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O Valor da Educação
Jaqueline Vieira de Aguiar*
Mauro Fernandes dos Santos **
Resumo: A Globalização das teorias neoliberais e as novas TICs modificaram as condições
sociais de produção agregando valor às mercadorias em todo o planeta. E uma exigência por
mão de obra mais qualificada tem levado pessoas e governos a elegerem a educação como
prioridade. A Educação à Distância vem proporcionando o acesso de estudantes à educação
formal semipresencial e continuada. Porém, numa razão inversa, ela transforma o professor num
operário da educação e, em consequência disso, verifica-se uma precarização do trabalho
docente na medida em que surge a figura do tutor. Logo, cabe aos profissionais da educação
resgatar a Educação Humanística e seus nobres valores, antes que o valor de troca a transforme
numa mera mercadoria.
Palavras-chave: Educação à Distância, Valor, Trabalho Docente
Introdução
A Educação à Distância (EAD) institucionalizada a partir do século XIX tem se utilizado,
ao longo do tempo, dos mais variados suportes pedagógicos desde a correspondência manual ao
correio eletrônico. Essa modalidade de ensino proporciona o acesso do estudante (afastado dos
grandes centros) à educação formal semipresencial. Possibilita ainda, a formação continuada de
maneira que o aluno é quem administra o seu tempo/espaço de estudo de forma flexível. Sendo
assim, ampliam-se as possibilidades de estudo tanto no ensino público como no privado.
Entretanto, verifica-se uma precarização do trabalho docente, à medida que são introduzidas as
novas tecnologias da informação e da comunicação ( TICs ), e surge a figura do tutor, através da
*
Mestra em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis –UCP (2012). Graduada em História (MSB, 2002).
**Mestre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis –UCP (2012). Graduado em Ciências Sociais
(UFRJ,1992).
2
flexibilização das relações do trabalho. Junto a este fenômeno surge, também, uma divisão social
do trabalho do profissional da educação, separando as tarefas do professor conteudista das do
tutor: exigindo-se, assim, mais produtividade e alcançando maior customização para a
instituição privada, para a pública e para os estudantes.
Como observa Eloisa Höfling,1
visões diferentes de sociedade, Estado, política
educacional geram projetos diferentes de intervenção nesta área. Nestes termos, entende-se a
educação como uma política pública social de responsabilidade do Estado mas não pensada
somente por seus organismos.
O contexto do pensamento neoliberal aplicado a educação e somado ao aumento da
produtividade advinda das TICs, cria uma demanda por mão de obra cada vez mais qualificada.
Isso gera uma grande procura por certificados que comprovem uma formação educacional
formal, logo, muitos estudantes têm se matriculado nos mais variados cursos de EAD sem ter
noção do que é oferecido pelos mesmos. A partir de então, proprietários de estabelecimentos
educacionais têm visto na EAD uma forma de se aumentar os lucros não se preocupando com a
qualidade do ensino, mas sim, com a quantidade de alunos. Nesse contexto, seria possível
considerar a educação sendo tratada como mera mercadoria? E o mais grave, sem levar em conta
o seu propósito originário com os valores humanísticos, sociais e de contribuição para a resolução
de problemas nacionais e globais?
Conceituando a EAD e conhecendo a sua trajetória
A sociedade do século XXI tem vivenciado o mundo da comunicação através do jornal,
do rádio, da TV, e cada vez mais da internet que vem seduzindo a população de forma constante.
Nos diferentes setores da sociedade, ter o conhecimento dessa nova linguagem da informática
tornou-se primordial. E a educação também está inserida neste contexto, ganhando uma dimensão
nunca antes imaginada. Os que pensam ser a EAD uma nova modalidade de ensino enganam-se,
pois sua origem está no século XIX, quando muito se utilizou da correspondência manual.
Entretanto, nos últimos dois séculos a EAD passou por muitas transformações principalmente por
causa do uso das TICs, como suporte pedagógico. Segundo Chermann e Bonini, a EAD
”possibilita a autoaprendizagem a partir de mediação de recursos didáticos sistematicamente
1
Cf HÖFLING, Eloisa de M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55,
novembro/2001. p.30.
3
organizados e apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou
combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação existentes.”2
Para Edith Litwin
a EAD é “uma nova proposta, na qual os docentes ensinam e os alunos aprendem mediante
situações não – convencionais, ou seja, em espaços e tempos que não compartilham.”3
Quanto
aos suportes pedagógicos ela afirma que:
Livros, cartilhas ou guias especialmente redigidos foram as propostas iniciais; a
televisão e o rádio constituíram os suportes da década de 70; os áudios e vídeos, da
década de 80. Nos anos 90, a incorporação de redes de satélites, o correio eletrônico, a
utilização da internet e os programas especialmente concebidos para os suportes
informáticos aparecem como os grandes desafios dos programas na modalidade.4
Múltiplas são as possibilidades oferecidas pela educação à distância como: a flexibilidade
de espaço e tempo de educador e educando, o incentivo à autonomia e o autodidatismo do
educando e a utilização dos recursos pedagógicos como facilitadores na construção do
conhecimento. Outros recursos didáticos da educação presencial podem ser mantidos, desde que
se mantenha a preocupação com a qualidade, como o trabalho colaborativo entre os alunos e
entre alunos e professores. Porém, aspectos importantes podem ser perdidos ou diminuídos, como
a interatividade. Entretanto, sem contar o mérito das vantagens e desvantagens pedagógicas, esta
modalidade de ensino vem crescendo inexoravelmente, é um caminho sem volta. E vários
estabelecimentos têm abraçado essa idéia, como é o caso das instituições acadêmicas e
corporativas, presenciais, à distância, mistas, consórcios, parcerias, etc.
Os tipos de cursos que têm aderido a essa modalidade de ensino abrangem várias formas
como: um simples treinamento, a educação de jovens e adultos (EJA), a formação continuada,
cursos regulares de graduação, cursos regulares de pós-graduação, entre outros. Atualmente,
estão concentrados na educação superior, mas brevemente se estenderá ao ensino médio, à
medida que computadores e internet estão chegando aos colégios. Evidentemente, que ainda falta
muito em termos de recursos didáticos, para que as TICs sejam ferramentas adequadas ao
pedagógico, e não temos a ingenuidade de pensar que, por si só, essas ferramentas são boas ou
más. São apenas mais um passo na evolução tecnológica, como foi o livro, o lápis ou a lousa.
