2. • Helenismo
O Egipto Romano, embora tenha sido palco do florescimento do processo de
romanização, apresentou, sobretudo em Alexandria, a maioritária presença
do helenismo, sem deixar de lado as manifestações religiosas judaicas e em
especial faraónicas que foram preservadas. O Egipto pós- Ptolomaico
Romano, especialmente a Alexandria Romana manteve acesa a chama do
binómio Alexandria – Helenismo, o qual pode ser estendido para um
trinómio Alexandria – Helenismo – Romanização.
Segundo (DROYSEN citado em PAUL 1983) ao decorrer do século XIX, deu ao
“helenismo” um conceito histórico de contornos precisos e estendeu seu
campo ao período que vai da derrota do império persa do Aqueménides, por
Alexandre Magno (331 a.C.), até o fim do reino dos Ptolomeus, marcado pela
batalha de Ácio (31a.C.). Este período particular da história da antiguidade se
caracterizava também aos seus olhos pelo encontro e até pela mistura de
elementos culturais gregos e orientais.
3. O helenismo é híbrido, envolvendo elementos culturais helénicos
somados aos próximo orientais, como as culturas faraónica e judaica. E
embora Droysen determine como fim do recorte cronológico do
helenismo, a queda do Egipto Ptolomaico. Indubitavelmente o
helenismo prolongou-se, em vários campos da cultura, durante o
período de domínio romano do Egipto, incluindo Alexandria. Tais
manifestações culturais envolvem indumentária, língua, religião,
mitologia e filosofia gregas, que surgiram mescladas a elementos
culturais faraónicos e judaicos, na Alexandria Romana.
4. Sentido Ético da Filosofia Helenística
A filosofia continua com uma importante função a desempenhar, a ela
se pedem sobretudo uma norma de vida, o segredo da felicidade, um
princípio de conduta que assegure a paz e a alma. Para a consecução
de tudo podia-se contar amplamente nos tempos de Sócrates, Platão e
Aristóteles, com o Estado, com a pólis, garantiam ao cidadão a mais
completa auto-realizacao.
Segundo MONDIN (1977) O homem se vê perdido em um imenso
universo político por conta a arruinação da pólis, não podia atingir a
felicidade senão apoiando-se em suas próprias forcas e recolhendo-se
em si mesmo. A pesquisa filosófica no período helenístico tem um
sentido eminentemente etico, razão pela qual é denominada período
etico,
5. Do modo diferente de resolver os problemas relativos ao Sumo Bem e à
verdade nasceram os quatro grandes movimentos filosóficos do período
helenístico nomeadamente:
• Estóicos;
• Epicuristas;
• Cético e
• Eclético.
Os Estóicos fazem-no consistir na empatia (ou eliminação das paixões); Os
Epicuristas colocam-no na ataraxia (ausência de preocupações e
perturbações) e no prazer. Mas muitos espíritos não se sentem satisfeitos
com nenhuma destas soluções, e em suas mentes ganha terreno um
sentimento de desconfiança em relação a qualquer solução filosófica não só
do problema Sumo Bem, mas também o da verdade: esta é a solução dos
céticos. Outros pensadores julgam que para problemas tão árduos, nenhuma
inteligência humana pode resolver sozinha, é mais recomendável reunir o
que há de bom nos diversos sistemas filosóficos: solução dos ecléticos.
6. O helenismo não se tratou apenas de uma revolução política, mas também
de uma revolução espiritual e cultural, a partir do momento que na
dimensão política (isto é, na vida dentro da pólis) se reconheciam todos os
grandes filósofos gregos, os quais justamente sobre este fundamento
construíram seus sistemas morais e sua antropologia.
O ideal da pólis, portanto, é substituído pelo ideal cosmopolita (o mundo
inteiro é uma polis), e o homem-citadino é substituído pelo homem-
individuo.
