SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 52
Baixar para ler offline
Revista Jane Austen Portugal




                       Emma                           Os Lugares de



                               A Hartfield Portuguesa p.36           Ao Serão com Jane
                               Emma, a Heroína que Não Vai a
                                                                     Austen p.5
                               Lado Nenhum p. 19
                                                                     O Estatuto Especial de Emma
                               Jane Austen Rejeitada? p. 47
                                                                     Woodhouse p. 21

                                             Maio - Junho | Nº14 | janeaustenpt.blogs.sapo.pt
Conteúdo Original © Jane Austen Portugal

               Capa: Squerryes Court, Kent, England, UK

                       (Hartfield – Emma 2009)

Ilustrações: Adaptações para cinema da obra Emma (1996 – 2009), imagens
                  retiradas da net com os devidos créditos

                            Agosto de 2012
Revista Jane Austen Portugal | SUMÁRIO | 3




EDITORIAL
                                                             o facto de Emma nunca viajar, perspectivas diferentes
                                                             sobre um mesmo tema.

                                                             A nossa revista fica completa com as nossas rubricas
                                                             habituais. A Joana, no Mote a Miss Austen, analisa quais
                                                             seriam os escritores actuais que Jane Austen gostaria de
Diz o povo que em Maio comem-se as cerejas ao borra-         ler. Será que ela iria gostar de ler E Tudo o Vento Levou
lho. Mas a verdade é que em Maio os dias já são gran-        ou E o vento levou, título pelo qual a obra é conhecida no
des e muitas vezes as temperaturas são amenas, o sufi-       Brasil? Esta é uma das Sugestões Austenianas, apresen-
ciente, para uns belos passeios ao ar livre.                 tadas pela Luan. Como ela tão bem escreve o livro de
                                                             Margareth Mitchell é longo, mas vale muito a pena e de
Porque não viajar então até aos Lugares de Emma? Esta        certeza que Jane Austen iria gostar, digo eu, não tenho é
não é certamente a obra com mais viagens, esse mérito        a certeza é se ela iria gostar de Scarlett O´Hara, a prota-
pertence a Orgulho e Preconceito, mas os lugares são         gonista…
belos e o exercício, como diria Mr. Knightley irá com cer-
teza fazer-nos bem.                                          Da parte das nossas leitoras, temos a participação da
                                                             Karla Lucas, que nos apresenta uma página do diário de
Vamos começar por Box Hill, um belo espaço verde, onde       Marianne.
podemos fazer umas longas caminhadas. Há alguns
dias Box Hill era visto em todo o mundo já que era lá que    Este mês entrevistamos, Deborah Simionato, uma gran-
                                                             de fã de Jane Austen, que já viveu em Londres e visitou
decorria uma prova de ciclismo, no âmbito dos Jogos
                                                             Bath, esse lugar que tantas vezes visitamos nos livros de
Olímpicos. A Clara escreveu sobre este espaço que é nos      Jane Austen.
dias de hoje tão popular como era nos tempos de Jane         Com tantas viagens estamos cansados, mas já estamos
Austen; a Clara analisa ainda aquilo que acontece duran-     a preparar o próximo mês, desta vez na companhia de
te o piquenique em Box Hill, servindo-se do texto de Jane    Fanny Price, uma heroína que tem lutado para conquis-
Austen e do livro de Amanda Grange, Mr. Knightley’s          tar os leitores.
Diary.
                                                             Vera Santos
Depois de termos percorrido Box Hill, é tempo de irmos


                                                                        ÍNDICE
até à Abadia de Donwell, onde Mr. Knightley espera por
nós para um belo repasto. Após o almoço vamos apa-
nhar morangos, afortunadamente, Mrs Elton não faz par-
te da lista de convidados. Para descobrirem mais sobre o
que é dito sobre a casa de Mr. Knightley ou sobre os         Mote a Miss Austen (4) | Ao Serão com Miss
vários locais que foram usados nas filmagens da adapta-      Austen (5) |Encontros Improváveis (9) | Car-
ção de 1996, leiam os textos da Clara.                       tas de Uma Janette (10)| Box Hill nos Dias
O nosso tour fica completo com uma visita a Squerryes        de Hoje (11) | Box Hill em Perspetiva (13) |
Court, o local que na última adaptação representou e         Emma, a Heroína que não vai a lado nenhum
muito bem o papel da casa da nossa heroína, Hartfield;
mais uma vez o texto pertence à Clara que escreveu ain-
                                                             (19) | O Estatuto Especial de Emma Woo-
da sobre uma possível Hartfield portuguesa.                  dhouse (21) | A Protagonista Mais Enraizada
                                                             de Jane Austen (23) | Hartfield (25) | A Aba-
Para nós é tempo de voltarmos ao presente e descobrir-
mos, através da Marina, as pessoas ilustres que viveram      dia de Donwell (26) | Os Cenários de Don-
na verdadeira Hartfield e os seus locais com interesse       well - 1996 BBC (30) | Squerryes Court (34)
histórico e cultural.                                        | A Hartfield Portuguesa (36)| As Meninas
Estamos cansados, mas satisfeitos com esta viagem aos        de Beverlly Hills (39) | Notícias e Curiosida-
Lugares de Emma, agora resta-nos descansar. Sentamo-         des (41) | Passatempo Aniversário Jane Aus-
nos numa cadeira confortável, bebemos uma chávena
                                                             ten (44) | Sugestões Austenianas (45) | À
de chá e comemos alguns scones. Para nos distrair,
lemos os textos da Luan, da Júlia e um meu sobre o fac-      Discussão (47) |
to de Emma nunca viajar, perspectivas diferentes sobre
4 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal




      MOTE
                                                     Em última análise, tenho que apontar duas auto-




                                        AUSTEN
                                                     ras que, acho, agradariam a Jane Austen: Cece-
                                                     lia Ahern e Colleen McCullough. São duas escri-
                                                     toras capazes, que eu considero terem inspiração




      A MISS
                                                     austeniana. Collen tem, aliás, uma obra que pre-
                                                     tende ser uma continuação de «Orgulho e Pre-
                                                     conceito». Em suma, acredito que livros como
                                                     «Where Rainbows End» ou «The Thorn Birds»
                                                     satisfariam a nossa querida escritora.

                                                     De qualquer forma este é um texto de opinião e
 : Joana La Cueva                                    se a alguma das leitoras ocorrer outros nomes
                                                     apropriados, seria interessante que comentassem
                                                     no blogue pois pode gerar-se uma discussão
 Se convidasse Jane Austen a ler                     engraçada.
 um autor actual
 Várias vezes me questiono qual seria a opinião
 de Jane Austen acerca dos livros/autores actuais.
 Vou tentar decidir que autor recomendaria a Miss
 Austen.

 Talvez deva começar pela autora mais famosa
 dos últimos tempos: Stephenie Meyer. Para quem
 não conhece (haverá alguém?), trata-se da auto-
 ra da saga «Crepúsculo». Não é apenas pela
 fama dos seus livros que a refiro mas também
 porque diz-se que esta senhora quer ser a nova
 Jane Austen. Se tal ambição for verdadeira, não
 posso dizer que ela esteja num «bom» caminho.
 Concordo com a análise da própria autora acerca
 da semelhança dos seus livros com o «Monte dos
 Vendavais». Não me parece que Jane Austen
 fosse fã.

 Já por diversas vezes reparei que há tendência a
 comparar Austen com Nicholas Sparks. O conhe-
 cido escritor tem realmente a componente român-
 tica muito forte nas suas histórias, mas de forma
 geral, não enfatiza a componente social (tão
 importante na obra de Austen). Em extremo
 oposto encontra-se Ken Follett cujas obras têm
 uma componente histórico-social muito forte, mas
 talvez não sejam suficientemente românticas.
Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 5




AO SERÃO

                                                  COM MISS
AUSTEN
: Sandra Freitas
Conheci a Deborah via facebook, algures entre
2010/11, através de outros amigos virtuais que               (Deborah em Londres)
partilham o mesmo gosto por Jane Austen. Ela
fascinou-me pela sua frescura, pela sua alegria,             pessoas. Aprendi muito sobre mim mesma também,
                                                             meus pontos fortes e minhas fraquezas. Foi uma
pela sua boa disposição e especialmente pela sua
                                                             experiência enriquecedora”.
devoção às obras de Jane Austen e às adaptações
que se fizeram baseadas nas mesmas. Nessa                    Deborah afirma que, apesar de viajar sozinha, em
altura, a Deborah encontrava-se a residir em                 momento algum sentiu que a sua segurança
Londres, beneficiando do seu ano celibatário e a             estivesse ameaçada. Estava em Londres quando
aperfeiçoar o seu inglês.                                    aconteceram os riots em Agosto do ano passado e
                                                             mesmo assim, sentiu-se segura, já que o número de
Deborah Mondadori Simionato tem 24 anos, é de
                                                             polícias nas ruas triplicou. Andava sozinha no bus,
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no Brasil, e formou-
                                                             no metro, no comboio, e sempre sem problemas.
se em Psicologia na Universidade Federal do Rio
                                                             Ironicamente comenta que isso é algo impossível no
Grande do Sul. Define-se como sendo “viciada em
                                                             seu próprio país.
livros e filmes e amante de todas as coisas british e
Austen”. Acrescenta ainda que vive “tentando virar           Questionada sobre a forma como esta viagem se
uma heroína digna de um livro de Jane Austen”.               proporcionou e tornou possível, Deborah conta que
                                                             planeou e poupou dinheiro para esta viagem
Sobre a temporada que passou em terras de Sua
                                                             durante dez anos. Mas foi só quando ganhou um
Majestade, a Deborah define-a como sendo a
                                                             pequeno prémio na Lotaria Nacional que se
melhor fase da sua vida. Diz que sempre desejou
                                                             encontrou em condições reais de viajar. “Não fiquei
conhecer Londres e, apesar de ter ido sozinha, a
                                                             milionária, mas ganhei um valor suficiente para
solidão nunca foi problema dado que a internet lhe
                                                             bancar minha estadia e as viagens que fiz pelo UK”.
permitiu estar em contacto com família e amigos, e
                                                             Foi o dinheiro mais bem gasto na sua ainda jovem
permitiu simultaneamente a partilha online de todas
                                                             vida.
as experiências maravilhosas que ela vivenciou.
Além disso, fez algumas amizades com outros                  “Eu fiquei em Londres por 9 meses, dois dos quais
alunos da escola de inglês, tendo tido oportunidade          eu morei em um alojamento da escola de inglês
de conhecer gente do mundo inteiro com quem                  (Hampstead School of English). Durante os demais
ainda hoje mantém contacto. Posso dizer que                  meses, eu aluguei um flat na área de Bayswater,
acompanhei virtualmente essa sua jornada com                 perto de Notting Hill”.
bastante interesse e entusiasmo.
                                                             Durante os primeiros meses, estudou inglês,
“Eu amei viajar sozinha, a sensação de liberdade é           assistia às aulas e passeou por Londres. E
sensacional, é muito bom poder ir e vir sem ter que dar      entretanto, ia fazendo uma lista de lugares que
satisfação a ninguém e visitar os lugares que são do         desejava conhecer (a maioria deles relacionado
meu interesse, mas podem não interessar outras
6 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal


 com Jane Austen, as suas obras e as adaptações).       tanto amamos e foi onde ela viveu seus dias mais
 Assim que as aulas acabaram, ficou mais dois           felizes”.
 meses para poder visitar todos os lugares que
                                                        Decepções? Nenhuma. Afirma veementemente que
 queria. “Minha lista ainda existe e infelizmente não
                                                        “Não consigo pensar em nenhum lugar que tenha
 consegui visitar todos os lugares que queria...”
                                                        me decepcionado, acho que ainda estou encantada
 Encontrar-se perto dos lugares percorridos por Jane    demais para fazer críticas; ou talvez os lugares
 Austen e/ou pelas personagens dos seus livros foi      sejam mesmo maravilhosos e não há nada de ruim
 algo muito emocionante para Deborah. “Eu sentia        para dizer a respeito deles, não sei”.
 como se estivesse passeando dentro dos meus
 livros preferidos e que a qualquer momento iria me     Questionada sobre se repetiria a experiência,
 deparar com mulheres de vestidos longos e homens       Deborah foi peremptória: “Sim, sim, sim! Mil vezes
 de breeches”.                                          sim!... Vivi experiências incríveis na Inglaterra...
                                                        Minha estadia foi a melhor experiência até ao
                                                                       momento...Foi um período de auto-
                                                                       descoberta que vou para sempre
                                                                       recordar com carinho.”

                                                                       Jane Austen foi o que despoletou
                                                                       esta paixão em Deborah por tudo o
                                                                       que é britânico. Obsessão talvez seja
                                                                       a palavra mais adequada, de acordo
                                                                       com a sua própria opinião. Daí que,
                                                                       fazendo jus ao motivo da minha
                                                                       entrevista, transcrevo aqui as
 (Chawton)                                                             respostas del a às q uestões
                                                                       colocadas.

                                                                     Lembras-te do momento ou da
                                                                     situação que te fez amar as obras de
                                                                     Jane Austen? Que idade tinhas? Fala
                                                                     um pouco sobre isso.
                                                                     Não lembro exatamente como
                                                                     começou a minha obsessão por todas
                                                                     as coisas Jane Austen, mas lembro
                                                                     de ter lido “O Diário de Bridget Jones”
                                                                     quando tinha uns 16 anos e ter
                                                                     ficado curiosa com o personagem
                                                                     que inspirou Mark Darcy. A partir daí,
 (A mesa onde Jane Austen escrevia em Chawton)
                                                                     comecei a ler as obras da Jane e me
                                                                     apaixonei por seus escritos e pelas
 Os locais que mais gostou de visitar foram Bath “por   adaptações para a televisão e cinema.
 ser uma cidade linda onde a Jane viveu e por ser
 pano de fundo para Persuasion e Northanger
 Abbey, além de preservar aquele clima antigo e         Qual foi o primeiro livro de Jane Austen que leste? E
 contar com o maravilhoso Jane Austen Centre” e         o último? Qual gostaste mais e qual gostaste menos
 Chawton “sem dúvida, um dos locais mais                e porquê?
 emocionantes para um fã de Jane Austen conhecer;       O primeiro que li foi “Pride & Prejudice” (P&P) e o
 foi lá que ela revisou todos os livros que hoje nós    último “Northanger Abbey”(NA). Coincidentemente,
Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 7


meu preferido é P&P e o que menos gosto é NA.           de Jane Austen deve ser uma ótima pessoa!
Amo P&P por sempre me fazer feliz quando eu leio
(se bem que isso acontece com todos os livros da        Qual a tua opinião sobre os livros baseados nas
Jane), por ter uma história de amor tão linda e com     obras de Jane Austen? E as fanfictions?
personagens tão incríveis; afinal, que menina não       Eu sou absolutamente viciada neles! Tenho uma
quer ser Elizabeth Bennet e encontrar o Mr. Darcy?      coleção em casa e estou sempre buscando mais.
Acho que é a história que eu melhor conheço e que       Adoro quando os escritores nos levam de volta aos
mais amo. Quanto a NA, eu também adoro e acho           tempos da Jane, quando a JAFF (Jane Austen Fan
muito engraçada, não tenho coisas ruins para dizer      Fiction) é bem pesquisada e explora outros
a respeito, só que prefiro as outras mesmo.             aspectos dos nossos amados personagens e outras
                                                        possibilidades – ou sequências – para as nossas
Qual a tua adaptação (filme ou série) preferida das     histórias preferidas. Sou muito aberta em relação a
obras de Jane Austen? Porquê?                           essas coisas (desde que mantenham Darcy e
Minha adaptação preferida é a minissérie da BBC         Elizabeth juntos no final, eu leio de tudo!), gosto até
“Pride & Prejudice” (1995). Já vi e revi muitas vezes   mesmo de ler as versões modernas para as
e nunca me canso. É a mais fiel ao livro, com           histórias.
grandes atores (não me refiro só ao maravilhoso
Colin Firth, mas Jennifer Ehle é minha Elizabeth        Dizem que todas procurámos um Darcy. Concordas
preferida também). Ultimamente ando assistindo o        com esta opinião? Procuraremos mesmo esse
filme com o Matthew Macfadyen e a Keira Knightley       homem que dizem ideal?
(Pride & Prejudice, 2005) com grande frequência.        Acho que isso é verdade sim (pelo menos eu estou
Apesar de não ser o mais fiel à história original,      procurando o meu Darcy...), mas também acho que
acho o filme mais romântico e com uma fotografia        o Darcy não é um homem ideal ou perfeito. Ele tem
lindíssima. Outro que está no meu top é                 muitos defeitos, entre eles ser arrogante e
“Emma” (BBC, 2009), que sempre me arranca               orgulhoso, mas o que o redime aos olhos de
sorrisos e inclusive algumas risadas.                   Elizabeth (e aos nossos) é o fato de que ele escuta o
                                                        que ela tem a dizer e tenta ser um homem melhor
Que mudou Jane Austen na tua vida?                      para ela, mesmo que ela não case com ele. E mais,
Jane Austen fez meu amor por romances                   ele está disposto a desafiar todas as regras da
desabrochar. As histórias dela são repletas de uma      sociedade na qual ele vive por amor. Quem não
crítica social cómica que eu amo. No entanto, é o       quer um homem corajoso desses? Então, sim, nós
romance o que mais me encanta. Eu quero um              procuramos um Darcy – ou um Wentworth,
amor digno de algo que a Jane escreveria; não o         Knightley, Brandon... -, um homem que nos escute e
relacionamento perfeito, mas um relacionamento          seja nosso parceiro, alguém que nos respeite e seja
em que ambos estejam dispostos a se
tentar mais a ser pessoas melhores e
merecedoras do amor do outro. Penso
que aprendi com as heroínas da Jane a
ser uma mulher mais forte e
independente, a rir de mim mesma, a
encarar as coisas com mais leveza.
Posso ficar por horas aqui falando o
que aprendi com cada personagem,
com cada livro, com as coisas que a
Jane disse em suas cartas... Vou me
limitar a dizer que, por causa de Jane
Austen, sou uma pessoa melhor. Afinal,
a gente sabe que todo mundo que é fã                                                     (The Royal Crescent em Bath)
8 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal


 honrado. O dinheiro e a beleza que o Darcy tem são,
 obviamente, bem-vindos, mas não essenciais.

