SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
BARRETO, Lima (1881 – 1922). Clara dos Anjos. Editora Ediouro, 2006
Tempo
Tempo Psicológico
[...] Hoje, é raro ver-se, no Rio de Janeiro, um muro coberto de hera; entretanto,
há trinta anos, nas laranjeiras, na rua Conde de Bonfim, no Rio Comprido, no
Andaraí, no Engenho Novo, enfim, em todos os bairros que foram antigamente
estações de repouso e prazer, encontravam-se, a cada passo, longos muros
cobertos de hera, exalando melancolia e sugerindo recordações [...]
Tempo Cronológico
[...]Chegou Cassi Jones à casa de Lafões quase à noite. Era uma pequena casa,
mas bem tratada e limpa[...]
Espaço
O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente
suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas,
casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas que ali vivem.
Ao descrever o subúrbio, Lima Barreto aborda o advento dos “bíblias”, os
protestantes que alugam uma antiga chácara e passam a conquistar novos fiéis
para seu culto:
“Joaquim dos Anjos ainda conhecera a "chácara" habitada pelos proprietários
respectivos; mas, ultimamente, eles se tinham retirado para fora e alugado aos
"bíblias"… O povo não os via com hostilidade, mesmo alguns humildes homens
e pobres raparigas dos arredores frequentavam-nos, já por encontrar nisso um
sinal de superioridade intelectual sobre os seus iguais, já por procurarem, em
outra casa religiosa que não a tradicional, lenitivo para suas pobres almas
alanceadas, além das dores que seguem toda e qualquer existência humana.” E
reflete sobre a nova seita:
“Era Shays Quick ou Quick Shays daquela raça curiosa de yankees fundadores
de novas seitas cristãs. De quando em quando, um cidadão protestante dessa
raça que deseja a felicidade de nós outros, na terra e no céu, à luz de uma sua
interpretação de um ou mais versículos da Bíblia, funda uma novíssima seita,
põe-se a propagá-la e logo encontra dedicados adeptos, os quais não sabem
muito bem por que foram para tal novíssima religiãozinha e qual a diferença que
há entre esta e a de que vieram.”
A crítica às “novas seitas cristãs” revela também a ojeriza de Lima Barreto à
influência americana no Brasil. Como o colocou Antônio Arnoni Prado, o autor
de Clara dos Anjos “interessou-se pelos Estados Unidos, em virtude do
tratamento desumano que este país dispensava aos seus cidadãos de cor. (…)
Censurou duramente a discriminação racial americana, assim como o
expansionismo imperialista dos ‘yankees’, que, através da diplomacia do dólar,
ia, a seu ver, convertendo o Brasil num autêntico protetorado.” Nada mais
profético.
Personagens
Marrameque - Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque freqüentara uma
pequena roda de boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo
pessoal de Luís Murat.
Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas
literárias, grupos fechados que abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos
que aprendem “muita coisa de ouvido e, de ouvido, falava de muitas delas”,
tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem
brilhar nas “rodas de gente fina”.
Clara: a “natureza elementar” - Clara era a segunda filha do casal, “o único filho
sobrevivente…os demais…haviam morrido.” Tinha dezessete anos, era ingênua
e fora criada “com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou
pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas
vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.”
O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua “alma amolecida,
capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado,
farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos
fazem das raparigas de sua cor” – como resultado de sua educação reclusa e
“temperada” pelas modinhas:
“Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a
modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha
caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai,
devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia
toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por
sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do
violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de
queixumes de viola, a suspirar amor.”
Essa “natureza elementar” de Clara se traduzia na ausência de ambição em
melhorar seu modo de vida ou condição social por meio do trabalho ou do
estudo:
“Nem a relativa independência que o ensino da música e piano lhe poderia
fornecer, animava-a a aperfeiçoar os seus estudos. O seu ideal na vida não era
adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro
marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando
casada. (…) Não que ela fosse vadia, ao contrário; mas tinha um tolo escrúpulo
de ganhar dinheiro por suas próprias mãos. Parecia feio a uma moça ou a uma
mulher.”
A descrição de Clara reforça os malefícios da formação machista,
superprotetora, repressiva e limitadora reservada às mulheres na nossa
sociedade. Ecoa, portanto, a descrição de Luísa, do romance O Primo Basílio,
de Eça de Queirós, ou a Ana Rosa de O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Todas
são, na verdade, herdeiras diretas da figura de formação débil, educada nas
leituras dos romances românticos, que é Emma Bovary, criada por Gustave
Flaubert no romance inaugural do Realismo, Madame Bovary (1857).
Cassi: o corruptor - Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber
