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O século XVI foi marcado por dois movimentos religiosos que tiveram funda
repercussão social e cultural: a Reforma Protestante, liderada por Lutero, na
Alemanha, e a Contra-Reforma, movimento de reação da Igreja de Roma.
A vigorosa reação contra os abusos, a hipocrisia e a corrupção da Igreja , promovida
pela Reforma de Lutero, enfrentou, inevitavelmente, a reação católica que fundou a
Companhia de Jesus com o objetivo de propagar sua fé, difundindo suas idéias em
todo o mundo, através do trabalho missionário dos jesuítas.
O Concílio de Trento, realizado na década de 40 do século XVI, teve como
conseqüência uma grande reformulação do catolicismo, em resposta à Reforma
Protestante. A disciplina e a autoridade da Igreja de Roma foram reafirmadas
vigorosamente, estabelecendo-se a divisão da cristandade entre católicos e
protestantes.
Nos países protestantes, onde havia condições favoráveis à liberdade de
pensamento, a investigação científica iniciada no Renascimento pôde prosseguir. Já
nos países em que a religião de Roma triunfava, como Itália, Espanha e Portugal,
desenvolveu-se um movimento chamado Contra-Reforma, que reprimiu as
manifestações culturais ou artísticas que pudessem contrariar os dogmas da Igreja.
A Inquisição, que se estabelecera na Espanha a partir de 1480 e em Portugal a partir
de 1536, ameaçava cada vez mais a liberdade de pensamento. O clima geral era de
austeridade e repressão. É nesse contexto que se desenvolve o movimento artístico
chamado Barroco.
Assim, a arte barroca, que vigora durante todo o século XVII e chega às primeiras
décadas do século XVIII, registra o espírito contraditório de uma época que se divide
entre as influências do Renascimento - o materialismo, o paganismo e o sensualismo
- e da onda de religiosidade trazida sobretudo pela Contra-Reforma.
A origem da palavra barroco é obscura. Duas hipóteses têm sido consideradas mais
aceitáveis na tentativa de desvendar seu significado original: barroco era o adjetivo
que designava certas pérolas de superfície irregular e preço inferior ou uma fórmula
de memorização utilizada nos estudos filosóficos medievais, desprezados durante o
Renascimento. Há, em ambos os casos, um valor depreciativo na palavra, que
durante muito tempo foi usada para indicar uma arte e uma literatura “bizarras”,
“extravagantes”. A revalorização da estética barroca é relativamente recente, e
podemos dizer que, no que diz respeito às literaturas de língua portuguesa, é uma
tarefa ainda incompleta.
Como resultado de realidades opostas, a arte barroca é a expressão das contradições
e do conflito espiritual do homem da época. Certos princípios artísticos do
Renascimento, como equilíbrio, harmonia e racionalismo, foram então abandonados,
o que levou o Barroco a ser visto, durante longo tempo, como uma arte indisciplinada.
No Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma
dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas. De certa forma,
assistimos a uma retomada do espírito religioso e místico da Idade Média, numa
espécie de ressurgimento da visão teocêntrica, aquela que considera Deus como o
centro das definições, como núcleo do mundo, como o eixo da vida. E não é por
acaso que a arte barroca nasce em Roma, a capital do catolicismo.
Com efeito, se observamos a arquitetura, a pintura, a escultura, as artes decorativas,
a música e as artes literárias do Barroco, veremos que são produzidas segundo a
mesma tensão, ou seja, podemos dizer que toda a arte barroca trabalha sobre uma
tensão, uma dicotomia, uma divisão. De um lado, as determinações e demandas
católicas contra-reformistas - a obrigação de tratar dos temas bíblicos e dos temas
ligados à tradição dos católicos, como a vida dos santos; a adoção da perspectiva
teocêntrica. De outro, as solicitações do mundo humano, figuradas nos temas da vida
real, como as conquistas (pensemos no caso de Camões em Os Lusíadas) ou como
as maravilhas inventadas pelos homens da ciência, tudo isso configurando uma idéia
de liberdade na pesquisa e na produção da arte, segundo a perspectiva
antropocêntrica, que considera o homem como a medida de todas as coisas.
