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Colégio Municipal Liceu Cacimbinhense 
A História de Alagoas 
Dos Caetés aos Marajás 
Prof. João André Amorim Ferreira
Introdução 
A História de Alagoas dos Caetés aos Marajás é um relato da História desse pequeno 
Estado brasileiro (o segundo menor, depois de Sergipe), que ao longo de quase cinco séculos, 
vem demonstrando ao país, que tem um povo trabalhador, honesto e sempre esperançoso. 
Escolhi esse título, lembrando os índios Caetés, que foram os primeiros a manchar a imagem 
desta terra, com o episódio do massacre de todos os tripulantes do navio que levava à Portugal 
o primeiro bispo do Brasil, Dom Péro Fernandes Sardinha. Obviamente, para eles (os índios), 
um fato normal. Afinal, nunca tinham visto um branco. E, com tantas vestimentas. Imaginem 
como o bispo estava vestido? 
Marajás foi um termo muito utilizado pelo ex-governador e ex-presidente da 
República, Fernando Collor de Mello, para designar os privilegiados funcionários públicos, que 
recebem altos salários e pouco ou nada produzem. Na realidade, o termo vem da Índia, numa 
alusão aos ricos e poderosos daquele país, onde 90% da população de quase 1 bilhão de 
habitantes, vive na miséria. 
Faço um relato de todos os acontecimentos importantes da verdadeira História de 
Alagoas, com base em pesquisa realizada ao longo dos últimos anos. Opino, porque sou um 
formador de opinião, tanto como jornalista, tanto como professor. Abro o debate. Sempre agi 
assim. Conto fatos que geraram escândalos, culminando com renúncias de governadores e até 
mesmo um impeachment, o primeiro concretizado no país. As oligarquias políticas que sempre 
dominaram o Estado até chegar ao “pulo do gato”, que é a ascensão da esquerda aos 
governos do Estado e de Maceió. 
As sucessivas crises econômicas; alguns anos de crescimento; a descoberta das 
belezas naturais da terra pelos turistas do país e do exterior, e o crescimento rápido de Maceió. 
A miséria, o desemprego, as doenças endêmicas, o analfabetismo e a mortalidade infantil, 
esses dois últimos itens, colocam o Estado como campeão nacional. Enfim, uma História “nua 
e crua”, contada por um contador de histórias, que não tinha escapatória: virou um jornalista.
No tempo dos Dinossauros 
Os arqueólogos comprovam: Alagoas foi habitado por dinossauros. Vez por outra, 
aparece alguém confirmando que viu inscrições em pedras; descobriu ossos de animais pré-históricos 
e outros objetos que existiram na pré-história. 
O historiador Jayme de Altavilla, em seu livro História da Civilização de Alagoas, 
refere-se a uma variedade de documentos arqueológicos, encontrados ao longo dos anos em 
várias regiões. 
Em Santana do Ipanema, no vale do rio Caiçara, foram encontrados esqueletos de 
animais pré-históricos. Também surgiram vestígios desses animais em Viçosa e São Miguel 
dos Campos. Em Anadia, no sítio Taquara, descobriram um cemitério de índios. 
O historiador viçosense, Alfredo Brandão, também é outro que fala em seus livros 
sobre a pré-história em Alagoas. Afirma que na propriedade Pedras de Fogo (da família 
Loureiro), encontra-se uma pedra com diversas cruzes gravadas, sendo uma delas tão bem 
gravadas que passa por milagrosa. Também fala em inscrições descobertas em pedras nos 
municípios de Capela, Atalaia, Porto de Pedras e Anadia. Sua coleção de instrumentos de 
pedras, como tambetá, machadinha e outros, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico 
de Maceió. 
Nas margens do rio São Francisco, já descobriram muitas ossadas de animais pré-históricos. 
É uma região, comprovadamente habitada naquela época. Um museu instalado no 
Xingó Parque Hotel expõe muitos objetos arqueológicos descobertos por toda aquela 
imensidão de terras. No Centro de Apoio da Hidrelétrica de Xingó, do lado alagoano, existe 
uma exposição fixa de arqueologia. 
Terra à vista 
Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o Estado de Alagoas, era 
um mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos. Rios perenes, muito peixe, frutas, 
animais soltos. Enfim, a flora e a fauna exuberantes, enchiam os olhos dos portugueses que 
foram chegando para iniciar o processo de colonização. 
A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores 
batizassem logo a região de Alagoas. Elas continuam embelezando a paisagem típica do 
Estado, se constituindo em pontos de atração turística e ainda em sustento de milhares de 
alagoanos, que tiram dela, o peixe e o sururu, molusco típico, consumido não só pelos pobres, 
mas presente na mesa dos ricos, da classe média e dos bares e restaurantes.
Esse pedaço de terra brasileiro, entre o Litoral e o Sertão, pertencia a Capitania de 
Pernambuco, comandada pelo donatário Duarte Coelho, que em visita ao Sul, deparou-se com 
o rio São Francisco. Lá, edificou um forte e deu origem a cidade de Penedo, comprovadamente 
o primeiro núcleo habitacional de Alagoas. Hoje, é uma cidade das mais importantes do 
Estado. Durante várias décadas, foi a mais progressista do interior. Perdeu para Arapiraca na 
segunda metade deste século. Mas continua imponente, com seu casario colonial, seu povo 
culto, seu potencial turístico e sua economia que cresce a cada dia. 
Imaginemos Alagoas nos tempos do descobrimento do Brasil! Da foz do São 
Francisco a Maragogi: índios nativos como os Caetés e os Potiguaras. Nus, livres, vivendo da 
caça e da pesca, falando língua própria, usufruindo dessa beleza natural, com rios e lagoas 
sem poluição. Um povo festeiro, cultuando suas tradições. Era feliz e livre da presença do 
branco português, que aqui chegou para marginalizá-lo, exigir que aprendesse sua língua, sua 
religião e seus costumes. Todos perderam a identidade, e se tornaram escravos da ganância 
dos colonizadores, que só queriam extrair a riqueza da terra e enviar para Portugal. 
Nossos índios eram vaidosos, festeiros e valentes. Adoravam se pintar com várias 
cores, dançar e cantar. Achavam o nariz chato um importante requisito de beleza. No Sul eram 
os Caetés e suas subtribos, como a dos Caambembes, instalada em Viçosa. No Norte, os 
Potiguaras. As demais tribos eram: 
- Abacatiaras, que viviam nas ilhas do rio São Francisco. 
- Umans, no alto Sertão, às margens do rio Moxotó. 
- Xucurus, em Palmeira dos Índios. 
- Aconans, Cariris, Coropotós e Carijós, às margens do São Francisco. 
- Vouvés e Pipianos, no extremo ocidental de Alagoas. 
Esses nativos alagoanos eram bronzeados do sol escaldante, moravam em cabanas 
de palha, reunidas em forma de aldeias e viviam da caça e da pesca. Promoviam festas, 
utilizando-se de instrumentos musicais como corneta, flauta e maracá. Em combate, atiravam 
sobre o inimigo, flechas envenenadas e sobre as aldeias, flechas com algodão inflamado, para 
incendiá-las.
As índias alagoanas trabalhavam muito. Fiavam algodão para confeccionar cordas e 
redes e ainda fabricavam vasos de barro para uso doméstico. O adultério era considerado 
crime. 
Nas aldeias, todos se reuniam em forma de República. O chefe maior era o Cacique, 
escolhido entre os mais velhos e respeitados. O Pajé era o conselheiro espiritual. Nas grandes 
crises, eles se reuniam em conselhos, denominados Carbés. 
Hoje, Alagoas tem as seguintes tribos: 
- Xucurús, em Palmeira dos Índios, muito bem organizada, já toda civilizada, com escola, posto 
de saúde, posto telefônico e outros benefícios. 
- Cariris, em Porto Real do Colégio, também com toda a infraestrutura econômica e social, 
funcionando. 
- Tingui-Botós, em Feira Grande. 
- Wassus em Joaquim Gomes, e outra descoberta recentemente, ainda em estudo na Funai – 
Fundação Nacional do Índio, para constatar sua verdadeira identidade. É um pequeno grupo 
que vive no alto Sertão alagoano. 
Assim era Alagoas na época do descobrimento do Brasil. Esse pedaço de Brasil, 
abençoado pela natureza, livre, com a Mata Atlântica exuberante, os rios e lagoas de águas 
cristalinas. 
Os colonizadores 
A primeira expedição ao Sul da Capitania de Pernambuco foi conduzida pelo próprio 
donatário, Duarte Coelho, que saiu do Recife beirando o litoral até chegar à foz do rio São 
Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local privilegiado pela natureza, com o rio 
cheio de pedras. Edificou um forte e deu origem a povoação de Penedo. 
Duarte Coelho, segundo os historiadores, era dotado de muita capacidade 
administrativa e devotado à causa do governo português. Suas cartas ao Rei Dom João III, 
eram verdadeiros relatos sobre a riqueza da capitania, suas paisagens e os índios. Fundou 
Olinda, fez aliança com os índios e iniciou o plantio da cana-de-açúcar, dando origem aos 
primeiros engenhos. 
Mas toda essa extensão de terras, entre o Litoral e o Sertão precisava ser 
colonizada. Aí surge a figura de um alemão: Cristhovan Lintz, depois aportuguesado para
Cristovão Lins. Ele vivia em Portugal, onde se casou com Adriana de Hollanda, filha do 
holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda. O 
casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século do descobrimento (XVI) e ganhou 
uma imensa sesmaria, compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio 
Manguaba. 
O segundo colonizador foi o português Antônio de Barros Pimentel, casado com 
Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele chegou ao porto da 
Barra Grande (Maragogi), ainda com a roupa que usava na Corte, em Lisboa. Era um nobre, 
descendente de uma das mais importantes famílias de Portugal, originária da cidade de Viana, 
mas com os seus ancestrais surgidos na Espanha. Ganhou uma sesmaria que compreendia as 
terras entre os rios Manguaba, passando pelo Camaragibe e chegando ao rio Santo Antônio, 
em São Luiz do Quitunde. Construiu engenhos de açúcar e criou gado. 
A sesmaria que compreendia as margens das lagoas Mundaú e Manguaba pertencia 
ao português Diogo Soares, enquanto em São Miguel dos Campos, o dono das terras era 
Antônio de Moura Castro e as de Penedo, comandadas por Rocha Dantas. Outras sesmarias 
de menor porte foram surgindo em vários pontos de Alagoas. 
Os engenhos 
A História de Alagoas é a história pela posse da terra. Doadas as sesmarias, os 
novos proprietários procuraram logo fazer a derrubada das matas e plantar cana-de-açúcar, 
surgindo os engenhos banguês que sustentaram a economia alagoana durante quatro séculos, 
até serem substituídos pelas usinas. 
Os primeiros engenhos surgiram nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo 
Antônio, na região Norte de Alagoas. A terra fértil, logo se adaptou a essa nova atividade. E, 
assim, começa a formar-se a chamada aristocracia açucareira, com as grandes famílias 
dominando a economia. 
O escritor Manoel Diegues Júnior, em seu livro O Banguê das Alagoas, faz um relato 
apaixonado dessa atividade que iniciou o processo de desenvolvimento socioeconômico e 
cultural da Comarca, Capitania e Província de Alagoas. Mostra os costumes e tradições, a 
religiosidade, o domínio político, o folclore saído dos engenhos, enfim, um estudo de sociologia 
rural, que deveria ser lido por todos aqueles que realmente se interessam pela História desse 
povo bom, trabalhador, honesto e hospitaleiro, que é o alagoano. 
Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Produziam o açúcar, o 
mel e a rapadura. Logo que eram construídos, seus proprietários procuravam também edificar
uma Igreja. A casa grande emoldurava a beleza da paisagem típica da região. Algumas eram 
luxuosas, com móveis e objetos importados. A senzala, onde viviam os escravos amontoados; 
a bagaceira; a casa de purgar; o armazém (empório comercial) e outras edificações formavam 
um povoado. 
Os primeiros engenhos foram construídos por Cristovão Lins, o alemão que se 
constituiu no verdadeiro colonizador de Alagoas. Ele batizou logo com os nomes de Escurial, 
Maranhão e Buenos Aires. Ficavam no atual município de Porto Calvo, que ele também fundou 
na segunda metade do século XVI. 
Depois foram surgindo outros engenhos, já com o segundo colonizador, Antônio de 
Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda, irmã da mulher de Cristovão Lins. Esse casal 
fixou-se às margens do rio Camaragibe, terras hoje pertencentes aos municípios de Matriz e 
Passo de Camaragibe. Mas a sua sesmaria atingia ainda o vale do rio Santo Antônio, onde 
também edificou engenhos, como o próprio Engenho Santo Antônio, que funcionou por mais de 
três séculos, até ser transformado na atual e moderna Usina Santo Antônio, em São Luiz do 
Quitunde, desde a década de 1950, pertencente a família Correia Maranhão. 
Outros engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e 
Paraíba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através 
do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e 
rios, até chegar a vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando pela velha capital (atual 
Marechal Deodoro) e atingir o porto. 
Hoje, o transporte é rápido e seguro. Das usinas, saem os caminhões-tanque, com o 
açúcar a granel, atravessando estradas asfaltadas e chegando à Maceió, onde é descarregado 
no Terminal Açucareiro do Porto de Jaraguá em fração de minutos, saindo por uma esteira 
rolante e chegando ao porão dos navios, para daí seguir para a Europa, América do Norte, 
Ásia, África e outros Continentes, garantindo a Alagoas uma boa posição (segundo lugar a 
nível nacional) na produção de açúcar, perdendo apenas para São Paulo. 
Costumes e tradições 
O dia-a-dia nos engenhos alagoanos dos séculos XVII, XVIII e XIX, era muito 
diferente do das atuais usinas e destilarias. Não existem mais escravos, e sim trabalhadores, 
mas que continuam servis aos patrões. A maioria sem carteira assinada, ganhando pelo que 
produz. Os escravos eram negros, enquanto os trabalhadores atuais são mestiços, brancos ou 
negros. Os costumes e tradições mudaram muito.
Não existem senzalas, mas casas populares, em algumas usinas. A maioria preferiu 
deixar os trabalhadores morando nas cidades próximas e garantir o transporte para a usina ou 
o canavial. Assim, se ver livre do vínculo empregatício e a obrigação de garantir moradia e 
outros benefícios sociais. A casa grande, ainda existe. Mas geralmente o usineiro, vive mais na 
capital, em confortáveis mansões ou apartamentos luxuosos do Farol ou dos bairros da orla 
marítima. 
As sinhazinhas (filhas dos senhores de engenho) eram preparadas para casar logo 
que chegassem a adolescência. Estudavam as primeiras letras com professores particulares na 
própria casa grande, aprendiam noções de latim e francês; bordavam, cozinhavam e liam 
poesias. Eram românticas, mas dificilmente casavam por amor, sendo obrigadas a casar - na 
maioria das vezes, logo que iniciavam a adolescência - com primos legítimos e até tios. Tudo 
para preservar o patrimônio da família. 
As patricinhas (filhas dos usineiros) são meninas livres, que vivem a doce vida de 
filhas de milionários, viajando para o exterior, estudando nos melhores colégios da cidade, ou 
mesmo fora do país; usam roupas de grifes famosas e não mais são obrigadas a casar com 
quem o pai quer, embora que dificilmente procurem algum rapaz pobre. Algumas chegam a 
engajar-se no trabalho da usina, logo que terminam a universidade, sejam como 
administradoras de empresas ou assistentes sociais, economistas, advogadas, médicas, 
dentistas ou qualquer outra profissão de nível superior. Os rapazes, também participam da 
atividade produtiva do patrimônio da família, na maioria das vezes, já como profissionais de 
nível superior, seja como engenheiro, agrônomo ou administrador de empresa. 
Hoje, as senhoras dos usineiros, procuram trabalhar também na própria usina, 
ajudando o marido em atividades sociais, como a assistência às famílias dos trabalhadores. Já 
não são mais aquelas matronas, que se enfurnavam na casa grande, só cuidando das 
atividades domésticas e gerando filhos. Algumas optam pela vida produtiva na capital, atuando 
em atividades do comércio, como boutiques de marcas sofisticadas. Mas, são produtivas, 
atualizadas, viajadas e não mais esbanjam riquezas. 
Nos engenhos, as festas eram restritas a casa grande. Os escravos ficavam nas 
senzalas, cultuando suas tradições africanas. Eram proibidos de, pelo menos, observar os 
festejos realizados pelos patrões, que comemoravam as festas do santo padroeiro, as de São 
João e São Pedro; o Natal e o Ano Novo, além de casamentos, aniversários, batizados e outras 
cerimônias. A capela era o centro de todas as atenções. 
Nas usinas desse início de século, realizam-se festas promovidas pelos 
trabalhadores, geralmente em clubes sociais administrados por eles próprios. Ao invés do 
autêntico folclore típico da zona canavieira, dançam e cantam o axé-music. As moças usam
mini-saia ou calça colada ao corpo. Pouco se diferenciam das filhas do patrão. Vez por outra, 
aparece alguma dessas filhas do proletariado, usando uma calça jeans de marca famosa, 
comprada a prestação numa boutique da capital. 
Ao invés do barracão (armazém de venda de alimentos) dos antigos engenhos, os 
trabalhadores das usinas, compram em supermercados ou mercadinhos das cidades próximas, 
ou mesmo na feira-livre. Os hábitos alimentares mudaram muito. Recebem seus salários no 
último dia útil da semana, e logo providenciam o abastecimento da cozinha, que dispõe de 
fogão a gás, geladeira, liquidificador e outros eletrodomésticos. 
A televisão é a responsável pela mudança de hábito do homem do campo. Nas 
usinas, o trabalhador fixo, que dispõe de casa, já exibe no telhado, uma antena parabólica. Os 
filhos crescem vendo Xuxa, Angélica, Ratinho e muito mais. 
Em algumas usinas, cujos proprietários são mais conscientes da realidade econômica 
e social, que prioriza a assistência ao trabalhador, funciona escolas e creches para as crianças, 
além de assistência médica e odontológica. Nos engenhos banguês, crianças filhas de 
escravos ou trabalhadores brancos, não frequentavam escolas, que eram só para os filhos dos 
patrões. 
Existem bons exemplos de como conduzir uma empresa moderna, pensando no 
social: A Caeté, do Grupo Carlos Lyra; Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley; Leão (Rio Largo), 
do Grupo Leão; Santo Antônio (São Luiz do Quitunde), do Grupo Correia Maranhão; Porto Rico 
(Campo Alegre), do Grupo Olival Tenório, entre outras. 
As vilas 
Quando o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho visitou o 
Sul do seu domínio, deslumbrou-se com a região do baixo São Francisco, parando num local e 
dando início a povoação de Penedo. Lá construiu um forte, e daí em diante, foram surgindo 
novos moradores, culminando com o aparecimento da primeira vila fundada em Alagoas. 
