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Composto por:
 João Morgado




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    Poesia de:
    João Morgado


                                   Apresentação
                       João António Santiago Morgado, nasceu no dia
                       04-02-1953 no seio duma família numerosa na
                       Vila do Juncal, Porto de Mós onde viveu até aos
                       35 anos.. Foi então morar para Alvôco da
                       Serra, Concelho de Seia, aquando foi trabalhar
                       como modelista numa empresa metalúrgica da
                       zona, fixando ai residência.
                       Ao longo da sua vida dedicou-se a várias
                       actividades culturais e sociais como: ao teatro
                       amador por influência paterna, ao folclore
                       criando o Grupo Folclórico e Etnográfico de
                   x   Alvoco da Serra e entre outras, à gestão da
                       colectividade da sua terra natal.
                       Após a doença que o incapacitou para a sua
                       actividade laboral, dedicou-se cada vez mais
                       afincadamente à poesia, talvez devido à sua
                       solidão e condicionalismos de saúde. A pintura é
                       outra das suas paixões, embora numa outra
                       escala.
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                                  O livro


                                  Abri aquele livro descorado pela idade,
                                  em que te encerrei, quimera de desalento
           Dedicatória            e nessa pequenez fiz o meu destino lento,
                                  Fiz-me cativo de loucuras de intimidade.
    Dedico este meu livro aos
                                  Soprei da capa, tanta nostalgia,
    meus filhos: Pedro, Olga
                                  soprei cada promessa, que voou com o bafejo,
    e Vítor, e às minhas netas:
                                  havia lá tantos sonhos lavrados na euforia,
    Sofia e Mónica
                                  com perfume dos carinhos...e tanto beijo.

                                  Fiquei-me a ver cada página, de olhar humedecido
                                  e lia nelas, de olhos cerrados, tudo o que me prometeste,
                                  quando dei por mim, pensava no que não foi cumprido.

                   n              Hoje, não sou mais o jovem puro que conheceste,
                                  nem o meu corpo ainda goza daquela exaltação.
                                  Preciso queimar este livro, é de capa de solidão.


                                                      sr




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    Vestido de poesia             Eu acredito


    Desta vez estou contigo,      Deitado na relva perto da ribeira,
    vestido de poesia             cerro os olhos e dou asas à utopia.
    e neste encontro de amigo,    Sinto nas águas uma esteira,
    quero ser toda a alegria.     entre o sonho e a fantasia.

    Que seja bonito o instante,   A tua face brilhando estou vendo,
    deste encontro, que afinal,   entretanto, com a luxúria da margem,
    terás de mim como amante,     sinto o fresco me percorrendo,
    do romantismo natural.        pelo sorriso que observo na miragem.

    Vou ampliar o sentimento,     És tu, pensando em mim que me acodes,
    de voz trémula de emoção,     num fogo, a dizer-me do teu bem-querer,
    quando chegar o momento,      talvez pensando em tudo o que podes,
    vou abrir o coração.          comigo e em mim também fazer.

    Passo então cada pedacinho,   Só peço aos Deuses, algures,
    com sentimento de alegria,    que olhem pra nós com engrandecimento.
    com o meu habitual carinho,   Imagino que p’los teus lábios jures,
    mas vestido de poesia.        fidelidade e amor, de mim tens o juramento.

    Queres saber o porquê,        De olhos fechados continuo a sonhar,
    deste meu jeito original?     apenas deixando a brisa acariciar-me,
    Porque me encanto! Toma lê.   parece que me sussurra, em beijos sem par:
    Faz com ele um recital.       amo-te, meu “…….…”, vem amar-me.




                                                                                5
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                                                      Acaricia-me


    Mas, o vento parou junto às águas,                Acaricia-me,
    para suavemente ao meu ouvido gemer:              como a borboleta que beija a flor,
    Como lamento meu amigo, as tuas mágoas.           ou a lua que enfeitiça as noites,
    Nem tu nem ela, merecem assim sofrer.             remexe neste modo de sentir a dor,
                                                      se um beijo não chegar, dá-me uns açoites,
    Levantei-me e junto ao rio lavei o rosto,
    o frio da água entrando em mim deixou revelado:   Acaricia-me,
    Amigo, espera melhores dias, o fogo está posto.   com gestos audazes desses dedos
    Eu acredito em ti, Rio Sagrado.                   E na plenitude dos meus segredos,
                                                      rouba das noites os meus medos,
                                                      que concebem cerrados arvoredos.