em casa o pretendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma
posição social melhor. Assim o descreve Lima Barreto:
“Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento,
insignificante, de rosto e de corpo; e, conquanto fosse conhecido como
consumado "modinhoso", além de o ser também por outras façanhas
verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro
qualquer traço de capadócio. Vestia-se seriamente, segundo as modas da rua
do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas
chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele
aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as
roupas. A única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava,
consistia em trazer o cabelo ensopado de óleo e repartido no alto da cabeça,
dividido muito exatamente ao meio — a famosa "pastinha". Não usava topete,
nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos
exigidos por um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o
seu irresistível violão.”
O padrinho Marramaque, que já lhe conhecia a fama, tenta afastá-lo de Clara
quando percebe seu interesse. Na festa de aniversário da afilhada, provoca
Cassi e deixa claro que ele não é bem-vindo ali e que seria melhor que se
retirasse. Cassi vinga-se de modo violento: junta-se a um capanga e ambos
assassinam Marramaque. Clara, que já suspeitava das ameaças do rapaz ao
padrinho, passa a temê-lo, mas ele consegue seduzi-la, principalmente ao
confessar seu crime, dizendo que matou por amor a ela.
Malandro e perigoso, Cassi já havia se envolvido em problemas com a justiça
antes, mas sempre fora acobertado pela sua família, especialmente sua mãe,
que não queria que fosse preso. Assim, conseguia subornar a polícia e continuar
impune, mesmo depois de ter levado a mãe de uma de suas vítimas ao suicídio
e da perseguição da imprensa.
O exagero narrativo de Lima Barreto torna-se patente ao descrever a figura do
sedutor. Branco, sardento e de cabelos claros, é a antítese de Clara. Como o
apontou Lúcia Miguel Pereira: “Até os animais da predileção de Cassi, os galos
de briga, são apresentados com visível má vontade: ‘horripilantes galináceos’ de
‘ferocidade repugnante’.”
Joaquim dos Anjos - carteiro, acredita-se músico escreveu a polca,
valsas,tangos e acompanhamentos de modina. polca: siti sem unhas; valsa:
mágos do coração.
Uma polca sua - "Siri sem unhas" - e uma valsa - "Mágoas do Coração: - tiveram
algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta
mil-réis, a uma casa de músicas pianos da Rua do Ouvidor. O seu saber musical
era fraco; adivinha mais do que empregava noções teóricas que tivesse estudo.
Aprendeu a "artinha" musical da terra do seu nascimento, nos arredores de
Diamantina, em cujas festas de igrejas a sua flauta brilhara, e era tido por muitos
como o primeiro flautista do lugar. Embora gozando desta fama animadora,
nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na "artinha" de
Francisco Manuel, que sabia de cor, mas não saíra dela, para ir além" (p.21/22)
Natural de Diamantina, filho único. A convite de um inglês, pesquisador, foi para
o Rio de Janeiro e lá ficou. Confiava em todos que o rodeavam.
"Um dos traços mais simpáticos do caráter de Joaquim dos Anjos era a confiança
que depositava nos outros, e a boa fé. Ele não tinha, como diz o povo, malícia
no coração. Não era inteligente, mas também não era peco; não era sagaz, mas
também não era tolo; entretanto, não podia desconfiar de ninguém, porque isso
lhe fazia mal à consiência." (p.115)
Dona Engrácia - era católica, romana, filhos trazidos na mesma religião, era
caseira, insegura, e rude.
Calado - músico e compositor brasileiro (polcas "Cruzes, minha prima!")
Patápio Silva - "Uma polca sua - "Siri sem unha"- e uma valsa - "Mágoas do
coração" - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada
uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de música e piano da Rua Ouvidor."
(p.21).
João Pintor - era um cidadão que visitava "os bíblias" aqueles que pregavam o
evangelho. "era preto retinto, grossos lábios, malares proeminentes, testa curta
dentes muito bons e muitos claros, longos braços, manoplas enormes, longas
pernas e uns tais pés que não havia calçado."(p.25).
Mr. Shays - chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloqüência bíblica faz
seus adeptos ouvir a palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem-
se a propagá-la.
Eduardo Lafões - religiosamente ia aos domingos à casa de Joaquim para jogar
o solo. Eduardo Lafões gostava dos assuntos do comércio. Era um homem
simplório, que só tinha agudeza de sentidos para o dinheiro. Vivendo sempre em
círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no
parentesco, ele não podia conceber que torvo indivíduo era o tal Cassi; que alma
suja e má era dele, para se interessar generosamente por alguém.
Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo - pais de Cassi. O
pai não gostava dos procedimentos do filho, enquanto a mãe, cobria-lhe as
desfeitas com as proteções.
Dona Margarida Weber Pestana - viúva, mãe de Ezequiel, descendente de
Alemão; ela, russa. Casou no Brasil com tipógrafo que falecera dois anos após
o casamento. Era dona de uma pensão, mulher corajosa.
"O Senhor Ataliba do Timbó deu em certa ocasião em persegui-la com ditinho
de Amor chulo. Certo dia, ela não teve dúvidas: meteu-lhe o guarda-chuva com
vigor. À noite, no intuito de defender as suas galinhas da sanha dos ladrões, de
