Correlação entre características morfológicas e fisiológicas em progênies de macaúba jean alecvete final
1. CORRELAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E FISIOLÓGICAS EM1
PROGÊNIES DE MACAÚBA2
3
JEAN CARLOS ALEKCEVETCH1
; GISELE PEREIRA DOMICIANO1
; RODRIGO FURTADO4
SANTOS1
; LEYCIANE MARCIA VIEIRA1
; LEO DUC HAA CARSON SCHWARTZHAUPT DA5
CONCEIÇÃO2
; BRUNO GALVEAS LAVIOLA1
; ALEXANDRE ALONSO ALVES1
6
7
INTRODUÇÃO8
A Macaúba (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Martius) é uma palmeira oleaginosa9
nativa do Brasil, que está se destacando devido a seu elevado potencial produtivo. Devido sua10
promissora capacidade em fornecer, ao mercado interno, óleo para produção de biocombustíveis,11
diversas instituições estão investindo em PD&I para a espécie. À longo prazo, programas de12
melhoramento é uma das principais necessidades para obtenção de variedades melhoradas e13
viabilização do cultivo comercial da espécie. Nesse sentido, um extenso trabalho de mapeamento e14
caracterização em maciços naturais e implantação de coleções de germoplasma estão sendo15
conduzidos. Testes de progênies também vem sendo implantados e consistem hoje nas primeiras16
ações de melhoramento. Estes testes são avaliados principalmente quanto às características17
morforlógicas. Aspectos ecofisiológicos da espécie também já foram investigados (PIRES et al;18
2013). Flood et al. (2011) demonstraram que os parâmetros ecofisiológicos podem estar diretamente19
ligados à produtividade de inúmeras espécies, e dada à carência de informações sobre a associação20
destes parâmetros com os componentes de produção na cultura da macaúba, o objetivo deste estudo21
foi obter estimativas de correlação entre características morfológicas e fisiológicas avaliadas ao22
nível de campo.23
MATERIAL E MÉTODOS24
O experimento foi conduzido em um teste de progênies mantido pela Embrapa25
Agroenergia em campo experimental da Embrapa Cerrados (Planaltina – DF) (15°35’30”S e26
47°42’30”W, 1007m). Neste ensaio, 15 famílias de meios-irmãos, oriundas de coletas realizadas27
nos estados de Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal, foram distribuídas em blocos ao acaso (528
parcelas com três plantas por bloco, com espaçamento de 5x5m). As características morfológicas29
1
Embrapa Agroenergia, Parque Estação Biológica, Avenida W3 Norte (Final), Brasília/DF, Brasil, 70770-
901 (jean.carlos@colaborador.embrapa.br; gisele.domiciano@embrapa.br; rodrigo.santos@embrapa.br;
lecianymvieira@hotmail.com; leo.carson@embrapa.br; bruno.laviola@embrapa.br;
alexandre.alonso@embrapa.br)
2
Embrapa Cerrados, Rodovia Brasília/Fortaleza BR 020 Km 18, Planaltina/DF, Brasil, 73310-970.
2. avaliadas foram: (i) Altura da planta (H, em m); (ii) comprimento da ráquis (CR, em m); (iii)30
largura das ráquis (LR, em cm), (iv) número de ráquis (NR). A (v) área foliar total (AFT, em m2
)31
foi estimada por meio da seguinte equação: AFT (m2
) = -0,852 + 6,49*H, onde H equivale à altura.32
Também foram avaliadas características fisiológicas associadas às trocas gasosas como a (vi) taxa33
de assimilação liquida de CO2 (A); (vii) a condutância estomática (gs), (viii) a concentração34
mesofílica de CO2 (Ci), (ix) a taxa de transpiração (E) e (x) o déficit de pressão de vapor (VpdL).35
As mensurações foram realizadas no folíolo médio da primeira ráquis totalmente expandida (PIRES36
et al. 2013), com o auxílio de um analisador de gás por infra-vermelho (IRGA) (Licor 6400 XL) sob37
condições atmosféricas naturais (~380-390 ppm de CO2). As avaliações foram realizadas sob luz38
saturante (1200µmol m-2
.s-1
). Utilizando dados de temperatura da folha, umidade relativa na câmara39
e a diferença entre a saturação e pressão do ar, foi calculado o VpdL. Além destes parâmetros, a (xi)40
relação entre a concentração mesofílica e a ambiental de CO2 (Ci/Ca), (xii) eficiência intrínseca no41
uso da água (A/gs) e a (xiii) eficiência no uso da água (A/E) foram posteriormente calculados. Os42
dados obtidos foram então correlacionados entre si, por meio da computação do coeficiente de43
correlação de Pearson. Todas as análises foram realizadas por meio do aplicativo Genes (CRUZ44
2013).45
RESULTADOS E DISCUSSÃO46
Os dados deste estudo fornecem evidências que as características morfológicas em avaliação47
no teste de progênies são relacionadas entre si, bem como as características fisiológicas aqui48
avaliadas (Tabela 1). Estes resultados indicam que em programas de melhoramento genético de49
macaúba pode-se realizar seleção indireta para algumas características. Esse parece ser o caso de50
algumas características como altura, por exemplo, que correlaciona-se com o comprimento de51
ráquis ou largura de ráquis (Tabela 1). Se essa correlação se manter ao longo dos anos, pode-se52
pensar em selecionar plantas de menor porte por meio da seleção daquelas que em idade precoce53