No século XVII, já despontando como a mais importante vila do Sul da Capitania de 
Pernambuco, foram sendo construídas as primeiras Igrejas e o convento, além de prédios 
diversos. Terra fértil, logo foi atraindo agricultores que plantavam todo tipo de lavoura, além do 
crescimento rápido da pecuária. O comércio expandiu-se. Penedo já era a mais importante vila, 
bem mais desenvolvida do que a chamada “cabeça-de-comarca”, a vila de Alagoas (atual 
Marechal Deodoro).
Hoje, Penedo esbanja progresso. Detém um comércio bem movimentado, várias 
agências bancárias, ligações com o país e o mundo através do DDD/DDI, indústrias de álcool e 
outros setores; uma sólida formação cultural, com várias escolas de primeiro e segundo graus, 
além de uma Faculdade, jornal, rádios, teatro e festas tradicionais. O Relatório Estatístico de 
Alagoas, de 1998, aponta uma população de 40.554 habitantes na cidade e mais 13.888 na 
zona rural. É tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Durante vários anos, foi a mais 
desenvolvida cidade do interior alagoano, perdendo esse posto para Arapiraca, na década de 
1960. Sua decadência começou quando foi construída a ponte sobre o rio São Francisco, em 
Porto Real do Colégio, ligando Alagoas a Sergipe. A travessia de carros e passageiros, ainda 
continua na cidade, ligando-se ao outro lado do rio, através do rio. Mas o movimento mais 
intenso mesmo ficou por conta da ponte rodoferroviária. 
Mas aos poucos, a cidade foi soerguendo sua economia, e hoje é importante centro 
econômico e de turismo cultural. Durante alguns anos, realizava o Festival de Cinema, atraindo 
artistas e intelectuais de várias partes do país. Mantém o Festival de Tradições Culturais, a 
Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Gincana de Pesca e Arremesso, Penedo Fest e outros 
eventos de significativa importância socioeconômica, como seminários, congressos, simpósios, 
peças de teatro, etc. Suas Igrejas, seus sobrados e a beleza do rio São Francisco atraem 
muitos turistas, que dispõem de bons hotéis, restaurantes e passeio de barcos pelo rio, indo até 
a foz, na praia do Peba. 
Ainda no século XVII, emancipa-se o Povoado de Porto Calvo, tornando-se a 
segunda Vila. Sua Igreja, concluída em 1610, garantiu o título de primeira Freguesia fundada 
em Alagoas, antes da de Penedo. Preserva ainda seu altar-mor, todo em madeira, com a 
imagem de Nossa Senhora da Apresentação (sua padroeira), do Cristo crucificado e de Nossa 
Senhora da Conceição. 
Palco da luta dos holandeses pela colonização de Pernambuco, Porto Calvo ergue-se 
em uma colina, onde abaixo um imenso vale cortado pelo rio Manguaba, é ocupado por 
canavial, pastagem e lavouras de vários tipos. Terra fértil, logo foi atraindo novos moradores. E 
a vila cresceu, esbanjou progresso, mas foi decaindo ao longo dos séculos, somente 
ressurgindo no atual. Hoje, detém um comércio em franca ascensão, agências bancárias, 
sistema de telefonia fixa e celular e toda a infraestrutura para se desenvolver mais ainda. O 
Relatório Estatístico de Alagoas, versão 1998, aponta uma população de 24.150 habitantes, 
sendo 12.798, na cidade. Pouca coisa lembra o seu passado. A Igreja de Nossa Senhora da 
Apresentação, é a única construção secular. Alguns sobrados construídos no início do século 
XX e, ainda o Alto da Forca, onde dizem ter sido enforcado um dos seus filhos mais ilustres: 
Domingos Fernandes Calabar.
A terceira povoação fundada em Alagoas foi Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, 
alusão à lagoa Manguaba, onde está edificada às suas margens. A Lagoa do Norte é a 
Mundaú, que banha Maceió, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A vila foi 
crescendo e, logo no século XVIII tornou-se cabeça-de-comarca, espécie de capital. Quando 
da invasão holandesa, foi quase toda destruída, com suas casas sendo incendiadas pelos 
invasores. Mas, recuperou logo, e cresceu novamente. Na emancipação política de Alagoas, já 
com o nome de Alagoas, foi escolhida como capital da nova Capitania. Perdeu espaço para 
Maceió, que surgiu no século XVII, através de um engenho banguê. 
Seu patrimônio histórico é rico em beleza arquitetônica, como o Convento e o Museu 
de Arte Sacra; a matriz de Nossa Senhora da Conceição; o Palácio Provincial; a casa onde 
nasceu o marechal Deodoro; a cadeia pública e tantos outros monumentos, além do casario 
colonial e a beleza da lagoa Manguaba. 
Hoje, é uma cidade em pleno desenvolvimento socioeconômico, com boa rede de 
educação e saúde (possui uma Escola Técnica Federal e colégios de primeiro e segundo 
graus), além de hospitais e postos de saúde. Detém o Distrito Multifabril, com várias fábricas, 
gerando empregos e impostos para os cofres públicos, além da usina Sumaúma (açúcar e 
álcool). Figura entre o quarto maior município arrecadador de ICMS. É importante centro 
turístico, com seu patrimônio histórico intocável, e a praia do Francês, conhecida em todo o 
país. Sua população, segundo o Relatório Alagoas, é de 28.215 habitantes, sendo 17.451, na 
área urbana. 
A quarta povoação fundada, foi Santa Luzia do Norte, às margens da Lagoa Mundaú. 
Quase era destruída pelos holandeses, mas a força de sua população liderada por dona Maria 
de Souza, impediu a invasão. Eles recuaram e a vila continuou em seu ritmo normal. Muitos 
anos depois, foi rebaixada condição de vila, ficando pertencendo a Rio Largo, só se 
emancipando na década de 1960. Hoje, dispõe de uma importante fábrica de fertilizantes e 
investe também no turismo. Detém uma população de 6.397 habitantes, sendo 5.139, na 
cidade. 
Palmares – grito de liberdade 
Os negros africanos, que chegavam aos montes aos engenhos de Alagoas, logo que 
foi autorizado o tráfego negreiro, viviam como escravos, sendo maltratados, e trabalhando para 
enriquecer o patrão branco. Obviamente que eram revoltados e procuravam a todo custo, 
conquistar a liberdade. 
Era preciso que surgisse um líder da raça, que incentivasse os demais a lutar pela tão 
sonhada liberdade. E, assim entra em cena, Ganga Zumba que levou um grupo de negros para
um local distante dos canaviais, no alto da Serra da Barriga, no atual município de União dos 
Palmares. Os engenhos localizavam-se nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo 
Antônio. A notícia foi se espalhando e a cada dia, chegavam mais negros fugitivos. 
Logo batizaram o local de Quilombo dos Palmares. Terra fértil, boa para o plantio de 
qualquer tipo de lavoura, foi se tornando um importante centro produtor. Os negros construiram 
uma verdadeira civilização, assim como era na África. Ganga Zumba se constituía no Chefe de 
Governo e tinha seus Ministros. Formou-se então uma verdadeira República Parlamentarista. 
Um avanço na época. Lá, eles viviam livres, falavam seu próprio idioma, não eram maltratados 
pelos brancos e podiam cultuar suas tradições religiosas e festivas. 
Vez por outra, os portugueses, brasileiros e até os holandeses, tentaram acabar com 
esse refúgio dos negros. Não conseguiram. A população negra era mais numerosa e 
organizada. O tempo foi passando, e Ganga Zumba já não conseguia ter forças para liderar a 
comunidade. Na tradição africana, a hereditariedade era passada de tio para sobrinho. E, 
assim ele escolheu um desses sobrinhos: Zumbi, um jovem negro, forte, educado por um padre 
de Porto Calvo, que logo se afeiçoou a causa da liberdade integrou-se ao Quilombo, e tornou-se 
o maior líder revolucionário da História do Brasil, finalmente reconhecido por decreto 
assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20 de novembro de 1995, 
exatamente quando o país reverenciava os 300 anos de sua morte. 
Zumbi era um líder nato. Sua companheira Dandara, uma mulher forte, guerreira, que 
liderava o grupo feminino. Organizado, logo pôs ordem no Quilombo, nomeando seus 
assessores e distribuindo tarefas para toda a população, que era preparada para a batalha. 
Quando esse dia chegava, ninguém dormia. O quilombo fervia. Eram homens, mulheres e 
crianças de prontidão para o ataque. E foram vários. 
Por quase um século o Quilombo dos Palmares resistiu. Mas em novembro de 1695, 
os brancos conseguiram subir a Serra da Barriga. Era um grupo numeroso e fortemente 
armado, liderado por Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira. O sangue jorrou. Milhares de 
negros foram barbaramente assassinados. Zumbi conseguiu fugir acompanhado de alguns de 
seus companheiros. Lutou até o fim, quando viu tudo que construiu ser destruído e seus irmãos 
de cor, sendo mortos. 
Existem duas versões sobre a morte de Zumbi. A primeira é a de que ele suicidou-se, 
pulando de um precipício na Serra da Barriga. Mas os historiadores da época, afirmam que ele 
foi assassinado mesmo, depois de alguns dias da destruição total do Quilombo. Sua cabeça foi 
cortada e levada ao Recife, para ser exposta ao público como um troféu. Era o dia 20 de 
novembro de 1695. E depois de três séculos, essa data vem sendo lembrada como o Dia
Nacional da Consciência Negra. A cada ano, centenas de negros e brancos sobem à Serra da 
Barriga nesse dia, para reverenciar Zumbi e sua raça. 
O local é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Mas precisa melhorar sua 
infraestrutura. Foi construída uma vila cenográfica, lembrando o próprio Quilombo. No alto da 
serra, existe uma estátua, lembrando a figura do líder maior, mastro para bandeiras e muito 
espaço, com o verde predominando por todos os lados. Além, é claro, de um bonito visual para 
toda a zona da Mata. É uma das mais altas serras do Estado. 
O projeto para construção do Memorial Zumbi, já existe. Mas continua engavetado. 
Faltam recursos financeiros. É sempre assim: Quando se pensa em cultura, não existe dinheiro 
do governo, que só beneficia mesmo os banqueiros e outros grandes produtores. Seria a 
construção de um espaço cultural no alto da serra, com museu, biblioteca e teatro. A luta dos 
movimentos negros continua. Já apresentaram vários avanços. A própria cidade de União dos 
Palmares, lembra seu passado histórico. Em vários pontos, vê-se o nome de Zumbi e do 
Quilombo dos Palmares. Em Maceió, existem as praças Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares, 
além de uma escola municipal. O aeroporto também lembra esse episódio que se constituiu no 
primeiro grito de liberdade do Brasil. 
Terra prometida 
A fertilidade da terra que depois se transformou em Capitania, Província e Estado de 
Alagoas, atraía muita gente. E, com o avanço da invasão de outros povos europeus ao Brasil, 
logo esse pedaço da então Capitania de Pernambuco, ficou muito visado. 
Primeiro foram os franceses, que chegaram para explorar o pau-brasil. Não passaram 
muito tempo, mas deixaram uma marca: a construção do primeiro porto, que ficou conhecido 
como Porto dos Franceses, aproveitado depois como único porto da região, para o transporte 
do açúcar em demanda a Portugal. E foram quase três séculos com esse local contribuindo 
decisivamente com o progresso de Alagoas, até o surgimento do Porto de Jaraguá. Hoje, ainda 
existe um resquício aquela época: a carcaça de um navio francês, que, quando a maré está 
baixa, fica bem visível. E esse curto período vivido pelos invasores, imortalizou-se na História e 
está com o nome na “boca do povo”. É a praia do Francês, a mais badalada do litoral alagoano, 
conhecida no país e no mundo, como uma das mais bonitas do Brasil. Pertence ao município 
de Marechal Deodoro, distante poucos quilômetros da capital. 
Mas a fase mais duradoura dessas invasões foi mesmo a dos holandeses, que 
transformaram a Capitania de Pernambuco no Brasil Holandês. E muito contribuíram para o 
seu desenvolvimento, embora Alagoas não tenha experimentado essa fase de apogeu, que se 
restringia mais ao Recife e Olinda. Por aqui, foi mais destruição, como ocorreu com a Vila de
Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (atual Marechal Deodoro), completamente incendiada 
pelos holandeses, que ainda tentaram fazer o mesmo em Santa Luzia do Norte, não 
conseguindo, devido à ação rápida de seus moradores, liderados por dona Maria de Souza. Em 
Penedo, construíram um forte, depois destruído pelos brasileiros e portugueses, que não 
queriam qualquer lembrança dessa fase. 
Outro episódio que marcou a presença dos holandeses em Alagoas, foi a Batalha da 
Mata Redonda, uma alusão ao local (hoje pertencente ao município de Porto de Pedras) onde 
ocorreu a mais sangrenta batalha entre holandeses, portugueses e brasileiros, vencida pelos 
primeiros, por ter um maior arsenal e maior contingente de homens. 
Mas os holandeses liderados por Maurício de Nassau, muito fizeram por 
Pernambuco. A cultura, a educação, o avanço na agricultura e na pecuária. Enfim, uma 
civilização que eles queriam formar, e transformar numa colônia desenvolvida. Construíram 
pontes (ainda existentes), teatros e outras grandes obras no Recife, cidade que ainda hoje 
lembra esse período de desenvolvimento cultural e econômico. É notório o gosto pela cultura 
do povo pernambucano, notadamente de Recife e Olinda. Por lá, surgem movimentos culturais 
que se expandem Brasil afora. O próprio frevo é criação dos pernambucanos. 
Os holandeses eram protestantes (evangélicos), mas não impunham essa religião 
aos brasileiros que eles já dominavam. Assim a religião católica continuou sendo forte na 
Capitania. Preocupavam-se com a educação, implantando métodos avançados de 
alfabetização para crianças e adultos. 
Maurício de Nassau foi inegavelmente o maior administrador que o Brasil já teve. Era 
organizado, trabalhador e extremamente ético, qualidades que os demais donatários 
portugueses não possuíam, optando mesmo pela exploração, a escravidão dos negros e índios 
e o aumento da produção de açúcar para enviar a Portugal. 
Calabar – herói ou traidor? 
Chamava-se Domingos Fernandes Calabar, um mulato filho de dona Ângela Álvares, 
nascido na Vila de Porto Calvo. Estudado, rico e com espírito de liderança, avançou no seu 
tempo. Mesmo assim, ainda era discriminado pelos brancos portugueses e brasileiros, por sua 
condição de mestiço e filho bastardo. Possuía engenhos de açúcar, muito dinheiro, estudou em 
Olinda, era culto e muito bem informado. 
Quando da Invasão Holandesa a Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos 
contra esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização
muito mais avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o 
lado dos holandeses. 
Começa então, a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter 
sido traidor, mas que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento, 
mostrando a sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não 
era uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não 
foi compreendido, obviamente. 
Calabar viveu as experiências mais desastrosas daquela época. Acompanhava os 
holandeses em suas batalhas, destruindo engenhos e fazendas. Sabia que tudo aquilo que 
acontecia era porque seus conterrâneos não aceitavam a proposta de colonização dos 
invasores, optando mesmo pelos portugueses, já que eram descendentes destes. 
Por conhecer Recife e seu avançado projeto de desenvolvimento econômico-cultural, 
queria que tudo aquilo fosse implantado em Porto Calvo e Penedo. Não conseguiu. Seus 
conterrâneos venceram. Mas ele deixou bem patente em sua carta, que preferia derramar seu 
sangue por uma causa justa, que ele abraçou, do que viver sob o domínio mesquinho dos 
portugueses, que só queriam mesmo explorar os brasileiros. Foi morto e esquartejado, com 
partes do seu corpo distribuídas pelas ruas da Vila de Porto Calvo. Mas, os holandeses 
conseguiram recuperar tudo e fizeram o seu enterro com honras militares. Passou para a 
História da Holanda, como herói. A História do Brasil, o considera um traidor. Mas era escrita 
pelos portugueses. Na Holanda, ele é um herói. Existe até uma praça no Centro de Amsterdã, 
com seu nome, além de livros e documentos que comprovam as ideias de colonização desse 
bravo alagoano. 
Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na 
História de Alagoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610 
(existe no alto de sua fachada, essa data), com seu altar-mor em madeira, originalíssimo e as 
imagens da sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a 
mais antiga freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca, 
onde dizem que ele foi enforcado, o Fórum, além de um clube, um bar e restaurante que levam 
o seu nome. Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória 
desse conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A 
esperança é de que um dia, ele seja finalmente considerado Herói Nacional, como foi Zumbi, 
outro que os portugueses também consideravam como traidor.
Rumo à Independência 
O progresso do Sul da Capitania de Pernambuco conhecido como Alagoas, fez com 
que sua população fosse logo desejando a independência. Mas nada era fácil. No início da 
segunda década do século XVIII, foi criada a Comarca de Alagoas, sob a jurisdição da 
Capitania de Pernambuco, e nomeado o primeiro Ouvidor Geral: José da Cunha Soares. 
Por não existir cursos jurídicos no Brasil, esse cargo era destinado a quem fosse mais 
letrado, com espírito de liderança. Transformava-se em comandante da Justiça, da Política e 
da Economia. E no período de mais de um século, entre 1711 a 1817 (ano da sua 
emancipação política), Alagoas teve 17 ouvidores-gerais. 
Foi exatamente na segunda metade do século XVIII, que surge Maceió, de um 
engenho de açúcar denominado Massayó. A palavra é de origem indígena, significando terra 
alagadiça, que deu origem ao riacho com o mesmo nome. O engenho, de propriedade de 
Apolinário Fernandes Padilha, localizava-se na atual Praça Dom Pedro II, com o engenho 
propriamente dito, a casa de purgar, a senzala, a casa grande e a capelinha em louvor a São 
Gonçalo, que ficava no meio do morro do Jacutinga (Ladeira da Catedral). Duraram poucos 
anos. Ficou em fogo morto e o povoando foi crescendo. Surgiram novos moradores, que logo 
foram construindo suas casas e formando um arruado. Em 5 de dezembro de 1815, o povoado 
é elevado a categoria de Vila, desmembrando-se da Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro). 
Surgiram ainda as povoações de Anadia, Atalaia, Camaragibe, São Miguel dos 
Campos, Poxim e Porto de Pedras. A Comarca tinha como sede a vila de Alagoas, atual 
Marechal Deodoro, uma espécie de capital, já com suas Igrejas monumentais, ainda hoje 
preservadas. Penedo, Porto Calvo e Santa Luzia do Norte, eram as outras vilas, que 
continuavam crescendo e atraindo novos moradores. 
Ainda no século XIX existiam em Alagoas as vilas de Água Branca, Mata Grande, 
Pão de Açúcar, Traipu, Piranhas, Palmeira dos Índios, São Miguel dos Campos, Quebrangulo, 
Assembleia (Viçosa), Imperatriz (União dos Palmares), São José da Laje, Murici, São Luiz do 
Quitunde, Coqueiro Seco e Pilar. 
A traição que deu certo 
A Comarca de Alagoas já esbanjava progresso, provocando ciumeira em meio às 
lideranças da Capitania de Pernambuco. Nas duas primeiras décadas do século XIX, já se 
apresentava em condições de se tornar independente. Mas os donatários não aceitavam. 
Afinal, era daqui que eles abocanhavam uma boa parcela da arrecadação de impostos, além 
da grande produção de açúcar dos nossos engenhos.