2
CHERMANN, Maurício & BONINI, Luci Mendes. Educação a distância. Novas tecnologias em ambientes de
aprendizagem pela Internet. Universidade Braz Cubas, s/d (2000?). p.17.
3
Edith Litwin. Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed,
2001. p.13.
4
Op.Cit. p.16.
4
Outro conceito de EAD muito utilizado na década de 70 do século XX, e também bastante
presente nos dias de hoje, é o modelo industrial de EAD dentro da lógica fordista do capitalismo.
Ele se define como “um método de transmitir conhecimento, (...) racionalizado pela aplicação de
princípios organizacionais e de divisão do trabalho, bem como pelo uso intensivo de meios
técnicos, (...) o que torna possível instruir um maior número de estudantes ao mesmo tempo...”5
Para Peters referenciado por Belloni, essa é uma forma industrializada de ensino e aprendizagem
que “pode ser bem mais entendida a partir de princípios que regem a produção industrial,
especialmente os de produtividade, divisão do trabalho e produção de massa.”6
Conceituando valor e o seu papel na educação
Segundo Hessen em Beresford, “o conceito de ‘valor’não pode rigorosamente definir-se.
Pertence ao número daqueles conceitos supremos, como os de ‘ser’, existência etc, que não
admitem definição. Tudo o que se pode fazer a respeito deles é tentar uma clarificação ou
“mostração” do seu conteúdo”.7
Mas Beresford, argumenta que: “ao clarear o conteúdo dos
valores, por meio de uma aproximação sucessiva de argumentos (...) [Hessen] acaba nos
emitindo o que pode ser considerado uma conceituação dos valores.”8
E continua, “ com relação a
explicitação literal do termo valor, temos na obra de I. Kant, Fundamentos da Metafísica dos
Costumes, um dos primeiros registros de tal fato, quando ele se refere a ‘ valor moral’ e, mais
exatamente, a um valor autenticamente moral.”9
O autor nos mostra, ainda, que o termo valor
aparece também no século XVIII, na economia política, no sentido econômico, para se referir ao
preço de uma mercadoria ou de um serviço. E prossegue observando que será Karl Marx, fazendo
uma crítica à economia política, quem vai associar o termo valor à ideia de mais-valia, a qual é
reproduzida hoje, no linguajar da economia popular, por meio da expressão agregar valor.
5
PETERS. Apud BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.p.27.
6
Op.Cit. 28.
7
HESSEN, Johannes. Apud BERESFORD, Heron. Valor: saiba o que é. 2ªed.Rio de Janeiro: Shape, 2008.p.41.
8
Op.Cit. p.41.
9
Op.Cit. p.26.
5
O conceito de valor associado ao significado de moral, já era utilizado implicitamente
desde a era mitológica, quando Zeus manda distribuir aos homens, dois valores primordiais para
que eles vivessem em harmonia e em sociedade, o respeito e a justiça.10
Popularmente o termo valor está associado ao conceito de cultura, e este tem uma grande
variedade de significados. Para Werneck, “tanto as práticas da agricultura quanto o domínio do
saber erudito são considerados como cultura,”11
o que remete a uma reflexão antropológica sobre:
quem é o homem? E o que é valor para ele? Certamente o homem é um ser em busca de valor e
está constantemente à procura do que pode valorizá-lo. Mas o que vale para o homem? Muito do
que é desejável hoje já foi condenável no passado. E fica a pergunta feita por todos os
pensadores: é possível uma hierarquia universal e atemporal dos valores? Segundo Miguel Reale,
em Werneck, percebe-se uma constância em alguns deles, tais como: a saúde, o bem-estar, a
verdade, a beleza, o afeto e, é claro, o respeito e a justiça, entre outros.12
Logo, há valores para homem que são permanentes e outros, passageiros. Os primeiros
estão mais associados a valores morais e os segundos mais a valor de mercado. A nossa pergunta
é: e quanto à educação, qual o seu lugar na hierarquia de valores? Não temos resposta acabada
para essa pergunta. Mas temos algumas convicções. Os aspectos morais e éticos da educação
devem estar à frente dos aspectos mercadológicos de prestígio e de poder. Sendo assim, a
educação não deve ser tratada como mera mercadoria. O valor da educação não deve se resumir
ao valor de troca. A educação não deve prescindir dos seus valores humanísticos de verdade, de
respeito, de justiça, de amizade, de igualdade, entre outros, para se resumir à busca pelo poder e
pelo prestígio a qualquer custo.
A educação à distância no Brasil a partir da LDBEN/1996
A EAD, no Brasil, teve um marco significativo quando se institucionalizou como
integrante do sistema de educação formal pela Lei nº 9.394 de 20/12/1996 que estabeleceu as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/1996 . A partir de então, iniciou-se, de forma
silenciosa, sua expansão.
10
Cf BERESFORD, Heron. Valor: saiba o que é. 2ªed.Rio de Janeiro: Shape, 2008. p.24.
11
WERNECK, Vera Rudge.Cultura e Valor.Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2003. p.2.
12
REALE, Miguel.Apud WERNECK, Vera Rudge.Cultura e Valor.Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2003. p.2.
6
Outros marcos significativos para a EAD no Brasil foram a Portaria nº 4059 de 10/12/2004
e o Decreto nº 5.622 de 19/12/2005. A Portaria chama a atenção ao tratar da oferta de disciplinas
na modalidade semipresencial em cursos superiores já reconhecidos. O Decreto regulamenta o
art. 80 da Lei n. 9.394, de 20/12/1996 e o governo passa a regular de forma mais enérgica esta
modalidade de ensino.
No texto apresentado por Segenreich, verificamos que as agências internacionais como o
Banco Mundial e a OMC influenciaram significantemente para que a EAD se tornasse uma
realidade no Brasil. O texto político se tornou possível a partir das legislações implementadas, o
que se deu sob interferência de
representantes de instituições de ensino superior que acabaram se constituindo em um
forte grupo de pressão interna em favor de um modelo industrial de EAD, totalmente
não presencial e baseado no ensino de massa e no intensivo uso de tecnologias digitais.
São estes grupos que vão participar intensamente do contexto de produção dos textos
políticos relativos á regulamentação do modelo de funcionamento da EAD na educação
superior, com derrotas e vitórias de ambos os lados.13
A expansão da EAD tem acontecido de forma acelerada desde 1996, mas a partir de 2005
o Estado passou a regular de forma mais efetiva as instituições de ensino que optaram pela EAD.
