legal para deliberar em nome da coletividade – as instituições de Estado – vi-sando à solução de um problema ou ao redirecionamento de uma tendência, com a intenção de orientar sua evolução para um fim estabelecido como o desejável. Como esclarece Saravia, em [...] uma perspectiva mais operacional, poderíamos dizer que ela [a política pública] é um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos.16 As decisões que conformam tal política pública – distributiva, redistributiva ou regulatória, universal ou focalizada – assumem diferentes formatos: podem ser enunciados de diretrizes estratégicas de governo, leis e decretos normativos, que especificam de forma mais clara e operacional tais diretrizes, a criação de organizações ou programas que vão conferir operacionalidade às diretrizes, leis e normas.17 O programa público é, pois, um dos instrumentos operacionais das políticas pú-blicas. Mais especificamente, trata-se de um conjunto sistêmico de ações pro-gramadas e articuladas entre si, com objetivo de atender uma demanda pública específica, encampada na agenda de prioridades do Estado ou governo quanto a essas políticas. Assim, um programa social é um conjunto de atividades direcio-nadas para solucionar um problema vivenciado pela sociedade, em seu conjunto ou por grupos.18 Avaliação de políticas públicas, ou melhor, análise de políticas públicas, termo preferido por Owen19, é, pois, uma atividade muito mais ampla que a avaliação de programas. Trata do contexto político-social de surgimento da política, dos ato-res participantes. Volta-se mais ao esclarecimento de seu processo de construção do que da recomendação prática de como aprimorá-la, constituindo, na realida-de, um campo de investigação mais propriamente acadêmico que a perspectiva técnica-profissional em que se realiza a avaliação de programas. Vale observar que há Programas, inclusive, com escopo temático e escala de operação muito mais abrangente que o usual, revelando-se mais como um guarda-chuva de outros programas mais específicos. Outros podem ser projetos de curto alcance, ou ativi-dades que visam à produção de um produto ou serviço finalístico ou da área-meio. A discussão aqui empreendida é suficientemente ampla para contemplar essas modalidades. 16 SARAVIA, 2006, p.29. 17 VILLANUEVA, 2006. 18 ROSSI et al ., 2004. 19 OWEN, 2007.
  • 23. 25 O Ciclo de Políticas Públicas e Programas Nos manuais clássicos de Ciência Política, o processo de formulação de políticas públicas tem sido apresentado recorrentemente pelo ciclo de etapas sucessivas (Policy Cycle), com mais ou menos estágios, como ilustrado no Diagrama 120. Em que pesem as críticas de longa data quanto à forma simplificada com que esse diagrama apresenta o processo político e sua própria veracidade empírica, a se-paração em etapas se presta aos objetivos de evidenciar, ao longo do processo, ênfases diferenciadas no planejamento, na operação ou avaliação dos programas. Justifica-se ainda para fins didáticos e para orientar o recorte analítico na pesquisa acadêmica na área.21 Nesse modelo, a primeira etapa – Definição da Agenda Política (Agenda-Setting) – corresponde aos múltiplos caminhos e processos que culminam com o reconhe-cimento de uma questão social como problema público e da necessidade da ação governamental para sua solução; isto é, a legitimação da questão social na pauta pública ou agenda das políticas públicas do país, em determinado momento. A etapa seguinte – Formulação de Políticas e Programas (Policy Formulation) – refe-re- se aos processos e atividades relacionados à construção de possíveis soluções, encaminhamentos e programas para lidar com a questão recém-legitimada na agenda. É preciso, então, em sequência – na Tomada de Decisão Técnica-Política (Decision Making) –, escolher o rumo a seguir, de ação efetiva ou não, decidindo-se por uma ou algumas das alternativas formuladas. A quarta etapa – Implementa-ção de Políticas e Programas (Policy Implementation) – corresponde aos esforços de execução da ação governamental, na alocação de recursos e desenvolvimento dos processos previstos nas alternativas e programas escolhidos anteriormente. Por fim, é preciso analisar se os esforços empreendidos estão atuando no sentido esperado de solucionar o problema original – etapa de Avaliação das Políticas e Programas (Policy Evaluation). É necessário avaliar se é preciso realizar mudanças nos programas implementados para garantir sua efetividade; descontinuá-los, se o problema deixou de compor a agenda; ou então adaptá-los a uma nova realidade, reiniciando o ciclo. É oportuno registrar que a avaliação, como etapa do ciclo, realiza-se após a imple-mentação. Trata-se de um momento de natureza mais reflexiva para continuidade ou não do programa. Distingue-se, portanto, das atividades de monitoramento e avaliação, que se realizam mediante os sistemas de indicadores e as pesquisas de avaliação, instrumentos investigativos que podem ser empregados a qualquer mo-mento do ciclo, conforme discutido mais adiante. Denominar essa etapa decisiva do ciclo como avaliação somativa talvez ajudasse a evitar o duplo sentido que o termo assume na área. 20 Como apresentad o nos vári os te xtos re unid os na vali osa colet ânea sobre políticas públicas organi zada por Sara via e Ferrare zi (2006), publicada pela ENAP e disp onibili zada em se u síti o eletrônic o (www .enap .gov.br ), o Cicl o de Políticas Públicas pode ser descrit o com um númer o mai or ou men or de etapas . De modo geral , disting uem -se pel o men os três macr oetapas : form ula ção (na qual estaria a forma ção da agenda ), a implementa ção e a avalia ção. Essa publica ção, organi zada seg und o as etapas do cicl o, tra z artig os clássic os que apr ofundam a vasta disc ussão en volvida em cada uma delas . 21 NASCIMENTO, 1991.