O Ouvidor Batalha, sempre sonhava em transformar Alagoas em Capitania e, ser o 
seu primeiro governador. Aproveitou a Revolução Pernambucana, que tinha como objetivo 
libertar-se de Portugal e, iniciou seu plano. Os revolucionários já haviam conquistado o apoio 
da Paraíba e Rio Grande do Norte. Faltavam Alagoas e Sergipe (Comarcas), além da Bahia e 
Ceará. 
Um emissário foi enviado do Recife a Salvador, para tentar conquistar esse tão 
sonhado apoio. Passando por Alagoas, propagava os ideais revolucionários e conquistava 
alguns adeptos. Mas o Ouvidor Batalha não se encontrava na sede da Comarca e sim na vila 
de Atalaia, já em campanha em prol da emancipação política de Alagoas. 
O emissário que trouxe a notícia para Alagoas e seguiu para Sergipe e Bahia, foi o 
Padre Roma. Aqui, encontrou um apoio de peso: o Comandante das Armas, Antônio José 
Vitoriano Borges da Fonseca, que atendendo ao pedido do Padre Roma, autorizou a destruição 
dos símbolos de Portugal e colocou em liberdade todos os presos. Passou por cima da 
autoridade maior da Comarca: o Ouvidor Batalha. Escreveu ao Conde D’Arcos, governador da 
Bahia, informando sobre os ideais da Revolução Pernambucana e seu apoio, pedindo o dele. 
Não conseguiu. Arrependeu-se de ter seguido os conselhos do Padre Roma. Era tarde demais. 
Em Atalaia, o Ouvidor Batalha, aproveitando os tumultos, escreve ao Conde D’Arcos 
comunicando-lhe das medidas que resolveu tomar: desmembrou a Comarca de Alagoas da 
jurisdição da Capitania de Pernambuco, enquanto durasse a revolução, e auto-nomeou-se 
governador provisório. Contou com o apoio que precisava, e venceu a batalha. Dias depois, 
Alagoas separou-se definitivamente de Pernambuco. Mas ele não conseguiu o que tanto 
sonhava: ser seu primeiro governador. 
O decreto assinado por Dom João VI, em 16 de setembro de 1817, emancipando 
Alagoas de Pernambuco, transformando a Comarca em Capitania, estabeleceu como capital a 
vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro) e nomeando como primeiro governador, o português 
Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que acabara de governar a Capitania do Rio Grande 
do Norte. 
Ao desembarcar no porto de Jaraguá, o governador encantou-se com a vila de 
Maceió. Foi recebido com muitas festas e, hospedou-se no sobrado de um português na 
esquina das ruas do Comércio e Livramento, onde hoje funciona a Ótica Flamengo. 
Sua posse aconteceu na matriz de Nossa Senhora da Conceição, na capital, numa 
solenidade com muita pompa, autoridades diversas e muitos discursos. Mas o governador não 
gostou muito do aspecto urbano da antiga vila, sempre priorizando Maceió.
E essa opção pela vila ao invés da capital, fez com que várias autoridades 
protestassem. Os de Alagoas (Marechal Deodoro) não aceitavam sob hipótese alguma, a 
instalação de repartições públicas na vila de Maceió, enquanto o próprio governador e várias 
outras personalidades políticas, econômicas e culturais, preferiam mesmo que os principais 
órgãos públicos fossem instalados em Maceió, por ser mais desenvolvida que a capital, 
possuir um movimentado porto e toda a infraestrutura de uma capital. E assim foi feito. 
Melo e Póvoas instalou a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda, o 
Quartel Militar e a Alfândega. Ciumeira geral. 
Maceió crescia a olhos vistos. O governador mandou que fosse elaborada uma planta 
urbana, para proporcionar um novo visual a vila. O traçado das ruas e das praças e os 
melhoramentos necessários. E assim surgiram as ruas do Comércio, do Sol, Livramento, Boa 
Vista, Moreira Lima, Augusta, Nova, Alegria e as praças Dom Pedro II e Martírios. O traçado 
continua o mesmo. Nunca houve alargamento, mudando apenas a arquitetura das casas. 
O governador afastou-se do cargo em fevereiro de 1822, retornando à Portugal. 
Criou-se uma junta governativa formada por Antônio José Ferreira, José de Souza Melo, 
Nicolau Paes Sarmento, Manoel Duarte e Antônio de Hollanda Cavalcante, que permaneceu 
até a independência do Brasil, quando a Capitania foi transformada em Província. 
A Província de Alagoas 
Quando da independência do Brasil, Alagoas já esbanjava progresso, tendo o açúcar, 
como seu carro-chefe. Dezenas de engenhos produziam e exportavam através do Porto de 
Jaraguá. Os governadores passaram a ser denominados presidentes. E o primeiro deles, 
nomeado por Dom Pedro I, foi o pernambucano Nuno Eugênio de Lossio, que instalou o 
Conselho de Governo e autorizou as eleições para deputados e senadores. 
O segundo presidente, foi o mineiro Cândido José de Araújo Viana (Marquês de 
Sapucaí), que ficou no cargo apenas cinco meses, período em que instalou o Correio 
Provincial. É substituído por Miguel Veloso da Silveira Nóbrega e Vasconcelos, que determinou 
a criação de câmaras municipais nas cidades e vilas. 
E novos governantes, chegavam e saiam em pouco tempo. Eram baianos, 
pernambucanos, mineiros, paulistas, gaúchos e de outras províncias, que não se adaptavam 
por aqui e terminavam renunciando.
Novas vilas foram surgindo nessa primeira fase de Alagoas como Província. Em 13 
de outubro de 1831, emanciparam-se de Atalaia, as vilas de Assembleia (atual Viçosa) e 
Imperatriz (União dos Palmares), ambas na zona da Mata alagoana. 
Também nesse período, ocorreu a chamada Cabanada Selvagem, revolta dos índios 
de Jacuípe, na região Norte da Província, contra o assassinato de seu cacique, provocando 
muitos conflitos e assassinatos, além de destruição de engenhos e fazendas. 
Em 1831, surge o primeiro jornal impresso de Alagoas, mais precisamente em 
Maceió: o Iris Alagoense. Teve duração curta, porque o coronelismo imperava naquela época. 
Seu principal redator sofreu um atentando, escapando por milagre e, decidindo-se mudar-se 
para Recife. Depois, o nome foi substituído por O Federalista Alagoense, já impresso em 
Maceió. A vila já estava com ares de capital. Tinha até jornal, enquanto a capital propriamente 
dita (Alagoas, atual Marechal Deodoro) entrava em processo de decadência. Em 1849, mais 
uma conquista de Maceió (já como capital): o primeiro estabelecimento de ensino secundário: 
Liceu Alagoano, ainda hoje funcionando com nome original, depois de se chamado Colégio 
Estadual de Alagoas. 
Nos primeiros anos do Brasil independente, Alagoas “fervia”. Eram constantes 
conflitos entre brasileiros e portugueses. A Confederação do Equador, que explodiu em 
Pernambuco, chegou por aqui, tendo o apoio do senhor de engenho Manuel Vieira Dantas e 
sua mulher Ana Lins, de São Miguel dos Campos. Houve muita perseguição aos 
revolucionários e ela entrincheirou-se em seu engenho em São Miguel dos Campos, lutando 
até o fim do conflito, tornando-se uma das heroínas de Alagoas. 
A notícia da abdicação de Dom Pedro I chegou a Alagoas e provocou mais brigas 
entre brasileiros e portugueses. Os primeiros, representando a imensa maioria, em caminhada 
pelas ruas de Maceió, atacam o Quartel, apoderando-se de munições e chegam a prender 
lideranças portuguesas. Os manifestantes apoiavam a abdicação, por ser Dom Pedro II, 
brasileiríssimo. Enfim, o trono do Brasil, com um brasileiro. 
Dessa época (1822-1831), restam poucas reminiscências: Igrejas e conventos em 
Penedo, Marechal Deodoro e Porto Calvo. Em Maceió, o antigo forte de São João, atualmente 
um quartel do Exército, no Centro da cidade; o próprio traçado das ruas (obviamente que, com 
as edificações com arquiteturas diferentes); o porto de Jaraguá: a Igreja daquele bairro e, só. 
Tudo foi mudando aos poucos, preservando-se apenas os monumentos mais importantes.
Maceió, capital 
Desde os tempos do primeiro governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, 
Maceió já esbanjava progresso, provocando ciumeira entre os habitantes da velha Alagoas, a 
capital da Capitania e depois Província. O próprio governador passava mais tempo na vida do 
que na capital. E, decidiu instalar as principais repartições públicas em Maceió. 
As mais importantes lideranças políticas daquela fase eram: Tavares Bastos (na 
capital) e Cansanção de Sinimbu (em Maceió). Chegou-se a se formar uma verdadeira 
guerrilha, que ficou conhecida como Lisos e Cabeludos, provocando tumultos generalizados e 
mortes. 
No governo de Agostinho da Silva Neves, a situação agravou-se. Ele também 
permanecia mais em Maceió do que na capital da província. O ano de 1839 foi o pior de todo o 
período dessa administração. O presidente chegou a ser preso por ordem do major Mendes da 
Fonseca, na capital. Solto, encaminhou-se ao porto do Francês, com ordem para deixar 
Alagoas. Mas pediu ao condutor do navio que fizesse o caminho de volta, dirigindo-se ao porto 
de Jaraguá. Ao chegar, foi recebido com muita festa pela população, liderada por Sinimbú, já 
autonomeado presidente da Província, enquanto na capital, Tavares Bastos, considerava-se 
também, presidente. Mas o titular, resolveu a questão de uma vez por todas. No dia 9 de 
dezembro de 1839, assina o decreto transferindo a capital da velha Alagoas (Marechal 
Deodoro) para Maceió. O fim de um sonho que se tornou realidade, por justiça mesmo. Afinal, 
a vila era muito mais importante do que a capital da Província. 
A cada dezembro, os maceioenses comemoraram duas datas festivas: o dia 5, 
lembra 1815, quando o povoado foi elevado a categoria de vila (município de hoje) e o dia 9, a 
transferência da capital, a data mais importante, porque era o acontecimento mais esperado 
naquela época. 
Em 1859, Maceió recebe a visita do Imperador Dom Pedro II, que inaugurou a 
Catedral Metropolitana, com a bonita imagem da padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres, 
presenteada pelo Barão de Atalaia e trazida de Portugal. A imagem representa os sete 
prazeres de Maria. Sua passagem pela capital ficou na História. Ele hospedou-se no sobrado 
do Barão de Atalaia (prédio anda hoje existente e preservado, que pertence a Aliança 
Comercial, na Praça Dom Pedro II). Esse sobrado de dois andares era o maior da cidade, mas 
seus moradores perderam a visão do mar, por causa de uma intriga com o Barão de Jaraguá, 
que construiu um outro mais alto, a sua frente (hoje, a Biblioteca Pública). O Imperador 
participou de festas na capital, e seguiu viagem para Penedo, Traipu, Pão de Açúcar e a 
cachoeira de Paulo Afonso, além de visita aos engenhos da zona da Mata e a Colônia de 
Leopoldina.
Até as primeiras décadas do século XX, Bebedouro era o bairro nobre da capital, com 
suas mansões. Depois surgiu o Farol. A Avenida da Paz, no Centro, a beira-mar, era a 
preferida para a construção de bangalôs, onde viviam as mais tradicionais famílias da cidade. 
O Hotel Atlântico, foi durante muito anos, um dos mais procurados pelos viajantes. Construído 
a beira-mar e ao lado do riacho Salgadinho (limpíssimo), sempre foi um bonito exemplar da 
arquitetura das primeiras décadas do século XX. Sua arquitetura foi descaracterizada. O 
sobrado da família Machado, era outro exemplo de beleza arquitetônica. Depois foi adquirido 
pela Universidade Federal de Alagoas, para servir de Residência Feminina Universitária, 
passando logo após a abrigar o Museu de Folclore Théo Brandão. Abandonado, o prédio foi 
ruindo aos poucos e todo o acervo transferido para a antiga Reitoria. Mas, foi recentemente 
restaurado, esbanjando toda a sua beleza. A Avenida era também o cartão-postal: praia limpa, 
com areia branca. Palco do carnaval de rua, com o desfile de blocos e escolas de samba, além 
de desfiles estudantis e militares, nas comemorações do Dia da Independência e da 
Emancipação Política de Alagoas. 
Os sobrados do Centro emolduravam a paisagem típica de uma capital provinciana. 
O Hotel Bela Vista, na Praça dos Palmares, sempre foi o prédio de maior beleza arquitetônica, 
com sua varandas, com vista panorâmica para o mar da Avenida da Paz. Hoje é um edifício de 
13 andares, que serve a representação do Ministério da Saúde. Ao lado, onde estão os 
edifícios do INSS, existia o antigo palácio do Governo, com quadro andares. A Praça Sinimbú, 
era repleta de sobrados, onde vivia a burguesia. Em frente o prédio da Linha de Bondes, com 
seu relógio. Foi derrubado, para construir a Faculdade de Engenharia, depois Reitoria da 
Universidade Federal de Alagoas, e atualmente, Espaço Cultural da Ufal. 
Imaginem Maceió no início do século XX, com seus sobrados, Igrejas e a população 
andando nas ruas centrais! Os homens de terno, gravata e chapéus e as mulheres de vestidos 
longos, esbanjando charme e elegância. Os bondes eram puxados por cavalos. Só depois, 
chegaram os movidos à eletricidade. Faziam o percurso entre o Centro, Trapiche, Bebedouro, 
Farol e Pajuçara. Até 1958, era esse o principal meio de transporte urbano. A alegria da 
juventude, que estudavam nos colégios São José, Instituto de Educação, Anchieta, Liceu, 
Guido, Diocesano, Sacramento, Batista e outros. Depois surgiram as “sopas”, uma espécie de 
micro-ônibus. Mas os bondes deixaram saudade. 
E Maceió nunca parou de crescer. A cada censo realizado pelo IBGE, constata-se 
mais gente vivendo na capital alagoana, que neste início de novo milênio, ostenta uma 
população de mais de 800 mil habitantes. Novos bairros vão surgindo. Mas surgem também, 
novas favelas, que já somam quase 100, fruto do êxodo rural e do desemprego generalizado.
Os bairros da orla marítima (Cruz das Almas, Jatiúca e Ponta Verde), que até a 
década de 1960, eram imensos sítios de coqueiros, foram atraindo moradores, com a 
construção de edifícios de apartamentos. Hoje, formam um verdadeiro labirinto de concreto. 
Mas existe uma lei municipal que proíbe a construção de prédios a beira-mar com mais de seis 
andares. Esses bairros só estão crescendo mais verticalmente (edifícios). Não existe mais 
espaço para casas. Essas são construídas na parte alta da cidade, como Barro Duro, Serraria, 
Tabuleiro do Martins e Benedito Bentes. Surgem condomínios fechados, com verdadeiras 
mansões, como o Aldebaran e Jardim do Horto. 
Nos anos 60, a novidade foi o Edifício Breda, com seus dez andares, onde a 
juventude sempre se dirigia para subir até o último andar, de elevador (novidade) e apreciar a 
beleza da orla marítima e da lagoa de Mundaú. Era ponto de encontro para namorados. Mas 
também serviu para suicídio de muita gente. Ainda nesse período, é construído o Edifício São 
Carlos, com 11 andares e 22 apartamentos, na Avenida da Paz, de frente para o mar. Foi o 
primeiro edifício de apartamento da cidade. Depois, outra atração: a escada rolante da Lobrás. 
Todos queriam experimentar, subindo na escada, sem precisar dos batentes, e se deliciar com 
a beleza da loja e suas mercadorias expostas. 
A capital modernizou-se, com edifícios comerciais e residenciais. Em 1989 ganhou 
seu primeiro shopping center: o Iguatemi. A partir daí, foram surgindo outros. Só em 1998, dez 
deles foram instalados, de pequeno e médio portes, abrindo-se assim 2 mil novos empregos 
diretos e 600 pontos de venda. O comércio descentralizou-se, atingindo os vários bairros. 
O tradicional bairro de Jaraguá está sendo revitalizado. Seus sobrados, ruas estreitas 
e praças, ganham o visual de antigamente. O imponente prédio da Associação Comercial de 
Maceió, construído na década de 1920, foi restaurado. O mesmo ocorreu com o prédio da 
antiga Alfândega (Museu da Imagem e do Som), enquanto as ruas tiveram o asfalto retirado, 
para dar lugar ao calçamento em pedras. O projeto também beneficia a praia da Avenida, 
antigo cartão postal. 
O Centro da cidade deverá ser revitalizado. Alguns prédios já foram a exemplo do 
próprio Palácio Floriano Peixoto (Palácio dos Martírios – sede do governo), do Instituto 
Histórico, da Biblioteca Pública, da Aliança Comercial, Tribunal de Justiça, Assembleia 
Legislativa, Academia Alagoana de Letras e Teatro Deodoro, todos construídos no século 
passado. 
A cidade detém um bom lugar no ranking do turismo nacional. Na alta temporada de 
verão, fica com seus hotéis e pousadas lotados. Navios de passageiros chegam ao Porto de 
Jaraguá, com centenas de estrangeiros. Os turistas visitam as praias, lagoas, bares, 
restaurantes, mirantes, monumentos históricos e adquirem o artesanato local. A vida noturna é
bastante agitada. Existem bares, restaurantes e boates espalhados por vários pontos. Mas os 
destaques são: Stela Maris, Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara e Jaraguá. Todos na orla marítima. 
Guerras e guerrilhas 
Alagoas sempre foi palco de conflitos e sua fama de terra violenta correu o país. No 
século XIX, surgiram vários desses conflitos. Na briga pela disputa da capital entre Marechal 
Deodoro e Maceió, consagraram-se dois alagoanos: Cansanção de Sinimbu e Tavares Bastos. 
Surgiu daí a chamada Guerra dos Lisos e Cabeludos, respectivamente conservadores e 
liberais. Era uma espécie de partidos políticos. 
Os Lisos, comandados por Tavares Bastos, denunciavam que Cansanção de Sinimbu 
queria dominar Alagoas, formando uma verdadeira oligarquia. O dia 4 de outubro de 1844 foi 
“um dia de cão” em Maceió. Os Lisos invadiram Maceió e comandaram um tiroteio no Centro, 
que duraram duas horas. 
Ainda na década de 1840, surgem os temidos irmãos Moraes, que, para vingar a 
morte do pai, formaram um bando semelhante ao de Lampião, espalhando o terror por toda 
Alagoas. Para alguém morrer, bastava que o bando desconfiasse que este pertencia ao partido 
dos Cabeludos. A primeira vítima foi um tenente de Quebrangulo. 
Os irmãos Moraes, dividiam o ódio pelos assassinos do pai, aos integrantes dos 
Cabeludos. Tentaram matar o Barão de Atalaia, que diziam encontrar-se no Sertão de 
Pernambuco. Não encontraram o alvo, mas mataram um rapaz inocente, que estava na casa 
onde deveria se encontrar o Barão. 