 Pessoalmente com quem te identificas mais:
 Elizabeth Bennet, Emma Woodhouse, Anne Elliot,
 Catherine Morland, Elinor Dashwood, Marianne
 Dashwood ou Fanny Price? Fala um pouco sobre
 cada uma delas.
 Acho que eu consigo me ver no lugar de cada uma
 delas – e essa é uma das belezas das personagens
 criadas pelo gênio que era Jane Austen. É fácil ler a                                      (The Cobb em Lyme Regis, Dorset)
                                                                                            (The Cobb em Lyme Regis, Dorset)
 história como se fossemos nós que a estivessemos
 vivendo. Como a Lizzy Bennet, eu sou uma leitora
 voraz, adoro uma boa discussão e sei rir das
 inconsistências dos outros e das minhas; como a
 Emma, já me vi várias vezes no papel de cuidadora
 dos meus pais, uma responsabilidade por vezes tão
 grande que esquecemos de nós mesmos; como a
 Anne, eu às vezes pareço quieta e, à primeira vista,
 séria; como a Catherine, eu leio muitos romances, o
 que me faz sonhar alto de mais; como a Elinor, eu
 costumo guardar meus sentimentos e sempre
 parecer forte quando tudo ao meu redor está
 desmoronando, mesmo sabendo que por dentro eu
 estou extremamente feliz ou devastada; como a
 Marianne, eu sou muito sensível; como a Fanny, eu
 sou tímida e por vezes acho que não mereço as
 coisas boas que acontecem comigo. De todas elas,
 acho que sou mais como a Elinor, querendo sentir
 um amor avassalador como a Marianne, ser “witty”
 como a Elizabeth, calma como a Anne e charmosa
 como a Emma.

 Como imaginas a tua relação com Jane Austen
 daqui a 20 anos?
 Tenho certeza de que ainda estarei lendo Jane
 Austen daqui a 20 anos. Talvez eu esteja mais                            (Memorial a Jane Austen na Catedral de Winchester)
 dedicada a reler apenas os originais e não tanto
 JAFF. Não tenho como saber a certo, mas acredito
 que a Jane ainda vai ser uma parte muito                Não foste nada chata, Deborah! Obrigada por teres
 importante da minha vida.                               partilhado as tuas experiências e o teu amor por
                                                         Jane Austen connosco!
 Gostarias de acrescentar alguma coisa?
 Obrigada por ler e querer saber um pouco sobre          Nota: Fotos gentilmente cedidas pela entrevistada.
 esse minha obsessão e sobre minha viagem à
 Inglaterra – dois assuntos sobre os quais eu amo
 falar. Espero não ter sido muito chata!
Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 9




ENCONTROS                                           Amor que jamais soubera o que significa amar,
                                                    Willoughby de Allenham.


IMPROVÁVEIS                                         É verdade que em breve serei a senhora
                                                    Brandon, mas, guardo como derradeira
                                                    lembrança, a ser com você compartilhada, a
                                                    certeza de que sobreviver... quase sempre,
                                                    poupa-nos das “menores” e mais devastadoras
: Karla Alessandra Nobre Lucas                      privações que podem dissolver, na rigidez do
                                                    nexo, toda inocência e magia da arte de sorrir
A quem encontrar o presente manuscrito...
                                                    com calor! Meu pensamento agora vagueará
Advirto que há nele o registro solene de uma
                                                    somente pelo prazer das lembranças do que
passagem, uma travessia, que gostaria que e se
                                                    ainda não é, na medida em que o tumulto interior
prolongasse em sua existência, caro leitor:
                                                    causado pelo que foi, não me apanha o sono.

Transformada! Deveras, passei por uma
                                                    Saiba que guardo com cuidado dentro de mim
completa transformação. E não convém detalhar
                                                    meu mais caro presente: tempo e memória na
experiências vãs de outrora, do tempo em que
                                                    ponta de uma estrela. Minha memória? Foi um
meu espírito alegre, minha beleza e juventude
                                                    retrato em preto e branco, um desbotamento da
foram mitigadas. Reduzi-me à lágrimas em um
                                                    aquarela do que vivi. Experimentei... Um dia...
rosto com aspecto pálido e doentio, sem
                                                    Alguém... Conheci... e Descobri nos enleios de
expressão alguma. Andava a esmo. Mas agora
                                                    uma segunda oportunidade para enxergar que
tudo me soa muito diferente, como se o vento frio
                                                    não bastam apenas palavras, mas o que é dito
invadisse meu ser imprimindo a tensão de um
                                                    deve acompanhar o que fazem ou deixam de
mistério que em momentos passados reduziu-me
                                                    fazer por nossa causa... Aprendi que é possível
à cólera... a um sofrer sofrível que sufocava meu
                                                    tecer fios de sonhos possíveis que não se
sentir ― pleno ― de parecer existir uma vez só a
                                                    desgastam a cada alinhavo, no absurdo de um
ponto de me fazer sentir e ser nada para outro
                                                    sonho presente! O segredo? Nosso segredo é
que apenas simulava um ser e um sentir que, de
                                                    extático. Sonho a ser vivido uma só vez na alma
fato, nunca existiram.
                                                    infante! E é na cadência do tempo que saboreio a
                                                    doçura das palavras e gestos de quem realmente
Antes, a névoa em meus olhos negava-me o
                                                    tem o dom de permanecer e fazer durar.
acesso a uma verdade fundamental: de modo
                                                    Finalmente alcançou-me o toque das almas do
que hoje, eu, Marianne Dashwood, posso sentir a
                                                    Homem que não ousa dizer seu nome, meu
brisa e distrair-me à janela de nosso chalé com
                                                    amado, Brandon!
os olhos da esperança; pois, além do horizonte
das expectativas alimentadas pelas “heroínas de
papel”, há o limite do céu e da terra de
Devonshire que tornam o secreto manifesto por
um acaso que a vida me permitiu desvendar, na
                                                                                           Marianne
medida em que experimentei sucessivas
perdas... no amor de um pai e no amor de um
10 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal




 CARTAS

                                               DE UMA
                                                        Jane Austen por que não está aqui para respon-
                                                        der a essas perguntas? Eu me manifesto para o
                                                        mundo sobre a Jane que você fora um dia, na



 JANETTE
                                                        verdade que você é! Pois você está viva em cada
                                                        minúsculo ser que se interessa pelos seus
                                                        romances, que percebo ser seus na vida real, se
                                                        não forem seus, eram os seus desejos, seus
                                                        pedidos para cada estrela cadente que passava,
 : Izabella Rendeiro                                    onde você e seu coração compartilhavam confi-
                                                        dências que eu jamais saberei... Um desejo ocul-
 Olá eterna Jane Austen,                                to que espero que tenha sido realizado.

                                                        Você, Jane, é um mistério que gostaria de des-
                                                        vendar, aprofundando-me em seu Eu, pois você é
 Pergunto o porquê dos simples acontecimentos           o que escreve, os seus livros são você e essa
 tornarem-se dúvidas constantes em minha men-           fantasia que criou despertou valores que nem eu
 te... O porquê de me transformarem em um que-          mesma havia conhecido, um amor jovem e incon-
 bra cabeça, onde diversas peças estão faltando e       dicional, uma réplica dos contos de fadas, onde
 as que sobraram não se encaixam. Meu nome é            toda menina sonhadora gostaria de ter, você era
 Izabella Rendeiro e estou à procura de resolu-         uma delas... E eu tenho absoluta certeza de que
 ções, como todas as "Janeites", a busca por res-       essa menina utopista jamais morreu! Ela está
 postas não para. O que você, Jane, buscou todos        aqui, em cada letra de cada traço feito em seus
 esses anos? Misturar-se nos seus contares para         livros! Você, Austen, fez parte da minha história!
 ir ao encontro do seu mundo particular? E seus
 amores, seus mais profundos desejos? Eles
 basearam-se nos romances que escrevera? Tal-           Beijos
 vez essas respostas jamais venham, sei que elas
 estão na cabeça de cada fã do mundo inteiro,
 estão ocultadas em cada mínima interpretação
                                                        Izabella Rendeiro, umas de suas maiores admira-
 que de diversas formas, estão espalhadas onde
                                                                                                 doras.
 nós devemos buscá-las.

 Talvez o que eu esteja procurando em você,
 esteja em mim mesma... Os meus sentimentos
 sejam similares aos seus quando jovem, as
 minhas emoções talvez, propositalmente, sejam
 por você provocadas quando escrevera cada vír-
 gula de seus contares... Não sei ao certo como
 explicar, mas sinto como se o mundo parasse,
 para você e seus personagens passarem,
 enquanto eu os sigo de uma maneira automática
 e ao mesmo tempo impulsiva.
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 11




                                                                                                             hillshillshills.wordpress.com
                                           DE HOJE
  BOX HILL
    NOS DIAS




: Clara Ferreira


Es
                                                      romântica influenciava a tendência de comer ao
         te local, referido no romance Emma,          ar livre como forma de comungar com a nature-
         assume um papel importante no desenro-       za”. Desta forma, sabemos que Jane Austen
lar da história, não só por representar um dos
                                                      também seguia as tendências! Neste mesmo arti-
poucos momentos em que Emma sai do ambien-
te familiar de Hartfield, mas também porque deste     go, percebemos a dificuldade que havia em pre-
passeio resultam mudanças importantes no com-         parar tais saídas ao ar livre e toda a logística que
portamento e atitude de Miss Woodhouse.               isso implicava - na versão de 1996 com Kate
                                                      Beckinsale tudo isso é muito bem demonstrado.
      “They had a very fine day for Box Hill …
      Nothing was wanting but to be happy when        Assim como os piqueniques eram uma tendência
      they got there. Seven miles were travelled      na Época da Regência, também o era o local,
      in expectation of enjoyment, and every          Box Hill.
      body had a burst of admiration on first arri-   Box Hill, existe na realidade em Surrey, Reino
      ving”                                           Unido, aproximadamente a 30km de distância de
De acordo com o artigo “Emma: Picnicking on           Londres. Assim, será de supor que Jane Austen o
Box Hill” do blogue Jane Austen’s World, “os          tenha igualmente visitado. A colina tem este
piqueniques tornaram-se muito populares na vira-      nome em virtude de um antigo bosque situado
gem do século XIX, quando a sensibilidade             num declive muito íngreme do lado oeste com
romântica influenciava a tendência de comer ao        vista para o Rio Mole.
ar livre como forma de comungar com a nature-
12 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal




                                                      wikipedia.com
 As primeiras casas da pequena aldeia de Box Hill
 datam de 1800, embora grande parte da aldeia
 tenha sido construída na metade do século XX.
 Isto significa que a popularidade de Box Hill terá
 surgido, mais ou menos, na época em que Jane
 Austen viveu.

 Existem duas pinturas que retratam a vista de
 Box Hill, uma de George Lambert que data de
 1733 e se encontra no Tate e outra de William
 Turner que data de 1796 e que se encontra atual-
 mente no Museu Albert and Victoria em Londres,
 [podemos ver a pintura de G. Lambert, no título
 deste artigo] o que acentua mais a ideia de que
 as qualidades paisagísticas de Box Hill se torna-
 ram mais conhecidas no preciso período de vida
 de Jane Austen.

 Hoje em dia Box Hill integra uma Área Especial
 de Conservação, o que equivale certamente às
 nossas Áreas protegidas, implicando igualmente
 inúmeras restrições quanto a construções e des-
 truição do meio ambiente.

 Tem livre acesso ao público que pode optar por
 fazer um percurso pedestre de cerca de 1 km
 para Sul chamado “Pilgrims Ways” (Caminho do
 Peregrino); visitar o miradouro (Salomons Memo-
 rial) onde terá uma ampla paisagem, permitindo
 inclusivé que se veja a cidade mais próxima, Dor-
 king; visitar o Forte, que só foi construído em
 1890, portanto, ainda não exisitia à data em que
 foi escrita “Emma”; Broadwoods Folly, uma
 pequena torre circular construída em 1820; A Zig
 Zag Road, que data de 1869, um caminho muito
 íngreme com cerca de 2.5 km que já foi por mui-
 tos comparado aos Alpes Franceses; e ainda um
 pequeno percurso de pedras sobre o rio no fundo
 da colina junto ao Rio Mole.

 Box Hill mantém a sua popularidade e, quem
 sabe, se Jane Austen, através de Emma, não
 teve grande influência nisso!
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 13




                                    EM
 BOX HILL
 PERSPETIVA




                                                                                                            Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow (screencap)
: Clara Ferreira                                      Grange, vou percorrer pelos olhos de um e de
                                                      outro, o que aconteceu no piquenique de Box Hill.


Bo         x Hill é o palco da maior discussão
           entre Emma e Mr. Knightley. É nesse
cenário que Emma é veemente repreendida pela
                                                      “I was up at daybreak, and oversaw the start of
                                                      the clover-cutting before getting ready to go to
                                                      Box Hill. The day was fine, and we had a good
forma crua e insensível como trata Miss Bates. É      journey. Whether we were tired from yesterday’s
desta grande zanga entre os dois que virá, mais       enjoyments or languid because of the heat I do
tarde, surgir em Emma o sentimento singular que       not know, but there was a lack of spirit in the
sente por Knightley e que, afinal de contas, ultra-   party.” – “Mr. Knightley’s Diary”, Amanda
passa as fronteiras da amizade.                       Grange (AG).

Dada a importância do local para o desenrolar da      “They had a very fine day for Box Hill; and all the
história e do romance entre a nossa heroína e o       other outward circumstances of arrangement,
nosso herói, resolvi confrontar as duas perspecti-    accommodation, and punctuality, were in favour
vas da ação. Assim, recorrendo ao romance             of a pleasant party. (…) Nothing was wanting but
“Emma” de Jane Austen e ao romance-sequela “          to be happy when they got there. Seven miles
Mr. Knightley’s Diary” de Amanda Grange, vou          were travelled in expectation of enjoyment, and
14 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal



 RECORRENDO AO                                          stupid. (…) When they all sat down it was better;
                                                        to her taste a great deal better, for Frank Churchill
 ROMANCE “EMMA”                                         grew talkative and gay, making her his first object.
 DE JANE AUSTEN E                                       (...) and Emma, glad to be enlivened, not sorry to
                                                        be flattered, was gay and easy too, and gave him
 AO ROMANCE-                                            all the friendly encouragement, the admission to
 SEQUELA “MR.                                           be gallant, (...) but which now, in her own estima-
                                                        tion, meant nothing. (...) Not that Emma was gay
 KNIGHTLEY’S                                            and thoughtless from any real felicity; it was
 DIARY” DE AMAN-                                        rather because she felt less happy than she had
                                                        expected. She laughed because she was disap-
 DA GRANGE, VOU                                         pointed; and though she liked him for his atten-
 PERCORRER PELOS                                        tions, and thought them all, whether in friendship,
                                                        admiration, or playfulness, extremely judicious,
 OLHOS DE UM E DE                                       they were not winning back her heart. She still
 OUTRO O QUE                                            intended him for her friend.” - JA

 ACONTECEU EM                                           Aqui sim, começamos a notar uma diferença de
                                                        perspetivas. Enquanto Knightley censura o com-
 BOX HILL                                               portamento de Emma e F. Churchill, tanto por
                                                        achar pouco próprio tanto flirt, e porque estando
 every body had a burst of admiration on first arri-    agora consciente da sua paixão por Emma, não
 ving; but in the general amount of the day there       pode evitar sentir ciúmes.
 was deficiency. There was a languor, a want of
 spirits, a want of union, which could not be got       Todavia, Jane Austen mostra-nos os pensamen-
 over. They separated too much into parties.” –         tos de Emma, e estes não podiam ser mais dife-
 “Emma”, Jane Austen (JA).                              rentes. Emma não está minimamente apaixonada
                                                        por Frank Churchill, apenas vê nele um amigo.
 Amanda Grange mantém o estilo de Jane Austen,
                                                        Permite-lhe tais atenções por estar aborrecida ou
 referindo a agradável viagem até Box Hill mas
 alguma falta de “espírito” por parte dos seus parti-   como Jane Austen nos diz, por não se sentir tão
 cipantes em virtude do dia anterior passado em         feliz como esperava, e daquela forma sempre se
 Donwell Abbey.                                         vai distraindo.