                                                      Acaricia-me,
                                                      minha amiga, meu guru protector,
                   g                                  compreende os meus tormentos,
                                                      perdoando meus erros de amor.
                                                      crendo nos meus sentimentos.

                                                      Acaricia-me,
                                                      como se foras uma brisa solta,
                                                      arrancando-me deste casulo.
                                                      Sana esta minha revolta,
                                                      estes temores, em que me emulo.




                                                                                                        6
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                                            Será amnésia?


     Acaricia-me,                           Hoje queria te escrever algo de delicado,
     faz com que me sinta protegido,        mas nem sei a razão, de nada me ocorrer,
     nas madrugadas solitárias,             como arrancar desta mente de alienado,
     em que sinto o teu carpido,            alguma ideia que luzindo, me faça entender.
     que tal como o meu, nos gera párias.
                                            Comigo me revolto mesmo sem querer,
     Acaricia-me,                           parece que tenho minha mente vazia,
     esta alma sofredora e inquieta,        nem sei como começar o que tenho a dizer,
     em sublimação dos momentos,            mora em mim uma ideia, que tanto queria.
     quando a revolta retorna secreta,
     assediando-me os pensamentos.          Mas para assim me compreenderes,
                                            quero que saibas de que serei capaz,
     Acaricia-me.                           com palavras minhas para entenderes,
                                            e eu tenha enfim, um pouco de paz.
                                            .
                                            Mas hoje, que se passa? Não consigo contar!
                                            Não me aflora nenhuma palavra bonita.
                                            Contudo, mesmo assim terei que tentar,
                                            palavra que eu bem o tento, acredita.

                    a                       Ainda assim, com o meu modesto vocábulo,
                                            vou fazer um esforço e ir mais além,
                                            para te dizer que o lápis com que lavro,
                                            será sempre a minha arma do bem.




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                                                   Tu partiste…

                                                   Tu partiste, eu deixei,
     Pois rabisco o que escrevo para te dar,       por não ter outra opção,
     uma noticia repleta de sentido da verdade,    os abraços que não dei,
     nem sei bem porque teimo em te contar,        guardei-os no coração.
     mas sei que tenho essa necessidade.
                                                   Tu partiste, eu fiquei,
     Talvez porque sinta que nisto perco o pio,    sem saber o que falar,
     ou não conseguindo mais abafar, o proclamo.   mais uma vez me calei,
     Já chega de tanto rodeio e desvio,            no esforço de não chorar.
     não posso demorar mais a te dizer: TE AMO!
                                                   Tu partiste, eu pensei,
                                                   do sonho que não escolhi,
                                                   das alturas despenhei,
                                                   sabendo que te perdi.

                                                   Tu partiste, eu bem sei,
                                                   o quanto por mim eras querida,
                                                   mas nunca foste minha, avaliei,
                        s                          como então ter-te perdida.

                                                   Tu partiste, aceitei,
                                                   meu romantismo excessivo,
                                                   no mundo que inventei,
                                                   fiz de ti o meu motivo.