Durante a Guerra do Paraguai, Alagoas enviou cerca de 3 mil homens para combate, 
inclusive toda a família Mendes da Fonseca (Deodoro e seus irmãos). A mãe, dona Rosa da 
Fonseca, vibrava com as notícias de vitória do Brasil, e demonstrava essa alegria, exibindo 
panos brancos nas janelas de sua casa na velha cidade de Alagoas. Mas três de seus filhos 
morreram em combate. Para ela, um ato de heroísmo. No final, o Paraguai ficou destruído. O 
que importava para o Brasil era mesmo acabar com aquele pequeno país, que na época 
adotava um sistema semelhante ao socialismo do século XX. O povo paraguaio, sempre teve 
espírito cívico. Quando surge algum ditador, procura derrubá-lo do poder. Assim fizeram com 
Alfredo Stroesner e mais recentemente com Raul Cubas. Ambos se refugiaram no Brasil. 
Nas décadas de 1920/30, o terror foi espalhado no Sertão alagoano com as 
sucessivas passagens de Lampião e seu bando, que evitavam as cidades por onde o trem 
passava. Mas, foi à polícia alagoana, que conseguiu acabar com essa fase de violência,
matando Lampião, Maria Bonita e quase todos os cangaceiros, numa gruta, do outro lado do rio 
São Francisco, na localidade conhecida como Angicos. 
Os chefes políticos sempre dominaram Alagoas, espalhando a violência em várias 
regiões. Sempre ficavam impunes. Detinham o poder político e econômico. Muitos episódios 
marcaram a História de Alagoas, envolvendo famílias violentas. Os Malta, de Mata Grande, 
fizeram história, brigando entre si: Maia, de Pão de Açúcar; Teixeira, de Chã Preta; Mendes, 
de Palmeira dos Índios; Novaes, de Santana do Ipanema; Fidelis, de Pindoba; Calheiros, de 
Flexeiras; Tenório, de Quebrangulo (de onde surgiu o lendário Tenório Cavalcante, mais 
conhecido como o “homem da capa preta”, que migrou para o Rio de Janeiro, aterrorizando a 
Baixada Fluminense, com sua famosa metralhadora: a Lourdinha. 
Essas famílias brigavam entre si, por questões de terra e política. Aterrorizando os 
moradores das cidades, que, temiam ser mortos. Em Mata Grande, os Malta brigavam entre 
primos, irmãos, tios e outros parentes, provocando tiroteios em plena rua. Ninguém se atrevia 
a abrir a porta. Sempre foram temidos e se orgulhavam disso. Pindoba, sempre foi dominada 
pelos Fidelis, que aterrorizaram a pequena cidade. Não é mais. Muitos morreram, outros estão 
presos e, os sobreviventes, já não seguem o que seus antecessores fizeram. Matavam 
friamente os pobres coitados, que “olhassem atravessado” para um deles. Mas, essa fase 
também vem acabando. Muitos desses valentões já morreram, e os descendentes, já não mais 
seguem essa atitude burra, em desuso no mundo moderno em que vivemos. Pindoba hoje é 
comandada por um jovem fazendeiro, que não tem qualquer grau de parentesco com os 
Fidelis. A paz estabeleceu-se na cidade. 
Outro episódio que ficou na história, ocorreu mais recentemente, envolvendo as 
famílias Calheiros e Omena, com sucessivos crimes, aterrorizando Maceió. O cabo Henrique, 
da Polícia Militar, para vingar a morte do pai, juntou seus irmãos (Omena) para matar os 
integrantes de uma porção violenta da família Calheiros, que se assinam Cavalcanti Lins, com 
base na cidade de Flexeiras. Assassinatos sucessivos entre as duas partes, eram manchetes 
dos jornais na época. 
No Sertão alagoano, surgem dois personagens, que aterrorizaram o Estado com 
sucessivos crimes: Floro e Valderedo. Iniciaram a matança por questão de vingança, e aos 
poucos, os assassinatos foram se sucedendo, culminando com uma espécie de bando, quase 
semelhante ao de Lampião. 
Neste final de século, surgiu outro bando, que aterrorizou o Sertão. Era de Marcos 
Capeta, um jovem revoltado, que assassinou dezenas de pessoas em várias cidades de 
Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Sempre conseguiu fugir da polícia. Mas foi morto pela 
PM baiana em agosto de 1999.
Vez por outra, surgiam famílias que dominavam a política e a economia em seus 
municípios, envolvendo-se em questões de terras, culminando com muita violência. Aos 
poucos, o coronelismo vai acabando, graças a democracia, com a liberdade de imprensa e as 
denúncias feitas, envolvendo figuras importantes do mundo político e econômico, que acabam 
abandonando esse lado violento e engajando-se ao mundo globalizado, competitivo e criativo, 
ao lado dos chamados emergentes, que são pessoas pobres, que cresceram economicamente 
e se tornaram líderes e poderosos. 
Partidos e Imprensa 
A segunda metade do século XIX foi de agitação política. O nível nacional surge os 
partidos Liberal e Conservador. Em Alagoas, foram criados os Luzias e Saquaremas, 
instalados durante a presidência de José Bento da Cunha Figueiredo. 
O partido dos Luzias, utilizava-se do jornal O Tempo, para alimentar a sua política, 
com ideias defendidas através de ataques ao presidente. Os Saquaremas tinham o jornal 
Timbre Alagoano, atacando o partido oposicionista. 
Na presidência de Pereira de Alencastro, esses dois partidos se dividiram. Os Luzias, 
formaram o Partido Progressista e o partido Histórico. Esse último coligou-se pouco tempo 
depois aos Saquaremas. 
Antes da Abolição da Escravidão, Alagoas já estava na luta por esse objetivo. Em 
setembro de 1881, foi instalada a Sociedade Libertadora Alagoana, que marcou época. Detinha 
dois jornais: O Lincoln e o Gutemberg, ambos engajados na luta pelo fim da escravidão. 
O ideal republicano começou a surgir com o jornal O Apóstolo, em 1871. Depois 
surgiu A República. Em 1888, o jornalista João Gomes Ribeiro fundou o Centro Republicano 
Federal de Maceió. Um ano depois, é proclamada a República, exatamente por um alagoano. 
A política em Alagoas sempre foi clientelista. Existiam e ainda existem verdadeiros 
“curais eleitorais”, onde os chefes políticos mandam e demandam, comprando votos de 
eleitores pobres e analfabetos. Aos poucos, esse critério vai mudando. Mas ainda deverá 
demorar muito, para acabar de uma vez por toda com toda a bandalheira que existe em ano 
eleitoral, onde o dinheiro está acima de tudo. 
No início do século XX, dois irmãos dominaram o governo do Estado, como eleitos 
pelo povo: Joaquim Paulo e Euclides Vieira Malta, formando o que passou para a História como 
Oligarquia dos Malta. A família continuou dominando no alto Sertão, elegendo prefeitos e
deputados estaduais. Mas, foi se dispersando e a cada eleição, seus candidatos vão sendo 
derrotados. 
Nas décadas de 1930/40, os Góes Monteiro, formaram outra oligarquia. Alagoas 
passou a ser conhecida como “Alagóes”. Dois irmãos: Ismar de Góes Monteiro e Silvestre 
Péricles de Góes Monteiro, foram governadores (um, especificamente Interventor, na ditadura 
de Vargas e o segundo, governador eleito pelo povo). 
Já nos anos 70, 80 e até quase o final de 90, outra oligarquia dominou o Estado. Mas 
não uma familiar e sim, de amigos: Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira. Começaram eleitos 
indiretamente, durante a ditadura militar. Depois, foram “ às urnas e ganharam. Quando não se 
candidatavam, apresentavam um candidato, que era facilmente eleito. Só perderam e 
desapareceram da cena política, nas eleições de 1989. 
Essas oligarquias estão acabando. Os próprios coronéis da política, já se foram. 
Surgem os emergentes. Alguns de direita, outros de esquerda. São cidadãos que enriqueceram 
com esforço próprio, na agropecuária, na indústria, no comércio ou na prestação de serviços. 
Famílias tradicionais da política alagoana, como os Malta, de Mata Grande; Torres, de Água 
Branca; Bulhões, de Santana do Ipanema; Dantas, de Batalha; Sampaio, de Palmeira dos 
Índios; Vilela, de Viçosa; Moreira, de Capela; Gomes de Barros, de União dos Palmares, e 
tantas outras, estão perdendo espaço para novas lideranças políticas. 
O primeiro jornal impresso que surgiu em Alagoas foi o Iris Alagoense, em 1831, em 
Maceió, que, ainda não capital da Província. Foi o primeiro passo para o avanço dessa área, 
com a criação de outros jornais, tanto em Maceió, como em Penedo, Marechal Deodoro e, 
depois: Viçosa, já na segunda metade do século XIX. Até mesmo nos engenhos, havia a 
preocupação com a cultura. No Bananal, do coronel Quintiliano Vital, em Viçosa, foi publicado o 
jornal O Camponês, com notícias envolvendo mais as atividades agrícolas. Seu primeiro 
número saiu exatamente no dia da Abolição da Escravidão. Seus editores não sabiam desse 
fato. A notícia chegou depois. 
O jornal mais antigo ainda em circulação (quinzenal) é O Semeador, da Arquidiocese 
de Maceió, fundado em 1913. O Jornal de Alagoas circulou durante 85 anos, paralisando suas 
atividades em 1993. Atualmente o diário mais antigo é a Gazeta de Alagoas, da Organização 
Arnon de Mello, com 65 anos de existência e o de maior circulação no Estado. 
Funcionam em Maceió neste início de século, três jornais diários: Gazeta de 
Alagoas, O Jornal e Tribuna de Alagoas, pela ordem os de maior circulação. São cinco 
emissoras de Televisão: Gazeta (Globo), Pajuçara (SBT), Alagoas (Bandeirantes), Massayó
(MTV) e Educativa. São dezenas de rádios AM e FM distribuídas entre a capital e cidades do 
interior. 
Nepotismo em Alagoas 
O nepotismo (emprego público para parentes) é uma prática adotada no Brasil desde 
o seu descobrimento. Na primeira carta enviada por Péro Vaz de Caminha ao rei de Portugal, 
depois de vários elogios a nova terra, ele pede um emprego para um parente seu. 
Em Alagoas, logo que foi proclamada a República, essa prática aparece. O 
presidente Deodoro da Fonseca nomeia seu irmão Pedro Paulino, para governador. De lá para 
cá, a prática é tão comum, que os pais já criam os filhos pensando num emprego público, que 
virá logo que ele complete a maioridade. E há casos até mesmo de falsificação de documentos, 
aumentando-se a idade, para que esse filho ingresse logo no serviço público e torne-se um 
marajá. 
Existe nepotismo abertamente, nos três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. 
Famílias inteiras usufruem do dinheiro público. Quando surge uma denúncia na imprensa, com 
a relação de integrantes de famílias de deputados, desembargadores, conselheiros do Tribunal 
de Contas, governadores, secretários de Estados e outras lideranças, o escândalo está 
formado, mas logo surge outro, esquecendo-se daquele. Ninguém perde um centavo da renda. 
Continuam marajás, usufruindo das benesses do governo. 
Na Assembleia Legislativa, cada um dos 27 deputados têm direito a 30 assessores. 
Um escândalo. Os gabinetes não comportam essa quantidade. Trabalham mesmo, no máximo, 
cinco. Os demais só aparecem no local para receber o cheque-salário. Boa parte desses 
assessores é formada por irmãos, primos, cunhados, filhos, sobrinhos e demais parentes dos 
deputados. O mesmo esquema é montado nos Tribunais de Justiça e de Contas. São ao todo, 
1.500 funcionários públicos beneficiados com altos salários, que abocanham mais da metade 
da folha de pagamento. Uma vergonha nacional. 
A bandalheira sempre foi escancarada nas prefeituras do interior, onde os prefeitos 
empregam parentes nos mais diversos cargos, sem qualquer qualificação profissional. 
Empregavam. Não empregam mais. A Lei de Responsabilidade Fiscal aprovada pelo 
Congresso Nacional, de autoria do Executivo, pune os corruptos. Não se pode gastar mais do 
que arrecada. A torneira está fechada. Não existe dinheiro do governo federal para o que 
sempre fizeram. Tem que cortar despesas e, muitos já estão demitindo empregados e 
acabando com certas mordomias.
Os pioneiros 
Na época da colonização, os pioneiros foram: o alemão Cristovão Lins, fundador dos 
três primeiros engenhos, em Porto Calvo, e o português Antônio de Barros Pimentel, que 
fundou engenhos nos vales dos rios Camaragibe e Santo Antônio. Depois foram surgindo 
novas famílias, como os Mendonça, com seus engenhos de açúcar e fazendas de criação de 
gado. 
Mas só no século XIX, surge a indústria urbana em Alagoas. Em 1859, o Barão de 
Jaraguá, fundou a primeira fábrica de tecidos: a de Fernão Velho, ainda hoje existente. É o 
avanço da industrialização em Alagoas. Depois foram surgindo outras fábricas têxteis, como a 
de Saúde, da família Nogueira (Maceió): Vera Cruz, em São Miguel dos Campos (Contonifício 
João Nogueira) ainda funcionando: Alexandria, em Maceió, da família Lôbo e outras em 
Penedo e Pilar. Rio Largo cresceu com o avanço dessa atividade, através do comendador 
Teixeira Basto (duas fábricas), avançando mais ainda depois da administração do seu genro 
Gustavo Paiva, um verdadeiro construtor do progresso de Alagoas, que implantou naquela 
cidade, a mais avançada legislação trabalhista do Estado. Os operários tinham moradia, com 
conforto e toda infraestrutura (energia elétrica e água canalizada), escolas de boa qualidade 
para os filhos; assistência médica; cinema, clube social, quadras de esportes, com piscina 
(uma novidade na época) e a garantia de salários e dia e todos os benefícios sociais possíveis. 
Outro pioneiro da indústria em Alagoas foi o português Jacintho Nunes Leite, que se 
estabeleceu em Bebedouro (ainda existe o casarão da família, bem preservado). Instalou 
indústrias (foi proprietário da fábrica de Fernão Velho); Os primeiros bondes da capital; energia 
elétrica e água canalizada, em Bebedouro e outros benefícios. O bairro era naquela época (e 
até as primeiras décadas do século XX) o mais nobre de Maceió. Verdadeiras mansões 
emolduravam a paisagem que margeava a lagoa de Mundaú, proporcionando um bonito visual 
aos passageiros do trem que passava pelo local. 
Na última década do século XIX, é a vez das usinas. Já havia sido abolida a 
escravidão. Os engenhos estavam enfrentando uma grave crise, com os escravos livres, tendo 
que ser remunerados. Os velhos coronéis abandonavam a atividade, procurando outras mais 
rentáveis e que empregasse menos gente. 
Em 1891, surge a primeira usina de Alagoas: a Brasileiro, em Atalaia, fundada pelo 
Barão de Vandesmant, um francês, que se apaixonou por Alagoas e aqui implantou uma 
moderna tecnologia, com a usina dispondo de toda a infra-estrutura tecnológica importada da 
Europa. E, deu um novo perfil a atividade: os trabalhadores passaram a ser operários, com 
moradia bem estruturada, assistência médica, extensiva aos familiares: legislação trabalhista 
avançada e aposentadoria. A usina funcionou até 1958.
Na mesma década de 1890, surge a segunda usina: Leão, no antigo Engenho Utinga, 
em Rio Largo. A família Amorim Leão, também avança no tempo, implementando um novo 
estilo de produção, com base no incentivo ao trabalhador. Venceu. Ainda hoje a usina é 
comandada pela família, já na quinta geração e misturada à família francesa Dubeaux. 
A terceira usina fundada em Alagoas foi em São José da Laje: Serra Grande, 
aproveitada de um antigo engenho banguê. O coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra foi outro 
pioneiro na industrialização alagoana. Pernambucano, fixou-se com a família naquela região e 
fez História. Dava total assistência aos seus empregados, produzia um açúcar de excelente 
qualidade, e já com a usina em poder de seu filho, Salvador Lyra, na década de 1930, lançou-se 
no mercado, o álcool como combustível, com a marca Usga (iniciais da usina). Foram 
instaladas bombas em São José da Laje, Maceió e Recife. Um sucesso, que incomodou as 
multinacionais. Com o poder de pressão, esses estrangeiros exigiram do então presidente 
Getúlio Vargas que acabasse com esse projeto da usina alagoana. Foram atendidos. E o álcool 
deixou de ser combustível, para só retornar na década de 1970, com a criação do Proálcool 
(Programa Nacional do Álcool), pelo então presidente Ernesto Geisel. 
Também no início do século XX, surge outro verdadeiro pioneiro da indústria em 
Alagoas: o cearense Delmiro Gouveia, que havia saído do Recife, depois que provocou muita 
confusão por lá, fruto de sua audácia, inteligência e criatividade, que incomodavam os 
empresários e políticos locais. Lá, na capital pernambucana, ele fundou o Mercado do Derby, 
uma espécie de shopping center do século XIX. Desembarcando em Penedo, navegou rio 
acima até chegar próximo à Cachoeira de Paulo Afonso, encantando-se com a paisagem e 
resolvido ficar. Bem próximo, no povoado Pedra, fundou a primeira fábrica têxtil do Sertão 
alagoano. Também incomodou os estrangeiros, já que concorria com a linha Corrente (inglesa). 
Implantou uma verdadeira revolução industrial em plena região da seca. Venceu. Pedra tornou-se 
uma cidade industrial, com a vila operária e toda a infraestrutura moderna, onde os 
operários eram bem tratados pelo patrão, recebendo toda assistência social possível. Luz 
elétrica, um avanço no início do século XX. Nem a capital dispunha desse benefício. E Delmiro 
levou a energia elétrica a Pedra, através da Cachoeira de Paulo Afonso, onde ele fundou a 
primeira Hidrelétrica do Nordeste, hoje ainda esbanjando progresso e tecnologia. Foi 
assassinado em 10 de outubro de 1917, quando lia jornal na varanda de seu chalé. O crime 
chocou Pedra e todo o Sertão alagoano. Dois suspeitos foram presos (ex-empregados da 
fábrica). Mas a dúvida continuava. Ninguém achava que fossem aqueles pobres coitados, 
admiradores do ex-patrão e até compadres. Tinha “costa quente” por trás de tudo. Mas foram 
esses ex-operários que pagaram a conta. Um morreu na cadeia e o outro ficou até o fim da sua 
pena. Mas a família nunca se conformou e reabriu o processo, já depois dele morto. Venceu. 
Foi a primeira sentença pós-morte, onde o culpado foi julgado inocente. Coisas de Alagoas 
mesmo.
A fábrica de Delmiro Gouveia passou por vários donos. Na década de 1980, chegou 
ao estágio de pré-falência, levando o proprietário ao suicídio. Mas, recuperou-se. Foi adquirida 
pelo empresário Carlos Lyra, e hoje é uma das mais modernas do país. 
A Era Vargas 
Quando o Brasil foi sacudido pela Revolução de 1930, levando o gaúcho Getúlio 
Vargas ao poder, Alagoas era governado por Álvaro Paes. A agitação política se restringia mais 
as grandes cidades. Inicia-se a fase dos interventores nomeados pelo presidente da República. 