 “We strolled about until it was time for our picnic.   "Our companions are excessively stupid. What
 Then, indeed, there was more liveliness in the         shall wedo to rouse them? Any nonsense will ser-
 party, (...) for Churchill made Emma the object of     ve. They shall talk. Ladies and gentlemen, I am
 his attentions. (..) Whatever it was, he did not       ordered by Miss Woodhouse (who, wherever she
 behave like a gentleman.                               is, presides) to say, that she desires to know what
 Emma did not seem to notice anything amiss, and        you are all thinking of?" - JA
 flirted with him in the most painful way; painful to
 me, as I am in love with her more every day. (…)       “Emma smiled at this mixture of flattery and silli-
 Her flirting grew worse. It was beyond anything I      ness, instead of looking disgusted, as she should
 had seen, and I dreaded where Frank Churchill‟s
                                                        have done” - AG
 influence would take her.” – AG
                                                        “Some laughed, and answered good-humouredly.
 “At first it was downright dulness to Emma. She        Miss Bates said a great deal; Mrs. Elton swelled
 had never seen Frank Churchill so silent and stu-      at the idea of Miss Woodhouse's presiding; Mr.
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 15


Knightley's answer was the most distinct. "Is Miss       had anyone else whispered in company.” - AG
Woodhouse sure that she would like to hear what
                                                         " I am ordered by Miss Woodhouse to say, (...)
we are all thinking of?" - JA
                                                         she only demands from each of you either one
“I looked at her intently, knowing she would not         thing very clever, be it prose or verse, original or
like my thoughts.” - AG                                  repeated—or two things moderately clever— or
                                                         three things very dull indeed, and she engages to
 "Oh! no, no"—cried Emma, laughing as care-              laugh heartily at them all.
lessly as she could— "Upon no account in the
world. It is the very last thing I would stand the       - Oh! very well," exclaimed Miss Bates, "then I
brunt of just now. Let me hear any thing rather          need not be uneasy. `Three things very dull
than what you are all thinking of. I will not say qui-   indeed.' That will just do for me, you know. I shall
te all. There are one or two,perhaps, (glancing at       be sure to say three dull things as soon as ever I
Mr. Weston and Harriet,) whose thoughts I might          open my mouth, shan't I? (looking round with the
not be afraid of knowing." - JA                          most good-humoured

“Well might she say so. They never find fault with       dependence on every body's assent)—Do not you
anything she does, but to have such uncritical           all think I shall?" - JA
friends is not good for anyone.” - AG
                                                         “I was just about to say, „Not at all,‟ and I saw Mrs
Acho interessantíssima a forma como Knightley            Weston about to do the same, when Emma said”
consegue avaliar toda a situação sem se deixar           - AG
influenciar em demasia pelos seus próprios senti-
mentos... ele mantém total sensatez.Obviamente           "Ah! ma'am, but there may be a difficulty. Pardon
que a sua parcialidade para com Emma fazem               me—but you will be limited as to number—only
com que se sinta triste pelas suas atitudes pre-         three at once." - JA
sentes, todavia, as falhas que lhe aponta são ver-
dadeiras sem qualquer sinal de desfaçatez por            “I could not believe it. Instead of reassuring Miss
esta não o encarar como potencial partido.               Bates that her contributions to the conversation

"It is a sort of thing," cried Mrs. Elton
emphatically, "which I should not
have thought myself privileged to
inquire into. Though, perhaps, as the
Chaperon of the party— I never was
in any circle— exploring parties—
                                                                                                            Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow
young ladies—married women—"
Her mutterings were chiefly to her
husband; (…)” - JA

“Mrs Elton, not at all pleased with the
turn the conversation had taken,
though her anger was mostly caused
by the fact that she was not the cen-
tre of attention. There was whispe-
ring from Frank Churchill, and Emma
showed no disgust at his behaviour,
as she would have done had anyone
else whispered in company.” - AG
16 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal


 were always valued, she insulted her in front of all      insulted her oldest friend? Emma, who had flirted
 her friends; worse still, in front of her niece. I felt   shamelessly in front of all her friends?
 sick with it. She would never have said such a            Emma basked in the praise, though it was ill-
                                                           deserved, whilst her flatterer, Frank Churchill, lau-
 thing before meeting Frank Churchill!” – AG
                                                           ghed and enjoyed it. “ - AG
 Ñão sei se estes eram os pensamentos que Jane
 Austen teria atribuído a Knightley, mas penso que         “It did not seem to touch the rest of the party
 não devem estar muito longe dos verdadeiros.              equally; some looked very stupid about it, and Mr.
 Sem dúvida que a influência de F. Churchill foram         Knightley gravely said” - JA
 uma importante contribuição para uma certa
 insensibilidade no comportamento de Emma, pois            “This explains the sort of clever thing that is wan-
 junto dele era alvo de todas as maiores atenções,         ted,‟ I said without humour, „but perfection should
 convencendo-se, ainda que de forma inconscien-            not have come quite so soon.‟
 te, que era, de facto, perfeita. E isso levou-a a         It made no difference. Emma was pleased, and
 colocar-se numa posição sobranceira e altiva,             so was her court. Mrs Elton, it is true, was not
 sem ter em conta os outros. Emma foi inconve-             pleased, though if she could have changed her
 niente, grosseiramente inconveniente e Knightley          name to Emma, she would have thought it the
 não poderia ter reagido de outra forma.                   best conundrum in the world. “ - AG

 “Miss Bates did not realize what Emma had said,           "Oh! for myself, I protest I must be excused," said
 and I was about to divert her attention by offering       Mrs. Elton; (…) Miss Woodhouse must excuse
 her another slice of pie when I saw her face chan-        me. I am not one of those who have witty things
 ge and knew I was too late.” - AG                         at every body's service” - JA
 “but, when it burst on her, it could not anger,           “I declared my intention of taking a walk as well,
 though a slight blush shewed that it could pain           and gave her one arm, whilst offering Miss Bates
 her.” - JA                                                the other.” - AG

 “I was mortified, yet Emma continued to smile and         “They walked off, followed in half a minute by Mr.
 Weston went on with the conversation as though            Knightley. Mr. Weston, his son, Emma, and Har-
 nothing was wrong.” - AG                                  riet, only remained; and the young man's spirits
                                                           now rose to a pitch almost unpleasant. Even
 "I doubt its being very clever myself," said Mr.
                                                           Emma grew tired at last of flattery and merriment,
 Weston. "It is too much a matter of fact, but here
                                                           and wished herself rather walking quietly about
 it is.—What two letters of the alphabet are there,
                                                           with any of the others, or sitting almost alone, and
 that express perfection?" - JA
                                                           quite unattended to, in tranquil observation of the
 “Weston! Who should have shown her what he                beautiful views beneath her.” - JA
 thought of such conduct by a frown. He then
 made things worse by offering a conundrum, and
 one which could not have been more badly cho-             “And for the rest of the walk, I had to listen to her
 sen.” - AG                                                apologizing for her tongue, when it should have
                                                           been Emma who was apologizing for hers.
 “- M. and A.—Em-ma.—Do you understand?"                   I did what I could to soothe her, and she grew
 Understanding and gratification came together. It         easier. “ - AG
 might be a very indifferent piece of wit, but Emma
 found a great deal to laugh at and enjoy in it.— JA       Eu até compreendo a frase de Emma... Afinal,
                                                           passei muito tempo do livro a desejar que ela se
 “Emma understood, and was gratified, whilst I             calasse! Todavia, acho que Emma extravazou
 was annoyed. Emma, perfect? Emma, who had                 muito da sua putativa importância ao expressar
                                                           tal sentimento. Enquanto pensamento, julgo que
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 17


tal sentimento. Enquanto pensamento, julgo que         "I assure you she did. She felt your full meaning.
não nos deixaríamos de rir, mas o facto de o ter       She has talked of it since. I wish you could have
dito da boca para fora é altamente repreensível.       heard her honouring your forbearance, (...) and,
Mr. Knihtley espanta-se com a atitude de Emma,
                                                       were she prosperous, I could allow much for the
primeiro, por expressar semelhante pensamento,
segundo, por não perceber que o que acabou de          occasional prevalence of the ridiculous over the
dizer foi em tudo ofensivo.                            good. Were she a woman of fortune, I would lea-
Não posso deixar de afirmar que considero a            ve every harmless absurdity to take its chance, I
linha de pensamento de Knightley seguida por           would not quarrel with you for any liberties of
Amanda Grange muito convincente. Depois de             manner. Were she your equal in situation (...) Her
Weston fazer a sua charada com o nome de               situation should secure your compassion. It was
Emma e perfeição, a resposta dada por Knightley        badly done, indeed!” - JA
ainda mencionada por Jane Austen, é muito bem
explorada por Amanda Grange que nos mostra o           “She was not interested. She looked away, impa-
sentimento incrédulo e zangado com que Mr.             tient with me for speaking to her thus. But I had
Knightley reage a toda aquela situação perante a       started, and I could not have done until I had fini-
indiferença de Emma que mantém uma postura             shed.” - AG
irrefletida e imprópria.
Não deixa de ser igualmente interessante, o facto      “to have you now, in thoughtless spirits, and the
de Amanda Grange nos dar a conhecer o que foi          pride of the moment, laugh at her, humble her—
dito no passeio com Knightley, Miss Bates e Jane       and before her niece, too(...) This is not pleasant
Fairfax, que nos mostra quão humilde e magoada
                                                       to you, Emma (...) I will tell you truths while I can;
Miss Bates estava.
                                                       satisfied with proving myself your friend by very
“While waiting for the carriage, she found Mr.         faithful counsel, and trusting that you will some
Knightley by her side.” - JA                           time or other do me greater justice than you can
                                                       do now." - JA
“My anger had not cooled when I stood next to
Emma as we waited for the carriage to take us          Gostei bastante desta controvérsia entre as pers-
home again. I told myself I must not reprimand         petivas de um e outro. Emma só se apercebe das
her or criticize her, but I could not help myself. I   implicações do que disse quando Knihtley a
could not see her being dragged down, when a
                                                       repreende. É curioso assistir ao duelo de senti-
word from me might stop it. “ - AG
                                                       mentos de Knihgtley que até ao último momento
“He looked around, as if to see that no one were       tenta não criticá-la por entender que já não ocupa
near, and then said, "Emma, I must once more           esse lugar, agora que Emma pretende iniciar a
speak to you as I have been used to do” - JA           sua vida ao lado de outro homem. Todavia fá-lo,
                                                       e fá-lo por amor.
“I said, in some agitation. Even then, I tried to
hold back, but I could not” - AG                       A reação inicial de Emma às suas palavras é ain-
                                                       da muito imatura, como Austen nos mostra, ela
“I cannot see you acting wrong, without a remons-      ainda tenta rir com a situação.
trance. How could you be so unfeeling to Miss
Bates? (...) Emma, I had not thought it possible."     “While they talked, they were advancing towards
Emma recollected, blushed, was sorry, but tried to     the carriage; it was ready; and, before she could
laugh it off.                                          speak again, he had handed her in.” - JA

"Nay, how could I help saying what I did?—             “I handed her into the carriage. She did not even
Nobody could have helped it. It was not so very        bid me goodbye. She was sullen. Who could bla-
                                                       me her? But it could not be helped. I had said
bad. I dare say she did not understand me."            what I had to say, and I returned to the Abbey in
                                                       low spirits. “ - AG
18 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal


                                                                                “The wretchedness of a
                                                                                scheme to Box Hill was
                                                                                in Emma's thoughts all
                                                                                the evening. How it might
                                                                                be considered by the rest
                                                                                of the party, she could
 Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow




                                                                                not tell. They, (...) might
                                                                                be looking back on it with
                                                                                pleasure; but in her view
                                                                                it was a morning more
                                                                                completely misspent,
                                                                                more totally bare of ratio-
                                                                                nal satisfaction at the
                                                                                time, and more to be
                                                                                abhorred in recollection,
                                                                                than any she had ever
                                                                                passed.” - JA


                                                                                 Gosto especialmente da
 “He had misinterpreted the feelings which had           forma como Knightley interpreta erradamente a
 kept her face averted, and her tongue motionless.       aparente apatia de Emma perante o que lhe diz e
 They were combined only of anger against her-           os sentimentos dela para com Churchill—e nisto,
 self, mortification, and deep concern. She had not      ele não podia estar mais enganado!
 been able to speak; and, on entering the carriage,
                                                         Emma só muito tarde se apercebe do que fez,
 sunk back for a moment overcome—then reproa-
                                                         mas não tarde de mais, como sabemos, Emma
 ching herself for having taken no leave, making
                                                         esforça-se por expiar as suas culpas nos capítu-
 no acknowledgment, parting in apparent sullen-
                                                         los seguintes e consegue-o e por isso entendo
 ness, she looked out with voice and hand eager
                                                         que esta cena na história representa um ponto de
 to shew a difference; but it was just too late. He
                                                         viragem em Emma porque ela cresce muito
 had turned away, and (...) She continued to look
                                                         depois desta reprimenda.
 back, but in vain; (...) She was vexed beyond
 what could have been expressed— almost
 beyond what she could conceal. Never had she
 felt so agitated, mortified, grieved, at any circums-                        NÃO POSSO DEIXAR
 tance in her life. “ - JA
                                                                                DE AFIRMAR QUE
 “(I) began to restore my sense of calm. (...) If
 Emma had been with me, I would have known
                                                                             CONSIDERO A LINHA
 complete happiness. But she was not, and as I                               DE PENSAMENTO DE
 came inside I had to acknowledge that such a
 thing would never come to pass. (...) But I cannot                          KNIGHTLEY SEGUIDA
 forget about Emma. Where is she now? Is she at                              POR AMANDA GRAN-
 Hartfield, thinking of Frank Churchill and his easy
 flattery? She must be.“ - AG                                                  GE MUITO CONVIN-
                                                                                         CENTE
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 19




 EMMA
 A HEROÍNA
 QUE NÃO VAI A LADO NENHUM




                                                                                                    Emma 1996 com G. Paltrow
: Vera Santos                                        Jane, Fanny Price, visita a sua família com quem
                                                     fica durante alguns meses.


To       das as heroínas de Jane Austen, num
         momento do livro passam uma tempora-
da fora de casa. As irmãs Dashwood visitam Lon-
                                                     Emma é a única que nunca vai a lado nenhum,
                                                     sim há o passeio a Box Hill, mas é somente um
                                                     passeio que dura algumas horas e permite o
                                                     regresso a casa no mesmo dia. Emma nunca vai
dres na companhia da Mrs. Jennings e na volta
para casa passam algumas semanas na proprie-         passar algumas semanas com a irmã a Londres
dade dos Palmers, onde devido à doença de            ou visitar qualquer outro lugar como Bath.
Marianne ficam mais tempo do que inicialmente        Sobre o ponto de vista narrativo Emma é um
previsto. Elizabeth visita os recém-casados Col-     romance fechado todos os personagens que
lins e mais tarde os tios proporcionam-lhe umas      conhecemos no inicio estão lá no fim, não existe
férias no Derbyshire, a sua irmã Jane passa          uma alteração significativa, o livro funciona como
algum tempo em Londres e Lydia vai para Brigh-       um circulo fechado. Noutras obras vão nos sendo
ton com os Forsters. Catherine acompanha os          apresentadas novas personagens, em Emma
Allen a Bath e Anne Elliot antes de se mudar defi-   isso não acontece. Harriet Smith é introduzida no
nitivamente para esta cidade passa algum tempo       círculo de Emma, mas ela já vivia há algum tem-
com a sua irmã Mary. Até mesmo a heroína mais        po em Highbury e o mesmo é válido para Jane
pobre dos livros de Jane, Fanny Price, visita a      Fairfax e Frank Churchill, embora ausentes
20 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal



 durante uma parte da obra estão presentes pelas      verdade, como acontece com Elizabeth Bennet
 várias menções que lhes são feitas. A única per-     mas nunca a de mudança/ reforma da personali-
 sonagem realmente nova que conhecemos, a a           dade do qual Henry Crawford é um bom exemplo.
 Mrs. Elton, mas a sua presença é irrelevante
 excepto para irritar Emma e o leitor com toda a
 sua maneira de ser.                                  Todos estes factos e análises levam-me a pensar
 O curioso desta constatação é que Emma é de          que Emma seria exactamente igual quer tivesse
 todas as heroínas a que mais teria possibilidades    passado temporadas em Londres ou noutro sítio
 de viajar já que era a mais rica. Os motivos para    qualquer, embora a aí talvez tendo à sua disposi-
 a ausência de alguma viagem são facilmente           ção mais divertimentos e ocupações ela não
 explicados pelo pai que acha que ir ao jardim já     estaria tão preocupada em arranjar casamentos
 pode causar uma constipação que o vai matar.         ou talvez fosse mais aliciante para ela fazer
 Emma não pode e também não quer deixar o pai         isso uma vez que existiam mais homens e
 e por isso permanece em casa.                        mulheres livres!!

 No entanto uma melhor explicação pode estar
 algures na sua correspondência de Jane Austen
 onde afirmou que o seu trabalho incidia sobre
 três ou quatro famílias da sociedade rural. Talvez
 por isso em Emma levou tal afirmou a sério e
 criou um leque pequeno de personagens e um
 espaço confinado que nunca é alterado ao longo
 do livro, mesmo quando Emma encontra o amor
 ela encontra-o em alguém que conheceu toda a




                                                                                                      Emma 1996 com G. Paltrow
 sua vida.
 No fundo é como Jane Austen tivesse decidido
 brincar com um cenário fixo e nele movimentar
 um conjunto de personagens.


 Será Emma enquanto personagem limitada por
 esta falta de conhecimento do outros espaços
 que não Highbury? Pessoalmente acho que não
 e Emma seria a mesma pessoa ainda que tivesse
                                                                          SOBRE O PONTO
 feito a volta ao mundo. Na obra de Jane não                             DE VISTA NARRA-
 observamos mudanças significativas nos perso-
 nagens pela lugares que visitam. Por exemplo,                           TIVO EMMA É UM
 Elizabeth Bennet descobre durante a sua estadia
 no Kent que Darcy está apaixonado por ela, que                                 ROMANCE
 Wickham é um patife e a forma como Jane e Bin-
 gley foram separados. Mas a sua maneira de ser                          FECHADO TODOS
 continua a mesma. Penso que Jane não via nas
 mudanças de ares uma forma de mudar o perso-                                OS PERSONA-
 nagem ou até de corrompê-lo. Em algumas obras
 de outros autores observamos isso, um exemplo                                 GENS QUE
 típico é o jovem mais inocente que ao vir para a
 cidade, após uma vida no campo é corrompido                                CONHECEMOS
 pela vida citadina.
 Julgo que Jane Austen acreditava na mudança
                                                                         NO INICIO ESTÃO
 de opiniões quando a pessoa é exposta à verda-                                 LÁ NO FIM
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 21




                                                      O ESTATUTO
                                ESPECIAL DE EMMA EM
                                                    HARTFIELD




                                                                                                   Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale
: Júlia Marcos Ferreira                             dias passados em Londres em casa dos mesmos
                                                    familiares comuns (na praça de Brunswick) e das


Co
                                                    notícias sobre todos, especialmente das crianças,
                                                    e ainda a Emma que envia a amiga Harriet Smith
         meço por comentar o artigo anterior,
                                                    durante semanas para a casa de sua irmã em
         aqui apresentado pela Vera, com o qual
                                                    Londres para a fazer esquecer a última paixão!
concordo inteiramente, pois Emma é mesmo a
heroína que nunca vai a lugar nenhum!