O interessante é que o próprio Estado adotou a EAD como estratégia central de expansão da
educação superior e formação do magistério, ou seja, o texto político passou para a prática a
partir da UAB (Universidade Aberta do Brasil) e do Plano Nacional de Formação de
Profissionais do Magistério da Educação Básica. Uma das preocupações é quanto à qualidade do
ensino nas instituições que optaram por esta modalidade de ensino.
A Expansão da privatização na educação superior
Um dos eixos básico dessa análise é a mercantilização da educação superior, no contexto
das mudanças ocorridas no mundo do trabalho. No Brasil, essa discussão só recebeu destaque a
13
SEGENREICH, Stella.C.D. Relação estado e sociedade na oferta e regulação da graduação a distância no Brasil:
da periferia ao centro das políticas públicas. Texto apresentado no VI Congresso Luso-Brasileiro da ANPAE
realizado em Portugal, em abril de 2010. Disponível em: www.anpae.org.br/iberolusobrasileiro2010/cdrom/111.pdf.
Acesso em: 14 jul.2010.p.14.
7
partir da década de 90, nos governos Collor e FHC, pois ambos foram favoráveis às ideias
neoliberais, as quais, defendem um estado mínimo e sua não intervenção na economia.
Segundo Offe, referenciado por Höfling, “o Estado atua como regulador das relações
sociais a serviço da manutenção das relações capitalista em seu conjunto.”14
A partir disso,
segundo Höfling, “o Estado capitalista moderno cuidaria não só de qualificar permanentemente a
mão-de-obra para o mercado, como também, através de tal política e programas sociais,
procuraria manter sob controle parcelas da população não inseridas no processo produtivo.”15
Em nosso país, essas políticas geraram uma onda de privatização das empresas públicas.
Porém, as Universidades públicas não foram diretamente atingidas devido às suas mobilizações e
resistências. Entretanto, foram criados mecanismos indiretos para a expansão do ensino superior
privado com o crescimento das bolsas de estudo para alunos pobres nas universidades privadas,
como o PROUNI, e houve uma flexibilização das regulamentações para criação de novas
instituições de ensino superior (IES). Esse cenário tornou-se favorável ao crescimento das IES, as
quais implantaram a modalidade de ensino à distância.
Num mundo globalizado e informatizado, mais do que nunca, a educação tornou-se um
dos principais fatores de qualificação e agregação de valor à mão de obra e, no Brasil, essa
consciência cresceu em sintonia com o contexto do cenário neoliberal. Logo, cada vez mais há
uma demanda por diplomas como exigência do mercado. Não é por acaso que o congresso
acabou de aprovar um projeto de lei (faltando ser sancionada pelo presidente), exigindo curso
superior para os futuros professores de todas as séries do ensino básico. E a gestão das
universidades está a cada dia mais semelhante à de uma empresa, e menos preocupada com o seu
propósito humanista para a produção do conhecimento engajado na solução de problemas sociais.
Esses são os fatores que nos levam a pensar na possibilidade da educação em geral, mas em
particular a educação à distância, estar sendo tratada como mera mercadoria.
A educação como mercadoria
Para Karl Marx a mercadoria é a forma elementar da produção capitalista, e o seu valor é
determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.
14
OFFE, Claus. Apud HÖFLING, Eloisa de M.Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº
55, novembro/2001. p. 30.
15
Op.Cit. p.33.
8
Acresce ainda que, no mercado, se encontra uma mercadoria muito especial, a força de
trabalho. (...) Vendendo os produtos, esse proprietário da força de trabalho recebe, de um
lado, uma quantia igual à que investiu anteriormente; de outro, uma mais-valia, um
excedente que provém do resultado do trabalho concreto gerido por ele.16
Dentro dessa discussão a força de trabalho do professor é uma mercadoria “singular”, mas que
vem sendo depreciada e super-explorada, ainda mais, neste novo contexto das tecnologias da
informação e da comunicação através da EAD. E se acompanharmos a continuidade do
raciocínio do Marx vamos entender o porquê.
Todo o sistema capitalista fica, assim, orientado para a exploração da mais-valia: (...)
Um modo simples de obter mais-valia é prolongar a jornada de trabalho, procedimento,
contudo, que logo encontra seus limites físicos, o dia de 24 horas e o desgaste do
trabalhador. Meio mais eficaz é aumentar a produtividade do trabalho fazendo com que,
ao mesmo tempo, mais objetos sejam produzidos. Por causa disso o modo de produção
capitalista depende (...) essencialmente de uma tecnologia de desenvolvimento das
forças produtivas...17
A EAD reedita ao mesmo tempo as duas maneiras citadas acima de explorar a mão de
obra do professor, primeiro quando insere nessa modalidade a figura do tutor-professor e
segundo quando utiliza as TICs para customizar a estrutura educacional. Embora ainda não
exista um consenso sobre o conceito de tutor e muito menos uma regulamentação trabalhista
dessa função, o papel do tutor ultrapassa a função de mero facilitador. Para Ivashita e Coelho
“O tutor elucida as dúvidas de seus alunos, acompanha seu processo de aprendizagem, corrige
trabalhos fornecendo-lhes um retorno de seu desempenho, e ainda, avalia o aluno.”18
A figura e o
papel socioeconômico do tutor na EAD, mesmo que seja uma ressignificação do papel do
professor neste século XXI, é usado conscientemente como estratégia política de precarização do
trabalho docente. Isto se dá à medida que o tutor tem salários inferiores e não têm os direitos
trabalhistas que os professores, a duras penas, conquistaram. Ele muitas das vezes faz o papel
professor/tutor, o que requer outras habilidades tecnológicas, além daquelas que já possui,
realizando, assim, um sobre trabalho, usando aqui um conceito marxista de trabalho, pois, a
EAD requer muitas horas de home-office. Essas horas a mais de trabalho, ocorrem porque em
16
MARX, Karl.Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos2ªed., São Paulo: Abril Cultural, 1978.
(Os Pensadores). p.XX.
17
Op.Cit. p.XXII.
18
IVASHITA, Simone Burioli & COELHO, Marcos Pereira. O importante papel do professor-tutor. Texto
apresentado no IX Congresso Nacional de Educação-EDUCERE - III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia, 26
a 29 de outubro de 2009, PUCPR.p.7557.
9
casa não se contabilizam as oito horas precisas de trabalho como se teria na empresa. Pois, do
trabalhador é cobrado o cumprimento da tarefa, e não horas de trabalho, mesmo que ele misture
as horas de lazer com as de trabalho ou passe as 24 horas do dia preocupado em dar conta da
tarefa.