quando em quando, abria um postigo, que abrira na janela da cozinha, e fazia
fogo de revólver. Era respeitada pela sua coragem, pela sua bondade que era
mulato, mais tinha os olhos glaucos, translúcidos, de sua mãe meio eslava, meio
alemã, olhos tão estranhos - olhos tão estranhos e nós e, sobretudo, ao sangue
dominante no pequeno." (p.60)
D. Laurentina Jácone - gostava de rezer, ficar zelando a igreja.
D. Vicêntina - cartomante.
"Além desta, havia uma digna de nota: era Dona Vicência. Morava na vizinhança
também e vivia a deitar cartas e cortar "cousas feitas". O seu procedimento era
inatacável e exercia a sua profissão de cartomante com toda a seriedade e
convicção."(p.60)
Praxedes Maria dos Santos - "gostava de ser tratado por doutor Praxedes. Foi
um dos convidados de Joaquim. Era um homem bom. Ficou indeterminada das
correspondência de Clara com o Cassi.
Etelvina - crioula, colega de Clara, notou a impaciência de Clara porque o rapaz
Cassi ainda não chegara à festa.
Leonardo Flores - grande poeta.
Velho Valentim - era português.
Barcelos - um português fichado na detenção.
Arnaldo - era um colega do grupo dos valdevino (desoculpados que andava com
Cassi).
"Cassi explicou-lhe então que devia ir, naquela tarde, à venda do Nascimento,
cuja rua e cujo número lhe deu. Chegando lá, simularia ter ido procurar por "Seu"
Menezes, que ele conhecia.
- Se ele não estiver? - indagou Arnaldo.
- Você diz que fica à espera e ouve o que se conversa lá. Nela, devem estar,
entre outros o aleijadinho que anda sempre fardado. Ele não conhece você,
como os outros, conforme espero. O que você ouvir, guarda e me conta. Se
Meneses aparecer, você diz que quero falar com ele, negócio de interesse dele."
(p.91).
Menezes - o dentista da família. Intermediário dos bilhetes e cartas de Cassi para
Clara. Senhor Monção - caixeiro vendedor; Belmiro Bernedes & Cia. - "tocava
realejo", era um moço português, simpático, educado, e bom porte.
Helena - tia de Marramaque, econômica, prendada, costurava para o arsenal do
governo.
D. Castolina - mulher de Meneses.
Leopoldo - marinheiro. Cedo, saiu de seio da família para melhorar de vida. Há
30 anos não via família. Meneses com a sua pobreza tratou de visitar o imrão já
que eram os únicos vivos da família.
Enredo
Clara é uma mulata pobre, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim
e Engrácia, mulher “sedentária e caseira.” Joaquim era carteiro, “gostava de
violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito
estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora”. Também
“compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas.” Além da música,
a outra diversão do pai de Clara era passar as tardes de domingo jogando solo
com seus dois amigos: o compadre Marramaque e o português Eduardo Lafões,
um guarda de obras públicas.
Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona
Margarida, que procurara na tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um
aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua mãe. É levada a procurar a
família de Cassi e pedir “reparação do dano”. A mãe do rapaz humilha Clara,
mostrando-se profundamente ofendida porque uma negra quer se casar com seu
filho. Clara “agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora
preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os
desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça
como as outras; era muito menos no conceito de todos.”
O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da
mulher, pobre e negra, geração após geração. No final do romance, consciente
e lúcida, Clara reflete sobre a sua situação:
“O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter,
revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se
defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem,
por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a
fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o
admitiam...”
E, na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones
para a sua mãe, conclui, em desespero, como se falasse em nome dela, da mãe
e de todas as mulheres em iguais condições: “— Nós não somos nada nesta
vida.”
Foco Narrativo
É narrado em 3ªpessoa. Conta a história, e ao mesmo tempo, vai descrevendo
os personagens e espaço.
[...] O carteiro Joaquim dos Anjos não era homem de serestas; mas gostava de
violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, Instrumento que já foi muito
estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora[...]
Estilo
O autor procura usar uma linguagem simples, aproximando-se da língua falada
da época. O estilo da narrativa é objetivo, incorporando a linguagem do texto
jornalístico, com frases espontâneas. Foi muito crítico por escrever desse modo
e mostra a questão social do uso da linguagem em trechos do livro.
Verossimilhança
Verossimilhança: questão racial... que até hoje muitas pessoas sofrem com o
problema de preconceito racial. E clara sofria com isso.
"...repugnava-lhe ver o filho casado com uma criada preta, ou com uma pobre
mulata costureira…"
Gênero Literário
Romance
Opinião sobre o livro
O Livro é baseado no século XIX, porém relata o que muitas mulheres vivem
hoje, o abandono devido a gravidez, o preconceito social e racial que até hoje
está presente no Brasil. Um livro muito interessante, curioso que faz com que
haja reflexão sobre tais assuntos de muita importância.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