                                                    Não podemos esquecer que no final do século
                                                    XVIII, início do XIX, as viagens eram morosas,
Nos últimos dias, voltei a reler a obra “Emma” em
                                                    lentas e incómodas, mesmo para quem tinha a
busca de pistas ou ideias que me pudessem elu-
                                                    sorte de possuir carruagem. Talvez Emma não se
cidar sobre a ausência de interesse da jovem
                                                    sentisse muito bem em viagens mais prolongadas
Emma pelas saídas prolongadas ou mesmo da
                                                    e não o quisesse de todo reconhecer. No entanto,
razão pela qual ela parece estar sempre tão feliz
                                                    encontramos na obra uma personagem, Frank
no seu próprio ambiente. Parece estranho que
                                                    Churchill, que viaja muito e que vai a Londres
uma jovem que tem uma irmã a viver em Londres
                                                    para voltar no mesmo dia, vinte e cinco quilóme-
não a visite nem manifeste interesse em o fazer.
                                                    tros para cada lado, o que nesse tempo seria sig-
Ao longo da obra encontramos uma Emma
                                                    nificativo. As deambulações de Frank Churchill
expectante com as visitas e as estadias em Hart-
                                                    não parecem interessar Emma por aí além, pois
field da família de Londres, da irmã, do cunhado,
                                                    esta associa-as muitas vezes a uma certa levian-
ou mesmo apenas dos dois sobrinhos mais
                                                    dade e inconstância por parte do rapaz.
velhos, Emma que aguarda ansiosamente a che-
gada de Mr. Knightkley regressado de uns dias
22 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal



                                                       mais consciente e mais humana, mesmo assim,
                                                       sempre no seu pedestal. A inimizade incom-
 No capítulo XII encontra-se uma ligeira referência    preensível de Emma para com Jane Fairfax deve-
 a uma certa vontade de viajar (embora não con-        se possivelmente a esse brilho que a primeira
 cretizada) por parte de Emma, quando se fala no       quer ter sempre e a segunda também manifesta,
 mar e na estadia da irmã, do cunhado e dos            talvez em maior grau, pois como a própria Emma
 sobrinhos à beira-mar, e onde Mr. Woodhouse           reconhece, Jane suplanta-a na música e na sua
 contesta o benefício dessas estadias para a saú-      aprimorada execução.
 de, Emma confessa: “Peço-lhes que não falem do
 mar! Fazem-me inveja e tristeza, eu, que nunca o
 vi!” As razões pelas quais Emma nunca viu o mar       Em suma, é sempre enriquecedor reler Emma!
 podem ser diversas mas também inexplicáveis: a        As estratificações sociais rígidas e os preconcei-
 proteção e a dependência do pai, alguma imobili-      tos nas sociedades rurais inglesas do início do
 dade da sua parte para manifestar esses desejos,      século XIX são aqui bem apresentadas em todas
 afinal podia sempre ter-se juntado à irmã e ao        estas personagens.
 cunhado para passar a temporada no mar junto
 deles.                                                Não é pelo facto de achar que Emma é muito
                                                       mimada e se julga muito especial durante grande
 Na obra perpassa a ideia que Emma se sente            parte do romance, que gosto menos dela! Emma
 perfeitamente bem no seu ambiente natural e que       é de facto uma figura encantadora e representa
 esse ambiente é Hartfield. A sua ligação ao pai, o    muito bem a sociedade rural que personifica,
 carinho e a paciência com que o trata, mesmo          identificando-se tanto com Hartfield, o que a torna
 quando as doenças imaginárias de Mr. Woodhou-         especial e única como ela própria gostaria de se
 se o parecem tornar demasiado hipocondríaco e         reconhecer.
 impossível de aturar, para Emma, tudo isso é
 aceite com um sorriso calmo e benevolente.
 A ideia geral que Emma me transmite é que a
 sua ligação a Hartfield está associada ao seu
 estatuto especial de que goza ali e apenas ali
 naquele lugar. Se Emma fosse para outro lugar
 qualquer, perderia aquele estatuto de princesi-
 nha, de pessoa especial e respeitada, e seria
 mais uma jovem entre tantas outras. Essa é a
 impressão que tenho em geral, através da leitura
 da obra: Emma move-se muito bem naquela loca-
 lidade onde é acarinhada e tratada de forma mui-
 to especial por todas as pessoas. A irritante Mrs.
 Elton (que é de facto irritante para todos nós) é-o
 particularmente para Emma, porque desafia o
 seu lugar, porque se coloca em primeiro lugar e
                                                                                                        Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale




 ignora o estatuto de Emma (até mesmo no fim da
 obra, quando se sabe do casamento entre ela e
 Mr. Knightley, Mrs. Elton continua a afirmar que
 foi Emma quem caçou um bom partido, recusan-
 do-lhe mais uma vez o estatuto especial de que a
 jovem goza desde sempre).
 Todo o percurso de Emma, as suas aproxima-
 ções a Harriet Smith, vão no intuito de a valorizar
 com a sua influência e de a levar a procurar
 melhor partido do que o apaixonado Mr. Martin,
 embora no fim Emma reconsidere e fique mais
 consciente e mais humana, mesmo assim, sem-
 pre no seu pedestal. A inimizade incompreensível
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 23




                                        A PROTAGONISTA
                                                    MAIS ENRAIZADA
                                                    DE JANE AUSTEN




                                                                                                   Emma 2009 BBC
: Luan Fernandes                                    ela ser descrita como muito elegante, refinada,
                                                    inteligente e sociável e de ela exaltar tais



Eu
                                                    qualidades em si mesma, ela não passa de uma
          fiquei surpresa com uma constatação       simples moça do campo! Me parece que Jane
         que fiz recentemente e que foi suscitada   Austen,     sabiamente,   quis  destacar     as
pelo tema de maio e junho do blog, a saber, "Os     incoerências do caráter de Emma: sua
lugares em Emma". Tal constatação é que Emma        imaturidade e arrogância contrapostas a sua
é a única protagonista de Jane Austen que não       bondade e dedicação familiar.
dorme uma noite fora de casa! Realmente, ela
não viaja para conhecer novos lugares, ou para
acompanhar a moda da sociedade de ir para um        Ao lermos “Emma”, há vários diálogos entre ela e
único lugar (tal como Bath), ou para visitar        seu pai, nos quais o tema “viagem” é tido como
parentes, ou para estudar. Eu fiquei com pena       proibido ou é questionado e massacrado pelos
dela! Poxa! Tão jovem e rica, por que não           argumentos de Mr. Woodhouse. Emma é
aproveitar mais a vida e viajar?                    sensível a esta resistência paterna em permitir
                                                    que ela saia de perto dele, visto que ela nunca
                                                    visitou a irmã em Londres ou sempre se mostrou
Pois bem, eu creio que este fato de Emma nunca      temerosa em se ausentar mesmo que por um
ter viajado foi proposital e planejado por Jane     período do dia.
Austen para ressaltar o amor e dedicação de
Emma a seu pai e para mostrar que apesar de
24 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal



 Ao comparar Emma com as outras “heroínas” de          EU CREIO QUE ESTE
 Jane Austen me surpreende o fato de que todas
 as outras viajaram, se ausentaram meses longe      FATO DE EMMA NUNCA
 de casa e em tais viagens acontecimentos
 importantes das histórias ocorreram. Porém,              TER VIAJADO FOI
 todos os acontecimentos marcantes de “Emma”
 ocorreram no mesmo lugar ou em seus
                                                            PROPOSITAL E
 arredores. É interessante pensar que esta
 condição não torna a história maçante ou com
                                                     PLANEJADO POR JANE
 menos emoção, pelo contrário, ressalta a                   AUSTEN PARA
 habilidade de Jane Austen em prender a nossa
 atenção e nos envolver em suas tramas sagazes.      RESSALTAR O AMOR E
                                                     DEDICAÇÃO DE EMMA
 Realmente, Emma é a protagonista mais
 enraizada de Jane Austen! Ela evoluiu enquanto
                                                         A SEU PAI E PARA
 pessoa, mesmo sem sair do lugar! É em sua                 MOSTRAR QUE
 casa, no seu lar, que Emma descobre o amor, se
 frustra, aprende a ser mais humilde e amadurece.     APESAR DE ELA SER
                                                          DESCRITA COMO
                                                         MUITO ELEGANTE




                                                                       Emma 2009 BBC
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 25




 HARTFIELD
: Marina Nunes                                          Acredita-se que Henry VIII habitou Castelo Bole-
                                                        broke, localizado a uma curta distância da aldeia,
E como o tema é: Os lugares em Emma, resolvi            que utilizava na época de caça aos javalis e vea-
fazer uma pesquisa e encontrei a seguinte infor-        dos, na floresta Ashdown. Também se acredita
mação para Hartfield:                                   que cortejou Anne Boleyn deste castelo.


Hartfield é uma freguesia em East Sussex , Ingla-       Hartfield tinha uma estação ferroviária que foi
terra . Assentamentos na freguesia incluem a vila       fechada em 1967. A maioria dos ex-trackbed ago-
de Hartfield, Colemans Hatch, Hammerwood e              ra faz parte do Caminho Florestal e da Rota do
Holtye, no extremo norte da Floresta de Ash-            Ciclo Nacional e é muito utilizada por caminhan-
down .                                                  tes e ciclistas.
Hartfield é a vila principal da freguesia. A igreja é
dedicada à Virgem Maria. Há três casas públicas:
Anchor Inn; Gallipot Inn e Haywagon Inn. A rua da       O edificio da estação em si é agora utilizada como
aldeia é estreita, impedindo                            uma pré-escola. Existe um serviço de transporte
o estacionamento, embora a âncora e a Pousada           publico (autocarro/camioneta) que liga a aldeia
Haywagon tenham parques de estacionamento               com Crawley, Grinstead Oriente e Tunbridge
privado para clientes.                                  Wells. Há uma série de empresas na aldeia."

Cotchford Farm, em Hartfield foi a casa de AA Mil-
ne (1882-1956), autor dos livros Winnie the Pooh.       Então? será que Emma ía gostar de viver na Hart-
Mais tarde, foi possuído por Brian Jones guitarris-     field de hoje?
ta e fundador da The Rolling Stones , que foi
encontrado morto na piscina em 1969.
Há uma loja na vila dedicada a todas as coisas
relacionadas com o Ursinho Pooh das histórias.
26 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal




   A ABADIA


                                                   DE
   DONWELL




 : Clara Ferreira                                 mote para uma das nossas próximas ficções aqui
                                                  no Jane Austen Portugal!


 Es       te podia ser o título de uma aventura
          com a nossa intrépida Miss Morland,
 mas não, nem creio que haja qualquer história
                                                  Donwell Abbey é a distinta propriedade de Mr.
                                                  George Knightley em “Emma”. Vou esforçar-me
                                                  por fazer uma visita guiada a esta casa que terá
 fantasmagórica para contar acerca de Donwell     sido o lar de Mrs. e Mr. Knightley depois da morte
 Abbey... Mas quiçá, não esteja aqui um bom       de Mr. Woodhouse.
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 27


                                                                                                     Mas tal referência pouco ou nada acrescenta ao
                                                                                                     que aqui já foi dito. É pelos pensamentos interes-
                                                                                                     seiros de Mr. Elton, que magicava um possível
                                                                                                     relacionamento com Emma, que conhecemos um
                                                                                                     pouco mais sobre as suas vantagens patrimo-
                                                                                                     niais, digamos assim, no Capítulo XVI, Vol. I:

                                                                                                          A área de propriedade de Hartfield era
                                                                                                          irrelevante, pois mais não era do que um
                                                                                                          pequeno entalhe na propriedade de Don-
                                                                                                          well Abbey, à qual a restante Highbury
                                                                                                          pertencia.

                                                                                                     Deste trecho ficamos a perceber que em termos
                                                                                                     de vastidão de propriedade, Donwell Abbey não
                                                                                                     tinha rival em Highbury. Tal significa que Mr.
                                                                                                     Knightley era um grande proprietário na altura,
                                                                                                     tanto ou mais que Mr. Darcy em Orgulho e Pre-
                                                                                                     conceito. E é prova disso o trecho que coloco em
                                                                                                     seguida, retirado do Capítulo XII, Vol.I, a propósi-
                                                                                                     to da altura em que John Knightley vem de visita
                                                                                                     a Hughbury e Jane Austen nos congratula com a
                                                                                                     amizade entre irmãos:

                                                                                                          Enquanto rendeiro (...) tinha de lhe contar
                                                                                                          [a J. Knightley] acerca do que cada par-
                                                                                                          cela de terra iria produzir no próximo
                                                                                                          ano, e dar-lhe toda a informação possível
                                                 Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow




                                                                                                          que seria do interesse do irmão, cujo lar
                                                                                                          em Donwell tinham partilhado durante
                                                                                                          muitos anos e pelo qual tinham ambos
                                                                                                          fortes ligações. O plano para uma drena-
                                                                                                          gem, a mudança de uma vedação, a que-
                                                                                                          da de uma árvore e o destino de cada
                                                                                                          acre de trigo, de nabos ou milho.

                                                                                                     Sendo vizinho de Hartfield, sabemos que visitava
                                                                                                     várias vezes Mr. e Miss Woodhouse, quase sem-
                                                                                                     pre a pé. Isso sempre me fez achar que eram
                                                                                                     propriedades muito próximas. Mas Jane Austen
                                                                                                     desvenda o mistério logo no Capítulo I do Vol. I:
A primeira referência a Donwell Abbey é feita no
Capítulo III, Vol. I (aviso que a tradução é feita                                                        Ele [Mr. Knightley] vivia a cerca de 1,5
por mim do original):                                                                                     km de Highbury.

     Felizmente para ele [Mr. Woodhouse],                                                            Não é uma grande distância, é certo, mas indica
     Highbury incluia Randalls na mesma                                                              que Mr. Knightley não tinha medo de uma boa
     paróquia e Donwell Abbey na paróquia                                                            caminhada! O que me faz acreditar que o Mr.
     adjacente, propriedade de Mr. Knightley.                                                        Knightley idealizado por Jane Austen era, com os
28 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal


                                              Knightley não tinha medo de uma boa caminha-      próprio, com condições características,
                                              da! O que me faz acreditar que o Mr. Knightley    pouco elevada e abrigada. Os seus jar-
                                              idealizado por Jane Austen era, com os seus       dins amplos estendiam-se ao longo do
                                              quase quarenta anos (já pareço Marianne Dash-     prado, regados por um ribeiro do qual a
                                              wood a falar!) um homem de exercício.             Abadia, com todo o abandono que o tem-
                                                                                                po produz, mal tinha um vislumbre. [A
                                              Não deixa de ser excepcional que Mr. Knightley,
                                                                                                Abadia] Tinha muita abundância de árvo-
                                              com todas as vantagens que possuía, uma vez
                                                                                                res em fileiras e avenidas, que nem a
                                              que era um grande proprietário, culto, de alta
                                                                                                moda nem as extravagências haviam
                                              posição e, interessante a todos os níveis, não
                                                                                                destruído. A casa era maior que Hartfield
                                              fosse ainda casado e a propriedade estivesse
                                                                                                e totalmente diferente, cobria um enorme
                                              destinada ao sobrinho, Henry (de acordo com as
                                                                                                pedaço de terreno, cheia de corredores e
                                              palavras de Emma). É então de supor que Don-
                                                                                                recantos irregulares, tinha várias divi-
                                              well Abbey embora, não sendo assombrada, fos-
                                                                                                sões maioritariamente confortáveis e
                                              se uma casa vazia, tendo por único ocupante um
                                                                                                uma ou duas salas bonitas. No fundo, era
                                              homem solteiro. E nesse sentido escreve também
                                                                                                tudo o que deveria ser, e parecia aquilo
                                              Jane Austen, depois de uma pequena quezília
                                                                                                que era – e Emma sentiu um crescente
                                              com Emma a respeito do jogo de palavras que
                                                                                                respeito por ela, enquanto residência de
                                              implicava Emma, Jane Fairfax e Frank Churchill:
                                                                                                uma família de verdadeira distinção. (...)
                                                   Pouco depois saiu rapidamente e foi para
                                                   casa, para a frieza e solidão de Donwell     Depois de passearem durante algum
                                                   Abbey.                                       tempo nos jardins (...) seguiram (...) para
                                                                                                a deliciosa sombra de uma larga avenida
                                              Mas é no Capítulo VII do Vol. III que ficamos a   de limeiras, que se estendia para além do
                                              conhecer Donwell Abbey pois Jane Austen pro-      jardim, a igual distância do rio (...), não
                                              porciona-nos um delicioso rol de descrições       levava a nada. A nada mais do que a uma
                                              sobre esta casa:                                  paisagem que se podia apreciar debaixo
                                                                                                de uma construção de pedra com altos
                                                   Enquanto olhava para o tamanho e estilo
                                                                                                pilares, cuja intenção parecia (...) dar a
                                                   respeitável da casa, era adequado,
                                                                                                sensação de chegar a uma casa que nun-
                                                                                                            ca esteve lá. (...) Era em sim
                                                                                                            um agradável passeio, e a vis-
                                                                                                            ta com que terminava era
                                                                                                            extremamente bonita. A consi-
                                                                                                            derável encosta, quase ao fun-
                                                                                                            do do terreno onde a Abadia
Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale




                                                                                                            estava, adquiria gradualmente
                                                                                                            uma forma de vaso (...) e, a
                                                                                                            cerca de meia milha de distân-
                                                                                                            cia estava uma rampa de con-
                                                                                                            siderável declive e grandeza,
                                                                                                            bem revestida com árvores e
                                                                                                            ao fundo desta rampa, favora-
                                                                                                            velmente localizada e abriga-
                                                                                                            da, erguia-se Abbey Mill Farm
                                                                                                            (...). Era uma deliciosa paisa-
                                                                                                            gem –
Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 29


     deliciosa para o olhar e para
     o pensamento. Verdura ingle-
     sa, cultura inglesa, conforto
     inglês, visto debaixo de um




                                                                                                      Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale
     sol radioso sem se tornar
     opressivo. (...)