  • 24. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais DIAGRAMA 1: O CICLO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS PÚBLICOS A agenda política corresponde ao conjunto de assuntos e problemas que os ges-tores públicos e a comunidade política entendem como mais relevantes em dado momento e, não necessariamente, à lista de preocupações da sociedade ou des-taques da imprensa.22 Afinal, o reconhecimento de uma questão social como pro-blema de governo ou Estado não é um processo simples e imediato, que responde automaticamente às estatísticas disponíveis, por mais reveladoras que sejam da gravidade da questão, quando comparada a outros países ou a outros momentos do passado. Não é a vontade de um técnico do setor público, um pesquisador aca-dêmico ou governante eleito, portador de conhecimento empírico consistente da realidade ou com uma visão ousada, que garante imediatamente sua incorporação na agenda formal de governo. Como coloca Parada, “no toda idea entra a la agen-da. No todos temas de la agenda se convierten em programas”.23 Quando existe a convicção de que um problema social precisa ser dominado po-lítica e administrativamente, é que ele se transforma em uma questão pública.24 Se parece haver solução técnica viável e factível para determinada questão social, essa entra mais facilmente na agenda. Afinal, a estrutura do setor público, pelos mecanismos institucionais existentes e operantes, é um ambiente que “digere” inovações a seu próprio tempo e estilo.25 22 JANN; WEGRICH, 2007. 23 PARADA, 2006, p.73. 24 FREY, 1997. 25 A resistência à mudan ça e à inc orp ora ção de in ovações não é pr oblema só no set or públic o, mas tamb ém nas empresas pri vadas . Os mecanism os de moti vação, press ão e coer ção nessas últimas acabam mobili zand o mudan ças , às vezes a ele vad os cust os pess oais e instit uci onais . No set or públic o, os instr ument os para mobili zação en volvem , em tese , mais coordena ção de esf orços e convenciment o, até porque as resistências podem ser bastante legítimas . Ou seja , nem toda mudan ça é necessariamente uma in ovação “positi va”. Para o bem ou para o mal , são conhecid os os cas os em que a resistência da burocracia pública acaba re vertend o ou minand o pr opostas consideradas muit o ousadas .
  • 25. 27 Há várias interpretações de como a agenda é construída. Em todas as perspectivas, ela é entendida como um processo coletivo e conflituoso de definição, como as-sinalam Howlett & Ramesh.26 Vai sendo formada por meio de diferentes mecanis-mos de pressão externa de grupos organizados em partidos políticos, sindicatos, associações patronais, imprensa e outras instituições, pelas temáticas por eles en-tendidas como relevantes; por iniciativa interna do governo e mobilização social em função de compromissos assumidos nas eleições; pela atuação da burocracia pública no encaminhamento das demandas setoriais etc. Os atores políticos se constituem em elementos catalisadores desse processo. Eles são diversos e possuem características distintas: políticos e burocratas; em-presários, trabalhadores/sindicatos, servidores públicos e os meios de comunica-ção. 27 Grandes empresários, individualmente ou por meio de seus lobbies (gru-pos de pressão), encaminham suas demandas e pressionam os atores públicos, nas decisões governamentais, em favor de seus interesses. Outro ator político de grande importância são os agentes internacionais, tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC) etc.; ou ainda os países com os quais o Brasil mantém relações políticas. Esses atores podem afetar não apenas a econo-mia, como também a política interna do país.28 Além desses, os meios de comuni-cação são outros agentes importantes no processo – de modo especial, a televisão, com difusão massificada em todas as camadas da população – pois dispõem de recursos para influenciar a opinião pública na formação das demandas.29 Enfim, as organizações políticas – partidos, sindicatos, grupos de interesse – são funda-mentais para que as demandas entrem na agenda política do governo e para que, uma vez nela presentes, possam se transformar em ações e programas concretos. A amplitude da agenda política estaria condicionada também ao nível de desen-volvimento econômico e tecnológico do país, já que tais fatores, ao viabilizar ga-nhos crescentes de produtividade na economia, permitiriam o atendimento de de-mandas de grupos de interesse organizados, pela ampliação da oferta, cobertura e diversidade dos serviços sociais.30 O ritmo de constituição de tal agenda de bem- -estar social seria potencializado, em contextos de maior liberdade e participação política, com maior atuação de partidos políticos, sindicatos, imprensa e outros grupos de interesse. Os níveis de urbanização e envelhecimento populacional também seriam outros condicionantes importantes para entender a formação da agenda política, pela visibilidade e concretude que conferem aos problemas so-ciais deles decorrentes. 26 HOWLETT & RAMESH, 2003. 27 RUA, 1998. 28 Idem , ibidem . 29 FREY, 1997. 30 CAREY, 2006.