A Geração de 1930
A Geração de 1930A Geração de 1930
A Geração de 1930
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo
 
Semana de arte moderna
Semana de arte moderna Semana de arte moderna
Semana de arte moderna
 
Ultrarromantismo
UltrarromantismoUltrarromantismo
Ultrarromantismo
 
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
 
Vinicius de moraes
Vinicius de moraesVinicius de moraes
Vinicius de moraes
 
Naturalismo brasileiro e português
Naturalismo brasileiro e portuguêsNaturalismo brasileiro e português
Naturalismo brasileiro e português
 
1 arcadismo power meire
1 arcadismo power meire 1 arcadismo power meire
1 arcadismo power meire
 
Machado de Assis
Machado de AssisMachado de Assis
Machado de Assis
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Slide lima barreto
Slide lima barretoSlide lima barreto
Slide lima barreto
 
Vinicius de Moraes
Vinicius de MoraesVinicius de Moraes
Vinicius de Moraes
 
Auto da compadecida
Auto da compadecidaAuto da compadecida
Auto da compadecida
 
Jovem guarda
Jovem guardaJovem guarda
Jovem guarda
 
Romantismo no Brasil - 1ª geração
Romantismo no Brasil - 1ª geraçãoRomantismo no Brasil - 1ª geração
Romantismo no Brasil - 1ª geração
 
Melhores poemas de gonçalves dias
Melhores poemas de gonçalves diasMelhores poemas de gonçalves dias
Melhores poemas de gonçalves dias
 
Modernismo no Brasil
Modernismo no BrasilModernismo no Brasil
Modernismo no Brasil
 
Especial Clarice Lispector
Especial Clarice LispectorEspecial Clarice Lispector
Especial Clarice Lispector
 
Slide Dom Casmurro
Slide Dom CasmurroSlide Dom Casmurro
Slide Dom Casmurro
 
O romantismo da segunda geração
O romantismo da segunda geraçãoO romantismo da segunda geração
O romantismo da segunda geração
 

Destaque (9)

Clara dos Anjos - 3ª B - 2011
Clara dos Anjos - 3ª B - 2011Clara dos Anjos - 3ª B - 2011
Clara dos Anjos - 3ª B - 2011
 
Clara dos anjos, o romance denunciante
Clara dos anjos, o romance denuncianteClara dos anjos, o romance denunciante
Clara dos anjos, o romance denunciante
 
Clara dos Anjos 3º A - 2015
Clara dos Anjos   3º A - 2015Clara dos Anjos   3º A - 2015
Clara dos Anjos 3º A - 2015
 
Questões fechadas sobre clara dos anjos
Questões fechadas sobre clara dos anjosQuestões fechadas sobre clara dos anjos
Questões fechadas sobre clara dos anjos
 
Darwin em quadrinhos
Darwin em quadrinhosDarwin em quadrinhos
Darwin em quadrinhos
 
Histórias para oficina simpósio
Histórias para oficina simpósioHistórias para oficina simpósio
Histórias para oficina simpósio
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Clara dos anjos 3ª a - 2015
Clara dos anjos   3ª a - 2015Clara dos anjos   3ª a - 2015
Clara dos anjos 3ª a - 2015
 
Darwnismo e Lamarckismo
Darwnismo e LamarckismoDarwnismo e Lamarckismo
Darwnismo e Lamarckismo
 

Semelhante a Lima Barreto descreve personagens e crítica religião em Clara dos Anjos

Semelhante a Lima Barreto descreve personagens e crítica religião em Clara dos Anjos (20)