                                                   Tu partiste, revisei,
                                                   o meu amor voluntário,
                                                   outra página virei,
                                                   tentando mudar o cenário.
                                                                                          8
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                                            Sonhos d’água
     Tu partiste, eu deixei,
     nada mais podia fazer,
     mas ainda bem, pois eu sei,            Alongam-se pelas areias das praias,
     doutra vida, outro querer.             destas margens azuis e frias,
                                            tapetes de flores em que te atraias,
     Tu partiste, agora sei,                e eu, sonho com essas belas e arredias.
     foi o melhor que fizeste.
     como princesa te tratei                Sinto-me atraindo pelo seu chamar,
     e tu, que me deste?                    com esses brados lançados no vento,
                                            porque conjugo nelas este sonhar,
     Tu partiste, ainda bem,                que nem pretendo apagar tal sentimento.
     já nem vale a pena voltares,
     já encontrei outro alguém,             Apertado que me quero em seus braços,
     logo após tu me deixares.              com o sol se abrindo em suave tortura,
                                            que o pó da areia circunde o espaço,
     Tu partiste, nem sabes o que custou,   nascido deste amor que me segura.
     mas hoje agradeço o gesto,
     não voltes que eu não vou.             Esta hora cambaleia em demasia,
     Pensa que eu não presto.               nuns sorrisos meigos em flor-d’água,
                                            quando me diz: sonha, que ainda um dia,
     Tu partiste, sou livre agora,          serás criança e ai esquecerás as mágoas.
     os filhos ainda nos prendem,
     por toda a vida fora,                  Olho estas flores delicadas, recordando,
     mas descansa que eles entendem.        em marachãos floridos, tanto carinho,
                                            àqueles que eu me alonguei amando,
     Tu partiste, ainda bem!                por estas praias brincando de pá e ancinho.




                                                                                            9
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                                                    Borrasca


     Nestes delírios de criança, que ainda sinto,   Porque será que continuo abrindo a alma?
     sou perdido e achado por belezas assim,        Matizando a áurea do ânimo com desejos,
     lembro-me quando saltava o livre plinto.       porque teimo em amar só quem me acalma?
     Preciso renovar esses sentimentos em mim.      Porque dos seus lábios, nascem beijos!

     É isso tudo que quero fazer ai então,          Berro aos ventos com os sentidos despertos,
     correr, brincar, saltar à corda… sem siso,     e pinto na aguarela do meu sonho emoções.
     nessas areias cristalinas de sertão,           E no espírito destas tormentas faço acertos,
     banhar-me nessas águas quentes de paraíso.     na ânsia de que me levem as desilusões.

     Pensei que iria gostar de estar acompanhado,   Deixo assim que as rajadas afastem mais,
     por alguém que goste dum pôr-do-sol ameno,     todas as mágoas dum amor quase desfeito,
     abraçado, sorrindo, sentindo-me enamorado.     e dos meus lábios, nascem beijos como ais,
     É tal o sonho em mim, que me sinto pequeno.    gritos de uma vida sem ti, me abrindo o peito.

                                                    Esta distância que separa o som desigual,
                                                    como o do ferir das ondas nas fragas,
                                                    de uma presença que és tu no areal,
                                                    contando a gesta dos teus medos e saga.

                           l                        Conta antes uma história bela e amorosa,
                                                    dessa boca em gestos sentidos na magia,
                                                    dum pôr do sol escrito com linhas de prosa,
                                                    não sei porque choro, será da alegria?




                                                                                                        10
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                                                    Alicia-me

                                                    Alicia-me com teu jeito terno,
     É que para mim são beijos, esses na alma,
                                                    arriscando em mim um beijo ardente.
     são gritos ao vento de lágrimas de sal,
                                                    Apertando-me com força, leva-me ao inferno,
     insisto assim sulcando mares na calma,
                                                    da malícia insana e atraente.
     desta borrasca louca, numa cantilena irreal.
                                                    Sufoca-me com teus beijos...
     Porque sonho e desejo, não sei! É possessão.
                                                    em sofreguidão e desespero.
     Como os versos que eu rabisco aqui…
                                                    Anda a meus braços, porque te quero,
     Completam-me em alguém em comunhão,
                                                    afogueada de desejos.
     desta canção de amor que tenho em ti.
                                                    Ofereço-te um momento mágico,
     Mas vou até que um dia, um dia esta canção
                                                    em minha poesia secreta,
     seja balada, com letra de sonho em harmonia,
                                                    nas rimas ardentes do poeta.
     quando as palavras escorrerem das mãos,
     qual areia fina, que o sol queima de dia.
                                                    Toques de ternura,
                                                    fragmentados de loucura.
                                                    Porque me quero, nesse cansaço letárgico.