Do ponto de vista econômico, vivia-se a revolução comercial, cuja política econômica,
o mercantilismo, se baseava no metalismo, na balança de comércio favorável e no
acúmulo de capitais. A burguesia despontava nesse contexto como classe de forte
poder econômico. Porém, se a política econômica mostrava-se aberta e favorecia a
ascensão de setores populares, como a burguesia, o mesmo não ocorria com a
estrutura social e com a estrutura política. Politicamente o homem da época sentia-se
oprimido, enquanto economicamente se via livre para enriquecer. Apesar da
possibilidade de ascensão econômica, a estrutura social do Antigo Regime não lhe
permitia, porém, a ascensão social.
Por esse conjunto de razões é que se verifica na linguagem barroca, tanto na forma
quanto no conteúdo, uma rejeição constante da visão ordenada das coisas. Os temas
são aqueles que refletem os estados de tensão da alma humana, tais como vida e
morte, matéria e espírito, amor platônico e amor carnal, pecado e perdão. A
construção, por sua vez, acentua e amplia o sentido trágico desses temas, ao fazer
uso de uma linguagem de difícil acesso, rebuscada, cheia de inversões e de figuras
de linguagem, como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria.
Todo o rebuscamento que aflora na arte barroca, reflexo do conflito entre o terreno e
o celestial, faz com que a arte assuma uma tendência sensualista, caracterizada pela
busca do detalhe num exagerado rebuscamento formal. Assim, as obras de arte
devem falar aos fiéis com a maior eficácia possível, mas em momento algum descer
até eles. Daí o caráter solene da arte barroca que tem de convencer, conquistar,
impor admiração.
No Barroco literário, podemos notar dois estilos: o Cultismo e o Conceptismo. O
Cultismo é o rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo
excessivo emprego de figuras de linguagem. Também conhecido como gongorismo,
pela influência do estilo do poeta espanhol Luís de Gôngora, o cultismo explora
efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e
fantasiosas, recursos que sugerem, enfim, a superação dos limites da realidade. O
Conceptismo é o jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do
pensamento lógico, por analogias, etc. Embora seja mais comum o cultismo
manifestar-se na poesia e o conceptismo na prosa, é perfeitamente normal
aparecerem ambos em um mesmo texto. Na prática, ambas as tendências (cultismo e
conceptismo) se confundem, mostrando a mesma vocação para a retórica e para o
formalismo.
No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 com a publicação do poema
épico Prosopopéia, de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da
poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do
século XVIII. O final do Barroco brasileiro só se concretizará em 1768, com a
fundação da Arcádia Ultramarina e com a publicação do livro Obras, de Cláudio
Manuel da Costa.
Entretanto, mesmo considerando o Barroco o primeiro estilo de época da literatura
brasileira e Gregório de Matos o primeiro poeta definitivamente brasileiro, com
sentimento nativista manifesto, na realidade ainda não se pode isolar a Colônia da
Metrópole. Ou, como afirma Alfredo Bosi:
“No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório
de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram
motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano.”
Além disso, os dois principais autores - Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos -
tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. Também, as funções da literatura
eram muito diferentes daquelas que conhecemos hoje (diversão, informação,
exercício da arte, etc.). Naquele tempo e naquelas circunstâncias, escrever e ler
relacionavam-se a interesses práticos (alguns elevados, caso dos sermões de Vieira;
alguns mundanos, caso das sátiras e críticas de Gregório de Matos) ou a uma
espécie de brincadeira, de prática educada, desejável para as pessoas de destacada
posição social. Tanto era assim, que mesmo um poeta inspirado como Gregório de
Matos nunca publicou nada em vida - tudo que conhecemos como sendo de sua
autoria é poesia atribuída a ele, com boa dose de certeza, mas com alguma dose de
arbitrariedade. A colônia não dispunha de quase nenhum sistema de ensino, salvo
aquele ligado diretamente à Igreja Católica, e não podia imprimir nada (tudo que
circulava aqui era impresso na Europa, situação que só se alterou depois da chegada
da família real portuguesa, no começo do século XIX).