Surgiu fortemente a existência de novas filosofias mais eficazes do ponto de
vista prático, que ajudassem a enfrentar os novos acontecimentos e a
inversão dos antigos valores aos quais estavam estreitamente ligadas. De tal
modo, a cultura helénica, difundindo-se em vários lugares, tornou-se cultura
helenística, e o centro da cultura passou de Atenas para Alexandria. Como
expressões de novas exigências impuseram-se de modo particular a filosofia
cínica, a epicurista, a estóica e a céptica, enquanto o Platonismo e o
Aristotelismo caíram em grande medida no esquecimento.
7. As consequências espirituais da revolução operada por Alexandre Magno
São poucos os eventos históricos que, por sua relevância e suas
consequências, as assimilam de modo emblemático o fim de uma época e o
inicio da outra. A grande expedição de Alexandre Magno (334-323 a.C.) um
dos mais significativos, não são só pelas consequências políticas que
provocou, mas por toda uma serie de mudanças concomitantes de antigas
convicções, que determinaram a reviravolta radical no espírito do mundo
grego, o qual marcou o fim da época clássica e o inicio da nova era.
A consequência política mais importante produzida pela revolução
helenística foi o desmoronamento da importância sociopolítica da Pólis. Já
Filipe da Macedónia, pai de Alexandre, ao realizar seu projecto de
predomínio macedónio sobre a Grécia, embora respeitando formalmente as
cidades, começou a minar sua liberdade.
Os valores fundamentais encontraram-se distribuídos que constituíam o
ponto de referencia do agir moral e que Platão, na sua Republica, e
Aristóteles, na sua politica, não só teorizaram mas também fizeram da polis
não apenas uma forma histórica, mas fizeram dela a forma ideal do estudo
perfeito.
8. Difusão do ideal cosmopolita
O declínio das polis não corresponde o nascimento dos organismos políticos dotados de
nova forca moral e capazes novos ideais. As monarquias helenistas nasceram da dissolução
do império de Alexandre, ao qual foi um organismo instável. A vida nos novos estados se
desenvolve independentemente do seu querer.
As novas habilidades que contam não são mais as antigas virtudes civis, mas são
determinados conhecimentos técnicos que não podem ser do domínio de todos, porque
requerem estudos e disposições especiais. Em todo o caso, elas perdem o antigo conteúdo
ético para adquirir conteúdo propriamente profissional. O administrador de coisa pública
torna-se funcionário, soldado ou mercenário. E, ao lado deles, nasce o homem que, não
sendo mais nem o antigo cidadão nem o novo técnico, assume diante do estado uma
atitude desinteresse neutro, quando não de aversão.
As novas filosofias teorizam essa nova realidade, colocando o Estado e a politica entre as
coisas neutras, ou seja, moralmente indiferentes ou francamente entre as coisas a evitar.
Em 146 a.C., a Grécia perde totalmente a liberdade, tornando-se província romana. O que
Alexandre sonhou, os romanos o realizaram de outra forma. E assim o pensamento grego,
não vendo uma alternativa positiva à Pólis, refugiando-se no ideal do “cosmopolitismo”,
considerando o mundo inteiro uma cidade, a ponto de incluir nessa cosmópolis não só os
homens mas também os deuses. Desse modo, dissolve-se a antiga equação entre homem
e cidadão e o homem é obrigado a buscar sua nova identidade.
9. 7.A descoberta do indivíduo
Na era helenística o homem começa a descobrir-se nessa nova dimensão. A educação cívica do mundo clássico formava cidadãos; a cultura da época de Alexandre
forjou, depois, indivíduos. Nas grandes monarquias helenísticas, os liames e as relações entre o gomem e o Estado tornam-se cada vez menos estreitos e imperiosos; as
novas formas políticas, nas quais o poder é mantido por um só ou por poucos, permitem sempre mais a cada um forjar a seu modo a própria vida e a própria fisionomia
moral; e, mesmo nas cidades onde perduram as antigas ordenações, como em Antenas (ao menos formalmente), a antiga vida cívica, agora degradada, parece apenas
sobreviver a si mesma, lânguida, intimidada, entre veleidades de reacções deprimidas e sem profundo conhecimento dos espíritos. O indivíduo doravante livre diante de
si mesmo.