Foram nove, em 15 anos da Era Vargas, que exerciam o cargo obedecendo às decisões do 
chefe da Nação. 
O primeiro desses interventores foi o sergipano Hermílio de Freitas Melro, que passou 
um ano no poder, sendo substituído por Luiz de França Albuquerque, alagoano de Viçosa, 
seguido do capitão Tasso Tinoco, Afonso de Carvalho e Temístocles Vieira de Azevedo. As 
eleições para deputados são realizadas em 1933, elegendo-se seis alagoanos: Manoel de 
Góes Monteiro, Izidro Teixeira de Vasconcelos, José Afonso Valente de Lima, Antônio de Melo 
Machado, Armando Sampaio Costa e Álvaro Guedes Nogueira, representantes do Estado, na 
Assembleia Constituinte, que promulgou a Constituição de 1934. 
Quem mais se destacou como interventor, foi o jurista Osman Loureiro, também eleito 
governador nas eleições de 1935, permanecendo no cargo até 1937 quando se deu o Golpe do 
Estado Novo. Nesse período de dois anos, como representante eleito pelo povo, fez várias 
obras e liberou recursos para as áreas de educação, saúde e segurança pública. Depois, já na 
ditadura, voltou a ser interventor. 
Passaram ainda pela interventoria: José Maria Correia das Neves, Ismar de Góes 
Monteiro e Antônio Guedes de Miranda. Acaba assim a Era Vargas em Alagoas, iniciando-se o 
processo de redemocratização, com as eleições gerais de 1946. 
A ditadura de Vargas provocou muitas prisões de alagoanos, que defendiam a 
democracia. O escritor Graciliano Ramos, já famoso na época, foi preso no Rio de Janeiro. 
Esse episódio gerou o livro Memórias do Cárcere, um best-seller. 
Apesar da ditadura, o povo adorava Getúlio, que implantou a Legislação Trabalhista, 
criou o salário mínimo (muito valorizado na época) e o voto da mulher. Alagoas viveu nas 
interventorias, satisfatoriamente. No Estado Novo não existia Congresso nem Assembleia. 
Portanto, gastos com deputados e senadores não era preocupação do governo. A arrecadação 
servia para pagar suficientemente os salários dos funcionários públicos.

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Apostila a história de alagoas

  • 1. Colégio Municipal Liceu Cacimbinhense A História de Alagoas Dos Caetés aos Marajás Prof. João André Amorim Ferreira
  • 2. Introdução A História de Alagoas dos Caetés aos Marajás é um relato da História desse pequeno Estado brasileiro (o segundo menor, depois de Sergipe), que ao longo de quase cinco séculos, vem demonstrando ao país, que tem um povo trabalhador, honesto e sempre esperançoso. Escolhi esse título, lembrando os índios Caetés, que foram os primeiros a manchar a imagem desta terra, com o episódio do massacre de todos os tripulantes do navio que levava à Portugal o primeiro bispo do Brasil, Dom Péro Fernandes Sardinha. Obviamente, para eles (os índios), um fato normal. Afinal, nunca tinham visto um branco. E, com tantas vestimentas. Imaginem como o bispo estava vestido? Marajás foi um termo muito utilizado pelo ex-governador e ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, para designar os privilegiados funcionários públicos, que recebem altos salários e pouco ou nada produzem. Na realidade, o termo vem da Índia, numa alusão aos ricos e poderosos daquele país, onde 90% da população de quase 1 bilhão de habitantes, vive na miséria. Faço um relato de todos os acontecimentos importantes da verdadeira História de Alagoas, com base em pesquisa realizada ao longo dos últimos anos. Opino, porque sou um formador de opinião, tanto como jornalista, tanto como professor. Abro o debate. Sempre agi assim. Conto fatos que geraram escândalos, culminando com renúncias de governadores e até mesmo um impeachment, o primeiro concretizado no país. As oligarquias políticas que sempre dominaram o Estado até chegar ao “pulo do gato”, que é a ascensão da esquerda aos governos do Estado e de Maceió. As sucessivas crises econômicas; alguns anos de crescimento; a descoberta das belezas naturais da terra pelos turistas do país e do exterior, e o crescimento rápido de Maceió. A miséria, o desemprego, as doenças endêmicas, o analfabetismo e a mortalidade infantil, esses dois últimos itens, colocam o Estado como campeão nacional. Enfim, uma História “nua e crua”, contada por um contador de histórias, que não tinha escapatória: virou um jornalista.
  • 3. No tempo dos Dinossauros Os arqueólogos comprovam: Alagoas foi habitado por dinossauros. Vez por outra, aparece alguém confirmando que viu inscrições em pedras; descobriu ossos de animais pré-históricos e outros objetos que existiram na pré-história. O historiador Jayme de Altavilla, em seu livro História da Civilização de Alagoas, refere-se a uma variedade de documentos arqueológicos, encontrados ao longo dos anos em várias regiões. Em Santana do Ipanema, no vale do rio Caiçara, foram encontrados esqueletos de animais pré-históricos. Também surgiram vestígios desses animais em Viçosa e São Miguel dos Campos. Em Anadia, no sítio Taquara, descobriram um cemitério de índios. O historiador viçosense, Alfredo Brandão, também é outro que fala em seus livros sobre a pré-história em Alagoas. Afirma que na propriedade Pedras de Fogo (da família Loureiro), encontra-se uma pedra com diversas cruzes gravadas, sendo uma delas tão bem gravadas que passa por milagrosa. Também fala em inscrições descobertas em pedras nos municípios de Capela, Atalaia, Porto de Pedras e Anadia. Sua coleção de instrumentos de pedras, como tambetá, machadinha e outros, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico de Maceió. Nas margens do rio São Francisco, já descobriram muitas ossadas de animais pré-históricos. É uma região, comprovadamente habitada naquela época. Um museu instalado no Xingó Parque Hotel expõe muitos objetos arqueológicos descobertos por toda aquela imensidão de terras. No Centro de Apoio da Hidrelétrica de Xingó, do lado alagoano, existe uma exposição fixa de arqueologia. Terra à vista Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o Estado de Alagoas, era um mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos. Rios perenes, muito peixe, frutas, animais soltos. Enfim, a flora e a fauna exuberantes, enchiam os olhos dos portugueses que foram chegando para iniciar o processo de colonização. A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores batizassem logo a região de Alagoas. Elas continuam embelezando a paisagem típica do Estado, se constituindo em pontos de atração turística e ainda em sustento de milhares de alagoanos, que tiram dela, o peixe e o sururu, molusco típico, consumido não só pelos pobres, mas presente na mesa dos ricos, da classe média e dos bares e restaurantes.
  • 4. Esse pedaço de terra brasileiro, entre o Litoral e o Sertão, pertencia a Capitania de Pernambuco, comandada pelo donatário Duarte Coelho, que em visita ao Sul, deparou-se com o rio São Francisco. Lá, edificou um forte e deu origem a cidade de Penedo, comprovadamente o primeiro núcleo habitacional de Alagoas. Hoje, é uma cidade das mais importantes do Estado. Durante várias décadas, foi a mais progressista do interior. Perdeu para Arapiraca na segunda metade deste século. Mas continua imponente, com seu casario colonial, seu povo culto, seu potencial turístico e sua economia que cresce a cada dia. Imaginemos Alagoas nos tempos do descobrimento do Brasil! Da foz do São Francisco a Maragogi: índios nativos como os Caetés e os Potiguaras. Nus, livres, vivendo da caça e da pesca, falando língua própria, usufruindo dessa beleza natural, com rios e lagoas sem poluição. Um povo festeiro, cultuando suas tradições. Era feliz e livre da presença do branco português, que aqui chegou para marginalizá-lo, exigir que aprendesse sua língua, sua religião e seus costumes. Todos perderam a identidade, e se tornaram escravos da ganância dos colonizadores, que só queriam extrair a riqueza da terra e enviar para Portugal. Nossos índios eram vaidosos, festeiros e valentes. Adoravam se pintar com várias cores, dançar e cantar. Achavam o nariz chato um importante requisito de beleza. No Sul eram os Caetés e suas subtribos, como a dos Caambembes, instalada em Viçosa. No Norte, os Potiguaras. As demais tribos eram: - Abacatiaras, que viviam nas ilhas do rio São Francisco. - Umans, no alto Sertão, às margens do rio Moxotó. - Xucurus, em Palmeira dos Índios. - Aconans, Cariris, Coropotós e Carijós, às margens do São Francisco. - Vouvés e Pipianos, no extremo ocidental de Alagoas. Esses nativos alagoanos eram bronzeados do sol escaldante, moravam em cabanas de palha, reunidas em forma de aldeias e viviam da caça e da pesca. Promoviam festas, utilizando-se de instrumentos musicais como corneta, flauta e maracá. Em combate, atiravam sobre o inimigo, flechas envenenadas e sobre as aldeias, flechas com algodão inflamado, para incendiá-las.
  • 5. As índias alagoanas trabalhavam muito. Fiavam algodão para confeccionar cordas e redes e ainda fabricavam vasos de barro para uso doméstico. O adultério era considerado crime. Nas aldeias, todos se reuniam em forma de República. O chefe maior era o Cacique, escolhido entre os mais velhos e respeitados. O Pajé era o conselheiro espiritual. Nas grandes crises, eles se reuniam em conselhos, denominados Carbés. Hoje, Alagoas tem as seguintes tribos: - Xucurús, em Palmeira dos Índios, muito bem organizada, já toda civilizada, com escola, posto de saúde, posto telefônico e outros benefícios. - Cariris, em Porto Real do Colégio, também com toda a infraestrutura econômica e social, funcionando. - Tingui-Botós, em Feira Grande. - Wassus em Joaquim Gomes, e outra descoberta recentemente, ainda em estudo na Funai – Fundação Nacional do Índio, para constatar sua verdadeira identidade. É um pequeno grupo que vive no alto Sertão alagoano. Assim era Alagoas na época do descobrimento do Brasil. Esse pedaço de Brasil, abençoado pela natureza, livre, com a Mata Atlântica exuberante, os rios e lagoas de águas cristalinas. Os colonizadores A primeira expedição ao Sul da Capitania de Pernambuco foi conduzida pelo próprio donatário, Duarte Coelho, que saiu do Recife beirando o litoral até chegar à foz do rio São Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local privilegiado pela natureza, com o rio cheio de pedras. Edificou um forte e deu origem a povoação de Penedo. Duarte Coelho, segundo os historiadores, era dotado de muita capacidade administrativa e devotado à causa do governo português. Suas cartas ao Rei Dom João III, eram verdadeiros relatos sobre a riqueza da capitania, suas paisagens e os índios. Fundou Olinda, fez aliança com os índios e iniciou o plantio da cana-de-açúcar, dando origem aos primeiros engenhos. Mas toda essa extensão de terras, entre o Litoral e o Sertão precisava ser colonizada. Aí surge a figura de um alemão: Cristhovan Lintz, depois aportuguesado para
  • 6. Cristovão Lins. Ele vivia em Portugal, onde se casou com Adriana de Hollanda, filha do holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda. O casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século do descobrimento (XVI) e ganhou uma imensa sesmaria, compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio Manguaba. O segundo colonizador foi o português Antônio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele chegou ao porto da Barra Grande (Maragogi), ainda com a roupa que usava na Corte, em Lisboa. Era um nobre, descendente de uma das mais importantes famílias de Portugal, originária da cidade de Viana, mas com os seus ancestrais surgidos na Espanha. Ganhou uma sesmaria que compreendia as terras entre os rios Manguaba, passando pelo Camaragibe e chegando ao rio Santo Antônio, em São Luiz do Quitunde. Construiu engenhos de açúcar e criou gado. A sesmaria que compreendia as margens das lagoas Mundaú e Manguaba pertencia ao português Diogo Soares, enquanto em São Miguel dos Campos, o dono das terras era Antônio de Moura Castro e as de Penedo, comandadas por Rocha Dantas. Outras sesmarias de menor porte foram surgindo em vários pontos de Alagoas. Os engenhos A História de Alagoas é a história pela posse da terra. Doadas as sesmarias, os novos proprietários procuraram logo fazer a derrubada das matas e plantar cana-de-açúcar, surgindo os engenhos banguês que sustentaram a economia alagoana durante quatro séculos, até serem substituídos pelas usinas. Os primeiros engenhos surgiram nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo Antônio, na região Norte de Alagoas. A terra fértil, logo se adaptou a essa nova atividade. E, assim, começa a formar-se a chamada aristocracia açucareira, com as grandes famílias dominando a economia. O escritor Manoel Diegues Júnior, em seu livro O Banguê das Alagoas, faz um relato apaixonado dessa atividade que iniciou o processo de desenvolvimento socioeconômico e cultural da Comarca, Capitania e Província de Alagoas. Mostra os costumes e tradições, a religiosidade, o domínio político, o folclore saído dos engenhos, enfim, um estudo de sociologia rural, que deveria ser lido por todos aqueles que realmente se interessam pela História desse povo bom, trabalhador, honesto e hospitaleiro, que é o alagoano. Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Produziam o açúcar, o mel e a rapadura. Logo que eram construídos, seus proprietários procuravam também edificar
  • 7. uma Igreja. A casa grande emoldurava a beleza da paisagem típica da região. Algumas eram luxuosas, com móveis e objetos importados. A senzala, onde viviam os escravos amontoados; a bagaceira; a casa de purgar; o armazém (empório comercial) e outras edificações formavam um povoado. Os primeiros engenhos foram construídos por Cristovão Lins, o alemão que se constituiu no verdadeiro colonizador de Alagoas. Ele batizou logo com os nomes de Escurial, Maranhão e Buenos Aires. Ficavam no atual município de Porto Calvo, que ele também fundou na segunda metade do século XVI. Depois foram surgindo outros engenhos, já com o segundo colonizador, Antônio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda, irmã da mulher de Cristovão Lins. Esse casal fixou-se às margens do rio Camaragibe, terras hoje pertencentes aos municípios de Matriz e Passo de Camaragibe. Mas a sua sesmaria atingia ainda o vale do rio Santo Antônio, onde também edificou engenhos, como o próprio Engenho Santo Antônio, que funcionou por mais de três séculos, até ser transformado na atual e moderna Usina Santo Antônio, em São Luiz do Quitunde, desde a década de 1950, pertencente a família Correia Maranhão. Outros engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e Paraíba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e rios, até chegar a vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando pela velha capital (atual Marechal Deodoro) e atingir o porto. Hoje, o transporte é rápido e seguro. Das usinas, saem os caminhões-tanque, com o açúcar a granel, atravessando estradas asfaltadas e chegando à Maceió, onde é descarregado no Terminal Açucareiro do Porto de Jaraguá em fração de minutos, saindo por uma esteira rolante e chegando ao porão dos navios, para daí seguir para a Europa, América do Norte, Ásia, África e outros Continentes, garantindo a Alagoas uma boa posição (segundo lugar a nível nacional) na produção de açúcar, perdendo apenas para São Paulo. Costumes e tradições O dia-a-dia nos engenhos alagoanos dos séculos XVII, XVIII e XIX, era muito diferente do das atuais usinas e destilarias. Não existem mais escravos, e sim trabalhadores, mas que continuam servis aos patrões. A maioria sem carteira assinada, ganhando pelo que produz. Os escravos eram negros, enquanto os trabalhadores atuais são mestiços, brancos ou negros. Os costumes e tradições mudaram muito.
  • 8. Não existem senzalas, mas casas populares, em algumas usinas. A maioria preferiu deixar os trabalhadores morando nas cidades próximas e garantir o transporte para a usina ou o canavial. Assim, se ver livre do vínculo empregatício e a obrigação de garantir moradia e outros benefícios sociais. A casa grande, ainda existe. Mas geralmente o usineiro, vive mais na capital, em confortáveis mansões ou apartamentos luxuosos do Farol ou dos bairros da orla marítima. As sinhazinhas (filhas dos senhores de engenho) eram preparadas para casar logo que chegassem a adolescência. Estudavam as primeiras letras com professores particulares na própria casa grande, aprendiam noções de latim e francês; bordavam, cozinhavam e liam poesias. Eram românticas, mas dificilmente casavam por amor, sendo obrigadas a casar - na maioria das vezes, logo que iniciavam a adolescência - com primos legítimos e até tios. Tudo para preservar o patrimônio da família. As patricinhas (filhas dos usineiros) são meninas livres, que vivem a doce vida de filhas de milionários, viajando para o exterior, estudando nos melhores colégios da cidade, ou mesmo fora do país; usam roupas de grifes famosas e não mais são obrigadas a casar com quem o pai quer, embora que dificilmente procurem algum rapaz pobre. Algumas chegam a engajar-se no trabalho da usina, logo que terminam a universidade, sejam como administradoras de empresas ou assistentes sociais, economistas, advogadas, médicas, dentistas ou qualquer outra profissão de nível superior. Os rapazes, também participam da atividade produtiva do patrimônio da família, na maioria das vezes, já como profissionais de nível superior, seja como engenheiro, agrônomo ou administrador de empresa. Hoje, as senhoras dos usineiros, procuram trabalhar também na própria usina, ajudando o marido em atividades sociais, como a assistência às famílias dos trabalhadores. Já não são mais aquelas matronas, que se enfurnavam na casa grande, só cuidando das atividades domésticas e gerando filhos. Algumas optam pela vida produtiva na capital, atuando em atividades do comércio, como boutiques de marcas sofisticadas. Mas, são produtivas, atualizadas, viajadas e não mais esbanjam riquezas. Nos engenhos, as festas eram restritas a casa grande. Os escravos ficavam nas senzalas, cultuando suas tradições africanas. Eram proibidos de, pelo menos, observar os festejos realizados pelos patrões, que comemoravam as festas do santo padroeiro, as de São João e São Pedro; o Natal e o Ano Novo, além de casamentos, aniversários, batizados e outras cerimônias. A capela era o centro de todas as atenções. Nas usinas desse início de século, realizam-se festas promovidas pelos trabalhadores, geralmente em clubes sociais administrados por eles próprios. Ao invés do autêntico folclore típico da zona canavieira, dançam e cantam o axé-music. As moças usam
  • 9. mini-saia ou calça colada ao corpo. Pouco se diferenciam das filhas do patrão. Vez por outra, aparece alguma dessas filhas do proletariado, usando uma calça jeans de marca famosa, comprada a prestação numa boutique da capital. Ao invés do barracão (armazém de venda de alimentos) dos antigos engenhos, os trabalhadores das usinas, compram em supermercados ou mercadinhos das cidades próximas, ou mesmo na feira-livre. Os hábitos alimentares mudaram muito. Recebem seus salários no último dia útil da semana, e logo providenciam o abastecimento da cozinha, que dispõe de fogão a gás, geladeira, liquidificador e outros eletrodomésticos. A televisão é a responsável pela mudança de hábito do homem do campo. Nas usinas, o trabalhador fixo, que dispõe de casa, já exibe no telhado, uma antena parabólica. Os filhos crescem vendo Xuxa, Angélica, Ratinho e muito mais. Em algumas usinas, cujos proprietários são mais conscientes da realidade econômica e social, que prioriza a assistência ao trabalhador, funciona escolas e creches para as crianças, além de assistência médica e odontológica. Nos engenhos banguês, crianças filhas de escravos ou trabalhadores brancos, não frequentavam escolas, que eram só para os filhos dos patrões. Existem bons exemplos de como conduzir uma empresa moderna, pensando no social: A Caeté, do Grupo Carlos Lyra; Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley; Leão (Rio Largo), do Grupo Leão; Santo Antônio (São Luiz do Quitunde), do Grupo Correia Maranhão; Porto Rico (Campo Alegre), do Grupo Olival Tenório, entre outras. As vilas Quando o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho visitou o Sul do seu domínio, deslumbrou-se com a região do baixo São Francisco, parando num local e dando início a povoação de Penedo. Lá construiu um forte, e daí em diante, foram surgindo novos moradores, culminando com o aparecimento da primeira vila fundada em Alagoas. No século XVII, já despontando como a mais importante vila do Sul da Capitania de Pernambuco, foram sendo construídas as primeiras Igrejas e o convento, além de prédios diversos. Terra fértil, logo foi atraindo agricultores que plantavam todo tipo de lavoura, além do crescimento rápido da pecuária. O comércio expandiu-se. Penedo já era a mais importante vila, bem mais desenvolvida do que a chamada “cabeça-de-comarca”, a vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro).