Na história da cultura de nosso país, o estilo barroco tem uma localização cronológica
bastante espalhada. Falamos de Barroco na literatura como tendo acontecido no
século XVII, especificamente na Bahia (Vieira e Gregório de Matos são os maiores
nomes). Mas, no século XVIII quando o Barroco já tinha entrado em declínio na
Europa, no Brasil, em Minas Gerais, ele teve um último desenvolvimento, estimulado
pela riqueza gerada pela descoberta de ouro e pedras preciosas.
O artista mais original do Barroco mineiro foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho
(1730-1814). Arquiteto, entalhador e escultor, suas obras constituem, até hoje, um
dos pontos mais altos da arte brasileira.
AUTORES BARROCOS
Gregório de Matos Guerra “O Boca do Inferno” (1633?-1696)
VIDA e OBRA - Gregório de Matos Guerra é o maior poeta brasileiro e um dos
fundadores da poesia lírica e satírica em nosso país. Nasceu em Salvador, Bahia,
estudou no Colégio dos Jesuítas e depois em Coimbra, Portugal, onde cursou Direito.
Lá tomou conhecimento e apaixonou-se pela poesia de Góngora, Quevedo, Camões,
dentre outros, cujos versos recitava em suas então habituais incursões pelas tabernas
e prostíbulos de Coimbra. Mais tarde, foi nomeado “curador de órgãos e juiz de crimes”
de uma comarca próxima a Lisboa. Retornando ao Brasil, em 1681, exerceu os cargos
de tesoureiro-mor e de vigário-geral, porém sempre se recusou a vestir-se como clérigo
e por não concordar com a disciplina e hipocrisia do clero não tardou a pedir exoneração
dos cargos. Devido às suas sátiras, foi perseguido pelo governador baiano Antônio de
Souza Menezes, o Braço de Prata. Depois de se casar com Maria dos Povos e exercer
a função de advogado, saiu pelo Recôncavo baiano como cantador itinerante,
dedicando-se às sátiras e aos poemas eróticos-irônicos, o que lhe custou alguns anos
de exílio em Angola. Voltou doente ao Brasil e, impedido de entrar na Bahia, morreu
em Recife.
Gregório foi irreverente como pessoa, ao chocar os valores e a falsa moral da sociedade
baiana de seu tempo, com seu comportamento considerado indecoroso; como poeta
lírico, porque seguia e, ao mesmo tempo, quebrava os modelos barrocos europeus;
como poeta satírico, pois, empregando um vocabulário de baixo calão, denunciou as
contradições e falsidades daquela sociedade, não se curvando ao poder das
autoridades políticas e religiosas. Escreveu poesia lírica: religiosa, amorosa e filosófica
e, também, ficou conhecido como “O Boca do Inferno”, em razão de sua poesia satírica
que, a exemplo de certos trovadores da Idade Média, não poupava palavrões em sua
linguagem nem críticas a todas as classes da sociedade baiana de seu tempo. Criticava
o governador, o clero, os comerciantes, os negros, os mulatos ... e amava as mulatas...
. Entretanto, surgem algumas dúvidas em relação a produção escrita de Gregório, já
que em vida não chegou a publicar nenhum livro, fato que ocasionou inúmeras
dificuldades para o reconhecimento da autoria de suas obras. Com efeito, sua obra
representa uma época de contradições e incertezas, registrando um momento de crise
espiritual de um homem dividido entre duas formas de ver o mundo: a religiosa e a
humanística.
Pe. Antônio Vieira (1608 - 1697)
VIDA e OBRA - Antônio Vieira é a principal expressão do Barroco em Portugal. Sua
obra pertence tanto à literatura portuguesa quanto à brasileira. Português de origem,
Vieira tinha 7 anos de idade quando veio com a família para o Brasil. Na Bahia estudou
com os jesuítas e espontaneamente ingressou na ordem da Companhia de Jesus,
iniciando seu noviciado com apenas 15 anos. A maior parte de sua obra foi escrita no
Brasil e está relacionada com as inúmeras atividades que o autor desempenhou como
religioso, como conselheiro de D. João IV, rei de Portugal, ou como mediador e
representante de Portugal em relações econômicas e políticas com outros países.
