Mansfield Park é um dos romances mais maduros de Jane Austen, escrito quando tinha entre 36-39 anos. Diferentemente de seus outros trabalhos, aborda temas como virtude e moralidade ao invés de focar na ironia. A protagonista Fanny também difere das outras heroínas de Austen, sendo mais jovem, dependente e quieta, mas mantendo um julgamento confiável. A paisagem de Mansfield Park também desempenha um papel importante na história.
1. Mansfield Park - Introdução1
Adriana Sales Zardini
Mansfield Park é um trabalho da fase mais madura da escritora inglesa Jane
Austen, escrito quando ela tinha entre trinta e seis e trinta e nove anos. Existem muitas
semelhanças e diferenças entre este livro e os outros escritos por Jane.
Aparentemente, trata-se de uma maneira de escrever um romance diferente. A própria
autora em uma carta para sua irmã Cassandra, escreveu em 1813, que o tema do livro
pretendia ser ‘algo diferente’, sobre ordenação, o qual aparentava ser pouco promissor.
Porém, Jane provavelmente sentiu-se no dever de escrever algo relacionado à conduta
e à moral, uma vez que havia escrito muito sobre ironia. Em Mansfield Park, Jane deixa
um pouco de lado a ironia (característica de suas obras) e abordar assuntos de cunho
filosófico como a virtude e a depravação moral. Ao tratar de assuntos mais sérios, o
traço peculiar de Jane, a ironia, permanece ao descrever os personagens Mrs. Norris,
Sir Thomas Bertram e os irmãos Crawford.
Neste livro, a heroína difere-se de outras construídas por Austen. Em Mansfield
Park, Fanny não é uma lente pela qual a ação é vista, como Elizabeth, Emma e Elinor.
Existem passagens importantes no livro, onde Fanny nem sequer aparece ou tem idéia
do que está acontecendo, bem como análises a respeito dos motivos e das emoções
de outras personagens além de Fanny. Primeiramente, Austen mostra uma Fanny
menos heróica que as outras criadas até então criadas, porque nos descreve uma
pseudo heróina jovem, fraca e indefesa, matendo-a sempre jovem e dependente.
Apesar de heroína, Fanny depende da atitude de Mary Crawford e se esta aceitará ou
não o status de ser esposa de um pastor – Edmund Bertram. Diferentemente das
outras heroínas, que apresentam certa rebeldia, Fanny é uma figura, porém marcante,
que possui um julgamento confiável para uma pessoa tão jovem. Fanny não sofre as
desilusões de Elizabeth, Emma ou Catherine Morland, e não pode ser guiada por seus
erros do passado como Anne Elliot. Como Elinor, a opinião de Fanny é confiável. Seu
julgamento é importante para todo o livro, é um guia confiável pelo qual a história
muda de foco e os eventos se alternam.
Os dois personagens principais, Edmund – um dos heróis mais ofuscado do
cânone austeniano, e Fanny – educada, serena e aparentemente boa demais, são
apresentados francamente, sem nenhuma contradição.
1
Extrato do livro: Mansfield Park (Jane Austen), tradução de Adriana Sales Zardini (Presidente da Jane
Austen Sociedade do Brasil – www.jasbra.com.br). Publicada neste meio eletrônico sob autorização da
autora e da Editora Landmark.
2. As paisagens e os cenários, nesta obra, parecem ser mais importantes que em
outras, com exceção de Persuasão. É claro que não podemos nos esquecer que nos
outros livros, os personagens também tiveram experiências marcantes ao ar livre. Mas
no caso de Mansfield Park, o cenário não é apenas um pano de fundo para o
desenrolar das cenas, é parte integrante da ação.
Austen, em Mansfield Park nos presenteia com uma obra que na verdade possui
material para mais de um romance. Para W. A. Craik (estudioso das obras de Austen),
Mansfield Park foi baseado em temperamentos, emoções e valores morais, lembrando-
nos de Persuasão devido ao cenário e ao tom sério, diferentemente de Orgulho e
Preconceito que apresentou um desenrolar sem grandes surpresas. Mas só pode ser
fortemente comparado à Emma, devido à organização de seus personagens, vários
estilos de discurso, palavras e ações significantes, além de seus diversos sub-enredos.
Após a publicação de Mansfield Park, Jane Austen inicia algo nunca havia feito:
coletar e escrever as opiniões de seus leitores, tal material são documentos
fascinantes, que nos contam um pouco mais sobre Jane e seu público, denotando o
quanto os leitores eram importantes para ela.
Todos esses fatos sobre os livros e a vida da escritora nos fazem vislumbrar o
quanto Jane Austen era talentosa ao abordar temas simples e universais do cotidiano,
tornando-os a base de sua obra.
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