  • 10. Hoje, Penedo esbanja progresso. Detém um comércio bem movimentado, várias agências bancárias, ligações com o país e o mundo através do DDD/DDI, indústrias de álcool e outros setores; uma sólida formação cultural, com várias escolas de primeiro e segundo graus, além de uma Faculdade, jornal, rádios, teatro e festas tradicionais. O Relatório Estatístico de Alagoas, de 1998, aponta uma população de 40.554 habitantes na cidade e mais 13.888 na zona rural. É tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Durante vários anos, foi a mais desenvolvida cidade do interior alagoano, perdendo esse posto para Arapiraca, na década de 1960. Sua decadência começou quando foi construída a ponte sobre o rio São Francisco, em Porto Real do Colégio, ligando Alagoas a Sergipe. A travessia de carros e passageiros, ainda continua na cidade, ligando-se ao outro lado do rio, através do rio. Mas o movimento mais intenso mesmo ficou por conta da ponte rodoferroviária. Mas aos poucos, a cidade foi soerguendo sua economia, e hoje é importante centro econômico e de turismo cultural. Durante alguns anos, realizava o Festival de Cinema, atraindo artistas e intelectuais de várias partes do país. Mantém o Festival de Tradições Culturais, a Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Gincana de Pesca e Arremesso, Penedo Fest e outros eventos de significativa importância socioeconômica, como seminários, congressos, simpósios, peças de teatro, etc. Suas Igrejas, seus sobrados e a beleza do rio São Francisco atraem muitos turistas, que dispõem de bons hotéis, restaurantes e passeio de barcos pelo rio, indo até a foz, na praia do Peba. Ainda no século XVII, emancipa-se o Povoado de Porto Calvo, tornando-se a segunda Vila. Sua Igreja, concluída em 1610, garantiu o título de primeira Freguesia fundada em Alagoas, antes da de Penedo. Preserva ainda seu altar-mor, todo em madeira, com a imagem de Nossa Senhora da Apresentação (sua padroeira), do Cristo crucificado e de Nossa Senhora da Conceição. Palco da luta dos holandeses pela colonização de Pernambuco, Porto Calvo ergue-se em uma colina, onde abaixo um imenso vale cortado pelo rio Manguaba, é ocupado por canavial, pastagem e lavouras de vários tipos. Terra fértil, logo foi atraindo novos moradores. E a vila cresceu, esbanjou progresso, mas foi decaindo ao longo dos séculos, somente ressurgindo no atual. Hoje, detém um comércio em franca ascensão, agências bancárias, sistema de telefonia fixa e celular e toda a infraestrutura para se desenvolver mais ainda. O Relatório Estatístico de Alagoas, versão 1998, aponta uma população de 24.150 habitantes, sendo 12.798, na cidade. Pouca coisa lembra o seu passado. A Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, é a única construção secular. Alguns sobrados construídos no início do século XX e, ainda o Alto da Forca, onde dizem ter sido enforcado um dos seus filhos mais ilustres: Domingos Fernandes Calabar.
  • 11. A terceira povoação fundada em Alagoas foi Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, alusão à lagoa Manguaba, onde está edificada às suas margens. A Lagoa do Norte é a Mundaú, que banha Maceió, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A vila foi crescendo e, logo no século XVIII tornou-se cabeça-de-comarca, espécie de capital. Quando da invasão holandesa, foi quase toda destruída, com suas casas sendo incendiadas pelos invasores. Mas, recuperou logo, e cresceu novamente. Na emancipação política de Alagoas, já com o nome de Alagoas, foi escolhida como capital da nova Capitania. Perdeu espaço para Maceió, que surgiu no século XVII, através de um engenho banguê. Seu patrimônio histórico é rico em beleza arquitetônica, como o Convento e o Museu de Arte Sacra; a matriz de Nossa Senhora da Conceição; o Palácio Provincial; a casa onde nasceu o marechal Deodoro; a cadeia pública e tantos outros monumentos, além do casario colonial e a beleza da lagoa Manguaba. Hoje, é uma cidade em pleno desenvolvimento socioeconômico, com boa rede de educação e saúde (possui uma Escola Técnica Federal e colégios de primeiro e segundo graus), além de hospitais e postos de saúde. Detém o Distrito Multifabril, com várias fábricas, gerando empregos e impostos para os cofres públicos, além da usina Sumaúma (açúcar e álcool). Figura entre o quarto maior município arrecadador de ICMS. É importante centro turístico, com seu patrimônio histórico intocável, e a praia do Francês, conhecida em todo o país. Sua população, segundo o Relatório Alagoas, é de 28.215 habitantes, sendo 17.451, na área urbana. A quarta povoação fundada, foi Santa Luzia do Norte, às margens da Lagoa Mundaú. Quase era destruída pelos holandeses, mas a força de sua população liderada por dona Maria de Souza, impediu a invasão. Eles recuaram e a vila continuou em seu ritmo normal. Muitos anos depois, foi rebaixada condição de vila, ficando pertencendo a Rio Largo, só se emancipando na década de 1960. Hoje, dispõe de uma importante fábrica de fertilizantes e investe também no turismo. Detém uma população de 6.397 habitantes, sendo 5.139, na cidade. Palmares – grito de liberdade Os negros africanos, que chegavam aos montes aos engenhos de Alagoas, logo que foi autorizado o tráfego negreiro, viviam como escravos, sendo maltratados, e trabalhando para enriquecer o patrão branco. Obviamente que eram revoltados e procuravam a todo custo, conquistar a liberdade. Era preciso que surgisse um líder da raça, que incentivasse os demais a lutar pela tão sonhada liberdade. E, assim entra em cena, Ganga Zumba que levou um grupo de negros para
  • 12. um local distante dos canaviais, no alto da Serra da Barriga, no atual município de União dos Palmares. Os engenhos localizavam-se nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo Antônio. A notícia foi se espalhando e a cada dia, chegavam mais negros fugitivos. Logo batizaram o local de Quilombo dos Palmares. Terra fértil, boa para o plantio de qualquer tipo de lavoura, foi se tornando um importante centro produtor. Os negros construiram uma verdadeira civilização, assim como era na África. Ganga Zumba se constituía no Chefe de Governo e tinha seus Ministros. Formou-se então uma verdadeira República Parlamentarista. Um avanço na época. Lá, eles viviam livres, falavam seu próprio idioma, não eram maltratados pelos brancos e podiam cultuar suas tradições religiosas e festivas. Vez por outra, os portugueses, brasileiros e até os holandeses, tentaram acabar com esse refúgio dos negros. Não conseguiram. A população negra era mais numerosa e organizada. O tempo foi passando, e Ganga Zumba já não conseguia ter forças para liderar a comunidade. Na tradição africana, a hereditariedade era passada de tio para sobrinho. E, assim ele escolheu um desses sobrinhos: Zumbi, um jovem negro, forte, educado por um padre de Porto Calvo, que logo se afeiçoou a causa da liberdade integrou-se ao Quilombo, e tornou-se o maior líder revolucionário da História do Brasil, finalmente reconhecido por decreto assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20 de novembro de 1995, exatamente quando o país reverenciava os 300 anos de sua morte. Zumbi era um líder nato. Sua companheira Dandara, uma mulher forte, guerreira, que liderava o grupo feminino. Organizado, logo pôs ordem no Quilombo, nomeando seus assessores e distribuindo tarefas para toda a população, que era preparada para a batalha. Quando esse dia chegava, ninguém dormia. O quilombo fervia. Eram homens, mulheres e crianças de prontidão para o ataque. E foram vários. Por quase um século o Quilombo dos Palmares resistiu. Mas em novembro de 1695, os brancos conseguiram subir a Serra da Barriga. Era um grupo numeroso e fortemente armado, liderado por Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira. O sangue jorrou. Milhares de negros foram barbaramente assassinados. Zumbi conseguiu fugir acompanhado de alguns de seus companheiros. Lutou até o fim, quando viu tudo que construiu ser destruído e seus irmãos de cor, sendo mortos. Existem duas versões sobre a morte de Zumbi. A primeira é a de que ele suicidou-se, pulando de um precipício na Serra da Barriga. Mas os historiadores da época, afirmam que ele foi assassinado mesmo, depois de alguns dias da destruição total do Quilombo. Sua cabeça foi cortada e levada ao Recife, para ser exposta ao público como um troféu. Era o dia 20 de novembro de 1695. E depois de três séculos, essa data vem sendo lembrada como o Dia
  • 13. Nacional da Consciência Negra. A cada ano, centenas de negros e brancos sobem à Serra da Barriga nesse dia, para reverenciar Zumbi e sua raça. O local é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Mas precisa melhorar sua infraestrutura. Foi construída uma vila cenográfica, lembrando o próprio Quilombo. No alto da serra, existe uma estátua, lembrando a figura do líder maior, mastro para bandeiras e muito espaço, com o verde predominando por todos os lados. Além, é claro, de um bonito visual para toda a zona da Mata. É uma das mais altas serras do Estado. O projeto para construção do Memorial Zumbi, já existe. Mas continua engavetado. Faltam recursos financeiros. É sempre assim: Quando se pensa em cultura, não existe dinheiro do governo, que só beneficia mesmo os banqueiros e outros grandes produtores. Seria a construção de um espaço cultural no alto da serra, com museu, biblioteca e teatro. A luta dos movimentos negros continua. Já apresentaram vários avanços. A própria cidade de União dos Palmares, lembra seu passado histórico. Em vários pontos, vê-se o nome de Zumbi e do Quilombo dos Palmares. Em Maceió, existem as praças Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares, além de uma escola municipal. O aeroporto também lembra esse episódio que se constituiu no primeiro grito de liberdade do Brasil. Terra prometida A fertilidade da terra que depois se transformou em Capitania, Província e Estado de Alagoas, atraía muita gente. E, com o avanço da invasão de outros povos europeus ao Brasil, logo esse pedaço da então Capitania de Pernambuco, ficou muito visado. Primeiro foram os franceses, que chegaram para explorar o pau-brasil. Não passaram muito tempo, mas deixaram uma marca: a construção do primeiro porto, que ficou conhecido como Porto dos Franceses, aproveitado depois como único porto da região, para o transporte do açúcar em demanda a Portugal. E foram quase três séculos com esse local contribuindo decisivamente com o progresso de Alagoas, até o surgimento do Porto de Jaraguá. Hoje, ainda existe um resquício aquela época: a carcaça de um navio francês, que, quando a maré está baixa, fica bem visível. E esse curto período vivido pelos invasores, imortalizou-se na História e está com o nome na “boca do povo”. É a praia do Francês, a mais badalada do litoral alagoano, conhecida no país e no mundo, como uma das mais bonitas do Brasil. Pertence ao município de Marechal Deodoro, distante poucos quilômetros da capital. Mas a fase mais duradoura dessas invasões foi mesmo a dos holandeses, que transformaram a Capitania de Pernambuco no Brasil Holandês. E muito contribuíram para o seu desenvolvimento, embora Alagoas não tenha experimentado essa fase de apogeu, que se restringia mais ao Recife e Olinda. Por aqui, foi mais destruição, como ocorreu com a Vila de
  • 14. Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (atual Marechal Deodoro), completamente incendiada pelos holandeses, que ainda tentaram fazer o mesmo em Santa Luzia do Norte, não conseguindo, devido à ação rápida de seus moradores, liderados por dona Maria de Souza. Em Penedo, construíram um forte, depois destruído pelos brasileiros e portugueses, que não queriam qualquer lembrança dessa fase. Outro episódio que marcou a presença dos holandeses em Alagoas, foi a Batalha da Mata Redonda, uma alusão ao local (hoje pertencente ao município de Porto de Pedras) onde ocorreu a mais sangrenta batalha entre holandeses, portugueses e brasileiros, vencida pelos primeiros, por ter um maior arsenal e maior contingente de homens. Mas os holandeses liderados por Maurício de Nassau, muito fizeram por Pernambuco. A cultura, a educação, o avanço na agricultura e na pecuária. Enfim, uma civilização que eles queriam formar, e transformar numa colônia desenvolvida. Construíram pontes (ainda existentes), teatros e outras grandes obras no Recife, cidade que ainda hoje lembra esse período de desenvolvimento cultural e econômico. É notório o gosto pela cultura do povo pernambucano, notadamente de Recife e Olinda. Por lá, surgem movimentos culturais que se expandem Brasil afora. O próprio frevo é criação dos pernambucanos. Os holandeses eram protestantes (evangélicos), mas não impunham essa religião aos brasileiros que eles já dominavam. Assim a religião católica continuou sendo forte na Capitania. Preocupavam-se com a educação, implantando métodos avançados de alfabetização para crianças e adultos. Maurício de Nassau foi inegavelmente o maior administrador que o Brasil já teve. Era organizado, trabalhador e extremamente ético, qualidades que os demais donatários portugueses não possuíam, optando mesmo pela exploração, a escravidão dos negros e índios e o aumento da produção de açúcar para enviar a Portugal. Calabar – herói ou traidor? Chamava-se Domingos Fernandes Calabar, um mulato filho de dona Ângela Álvares, nascido na Vila de Porto Calvo. Estudado, rico e com espírito de liderança, avançou no seu tempo. Mesmo assim, ainda era discriminado pelos brancos portugueses e brasileiros, por sua condição de mestiço e filho bastardo. Possuía engenhos de açúcar, muito dinheiro, estudou em Olinda, era culto e muito bem informado. Quando da Invasão Holandesa a Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos contra esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização
  • 15. muito mais avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o lado dos holandeses. Começa então, a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter sido traidor, mas que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento, mostrando a sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não era uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não foi compreendido, obviamente. Calabar viveu as experiências mais desastrosas daquela época. Acompanhava os holandeses em suas batalhas, destruindo engenhos e fazendas. Sabia que tudo aquilo que acontecia era porque seus conterrâneos não aceitavam a proposta de colonização dos invasores, optando mesmo pelos portugueses, já que eram descendentes destes. Por conhecer Recife e seu avançado projeto de desenvolvimento econômico-cultural, queria que tudo aquilo fosse implantado em Porto Calvo e Penedo. Não conseguiu. Seus conterrâneos venceram. Mas ele deixou bem patente em sua carta, que preferia derramar seu sangue por uma causa justa, que ele abraçou, do que viver sob o domínio mesquinho dos portugueses, que só queriam mesmo explorar os brasileiros. Foi morto e esquartejado, com partes do seu corpo distribuídas pelas ruas da Vila de Porto Calvo. Mas, os holandeses conseguiram recuperar tudo e fizeram o seu enterro com honras militares. Passou para a História da Holanda, como herói. A História do Brasil, o considera um traidor. Mas era escrita pelos portugueses. Na Holanda, ele é um herói. Existe até uma praça no Centro de Amsterdã, com seu nome, além de livros e documentos que comprovam as ideias de colonização desse bravo alagoano. Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na História de Alagoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610 (existe no alto de sua fachada, essa data), com seu altar-mor em madeira, originalíssimo e as imagens da sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a mais antiga freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca, onde dizem que ele foi enforcado, o Fórum, além de um clube, um bar e restaurante que levam o seu nome. Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória desse conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A esperança é de que um dia, ele seja finalmente considerado Herói Nacional, como foi Zumbi, outro que os portugueses também consideravam como traidor.
  • 16. Rumo à Independência O progresso do Sul da Capitania de Pernambuco conhecido como Alagoas, fez com que sua população fosse logo desejando a independência. Mas nada era fácil. No início da segunda década do século XVIII, foi criada a Comarca de Alagoas, sob a jurisdição da Capitania de Pernambuco, e nomeado o primeiro Ouvidor Geral: José da Cunha Soares. Por não existir cursos jurídicos no Brasil, esse cargo era destinado a quem fosse mais letrado, com espírito de liderança. Transformava-se em comandante da Justiça, da Política e da Economia. E no período de mais de um século, entre 1711 a 1817 (ano da sua emancipação política), Alagoas teve 17 ouvidores-gerais. Foi exatamente na segunda metade do século XVIII, que surge Maceió, de um engenho de açúcar denominado Massayó. A palavra é de origem indígena, significando terra alagadiça, que deu origem ao riacho com o mesmo nome. O engenho, de propriedade de Apolinário Fernandes Padilha, localizava-se na atual Praça Dom Pedro II, com o engenho propriamente dito, a casa de purgar, a senzala, a casa grande e a capelinha em louvor a São Gonçalo, que ficava no meio do morro do Jacutinga (Ladeira da Catedral). Duraram poucos anos. Ficou em fogo morto e o povoando foi crescendo. Surgiram novos moradores, que logo foram construindo suas casas e formando um arruado. Em 5 de dezembro de 1815, o povoado é elevado a categoria de Vila, desmembrando-se da Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro). Surgiram ainda as povoações de Anadia, Atalaia, Camaragibe, São Miguel dos Campos, Poxim e Porto de Pedras. A Comarca tinha como sede a vila de Alagoas, atual Marechal Deodoro, uma espécie de capital, já com suas Igrejas monumentais, ainda hoje preservadas. Penedo, Porto Calvo e Santa Luzia do Norte, eram as outras vilas, que continuavam crescendo e atraindo novos moradores. Ainda no século XIX existiam em Alagoas as vilas de Água Branca, Mata Grande, Pão de Açúcar, Traipu, Piranhas, Palmeira dos Índios, São Miguel dos Campos, Quebrangulo, Assembleia (Viçosa), Imperatriz (União dos Palmares), São José da Laje, Murici, São Luiz do Quitunde, Coqueiro Seco e Pilar. A traição que deu certo A Comarca de Alagoas já esbanjava progresso, provocando ciumeira em meio às lideranças da Capitania de Pernambuco. Nas duas primeiras décadas do século XIX, já se apresentava em condições de se tornar independente. Mas os donatários não aceitavam. Afinal, era daqui que eles abocanhavam uma boa parcela da arrecadação de impostos, além da grande produção de açúcar dos nossos engenhos.