Embora religioso, Vieira nunca restringiu sua atuação à pregação religiosa. Sempre pôs
seus sermões a serviço das causas políticas que abraçava e defendia e, por isso, se
indispôs com muita gente: com os pequenos comerciantes, com os colonos que
escravizavam índios e até com a Inquisição.
Valendo-se do púlpito - único meio de propagação de idéias às multidões no Nordeste
brasileiro do século XVII - , Vieira pregou a índios, brancos e negros, a brasileiros,
africanos e portugueses, a dominadores e dominados. Suas idéias políticas foram
postas em prática por meio da catequese, da defesa do índio e da colônia, em favor de
Portugal, por ocasião da invasão holandesa.
ESQUEMA DO BARROCO
Arte da Contra-Reforma: - crise do Renascimento; destruição da harmonia social
aristocrática; valorização do teocentrismo.
Conflito entre o corpo e a alma:
Corpo: vida, prazeres terrenos, gozo mundano, pecado.
Alma: morte, salvação eterna, graça.
Forma conturbada: - antíteses, inversões, paradoxos, metáforas, ausência de
clareza = tradução dos conflitos interiores.
Tema: o fluir do tempo - viver a vida ou preparar-se para a morte.
O BARROCO NO BRASIL
Histórico: - início: jesuítas, especificamente Anchieta.
Apogeu: século XVII na literatura (Gregório de Matos) - na arquitetura e escultura ele
se estende por mais dois séculos.
Decadência: 1ª metade do século XVIII.
Localização: Bahia (literatura), pela predominância da produção açucareira.
Outros nomes do Barroco: Marinismo: na Itália, por influência do poeta Giambattista Marini
- Gongorismo: na Espanha, por influência do poeta Luís de Gôngora y Argote. Nesse país,
Barroco e gongorismo são palavras sinônimas. - Preciosismo: na França, em razão do requinte
formal dos poemas. - Eufuísmo: na Inglaterra, termo criado a partir do título do
romance Euphures, or the anatomy of wit, do escritor John Lyly.
GREGÓRIO de MATOS GUERRA (1633?-1696) - O BOCA DO INFERNO
POESIA RELIGIOSA: o homem ajoelhado diante de Deus (temas: a culpa, o
arrependimento, o pecado e o perdão, além de constantes referências bíblicas).
POESIA AMOROSA: ora “graciosa”, ora erótica, fortemente marcada pelo dualismo
amoroso carne/espírito.
POESIA FILOSÓFICA: o desconcerto do mundo (lembrando diretamente Camões) e
as frustrações humanas diante da realidade; a consciência da transitoriedade da vida
e do tempo, marcados pelo carpe diem; a brevidade da vida.
POESIA SATÍRICA: ironiza todos os aspectos da vida colonial, principalmente os
portugueses, através de uma linguagem diversificada, cheia de termos indígenas e
africanos, de palavrões, gírias e expressões locais.
Padre Antônio Vieira (1608 - 1697)
“Os Sermões” - combate aos ímpios; defesa dos índios; sonho com
o “Grande Império”; linguagem conceptista.
CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM BARROCA
Interesse por temas religiosos;
Os dualismos que refletem o conflito espiritual do homem barroco;
O conflito entre visão antropocêntrica e teocêntrica;
Conflito entre fé e razão;
Idealização amorosa; sensualismo e sentimento de culpa cristão;
A morbidez como forma de acentuar o sentido trágico da vida;
O emprego constante de figuras de linguagem (antíteses, paradoxos, comparações,
metáforas, hipérboles, etc.)
O uso de uma linguagem requintada;
A efemeridade do tempo (vida terrena passageira) e o carpe diem (gozar a vida,
pecar e não ter salvação? (“sentimento de culpa cristã”);
Cultismo: rebuscamento formal, jogo de palavras e excessivo emprego de figuras
de linguagem - explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume,
sonoridade, imagens violentas e fantasiosas.