Julgo que ninguém ficará indiferente
a tal descrição. Penso que fiquei
igualmente arrebatada com Donwell
Abbey tal como com Pemberley.
Aliás, através deste artigo, começo a
encontrar diversas semelhanças
entre Darcy e Knightley, se bem que
o último tem um sentido de humor
bem mais cativante, ou talvez seja
só eu, pois sou suspeita, uma vez que tenho         Algo que também sabemos é que a Abadia de
Knightley em maior preferência que Darcy.           Donwell é famosa pelas suas macieiras e moran-
                                                    gueiros, um pouco, se bem se lembram, à seme-
Assim, Dowell, uma extensa propriedade, com         lhança da propriedade do Coronel Brandon,
uma enorme casa, ocupada por um solitário indi-     famosa pelos seus pessegueiros!
viduo seria, muito embora bela e imponente, uma
casa com demasiadas divisões vazias, muito ao       Sabemos isto através de Miss Bates que caracte-
estilo de Northanger Abbey, se bem que esta últi-   riza as maçãs de Donwell :
ma tinha sido alvo de algumas modernizações e
                                                         As maçãs são das melhores para assar
estivesse mobilada “à la mode”!                          (…) vieram de Donwell .
O que sobressai da descrição feita por Jane Aus-
                                                    Quanto aos morangueiros, percebe-se claramen-
ten são, acima de tudo, os seus jardins—pois o
                                                    te através do passeio feito a Donwell onde um
interior da casa devia ser bastante soturno e       dos passatempos foi precisamente o de apanhar
desinteressante. Mas os jardins, esses, são cati-   morangos.
vantes e inspiradores, propícios a todo o género
de passatempo .                                          Donwell era famosa pelos seus moran-
                                                         gueiros.
A descrição feita da larga avenida rodeada de
árvores as quais não tinham sido destruídas por     Não sei quanto a vocês, mas eu cá não me
nenhum ímpeto de moda ou extravagância,             importava nada de viver num sítio como Donwell
fazem-me recordar do famoso passeio à casa de       Abbey, embora tivesse obrigatorimente de acres-
Mr. Rushworth, em Mansfield Park, onde sabe-        centar mais elementos à família para preencher
                                                    mais espaço e é isso que espero que Emma e
mos que um dos projetos será arrancar todas as
                                                    Knightley tenham feito!
árvores que circundam a avenida pois essa era
então a moda do tempo. E se bem me recordo,
Fanny Price fica muito surpreendida pois não
entende como é que uma casa pode ficar mais
bonita depois de destituída de tão frondosas
árvores. Enfim, sabemos então que Mr. Knightley
era um homem de bom gosto e sem qualquer
pretensão de “estar na moda”.
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)
Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

As nossas sugestões 7a
As nossas sugestões 7aAs nossas sugestões 7a
As nossas sugestões 7a
Isabel Couto
 
Powerpoint apresentação de livro
Powerpoint apresentação de livroPowerpoint apresentação de livro
Powerpoint apresentação de livro
Cristina Marcelino
 
Colecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºB
Colecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºBColecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºB
Colecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºB
casmaria
 
áRvores da floresta
áRvores da florestaáRvores da floresta
áRvores da floresta
catarina01
 

Mais procurados (20)

As nossas sugestões 7a
As nossas sugestões 7aAs nossas sugestões 7a
As nossas sugestões 7a
 
Novas aquisições
Novas aquisiçõesNovas aquisições
Novas aquisições
 
Iv encontro nacional da jasbra 2013 no jornal estado de minas
Iv encontro nacional da jasbra  2013 no jornal estado de minasIv encontro nacional da jasbra  2013 no jornal estado de minas
Iv encontro nacional da jasbra 2013 no jornal estado de minas
 
PáG.Pública Dinossauros
PáG.Pública DinossaurosPáG.Pública Dinossauros
PáG.Pública Dinossauros
 
Mf16 EducaçãO Sexual
Mf16 EducaçãO SexualMf16 EducaçãO Sexual
Mf16 EducaçãO Sexual
 
.
..
.
 
Powerpoint apresentação de livro
Powerpoint apresentação de livroPowerpoint apresentação de livro
Powerpoint apresentação de livro
 
Uma aventura
Uma aventuraUma aventura
Uma aventura
 
Arte14
Arte14Arte14
Arte14
 
Mf Odisseia
Mf OdisseiaMf Odisseia
Mf Odisseia
 
Stella e Simão Mil Folhas
Stella e Simão Mil FolhasStella e Simão Mil Folhas
Stella e Simão Mil Folhas
 
Fabulas de-sempre
Fabulas de-sempreFabulas de-sempre
Fabulas de-sempre
 
Jas3
Jas3Jas3
Jas3
 
Ferreira de Castro: Biografia
Ferreira de Castro: BiografiaFerreira de Castro: Biografia
Ferreira de Castro: Biografia
 
Colecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºB
Colecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºBColecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºB
Colecção "Uma aventura"- trabalho do 5ºB
 
A rã e o boi
A rã e o boiA rã e o boi
A rã e o boi
 
O Velho E Os Pássaros
O Velho E Os PássarosO Velho E Os Pássaros
O Velho E Os Pássaros
 
Sugestões de leitura
Sugestões de leituraSugestões de leitura
Sugestões de leitura
 
A galinha que sabia ler
A galinha que sabia lerA galinha que sabia ler
A galinha que sabia ler
 
áRvores da floresta
áRvores da florestaáRvores da floresta
áRvores da floresta
 

Semelhante a Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)

Relatório biblioteca 3ºperíodo
Relatório biblioteca   3ºperíodoRelatório biblioteca   3ºperíodo
Relatório biblioteca 3ºperíodo
isabelsantosilva
 
Razao e sentimento_trecho_editora lpm
Razao e sentimento_trecho_editora lpmRazao e sentimento_trecho_editora lpm
Razao e sentimento_trecho_editora lpm
Adriana Sales Zardini
 
Jane austen e a educação em northanger abbey
Jane austen e a educação em northanger abbeyJane austen e a educação em northanger abbey
Jane austen e a educação em northanger abbey
Adriana Sales Zardini
 
Pil - Projecto Individual de Leitura
Pil - Projecto Individual de LeituraPil - Projecto Individual de Leitura
Pil - Projecto Individual de Leitura
Ana Tapadas
 
Elegia a cinco livros que falam de amor
Elegia a cinco livros que falam de amorElegia a cinco livros que falam de amor
Elegia a cinco livros que falam de amor
José Movilha
 
Estórias com sabor a nordeste
Estórias com  sabor a nordesteEstórias com  sabor a nordeste
Estórias com sabor a nordeste
Regina Gouveia
 
Estórias com sabor a nordeste
Estórias com  sabor a nordesteEstórias com  sabor a nordeste
Estórias com sabor a nordeste
Regina Gouveia
 

Semelhante a Revista Jane Austen Portugal (maio/junho) (20)

JAPT Janeiro 2011
JAPT Janeiro 2011JAPT Janeiro 2011
JAPT Janeiro 2011
 
Jane Austen Portugal - Junho 2011
Jane Austen Portugal - Junho 2011Jane Austen Portugal - Junho 2011
Jane Austen Portugal - Junho 2011
 
Revista jane austen portugal maio 2011
Revista jane austen portugal maio 2011Revista jane austen portugal maio 2011
Revista jane austen portugal maio 2011
 
Relatório biblioteca 3ºperíodo
Relatório biblioteca   3ºperíodoRelatório biblioteca   3ºperíodo
Relatório biblioteca 3ºperíodo
 
Bath, chawton e_winchester_para_leitores_de_jane_austen
Bath, chawton e_winchester_para_leitores_de_jane_austenBath, chawton e_winchester_para_leitores_de_jane_austen
Bath, chawton e_winchester_para_leitores_de_jane_austen
 
Contacto 1.º período
Contacto   1.º períodoContacto   1.º período
Contacto 1.º período
 
Portugal março 2011
Portugal março 2011Portugal março 2011
Portugal março 2011
 
Revista jane auten portugal fevereiro de_2011
Revista jane auten portugal fevereiro de_2011Revista jane auten portugal fevereiro de_2011
Revista jane auten portugal fevereiro de_2011
 
Razao e sentimento_trecho_editora lpm
Razao e sentimento_trecho_editora lpmRazao e sentimento_trecho_editora lpm
Razao e sentimento_trecho_editora lpm
 
Mansfield Park
Mansfield ParkMansfield Park
Mansfield Park
 
Proj letura
Proj leturaProj letura
Proj letura
 
Jane austen e a educação em northanger abbey
Jane austen e a educação em northanger abbeyJane austen e a educação em northanger abbey
Jane austen e a educação em northanger abbey
 
Pil - Projecto Individual de Leitura
Pil - Projecto Individual de LeituraPil - Projecto Individual de Leitura
Pil - Projecto Individual de Leitura
 
O meu livro preferido
O meu livro preferidoO meu livro preferido
O meu livro preferido
 
Obras do Plano Nacional de Leitura
Obras do Plano Nacional de LeituraObras do Plano Nacional de Leitura
Obras do Plano Nacional de Leitura
 
Femnista
FemnistaFemnista
Femnista
 
Jane austen-persuasao
Jane austen-persuasaoJane austen-persuasao
Jane austen-persuasao
 
Elegia a cinco livros que falam de amor
Elegia a cinco livros que falam de amorElegia a cinco livros que falam de amor
Elegia a cinco livros que falam de amor
 
Estórias com sabor a nordeste
Estórias com  sabor a nordesteEstórias com  sabor a nordeste
Estórias com sabor a nordeste
 
Estórias com sabor a nordeste
Estórias com  sabor a nordesteEstórias com  sabor a nordeste
Estórias com sabor a nordeste
 

Último

Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
sh5kpmr7w7
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
Autonoma
 

Último (20)

M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
 
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdfCaderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
 
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
 
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União EuropeiaApresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
Apresentação | Símbolos e Valores da União Europeia
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidadeAcessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 

Revista Jane Austen Portugal (maio/junho)