Esse sobre trabalho que é possibilitado pelo conceito de home-office é somado ao
aumento da produtividade do trabalho do professor através das TICs, a qual é viabilizada pelos
avanços tecnológicos da informática. Pois, uma aula dada pela internet, pode ser assistida por
uma quantidade de alunos muitíssimo maior que numa sala de aula física e presencial. E não está
longe a possibilidade de termos apenas um professor por disciplina para todas as turmas em cada
escola, e então os demais estarão desempregados ou serão tutores.
Essas duas formas de se obter mais-valia: sobre trabalho e aumento da produtividade
através das TICs, é acrescido a uma terceira, a divisão social do trabalho do professor que se dá
entre o professor conteudista e o tutor. O professor é transformado em operário da educação, que
contraditoriamente, ao mesmo tempo em que agrega valor à mercadoria, precariza a mão de obra
do profissional.
Nesse contexto, o tutor encerra um processo histórico que começa com a transformação
do artesão em operário , visto que separa a concepção da aula, da sua execução. Isso devido ao
fato de o professor conteudista elaborar a aula, mas não interagir com o aluno, e o tutor estar
próximo da realidade do aluno, mas não conceber a aula, alienando a função do professor-tutor.
O tutor é o último trabalhador transformado em operário, num processo histórico
inicializado pelo artesão. Isso porque, no imaginário social, a tarefa de educar jamais sofreria
interferência das máquinas, pois nela estaria contida a transmissão de valores.
Essa conjuntura, como todo processo de aumento da produtividade, gerará, a médio
prazo, uma considerável taxa de desemprego para a categoria dos professores, porque quando a
oferta de mão de obra é maior que a procura diminui-se o valor dos salários, essa é uma lei de
mercado. E nas palavras de Höfling,
Numa sociedade extremamente desigual e heterogênea como a brasileira, a política
educacional deve desempenhar importante papel ao mesmo tempo em relação à
democratização da estrutura ocupacional que se estabeleceu, e à formação do cidadão,
10
do sujeito em termos mais significativos do que torná-lo ‘competitivo frente à ordem
mundial globalizada.’19
Conclusão
Este texto objetivou refletir sobre um aspecto novo e específico da educação que é a
ressignificação do papel do professor ou do professor-tutor, no novo contexto das tecnologias da
informação e da comunicação através da Educação à Distância. Especificamente, este cenário
vislumbra a médio prazo uma desconstrução do papel educativo e das relações de trabalho do
professor, para transformá-lo num operário alienado e mero transmissor de conteúdos. Bem
como, uma super-exploração da sua mão de obra, uma diminuição da taxa salarial, e, finalmente,
um desemprego crescente, na mesma proporção que ascende a EAD. E Esta análise não é
nenhum exercício de futurologia, pois está partindo de uma realidade concreta. Mesmo porque,
processo semelhante já aconteceu com os caixas de banco, com os metalúrgicos das montadoras
de automóveis e com diversas outras profissões. Entretanto, o professor-tutor não precisa ser um
mero expectador da realidade, pode também ser um dos sujeitos da sua própria história. Uma das
possibilidades é um resgate ou uma reapropriação da educação clássica humanística e de seus
nobres valores, onde agregar valor ao homem seja torná-lo menos individualista, menos
consumista, menos egoísta e, enfim, mais humano. Esse é um dos grandes desafios para o
profissional da educação e, principalmente, para os gestores de políticas educacionais no século
XXI.
Texto revisado por Daniela da Cruz G. Marques*
Referências Bibliográficas
BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.
BERESFORD, Heron. Valor: saiba o que é. 2ªed.Rio de Janeiro: Shape, 2008.
19
HÖFLING, Eloisa de M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001.
p. 40.
*
Especialista em Língua Portuguesa pela FEUC – Fundação Educacional Unificada Campograndense.
11
CHERMANN, Maurício & BONINI, Luci Mendes. Educação a distância. Novas tecnologias em
ambientes de aprendizagem pela Internet. Universidade Braz Cubas, s/d (2000?).
HÖFLING, Eloisa de M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55,
p. 30-41, novembro/2001.
HUNT, E. K.; SHERMAN, H. J. História do Pensamento Econômico. 20ª ed. Petrópolis:
Vozes, 2001.
IVASHITA, Simone Burioli & COELHO, Marcos Pereira. EAD: O importante papel do
professor-tutor. Texto apresentado no IX Congresso Nacional de Educação-EDUCERE - III
Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia, 26 a 29 de outubro de 2009, PUCPR. Disponível em:
www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2865_1873.pdf. Acesso em: 23 jun. 2010.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus,
2003.
LITWIN, Edith. Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa.
Porto Alegre: Artmed, 2001.
MANCEBO, Deise;SILVA Jr. João dos Reis e OLIVEIRA, João Ferreira de.(org) Reformas e
Políticas: educação superior e pós-graduação no Brasil.Campinas, São Paulo: Editora
Alínea,2008
MANCEBO, Deise. Trabalho docente:novos processos de trabalho e resistência coletiva.Texto
apresentado no VII Seminário da Rede Latinoamericana de Estudos sobre Trabalho Docente em 5
de julho de 2008, na Universidade de Buenos Aires. Disponível em:
http://nupet.iuperj.br/arquivos/Mancebo.pdf. Acesso em: 23 jun. 2010.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. 2ªed., São Paulo:
Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores).
SEGENREICH, Stella.C.D. A inclusão da tutoria no processo de avaliação dos cursos de EAD.
In: JACOB CHAVES e SILVA JÚNIOR (Orgs.) Educação Superior no Brasil e diversidade
regional. Belém: EDUFPA, 2008, p. 427 – 446.
SEGENREICH, Stella C.D. Relação estado e sociedade na oferta e regulação da graduação a
distância no Brasil: da periferia ao centro das políticas públicas. Texto apresentado no VI
Congresso Luso-Brasileiro da ANPAE realizado em Portugal, em abril de 2010. Disponível em:
www.anpae.org.br/iberolusobrasileiro2010/cdrom/111.pdf. Acesso em: 14 jul.2010.
WERNECK, Vera Rudge. Cultura e Valor.Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2003.
The Distance Education as Merchandise and Precarious Work Faculty.