Conceptismo: jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do
pensamento lógico, por analogias, etc.
ATENÇÃO! Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o
conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um
mesmo texto.
Na pintura - o jogo do claro/escuro: o Barroco aprecia fundir a luz à sombra, o que
traduz o conflito resultante do desejo de fundir a fé à razão ou a razão à
emoção/sensação.

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Barroco

  • 1. O século XVI foi marcado por dois movimentos religiosos que tiveram funda repercussão social e cultural: a Reforma Protestante, liderada por Lutero, na Alemanha, e a Contra-Reforma, movimento de reação da Igreja de Roma. A vigorosa reação contra os abusos, a hipocrisia e a corrupção da Igreja , promovida pela Reforma de Lutero, enfrentou, inevitavelmente, a reação católica que fundou a Companhia de Jesus com o objetivo de propagar sua fé, difundindo suas idéias em todo o mundo, através do trabalho missionário dos jesuítas. O Concílio de Trento, realizado na década de 40 do século XVI, teve como conseqüência uma grande reformulação do catolicismo, em resposta à Reforma Protestante. A disciplina e a autoridade da Igreja de Roma foram reafirmadas vigorosamente, estabelecendo-se a divisão da cristandade entre católicos e protestantes. Nos países protestantes, onde havia condições favoráveis à liberdade de pensamento, a investigação científica iniciada no Renascimento pôde prosseguir. Já nos países em que a religião de Roma triunfava, como Itália, Espanha e Portugal, desenvolveu-se um movimento chamado Contra-Reforma, que reprimiu as manifestações culturais ou artísticas que pudessem contrariar os dogmas da Igreja. A Inquisição, que se estabelecera na Espanha a partir de 1480 e em Portugal a partir de 1536, ameaçava cada vez mais a liberdade de pensamento. O clima geral era de austeridade e repressão. É nesse contexto que se desenvolve o movimento artístico chamado Barroco. Assim, a arte barroca, que vigora durante todo o século XVII e chega às primeiras décadas do século XVIII, registra o espírito contraditório de uma época que se divide entre as influências do Renascimento - o materialismo, o paganismo e o sensualismo - e da onda de religiosidade trazida sobretudo pela Contra-Reforma. A origem da palavra barroco é obscura. Duas hipóteses têm sido consideradas mais aceitáveis na tentativa de desvendar seu significado original: barroco era o adjetivo que designava certas pérolas de superfície irregular e preço inferior ou uma fórmula de memorização utilizada nos estudos filosóficos medievais, desprezados durante o Renascimento. Há, em ambos os casos, um valor depreciativo na palavra, que durante muito tempo foi usada para indicar uma arte e uma literatura “bizarras”, “extravagantes”. A revalorização da estética barroca é relativamente recente, e podemos dizer que, no que diz respeito às literaturas de língua portuguesa, é uma tarefa ainda incompleta. Como resultado de realidades opostas, a arte barroca é a expressão das contradições e do conflito espiritual do homem da época. Certos princípios artísticos do Renascimento, como equilíbrio, harmonia e racionalismo, foram então abandonados, o que levou o Barroco a ser visto, durante longo tempo, como uma arte indisciplinada.