  • 26. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Na etapa da formulação da política, os problemas, as propostas e demandas ex-plicitadas na agenda transformam-se em leis, programas e propostas de ações. Isto é, a formulação de política envolve a busca de possíveis soluções para as questões priorizadas na agenda. Nesse momento, os elementos operacionais da política em questão precisam ser evidenciados: diretrizes estratégicas, propos-tas de leis, decretos normativos, programas e projetos. Em uma visão simpli-ficada – e um tanto romântica e ingênua, como diria Charles Lindblom –, tais programas e propostas seriam elaborados pelo emprego de técnicas gerais de planejamento de projetos; conhecimentos setoriais específicos; análise de via-bilidade política, de custo-benefício ou custo-efetividade das soluções; revisão crítica de experiências anteriores e boas práticas identificadas. Essas tarefas são conduzidas por técnicos do setor público, com maior ou menor participação de consultores externos, seguindo orientações emanadas de gestores públicos no topo da hierarquia. Em função da natureza do problema e orientação geral de governo, os programas propostos se classificariam em ações de cunho distributivo, redistributivo ou re-gulamentório. 31 Na realidade, essa fase não está tão desvinculada do cotidiano da política ou tão isolada das influências das propostas dos grupos de interesse, como se supõe. Muitas vezes, as propostas de encaminhamento de soluções che-gam junto com as pressões para introduzir a questão na agenda formal de governo. Se não, colocada a questão, há sempre atores com maior ou menor influência na formatação dos possíveis programas e ações.32 Levantadas as diferentes alternativas para uma dada questão social, é preciso es-colher qual deverá ser adotada. Enquanto que na definição da agenda política e formulação de programas a participação de agentes não pertencentes ao governo ou Estado desempenha papel central, a tomada de decisão envolve os gestores e técnicos mais diretamente relacionados à política ou ao programa. Esse é o ônus e o bônus do exercício da atividade pública. Isso não significa que outros agentes e atores não estejam ativos no processo, de modo a influenciar a decisão em um ou outro sentido, introduzindo – legitimamente em muitos casos – considerações de ordem política em rotinas de cunho mais eminentemente técnico. Como bem colocam Howlett & Ramesh: These actors can and do, of course, engage in various kinds of lobbying activities aimed at persuading, encouraging, and sometimes even coercing authoritative office-houlders to adopt options of which they approve. However, unlike office-holders, those other actors have, at best, a voice in the decision-making process, but they do not have a vote per se.33 31 HOWLETT & RAMESH, 2003 32 JANN; WEGRICH, 2007. 33 HOWLETT & RAMESH, 2003, p.163.
  • 27. 29 Chega então o momento da implementação dos programas, projetos e ações pontuais ou mais abrangentes. A fase de Implementação é o momento em que a política públi-ca começa a ser executada, em que os recursos alocados passam a se transformar em ações capazes de agir e mudar certa realidade. Aqui, a política adquire uma concre-tude objetiva maior e, por isso, começa a revelar mais explicitamente as dificuldades de sua introdução e operação pelos agentes encarregados de “pôr a mão na massa”.34 Trata-se da gestão das ações para fazer uma política sair do papel e funcionar efetiva-mente, compreendendo o conjunto de ações realizadas, por grupos ou atores de na-tureza pública ou privada, para a consecução de objetivos definidos. Envolve progra-mação de atividades, previsionamento de recursos financeiros, alocação de recursos humanos, mobilização de agentes, interlocução com atores estratégicos, manejo dos mecanismos que assegurem a governabilidade das atividades e correção de cursos, caso se identifiquem obstáculos ou surpresas não antecipadas. É na avaliação – ou melhor, na avaliação somativa – que são confrontados os resul-tados esperados com os resultados alcançados. É o momento em que se dá um re-torno à etapa inicial de formulação, com correções no plano de ação, caso seja uma política de ordem contínua; ou quando se decide pelo encerramento da política. É também uma etapa de verificação dos impactos desejados e indesejados. Trata-se de verificar os efeitos obtidos para deduzir consequências indesejadas nas ações e programas futuros. Como bem coloca Frey,35 a avaliação é imprescindível para o desenvolvimento e a adaptação contínua das formas e dos instrumentos de ação pública, o que pode ser denominado como a fase de “aprendizagem política”. O ciclo de políticas públicas tal como descrito é, certamente, um modelo idealiza-do, com aderência bastante limitada ao cotidiano verificado no Brasil ou em outros países. Como bem observa Saravia, “o processo de política pública não possui uma racionalidade manifesta. Não é uma ordenação tranquila na qual cada ator social conhece e desempenha o papel esperado”.36 Pelo que sugere Lindblom,37 atuali-zação da agenda, formulação de políticas e programas, implementação e avaliação seriam estágios permanentes e concomitantes do processo político. A atualização da agenda política e as inovações dos programas seriam, de fato, muito mais in-crementais e contínuas do que gostariam os gestores públicos. Tampouco haveria, segundo Parada, um momento de avaliação cabal das políticas e programas, sendo “[...] más habitual que cambien o se combinen com outras. Se há llegado a decir que lãs políticas públicas son imortables”.38 Boa parte da crítica feita a esse modelo se refere ao fato de ele sugerir que a administração pública, seus gestores, os atores políticos e os técnicos atuem de forma bastante sistemática e cooperativa, como se estivessem todos envolvidos na resolução de um problema consensualmente percebido, empregando métodos 34 NASCIMENTO, 1991 35 FREY, 1997. 36 SARAVIA, 2006, p.29. 37 LINDBLOM, 2006. 38 PARADA, 2006, p.72.