12
Abstract: The Globalization of neoliberal theories and new ICTs have changed the social
conditions of production adding value to goods around the planet. And a requirement for more
qualified manpower has led people to elect governments and education as a priority. The
Distance Education has been providing student access to formal education and continuous
blended. However, an inverse ratio, it becomes the teacher in worker education and, in
consequence, there is an impoverishment of teaching in that it appears the figure of the tutor.
Therefore, it is for education professionals to rescue the Humanistic Education and its noble
values, before the exchange value to become a mere commodity.
Keywords: Distance Education, Merchandise, Teaching Work.

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Artigo o valor da educação

  • 1. O Valor da Educação Jaqueline Vieira de Aguiar* Mauro Fernandes dos Santos ** Resumo: A Globalização das teorias neoliberais e as novas TICs modificaram as condições sociais de produção agregando valor às mercadorias em todo o planeta. E uma exigência por mão de obra mais qualificada tem levado pessoas e governos a elegerem a educação como prioridade. A Educação à Distância vem proporcionando o acesso de estudantes à educação formal semipresencial e continuada. Porém, numa razão inversa, ela transforma o professor num operário da educação e, em consequência disso, verifica-se uma precarização do trabalho docente na medida em que surge a figura do tutor. Logo, cabe aos profissionais da educação resgatar a Educação Humanística e seus nobres valores, antes que o valor de troca a transforme numa mera mercadoria. Palavras-chave: Educação à Distância, Valor, Trabalho Docente Introdução A Educação à Distância (EAD) institucionalizada a partir do século XIX tem se utilizado, ao longo do tempo, dos mais variados suportes pedagógicos desde a correspondência manual ao correio eletrônico. Essa modalidade de ensino proporciona o acesso do estudante (afastado dos grandes centros) à educação formal semipresencial. Possibilita ainda, a formação continuada de maneira que o aluno é quem administra o seu tempo/espaço de estudo de forma flexível. Sendo assim, ampliam-se as possibilidades de estudo tanto no ensino público como no privado. Entretanto, verifica-se uma precarização do trabalho docente, à medida que são introduzidas as novas tecnologias da informação e da comunicação ( TICs ), e surge a figura do tutor, através da * Mestra em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis –UCP (2012). Graduada em História (MSB, 2002). **Mestre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis –UCP (2012). Graduado em Ciências Sociais (UFRJ,1992).
  • 2. 2 flexibilização das relações do trabalho. Junto a este fenômeno surge, também, uma divisão social do trabalho do profissional da educação, separando as tarefas do professor conteudista das do tutor: exigindo-se, assim, mais produtividade e alcançando maior customização para a instituição privada, para a pública e para os estudantes. Como observa Eloisa Höfling,1 visões diferentes de sociedade, Estado, política educacional geram projetos diferentes de intervenção nesta área. Nestes termos, entende-se a educação como uma política pública social de responsabilidade do Estado mas não pensada somente por seus organismos. O contexto do pensamento neoliberal aplicado a educação e somado ao aumento da produtividade advinda das TICs, cria uma demanda por mão de obra cada vez mais qualificada. Isso gera uma grande procura por certificados que comprovem uma formação educacional formal, logo, muitos estudantes têm se matriculado nos mais variados cursos de EAD sem ter noção do que é oferecido pelos mesmos. A partir de então, proprietários de estabelecimentos educacionais têm visto na EAD uma forma de se aumentar os lucros não se preocupando com a qualidade do ensino, mas sim, com a quantidade de alunos. Nesse contexto, seria possível considerar a educação sendo tratada como mera mercadoria? E o mais grave, sem levar em conta o seu propósito originário com os valores humanísticos, sociais e de contribuição para a resolução de problemas nacionais e globais? Conceituando a EAD e conhecendo a sua trajetória A sociedade do século XXI tem vivenciado o mundo da comunicação através do jornal, do rádio, da TV, e cada vez mais da internet que vem seduzindo a população de forma constante. Nos diferentes setores da sociedade, ter o conhecimento dessa nova linguagem da informática tornou-se primordial. E a educação também está inserida neste contexto, ganhando uma dimensão nunca antes imaginada. Os que pensam ser a EAD uma nova modalidade de ensino enganam-se, pois sua origem está no século XIX, quando muito se utilizou da correspondência manual. Entretanto, nos últimos dois séculos a EAD passou por muitas transformações principalmente por causa do uso das TICs, como suporte pedagógico. Segundo Chermann e Bonini, a EAD ”possibilita a autoaprendizagem a partir de mediação de recursos didáticos sistematicamente 1 Cf HÖFLING, Eloisa de M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001. p.30.
  • 3. 3 organizados e apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação existentes.”2 Para Edith Litwin a EAD é “uma nova proposta, na qual os docentes ensinam e os alunos aprendem mediante situações não – convencionais, ou seja, em espaços e tempos que não compartilham.”3 Quanto aos suportes pedagógicos ela afirma que: Livros, cartilhas ou guias especialmente redigidos foram as propostas iniciais; a televisão e o rádio constituíram os suportes da década de 70; os áudios e vídeos, da década de 80. Nos anos 90, a incorporação de redes de satélites, o correio eletrônico, a utilização da internet e os programas especialmente concebidos para os suportes informáticos aparecem como os grandes desafios dos programas na modalidade.4 Múltiplas são as possibilidades oferecidas pela educação à distância como: a flexibilidade de espaço e tempo de educador e educando, o incentivo à autonomia e o autodidatismo do educando e a utilização dos recursos pedagógicos como facilitadores na construção do conhecimento. Outros recursos didáticos da educação presencial podem ser mantidos, desde que se mantenha a preocupação com a qualidade, como o trabalho colaborativo entre os alunos e entre alunos e professores. Porém, aspectos importantes podem ser perdidos ou diminuídos, como a interatividade. Entretanto, sem contar o mérito das vantagens e desvantagens pedagógicas, esta modalidade de ensino vem crescendo inexoravelmente, é um caminho sem volta. E vários estabelecimentos têm abraçado essa idéia, como é o caso das instituições acadêmicas e corporativas, presenciais, à distância, mistas, consórcios, parcerias, etc. Os tipos de cursos que têm aderido a essa modalidade de ensino abrangem várias formas como: um simples treinamento, a educação de jovens e adultos (EJA), a formação continuada, cursos regulares de graduação, cursos regulares de pós-graduação, entre outros. Atualmente, estão concentrados na educação superior, mas brevemente se estenderá ao ensino médio, à medida que computadores e internet estão chegando aos colégios. Evidentemente, que ainda falta muito em termos de recursos didáticos, para que as TICs sejam ferramentas adequadas ao pedagógico, e não temos a ingenuidade de pensar que, por si só, essas ferramentas são boas ou más. São apenas mais um passo na evolução tecnológica, como foi o livro, o lápis ou a lousa. 2 CHERMANN, Maurício & BONINI, Luci Mendes. Educação a distância. Novas tecnologias em ambientes de aprendizagem pela Internet. Universidade Braz Cubas, s/d (2000?). p.17. 3 Edith Litwin. Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001. p.13. 4 Op.Cit. p.16.