  • 17. O Ouvidor Batalha, sempre sonhava em transformar Alagoas em Capitania e, ser o seu primeiro governador. Aproveitou a Revolução Pernambucana, que tinha como objetivo libertar-se de Portugal e, iniciou seu plano. Os revolucionários já haviam conquistado o apoio da Paraíba e Rio Grande do Norte. Faltavam Alagoas e Sergipe (Comarcas), além da Bahia e Ceará. Um emissário foi enviado do Recife a Salvador, para tentar conquistar esse tão sonhado apoio. Passando por Alagoas, propagava os ideais revolucionários e conquistava alguns adeptos. Mas o Ouvidor Batalha não se encontrava na sede da Comarca e sim na vila de Atalaia, já em campanha em prol da emancipação política de Alagoas. O emissário que trouxe a notícia para Alagoas e seguiu para Sergipe e Bahia, foi o Padre Roma. Aqui, encontrou um apoio de peso: o Comandante das Armas, Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, que atendendo ao pedido do Padre Roma, autorizou a destruição dos símbolos de Portugal e colocou em liberdade todos os presos. Passou por cima da autoridade maior da Comarca: o Ouvidor Batalha. Escreveu ao Conde D’Arcos, governador da Bahia, informando sobre os ideais da Revolução Pernambucana e seu apoio, pedindo o dele. Não conseguiu. Arrependeu-se de ter seguido os conselhos do Padre Roma. Era tarde demais. Em Atalaia, o Ouvidor Batalha, aproveitando os tumultos, escreve ao Conde D’Arcos comunicando-lhe das medidas que resolveu tomar: desmembrou a Comarca de Alagoas da jurisdição da Capitania de Pernambuco, enquanto durasse a revolução, e auto-nomeou-se governador provisório. Contou com o apoio que precisava, e venceu a batalha. Dias depois, Alagoas separou-se definitivamente de Pernambuco. Mas ele não conseguiu o que tanto sonhava: ser seu primeiro governador. O decreto assinado por Dom João VI, em 16 de setembro de 1817, emancipando Alagoas de Pernambuco, transformando a Comarca em Capitania, estabeleceu como capital a vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro) e nomeando como primeiro governador, o português Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que acabara de governar a Capitania do Rio Grande do Norte. Ao desembarcar no porto de Jaraguá, o governador encantou-se com a vila de Maceió. Foi recebido com muitas festas e, hospedou-se no sobrado de um português na esquina das ruas do Comércio e Livramento, onde hoje funciona a Ótica Flamengo. Sua posse aconteceu na matriz de Nossa Senhora da Conceição, na capital, numa solenidade com muita pompa, autoridades diversas e muitos discursos. Mas o governador não gostou muito do aspecto urbano da antiga vila, sempre priorizando Maceió.
  • 18. E essa opção pela vila ao invés da capital, fez com que várias autoridades protestassem. Os de Alagoas (Marechal Deodoro) não aceitavam sob hipótese alguma, a instalação de repartições públicas na vila de Maceió, enquanto o próprio governador e várias outras personalidades políticas, econômicas e culturais, preferiam mesmo que os principais órgãos públicos fossem instalados em Maceió, por ser mais desenvolvida que a capital, possuir um movimentado porto e toda a infraestrutura de uma capital. E assim foi feito. Melo e Póvoas instalou a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda, o Quartel Militar e a Alfândega. Ciumeira geral. Maceió crescia a olhos vistos. O governador mandou que fosse elaborada uma planta urbana, para proporcionar um novo visual a vila. O traçado das ruas e das praças e os melhoramentos necessários. E assim surgiram as ruas do Comércio, do Sol, Livramento, Boa Vista, Moreira Lima, Augusta, Nova, Alegria e as praças Dom Pedro II e Martírios. O traçado continua o mesmo. Nunca houve alargamento, mudando apenas a arquitetura das casas. O governador afastou-se do cargo em fevereiro de 1822, retornando à Portugal. Criou-se uma junta governativa formada por Antônio José Ferreira, José de Souza Melo, Nicolau Paes Sarmento, Manoel Duarte e Antônio de Hollanda Cavalcante, que permaneceu até a independência do Brasil, quando a Capitania foi transformada em Província. A Província de Alagoas Quando da independência do Brasil, Alagoas já esbanjava progresso, tendo o açúcar, como seu carro-chefe. Dezenas de engenhos produziam e exportavam através do Porto de Jaraguá. Os governadores passaram a ser denominados presidentes. E o primeiro deles, nomeado por Dom Pedro I, foi o pernambucano Nuno Eugênio de Lossio, que instalou o Conselho de Governo e autorizou as eleições para deputados e senadores. O segundo presidente, foi o mineiro Cândido José de Araújo Viana (Marquês de Sapucaí), que ficou no cargo apenas cinco meses, período em que instalou o Correio Provincial. É substituído por Miguel Veloso da Silveira Nóbrega e Vasconcelos, que determinou a criação de câmaras municipais nas cidades e vilas. E novos governantes, chegavam e saiam em pouco tempo. Eram baianos, pernambucanos, mineiros, paulistas, gaúchos e de outras províncias, que não se adaptavam por aqui e terminavam renunciando.
  • 19. Novas vilas foram surgindo nessa primeira fase de Alagoas como Província. Em 13 de outubro de 1831, emanciparam-se de Atalaia, as vilas de Assembleia (atual Viçosa) e Imperatriz (União dos Palmares), ambas na zona da Mata alagoana. Também nesse período, ocorreu a chamada Cabanada Selvagem, revolta dos índios de Jacuípe, na região Norte da Província, contra o assassinato de seu cacique, provocando muitos conflitos e assassinatos, além de destruição de engenhos e fazendas. Em 1831, surge o primeiro jornal impresso de Alagoas, mais precisamente em Maceió: o Iris Alagoense. Teve duração curta, porque o coronelismo imperava naquela época. Seu principal redator sofreu um atentando, escapando por milagre e, decidindo-se mudar-se para Recife. Depois, o nome foi substituído por O Federalista Alagoense, já impresso em Maceió. A vila já estava com ares de capital. Tinha até jornal, enquanto a capital propriamente dita (Alagoas, atual Marechal Deodoro) entrava em processo de decadência. Em 1849, mais uma conquista de Maceió (já como capital): o primeiro estabelecimento de ensino secundário: Liceu Alagoano, ainda hoje funcionando com nome original, depois de se chamado Colégio Estadual de Alagoas. Nos primeiros anos do Brasil independente, Alagoas “fervia”. Eram constantes conflitos entre brasileiros e portugueses. A Confederação do Equador, que explodiu em Pernambuco, chegou por aqui, tendo o apoio do senhor de engenho Manuel Vieira Dantas e sua mulher Ana Lins, de São Miguel dos Campos. Houve muita perseguição aos revolucionários e ela entrincheirou-se em seu engenho em São Miguel dos Campos, lutando até o fim do conflito, tornando-se uma das heroínas de Alagoas. A notícia da abdicação de Dom Pedro I chegou a Alagoas e provocou mais brigas entre brasileiros e portugueses. Os primeiros, representando a imensa maioria, em caminhada pelas ruas de Maceió, atacam o Quartel, apoderando-se de munições e chegam a prender lideranças portuguesas. Os manifestantes apoiavam a abdicação, por ser Dom Pedro II, brasileiríssimo. Enfim, o trono do Brasil, com um brasileiro. Dessa época (1822-1831), restam poucas reminiscências: Igrejas e conventos em Penedo, Marechal Deodoro e Porto Calvo. Em Maceió, o antigo forte de São João, atualmente um quartel do Exército, no Centro da cidade; o próprio traçado das ruas (obviamente que, com as edificações com arquiteturas diferentes); o porto de Jaraguá: a Igreja daquele bairro e, só. Tudo foi mudando aos poucos, preservando-se apenas os monumentos mais importantes.
  • 20. Maceió, capital Desde os tempos do primeiro governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, Maceió já esbanjava progresso, provocando ciumeira entre os habitantes da velha Alagoas, a capital da Capitania e depois Província. O próprio governador passava mais tempo na vida do que na capital. E, decidiu instalar as principais repartições públicas em Maceió. As mais importantes lideranças políticas daquela fase eram: Tavares Bastos (na capital) e Cansanção de Sinimbu (em Maceió). Chegou-se a se formar uma verdadeira guerrilha, que ficou conhecida como Lisos e Cabeludos, provocando tumultos generalizados e mortes. No governo de Agostinho da Silva Neves, a situação agravou-se. Ele também permanecia mais em Maceió do que na capital da província. O ano de 1839 foi o pior de todo o período dessa administração. O presidente chegou a ser preso por ordem do major Mendes da Fonseca, na capital. Solto, encaminhou-se ao porto do Francês, com ordem para deixar Alagoas. Mas pediu ao condutor do navio que fizesse o caminho de volta, dirigindo-se ao porto de Jaraguá. Ao chegar, foi recebido com muita festa pela população, liderada por Sinimbú, já autonomeado presidente da Província, enquanto na capital, Tavares Bastos, considerava-se também, presidente. Mas o titular, resolveu a questão de uma vez por todas. No dia 9 de dezembro de 1839, assina o decreto transferindo a capital da velha Alagoas (Marechal Deodoro) para Maceió. O fim de um sonho que se tornou realidade, por justiça mesmo. Afinal, a vila era muito mais importante do que a capital da Província. A cada dezembro, os maceioenses comemoraram duas datas festivas: o dia 5, lembra 1815, quando o povoado foi elevado a categoria de vila (município de hoje) e o dia 9, a transferência da capital, a data mais importante, porque era o acontecimento mais esperado naquela época. Em 1859, Maceió recebe a visita do Imperador Dom Pedro II, que inaugurou a Catedral Metropolitana, com a bonita imagem da padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres, presenteada pelo Barão de Atalaia e trazida de Portugal. A imagem representa os sete prazeres de Maria. Sua passagem pela capital ficou na História. Ele hospedou-se no sobrado do Barão de Atalaia (prédio anda hoje existente e preservado, que pertence a Aliança Comercial, na Praça Dom Pedro II). Esse sobrado de dois andares era o maior da cidade, mas seus moradores perderam a visão do mar, por causa de uma intriga com o Barão de Jaraguá, que construiu um outro mais alto, a sua frente (hoje, a Biblioteca Pública). O Imperador participou de festas na capital, e seguiu viagem para Penedo, Traipu, Pão de Açúcar e a cachoeira de Paulo Afonso, além de visita aos engenhos da zona da Mata e a Colônia de Leopoldina.
  • 21. Até as primeiras décadas do século XX, Bebedouro era o bairro nobre da capital, com suas mansões. Depois surgiu o Farol. A Avenida da Paz, no Centro, a beira-mar, era a preferida para a construção de bangalôs, onde viviam as mais tradicionais famílias da cidade. O Hotel Atlântico, foi durante muito anos, um dos mais procurados pelos viajantes. Construído a beira-mar e ao lado do riacho Salgadinho (limpíssimo), sempre foi um bonito exemplar da arquitetura das primeiras décadas do século XX. Sua arquitetura foi descaracterizada. O sobrado da família Machado, era outro exemplo de beleza arquitetônica. Depois foi adquirido pela Universidade Federal de Alagoas, para servir de Residência Feminina Universitária, passando logo após a abrigar o Museu de Folclore Théo Brandão. Abandonado, o prédio foi ruindo aos poucos e todo o acervo transferido para a antiga Reitoria. Mas, foi recentemente restaurado, esbanjando toda a sua beleza. A Avenida era também o cartão-postal: praia limpa, com areia branca. Palco do carnaval de rua, com o desfile de blocos e escolas de samba, além de desfiles estudantis e militares, nas comemorações do Dia da Independência e da Emancipação Política de Alagoas. Os sobrados do Centro emolduravam a paisagem típica de uma capital provinciana. O Hotel Bela Vista, na Praça dos Palmares, sempre foi o prédio de maior beleza arquitetônica, com sua varandas, com vista panorâmica para o mar da Avenida da Paz. Hoje é um edifício de 13 andares, que serve a representação do Ministério da Saúde. Ao lado, onde estão os edifícios do INSS, existia o antigo palácio do Governo, com quadro andares. A Praça Sinimbú, era repleta de sobrados, onde vivia a burguesia. Em frente o prédio da Linha de Bondes, com seu relógio. Foi derrubado, para construir a Faculdade de Engenharia, depois Reitoria da Universidade Federal de Alagoas, e atualmente, Espaço Cultural da Ufal. Imaginem Maceió no início do século XX, com seus sobrados, Igrejas e a população andando nas ruas centrais! Os homens de terno, gravata e chapéus e as mulheres de vestidos longos, esbanjando charme e elegância. Os bondes eram puxados por cavalos. Só depois, chegaram os movidos à eletricidade. Faziam o percurso entre o Centro, Trapiche, Bebedouro, Farol e Pajuçara. Até 1958, era esse o principal meio de transporte urbano. A alegria da juventude, que estudavam nos colégios São José, Instituto de Educação, Anchieta, Liceu, Guido, Diocesano, Sacramento, Batista e outros. Depois surgiram as “sopas”, uma espécie de micro-ônibus. Mas os bondes deixaram saudade. E Maceió nunca parou de crescer. A cada censo realizado pelo IBGE, constata-se mais gente vivendo na capital alagoana, que neste início de novo milênio, ostenta uma população de mais de 800 mil habitantes. Novos bairros vão surgindo. Mas surgem também, novas favelas, que já somam quase 100, fruto do êxodo rural e do desemprego generalizado.
  • 22. Os bairros da orla marítima (Cruz das Almas, Jatiúca e Ponta Verde), que até a década de 1960, eram imensos sítios de coqueiros, foram atraindo moradores, com a construção de edifícios de apartamentos. Hoje, formam um verdadeiro labirinto de concreto. Mas existe uma lei municipal que proíbe a construção de prédios a beira-mar com mais de seis andares. Esses bairros só estão crescendo mais verticalmente (edifícios). Não existe mais espaço para casas. Essas são construídas na parte alta da cidade, como Barro Duro, Serraria, Tabuleiro do Martins e Benedito Bentes. Surgem condomínios fechados, com verdadeiras mansões, como o Aldebaran e Jardim do Horto. Nos anos 60, a novidade foi o Edifício Breda, com seus dez andares, onde a juventude sempre se dirigia para subir até o último andar, de elevador (novidade) e apreciar a beleza da orla marítima e da lagoa de Mundaú. Era ponto de encontro para namorados. Mas também serviu para suicídio de muita gente. Ainda nesse período, é construído o Edifício São Carlos, com 11 andares e 22 apartamentos, na Avenida da Paz, de frente para o mar. Foi o primeiro edifício de apartamento da cidade. Depois, outra atração: a escada rolante da Lobrás. Todos queriam experimentar, subindo na escada, sem precisar dos batentes, e se deliciar com a beleza da loja e suas mercadorias expostas. A capital modernizou-se, com edifícios comerciais e residenciais. Em 1989 ganhou seu primeiro shopping center: o Iguatemi. A partir daí, foram surgindo outros. Só em 1998, dez deles foram instalados, de pequeno e médio portes, abrindo-se assim 2 mil novos empregos diretos e 600 pontos de venda. O comércio descentralizou-se, atingindo os vários bairros. O tradicional bairro de Jaraguá está sendo revitalizado. Seus sobrados, ruas estreitas e praças, ganham o visual de antigamente. O imponente prédio da Associação Comercial de Maceió, construído na década de 1920, foi restaurado. O mesmo ocorreu com o prédio da antiga Alfândega (Museu da Imagem e do Som), enquanto as ruas tiveram o asfalto retirado, para dar lugar ao calçamento em pedras. O projeto também beneficia a praia da Avenida, antigo cartão postal. O Centro da cidade deverá ser revitalizado. Alguns prédios já foram a exemplo do próprio Palácio Floriano Peixoto (Palácio dos Martírios – sede do governo), do Instituto Histórico, da Biblioteca Pública, da Aliança Comercial, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Academia Alagoana de Letras e Teatro Deodoro, todos construídos no século passado. A cidade detém um bom lugar no ranking do turismo nacional. Na alta temporada de verão, fica com seus hotéis e pousadas lotados. Navios de passageiros chegam ao Porto de Jaraguá, com centenas de estrangeiros. Os turistas visitam as praias, lagoas, bares, restaurantes, mirantes, monumentos históricos e adquirem o artesanato local. A vida noturna é
  • 23. bastante agitada. Existem bares, restaurantes e boates espalhados por vários pontos. Mas os destaques são: Stela Maris, Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara e Jaraguá. Todos na orla marítima. Guerras e guerrilhas Alagoas sempre foi palco de conflitos e sua fama de terra violenta correu o país. No século XIX, surgiram vários desses conflitos. Na briga pela disputa da capital entre Marechal Deodoro e Maceió, consagraram-se dois alagoanos: Cansanção de Sinimbu e Tavares Bastos. Surgiu daí a chamada Guerra dos Lisos e Cabeludos, respectivamente conservadores e liberais. Era uma espécie de partidos políticos. Os Lisos, comandados por Tavares Bastos, denunciavam que Cansanção de Sinimbu queria dominar Alagoas, formando uma verdadeira oligarquia. O dia 4 de outubro de 1844 foi “um dia de cão” em Maceió. Os Lisos invadiram Maceió e comandaram um tiroteio no Centro, que duraram duas horas. Ainda na década de 1840, surgem os temidos irmãos Moraes, que, para vingar a morte do pai, formaram um bando semelhante ao de Lampião, espalhando o terror por toda Alagoas. Para alguém morrer, bastava que o bando desconfiasse que este pertencia ao partido dos Cabeludos. A primeira vítima foi um tenente de Quebrangulo. Os irmãos Moraes, dividiam o ódio pelos assassinos do pai, aos integrantes dos Cabeludos. Tentaram matar o Barão de Atalaia, que diziam encontrar-se no Sertão de Pernambuco. Não encontraram o alvo, mas mataram um rapaz inocente, que estava na casa onde deveria se encontrar o Barão. Durante a Guerra do Paraguai, Alagoas enviou cerca de 3 mil homens para combate, inclusive toda a família Mendes da Fonseca (Deodoro e seus irmãos). A mãe, dona Rosa da Fonseca, vibrava com as notícias de vitória do Brasil, e demonstrava essa alegria, exibindo panos brancos nas janelas de sua casa na velha cidade de Alagoas. Mas três de seus filhos morreram em combate. Para ela, um ato de heroísmo. No final, o Paraguai ficou destruído. O que importava para o Brasil era mesmo acabar com aquele pequeno país, que na época adotava um sistema semelhante ao socialismo do século XX. O povo paraguaio, sempre teve espírito cívico. Quando surge algum ditador, procura derrubá-lo do poder. Assim fizeram com Alfredo Stroesner e mais recentemente com Raul Cubas. Ambos se refugiaram no Brasil. Nas décadas de 1920/30, o terror foi espalhado no Sertão alagoano com as sucessivas passagens de Lampião e seu bando, que evitavam as cidades por onde o trem passava. Mas, foi à polícia alagoana, que conseguiu acabar com essa fase de violência,
  • 24. matando Lampião, Maria Bonita e quase todos os cangaceiros, numa gruta, do outro lado do rio São Francisco, na localidade conhecida como Angicos. Os chefes políticos sempre dominaram Alagoas, espalhando a violência em várias regiões. Sempre ficavam impunes. Detinham o poder político e econômico. Muitos episódios marcaram a História de Alagoas, envolvendo famílias violentas. Os Malta, de Mata Grande, fizeram história, brigando entre si: Maia, de Pão de Açúcar; Teixeira, de Chã Preta; Mendes, de Palmeira dos Índios; Novaes, de Santana do Ipanema; Fidelis, de Pindoba; Calheiros, de Flexeiras; Tenório, de Quebrangulo (de onde surgiu o lendário Tenório Cavalcante, mais conhecido como o “homem da capa preta”, que migrou para o Rio de Janeiro, aterrorizando a Baixada Fluminense, com sua famosa metralhadora: a Lourdinha. Essas famílias brigavam entre si, por questões de terra e política. Aterrorizando os moradores das cidades, que, temiam ser mortos. Em Mata Grande, os Malta brigavam entre primos, irmãos, tios e outros parentes, provocando tiroteios em plena rua. Ninguém se atrevia a abrir a porta. Sempre foram temidos e se orgulhavam disso. Pindoba, sempre foi dominada pelos Fidelis, que aterrorizaram a pequena cidade. Não é mais. Muitos morreram, outros estão presos e, os sobreviventes, já não seguem o que seus antecessores fizeram. Matavam friamente os pobres coitados, que “olhassem atravessado” para um deles. Mas, essa fase também vem acabando. Muitos desses valentões já morreram, e os descendentes, já não mais seguem essa atitude burra, em desuso no mundo moderno em que vivemos. Pindoba hoje é comandada por um jovem fazendeiro, que não tem qualquer grau de parentesco com os Fidelis. A paz estabeleceu-se na cidade. Outro episódio que ficou na história, ocorreu mais recentemente, envolvendo as famílias Calheiros e Omena, com sucessivos crimes, aterrorizando Maceió. O cabo Henrique, da Polícia Militar, para vingar a morte do pai, juntou seus irmãos (Omena) para matar os integrantes de uma porção violenta da família Calheiros, que se assinam Cavalcanti Lins, com base na cidade de Flexeiras. Assassinatos sucessivos entre as duas partes, eram manchetes dos jornais na época. No Sertão alagoano, surgem dois personagens, que aterrorizaram o Estado com sucessivos crimes: Floro e Valderedo. Iniciaram a matança por questão de vingança, e aos poucos, os assassinatos foram se sucedendo, culminando com uma espécie de bando, quase semelhante ao de Lampião. Neste final de século, surgiu outro bando, que aterrorizou o Sertão. Era de Marcos Capeta, um jovem revoltado, que assassinou dezenas de pessoas em várias cidades de Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Sempre conseguiu fugir da polícia. Mas foi morto pela PM baiana em agosto de 1999.
