2. O ENREDO
dona benedita
O narrador – de terceira pessoa – não sabe precisar a idade de Dona Benedita; na primeira cena,
o Cônego Roxo trincha o peru; o marido da protagonista [Desembargador] está há alguns anos no
Pará; no jantar, estavam, além da dona da casa e do religioso, Eulália, um menino de 12 anos e
duas visitas – Dona Maria dos Anjos e Leandrinho; este é pretendente de Eulália e aquela é uma
amiga da protagonista; Leandrinho propõe um brinde ao Desembargador e Dona Benedita fica
emocionada; a protagonista conheceu Dona Maria dos Anjos há pouco tempo, entretanto, as duas
são muito amigas; as más línguas dão várias versões para o desaparecimento do Desembargador,
a principal é que o marido da protagonista está amasiado com outra mulher há dois anos – é por
isso que não voltou para casa; Dona Benedita planeja a viagem cinco vezes, mas acaba por não ir;
apesar de a mãe e o Cônego Roxo desejarem que Eulália se case com Leandrinho, esta namora, às
escondidas, com um oficial da marinha [Tenente Mascarenhas]; Benedita escreve uma carta ao
marido em q fala sobre a intenção de casar a filha com Leandrinho, volta à leitura de um romance:
lia três ao mesmo tempo, sem chegar a terminar um; chega o Cônego para o jantar: falam sobre o
casamento de Eulália e Leandrinho; a filha da protagonista reluta em se casar com o filho de Maria
3. O ENREDO
dona benedita
dos Anjos; Dona Benedita se exaspera e quer obrigar a filha ao casamento; a protagonista falta a
um encontro com Maria dos Anjos – depois a trata com frieza; conhece, então, Dona Petronilha,
cuja irmã namorava um oficial da marinha cujo irmão, Mascarenhas, também era oficial; o jantar
transcorre otimamente bem: Dona Benedita se encanta pelo oficial fardado, Mascarenhas, e o
convida para ir a sua casa; durante a visita, Mascarenhas pede a mão de Eulália em casamento;
Benedita envia, então, outra carta ao marido, comunicando que o noivo mudara; Maria dos Anjos
não é convidada [por displicência] para o casamento; morre o Proença – Dona Benedita quer ir ao
Pará, honrar a memória do marido, mas acaba não indo; após o casamento, Eulália e Mascarenhas
vão morar com Dona Benedita – há alguns desentendimentos entre o genro e a sogra, devido à
disciplina daquele; viúva, Dona Benedita é cortejada por um negociante e por um advogado, mas
não consegue se decidir por nenhum deles; na última cena, irrompe o fantástico:
Nesse quadro apareceu-lhe uma figura vaga e transparente, [...]. A figura veio até ao peitoril da
janela de D. Benedita; e de um gesto sonolento, com uma voz de criança, disse-lhe estas
palavras sem sentido: - Casa... não casarás... se casas... casarás... não casarás... e casas...
casando...
4. DONA BENEDITA
aspectos temáticos
temas
análise psicológica veleidade
5. DONA BENEDITA
aspectos temáticos
a análise psicológica
perfil
a análise de caracteres é feita por intermédio da construção do perfil da personagem
observação do comportamento
é por intermédio da observação do comportamento da personagem que o narrador a analisa
o fantástico
presente na última cena, serve apenas para reforçar [ironicamente] o caráter da personagem
6. DONA BENEDITA
aspectos temáticos
a análise psicológica
o cotidiano vazio da burguesia
a protagonista é uma personagem realista marcada pela hesitação e inconstância dos desejos;
a volubilidade aparece em pequenas ações: leitura, casamento, viagem, amizades;
fortes marcas do patriarcado
o desembargador, mesmo ausente, presentifica-se: casamento, ceias;
cenas do cotidiano burguês
vida privada: ceias, casamentos, reuniões familiares, arranjos matrimoniais, viagens, festas.
7. DONA BENEDITA
aspectos temáticos
a veleidade
Creio que é bastante ver o modo por quer ela compõe as rendas e os babadinhos do roupão
para compreender que é uma senhora pichosa, amiga do arranjo das coisas e de si mesma. Noto
que rasgou agora o babadinho do punho esquerdo, mas é porque, sendo também impaciente,
não podia mais “com a vida deste diabo”. Essa foi a sua expressão, acompanhada logo de um
“Deus me perdoe!” que inteiramente lhe extraiu o veneno. Não digo que ela bateu com o pé,
mas adivinha-se, por ser um gesto natural de algumas senhoras irritadas. Em todo caso, a cólera
durou pouco mais de meio minuto. D. Benedita foi à caixinha de costura para dar um ponto no
rasgão, e contentou-se com um alfinete. O alfinete caiu no chão, ela abaixou-se a apanhá-lo.
Tinha outros, é verdade, muitos outros, mas não achava prudente deixar alfinetes no chão.
Abaixando-se, aconteceu-lhe ver a ponta da chinela, na qual pareceu-lhe descobrir um sinal
branco; sentou-se na cadeira que tinha perto, tirou a chinela, e viu o que era: era um roidinho
de barata. Outra raiva de D. Benedita, porque a chinela era muito galante, e fora-lhe dada por
uma amiga do ano passado. Um anjo, um verdadeiro anjo! D. Benedita fitou os olhos irritados
no sinal branco; felizmente a expressão bonachã deles não era tão bonachã que deixasse
eliminar de todo por outras expressões menos passivas, e retomou o seu lugar. D. Benedita
entrou a virar e revirar a chinela, e a passá-la de uma para outra mão, a princípio com amor,
logo depois maquinalmente, até que as mãos pararam de todo, a chinela caiu no regaço, e D.
Benedita ficou a olhar para o ar, parada, fixa.
8. DONA BENEDITA
aspectos temáticos
a veleidade
1) grau mais baixo da vontade humana; vontade inútil, imperfeita;
2) volubilidade;
3) ideia caprichosa ou excêntrica que vem à mente.
9. DONA BENEDITA
aspectos temáticos
a veleidade
o crítico José Agripino Grieco chama Dona Benedita de a ventoinha humana:
[caráter ambivalente, cambiante do texto e da personagem]
perfil psicológico conto psicológico conto fantástico
a ventoinha humana
metáfora do gênero textual que, diante dos caminhos que se bifurcam, acaba por mudar;
metáfora que refere ao caráter inconstante e melífluo da protagonista.