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Dona Benedita,
 de Machado de Assis
     Manoel Neves
O ENREDO
                                        dona benedita
 O narrador – de terceira pessoa – não sabe precisar a idade de Dona Benedita; na primeira cena,
o Cônego Roxo trincha o peru; o marido da protagonista [Desembargador] está há alguns anos no
  Pará; no jantar, estavam, além da dona da casa e do religioso, Eulália, um menino de 12 anos e
 duas visitas – Dona Maria dos Anjos e Leandrinho; este é pretendente de Eulália e aquela é uma
  amiga da protagonista; Leandrinho propõe um brinde ao Desembargador e Dona Benedita fica
emocionada; a protagonista conheceu Dona Maria dos Anjos há pouco tempo, entretanto, as duas
são muito amigas; as más línguas dão várias versões para o desaparecimento do Desembargador,
a principal é que o marido da protagonista está amasiado com outra mulher há dois anos – é por
isso que não voltou para casa; Dona Benedita planeja a viagem cinco vezes, mas acaba por não ir;
apesar de a mãe e o Cônego Roxo desejarem que Eulália se case com Leandrinho, esta namora, às
 escondidas, com um oficial da marinha [Tenente Mascarenhas]; Benedita escreve uma carta ao
marido em q fala sobre a intenção de casar a filha com Leandrinho, volta à leitura de um romance:
lia três ao mesmo tempo, sem chegar a terminar um; chega o Cônego para o jantar: falam sobre o
casamento de Eulália e Leandrinho; a filha da protagonista reluta em se casar com o filho de Maria
O ENREDO
                                        dona benedita
 dos Anjos; Dona Benedita se exaspera e quer obrigar a filha ao casamento; a protagonista falta a
 um encontro com Maria dos Anjos – depois a trata com frieza; conhece, então, Dona Petronilha,
cuja irmã namorava um oficial da marinha cujo irmão, Mascarenhas, também era oficial; o jantar
  transcorre otimamente bem: Dona Benedita se encanta pelo oficial fardado, Mascarenhas, e o
 convida para ir a sua casa; durante a visita, Mascarenhas pede a mão de Eulália em casamento;
Benedita envia, então, outra carta ao marido, comunicando que o noivo mudara; Maria dos Anjos
não é convidada [por displicência] para o casamento; morre o Proença – Dona Benedita quer ir ao
Pará, honrar a memória do marido, mas acaba não indo; após o casamento, Eulália e Mascarenhas
 vão morar com Dona Benedita – há alguns desentendimentos entre o genro e a sogra, devido à
disciplina daquele; viúva, Dona Benedita é cortejada por um negociante e por um advogado, mas
        não consegue se decidir por nenhum deles; na última cena, irrompe o fantástico:
Nesse quadro apareceu-lhe uma figura vaga e transparente, [...]. A figura veio até ao peitoril da
janela de D. Benedita; e de um gesto sonolento, com uma voz de criança, disse-lhe estas
palavras sem sentido: - Casa... não casarás... se casas... casarás... não casarás... e casas...
casando...
DONA BENEDITA
               aspectos temáticos

                      temas
análise psicológica             veleidade
DONA BENEDITA
                                 aspectos temáticos