  • 2. No Barroco há uma exaltação dos sentimentos, a religiosidade é expressa de forma dramática, intensa, procurando envolver emocionalmente as pessoas. De certa forma, assistimos a uma retomada do espírito religioso e místico da Idade Média, numa espécie de ressurgimento da visão teocêntrica, aquela que considera Deus como o centro das definições, como núcleo do mundo, como o eixo da vida. E não é por acaso que a arte barroca nasce em Roma, a capital do catolicismo. Com efeito, se observamos a arquitetura, a pintura, a escultura, as artes decorativas, a música e as artes literárias do Barroco, veremos que são produzidas segundo a mesma tensão, ou seja, podemos dizer que toda a arte barroca trabalha sobre uma tensão, uma dicotomia, uma divisão. De um lado, as determinações e demandas católicas contra-reformistas - a obrigação de tratar dos temas bíblicos e dos temas ligados à tradição dos católicos, como a vida dos santos; a adoção da perspectiva teocêntrica. De outro, as solicitações do mundo humano, figuradas nos temas da vida real, como as conquistas (pensemos no caso de Camões em Os Lusíadas) ou como as maravilhas inventadas pelos homens da ciência, tudo isso configurando uma idéia de liberdade na pesquisa e na produção da arte, segundo a perspectiva antropocêntrica, que considera o homem como a medida de todas as coisas. Do ponto de vista econômico, vivia-se a revolução comercial, cuja política econômica, o mercantilismo, se baseava no metalismo, na balança de comércio favorável e no acúmulo de capitais. A burguesia despontava nesse contexto como classe de forte poder econômico. Porém, se a política econômica mostrava-se aberta e favorecia a ascensão de setores populares, como a burguesia, o mesmo não ocorria com a estrutura social e com a estrutura política. Politicamente o homem da época sentia-se oprimido, enquanto economicamente se via livre para enriquecer. Apesar da possibilidade de ascensão econômica, a estrutura social do Antigo Regime não lhe permitia, porém, a ascensão social. Por esse conjunto de razões é que se verifica na linguagem barroca, tanto na forma quanto no conteúdo, uma rejeição constante da visão ordenada das coisas. Os temas são aqueles que refletem os estados de tensão da alma humana, tais como vida e morte, matéria e espírito, amor platônico e amor carnal, pecado e perdão. A construção, por sua vez, acentua e amplia o sentido trágico desses temas, ao fazer uso de uma linguagem de difícil acesso, rebuscada, cheia de inversões e de figuras de linguagem, como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. Todo o rebuscamento que aflora na arte barroca, reflexo do conflito entre o terreno e o celestial, faz com que a arte assuma uma tendência sensualista, caracterizada pela busca do detalhe num exagerado rebuscamento formal. Assim, as obras de arte devem falar aos fiéis com a maior eficácia possível, mas em momento algum descer até eles. Daí o caráter solene da arte barroca que tem de convencer, conquistar, impor admiração.
  • 3. No Barroco literário, podemos notar dois estilos: o Cultismo e o Conceptismo. O Cultismo é o rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem. Também conhecido como gongorismo, pela influência do estilo do poeta espanhol Luís de Gôngora, o cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e fantasiosas, recursos que sugerem, enfim, a superação dos limites da realidade. O Conceptismo é o jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico, por analogias, etc. Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um mesmo texto. Na prática, ambas as tendências (cultismo e conceptismo) se confundem, mostrando a mesma vocação para a retórica e para o formalismo. No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 com a publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do século XVIII. O final do Barroco brasileiro só se concretizará em 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e com a publicação do livro Obras, de Cláudio Manuel da Costa. Entretanto, mesmo considerando o Barroco o primeiro estilo de época da literatura brasileira e Gregório de Matos o primeiro poeta definitivamente brasileiro, com sentimento nativista manifesto, na realidade ainda não se pode isolar a Colônia da Metrópole. Ou, como afirma Alfredo Bosi: “No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano.” Além disso, os dois principais autores - Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos - tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. Também, as funções da literatura eram muito diferentes daquelas que conhecemos hoje (diversão, informação, exercício da arte, etc.). Naquele tempo e naquelas circunstâncias, escrever e ler relacionavam-se a interesses práticos (alguns elevados, caso dos sermões de Vieira; alguns mundanos, caso das sátiras e críticas de Gregório de Matos) ou a uma espécie de brincadeira, de prática educada, desejável para as pessoas de destacada posição social. Tanto era assim, que mesmo um poeta inspirado como Gregório de Matos nunca publicou nada em vida - tudo que conhecemos como sendo de sua autoria é poesia atribuída a ele, com boa dose de certeza, mas com alguma dose de arbitrariedade. A colônia não dispunha de quase nenhum sistema de ensino, salvo aquele ligado diretamente à Igreja Católica, e não podia imprimir nada (tudo que circulava aqui era impresso na Europa, situação que só se alterou depois da chegada da família real portuguesa, no começo do século XIX).