  • 28. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais racionais e objetivos na busca da solução, de acordo com uma sequência linear de etapas bem definidas. Como diria Lindblom,39 mais uma vez, o imperativo da racionalidade técnica no processo, a análise exaustiva dos problemas, a busca de soluções ótimas e a crença no poder revelador e conciliador do discurso técnico- -científico – tão presentes nos órgãos de planejamento público – não seriam em-piricamente constatáveis, nem factíveis e muito menos desejáveis. Na realidade, a formulação de políticas configura-se como um processo que envol-ve a interação de muitos agentes, com diferentes interesses. É marcada por apoios entusiasmados de alguns, resistências legítimas ou não de outros. Está repleta de avanços e retrocessos, com desdobramentos não necessariamente sequenciais e não plenamente antecipáveis. Como observam Jann & Wegrich: Policy process rarely features clear-cut beginnings and endings. At the same time, policies have always been constantly reviewed, controlled, modified and sometimes even terminated; policies are perpetually reformulated, implemented, evaluated and adapted. […] Moreover, policies do not develop in a vacuum, but are adopted in a crowded policy space that leaves little space for innovation […].40 Contudo, na visão de Howlett & Ramesh,41 esse modelo de representação tem a grande virtude de facilitar o entendimento do processo complexo de interação de diversos agentes, nos múltiplos estágios por que passa a formulação de políti-cas públicas, oferecendo um marco metodológico geral para análises isoladas de cada etapa do processo ou das relações de cada uma com as demais, à frente ou à jusante. Esse modelo seria também suficientemente geral para ser aplicado no entendimento do processo na maioria dos âmbitos e contextos de formulação de políticas e programas – em nível federal, estadual, local e mesmo setorial. Jann & Wegrich42 acrescentam ainda que o sucesso e a “resiliência” desse mode-lo clássico às críticas de pesquisadores acadêmicos é que ele parece como um modelo prescritivo ideal a ser adotado, em que gestores eleitos governam com corpos burocráticos dotados de grande capacidade de diagnóstico de problemas, com posturas ativas e inovadoras na formulação de programas, operando com ra-cionalidade técnica na tomada de decisões, com controle efetivo das atividades na implementação dos programas públicos e objetividade na avaliação desses. Os sistemas de indicadores de monitoramento no Ciclo de Políticas e Programas A preocupação com a construção de indicadores de monitoramento da ação go-vernamental é tão ou mais antiga que a própria avaliação de programas públicos, 39 LINDBLOM, 2006. 40 JANN; WEGRICH, 2007, p.44-45. 41 HOWLETT & RAMESH, 2003. 42 JANN & WEGRICH, 2007.
  • 29. 31 se forem consideradas as medidas de performance mais geral do setor pú-blico baseadas na entrega de obras e produtos e na computação de indi-cadores de custos de serviços, a partir da execução orçamentária. Como registram Mcdavid e Hawthorn em livro que procura oferecer uma visão inte-grada entre avaliação de programas e medição do desempenho governamental: While we have tended to situate the beginnings of performance measures in the United States, in the 1960s, with the development of performance management systems such as programmed planned budgeting systems (PPBS) […] there is good evidence that performance measurement and reporting was well-developed in some American local governments early in the 20th century.43 Os autores citam as iniciativas de alguns governos locais nos EUA, antes da 2ª Guerra Mundial, na elaboração de relatórios com computação regular de medi-das de eficiência dos serviços públicos então oferecidos, como a construção e manutenção das ruas e rodovias, distribuição de água e recolhimento de lixo. Os produtos e serviços disponibilizados pelo setor público municipal eram bastante simples e tangíveis, assim como a contabilização dos custos para sua produção. Mas foi a introdução das técnicas de programação orçamentária por programas no Governo Kennedy que marcaria um momento de maior aprimoramento na medi-ção do desempenho – expresso por indicadores de eficiência e efetividade – na esfera federal americana. Ao propor a estruturação do orçamento segundo conjun-to de atividades e programas afins – agora bem mais complexos que os oferecidos pelos municípios na primeira metade do século XX – e não segundo as agências e organizações que as executavam, esperava-se conseguir apurar resultados e cus-tos mais consistentes dos serviços públicos disponibilizados e, portanto, medidas de eficiência mais precisas.44 Em que pesem o fracasso na implementação do orçamento-programa – na vincula-ção entre recursos-produtos ao nível de programas – e o contexto de crise fiscal do Estado, comentam os autores que a orientação voltada à medição dos resultados ganhou força nos anos 1970 e na década seguinte. Os governos conservadores desse período (em especial na Inglaterra, com Thatcher, e nos EUA, com Reagan) imprimem reformas no setor público, que vieram a ser conhecidas como o movi-mento da Nova Administração Pública, preconizando a adoção de instrumentos de controle e gestão de resultados do setor privado. Sem entrar na discussão acerca dos excessos, limitações e aspectos meritórios de tal movimento – debate esse já empreendido no Brasil por vários autores, com muito mais competência, autoridade e espaço do que o disponível para este tex-to –, o legado de preocupação com a transparência e responsabilização pública criou oportunidades para aprimoramento da gestão de programas, seja para a 43 MCDAVID; HAWTHORN, 2006, p.283. 44 MCDAVID; HAWTHORN, 2006.