  • 1. Revista Jane Austen Portugal Emma Os Lugares de A Hartfield Portuguesa p.36 Ao Serão com Jane Emma, a Heroína que Não Vai a Austen p.5 Lado Nenhum p. 19 O Estatuto Especial de Emma Jane Austen Rejeitada? p. 47 Woodhouse p. 21 Maio - Junho | Nº14 | janeaustenpt.blogs.sapo.pt
  • 2. Conteúdo Original © Jane Austen Portugal Capa: Squerryes Court, Kent, England, UK (Hartfield – Emma 2009) Ilustrações: Adaptações para cinema da obra Emma (1996 – 2009), imagens retiradas da net com os devidos créditos Agosto de 2012
  • 3. Revista Jane Austen Portugal | SUMÁRIO | 3 EDITORIAL o facto de Emma nunca viajar, perspectivas diferentes sobre um mesmo tema. A nossa revista fica completa com as nossas rubricas habituais. A Joana, no Mote a Miss Austen, analisa quais seriam os escritores actuais que Jane Austen gostaria de Diz o povo que em Maio comem-se as cerejas ao borra- ler. Será que ela iria gostar de ler E Tudo o Vento Levou lho. Mas a verdade é que em Maio os dias já são gran- ou E o vento levou, título pelo qual a obra é conhecida no des e muitas vezes as temperaturas são amenas, o sufi- Brasil? Esta é uma das Sugestões Austenianas, apresen- ciente, para uns belos passeios ao ar livre. tadas pela Luan. Como ela tão bem escreve o livro de Margareth Mitchell é longo, mas vale muito a pena e de Porque não viajar então até aos Lugares de Emma? Esta certeza que Jane Austen iria gostar, digo eu, não tenho é não é certamente a obra com mais viagens, esse mérito a certeza é se ela iria gostar de Scarlett O´Hara, a prota- pertence a Orgulho e Preconceito, mas os lugares são gonista… belos e o exercício, como diria Mr. Knightley irá com cer- teza fazer-nos bem. Da parte das nossas leitoras, temos a participação da Karla Lucas, que nos apresenta uma página do diário de Vamos começar por Box Hill, um belo espaço verde, onde Marianne. podemos fazer umas longas caminhadas. Há alguns dias Box Hill era visto em todo o mundo já que era lá que Este mês entrevistamos, Deborah Simionato, uma gran- de fã de Jane Austen, que já viveu em Londres e visitou decorria uma prova de ciclismo, no âmbito dos Jogos Bath, esse lugar que tantas vezes visitamos nos livros de Olímpicos. A Clara escreveu sobre este espaço que é nos Jane Austen. dias de hoje tão popular como era nos tempos de Jane Com tantas viagens estamos cansados, mas já estamos Austen; a Clara analisa ainda aquilo que acontece duran- a preparar o próximo mês, desta vez na companhia de te o piquenique em Box Hill, servindo-se do texto de Jane Fanny Price, uma heroína que tem lutado para conquis- Austen e do livro de Amanda Grange, Mr. Knightley’s tar os leitores. Diary. Vera Santos Depois de termos percorrido Box Hill, é tempo de irmos ÍNDICE até à Abadia de Donwell, onde Mr. Knightley espera por nós para um belo repasto. Após o almoço vamos apa- nhar morangos, afortunadamente, Mrs Elton não faz par- te da lista de convidados. Para descobrirem mais sobre o que é dito sobre a casa de Mr. Knightley ou sobre os Mote a Miss Austen (4) | Ao Serão com Miss vários locais que foram usados nas filmagens da adapta- Austen (5) |Encontros Improváveis (9) | Car- ção de 1996, leiam os textos da Clara. tas de Uma Janette (10)| Box Hill nos Dias O nosso tour fica completo com uma visita a Squerryes de Hoje (11) | Box Hill em Perspetiva (13) | Court, o local que na última adaptação representou e Emma, a Heroína que não vai a lado nenhum muito bem o papel da casa da nossa heroína, Hartfield; mais uma vez o texto pertence à Clara que escreveu ain- (19) | O Estatuto Especial de Emma Woo- da sobre uma possível Hartfield portuguesa. dhouse (21) | A Protagonista Mais Enraizada de Jane Austen (23) | Hartfield (25) | A Aba- Para nós é tempo de voltarmos ao presente e descobrir- mos, através da Marina, as pessoas ilustres que viveram dia de Donwell (26) | Os Cenários de Don- na verdadeira Hartfield e os seus locais com interesse well - 1996 BBC (30) | Squerryes Court (34) histórico e cultural. | A Hartfield Portuguesa (36)| As Meninas Estamos cansados, mas satisfeitos com esta viagem aos de Beverlly Hills (39) | Notícias e Curiosida- Lugares de Emma, agora resta-nos descansar. Sentamo- des (41) | Passatempo Aniversário Jane Aus- nos numa cadeira confortável, bebemos uma chávena ten (44) | Sugestões Austenianas (45) | À de chá e comemos alguns scones. Para nos distrair, lemos os textos da Luan, da Júlia e um meu sobre o fac- Discussão (47) | to de Emma nunca viajar, perspectivas diferentes sobre
  • 4. 4 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal MOTE Em última análise, tenho que apontar duas auto- AUSTEN ras que, acho, agradariam a Jane Austen: Cece- lia Ahern e Colleen McCullough. São duas escri- toras capazes, que eu considero terem inspiração A MISS austeniana. Collen tem, aliás, uma obra que pre- tende ser uma continuação de «Orgulho e Pre- conceito». Em suma, acredito que livros como «Where Rainbows End» ou «The Thorn Birds» satisfariam a nossa querida escritora. De qualquer forma este é um texto de opinião e : Joana La Cueva se a alguma das leitoras ocorrer outros nomes apropriados, seria interessante que comentassem no blogue pois pode gerar-se uma discussão Se convidasse Jane Austen a ler engraçada. um autor actual Várias vezes me questiono qual seria a opinião de Jane Austen acerca dos livros/autores actuais. Vou tentar decidir que autor recomendaria a Miss Austen. Talvez deva começar pela autora mais famosa dos últimos tempos: Stephenie Meyer. Para quem não conhece (haverá alguém?), trata-se da auto- ra da saga «Crepúsculo». Não é apenas pela fama dos seus livros que a refiro mas também porque diz-se que esta senhora quer ser a nova Jane Austen. Se tal ambição for verdadeira, não posso dizer que ela esteja num «bom» caminho. Concordo com a análise da própria autora acerca da semelhança dos seus livros com o «Monte dos Vendavais». Não me parece que Jane Austen fosse fã. Já por diversas vezes reparei que há tendência a comparar Austen com Nicholas Sparks. O conhe- cido escritor tem realmente a componente român- tica muito forte nas suas histórias, mas de forma geral, não enfatiza a componente social (tão importante na obra de Austen). Em extremo oposto encontra-se Ken Follett cujas obras têm uma componente histórico-social muito forte, mas talvez não sejam suficientemente românticas.
  • 5. Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 5 AO SERÃO COM MISS AUSTEN : Sandra Freitas Conheci a Deborah via facebook, algures entre 2010/11, através de outros amigos virtuais que (Deborah em Londres) partilham o mesmo gosto por Jane Austen. Ela fascinou-me pela sua frescura, pela sua alegria, pessoas. Aprendi muito sobre mim mesma também, meus pontos fortes e minhas fraquezas. Foi uma pela sua boa disposição e especialmente pela sua experiência enriquecedora”. devoção às obras de Jane Austen e às adaptações que se fizeram baseadas nas mesmas. Nessa Deborah afirma que, apesar de viajar sozinha, em altura, a Deborah encontrava-se a residir em momento algum sentiu que a sua segurança Londres, beneficiando do seu ano celibatário e a estivesse ameaçada. Estava em Londres quando aperfeiçoar o seu inglês. aconteceram os riots em Agosto do ano passado e mesmo assim, sentiu-se segura, já que o número de Deborah Mondadori Simionato tem 24 anos, é de polícias nas ruas triplicou. Andava sozinha no bus, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no Brasil, e formou- no metro, no comboio, e sempre sem problemas. se em Psicologia na Universidade Federal do Rio Ironicamente comenta que isso é algo impossível no Grande do Sul. Define-se como sendo “viciada em seu próprio país. livros e filmes e amante de todas as coisas british e Austen”. Acrescenta ainda que vive “tentando virar Questionada sobre a forma como esta viagem se uma heroína digna de um livro de Jane Austen”. proporcionou e tornou possível, Deborah conta que planeou e poupou dinheiro para esta viagem Sobre a temporada que passou em terras de Sua durante dez anos. Mas foi só quando ganhou um Majestade, a Deborah define-a como sendo a pequeno prémio na Lotaria Nacional que se melhor fase da sua vida. Diz que sempre desejou encontrou em condições reais de viajar. “Não fiquei conhecer Londres e, apesar de ter ido sozinha, a milionária, mas ganhei um valor suficiente para solidão nunca foi problema dado que a internet lhe bancar minha estadia e as viagens que fiz pelo UK”. permitiu estar em contacto com família e amigos, e Foi o dinheiro mais bem gasto na sua ainda jovem permitiu simultaneamente a partilha online de todas vida. as experiências maravilhosas que ela vivenciou. Além disso, fez algumas amizades com outros “Eu fiquei em Londres por 9 meses, dois dos quais alunos da escola de inglês, tendo tido oportunidade eu morei em um alojamento da escola de inglês de conhecer gente do mundo inteiro com quem (Hampstead School of English). Durante os demais ainda hoje mantém contacto. Posso dizer que meses, eu aluguei um flat na área de Bayswater, acompanhei virtualmente essa sua jornada com perto de Notting Hill”. bastante interesse e entusiasmo. Durante os primeiros meses, estudou inglês, “Eu amei viajar sozinha, a sensação de liberdade é assistia às aulas e passeou por Londres. E sensacional, é muito bom poder ir e vir sem ter que dar entretanto, ia fazendo uma lista de lugares que satisfação a ninguém e visitar os lugares que são do desejava conhecer (a maioria deles relacionado meu interesse, mas podem não interessar outras
  • 6. 6 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal com Jane Austen, as suas obras e as adaptações). tanto amamos e foi onde ela viveu seus dias mais Assim que as aulas acabaram, ficou mais dois felizes”. meses para poder visitar todos os lugares que Decepções? Nenhuma. Afirma veementemente que queria. “Minha lista ainda existe e infelizmente não “Não consigo pensar em nenhum lugar que tenha consegui visitar todos os lugares que queria...” me decepcionado, acho que ainda estou encantada Encontrar-se perto dos lugares percorridos por Jane demais para fazer críticas; ou talvez os lugares Austen e/ou pelas personagens dos seus livros foi sejam mesmo maravilhosos e não há nada de ruim algo muito emocionante para Deborah. “Eu sentia para dizer a respeito deles, não sei”. como se estivesse passeando dentro dos meus livros preferidos e que a qualquer momento iria me Questionada sobre se repetiria a experiência, deparar com mulheres de vestidos longos e homens Deborah foi peremptória: “Sim, sim, sim! Mil vezes de breeches”. sim!... Vivi experiências incríveis na Inglaterra... Minha estadia foi a melhor experiência até ao momento...Foi um período de auto- descoberta que vou para sempre recordar com carinho.” Jane Austen foi o que despoletou esta paixão em Deborah por tudo o que é britânico. Obsessão talvez seja a palavra mais adequada, de acordo com a sua própria opinião. Daí que, fazendo jus ao motivo da minha entrevista, transcrevo aqui as (Chawton) respostas del a às q uestões colocadas. Lembras-te do momento ou da situação que te fez amar as obras de Jane Austen? Que idade tinhas? Fala um pouco sobre isso. Não lembro exatamente como começou a minha obsessão por todas as coisas Jane Austen, mas lembro de ter lido “O Diário de Bridget Jones” quando tinha uns 16 anos e ter ficado curiosa com o personagem que inspirou Mark Darcy. A partir daí, (A mesa onde Jane Austen escrevia em Chawton) comecei a ler as obras da Jane e me apaixonei por seus escritos e pelas Os locais que mais gostou de visitar foram Bath “por adaptações para a televisão e cinema. ser uma cidade linda onde a Jane viveu e por ser pano de fundo para Persuasion e Northanger Abbey, além de preservar aquele clima antigo e Qual foi o primeiro livro de Jane Austen que leste? E contar com o maravilhoso Jane Austen Centre” e o último? Qual gostaste mais e qual gostaste menos Chawton “sem dúvida, um dos locais mais e porquê? emocionantes para um fã de Jane Austen conhecer; O primeiro que li foi “Pride & Prejudice” (P&P) e o foi lá que ela revisou todos os livros que hoje nós último “Northanger Abbey”(NA). Coincidentemente,
  • 7. Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 7 meu preferido é P&P e o que menos gosto é NA. de Jane Austen deve ser uma ótima pessoa! Amo P&P por sempre me fazer feliz quando eu leio (se bem que isso acontece com todos os livros da Qual a tua opinião sobre os livros baseados nas Jane), por ter uma história de amor tão linda e com obras de Jane Austen? E as fanfictions? personagens tão incríveis; afinal, que menina não Eu sou absolutamente viciada neles! Tenho uma quer ser Elizabeth Bennet e encontrar o Mr. Darcy? coleção em casa e estou sempre buscando mais. Acho que é a história que eu melhor conheço e que Adoro quando os escritores nos levam de volta aos mais amo. Quanto a NA, eu também adoro e acho tempos da Jane, quando a JAFF (Jane Austen Fan muito engraçada, não tenho coisas ruins para dizer Fiction) é bem pesquisada e explora outros a respeito, só que prefiro as outras mesmo. aspectos dos nossos amados personagens e outras possibilidades – ou sequências – para as nossas Qual a tua adaptação (filme ou série) preferida das histórias preferidas. Sou muito aberta em relação a obras de Jane Austen? Porquê? essas coisas (desde que mantenham Darcy e Minha adaptação preferida é a minissérie da BBC Elizabeth juntos no final, eu leio de tudo!), gosto até “Pride & Prejudice” (1995). Já vi e revi muitas vezes mesmo de ler as versões modernas para as e nunca me canso. É a mais fiel ao livro, com histórias. grandes atores (não me refiro só ao maravilhoso Colin Firth, mas Jennifer Ehle é minha Elizabeth Dizem que todas procurámos um Darcy. Concordas preferida também). Ultimamente ando assistindo o com esta opinião? Procuraremos mesmo esse filme com o Matthew Macfadyen e a Keira Knightley homem que dizem ideal? (Pride & Prejudice, 2005) com grande frequência. Acho que isso é verdade sim (pelo menos eu estou Apesar de não ser o mais fiel à história original, procurando o meu Darcy...), mas também acho que acho o filme mais romântico e com uma fotografia o Darcy não é um homem ideal ou perfeito. Ele tem lindíssima. Outro que está no meu top é muitos defeitos, entre eles ser arrogante e “Emma” (BBC, 2009), que sempre me arranca orgulhoso, mas o que o redime aos olhos de sorrisos e inclusive algumas risadas. Elizabeth (e aos nossos) é o fato de que ele escuta o que ela tem a dizer e tenta ser um homem melhor Que mudou Jane Austen na tua vida? para ela, mesmo que ela não case com ele. E mais, Jane Austen fez meu amor por romances ele está disposto a desafiar todas as regras da desabrochar. As histórias dela são repletas de uma sociedade na qual ele vive por amor. Quem não crítica social cómica que eu amo. No entanto, é o quer um homem corajoso desses? Então, sim, nós romance o que mais me encanta. Eu quero um procuramos um Darcy – ou um Wentworth, amor digno de algo que a Jane escreveria; não o Knightley, Brandon... -, um homem que nos escute e relacionamento perfeito, mas um relacionamento seja nosso parceiro, alguém que nos respeite e seja em que ambos estejam dispostos a se tentar mais a ser pessoas melhores e merecedoras do amor do outro. Penso que aprendi com as heroínas da Jane a ser uma mulher mais forte e independente, a rir de mim mesma, a encarar as coisas com mais leveza. Posso ficar por horas aqui falando o que aprendi com cada personagem, com cada livro, com as coisas que a Jane disse em suas cartas... Vou me limitar a dizer que, por causa de Jane Austen, sou uma pessoa melhor. Afinal, a gente sabe que todo mundo que é fã (The Royal Crescent em Bath)
  • 8. 8 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal honrado. O dinheiro e a beleza que o Darcy tem são, obviamente, bem-vindos, mas não essenciais. Pessoalmente com quem te identificas mais: Elizabeth Bennet, Emma Woodhouse, Anne Elliot, Catherine Morland, Elinor Dashwood, Marianne Dashwood ou Fanny Price? Fala um pouco sobre cada uma delas. Acho que eu consigo me ver no lugar de cada uma delas – e essa é uma das belezas das personagens criadas pelo gênio que era Jane Austen. É fácil ler a (The Cobb em Lyme Regis, Dorset) (The Cobb em Lyme Regis, Dorset) história como se fossemos nós que a estivessemos vivendo. Como a Lizzy Bennet, eu sou uma leitora voraz, adoro uma boa discussão e sei rir das inconsistências dos outros e das minhas; como a Emma, já me vi várias vezes no papel de cuidadora dos meus pais, uma responsabilidade por vezes tão grande que esquecemos de nós mesmos; como a Anne, eu às vezes pareço quieta e, à primeira vista, séria; como a Catherine, eu leio muitos romances, o que me faz sonhar alto de mais; como a Elinor, eu costumo guardar meus sentimentos e sempre parecer forte quando tudo ao meu redor está desmoronando, mesmo sabendo que por dentro eu estou extremamente feliz ou devastada; como a Marianne, eu sou muito sensível; como a Fanny, eu sou tímida e por vezes acho que não mereço as coisas boas que acontecem comigo. De todas elas, acho que sou mais como a Elinor, querendo sentir um amor avassalador como a Marianne, ser “witty” como a Elizabeth, calma como a Anne e charmosa como a Emma. Como imaginas a tua relação com Jane Austen daqui a 20 anos? Tenho certeza de que ainda estarei lendo Jane Austen daqui a 20 anos. Talvez eu esteja mais (Memorial a Jane Austen na Catedral de Winchester) dedicada a reler apenas os originais e não tanto JAFF. Não tenho como saber a certo, mas acredito que a Jane ainda vai ser uma parte muito Não foste nada chata, Deborah! Obrigada por teres importante da minha vida. partilhado as tuas experiências e o teu amor por Jane Austen connosco! Gostarias de acrescentar alguma coisa? Obrigada por ler e querer saber um pouco sobre Nota: Fotos gentilmente cedidas pela entrevistada. esse minha obsessão e sobre minha viagem à Inglaterra – dois assuntos sobre os quais eu amo falar. Espero não ter sido muito chata!
  • 9. Revista Jane Austen Portugal | RUBRICAS | 9 ENCONTROS Amor que jamais soubera o que significa amar, Willoughby de Allenham. IMPROVÁVEIS É verdade que em breve serei a senhora Brandon, mas, guardo como derradeira lembrança, a ser com você compartilhada, a certeza de que sobreviver... quase sempre, poupa-nos das “menores” e mais devastadoras : Karla Alessandra Nobre Lucas privações que podem dissolver, na rigidez do nexo, toda inocência e magia da arte de sorrir A quem encontrar o presente manuscrito... com calor! Meu pensamento agora vagueará Advirto que há nele o registro solene de uma somente pelo prazer das lembranças do que passagem, uma travessia, que gostaria que e se ainda não é, na medida em que o tumulto interior prolongasse em sua existência, caro leitor: causado pelo que foi, não me apanha o sono. Transformada! Deveras, passei por uma Saiba que guardo com cuidado dentro de mim completa transformação. E não convém detalhar meu mais caro presente: tempo e memória na experiências vãs de outrora, do tempo em que ponta de uma estrela. Minha memória? Foi um meu espírito alegre, minha beleza e juventude retrato em preto e branco, um desbotamento da foram mitigadas. Reduzi-me à lágrimas em um aquarela do que vivi. Experimentei... Um dia... rosto com aspecto pálido e doentio, sem Alguém... Conheci... e Descobri nos enleios de expressão alguma. Andava a esmo. Mas agora uma segunda oportunidade para enxergar que tudo me soa muito diferente, como se o vento frio não bastam apenas palavras, mas o que é dito invadisse meu ser imprimindo a tensão de um deve acompanhar o que fazem ou deixam de mistério que em momentos passados reduziu-me fazer por nossa causa... Aprendi que é possível à cólera... a um sofrer sofrível que sufocava meu tecer fios de sonhos possíveis que não se sentir ― pleno ― de parecer existir uma vez só a desgastam a cada alinhavo, no absurdo de um ponto de me fazer sentir e ser nada para outro sonho presente! O segredo? Nosso segredo é que apenas simulava um ser e um sentir que, de extático. Sonho a ser vivido uma só vez na alma fato, nunca existiram. infante! E é na cadência do tempo que saboreio a doçura das palavras e gestos de quem realmente Antes, a névoa em meus olhos negava-me o tem o dom de permanecer e fazer durar. acesso a uma verdade fundamental: de modo Finalmente alcançou-me o toque das almas do que hoje, eu, Marianne Dashwood, posso sentir a Homem que não ousa dizer seu nome, meu brisa e distrair-me à janela de nosso chalé com amado, Brandon! os olhos da esperança; pois, além do horizonte das expectativas alimentadas pelas “heroínas de papel”, há o limite do céu e da terra de Devonshire que tornam o secreto manifesto por um acaso que a vida me permitiu desvendar, na Marianne medida em que experimentei sucessivas perdas... no amor de um pai e no amor de um
  • 10. 10 | RUBRICAS | Revista Jane Austen Portugal CARTAS DE UMA Jane Austen por que não está aqui para respon- der a essas perguntas? Eu me manifesto para o mundo sobre a Jane que você fora um dia, na JANETTE verdade que você é! Pois você está viva em cada minúsculo ser que se interessa pelos seus romances, que percebo ser seus na vida real, se não forem seus, eram os seus desejos, seus pedidos para cada estrela cadente que passava, : Izabella Rendeiro onde você e seu coração compartilhavam confi- dências que eu jamais saberei... Um desejo ocul- Olá eterna Jane Austen, to que espero que tenha sido realizado. Você, Jane, é um mistério que gostaria de des- vendar, aprofundando-me em seu Eu, pois você é Pergunto o porquê dos simples acontecimentos o que escreve, os seus livros são você e essa tornarem-se dúvidas constantes em minha men- fantasia que criou despertou valores que nem eu te... O porquê de me transformarem em um que- mesma havia conhecido, um amor jovem e incon- bra cabeça, onde diversas peças estão faltando e dicional, uma réplica dos contos de fadas, onde as que sobraram não se encaixam. Meu nome é toda menina sonhadora gostaria de ter, você era Izabella Rendeiro e estou à procura de resolu- uma delas... E eu tenho absoluta certeza de que ções, como todas as "Janeites", a busca por res- essa menina utopista jamais morreu! Ela está postas não para. O que você, Jane, buscou todos aqui, em cada letra de cada traço feito em seus esses anos? Misturar-se nos seus contares para livros! Você, Austen, fez parte da minha história! ir ao encontro do seu mundo particular? E seus amores, seus mais profundos desejos? Eles basearam-se nos romances que escrevera? Tal- Beijos vez essas respostas jamais venham, sei que elas estão na cabeça de cada fã do mundo inteiro, estão ocultadas em cada mínima interpretação Izabella Rendeiro, umas de suas maiores admira- que de diversas formas, estão espalhadas onde doras. nós devemos buscá-las. Talvez o que eu esteja procurando em você, esteja em mim mesma... Os meus sentimentos sejam similares aos seus quando jovem, as minhas emoções talvez, propositalmente, sejam por você provocadas quando escrevera cada vír- gula de seus contares... Não sei ao certo como explicar, mas sinto como se o mundo parasse, para você e seus personagens passarem, enquanto eu os sigo de uma maneira automática e ao mesmo tempo impulsiva.