  • 4. Na história da cultura de nosso país, o estilo barroco tem uma localização cronológica bastante espalhada. Falamos de Barroco na literatura como tendo acontecido no século XVII, especificamente na Bahia (Vieira e Gregório de Matos são os maiores nomes). Mas, no século XVIII quando o Barroco já tinha entrado em declínio na Europa, no Brasil, em Minas Gerais, ele teve um último desenvolvimento, estimulado pela riqueza gerada pela descoberta de ouro e pedras preciosas. O artista mais original do Barroco mineiro foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814). Arquiteto, entalhador e escultor, suas obras constituem, até hoje, um dos pontos mais altos da arte brasileira. AUTORES BARROCOS Gregório de Matos Guerra “O Boca do Inferno” (1633?-1696) VIDA e OBRA - Gregório de Matos Guerra é o maior poeta brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica e satírica em nosso país. Nasceu em Salvador, Bahia, estudou no Colégio dos Jesuítas e depois em Coimbra, Portugal, onde cursou Direito. Lá tomou conhecimento e apaixonou-se pela poesia de Góngora, Quevedo, Camões, dentre outros, cujos versos recitava em suas então habituais incursões pelas tabernas e prostíbulos de Coimbra. Mais tarde, foi nomeado “curador de órgãos e juiz de crimes” de uma comarca próxima a Lisboa. Retornando ao Brasil, em 1681, exerceu os cargos de tesoureiro-mor e de vigário-geral, porém sempre se recusou a vestir-se como clérigo e por não concordar com a disciplina e hipocrisia do clero não tardou a pedir exoneração dos cargos. Devido às suas sátiras, foi perseguido pelo governador baiano Antônio de Souza Menezes, o Braço de Prata. Depois de se casar com Maria dos Povos e exercer a função de advogado, saiu pelo Recôncavo baiano como cantador itinerante, dedicando-se às sátiras e aos poemas eróticos-irônicos, o que lhe custou alguns anos de exílio em Angola. Voltou doente ao Brasil e, impedido de entrar na Bahia, morreu em Recife. Gregório foi irreverente como pessoa, ao chocar os valores e a falsa moral da sociedade baiana de seu tempo, com seu comportamento considerado indecoroso; como poeta lírico, porque seguia e, ao mesmo tempo, quebrava os modelos barrocos europeus; como poeta satírico, pois, empregando um vocabulário de baixo calão, denunciou as contradições e falsidades daquela sociedade, não se curvando ao poder das autoridades políticas e religiosas. Escreveu poesia lírica: religiosa, amorosa e filosófica e, também, ficou conhecido como “O Boca do Inferno”, em razão de sua poesia satírica que, a exemplo de certos trovadores da Idade Média, não poupava palavrões em sua linguagem nem críticas a todas as classes da sociedade baiana de seu tempo. Criticava o governador, o clero, os comerciantes, os negros, os mulatos ... e amava as mulatas... . Entretanto, surgem algumas dúvidas em relação a produção escrita de Gregório, já que em vida não chegou a publicar nenhum livro, fato que ocasionou inúmeras
  • 5. dificuldades para o reconhecimento da autoria de suas obras. Com efeito, sua obra representa uma época de contradições e incertezas, registrando um momento de crise espiritual de um homem dividido entre duas formas de ver o mundo: a religiosa e a humanística. Pe. Antônio Vieira (1608 - 1697) VIDA e OBRA - Antônio Vieira é a principal expressão do Barroco em Portugal. Sua obra pertence tanto à literatura portuguesa quanto à brasileira. Português de origem, Vieira tinha 7 anos de idade quando veio com a família para o Brasil. Na Bahia estudou com os jesuítas e espontaneamente ingressou na ordem da Companhia de Jesus, iniciando seu noviciado com apenas 15 anos. A maior parte de sua obra foi escrita no Brasil e está relacionada com as inúmeras atividades que o autor desempenhou como religioso, como conselheiro de D. João IV, rei de Portugal, ou como mediador e representante de Portugal em relações econômicas e políticas com outros países. Embora