                           a análise psicológica
                                        perfil
   a análise de caracteres é feita por intermédio da construção do perfil da personagem
                        observação do comportamento
é por intermédio da observação do comportamento da personagem que o narrador a analisa
                                    o fantástico
presente na última cena, serve apenas para reforçar [ironicamente] o caráter da personagem
DONA BENEDITA
                                   aspectos temáticos
                             a análise psicológica
                          o cotidiano vazio da burguesia
a protagonista é uma personagem realista marcada pela hesitação e inconstância dos desejos;
     a volubilidade aparece em pequenas ações: leitura, casamento, viagem, amizades;
                           fortes marcas do patriarcado
            o desembargador, mesmo ausente, presentifica-se: casamento, ceias;
                            cenas do cotidiano burguês
 vida privada: ceias, casamentos, reuniões familiares, arranjos matrimoniais, viagens, festas.
DONA BENEDITA
                                   aspectos temáticos
                                     a veleidade
Creio que é bastante ver o modo por quer ela compõe as rendas e os babadinhos do roupão
para compreender que é uma senhora pichosa, amiga do arranjo das coisas e de si mesma. Noto
que rasgou agora o babadinho do punho esquerdo, mas é porque, sendo também impaciente,
não podia mais “com a vida deste diabo”. Essa foi a sua expressão, acompanhada logo de um
“Deus me perdoe!” que inteiramente lhe extraiu o veneno. Não digo que ela bateu com o pé,
mas adivinha-se, por ser um gesto natural de algumas senhoras irritadas. Em todo caso, a cólera
durou pouco mais de meio minuto. D. Benedita foi à caixinha de costura para dar um ponto no
rasgão, e contentou-se com um alfinete. O alfinete caiu no chão, ela abaixou-se a apanhá-lo.
Tinha outros, é verdade, muitos outros, mas não achava prudente deixar alfinetes no chão.
Abaixando-se, aconteceu-lhe ver a ponta da chinela, na qual pareceu-lhe descobrir um sinal
branco; sentou-se na cadeira que tinha perto, tirou a chinela, e viu o que era: era um roidinho
de barata. Outra raiva de D. Benedita, porque a chinela era muito galante, e fora-lhe dada por
uma amiga do ano passado. Um anjo, um verdadeiro anjo! D. Benedita fitou os olhos irritados
no sinal branco; felizmente a expressão bonachã deles não era tão bonachã que deixasse
eliminar de todo por outras expressões menos passivas, e retomou o seu lugar. D. Benedita
entrou a virar e revirar a chinela, e a passá-la de uma para outra mão, a princípio com amor,
logo depois maquinalmente, até que as mãos pararam de todo, a chinela caiu no regaço, e D.
Benedita ficou a olhar para o ar, parada, fixa.
DONA BENEDITA
                    aspectos temáticos
                      a veleidade
1) grau mais baixo da vontade humana; vontade inútil, imperfeita;
                        2) volubilidade;
       3) ideia caprichosa ou excêntrica que vem à mente.
DONA BENEDITA
                                aspectos temáticos
                                 a veleidade
      o crítico José Agripino Grieco chama Dona Benedita de a ventoinha humana:
               [caráter ambivalente, cambiante do texto e da personagem]
   perfil psicológico              conto psicológico                conto fantástico

                          a ventoinha humana
metáfora do gênero textual que, diante dos caminhos que se bifurcam, acaba por mudar;
         metáfora que refere ao caráter inconstante e melífluo da protagonista.

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A ventoinha humana de Machado de Assis