  • 30. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais estruturação de sistemas de indicadores de monitoramento, seja para a realização das pesquisas de avaliação. Neste tópico do texto, discute-se o primeiro desses instrumentos de gestão: os sistemas de monitoramento. O modelo idealizado de “ciclo de vida” de políticas e programas apresentado ante-riormente é uma referência conceitual interessante para ilustrar como os sistemas de indicadores de monitoramento podem ser estruturados e como as pesquisas de avaliação podem ser especificadas de forma a potencializar seu emprego na gestão dos programas. A proposta básica desta seção é mostrar a importância de se dispor de indicadores relevantes e periodicamente atualizados para acompa-nhar as atividades e a produção de serviços dos programas, que permitam corri-gir desvios, reprogramar atividades ou mesmo especificar pesquisas de avaliação para entender por que determinados processos não estão se encaminhando no sentido idealizado originalmente. Como discutido em texto anterior,45 as atividades de cada etapa do ciclo apoiam-se em um conjunto específico de indicadores. Na definição da agenda, os indicadores são recursos valiosos para dimensionar os problemas sociais, servindo como ins-trumentos de advocacy e pressão de demandas sociais não satisfeitas. Indicadores produzidos pelas instituições oficiais de estatísticas – sobretudos os computados a partir de censos demográficos e pesquisas amostrais regulares – prestam-se bem a esse papel, pela legitimidade que gozam perante diferentes públicos. No Brasil, o relatório “Síntese de Indicadores Sociais”, publicado anualmente pelo IBGE, é uma referência importante nesse sentido, provocando grande interesse na mídia quando de sua divulgação.46 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) compu-tado para países, municípios, mulheres e negros é outro bom exemplo de como uma medida simples pode mobilizar os veículos de comunicação e recolocar anu-almente o debate sobre desigualdade social e os impactos das políticas públicas na mídia e nas esferas de governo.47 Na elaboração dos diagnósticos para formulação de programas, os indicadores são imprescindíveis para qualificar os públicos-alvo, localizá-los e retratá-los de modo tão amplo e detalhado quanto possível. É preciso adequar as intervenções às características e necessidades dos demandantes dos programas. De modo ge-ral, na elaboração de diagnósticos socioeconômicos propositivos para programas públicos, empregam-se indicadores de várias áreas temáticas analíticas ou de atu-ação governamental. Para desenvolver programas no campo da educação básica, por exemplo, é preciso conhecer não apenas as condições de acesso à escola, a infraestrutura escolar, o desempenho dos alunos, mas também aspectos relacio-nados às condições de vida dos estudantes, como moradia, nível de pobreza e 45 Jann uzzi (2005), disp oní vel para downl oad na Revista do Ser viço Públic o, v.56, n.2, em www . enap .gov.br . Outra referência para apr ofundament o nesse camp o é Jann uzzi (2004). 46 Essa publica ção do IBGE, assim como di versas outras da instit uição, está disp oní vel para downl oad em www .ibge .gov.br . 47 Uma disc ussão dos limites e potencialidades do IDH pode ser vista em Guimar ães e Jann uzzi (2005).
  • 31. 33 renda familiar, acesso a serviços de saúde, escolaridade dos pais, fatores esses que certamente podem afetar ou potencializar as ações programáticas específicas.48 Indicadores construídos a partir dos censos demográficos são particularmente úteis nessa fase, pela amplitude do escopo temático investigado e pela possibi-lidade de desagregação territorial ou por grupos sociodemográficos específicos. O Censo Demográfico 2010 potencializará ainda mais essas duas características – escopo e desagregabilidade –, constituindo-se em marco importante para reava-liação das demandas sociais da população brasileira, nesse momento de amplia-ção da estrutura de proteção social no país. Na seleção de alternativas programáticas idealizadas para atender à questão pú-blica colocada na agenda e eleger prioridades de intervenção, é preciso dispor de indicadores que operacionalizem os critérios técnicos e políticos definidos. Indi-cadores sintéticos, como o já citado Índice de Desenvolvimento Humano, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Índice da Pegada Humana (Footprint Index) ou as classificações geradas por técnicas de análise multicritério podem ser úteis para apoiar decisões nessa fase do ciclo,49 como discutido em Scandar et al.50 e Jannuzzi et al.51 Para acompanhar a implementação dos programas e, posteriormente, para ges-tão, quando eles entrarem em plena operação, são necessários indicadores que permitam acompanhar regularmente as ações programadas, do previsionamento e alocação do gasto à produção dos serviços e, idealmente, aos eventuais resultados e impactos esperados quando da idealização dos programas. São os indicadores que estruturam processos formais de monitoramento, entendido, nas palavras de Coutinho, como “um processo sistemático e contínuo que, produzindo informa-ções sintéticas e em tempo eficaz, permite rápida avaliação situacional e a inter-venção oportuna que confirma ou corrige as ações monitoradas”.52 Dispostos em painéis ou em sistemas informatizados, os indicadores de monitora-mento devem ser atualizados com regularidade e tempestividade adequada à to-mada de decisão. Idealmente, esses indicadores devem ser específicos e sensíveis às ações programadas, a fim de se tornarem, de fato, úteis para inferir se o progra-ma está sendo implantado conforme planejado ou para permitir as correções de rumo (aspectos que só poderão ser comprovados mais precisamente por meio de pesquisas de avaliação específicas, durante ou após a implantação). 48 Um bom exempl o de indicad ores para diagnóstic os de pr ogramas set oriais é dem onstrad o na publica ção “Constr uind o o diagnóstic o municipal ”, disp oní vel em www .cepam .sp .gov.br . Outr o exempl o de diagnóstic o ap oiad o em indicad ores multitemátic os é o Diagnóstic o para Programa de Qualifica ção Profissi onal do Estad o de São Paulo, disp oní vel em www .empreg o.sp .gov.br . 49 No síti o www .anipes .org.br está disp oní vel um aplicati vo (Pradin ) que permite entender o potencial da Análise Multicrit éri o na tomada de decis ão em políticas públicas . 50 SCANDAR et al ., 2006. 51 JANNUZZ I et al ., 2009. 52 COU TINHO, 2001, p.11.