religioso, Vieira nunca restringiu sua atuação à pregação religiosa. Sempre pôs seus sermões a serviço das causas políticas que abraçava e defendia e, por isso, se indispôs com muita gente: com os pequenos comerciantes, com os colonos que escravizavam índios e até com a Inquisição. Valendo-se do púlpito - único meio de propagação de idéias às multidões no Nordeste brasileiro do século XVII - , Vieira pregou a índios, brancos e negros, a brasileiros, africanos e portugueses, a dominadores e dominados. Suas idéias políticas foram postas em prática por meio da catequese, da defesa do índio e da colônia, em favor de Portugal, por ocasião da invasão holandesa. ESQUEMA DO BARROCO Arte da Contra-Reforma: - crise do Renascimento; destruição da harmonia social aristocrática; valorização do teocentrismo. Conflito entre o corpo e a alma: Corpo: vida, prazeres terrenos, gozo mundano, pecado. Alma: morte, salvação eterna, graça. Forma conturbada: - antíteses, inversões, paradoxos, metáforas, ausência de clareza = tradução dos conflitos interiores. Tema: o fluir do tempo - viver a vida ou preparar-se para a morte. O BARROCO NO BRASIL Histórico: - início: jesuítas, especificamente Anchieta. Apogeu: século XVII na literatura (Gregório de Matos) - na arquitetura e escultura ele
  • 6. se estende por mais dois séculos. Decadência: 1ª metade do século XVIII. Localização: Bahia (literatura), pela predominância da produção açucareira. Outros nomes do Barroco: Marinismo: na Itália, por influência do poeta Giambattista Marini - Gongorismo: na Espanha, por influência do poeta Luís de Gôngora y Argote. Nesse país, Barroco e gongorismo são palavras sinônimas. - Preciosismo: na França, em razão do requinte formal dos poemas. - Eufuísmo: na Inglaterra, termo criado a partir do título do romance Euphures, or the anatomy of wit, do escritor John Lyly. GREGÓRIO de MATOS GUERRA (1633?-1696) - O BOCA DO INFERNO POESIA RELIGIOSA: o homem ajoelhado diante de Deus (temas: a culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão, além de constantes referências bíblicas). POESIA AMOROSA: ora “graciosa”, ora erótica, fortemente marcada pelo dualismo amoroso carne/espírito. POESIA FILOSÓFICA: o desconcerto do mundo (lembrando diretamente Camões) e as frustrações humanas diante da realidade; a consciência da transitoriedade da vida e do tempo, marcados pelo carpe diem; a brevidade da vida. POESIA SATÍRICA: ironiza todos os aspectos da vida colonial, principalmente os portugueses, através de uma linguagem diversificada, cheia de termos indígenas e africanos, de palavrões, gírias e expressões locais. Padre Antônio Vieira (1608 - 1697) “Os Sermões” - combate aos ímpios; defesa dos índios; sonho com o “Grande Império”; linguagem conceptista. CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM BARROCA Interesse por temas religiosos; Os dualismos que refletem o conflito espiritual do homem barroco; O conflito entre visão antropocêntrica e teocêntrica; Conflito entre fé e razão; Idealização amorosa; sensualismo e sentimento de culpa cristão; A morbidez como forma de acentuar o sentido trágico da vida;
  • 7. O emprego constante de figuras de linguagem (antíteses, paradoxos, comparações, metáforas, hipérboles, etc.) O uso de uma linguagem requintada; A efemeridade do tempo (vida terrena passageira) e o carpe diem (gozar a vida, pecar e não ter salvação? (“sentimento de culpa cristã”); Cultismo: rebuscamento formal, jogo de palavras e excessivo emprego de figuras de linguagem - explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e fantasiosas. Conceptismo: jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico, por analogias, etc. ATENÇÃO! Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um mesmo texto. Na pintura - o jogo do claro/escuro: o Barroco aprecia fundir a luz à sombra, o que traduz o conflito resultante do desejo de fundir a fé à razão ou a razão à emoção/sensação.