Na descoberta do indivíduo cai-se, as vezes, no excesso do individualismo e do egoísmo. Mas a revolução tinha tal importância que não era fácil mover-se com equilíbrio
na nova direcção.
Como consequência da separação entre o homem e o cidadão, nasce a separação dentre a ética e política. A ética clássica, ate Aristóteles, baseava-se no pressuposto da
identidade entre homem e cidadão. Pela primeira vez na história da filosofia moral, época helenística, graças a descoberta do indivíduo, a ética se estrutura de maneira
autónoma, baseando-se no homem como tal, na sua singularidade. As tentações e as concessões egoístas que assinalamos são precisamente a exasperação dessa
descoberta.
10. O desmoronamento dos preconceitos racistas entre Gregos e Bárbaros
Os Gregos consideram os Bárbaros incapazes de cultura e de actividade livre
e, em consequência “ escravos por natureza”. Ate Aristóteles, como vimos,
teorizou na política essa convicção.
Alexandre, ao contrário, tentou sem sucesso, a empresa gigantesca da
assimilação dos Bárbaros vencidos e de sua equiparação aos Gregos. Instruiu
a milhares de jovens Bárbaros com base nos cânones da cultura grega e fê-
los prepararem-se na arte de guerra com técnica grega (331 a.C.). Ordenou,
ademais, que soldados e oficiais macedónios desposassem mulheres persas
(324 a.C.).
Também o preconceito da escravidão viu-se contestado por filósofos, pelo
menos em teoria. Epicuro não só tratara familiarmente os escravos como
também os desejara participantes do seu ensinamento. Os estóicos
ensinarão que a verdadeira escravidão é a da ignorância e que à liberdade do
saber podem aceder, quer o escravo, quer o seu senhor, e a história do
estoicismo terminara de modo emblemático com as duas grandes figuras de
Epicteto e de Marco Aurélio, um escravo liberto e outro imperador.
.
11. Da cultura “helénica” à cultura “helenística”
A cultura “ helénica”, com sua difusão entre os vários povos e raças, torna-se “helenística”.
Essa difusão comportou, fatalmente, perda de profundidade e pureza. Entrando em
contacto com tradições e crenças diversas, a cultura helénica devia fatalmente assimilar a
influência do Oriente. E os novos centros de cultura, tais como Pergamo, Rodes e
sobretudo Alexandria, com a fundação da Biblioteca e do Museu, graças aos Ptolomeus,
acabaram por ofuscar a própria Atenas. Se Atenas conseguiu permanecer a capital do
pensamento filosófico, Alexandria tornou-se inicialmente o centro no qual floresceram as
ciências particulares e, quase no fim da época helenística, e principalmente na época
imperial, também o centro da filosofia.
Também de Roma, vencedora militar e politicamente, mas que a Helade culturalmente
conquistou para si, vieram estímulos novos, adequados ao realismo latino, que
contribuíram de modo relevante para criar e difundir o fenómeno do ecletismo. Os mais
dos filósofos foram os que tiveram contacto mais imenso com os romanos, e o mais
eclético de todos foi Cícero.
O pensamento helenístico estava centrando sobretudo nos problemas morais, que se
impõem a todos os homens. E ao propor os grandes problemas da vida e algumas soluções
para os mesmos, os filósofos dessa época criaram algo verdadeiramente grandioso e
excepcional. O cinismo, o epicurismo, o estoicismo e o catecismo propuseram, modelos de
vida nos quais os homens continuaram a se inspirar ainda durante outro meio milénio e
que, ademais, tornaram-se paradigmas espirituais