  • 1. Dona Benedita, de Machado de Assis Manoel Neves
  • 2. O ENREDO dona benedita O narrador – de terceira pessoa – não sabe precisar a idade de Dona Benedita; na primeira cena, o Cônego Roxo trincha o peru; o marido da protagonista [Desembargador] está há alguns anos no Pará; no jantar, estavam, além da dona da casa e do religioso, Eulália, um menino de 12 anos e duas visitas – Dona Maria dos Anjos e Leandrinho; este é pretendente de Eulália e aquela é uma amiga da protagonista; Leandrinho propõe um brinde ao Desembargador e Dona Benedita fica emocionada; a protagonista conheceu Dona Maria dos Anjos há pouco tempo, entretanto, as duas são muito amigas; as más línguas dão várias versões para o desaparecimento do Desembargador, a principal é que o marido da protagonista está amasiado com outra mulher há dois anos – é por isso que não voltou para casa; Dona Benedita planeja a viagem cinco vezes, mas acaba por não ir; apesar de a mãe e o Cônego Roxo desejarem que Eulália se case com Leandrinho, esta namora, às escondidas, com um oficial da marinha [Tenente Mascarenhas]; Benedita escreve uma carta ao marido em q fala sobre a intenção de casar a filha com Leandrinho, volta à leitura de um romance: lia três ao mesmo tempo, sem chegar a terminar um; chega o Cônego para o jantar: falam sobre o casamento de Eulália e Leandrinho; a filha da protagonista reluta em se casar com o filho de Maria
  • 3. O ENREDO dona benedita dos Anjos; Dona Benedita se exaspera e quer obrigar a filha ao casamento; a protagonista falta a um encontro com Maria dos Anjos – depois a trata com frieza; conhece, então, Dona Petronilha, cuja irmã namorava um oficial da marinha cujo irmão, Mascarenhas, também era oficial; o jantar transcorre otimamente bem: Dona Benedita se encanta pelo oficial fardado, Mascarenhas, e o convida para ir a sua casa; durante a visita, Mascarenhas pede a mão de Eulália em casamento; Benedita envia, então, outra carta ao marido, comunicando que o noivo mudara; Maria dos Anjos não é convidada [por displicência] para o casamento; morre o Proença – Dona Benedita quer ir ao Pará, honrar a memória do marido, mas acaba não indo; após o casamento, Eulália e Mascarenhas vão morar com Dona Benedita – há alguns desentendimentos entre o genro e a sogra, devido à disciplina daquele; viúva, Dona Benedita é cortejada por um negociante e por um advogado, mas não consegue se decidir por nenhum deles; na última cena, irrompe o fantástico: Nesse quadro apareceu-lhe uma figura vaga e transparente, [...]. A figura veio até ao peitoril da janela de D. Benedita; e de um gesto sonolento, com uma voz de criança, disse-lhe estas palavras sem sentido: - Casa... não casarás... se casas... casarás... não casarás... e casas... casando...
  • 4. DONA BENEDITA aspectos temáticos temas análise psicológica veleidade
  • 5. DONA BENEDITA aspectos temáticos a análise psicológica perfil a análise de caracteres é feita por intermédio da construção do perfil da personagem observação do comportamento é por intermédio da observação do comportamento da personagem que o narrador a analisa o fantástico presente na última cena, serve apenas para reforçar [ironicamente] o caráter da personagem
  • 6. DONA BENEDITA aspectos temáticos a análise psicológica o cotidiano vazio da burguesia a protagonista é uma personagem realista marcada pela hesitação e inconstância dos desejos; a volubilidade aparece em pequenas ações: leitura, casamento, viagem, amizades; fortes marcas do patriarcado o desembargador, mesmo ausente, presentifica-se: casamento, ceias; cenas do cotidiano burguês vida privada: ceias, casamentos, reuniões familiares, arranjos matrimoniais, viagens, festas.
  • 7. DONA BENEDITA aspectos temáticos a veleidade Creio que é bastante ver o modo por quer ela compõe as rendas e os babadinhos do roupão para compreender que é uma senhora pichosa, amiga do arranjo das coisas e de si mesma. Noto que rasgou agora o babadinho do punho esquerdo, mas é porque, sendo também impaciente, não podia mais “com a vida deste diabo”. Essa foi a sua expressão, acompanhada logo de um “Deus me perdoe!” que inteiramente lhe extraiu o veneno. Não digo que ela bateu com o pé, mas adivinha-se, por ser um gesto natural de algumas senhoras irritadas. Em todo caso, a cólera durou pouco mais de meio minuto. D. Benedita foi à caixinha de costura para dar um ponto no rasgão, e contentou-se com um alfinete. O alfinete caiu no chão, ela abaixou-se a apanhá-lo. Tinha outros, é verdade, muitos outros, mas não achava prudente deixar alfinetes no chão. Abaixando-se, aconteceu-lhe ver a ponta da chinela, na qual pareceu-lhe descobrir um sinal branco; sentou-se na cadeira que tinha perto, tirou a chinela, e viu o que era: era um roidinho de barata. Outra raiva de D. Benedita, porque a chinela era muito galante, e fora-lhe dada por uma amiga do ano passado. Um anjo, um verdadeiro anjo! D. Benedita fitou os olhos irritados no sinal branco; felizmente a expressão bonachã deles não era tão bonachã que deixasse eliminar de todo por outras expressões menos passivas, e retomou o seu lugar. D. Benedita entrou a virar e revirar a chinela, e a passá-la de uma para outra mão, a princípio com amor, logo depois maquinalmente, até que as mãos pararam de todo, a chinela caiu no regaço, e D. Benedita ficou a olhar para o ar, parada, fixa.
  • 8. DONA BENEDITA aspectos temáticos a veleidade 1) grau mais baixo da vontade humana; vontade inútil, imperfeita; 2) volubilidade; 3) ideia caprichosa ou excêntrica que vem à mente.
  • 9. DONA BENEDITA aspectos temáticos a veleidade o crítico José Agripino Grieco chama Dona Benedita de a ventoinha humana: [caráter ambivalente, cambiante do texto e da personagem] perfil psicológico conto psicológico conto fantástico a ventoinha humana metáfora do gênero textual que, diante dos caminhos que se bifurcam, acaba por mudar; metáfora que refere ao caráter inconstante e melífluo da protagonista.