Lima barreto
Lima barretoLima barreto
Lima barreto
 
Clara dos anjos, o romance denunciante
Clara dos anjos, o romance denuncianteClara dos anjos, o romance denunciante
Clara dos anjos, o romance denunciante
 
clara_dos_anjos análise PAVE.pptx
clara_dos_anjos análise PAVE.pptxclara_dos_anjos análise PAVE.pptx
clara_dos_anjos análise PAVE.pptx
 
Carta de Luiz Gama
Carta de Luiz GamaCarta de Luiz Gama
Carta de Luiz Gama
 
Clara dos anjos 3ª a - 2015
Clara dos anjos   3ª a - 2015Clara dos anjos   3ª a - 2015
Clara dos anjos 3ª a - 2015
 
Bernardo guimarães
Bernardo guimarãesBernardo guimarães
Bernardo guimarães
 
Aula 16 machado de assis
Aula 16   machado de assisAula 16   machado de assis
Aula 16 machado de assis
 
A escrava isaura
A escrava isaura A escrava isaura
A escrava isaura
 
10 livros essenciais
10 livros essenciais10 livros essenciais
10 livros essenciais
 
Pre modernismo
Pre modernismoPre modernismo
Pre modernismo
 
[SLIDES] Aula 19 - Pré-modernismo.pptx
[SLIDES] Aula 19 - Pré-modernismo.pptx[SLIDES] Aula 19 - Pré-modernismo.pptx
[SLIDES] Aula 19 - Pré-modernismo.pptx
 
PRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptxPRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptx
 
PRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptxPRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptx
 
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
A Voz Feminina no Romance Maranhense: uma análise da obra Úrsula de Maria Fir...
 
PRÉ-MODERNISMO.pptx
PRÉ-MODERNISMO.pptxPRÉ-MODERNISMO.pptx
PRÉ-MODERNISMO.pptx
 
A escrava isaura
A escrava isauraA escrava isaura
A escrava isaura
 
A escrava isaura
A escrava isauraA escrava isaura
A escrava isaura
 
O romance romântico
O romance românticoO romance romântico
O romance romântico
 
Machado de assis vida e obra
Machado de assis  vida e obraMachado de assis  vida e obra
Machado de assis vida e obra
 
Romantismo prosa
Romantismo prosaRomantismo prosa
Romantismo prosa
 

Mais de Wesley Germano Otávio

Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesleyZoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesleyWesley Germano Otávio
 
Caracteristicas básicas dos seres vivos
Caracteristicas básicas dos seres vivosCaracteristicas básicas dos seres vivos
Caracteristicas básicas dos seres vivosWesley Germano Otávio
 
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos CelestesCosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos CelestesWesley Germano Otávio
 
Cosmologia sistema solar - os planetas
Cosmologia   sistema solar - os planetasCosmologia   sistema solar - os planetas
Cosmologia sistema solar - os planetasWesley Germano Otávio
 
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas característicasCosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas característicasWesley Germano Otávio
 
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízosRaios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízosWesley Germano Otávio
 

Mais de Wesley Germano Otávio (20)

Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesleyZoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
Zoologia de vertebrados (cordados) - professor wesley
 
Revisão Zoologia - Professor Wesley
Revisão Zoologia - Professor WesleyRevisão Zoologia - Professor Wesley
Revisão Zoologia - Professor Wesley
 
Ascaridíase
AscaridíaseAscaridíase
Ascaridíase
 
Citologia
CitologiaCitologia
Citologia
 
Caracteristicas básicas dos seres vivos
Caracteristicas básicas dos seres vivosCaracteristicas básicas dos seres vivos
Caracteristicas básicas dos seres vivos
 
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos CelestesCosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
Cosmologia - Sistema Solar - Corpos Celestes
 
Cosmologia sistema solar - os planetas
Cosmologia   sistema solar - os planetasCosmologia   sistema solar - os planetas
Cosmologia sistema solar - os planetas
 
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas característicasCosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
Cosmologia - Sistema Solar - Origem do sol e suas características
 
Cosmologia - o Universo
Cosmologia - o UniversoCosmologia - o Universo
Cosmologia - o Universo
 
Origem da vida
Origem da vidaOrigem da vida
Origem da vida
 
Método científico
Método científicoMétodo científico
Método científico
 
O que é biologia?
O que é biologia?O que é biologia?
O que é biologia?
 