  • 11. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 11 hillshillshills.wordpress.com DE HOJE BOX HILL NOS DIAS : Clara Ferreira Es romântica influenciava a tendência de comer ao te local, referido no romance Emma, ar livre como forma de comungar com a nature- assume um papel importante no desenro- za”. Desta forma, sabemos que Jane Austen lar da história, não só por representar um dos também seguia as tendências! Neste mesmo arti- poucos momentos em que Emma sai do ambien- te familiar de Hartfield, mas também porque deste go, percebemos a dificuldade que havia em pre- passeio resultam mudanças importantes no com- parar tais saídas ao ar livre e toda a logística que portamento e atitude de Miss Woodhouse. isso implicava - na versão de 1996 com Kate Beckinsale tudo isso é muito bem demonstrado. “They had a very fine day for Box Hill … Nothing was wanting but to be happy when Assim como os piqueniques eram uma tendência they got there. Seven miles were travelled na Época da Regência, também o era o local, in expectation of enjoyment, and every Box Hill. body had a burst of admiration on first arri- Box Hill, existe na realidade em Surrey, Reino ving” Unido, aproximadamente a 30km de distância de De acordo com o artigo “Emma: Picnicking on Londres. Assim, será de supor que Jane Austen o Box Hill” do blogue Jane Austen’s World, “os tenha igualmente visitado. A colina tem este piqueniques tornaram-se muito populares na vira- nome em virtude de um antigo bosque situado gem do século XIX, quando a sensibilidade num declive muito íngreme do lado oeste com romântica influenciava a tendência de comer ao vista para o Rio Mole. ar livre como forma de comungar com a nature-
  • 12. 12 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal wikipedia.com As primeiras casas da pequena aldeia de Box Hill datam de 1800, embora grande parte da aldeia tenha sido construída na metade do século XX. Isto significa que a popularidade de Box Hill terá surgido, mais ou menos, na época em que Jane Austen viveu. Existem duas pinturas que retratam a vista de Box Hill, uma de George Lambert que data de 1733 e se encontra no Tate e outra de William Turner que data de 1796 e que se encontra atual- mente no Museu Albert and Victoria em Londres, [podemos ver a pintura de G. Lambert, no título deste artigo] o que acentua mais a ideia de que as qualidades paisagísticas de Box Hill se torna- ram mais conhecidas no preciso período de vida de Jane Austen. Hoje em dia Box Hill integra uma Área Especial de Conservação, o que equivale certamente às nossas Áreas protegidas, implicando igualmente inúmeras restrições quanto a construções e des- truição do meio ambiente. Tem livre acesso ao público que pode optar por fazer um percurso pedestre de cerca de 1 km para Sul chamado “Pilgrims Ways” (Caminho do Peregrino); visitar o miradouro (Salomons Memo- rial) onde terá uma ampla paisagem, permitindo inclusivé que se veja a cidade mais próxima, Dor- king; visitar o Forte, que só foi construído em 1890, portanto, ainda não exisitia à data em que foi escrita “Emma”; Broadwoods Folly, uma pequena torre circular construída em 1820; A Zig Zag Road, que data de 1869, um caminho muito íngreme com cerca de 2.5 km que já foi por mui- tos comparado aos Alpes Franceses; e ainda um pequeno percurso de pedras sobre o rio no fundo da colina junto ao Rio Mole. Box Hill mantém a sua popularidade e, quem sabe, se Jane Austen, através de Emma, não teve grande influência nisso!
  • 13. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 13 EM BOX HILL PERSPETIVA Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow (screencap) : Clara Ferreira Grange, vou percorrer pelos olhos de um e de outro, o que aconteceu no piquenique de Box Hill. Bo x Hill é o palco da maior discussão entre Emma e Mr. Knightley. É nesse cenário que Emma é veemente repreendida pela “I was up at daybreak, and oversaw the start of the clover-cutting before getting ready to go to Box Hill. The day was fine, and we had a good forma crua e insensível como trata Miss Bates. É journey. Whether we were tired from yesterday’s desta grande zanga entre os dois que virá, mais enjoyments or languid because of the heat I do tarde, surgir em Emma o sentimento singular que not know, but there was a lack of spirit in the sente por Knightley e que, afinal de contas, ultra- party.” – “Mr. Knightley’s Diary”, Amanda passa as fronteiras da amizade. Grange (AG). Dada a importância do local para o desenrolar da “They had a very fine day for Box Hill; and all the história e do romance entre a nossa heroína e o other outward circumstances of arrangement, nosso herói, resolvi confrontar as duas perspecti- accommodation, and punctuality, were in favour vas da ação. Assim, recorrendo ao romance of a pleasant party. (…) Nothing was wanting but “Emma” de Jane Austen e ao romance-sequela “ to be happy when they got there. Seven miles Mr. Knightley’s Diary” de Amanda Grange, vou were travelled in expectation of enjoyment, and
  • 14. 14 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal RECORRENDO AO stupid. (…) When they all sat down it was better; to her taste a great deal better, for Frank Churchill ROMANCE “EMMA” grew talkative and gay, making her his first object. DE JANE AUSTEN E (...) and Emma, glad to be enlivened, not sorry to be flattered, was gay and easy too, and gave him AO ROMANCE- all the friendly encouragement, the admission to SEQUELA “MR. be gallant, (...) but which now, in her own estima- tion, meant nothing. (...) Not that Emma was gay KNIGHTLEY’S and thoughtless from any real felicity; it was DIARY” DE AMAN- rather because she felt less happy than she had expected. She laughed because she was disap- DA GRANGE, VOU pointed; and though she liked him for his atten- PERCORRER PELOS tions, and thought them all, whether in friendship, admiration, or playfulness, extremely judicious, OLHOS DE UM E DE they were not winning back her heart. She still OUTRO O QUE intended him for her friend.” - JA ACONTECEU EM Aqui sim, começamos a notar uma diferença de perspetivas. Enquanto Knightley censura o com- BOX HILL portamento de Emma e F. Churchill, tanto por achar pouco próprio tanto flirt, e porque estando every body had a burst of admiration on first arri- agora consciente da sua paixão por Emma, não ving; but in the general amount of the day there pode evitar sentir ciúmes. was deficiency. There was a languor, a want of spirits, a want of union, which could not be got Todavia, Jane Austen mostra-nos os pensamen- over. They separated too much into parties.” – tos de Emma, e estes não podiam ser mais dife- “Emma”, Jane Austen (JA). rentes. Emma não está minimamente apaixonada por Frank Churchill, apenas vê nele um amigo. Amanda Grange mantém o estilo de Jane Austen, Permite-lhe tais atenções por estar aborrecida ou referindo a agradável viagem até Box Hill mas alguma falta de “espírito” por parte dos seus parti- como Jane Austen nos diz, por não se sentir tão cipantes em virtude do dia anterior passado em feliz como esperava, e daquela forma sempre se Donwell Abbey. vai distraindo. “We strolled about until it was time for our picnic. "Our companions are excessively stupid. What Then, indeed, there was more liveliness in the shall wedo to rouse them? Any nonsense will ser- party, (...) for Churchill made Emma the object of ve. They shall talk. Ladies and gentlemen, I am his attentions. (..) Whatever it was, he did not ordered by Miss Woodhouse (who, wherever she behave like a gentleman. is, presides) to say, that she desires to know what Emma did not seem to notice anything amiss, and you are all thinking of?" - JA flirted with him in the most painful way; painful to me, as I am in love with her more every day. (…) “Emma smiled at this mixture of flattery and silli- Her flirting grew worse. It was beyond anything I ness, instead of looking disgusted, as she should had seen, and I dreaded where Frank Churchill‟s have done” - AG influence would take her.” – AG “Some laughed, and answered good-humouredly. “At first it was downright dulness to Emma. She Miss Bates said a great deal; Mrs. Elton swelled had never seen Frank Churchill so silent and stu- at the idea of Miss Woodhouse's presiding; Mr.
  • 15. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 15 Knightley's answer was the most distinct. "Is Miss had anyone else whispered in company.” - AG Woodhouse sure that she would like to hear what " I am ordered by Miss Woodhouse to say, (...) we are all thinking of?" - JA she only demands from each of you either one “I looked at her intently, knowing she would not thing very clever, be it prose or verse, original or like my thoughts.” - AG repeated—or two things moderately clever— or three things very dull indeed, and she engages to "Oh! no, no"—cried Emma, laughing as care- laugh heartily at them all. lessly as she could— "Upon no account in the world. It is the very last thing I would stand the - Oh! very well," exclaimed Miss Bates, "then I brunt of just now. Let me hear any thing rather need not be uneasy. `Three things very dull than what you are all thinking of. I will not say qui- indeed.' That will just do for me, you know. I shall te all. There are one or two,perhaps, (glancing at be sure to say three dull things as soon as ever I Mr. Weston and Harriet,) whose thoughts I might open my mouth, shan't I? (looking round with the not be afraid of knowing." - JA most good-humoured “Well might she say so. They never find fault with dependence on every body's assent)—Do not you anything she does, but to have such uncritical all think I shall?" - JA friends is not good for anyone.” - AG “I was just about to say, „Not at all,‟ and I saw Mrs Acho interessantíssima a forma como Knightley Weston about to do the same, when Emma said” consegue avaliar toda a situação sem se deixar - AG influenciar em demasia pelos seus próprios senti- mentos... ele mantém total sensatez.Obviamente "Ah! ma'am, but there may be a difficulty. Pardon que a sua parcialidade para com Emma fazem me—but you will be limited as to number—only com que se sinta triste pelas suas atitudes pre- three at once." - JA sentes, todavia, as falhas que lhe aponta são ver- dadeiras sem qualquer sinal de desfaçatez por “I could not believe it. Instead of reassuring Miss esta não o encarar como potencial partido. Bates that her contributions to the conversation "It is a sort of thing," cried Mrs. Elton emphatically, "which I should not have thought myself privileged to inquire into. Though, perhaps, as the Chaperon of the party— I never was in any circle— exploring parties— Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow young ladies—married women—" Her mutterings were chiefly to her husband; (…)” - JA “Mrs Elton, not at all pleased with the turn the conversation had taken, though her anger was mostly caused by the fact that she was not the cen- tre of attention. There was whispe- ring from Frank Churchill, and Emma showed no disgust at his behaviour, as she would have done had anyone else whispered in company.” - AG
  • 16. 16 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal were always valued, she insulted her in front of all insulted her oldest friend? Emma, who had flirted her friends; worse still, in front of her niece. I felt shamelessly in front of all her friends? sick with it. She would never have said such a Emma basked in the praise, though it was ill- deserved, whilst her flatterer, Frank Churchill, lau- thing before meeting Frank Churchill!” – AG ghed and enjoyed it. “ - AG Ñão sei se estes eram os pensamentos que Jane Austen teria atribuído a Knightley, mas penso que “It did not seem to touch the rest of the party não devem estar muito longe dos verdadeiros. equally; some looked very stupid about it, and Mr. Sem dúvida que a influência de F. Churchill foram Knightley gravely said” - JA uma importante contribuição para uma certa insensibilidade no comportamento de Emma, pois “This explains the sort of clever thing that is wan- junto dele era alvo de todas as maiores atenções, ted,‟ I said without humour, „but perfection should convencendo-se, ainda que de forma inconscien- not have come quite so soon.‟ te, que era, de facto, perfeita. E isso levou-a a It made no difference. Emma was pleased, and colocar-se numa posição sobranceira e altiva, so was her court. Mrs Elton, it is true, was not sem ter em conta os outros. Emma foi inconve- pleased, though if she could have changed her niente, grosseiramente inconveniente e Knightley name to Emma, she would have thought it the não poderia ter reagido de outra forma. best conundrum in the world. “ - AG “Miss Bates did not realize what Emma had said, "Oh! for myself, I protest I must be excused," said and I was about to divert her attention by offering Mrs. Elton; (…) Miss Woodhouse must excuse her another slice of pie when I saw her face chan- me. I am not one of those who have witty things ge and knew I was too late.” - AG at every body's service” - JA “but, when it burst on her, it could not anger, “I declared my intention of taking a walk as well, though a slight blush shewed that it could pain and gave her one arm, whilst offering Miss Bates her.” - JA the other.” - AG “I was mortified, yet Emma continued to smile and “They walked off, followed in half a minute by Mr. Weston went on with the conversation as though Knightley. Mr. Weston, his son, Emma, and Har- nothing was wrong.” - AG riet, only remained; and the young man's spirits now rose to a pitch almost unpleasant. Even "I doubt its being very clever myself," said Mr. Emma grew tired at last of flattery and merriment, Weston. "It is too much a matter of fact, but here and wished herself rather walking quietly about it is.—What two letters of the alphabet are there, with any of the others, or sitting almost alone, and that express perfection?" - JA quite unattended to, in tranquil observation of the “Weston! Who should have shown her what he beautiful views beneath her.” - JA thought of such conduct by a frown. He then made things worse by offering a conundrum, and one which could not have been more badly cho- “And for the rest of the walk, I had to listen to her sen.” - AG apologizing for her tongue, when it should have been Emma who was apologizing for hers. “- M. and A.—Em-ma.—Do you understand?" I did what I could to soothe her, and she grew Understanding and gratification came together. It easier. “ - AG might be a very indifferent piece of wit, but Emma found a great deal to laugh at and enjoy in it.— JA Eu até compreendo a frase de Emma... Afinal, passei muito tempo do livro a desejar que ela se “Emma understood, and was gratified, whilst I calasse! Todavia, acho que Emma extravazou was annoyed. Emma, perfect? Emma, who had muito da sua putativa importância ao expressar tal sentimento. Enquanto pensamento, julgo que
  • 17. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 17 tal sentimento. Enquanto pensamento, julgo que "I assure you she did. She felt your full meaning. não nos deixaríamos de rir, mas o facto de o ter She has talked of it since. I wish you could have dito da boca para fora é altamente repreensível. heard her honouring your forbearance, (...) and, Mr. Knihtley espanta-se com a atitude de Emma, were she prosperous, I could allow much for the primeiro, por expressar semelhante pensamento, segundo, por não perceber que o que acabou de occasional prevalence of the ridiculous over the dizer foi em tudo ofensivo. good. Were she a woman of fortune, I would lea- Não posso deixar de afirmar que considero a ve every harmless absurdity to take its chance, I linha de pensamento de Knightley seguida por would not quarrel with you for any liberties of Amanda Grange muito convincente. Depois de manner. Were she your equal in situation (...) Her Weston fazer a sua charada com o nome de situation should secure your compassion. It was Emma e perfeição, a resposta dada por Knightley badly done, indeed!” - JA ainda mencionada por Jane Austen, é muito bem explorada por Amanda Grange que nos mostra o “She was not interested. She looked away, impa- sentimento incrédulo e zangado com que Mr. tient with me for speaking to her thus. But I had Knightley reage a toda aquela situação perante a started, and I could not have done until I had fini- indiferença de Emma que mantém uma postura shed.” - AG irrefletida e imprópria. Não deixa de ser igualmente interessante, o facto “to have you now, in thoughtless spirits, and the de Amanda Grange nos dar a conhecer o que foi pride of the moment, laugh at her, humble her— dito no passeio com Knightley, Miss Bates e Jane and before her niece, too(...) This is not pleasant Fairfax, que nos mostra quão humilde e magoada to you, Emma (...) I will tell you truths while I can; Miss Bates estava. satisfied with proving myself your friend by very “While waiting for the carriage, she found Mr. faithful counsel, and trusting that you will some Knightley by her side.” - JA time or other do me greater justice than you can do now." - JA “My anger had not cooled when I stood next to Emma as we waited for the carriage to take us Gostei bastante desta controvérsia entre as pers- home again. I told myself I must not reprimand petivas de um e outro. Emma só se apercebe das her or criticize her, but I could not help myself. I implicações do que disse quando Knihtley a could not see her being dragged down, when a repreende. É curioso assistir ao duelo de senti- word from me might stop it. “ - AG mentos de Knihgtley que até ao último momento “He looked around, as if to see that no one were tenta não criticá-la por entender que já não ocupa near, and then said, "Emma, I must once more esse lugar, agora que Emma pretende iniciar a speak to you as I have been used to do” - JA sua vida ao lado de outro homem. Todavia fá-lo, e fá-lo por amor. “I said, in some agitation. Even then, I tried to hold back, but I could not” - AG A reação inicial de Emma às suas palavras é ain- da muito imatura, como Austen nos mostra, ela “I cannot see you acting wrong, without a remons- ainda tenta rir com a situação. trance. How could you be so unfeeling to Miss Bates? (...) Emma, I had not thought it possible." “While they talked, they were advancing towards Emma recollected, blushed, was sorry, but tried to the carriage; it was ready; and, before she could laugh it off. speak again, he had handed her in.” - JA "Nay, how could I help saying what I did?— “I handed her into the carriage. She did not even Nobody could have helped it. It was not so very bid me goodbye. She was sullen. Who could bla- me her? But it could not be helped. I had said bad. I dare say she did not understand me." what I had to say, and I returned to the Abbey in low spirits. “ - AG
  • 18. 18 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal “The wretchedness of a scheme to Box Hill was in Emma's thoughts all the evening. How it might be considered by the rest of the party, she could Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow not tell. They, (...) might be looking back on it with pleasure; but in her view it was a morning more completely misspent, more totally bare of ratio- nal satisfaction at the time, and more to be abhorred in recollection, than any she had ever passed.” - JA Gosto especialmente da “He had misinterpreted the feelings which had forma como Knightley interpreta erradamente a kept her face averted, and her tongue motionless. aparente apatia de Emma perante o que lhe diz e They were combined only of anger against her- os sentimentos dela para com Churchill—e nisto, self, mortification, and deep concern. She had not ele não podia estar mais enganado! been able to speak; and, on entering the carriage, Emma só muito tarde se apercebe do que fez, sunk back for a moment overcome—then reproa- mas não tarde de mais, como sabemos, Emma ching herself for having taken no leave, making esforça-se por expiar as suas culpas nos capítu- no acknowledgment, parting in apparent sullen- los seguintes e consegue-o e por isso entendo ness, she looked out with voice and hand eager que esta cena na história representa um ponto de to shew a difference; but it was just too late. He viragem em Emma porque ela cresce muito had turned away, and (...) She continued to look depois desta reprimenda. back, but in vain; (...) She was vexed beyond what could have been expressed— almost beyond what she could conceal. Never had she felt so agitated, mortified, grieved, at any circums- NÃO POSSO DEIXAR tance in her life. “ - JA DE AFIRMAR QUE “(I) began to restore my sense of calm. (...) If Emma had been with me, I would have known CONSIDERO A LINHA complete happiness. But she was not, and as I DE PENSAMENTO DE came inside I had to acknowledge that such a thing would never come to pass. (...) But I cannot KNIGHTLEY SEGUIDA forget about Emma. Where is she now? Is she at POR AMANDA GRAN- Hartfield, thinking of Frank Churchill and his easy flattery? She must be.“ - AG GE MUITO CONVIN- CENTE