  • 25. Vez por outra, surgiam famílias que dominavam a política e a economia em seus municípios, envolvendo-se em questões de terras, culminando com muita violência. Aos poucos, o coronelismo vai acabando, graças a democracia, com a liberdade de imprensa e as denúncias feitas, envolvendo figuras importantes do mundo político e econômico, que acabam abandonando esse lado violento e engajando-se ao mundo globalizado, competitivo e criativo, ao lado dos chamados emergentes, que são pessoas pobres, que cresceram economicamente e se tornaram líderes e poderosos. Partidos e Imprensa A segunda metade do século XIX foi de agitação política. O nível nacional surge os partidos Liberal e Conservador. Em Alagoas, foram criados os Luzias e Saquaremas, instalados durante a presidência de José Bento da Cunha Figueiredo. O partido dos Luzias, utilizava-se do jornal O Tempo, para alimentar a sua política, com ideias defendidas através de ataques ao presidente. Os Saquaremas tinham o jornal Timbre Alagoano, atacando o partido oposicionista. Na presidência de Pereira de Alencastro, esses dois partidos se dividiram. Os Luzias, formaram o Partido Progressista e o partido Histórico. Esse último coligou-se pouco tempo depois aos Saquaremas. Antes da Abolição da Escravidão, Alagoas já estava na luta por esse objetivo. Em setembro de 1881, foi instalada a Sociedade Libertadora Alagoana, que marcou época. Detinha dois jornais: O Lincoln e o Gutemberg, ambos engajados na luta pelo fim da escravidão. O ideal republicano começou a surgir com o jornal O Apóstolo, em 1871. Depois surgiu A República. Em 1888, o jornalista João Gomes Ribeiro fundou o Centro Republicano Federal de Maceió. Um ano depois, é proclamada a República, exatamente por um alagoano. A política em Alagoas sempre foi clientelista. Existiam e ainda existem verdadeiros “curais eleitorais”, onde os chefes políticos mandam e demandam, comprando votos de eleitores pobres e analfabetos. Aos poucos, esse critério vai mudando. Mas ainda deverá demorar muito, para acabar de uma vez por toda com toda a bandalheira que existe em ano eleitoral, onde o dinheiro está acima de tudo. No início do século XX, dois irmãos dominaram o governo do Estado, como eleitos pelo povo: Joaquim Paulo e Euclides Vieira Malta, formando o que passou para a História como Oligarquia dos Malta. A família continuou dominando no alto Sertão, elegendo prefeitos e
  • 26. deputados estaduais. Mas, foi se dispersando e a cada eleição, seus candidatos vão sendo derrotados. Nas décadas de 1930/40, os Góes Monteiro, formaram outra oligarquia. Alagoas passou a ser conhecida como “Alagóes”. Dois irmãos: Ismar de Góes Monteiro e Silvestre Péricles de Góes Monteiro, foram governadores (um, especificamente Interventor, na ditadura de Vargas e o segundo, governador eleito pelo povo). Já nos anos 70, 80 e até quase o final de 90, outra oligarquia dominou o Estado. Mas não uma familiar e sim, de amigos: Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira. Começaram eleitos indiretamente, durante a ditadura militar. Depois, foram “ às urnas e ganharam. Quando não se candidatavam, apresentavam um candidato, que era facilmente eleito. Só perderam e desapareceram da cena política, nas eleições de 1989. Essas oligarquias estão acabando. Os próprios coronéis da política, já se foram. Surgem os emergentes. Alguns de direita, outros de esquerda. São cidadãos que enriqueceram com esforço próprio, na agropecuária, na indústria, no comércio ou na prestação de serviços. Famílias tradicionais da política alagoana, como os Malta, de Mata Grande; Torres, de Água Branca; Bulhões, de Santana do Ipanema; Dantas, de Batalha; Sampaio, de Palmeira dos Índios; Vilela, de Viçosa; Moreira, de Capela; Gomes de Barros, de União dos Palmares, e tantas outras, estão perdendo espaço para novas lideranças políticas. O primeiro jornal impresso que surgiu em Alagoas foi o Iris Alagoense, em 1831, em Maceió, que, ainda não capital da Província. Foi o primeiro passo para o avanço dessa área, com a criação de outros jornais, tanto em Maceió, como em Penedo, Marechal Deodoro e, depois: Viçosa, já na segunda metade do século XIX. Até mesmo nos engenhos, havia a preocupação com a cultura. No Bananal, do coronel Quintiliano Vital, em Viçosa, foi publicado o jornal O Camponês, com notícias envolvendo mais as atividades agrícolas. Seu primeiro número saiu exatamente no dia da Abolição da Escravidão. Seus editores não sabiam desse fato. A notícia chegou depois. O jornal mais antigo ainda em circulação (quinzenal) é O Semeador, da Arquidiocese de Maceió, fundado em 1913. O Jornal de Alagoas circulou durante 85 anos, paralisando suas atividades em 1993. Atualmente o diário mais antigo é a Gazeta de Alagoas, da Organização Arnon de Mello, com 65 anos de existência e o de maior circulação no Estado. Funcionam em Maceió neste início de século, três jornais diários: Gazeta de Alagoas, O Jornal e Tribuna de Alagoas, pela ordem os de maior circulação. São cinco emissoras de Televisão: Gazeta (Globo), Pajuçara (SBT), Alagoas (Bandeirantes), Massayó
  • 27. (MTV) e Educativa. São dezenas de rádios AM e FM distribuídas entre a capital e cidades do interior. Nepotismo em Alagoas O nepotismo (emprego público para parentes) é uma prática adotada no Brasil desde o seu descobrimento. Na primeira carta enviada por Péro Vaz de Caminha ao rei de Portugal, depois de vários elogios a nova terra, ele pede um emprego para um parente seu. Em Alagoas, logo que foi proclamada a República, essa prática aparece. O presidente Deodoro da Fonseca nomeia seu irmão Pedro Paulino, para governador. De lá para cá, a prática é tão comum, que os pais já criam os filhos pensando num emprego público, que virá logo que ele complete a maioridade. E há casos até mesmo de falsificação de documentos, aumentando-se a idade, para que esse filho ingresse logo no serviço público e torne-se um marajá. Existe nepotismo abertamente, nos três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Famílias inteiras usufruem do dinheiro público. Quando surge uma denúncia na imprensa, com a relação de integrantes de famílias de deputados, desembargadores, conselheiros do Tribunal de Contas, governadores, secretários de Estados e outras lideranças, o escândalo está formado, mas logo surge outro, esquecendo-se daquele. Ninguém perde um centavo da renda. Continuam marajás, usufruindo das benesses do governo. Na Assembleia Legislativa, cada um dos 27 deputados têm direito a 30 assessores. Um escândalo. Os gabinetes não comportam essa quantidade. Trabalham mesmo, no máximo, cinco. Os demais só aparecem no local para receber o cheque-salário. Boa parte desses assessores é formada por irmãos, primos, cunhados, filhos, sobrinhos e demais parentes dos deputados. O mesmo esquema é montado nos Tribunais de Justiça e de Contas. São ao todo, 1.500 funcionários públicos beneficiados com altos salários, que abocanham mais da metade da folha de pagamento. Uma vergonha nacional. A bandalheira sempre foi escancarada nas prefeituras do interior, onde os prefeitos empregam parentes nos mais diversos cargos, sem qualquer qualificação profissional. Empregavam. Não empregam mais. A Lei de Responsabilidade Fiscal aprovada pelo Congresso Nacional, de autoria do Executivo, pune os corruptos. Não se pode gastar mais do que arrecada. A torneira está fechada. Não existe dinheiro do governo federal para o que sempre fizeram. Tem que cortar despesas e, muitos já estão demitindo empregados e acabando com certas mordomias.
  • 28. Os pioneiros Na época da colonização, os pioneiros foram: o alemão Cristovão Lins, fundador dos três primeiros engenhos, em Porto Calvo, e o português Antônio de Barros Pimentel, que fundou engenhos nos vales dos rios Camaragibe e Santo Antônio. Depois foram surgindo novas famílias, como os Mendonça, com seus engenhos de açúcar e fazendas de criação de gado. Mas só no século XIX, surge a indústria urbana em Alagoas. Em 1859, o Barão de Jaraguá, fundou a primeira fábrica de tecidos: a de Fernão Velho, ainda hoje existente. É o avanço da industrialização em Alagoas. Depois foram surgindo outras fábricas têxteis, como a de Saúde, da família Nogueira (Maceió): Vera Cruz, em São Miguel dos Campos (Contonifício João Nogueira) ainda funcionando: Alexandria, em Maceió, da família Lôbo e outras em Penedo e Pilar. Rio Largo cresceu com o avanço dessa atividade, através do comendador Teixeira Basto (duas fábricas), avançando mais ainda depois da administração do seu genro Gustavo Paiva, um verdadeiro construtor do progresso de Alagoas, que implantou naquela cidade, a mais avançada legislação trabalhista do Estado. Os operários tinham moradia, com conforto e toda infraestrutura (energia elétrica e água canalizada), escolas de boa qualidade para os filhos; assistência médica; cinema, clube social, quadras de esportes, com piscina (uma novidade na época) e a garantia de salários e dia e todos os benefícios sociais possíveis. Outro pioneiro da indústria em Alagoas foi o português Jacintho Nunes Leite, que se estabeleceu em Bebedouro (ainda existe o casarão da família, bem preservado). Instalou indústrias (foi proprietário da fábrica de Fernão Velho); Os primeiros bondes da capital; energia elétrica e água canalizada, em Bebedouro e outros benefícios. O bairro era naquela época (e até as primeiras décadas do século XX) o mais nobre de Maceió. Verdadeiras mansões emolduravam a paisagem que margeava a lagoa de Mundaú, proporcionando um bonito visual aos passageiros do trem que passava pelo local. Na última década do século XIX, é a vez das usinas. Já havia sido abolida a escravidão. Os engenhos estavam enfrentando uma grave crise, com os escravos livres, tendo que ser remunerados. Os velhos coronéis abandonavam a atividade, procurando outras mais rentáveis e que empregasse menos gente. Em 1891, surge a primeira usina de Alagoas: a Brasileiro, em Atalaia, fundada pelo Barão de Vandesmant, um francês, que se apaixonou por Alagoas e aqui implantou uma moderna tecnologia, com a usina dispondo de toda a infra-estrutura tecnológica importada da Europa. E, deu um novo perfil a atividade: os trabalhadores passaram a ser operários, com moradia bem estruturada, assistência médica, extensiva aos familiares: legislação trabalhista avançada e aposentadoria. A usina funcionou até 1958.
  • 29. Na mesma década de 1890, surge a segunda usina: Leão, no antigo Engenho Utinga, em Rio Largo. A família Amorim Leão, também avança no tempo, implementando um novo estilo de produção, com base no incentivo ao trabalhador. Venceu. Ainda hoje a usina é comandada pela família, já na quinta geração e misturada à família francesa Dubeaux. A terceira usina fundada em Alagoas foi em São José da Laje: Serra Grande, aproveitada de um antigo engenho banguê. O coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra foi outro pioneiro na industrialização alagoana. Pernambucano, fixou-se com a família naquela região e fez História. Dava total assistência aos seus empregados, produzia um açúcar de excelente qualidade, e já com a usina em poder de seu filho, Salvador Lyra, na década de 1930, lançou-se no mercado, o álcool como combustível, com a marca Usga (iniciais da usina). Foram instaladas bombas em São José da Laje, Maceió e Recife. Um sucesso, que incomodou as multinacionais. Com o poder de pressão, esses estrangeiros exigiram do então presidente Getúlio Vargas que acabasse com esse projeto da usina alagoana. Foram atendidos. E o álcool deixou de ser combustível, para só retornar na década de 1970, com a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), pelo então presidente Ernesto Geisel. Também no início do século XX, surge outro verdadeiro pioneiro da indústria em Alagoas: o cearense Delmiro Gouveia, que havia saído do Recife, depois que provocou muita confusão por lá, fruto de sua audácia, inteligência e criatividade, que incomodavam os empresários e políticos locais. Lá, na capital pernambucana, ele fundou o Mercado do Derby, uma espécie de shopping center do século XIX. Desembarcando em Penedo, navegou rio acima até chegar próximo à Cachoeira de Paulo Afonso, encantando-se com a paisagem e resolvido ficar. Bem próximo, no povoado Pedra, fundou a primeira fábrica têxtil do Sertão alagoano. Também incomodou os estrangeiros, já que concorria com a linha Corrente (inglesa). Implantou uma verdadeira revolução industrial em plena região da seca. Venceu. Pedra tornou-se uma cidade industrial, com a vila operária e toda a infraestrutura moderna, onde os operários eram bem tratados pelo patrão, recebendo toda assistência social possível. Luz elétrica, um avanço no início do século XX. Nem a capital dispunha desse benefício. E Delmiro levou a energia elétrica a Pedra, através da Cachoeira de Paulo Afonso, onde ele fundou a primeira Hidrelétrica do Nordeste, hoje ainda esbanjando progresso e tecnologia. Foi assassinado em 10 de outubro de 1917, quando lia jornal na varanda de seu chalé. O crime chocou Pedra e todo o Sertão alagoano. Dois suspeitos foram presos (ex-empregados da fábrica). Mas a dúvida continuava. Ninguém achava que fossem aqueles pobres coitados, admiradores do ex-patrão e até compadres. Tinha “costa quente” por trás de tudo. Mas foram esses ex-operários que pagaram a conta. Um morreu na cadeia e o outro ficou até o fim da sua pena. Mas a família nunca se conformou e reabriu o processo, já depois dele morto. Venceu. Foi a primeira sentença pós-morte, onde o culpado foi julgado inocente. Coisas de Alagoas mesmo.
  • 30. A fábrica de Delmiro Gouveia passou por vários donos. Na década de 1980, chegou ao estágio de pré-falência, levando o proprietário ao suicídio. Mas, recuperou-se. Foi adquirida pelo empresário Carlos Lyra, e hoje é uma das mais modernas do país. A Era Vargas Quando o Brasil foi sacudido pela Revolução de 1930, levando o gaúcho Getúlio Vargas ao poder, Alagoas era governado por Álvaro Paes. A agitação política se restringia mais as grandes cidades. Inicia-se a fase dos interventores nomeados pelo presidente da República. Foram nove, em 15 anos da Era Vargas, que exerciam o cargo obedecendo às decisões do chefe da Nação. O primeiro desses interventores foi o sergipano Hermílio de Freitas Melro, que passou um ano no poder, sendo substituído por Luiz de França Albuquerque, alagoano de Viçosa, seguido do capitão Tasso Tinoco, Afonso de Carvalho e Temístocles Vieira de Azevedo. As eleições para deputados são realizadas em 1933, elegendo-se seis alagoanos: Manoel de Góes Monteiro, Izidro Teixeira de Vasconcelos, José Afonso Valente de Lima, Antônio de Melo Machado, Armando Sampaio Costa e Álvaro Guedes Nogueira, representantes do Estado, na Assembleia Constituinte, que promulgou a Constituição de 1934. Quem mais se destacou como interventor, foi o jurista Osman Loureiro, também eleito governador nas eleições de 1935, permanecendo no cargo até 1937 quando se deu o Golpe do Estado Novo. Nesse período de dois anos, como representante eleito pelo povo, fez várias obras e liberou recursos para as áreas de educação, saúde e segurança pública. Depois, já na ditadura, voltou a ser interventor. Passaram ainda pela interventoria: José Maria Correia das Neves, Ismar de Góes Monteiro e Antônio Guedes de Miranda. Acaba assim a Era Vargas em Alagoas, iniciando-se o processo de redemocratização, com as eleições gerais de 1946. A ditadura de Vargas provocou muitas prisões de alagoanos, que defendiam a democracia. O escritor Graciliano Ramos, já famoso na época, foi preso no Rio de Janeiro. Esse episódio gerou o livro Memórias do Cárcere, um best-seller. Apesar da ditadura, o povo adorava Getúlio, que implantou a Legislação Trabalhista, criou o salário mínimo (muito valorizado na época) e o voto da mulher. Alagoas viveu nas interventorias, satisfatoriamente. No Estado Novo não existia Congresso nem Assembleia. Portanto, gastos com deputados e senadores não era preocupação do governo. A arrecadação servia para pagar suficientemente os salários dos funcionários públicos.