  • 32. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Para isso, esses painéis ou sistemas de indicadores de monitoramento devem se valer dos dados continuamente atualizados nos cadastros e registros administra-dos pelos gestores e operadores envolvidos nos programas. Devem estar interli-gados aos sistemas informatizados de gestão do programa, no qual são registrados atendimentos prestados, informações dos agentes que o operam, características dos beneficiários, processos intermediários, que produzirão os efeitos idealizados pelo programa. Diferentemente do que se passa nas pesquisas de avaliação, na estruturação de sistemas de monitoramento não se prevê levantamentos primá-rios de dados. Pode ser necessário criar rotinas de coleta de dados que operem fora dos círculos normais de produção de serviços dos programas, mas é preciso fazer esforços para aproveitar as informações geradas no âmbito de operação co-tidiana dos programas. A criação de mais uma rotina para registro de informação, pelo beneficiário do programa ou pelo agente envolvido na implementação, pode implicar atrasos indesejados e, pior, declarações mal preenchidas que acabam não se prestando à sua finalidade original. Vale observar que, em geral, as informações compiladas e enviadas para atualização dos registros de acompanhamento do Plano Plurianual, no Ministério do Planeja-mento, Orçamento e Gestão, são somente a ponta do iceberg de dados armazenados em planilhas eletrônicas e gavetas nos escritórios da administração pública. Aliás, é curioso que, nas médias e altas gerências do setor público – prefeituras, secretarias de estados ou ministérios –, reclame-se de falta de informação para gestão em meio a tanta informação continuamente produzida nas unidades de prestação de serviços públicos (escolas, postos de saúde, delegacias, centros de referência da assistência social, postos de intermediação de mão de obra, agências do INSS etc.). Para superar esse paradoxo da “escassez na abundância”, é preciso aprimorar os processos de gestão da informação nos escritórios em que se planejam e coordenam as políticas e programas públicos. Os fluxos de informação, os processos de tratamento, vali-dação, classificação e, naturalmente, de armazenamento precisam ser pensados de forma articulada, valendo-se de aplicativos e ferramentas de integração de dados (e não dos custosos – em planejamento, tempo é dinheiro – sistemas informatizados de 4ª, 5ª ou enésima geração propostos por consultorias experientes em automa-ção de processos na iniciativa privada, mas pouco conhecedoras da complexidade operacional da gestão de programas públicos). É possível que algumas informações produzidas pelas agências estatísticas – no caso brasileiro, o IBGE, o Datasus, o Inep, entre outros53 – possam ser úteis para a construção de indicadores de monitoramento de programas, sobretudo de na-tureza universal ou com público-alvo numeroso. Em geral, essas fontes proveem informações para avaliações de políticas ou para um conjunto de políticas e ma-croações governamentais – mais adequadas para composição de mapas estraté-gicos da ação governamental – e não para os propósitos de monitoramento de programas específicos, em função da escala territorial de desagregação dos dados ou do tempo que levam para serem produzidas. Esse quadro pode mudar para melhor com as transformações anunciadas nas pesquisas amostrais do IBGE para 53 As pesq uisas e dad os destas instit uições podem ser cons ultadas , respecti vamente , em www . ibge .gov.br , www .datas us.gov.br , www .inep .gov.br . No portal www .anipes .org.br , podem ser acessad os síti os eletrônic os de órg ãos subnaci onais de estatística no Brasil .
  • 33. 35 a década de 2010, com maior integração conceitual, maior possibilidade de in-corporação de temas suplementares, ampliação e adensamento da amostra pelo interior do país. Não só se poderá dispor de um escopo mais amplo de estatísticas e indicadores sociais divulgados mais regularmente ao longo do ano, como tam-bém referidos para domínios territoriais e grupos sociodemográficos bem mais diversos. Aos indicadores mensais de emprego, hoje restritos às seis principais re-giões metropolitanas, somar-se-ão muitos outros – educacionais, habitacionais, de rendimentos etc. –, divulgados em base trimestral (semestral ou anual) para todos os estados brasileiros. Mediante o emprego de métodos estatísticos avançados, usando informação combinada dessas pesquisas com outras fontes de dados, pes-quisadores de centros de análise de políticas públicas e universidades poderão estimar indicadores sociais com bom grau de precisão para domínios territoriais ainda mais específicos.54 De qualquer forma, as informações estatísticas mais gerais são úteis para que se possam disponibilizar alguns indicadores de contexto socioeconômico no âmbito do sistema de monitoramento. Afinal, todo sistema aberto, como são os programas públicos, está sujeito aos efeitos de fatores externos, que podem potencializar ou atenuar resultados. Sistemas de indicadores de monitoramento de programas de qualificação profissional, por exemplo, devem dispor de indicadores de mercado de trabalho e de produção econômica como informações de contexto, pelos im-pactos que uma conjuntura econômica menos ou mais favorável podem ocasionar na operação do programa. Como alternativa ou complemento às pesquisas estatísticas oficiais, é possível construir indicadores de contexto ou mesmo de monitoramento de programas, a partir dos registros administrativos de programas de grande cobertura populacio-nal, como o Cadastro Único de Programas Sociais do Ministério de Desenvolvimen-to Social e Combate à Fome; a Relação Anual de Informações Sociais e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho; e o Cadastro Nacional de Informações Sociais do INSS/Ministério da Previdência. Naturalmen-te, os registros de provimento e execução orçamentária do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) também são importantes fon-tes de informação para construção de indicadores de monitoramento (sobretudo porque permitem computar indicadores de regularidade de repasse de recursos, dimensão crucial para programas que envolvem diversas ações intermediárias para viabilizar a consecução das atividades mais finalísticas). Vale registrar que os ministérios responsáveis pela gestão desses cadastros têm feito esforços im-portantes com o objetivo de disponibilizar as informações neles depositadas para pesquisadores e público em geral.55 54 Vide , nesse sentid o, o que as agências estatísticas americanas pr oduzem reg ularmente , acessand o o portal www .fedstats .gov. O Burea u of Lab or Statistics gera , por exempl o, estimati vas mensais de taxa de desempreg o para 372 áreas metr opolitanas e taxas an uais para os mais de 3 mil condad os e as 50 mai ores cidades americanas . O Burea u of Cens us, por sua vez, tra z an ualmente estimati vas populaci onais para mais de 20 mil localidades e indicad ores sociais referid os a mais de 10 temáticas – de ocupação, moradia à ed uca ção – para municípi os acima de 65 mil habitantes . 55 Vide , nesse sentid o, os aplicati vos da Senarc /MDS (www .mds .gov.br ), os sistemas de cons ulta on-line da Rais e do Caged no MTE (www .mte .gov.br ), e os dad os da Pre vidência na ferramenta Inf ologo em www .datapre v.gov.br .