  • 19. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 19 EMMA A HEROÍNA QUE NÃO VAI A LADO NENHUM Emma 1996 com G. Paltrow : Vera Santos Jane, Fanny Price, visita a sua família com quem fica durante alguns meses. To das as heroínas de Jane Austen, num momento do livro passam uma tempora- da fora de casa. As irmãs Dashwood visitam Lon- Emma é a única que nunca vai a lado nenhum, sim há o passeio a Box Hill, mas é somente um passeio que dura algumas horas e permite o regresso a casa no mesmo dia. Emma nunca vai dres na companhia da Mrs. Jennings e na volta para casa passam algumas semanas na proprie- passar algumas semanas com a irmã a Londres dade dos Palmers, onde devido à doença de ou visitar qualquer outro lugar como Bath. Marianne ficam mais tempo do que inicialmente Sobre o ponto de vista narrativo Emma é um previsto. Elizabeth visita os recém-casados Col- romance fechado todos os personagens que lins e mais tarde os tios proporcionam-lhe umas conhecemos no inicio estão lá no fim, não existe férias no Derbyshire, a sua irmã Jane passa uma alteração significativa, o livro funciona como algum tempo em Londres e Lydia vai para Brigh- um circulo fechado. Noutras obras vão nos sendo ton com os Forsters. Catherine acompanha os apresentadas novas personagens, em Emma Allen a Bath e Anne Elliot antes de se mudar defi- isso não acontece. Harriet Smith é introduzida no nitivamente para esta cidade passa algum tempo círculo de Emma, mas ela já vivia há algum tem- com a sua irmã Mary. Até mesmo a heroína mais po em Highbury e o mesmo é válido para Jane pobre dos livros de Jane, Fanny Price, visita a Fairfax e Frank Churchill, embora ausentes
  • 20. 20 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal durante uma parte da obra estão presentes pelas verdade, como acontece com Elizabeth Bennet várias menções que lhes são feitas. A única per- mas nunca a de mudança/ reforma da personali- sonagem realmente nova que conhecemos, a a dade do qual Henry Crawford é um bom exemplo. Mrs. Elton, mas a sua presença é irrelevante excepto para irritar Emma e o leitor com toda a sua maneira de ser. Todos estes factos e análises levam-me a pensar O curioso desta constatação é que Emma é de que Emma seria exactamente igual quer tivesse todas as heroínas a que mais teria possibilidades passado temporadas em Londres ou noutro sítio de viajar já que era a mais rica. Os motivos para qualquer, embora a aí talvez tendo à sua disposi- a ausência de alguma viagem são facilmente ção mais divertimentos e ocupações ela não explicados pelo pai que acha que ir ao jardim já estaria tão preocupada em arranjar casamentos pode causar uma constipação que o vai matar. ou talvez fosse mais aliciante para ela fazer Emma não pode e também não quer deixar o pai isso uma vez que existiam mais homens e e por isso permanece em casa. mulheres livres!! No entanto uma melhor explicação pode estar algures na sua correspondência de Jane Austen onde afirmou que o seu trabalho incidia sobre três ou quatro famílias da sociedade rural. Talvez por isso em Emma levou tal afirmou a sério e criou um leque pequeno de personagens e um espaço confinado que nunca é alterado ao longo do livro, mesmo quando Emma encontra o amor ela encontra-o em alguém que conheceu toda a Emma 1996 com G. Paltrow sua vida. No fundo é como Jane Austen tivesse decidido brincar com um cenário fixo e nele movimentar um conjunto de personagens. Será Emma enquanto personagem limitada por esta falta de conhecimento do outros espaços que não Highbury? Pessoalmente acho que não e Emma seria a mesma pessoa ainda que tivesse SOBRE O PONTO feito a volta ao mundo. Na obra de Jane não DE VISTA NARRA- observamos mudanças significativas nos perso- nagens pela lugares que visitam. Por exemplo, TIVO EMMA É UM Elizabeth Bennet descobre durante a sua estadia no Kent que Darcy está apaixonado por ela, que ROMANCE Wickham é um patife e a forma como Jane e Bin- gley foram separados. Mas a sua maneira de ser FECHADO TODOS continua a mesma. Penso que Jane não via nas mudanças de ares uma forma de mudar o perso- OS PERSONA- nagem ou até de corrompê-lo. Em algumas obras de outros autores observamos isso, um exemplo GENS QUE típico é o jovem mais inocente que ao vir para a cidade, após uma vida no campo é corrompido CONHECEMOS pela vida citadina. Julgo que Jane Austen acreditava na mudança NO INICIO ESTÃO de opiniões quando a pessoa é exposta à verda- LÁ NO FIM
  • 21. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 21 O ESTATUTO ESPECIAL DE EMMA EM HARTFIELD Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale : Júlia Marcos Ferreira dias passados em Londres em casa dos mesmos familiares comuns (na praça de Brunswick) e das Co notícias sobre todos, especialmente das crianças, e ainda a Emma que envia a amiga Harriet Smith meço por comentar o artigo anterior, durante semanas para a casa de sua irmã em aqui apresentado pela Vera, com o qual Londres para a fazer esquecer a última paixão! concordo inteiramente, pois Emma é mesmo a heroína que nunca vai a lugar nenhum! Não podemos esquecer que no final do século XVIII, início do XIX, as viagens eram morosas, Nos últimos dias, voltei a reler a obra “Emma” em lentas e incómodas, mesmo para quem tinha a busca de pistas ou ideias que me pudessem elu- sorte de possuir carruagem. Talvez Emma não se cidar sobre a ausência de interesse da jovem sentisse muito bem em viagens mais prolongadas Emma pelas saídas prolongadas ou mesmo da e não o quisesse de todo reconhecer. No entanto, razão pela qual ela parece estar sempre tão feliz encontramos na obra uma personagem, Frank no seu próprio ambiente. Parece estranho que Churchill, que viaja muito e que vai a Londres uma jovem que tem uma irmã a viver em Londres para voltar no mesmo dia, vinte e cinco quilóme- não a visite nem manifeste interesse em o fazer. tros para cada lado, o que nesse tempo seria sig- Ao longo da obra encontramos uma Emma nificativo. As deambulações de Frank Churchill expectante com as visitas e as estadias em Hart- não parecem interessar Emma por aí além, pois field da família de Londres, da irmã, do cunhado, esta associa-as muitas vezes a uma certa levian- ou mesmo apenas dos dois sobrinhos mais dade e inconstância por parte do rapaz. velhos, Emma que aguarda ansiosamente a che- gada de Mr. Knightkley regressado de uns dias
  • 22. 22 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal mais consciente e mais humana, mesmo assim, sempre no seu pedestal. A inimizade incom- No capítulo XII encontra-se uma ligeira referência preensível de Emma para com Jane Fairfax deve- a uma certa vontade de viajar (embora não con- se possivelmente a esse brilho que a primeira cretizada) por parte de Emma, quando se fala no quer ter sempre e a segunda também manifesta, mar e na estadia da irmã, do cunhado e dos talvez em maior grau, pois como a própria Emma sobrinhos à beira-mar, e onde Mr. Woodhouse reconhece, Jane suplanta-a na música e na sua contesta o benefício dessas estadias para a saú- aprimorada execução. de, Emma confessa: “Peço-lhes que não falem do mar! Fazem-me inveja e tristeza, eu, que nunca o vi!” As razões pelas quais Emma nunca viu o mar Em suma, é sempre enriquecedor reler Emma! podem ser diversas mas também inexplicáveis: a As estratificações sociais rígidas e os preconcei- proteção e a dependência do pai, alguma imobili- tos nas sociedades rurais inglesas do início do dade da sua parte para manifestar esses desejos, século XIX são aqui bem apresentadas em todas afinal podia sempre ter-se juntado à irmã e ao estas personagens. cunhado para passar a temporada no mar junto deles. Não é pelo facto de achar que Emma é muito mimada e se julga muito especial durante grande Na obra perpassa a ideia que Emma se sente parte do romance, que gosto menos dela! Emma perfeitamente bem no seu ambiente natural e que é de facto uma figura encantadora e representa esse ambiente é Hartfield. A sua ligação ao pai, o muito bem a sociedade rural que personifica, carinho e a paciência com que o trata, mesmo identificando-se tanto com Hartfield, o que a torna quando as doenças imaginárias de Mr. Woodhou- especial e única como ela própria gostaria de se se o parecem tornar demasiado hipocondríaco e reconhecer. impossível de aturar, para Emma, tudo isso é aceite com um sorriso calmo e benevolente. A ideia geral que Emma me transmite é que a sua ligação a Hartfield está associada ao seu estatuto especial de que goza ali e apenas ali naquele lugar. Se Emma fosse para outro lugar qualquer, perderia aquele estatuto de princesi- nha, de pessoa especial e respeitada, e seria mais uma jovem entre tantas outras. Essa é a impressão que tenho em geral, através da leitura da obra: Emma move-se muito bem naquela loca- lidade onde é acarinhada e tratada de forma mui- to especial por todas as pessoas. A irritante Mrs. Elton (que é de facto irritante para todos nós) é-o particularmente para Emma, porque desafia o seu lugar, porque se coloca em primeiro lugar e Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale ignora o estatuto de Emma (até mesmo no fim da obra, quando se sabe do casamento entre ela e Mr. Knightley, Mrs. Elton continua a afirmar que foi Emma quem caçou um bom partido, recusan- do-lhe mais uma vez o estatuto especial de que a jovem goza desde sempre). Todo o percurso de Emma, as suas aproxima- ções a Harriet Smith, vão no intuito de a valorizar com a sua influência e de a levar a procurar melhor partido do que o apaixonado Mr. Martin, embora no fim Emma reconsidere e fique mais consciente e mais humana, mesmo assim, sem- pre no seu pedestal. A inimizade incompreensível
  • 23. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 23 A PROTAGONISTA MAIS ENRAIZADA DE JANE AUSTEN Emma 2009 BBC : Luan Fernandes ela ser descrita como muito elegante, refinada, inteligente e sociável e de ela exaltar tais Eu qualidades em si mesma, ela não passa de uma fiquei surpresa com uma constatação simples moça do campo! Me parece que Jane que fiz recentemente e que foi suscitada Austen, sabiamente, quis destacar as pelo tema de maio e junho do blog, a saber, "Os incoerências do caráter de Emma: sua lugares em Emma". Tal constatação é que Emma imaturidade e arrogância contrapostas a sua é a única protagonista de Jane Austen que não bondade e dedicação familiar. dorme uma noite fora de casa! Realmente, ela não viaja para conhecer novos lugares, ou para acompanhar a moda da sociedade de ir para um Ao lermos “Emma”, há vários diálogos entre ela e único lugar (tal como Bath), ou para visitar seu pai, nos quais o tema “viagem” é tido como parentes, ou para estudar. Eu fiquei com pena proibido ou é questionado e massacrado pelos dela! Poxa! Tão jovem e rica, por que não argumentos de Mr. Woodhouse. Emma é aproveitar mais a vida e viajar? sensível a esta resistência paterna em permitir que ela saia de perto dele, visto que ela nunca visitou a irmã em Londres ou sempre se mostrou Pois bem, eu creio que este fato de Emma nunca temerosa em se ausentar mesmo que por um ter viajado foi proposital e planejado por Jane período do dia. Austen para ressaltar o amor e dedicação de Emma a seu pai e para mostrar que apesar de
  • 24. 24 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal Ao comparar Emma com as outras “heroínas” de EU CREIO QUE ESTE Jane Austen me surpreende o fato de que todas as outras viajaram, se ausentaram meses longe FATO DE EMMA NUNCA de casa e em tais viagens acontecimentos importantes das histórias ocorreram. Porém, TER VIAJADO FOI todos os acontecimentos marcantes de “Emma” ocorreram no mesmo lugar ou em seus PROPOSITAL E arredores. É interessante pensar que esta condição não torna a história maçante ou com PLANEJADO POR JANE menos emoção, pelo contrário, ressalta a AUSTEN PARA habilidade de Jane Austen em prender a nossa atenção e nos envolver em suas tramas sagazes. RESSALTAR O AMOR E DEDICAÇÃO DE EMMA Realmente, Emma é a protagonista mais enraizada de Jane Austen! Ela evoluiu enquanto A SEU PAI E PARA pessoa, mesmo sem sair do lugar! É em sua MOSTRAR QUE casa, no seu lar, que Emma descobre o amor, se frustra, aprende a ser mais humilde e amadurece. APESAR DE ELA SER DESCRITA COMO MUITO ELEGANTE Emma 2009 BBC
  • 25. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 25 HARTFIELD : Marina Nunes Acredita-se que Henry VIII habitou Castelo Bole- broke, localizado a uma curta distância da aldeia, E como o tema é: Os lugares em Emma, resolvi que utilizava na época de caça aos javalis e vea- fazer uma pesquisa e encontrei a seguinte infor- dos, na floresta Ashdown. Também se acredita mação para Hartfield: que cortejou Anne Boleyn deste castelo. Hartfield é uma freguesia em East Sussex , Ingla- Hartfield tinha uma estação ferroviária que foi terra . Assentamentos na freguesia incluem a vila fechada em 1967. A maioria dos ex-trackbed ago- de Hartfield, Colemans Hatch, Hammerwood e ra faz parte do Caminho Florestal e da Rota do Holtye, no extremo norte da Floresta de Ash- Ciclo Nacional e é muito utilizada por caminhan- down . tes e ciclistas. Hartfield é a vila principal da freguesia. A igreja é dedicada à Virgem Maria. Há três casas públicas: Anchor Inn; Gallipot Inn e Haywagon Inn. A rua da O edificio da estação em si é agora utilizada como aldeia é estreita, impedindo uma pré-escola. Existe um serviço de transporte o estacionamento, embora a âncora e a Pousada publico (autocarro/camioneta) que liga a aldeia Haywagon tenham parques de estacionamento com Crawley, Grinstead Oriente e Tunbridge privado para clientes. Wells. Há uma série de empresas na aldeia." Cotchford Farm, em Hartfield foi a casa de AA Mil- ne (1882-1956), autor dos livros Winnie the Pooh. Então? será que Emma ía gostar de viver na Hart- Mais tarde, foi possuído por Brian Jones guitarris- field de hoje? ta e fundador da The Rolling Stones , que foi encontrado morto na piscina em 1969. Há uma loja na vila dedicada a todas as coisas relacionadas com o Ursinho Pooh das histórias.
  • 26. 26 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal A ABADIA DE DONWELL : Clara Ferreira mote para uma das nossas próximas ficções aqui no Jane Austen Portugal! Es te podia ser o título de uma aventura com a nossa intrépida Miss Morland, mas não, nem creio que haja qualquer história Donwell Abbey é a distinta propriedade de Mr. George Knightley em “Emma”. Vou esforçar-me por fazer uma visita guiada a esta casa que terá fantasmagórica para contar acerca de Donwell sido o lar de Mrs. e Mr. Knightley depois da morte Abbey... Mas quiçá, não esteja aqui um bom de Mr. Woodhouse.
  • 27. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 27 Mas tal referência pouco ou nada acrescenta ao que aqui já foi dito. É pelos pensamentos interes- seiros de Mr. Elton, que magicava um possível relacionamento com Emma, que conhecemos um pouco mais sobre as suas vantagens patrimo- niais, digamos assim, no Capítulo XVI, Vol. I: A área de propriedade de Hartfield era irrelevante, pois mais não era do que um pequeno entalhe na propriedade de Don- well Abbey, à qual a restante Highbury pertencia. Deste trecho ficamos a perceber que em termos de vastidão de propriedade, Donwell Abbey não tinha rival em Highbury. Tal significa que Mr. Knightley era um grande proprietário na altura, tanto ou mais que Mr. Darcy em Orgulho e Pre- conceito. E é prova disso o trecho que coloco em seguida, retirado do Capítulo XII, Vol.I, a propósi- to da altura em que John Knightley vem de visita a Hughbury e Jane Austen nos congratula com a amizade entre irmãos: Enquanto rendeiro (...) tinha de lhe contar [a J. Knightley] acerca do que cada par- cela de terra iria produzir no próximo ano, e dar-lhe toda a informação possível Piquenique em Box Hill - Emma 1996 com G. Paltrow que seria do interesse do irmão, cujo lar em Donwell tinham partilhado durante muitos anos e pelo qual tinham ambos fortes ligações. O plano para uma drena- gem, a mudança de uma vedação, a que- da de uma árvore e o destino de cada acre de trigo, de nabos ou milho. Sendo vizinho de Hartfield, sabemos que visitava várias vezes Mr. e Miss Woodhouse, quase sem- pre a pé. Isso sempre me fez achar que eram propriedades muito próximas. Mas Jane Austen desvenda o mistério logo no Capítulo I do Vol. I: A primeira referência a Donwell Abbey é feita no Capítulo III, Vol. I (aviso que a tradução é feita Ele [Mr. Knightley] vivia a cerca de 1,5 por mim do original): km de Highbury. Felizmente para ele [Mr. Woodhouse], Não é uma grande distância, é certo, mas indica Highbury incluia Randalls na mesma que Mr. Knightley não tinha medo de uma boa paróquia e Donwell Abbey na paróquia caminhada! O que me faz acreditar que o Mr. adjacente, propriedade de Mr. Knightley. Knightley idealizado por Jane Austen era, com os
  • 28. 28 | ARTIGOS | Revista Jane Austen Portugal Knightley não tinha medo de uma boa caminha- próprio, com condições características, da! O que me faz acreditar que o Mr. Knightley pouco elevada e abrigada. Os seus jar- idealizado por Jane Austen era, com os seus dins amplos estendiam-se ao longo do quase quarenta anos (já pareço Marianne Dash- prado, regados por um ribeiro do qual a wood a falar!) um homem de exercício. Abadia, com todo o abandono que o tem- po produz, mal tinha um vislumbre. [A Não deixa de ser excepcional que Mr. Knightley, Abadia] Tinha muita abundância de árvo- com todas as vantagens que possuía, uma vez res em fileiras e avenidas, que nem a que era um grande proprietário, culto, de alta moda nem as extravagências haviam posição e, interessante a todos os níveis, não destruído. A casa era maior que Hartfield fosse ainda casado e a propriedade estivesse e totalmente diferente, cobria um enorme destinada ao sobrinho, Henry (de acordo com as pedaço de terreno, cheia de corredores e palavras de Emma). É então de supor que Don- recantos irregulares, tinha várias divi- well Abbey embora, não sendo assombrada, fos- sões maioritariamente confortáveis e se uma casa vazia, tendo por único ocupante um uma ou duas salas bonitas. No fundo, era homem solteiro. E nesse sentido escreve também tudo o que deveria ser, e parecia aquilo Jane Austen, depois de uma pequena quezília que era – e Emma sentiu um crescente com Emma a respeito do jogo de palavras que respeito por ela, enquanto residência de implicava Emma, Jane Fairfax e Frank Churchill: uma família de verdadeira distinção. (...) Pouco depois saiu rapidamente e foi para casa, para a frieza e solidão de Donwell Depois de passearem durante algum Abbey. tempo nos jardins (...) seguiram (...) para a deliciosa sombra de uma larga avenida Mas é no Capítulo VII do Vol. III que ficamos a de limeiras, que se estendia para além do conhecer Donwell Abbey pois Jane Austen pro- jardim, a igual distância do rio (...), não porciona-nos um delicioso rol de descrições levava a nada. A nada mais do que a uma sobre esta casa: paisagem que se podia apreciar debaixo de uma construção de pedra com altos Enquanto olhava para o tamanho e estilo pilares, cuja intenção parecia (...) dar a respeitável da casa, era adequado, sensação de chegar a uma casa que nun- ca esteve lá. (...) Era em sim um agradável passeio, e a vis- ta com que terminava era extremamente bonita. A consi- derável encosta, quase ao fun- do do terreno onde a Abadia Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale estava, adquiria gradualmente uma forma de vaso (...) e, a cerca de meia milha de distân- cia estava uma rampa de con- siderável declive e grandeza, bem revestida com árvores e ao fundo desta rampa, favora- velmente localizada e abriga- da, erguia-se Abbey Mill Farm (...). Era uma deliciosa paisa- gem –
  • 29. Revista Jane Austen Portugal | ARTIGOS | 29 deliciosa para o olhar e para o pensamento. Verdura ingle- sa, cultura inglesa, conforto inglês, visto debaixo de um Donwell Abbey - Emma 1996 com K. Beckinsale sol radioso sem se tornar opressivo. (...) Julgo que ninguém ficará indiferente a tal descrição. Penso que fiquei igualmente arrebatada com Donwell Abbey tal como com Pemberley. Aliás, através deste artigo, começo a encontrar diversas semelhanças entre Darcy e Knightley, se bem que o último tem um sentido de humor bem mais cativante, ou talvez seja só eu, pois sou suspeita, uma vez que tenho Algo que também sabemos é que a Abadia de Knightley em maior preferência que Darcy. Donwell é famosa pelas suas macieiras e moran- gueiros, um pouco, se bem se lembram, à seme- Assim, Dowell, uma extensa propriedade, com lhança da propriedade do Coronel Brandon, uma enorme casa, ocupada por um solitário indi- famosa pelos seus pessegueiros! viduo seria, muito embora bela e imponente, uma casa com demasiadas divisões vazias, muito ao Sabemos isto através de Miss Bates que caracte- estilo de Northanger Abbey, se bem que esta últi- riza as maçãs de Donwell : ma tinha sido alvo de algumas modernizações e As maçãs são das melhores para assar estivesse mobilada “à la mode”! (…) vieram de Donwell . O que sobressai da descrição feita por Jane Aus- Quanto aos morangueiros, percebe-se claramen- ten são, acima de tudo, os seus jardins—pois o te através do passeio feito a Donwell onde um interior da casa devia ser bastante soturno e dos passatempos foi precisamente o de apanhar desinteressante. Mas os jardins, esses, são cati- morangos. vantes e inspiradores, propícios a todo o género de passatempo . Donwell era famosa pelos seus moran- gueiros. A descrição feita da larga avenida rodeada de árvores as quais não tinham sido destruídas por Não sei quanto a vocês, mas eu cá não me nenhum ímpeto de moda ou extravagância, importava nada de viver num sítio como Donwell fazem-me recordar do famoso passeio à casa de Abbey, embora tivesse obrigatorimente de acres- Mr. Rushworth, em Mansfield Park, onde sabe- centar mais elementos à família para preencher mais espaço e é isso que espero que Emma e mos que um dos projetos será arrancar todas as Knightley tenham feito! árvores que circundam a avenida pois essa era então a moda do tempo. E se bem me recordo, Fanny Price fica muito surpreendida pois não entende como é que uma casa pode ficar mais bonita depois de destituída de tão frondosas árvores. Enfim, sabemos então que Mr. Knightley era um homem de bom gosto e sem qualquer pretensão de “estar na moda”.