  • 4. 4 Outro conceito de EAD muito utilizado na década de 70 do século XX, e também bastante presente nos dias de hoje, é o modelo industrial de EAD dentro da lógica fordista do capitalismo. Ele se define como “um método de transmitir conhecimento, (...) racionalizado pela aplicação de princípios organizacionais e de divisão do trabalho, bem como pelo uso intensivo de meios técnicos, (...) o que torna possível instruir um maior número de estudantes ao mesmo tempo...”5 Para Peters referenciado por Belloni, essa é uma forma industrializada de ensino e aprendizagem que “pode ser bem mais entendida a partir de princípios que regem a produção industrial, especialmente os de produtividade, divisão do trabalho e produção de massa.”6 Conceituando valor e o seu papel na educação Segundo Hessen em Beresford, “o conceito de ‘valor’não pode rigorosamente definir-se. Pertence ao número daqueles conceitos supremos, como os de ‘ser’, existência etc, que não admitem definição. Tudo o que se pode fazer a respeito deles é tentar uma clarificação ou “mostração” do seu conteúdo”.7 Mas Beresford, argumenta que: “ao clarear o conteúdo dos valores, por meio de uma aproximação sucessiva de argumentos (...) [Hessen] acaba nos emitindo o que pode ser considerado uma conceituação dos valores.”8 E continua, “ com relação a explicitação literal do termo valor, temos na obra de I. Kant, Fundamentos da Metafísica dos Costumes, um dos primeiros registros de tal fato, quando ele se refere a ‘ valor moral’ e, mais exatamente, a um valor autenticamente moral.”9 O autor nos mostra, ainda, que o termo valor aparece também no século XVIII, na economia política, no sentido econômico, para se referir ao preço de uma mercadoria ou de um serviço. E prossegue observando que será Karl Marx, fazendo uma crítica à economia política, quem vai associar o termo valor à ideia de mais-valia, a qual é reproduzida hoje, no linguajar da economia popular, por meio da expressão agregar valor. 5 PETERS. Apud BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.p.27. 6 Op.Cit. 28. 7 HESSEN, Johannes. Apud BERESFORD, Heron. Valor: saiba o que é. 2ªed.Rio de Janeiro: Shape, 2008.p.41. 8 Op.Cit. p.41. 9 Op.Cit. p.26.
  • 5. 5 O conceito de valor associado ao significado de moral, já era utilizado implicitamente desde a era mitológica, quando Zeus manda distribuir aos homens, dois valores primordiais para que eles vivessem em harmonia e em sociedade, o respeito e a justiça.10 Popularmente o termo valor está associado ao conceito de cultura, e este tem uma grande variedade de significados. Para Werneck, “tanto as práticas da agricultura quanto o domínio do saber erudito são considerados como cultura,”11 o que remete a uma reflexão antropológica sobre: quem é o homem? E o que é valor para ele? Certamente o homem é um ser em busca de valor e está constantemente à procura do que pode valorizá-lo. Mas o que vale para o homem? Muito do que é desejável hoje já foi condenável no passado. E fica a pergunta feita por todos os pensadores: é possível uma hierarquia universal e atemporal dos valores? Segundo Miguel Reale, em Werneck, percebe-se uma constância em alguns deles, tais como: a saúde, o bem-estar, a verdade, a beleza, o afeto e, é claro, o respeito e a justiça, entre outros.12 Logo, há valores para homem que são permanentes e outros, passageiros. Os primeiros estão mais associados a valores morais e os segundos mais a valor de mercado. A nossa pergunta é: e quanto à educação, qual o seu lugar na hierarquia de valores? Não temos resposta acabada para essa pergunta. Mas temos algumas convicções. Os aspectos morais e éticos da educação devem estar à frente dos aspectos mercadológicos de prestígio e de poder. Sendo assim, a educação não deve ser tratada como mera mercadoria. O valor da educação não deve se resumir ao valor de troca. A educação não deve prescindir dos seus valores humanísticos de verdade, de respeito, de justiça, de amizade, de igualdade, entre outros, para se resumir à busca pelo poder e pelo prestígio a qualquer custo. A educação à distância no Brasil a partir da LDBEN/1996 A EAD, no Brasil, teve um marco significativo quando se institucionalizou como integrante do sistema de educação formal pela Lei nº 9.394 de 20/12/1996 que estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/1996 . A partir de então, iniciou-se, de forma silenciosa, sua expansão. 10 Cf BERESFORD, Heron. Valor: saiba o que é. 2ªed.Rio de Janeiro: Shape, 2008. p.24. 11 WERNECK, Vera Rudge.Cultura e Valor.Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2003. p.2. 12 REALE, Miguel.Apud WERNECK, Vera Rudge.Cultura e Valor.Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2003. p.2.
  • 6. 6 Outros marcos significativos para a EAD no Brasil foram a Portaria nº 4059 de 10/12/2004 e o Decreto nº 5.622 de 19/12/2005. A Portaria chama a atenção ao tratar da oferta de disciplinas na modalidade semipresencial em cursos superiores já reconhecidos. O Decreto regulamenta o art. 80 da Lei n. 9.394, de 20/12/1996 e o governo passa a regular de forma mais enérgica esta modalidade de ensino. No texto apresentado por Segenreich, verificamos que as agências internacionais como o Banco Mundial e a OMC influenciaram significantemente para que a EAD se tornasse uma realidade no Brasil. O texto político se tornou possível a partir das legislações implementadas, o que se deu sob interferência de representantes de instituições de ensino superior que acabaram se constituindo em um forte grupo de pressão interna em favor de um modelo industrial de EAD, totalmente não presencial e baseado no ensino de massa e no intensivo uso de tecnologias digitais. São estes grupos que vão participar intensamente do contexto de produção dos textos políticos relativos á regulamentação do modelo de funcionamento da EAD na educação superior, com derrotas e vitórias de ambos os lados.13 A expansão da EAD tem acontecido de forma acelerada desde 1996, mas a partir de 2005 o Estado passou a regular de forma mais efetiva as instituições de ensino que optaram pela EAD. O interessante é que o próprio Estado adotou a EAD como estratégia central de expansão da educação superior e formação do magistério, ou seja, o texto político passou para a prática a partir da UAB (Universidade Aberta do Brasil) e do Plano Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica. Uma das preocupações é quanto à qualidade do ensino nas instituições que optaram por esta modalidade de ensino. A Expansão da privatização na educação superior Um dos eixos básico dessa análise é a mercantilização da educação superior, no contexto das mudanças ocorridas no mundo do trabalho. No Brasil, essa discussão só recebeu destaque a 13 SEGENREICH, Stella.C.D. Relação estado e sociedade na oferta e regulação da graduação a distância no Brasil: da periferia ao centro das políticas públicas. Texto apresentado no VI Congresso Luso-Brasileiro da ANPAE realizado em Portugal, em abril de 2010. Disponível em: www.anpae.org.br/iberolusobrasileiro2010/cdrom/111.pdf. Acesso em: 14 jul.2010.p.14.