Criminalização da sobrevivência
Criminalização da sobrevivênciaCriminalização da sobrevivência
Criminalização da sobrevivência
 
Energia solar
Energia solarEnergia solar
Energia solar
 
Musica popular brasileira - MPB
Musica popular brasileira - MPBMusica popular brasileira - MPB
Musica popular brasileira - MPB
 
Mario quintana
Mario quintanaMario quintana
Mario quintana
 
Risco de acidentes
Risco de acidentesRisco de acidentes
Risco de acidentes
 
Clonagem
ClonagemClonagem
Clonagem
 
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízosRaios   uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
Raios uso de tecnologia evita mortes e prejuízos
 
Jogo x Esporte
Jogo x EsporteJogo x Esporte
Jogo x Esporte
 

Lima Barreto descreve personagens e crítica religião em Clara dos Anjos

  • 1. BARRETO, Lima (1881 – 1922). Clara dos Anjos. Editora Ediouro, 2006 Tempo Tempo Psicológico [...] Hoje, é raro ver-se, no Rio de Janeiro, um muro coberto de hera; entretanto, há trinta anos, nas laranjeiras, na rua Conde de Bonfim, no Rio Comprido, no Andaraí, no Engenho Novo, enfim, em todos os bairros que foram antigamente estações de repouso e prazer, encontravam-se, a cada passo, longos muros cobertos de hera, exalando melancolia e sugerindo recordações [...] Tempo Cronológico [...]Chegou Cassi Jones à casa de Lafões quase à noite. Era uma pequena casa, mas bem tratada e limpa[...] Espaço O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas que ali vivem. Ao descrever o subúrbio, Lima Barreto aborda o advento dos “bíblias”, os protestantes que alugam uma antiga chácara e passam a conquistar novos fiéis para seu culto: “Joaquim dos Anjos ainda conhecera a "chácara" habitada pelos proprietários respectivos; mas, ultimamente, eles se tinham retirado para fora e alugado aos "bíblias"… O povo não os via com hostilidade, mesmo alguns humildes homens e pobres raparigas dos arredores frequentavam-nos, já por encontrar nisso um sinal de superioridade intelectual sobre os seus iguais, já por procurarem, em outra casa religiosa que não a tradicional, lenitivo para suas pobres almas alanceadas, além das dores que seguem toda e qualquer existência humana.” E reflete sobre a nova seita:
  • 2. “Era Shays Quick ou Quick Shays daquela raça curiosa de yankees fundadores de novas seitas cristãs. De quando em quando, um cidadão protestante dessa raça que deseja a felicidade de nós outros, na terra e no céu, à luz de uma sua interpretação de um ou mais versículos da Bíblia, funda uma novíssima seita, põe-se a propagá-la e logo encontra dedicados adeptos, os quais não sabem muito bem por que foram para tal novíssima religiãozinha e qual a diferença que há entre esta e a de que vieram.” A crítica às “novas seitas cristãs” revela também a ojeriza de Lima Barreto à influência americana no Brasil. Como o colocou Antônio Arnoni Prado, o autor de Clara dos Anjos “interessou-se pelos Estados Unidos, em virtude do tratamento desumano que este país dispensava aos seus cidadãos de cor. (…) Censurou duramente a discriminação racial americana, assim como o expansionismo imperialista dos ‘yankees’, que, através da diplomacia do dólar, ia, a seu ver, convertendo o Brasil num autêntico protetorado.” Nada mais profético. Personagens Marrameque - Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque freqüentara uma pequena roda de boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo pessoal de Luís Murat. Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas literárias, grupos fechados que abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos que aprendem “muita coisa de ouvido e, de ouvido, falava de muitas delas”, tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem brilhar nas “rodas de gente fina”. Clara: a “natureza elementar” - Clara era a segunda filha do casal, “o único filho sobrevivente…os demais…haviam morrido.” Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada “com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.” O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua “alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor” – como resultado de sua educação reclusa e “temperada” pelas modinhas:
  • 3. “Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.” Essa “natureza elementar” de Clara se traduzia na ausência de ambição em melhorar seu modo de vida ou condição social por meio do trabalho ou do estudo: “Nem a relativa independência que o ensino da música e piano lhe poderia fornecer, animava-a a aperfeiçoar os seus estudos. O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. (…) Não que ela fosse vadia, ao contrário; mas tinha um tolo escrúpulo de ganhar dinheiro por suas próprias mãos. Parecia feio a uma moça ou a uma mulher.” A descrição de Clara reforça os malefícios da formação machista, superprotetora, repressiva e limitadora reservada às mulheres na nossa sociedade. Ecoa, portanto, a descrição de Luísa, do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós, ou a Ana Rosa de O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Todas são, na verdade, herdeiras diretas da figura de formação débil, educada nas leituras dos romances românticos, que é Emma Bovary, criada por Gustave Flaubert no romance inaugural do Realismo, Madame Bovary (1857). Cassi: o corruptor - Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pretendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma posição social melhor. Assim o descreve Lima Barreto: “Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de corpo; e, conquanto fosse conhecido como consumado "modinhoso", além de o ser também por outras façanhas verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro qualquer traço de capadócio. Vestia-se seriamente, segundo as modas da rua do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele
  • 4. aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as roupas. A única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava, consistia em trazer o cabelo ensopado de óleo e repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente ao meio — a famosa "pastinha". Não usava topete, nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos exigidos por um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o seu irresistível violão.” O padrinho Marramaque, que já lhe conhecia a fama, tenta afastá-lo de Clara quando percebe seu interesse. Na festa de aniversário da afilhada, provoca Cassi e deixa claro que ele não é bem-vindo ali e que seria melhor que se retirasse. Cassi vinga-se de modo violento: junta-se a um capanga e ambos assassinam Marramaque. Clara, que já suspeitava das ameaças do rapaz ao padrinho, passa a temê-lo, mas ele consegue seduzi-la, principalmente ao confessar seu crime, dizendo que matou por amor a ela. Malandro e perigoso, Cassi já havia se envolvido em problemas com a justiça antes, mas sempre fora acobertado pela sua família, especialmente sua mãe, que não queria que fosse preso. Assim, conseguia subornar a polícia e continuar impune, mesmo depois de ter levado a mãe de uma de suas vítimas ao suicídio e da perseguição da imprensa. O exagero narrativo de Lima Barreto torna-se patente ao descrever a figura do sedutor. Branco, sardento e de cabelos claros, é a antítese de Clara. Como o apontou Lúcia Miguel Pereira: “Até os animais da predileção de Cassi, os galos de briga, são apresentados com visível má vontade: ‘horripilantes galináceos’ de ‘ferocidade repugnante’.” Joaquim dos Anjos - carteiro, acredita-se músico escreveu a polca, valsas,tangos e acompanhamentos de modina. polca: siti sem unhas; valsa: mágos do coração. Uma polca sua - "Siri sem unhas" - e uma valsa - "Mágoas do Coração: - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de músicas pianos da Rua do Ouvidor. O seu saber musical era fraco; adivinha mais do que empregava noções teóricas que tivesse estudo. Aprendeu a "artinha" musical da terra do seu nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas de igrejas a sua flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar. Embora gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na "artinha" de Francisco Manuel, que sabia de cor, mas não saíra dela, para ir além" (p.21/22)
  • 5. Natural de Diamantina, filho único. A convite de um inglês, pesquisador, foi para o Rio de Janeiro e lá ficou. Confiava em todos que o rodeavam. "Um dos traços mais simpáticos do caráter de Joaquim dos Anjos era a confiança que depositava nos outros, e a boa fé. Ele não tinha, como diz o povo, malícia no coração. Não era inteligente, mas também não era peco; não era sagaz, mas também não era tolo; entretanto, não podia desconfiar de ninguém, porque isso lhe fazia mal à consiência." (p.115) Dona Engrácia - era católica, romana, filhos trazidos na mesma religião, era caseira, insegura, e rude. Calado - músico e compositor brasileiro (polcas "Cruzes, minha prima!") Patápio Silva - "Uma polca sua - "Siri sem unha"- e uma valsa - "Mágoas do coração" - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de música e piano da Rua Ouvidor." (p.21). João Pintor - era um cidadão que visitava "os bíblias" aqueles que pregavam o evangelho. "era preto retinto, grossos lábios, malares proeminentes, testa curta dentes muito bons e muitos claros, longos braços, manoplas enormes, longas pernas e uns tais pés que não havia calçado."(p.25). Mr. Shays - chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloqüência bíblica faz seus adeptos ouvir a palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem- se a propagá-la. Eduardo Lafões - religiosamente ia aos domingos à casa de Joaquim para jogar o solo. Eduardo Lafões gostava dos assuntos do comércio. Era um homem simplório, que só tinha agudeza de sentidos para o dinheiro. Vivendo sempre em círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no parentesco, ele não podia conceber que torvo indivíduo era o tal Cassi; que alma suja e má era dele, para se interessar generosamente por alguém.