apresentam ráquis menores. Cabe ressaltar que o porte reduzido é uma característica interessante,54
pois permite que palmeiras sejam mais facilmente manejadas por um período maior de tempo. Um55
ponto importante que ainda precisa ser investigado é se as palmeiras de menor porte são tão56
produtivas quanto às de porte elevado. Um indicativo que isso pode ser verdade é o fato da57
capacidade fotossintética, medida pela taxa de assimilação liquida de CO2, não ter se58
correlacionado significativamente com nem com a altura das plantas, nem com as características da59
ráquis (Tabela 1). Isso pode indicar que plantas de menor porte podem fixar o CO2 atmosférico com60
a mesma eficiência de plantas mais altas. Ainda no que tange a análise de correlação entre61
características fisiológicas e morfológicas, verifica-se pela Tabela 1, que não houve correlação entre62
nenhum par de características. Esse fato, pode ser decorrente da pequena amostragem. Neste estudo63
3. apenas 15 famílias foram avaliadas, e para a maioria das características avaliadas essas progênies64
não diferem entre si – exceção A/gs - (dados não publicados). Considerando o fato da espécie ser65
nativa, e por apresentar ampla diversidade fenotípica, talvez uma maior amostragem possa revelar66
genótipos contrastantes tanto para características morfológicas quanto para características67
fisiológicas. Nesse caso é plausível que alguma correlação entre essas características seja68
verificado. Além disso, cabe ressaltar que a macaúba é uma planta perene, e como toda espécie de69
ciclo longo, a repetibilidade das características pode não ser revelada em idade juvenil. Isso porque,70
determinadas características morfológicas e fisiológicas alteram ao longo do ciclo da planta. Nesse71
caso, um número de medidas mínimo, estabelecido com base no coeficiente de repetibilidade, deve72
ser necessário para se verificar o real relacionamento entre características complexas. Além disso,73
interações complexas entre genótipos e ambientes podem influenciar a expressão destas74
características. Assim, é possível que haja variações nos coeficientes de correlação estimados em75
função da idade da planta. Flood et al. (2011) sugeriram recentemente que parâmetros fisiológicos76
podem ser utilizados como marcadores para características morfológicas de complexa e/ou difícil77
mensuração, uma vez que em muitos casos existe ligação direta entre tais parâmetros. Entretanto,78
no presente trabalho não foi possível verificar associações que permitam tal abordagem no79
melhoramento do conjunto das progênies avaliadas. Talvez, ao se expandir tal estudo para um80
conjunto mais diverso de progênies, e tomando medidas repetidas ao longo de vários anos, possa-se81
identificar associações entre características morfológicas e fisiológicas.82
CONCLUSÕES83
Não se verificou correlações significativas entre características fisiológicas e morfológicas.84
Estudos posteriores, que amostrem maior diversidade genética da espécie, e que avaliem progênies85
em diferentes estádios de desenvolvimento e/ou condições ambientais devem ser realizados para86
validar se tais parâmetros de fato não guardam relação entre si.87
REFERÊNCIAS88
CRUZ, C. D.. GENES - a software package for analysis in experimental statistics and quantitative89
genetics . Acta Scientiarum. Agronomy (Online), v. 35, p. 271-276, 2013.90
FLOOD, P. J.; HARBINSON, J.; AARTS, M.. G. M. Natural genetic variation in plant91
photosynthesis. Trends in Plant Science. v.16, n.6, 2011.92
PIRES, T. P.; SOUZA, E. dosS.; KUKI, K. N.; MOTOIKE, S. Y. Ecophysiological traits of the macaw93
palm: A contribution towards the domestication of a novel oil crop. Industrial Crops and Products94
v. 44, p. 200-210, 2013.95
4. Tabela 1. Estimativas de correção de Pearson entre variáveis morfológicas e fisiológicas em Macaúba. H – altura; CR – comprimento da ráquis; LR –96
largura da ráquis; NR – número de ráquis; ATR – área total da ráquis; A - Taxa de assimilação liquida de CO2; gs - condutância estomática; E - taxa de97
transpiração; VpdL - déficit de pressão de vapor ; Ci/Ca - relação entre a concentração mesofílica e a ambiental de CO2; A/gs - eficiência intrínseca no98
uso da água; A/E - eficiência no uso da água.99
Variáveis A gs Ci E VpdL Ci/Ca A/gs A/E H CR LR NR ATR
A 1 -0,10 -0,28* 0,67** 0,32** -0,23* 0,13 -0,17 -0,20 -0,12 -0,20 0,07 -0,19
gs 1 0,82** 0,20 -0,61** 0,84** -0,85** -0,39** 0,06 0,08 0,11 0,07 0,06
Ci 1 0,00 -0,75** 0,98** -0,95** -0,25* 0,09 0,05 0,05 0,13 0,09
E 1 0,49** 0,04 -0,13 -0,82** -0,12 -0,15 -0,18 0,07 -0,12
VpdL 1 -0,77** 0,73** -0,36** -0,14 -0,20 -0,19 -0,07 -0,14
Ci/Ca 1 -0,98** -0,27* 0,12 0,10 0,10 0,13 0,12
A/gs 1 0,33** -0,13 -0,13 -0,12 -0,13 -0,13
A/E 1 0,03 0,10 0,08 -0,03 0,04
H 1 0,82** 0,69** 0,22* 0,99**
CR 1 0,83** 0,10 0,82**
LR 1 -0,07 0,69**
NR 1 0,22
ATR 1
**,*Correlação significativa ao nível de 1 e 5% de probabilidade pelo teste t, respectivamente.100