  • 7. 7 partir da década de 90, nos governos Collor e FHC, pois ambos foram favoráveis às ideias neoliberais, as quais, defendem um estado mínimo e sua não intervenção na economia. Segundo Offe, referenciado por Höfling, “o Estado atua como regulador das relações sociais a serviço da manutenção das relações capitalista em seu conjunto.”14 A partir disso, segundo Höfling, “o Estado capitalista moderno cuidaria não só de qualificar permanentemente a mão-de-obra para o mercado, como também, através de tal política e programas sociais, procuraria manter sob controle parcelas da população não inseridas no processo produtivo.”15 Em nosso país, essas políticas geraram uma onda de privatização das empresas públicas. Porém, as Universidades públicas não foram diretamente atingidas devido às suas mobilizações e resistências. Entretanto, foram criados mecanismos indiretos para a expansão do ensino superior privado com o crescimento das bolsas de estudo para alunos pobres nas universidades privadas, como o PROUNI, e houve uma flexibilização das regulamentações para criação de novas instituições de ensino superior (IES). Esse cenário tornou-se favorável ao crescimento das IES, as quais implantaram a modalidade de ensino à distância. Num mundo globalizado e informatizado, mais do que nunca, a educação tornou-se um dos principais fatores de qualificação e agregação de valor à mão de obra e, no Brasil, essa consciência cresceu em sintonia com o contexto do cenário neoliberal. Logo, cada vez mais há uma demanda por diplomas como exigência do mercado. Não é por acaso que o congresso acabou de aprovar um projeto de lei (faltando ser sancionada pelo presidente), exigindo curso superior para os futuros professores de todas as séries do ensino básico. E a gestão das universidades está a cada dia mais semelhante à de uma empresa, e menos preocupada com o seu propósito humanista para a produção do conhecimento engajado na solução de problemas sociais. Esses são os fatores que nos levam a pensar na possibilidade da educação em geral, mas em particular a educação à distância, estar sendo tratada como mera mercadoria. A educação como mercadoria Para Karl Marx a mercadoria é a forma elementar da produção capitalista, e o seu valor é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. 14 OFFE, Claus. Apud HÖFLING, Eloisa de M.Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001. p. 30. 15 Op.Cit. p.33.
  • 8. 8 Acresce ainda que, no mercado, se encontra uma mercadoria muito especial, a força de trabalho. (...) Vendendo os produtos, esse proprietário da força de trabalho recebe, de um lado, uma quantia igual à que investiu anteriormente; de outro, uma mais-valia, um excedente que provém do resultado do trabalho concreto gerido por ele.16 Dentro dessa discussão a força de trabalho do professor é uma mercadoria “singular”, mas que vem sendo depreciada e super-explorada, ainda mais, neste novo contexto das tecnologias da informação e da comunicação através da EAD. E se acompanharmos a continuidade do raciocínio do Marx vamos entender o porquê. Todo o sistema capitalista fica, assim, orientado para a exploração da mais-valia: (...) Um modo simples de obter mais-valia é prolongar a jornada de trabalho, procedimento, contudo, que logo encontra seus limites físicos, o dia de 24 horas e o desgaste do trabalhador. Meio mais eficaz é aumentar a produtividade do trabalho fazendo com que, ao mesmo tempo, mais objetos sejam produzidos. Por causa disso o modo de produção capitalista depende (...) essencialmente de uma tecnologia de desenvolvimento das forças produtivas...17 A EAD reedita ao mesmo tempo as duas maneiras citadas acima de explorar a mão de obra do professor, primeiro quando insere nessa modalidade a figura do tutor-professor e segundo quando utiliza as TICs para customizar a estrutura educacional. Embora ainda não exista um consenso sobre o conceito de tutor e muito menos uma regulamentação trabalhista dessa função, o papel do tutor ultrapassa a função de mero facilitador. Para Ivashita e Coelho “O tutor elucida as dúvidas de seus alunos, acompanha seu processo de aprendizagem, corrige trabalhos fornecendo-lhes um retorno de seu desempenho, e ainda, avalia o aluno.”18 A figura e o papel socioeconômico do tutor na EAD, mesmo que seja uma ressignificação do papel do professor neste século XXI, é usado conscientemente como estratégia política de precarização do trabalho docente. Isto se dá à medida que o tutor tem salários inferiores e não têm os direitos trabalhistas que os professores, a duras penas, conquistaram. Ele muitas das vezes faz o papel professor/tutor, o que requer outras habilidades tecnológicas, além daquelas que já possui, realizando, assim, um sobre trabalho, usando aqui um conceito marxista de trabalho, pois, a EAD requer muitas horas de home-office. Essas horas a mais de trabalho, ocorrem porque em 16 MARX, Karl.Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos2ªed., São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). p.XX. 17 Op.Cit. p.XXII. 18 IVASHITA, Simone Burioli & COELHO, Marcos Pereira. O importante papel do professor-tutor. Texto apresentado no IX Congresso Nacional de Educação-EDUCERE - III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia, 26 a 29 de outubro de 2009, PUCPR.p.7557.