  • 6. Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo - pais de Cassi. O pai não gostava dos procedimentos do filho, enquanto a mãe, cobria-lhe as desfeitas com as proteções. Dona Margarida Weber Pestana - viúva, mãe de Ezequiel, descendente de Alemão; ela, russa. Casou no Brasil com tipógrafo que falecera dois anos após o casamento. Era dona de uma pensão, mulher corajosa. "O Senhor Ataliba do Timbó deu em certa ocasião em persegui-la com ditinho de Amor chulo. Certo dia, ela não teve dúvidas: meteu-lhe o guarda-chuva com vigor. À noite, no intuito de defender as suas galinhas da sanha dos ladrões, de quando em quando, abria um postigo, que abrira na janela da cozinha, e fazia fogo de revólver. Era respeitada pela sua coragem, pela sua bondade que era mulato, mais tinha os olhos glaucos, translúcidos, de sua mãe meio eslava, meio alemã, olhos tão estranhos - olhos tão estranhos e nós e, sobretudo, ao sangue dominante no pequeno." (p.60) D. Laurentina Jácone - gostava de rezer, ficar zelando a igreja. D. Vicêntina - cartomante. "Além desta, havia uma digna de nota: era Dona Vicência. Morava na vizinhança também e vivia a deitar cartas e cortar "cousas feitas". O seu procedimento era inatacável e exercia a sua profissão de cartomante com toda a seriedade e convicção."(p.60) Praxedes Maria dos Santos - "gostava de ser tratado por doutor Praxedes. Foi um dos convidados de Joaquim. Era um homem bom. Ficou indeterminada das correspondência de Clara com o Cassi. Etelvina - crioula, colega de Clara, notou a impaciência de Clara porque o rapaz Cassi ainda não chegara à festa. Leonardo Flores - grande poeta. Velho Valentim - era português.
  • 7. Barcelos - um português fichado na detenção. Arnaldo - era um colega do grupo dos valdevino (desoculpados que andava com Cassi). "Cassi explicou-lhe então que devia ir, naquela tarde, à venda do Nascimento, cuja rua e cujo número lhe deu. Chegando lá, simularia ter ido procurar por "Seu" Menezes, que ele conhecia. - Se ele não estiver? - indagou Arnaldo. - Você diz que fica à espera e ouve o que se conversa lá. Nela, devem estar, entre outros o aleijadinho que anda sempre fardado. Ele não conhece você, como os outros, conforme espero. O que você ouvir, guarda e me conta. Se Meneses aparecer, você diz que quero falar com ele, negócio de interesse dele." (p.91). Menezes - o dentista da família. Intermediário dos bilhetes e cartas de Cassi para Clara. Senhor Monção - caixeiro vendedor; Belmiro Bernedes & Cia. - "tocava realejo", era um moço português, simpático, educado, e bom porte. Helena - tia de Marramaque, econômica, prendada, costurava para o arsenal do governo. D. Castolina - mulher de Meneses. Leopoldo - marinheiro. Cedo, saiu de seio da família para melhorar de vida. Há 30 anos não via família. Meneses com a sua pobreza tratou de visitar o imrão já que eram os únicos vivos da família. Enredo Clara é uma mulata pobre, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim e Engrácia, mulher “sedentária e caseira.” Joaquim era carteiro, “gostava de
  • 8. violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora”. Também “compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas.” Além da música, a outra diversão do pai de Clara era passar as tardes de domingo jogando solo com seus dois amigos: o compadre Marramaque e o português Eduardo Lafões, um guarda de obras públicas. Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona Margarida, que procurara na tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua mãe. É levada a procurar a família de Cassi e pedir “reparação do dano”. A mãe do rapaz humilha Clara, mostrando-se profundamente ofendida porque uma negra quer se casar com seu filho. Clara “agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos.” O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da mulher, pobre e negra, geração após geração. No final do romance, consciente e lúcida, Clara reflete sobre a sua situação: “O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...” E, na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones para a sua mãe, conclui, em desespero, como se falasse em nome dela, da mãe e de todas as mulheres em iguais condições: “— Nós não somos nada nesta vida.” Foco Narrativo É narrado em 3ªpessoa. Conta a história, e ao mesmo tempo, vai descrevendo os personagens e espaço.
  • 9. [...] O carteiro Joaquim dos Anjos não era homem de serestas; mas gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, Instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora[...] Estilo O autor procura usar uma linguagem simples, aproximando-se da língua falada da época. O estilo da narrativa é objetivo, incorporando a linguagem do texto jornalístico, com frases espontâneas. Foi muito crítico por escrever desse modo e mostra a questão social do uso da linguagem em trechos do livro. Verossimilhança Verossimilhança: questão racial... que até hoje muitas pessoas sofrem com o problema de preconceito racial. E clara sofria com isso. "...repugnava-lhe ver o filho casado com uma criada preta, ou com uma pobre mulata costureira…" Gênero Literário Romance Opinião sobre o livro O Livro é baseado no século XIX, porém relata o que muitas mulheres vivem hoje, o abandono devido a gravidez, o preconceito social e racial que até hoje está presente no Brasil. Um livro muito interessante, curioso que faz com que haja reflexão sobre tais assuntos de muita importância.