  • 34. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Um bom sistema de indicadores de monitoramento não é necessariamente com-posto de grande quantidade de informação, mas uma rede em que a informação foi selecionada de diferentes fontes e está organizada de forma sintetizada e mais adequada ao uso analítico pelos diferentes gestores (Diagrama 2). É preciso en-contrar um ponto de equilíbrio entre o “caos informacional”, potencialmente ge-rado pela estruturação de sistemas de monitoramento construídos de baixo para cima (em que participam inicialmente técnicos e gestores da base e depois de níveis táticos e mais estratégicos), e a pobreza analítica das propostas desenvol-vidas de cima para baixo. Um sistema de indicadores de monitoramento não é um sistema de gestão operacional do programa, que provê acesso aos incontáveis registros diários e individuais de operação de convênios, prestação de serviços, recursos transferidos, projetos e atividades concluídas. Um sistema de monito-ramento vale-se do(s) sistema(s) de gestão dos programas para buscar informa-ções, integrá-las segundo unidades de referência comum (município, escola etc.), sintetizá-las em indicadores e conferir-lhes significado analítico. Ao apresentar informações sintetizadas na forma de indicadores, que podem ser analisados no tempo, por regiões e públicos-alvo, ou comparados com metas esperadas, esses sistemas permitem ao gestor avaliar se os diversos processos e inúmeras ativida-des sob sua coordenação estão se “somando” no sentido preconizado. Um sistema de monitoramento não é, pois, um conjunto exaustivo de medidas desarticuladas, mas uma seleção de indicadores de processos e ações mais importantes. Um sistema que não provê acesso orientado às centenas de indicadores dispo-níveis talvez não se preste ao propósito de monitoramento (ainda que possa ser útil como base de dados para estudos avaliativos a posteriori). Também não se vale ao monitoramento um sistema em que a informação não está organizada se-gundo o nível de relevância operacional-estratégica do gestor usuário. Ao gerente de processos operacionais básicos, deve estar disponível a informação essencial para o bom desempenho das atividades de seus coordenados. Ao gestor mais es-tratégico, devem estar disponíveis indicadores que lhe permitam acompanhar os macroprocessos segundo o modelo lógico do programa.
  • 35. 37 DIAGRAMA 2: INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES DE DIFERENTES FONTES NA ESTRUTURAÇÃO DE UM SISTEMA DE INDICADORES DE MONITORAMENTO Para um e para outro gestor, os indicadores devem ser os pertinentes à sua esfera de decisão, ajustados à referência temporal e territorial que lhes compete e inte-ressa. As novas ferramentas de integração de dados permitem construir painéis de indicadores de forma “customizada”, possibilitando, inclusive, acesso a infor-mação mais detalhada se assim o gestor o desejar. Podem-se construir painéis em camadas “explicativas”, isto é, organizando indicadores segundo uma estrutura nodal, em que um primeiro conjunto reduzido de indicadores estratégicos seja acompanhado de um segundo conjunto mais amplo de indicadores mais específi-cos, que ajudem a entender o comportamento e a evolução dos primeiros, e assim por diante. Na realidade, trata-se de um sistema de monitoramento que reúne informações sintéticas – para análise de tendências gerais das atividades estraté-gicas – e informações analíticas – para entendimento mais aprofundado das ten-dências observadas. A proposta de acompanhamento das metas de inclusão social nos países da Comunidade Europeia segue essa lógica de estruturação, dispondo os indicadores em três painéis articulados:56 Nível 1 – conjunto restrito de indicadores-chave (lead indicators) cobrindo as di-mensões consideradas mais importantes para acompanhar a exclusão social. Nível 2 – indicadores complementares em cada dimensão, que ajudam a interpre-tar cada um dos indicadores-chave. Nível 3 – indicadores que cada país-membro decidir incluir para acompanhar as especificidades nacionais e que ajudem a entender aqueles dos níveis 1 e 2. 56 ATKINSON et al ., 2005.