  • 9. 9 casa não se contabilizam as oito horas precisas de trabalho como se teria na empresa. Pois, do trabalhador é cobrado o cumprimento da tarefa, e não horas de trabalho, mesmo que ele misture as horas de lazer com as de trabalho ou passe as 24 horas do dia preocupado em dar conta da tarefa. Esse sobre trabalho que é possibilitado pelo conceito de home-office é somado ao aumento da produtividade do trabalho do professor através das TICs, a qual é viabilizada pelos avanços tecnológicos da informática. Pois, uma aula dada pela internet, pode ser assistida por uma quantidade de alunos muitíssimo maior que numa sala de aula física e presencial. E não está longe a possibilidade de termos apenas um professor por disciplina para todas as turmas em cada escola, e então os demais estarão desempregados ou serão tutores. Essas duas formas de se obter mais-valia: sobre trabalho e aumento da produtividade através das TICs, é acrescido a uma terceira, a divisão social do trabalho do professor que se dá entre o professor conteudista e o tutor. O professor é transformado em operário da educação, que contraditoriamente, ao mesmo tempo em que agrega valor à mercadoria, precariza a mão de obra do profissional. Nesse contexto, o tutor encerra um processo histórico que começa com a transformação do artesão em operário , visto que separa a concepção da aula, da sua execução. Isso devido ao fato de o professor conteudista elaborar a aula, mas não interagir com o aluno, e o tutor estar próximo da realidade do aluno, mas não conceber a aula, alienando a função do professor-tutor. O tutor é o último trabalhador transformado em operário, num processo histórico inicializado pelo artesão. Isso porque, no imaginário social, a tarefa de educar jamais sofreria interferência das máquinas, pois nela estaria contida a transmissão de valores. Essa conjuntura, como todo processo de aumento da produtividade, gerará, a médio prazo, uma considerável taxa de desemprego para a categoria dos professores, porque quando a oferta de mão de obra é maior que a procura diminui-se o valor dos salários, essa é uma lei de mercado. E nas palavras de Höfling, Numa sociedade extremamente desigual e heterogênea como a brasileira, a política educacional deve desempenhar importante papel ao mesmo tempo em relação à democratização da estrutura ocupacional que se estabeleceu, e à formação do cidadão,
  • 10. 10 do sujeito em termos mais significativos do que torná-lo ‘competitivo frente à ordem mundial globalizada.’19 Conclusão Este texto objetivou refletir sobre um aspecto novo e específico da educação que é a ressignificação do papel do professor ou do professor-tutor, no novo contexto das tecnologias da informação e da comunicação através da Educação à Distância. Especificamente, este cenário vislumbra a médio prazo uma desconstrução do papel educativo e das relações de trabalho do professor, para transformá-lo num operário alienado e mero transmissor de conteúdos. Bem como, uma super-exploração da sua mão de obra, uma diminuição da taxa salarial, e, finalmente, um desemprego crescente, na mesma proporção que ascende a EAD. E Esta análise não é nenhum exercício de futurologia, pois está partindo de uma realidade concreta. Mesmo porque, processo semelhante já aconteceu com os caixas de banco, com os metalúrgicos das montadoras de automóveis e com diversas outras profissões. Entretanto, o professor-tutor não precisa ser um mero expectador da realidade, pode também ser um dos sujeitos da sua própria história. Uma das possibilidades é um resgate ou uma reapropriação da educação clássica humanística e de seus nobres valores, onde agregar valor ao homem seja torná-lo menos individualista, menos consumista, menos egoísta e, enfim, mais humano. Esse é um dos grandes desafios para o profissional da educação e, principalmente, para os gestores de políticas educacionais no século XXI. Texto revisado por Daniela da Cruz G. Marques* Referências Bibliográficas BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. BERESFORD, Heron. Valor: saiba o que é. 2ªed.Rio de Janeiro: Shape, 2008. 19 HÖFLING, Eloisa de M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, novembro/2001. p. 40. * Especialista em Língua Portuguesa pela FEUC – Fundação Educacional Unificada Campograndense.
  • 11. 11 CHERMANN, Maurício & BONINI, Luci Mendes. Educação a distância. Novas tecnologias em ambientes de aprendizagem pela Internet. Universidade Braz Cubas, s/d (2000?). HÖFLING, Eloisa de M. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 55, p. 30-41, novembro/2001. HUNT, E. K.; SHERMAN, H. J. História do Pensamento Econômico. 20ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001. IVASHITA, Simone Burioli & COELHO, Marcos Pereira. EAD: O importante papel do professor-tutor. Texto apresentado no IX Congresso Nacional de Educação-EDUCERE - III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia, 26 a 29 de outubro de 2009, PUCPR. Disponível em: www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2865_1873.pdf. Acesso em: 23 jun. 2010. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003. LITWIN, Edith. Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001. MANCEBO, Deise;SILVA Jr. João dos Reis e OLIVEIRA, João Ferreira de.(org) Reformas e Políticas: educação superior e pós-graduação no Brasil.Campinas, São Paulo: Editora Alínea,2008 MANCEBO, Deise. Trabalho docente:novos processos de trabalho e resistência coletiva.Texto apresentado no VII Seminário da Rede Latinoamericana de Estudos sobre Trabalho Docente em 5 de julho de 2008, na Universidade de Buenos Aires. Disponível em: http://nupet.iuperj.br/arquivos/Mancebo.pdf. Acesso em: 23 jun. 2010. MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. 2ªed., São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). SEGENREICH, Stella.C.D. A inclusão da tutoria no processo de avaliação dos cursos de EAD. In: JACOB CHAVES e SILVA JÚNIOR (Orgs.) Educação Superior no Brasil e diversidade regional. Belém: EDUFPA, 2008, p. 427 – 446. SEGENREICH, Stella C.D. Relação estado e sociedade na oferta e regulação da graduação a distância no Brasil: da periferia ao centro das políticas públicas. Texto apresentado no VI Congresso Luso-Brasileiro da ANPAE realizado em Portugal, em abril de 2010. Disponível em: www.anpae.org.br/iberolusobrasileiro2010/cdrom/111.pdf. Acesso em: 14 jul.2010. WERNECK, Vera Rudge. Cultura e Valor.Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2003. The Distance Education as Merchandise and Precarious Work Faculty.
  • 12. 12 Abstract: The Globalization of neoliberal theories and new ICTs have changed the social conditions of production adding value to goods around the planet. And a requirement for more qualified manpower has led people to elect governments and education as a priority. The Distance Education has been providing student access to formal education and continuous blended. However, an inverse ratio, it becomes the teacher in worker education and, in consequence, there is an impoverishment of teaching in that it appears the figure of the tutor. Therefore, it is for education professionals to rescue the Humanistic Education and its noble values, before the exchange value to become a mere commodity. Keywords: Distance Education, Merchandise, Teaching Work.