  • 36. avaliação de políticas públicas: REFLEXÕES acadêmicas sobre o Desenvolvimento Social e o Combate à Fome Introdução e Temas transversais Tal proposta de organização vem com algumas premissas básicas para escolha de indicadores que parece oportuno resgatar neste texto, pois podem ser úteis em outras aplicações (Quadro 1). Vale registrar que tal escolha deveria se orientar também pela análise da aderência dos indicadores às propriedades de relevân-cia social, validade de constructo, confiabilidade, periodicidade, sensibilidade às mudanças, especificidades das ações programadas, como discutido em Jannuzzi.57 QUADRO 1: PREMISSAS PARA ESCOLHA DE INDICADORES DE MONITORAMENTO DA INCLUSÃO/EXCLUSÃO SOCIAL NA COMUNIDADE EUROPEIA • O conjunto de indicadores não pode se pretender exaustivo e deve ser equilibrado entre as dimensões da exclusão social (saúde, educação, moradia etc.). Um conjunto muito amplo de indicadores leva à perda de objetividade, perda de transparência e credibilidade. • Os indicadores devem ter uma interpretação normativa claramente defi-nida (Para monitorar a exclusão social a taxa de desemprego cumpre tal requisito; já um indicador de produtividade do trabalho não). • Os indicadores devem ser mutuamente consistentes, isto é, não devem sugerir tendências inconsistentes (indicadores de desigualdade como o Índice de Gini e a Proporção de Massa Salarial Apropriada podem ter comportamentos diferentes ao longo do tempo, já que medem aspectos distributivos diferentes). • Os indicadores devem ser inteligíveis e acessíveis a toda a sociedade. São preferíveis medidas simples, de fácil entendimento. Deve-se resistir às simplificações indevidas (indicadores sintéticos). Se o programa foi especificado segundo as boas práticas e técnicas de planeja-mento de projetos, deve haver um desenho lógico de encadeamento de ativida-des e etapas. Tal sistema deve conseguir oferecer evidências acerca da execução do gasto, da produção, eficiência e qualidade dos serviços, do consumo e usufruto por parte do público-alvo e, se possível, antecipar dimensões impactadas pelo programa. Isto é, um bom sistema de monitoramento deve prover indicadores de insumo, processo, resultado e possíveis impactos do programa. Exemplificando, tal sistema deve permitir monitorar, simultaneamente: o dispêndio realizado por algum tipo de unidade operacional prestadora de serviços ou subprojeto; o uso dos recursos humanos, financeiros e físicos; a geração de produtos e a percepção dos efeitos gerados pelos programas. Em Resende e Jannuzzi,58 é apresentado o exemplo de Painel de Indicadores de Monitoramento do Plano de Desenvolvimen 57 JANNUZZ I, 2005. 58 RESENDE; JANNUZZ I, 2008.
  • 37. 39 to da Educação (PDE) estruturado na lógica insumo-processo-resultado-impacto. Na dimensão insumo, deu-se prioridade aos indicadores voltados para o financia-mento da educação. Para a dimensão processo, foram definidos indicadores que pudessem ser produzidos com certa regularidade e estivessem relacionados ao processo de ensino-aprendizagem, como percentual de docentes com nível supe-rior, percentual de alunos atendidos por turno integral, entre outros. Como medida de resultados, os indicadores de proficiência da Prova Brasil, defasagem idade-sé-rie e taxa de abandono. Como apontamentos de impactos potenciais, o ingresso de jovens no ensino superior.59 Os aplicativos voltados à disponibilização de indicadores da Secretaria de Avalia-ção e Gestão da Informação do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome- como a MI-Social, DataSocial e Monib- são referências certamente úteis para estruturação de sistemas de monitoramento de programas nessa perspectiva processual, não apenas no âmbito do ministério, mas de outros setores da admi-nistração pública.60 O documento “Guia metodológico para construção de indicadores do PPA”,61 ela-borado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, é outra referência importante para especificação de sistemas de indicadores de monitoramento de programas, pela extensa revisão bibliográfica empreendida em sua elaboração; pela preocupação em incorporar aspectos de propostas desenvolvidas em outros estados e contextos do setor público brasileiro; pela experiência de mais de dez anos na elaboração de planos plurianuais no governo federal; e pela preocupação com clareza na exposição de conceitos, etapas e fontes de dados. Em geral, há maior disponibilidade de indicadores de processos, que espelham os esforços e produtos gerados nas ações programadas, para os quais há registros formais e maior controle operacional pelos gestores. Ainda assim, em alguns casos, é possível dispor, no painel de monitoramento, de indicadores de resultados e im-pactos junto ao público-alvo dos programas, buscando informações nos registros e cadastros públicos citados anteriormente. No caso do Sistema de Indicadores de Monitoramento de Programas de Qualificação Profissional, ilustrado há pouco, seria possível dispor de alguma medida de impacto do programa, com a integração de informações cadastrais dos trabalhadores qualificados com os dados da Rais ou mesmo do CadÚnico, mediante o uso do Número de Identificação do Trabalha-dor ou do CPF (de fato, procedimentos análogos são usados correntemente pelo Ministério do Desenvolvimento Social para fins de fiscalização na concessão de benefícios do Programa Bolsa Família). 59 No referid o te xto, empreg ou-se o aplicati vo Monit – disp oní vel em www .anipes .org.br – para comp or um painel sit uaci onal com gráfic os dos indicad ores esc olhid os para duas unidades territ oriais de interesse de monit orament o. Uma bre ve apresenta ção do aplicati vo é enc ontrada em Jann uzi e Miranda (2008), disp oní vel no Boletim de Estatísticas Públicas n.4, no mesm o site . 60 Cons ultar o “Dici onári o de variá veis , indicad ores e pr ogramas sociais ” no endere ço http :// aplicac oes .mds .gov.br /sagi /dici vip . Esse dici onári o tamb ém está disp oní vel para downl oad em www .mds . gov.br /sagi . 61 MPO, 2009.