                         g
                                                                   qe




                                                                                                       11
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     Feitiçaria

                                                Sulco a quimera em flamas bravas,
     Na passarela da existência,                e, aí sonhando...existo em poesia,
     fitas de doçura na cintura,                pensando em ti, nem vi que aqui estavas.
     máscara feita de essência,                 Tão perto, tão longe… feitiçaria!
     de mulher felina e pura.

     Feiticeira da minha alma,
     cada gesto em segredo,
     quietude de pura calma,
                                                               d
     cada impulso sem ter medo .

     E nessa vaga avassaladora,
     devoras o mundo sem receio,
     desatas o espaço, sedutora,
     até á hora do recreio.                     Nunca mais

     Desfraldas essa tua nudez
     e a sorrir riscas o fósforo,               Nunca mais a cama fria,
     num abraço de altivez,                     a noite de insónia,
     culpa do mais belo desaforo.               a vida vazia.
                                                Nunca mais as palavras não ditas,
     Hipnotismo, sem contratempo,               nunca mais, os sonhos adiados,
     pra sempre em pura magia,                  os gestos parados,
     aqui, neste dia, num desalento,            nunca mais… cada sonho fique pra depois!
     na tortura da ausência da tua companhia.   Nunca mais.




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     É ilusão

                                               Já não tenho mais a tua boca,
     É ilusão: amor, delírio de viver,         me mandando beijos e suspiros,
     é desejo, ternura e poesia,               perdes-te por outros sonhos feita louca,
     num lento e doce entorpecer,              assim as minhas noites são retiros.
     é um sonhar-te até que surja o dia.
                                               Sem essa tua pele suave e fresca,
     É por um mau fado que se revela,          a me deslumbrar com seu cariz,
     até que aquele momento venha,             sou eu que me perco na borrasca,
     mas a noite deixou de ser bela,           desta vida assim presa por um triz.
     É da tua ausência, esta dor tamanha.
                                               Este mar bravio que é o meu corpo,
     Como esse teu olhar me faz falta,         é agora um ginete feito sultão,
     esse brilho raro e quente que me atrai,   são ondas revoltas, estas que sulco,
     agora que não te vejo, tudo ressalta,     e espraiam em areias frias de mar chão.
     até a tristeza se impõe e sobressai.

     A noite que devia ser suave e calma,
     em sonhos belos cheios de graça,
     invade de sombras a minha alma,                            l
     porque esse corpo não me entrelaça.




                                                                                               13
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     Deixa-me                                    Às vezes


     Deixa-me dormir abraçado a ti,              São tantas as vezes que os dias duram meses ,
     prometo fazer cadeirinha somente,           tantas as vezes em que os dias são de penúria,
     nem sei porque ainda não dormi,             que por vezes são os gestos atados em fúria,
     é um sonho que tenho ainda pendente.        lembrando-nos que a vida só é boa às vezes.

     Se eu ressonar não me acordes,              Às vezes nem criando em nós uma ilusão,
     posso estar a sonhar mais uma vez.          duma noite, que na noite seja dia,
     no meu último sonho, beijava-te os pés,     conseguimos mais que a euforia,
     se fores tu a ressonar não te incomodes.    do prazer do sonho, criado no coração.

     Quero ficar olhando-te apenas,              Mas assim mesmo tomando nos braços,
     tornar as minhas noites mais pequenas.      a beleza duma fantasia por nós criada,
     Se me ouvires sonhar em voz alta,           nos livramos de tantas noites de cansaços,
     direi unicamente o quanto me fazes falta.
                                                 Fazendo do dia a noite mais enamorada
     Mas se por ventura o amor acontecer         e da noite o dia ganhar os seus passos,
     e viermos então a fazer sexo,               às vezes, é só assim, uma vida sonhada.
     acredito não seja assim tão complexo,
     se nos amamos, é natural assim ser.
                                                                  yv




                                                                                                       14
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     Oh…orvalhada                                       Só contigo!


     Oh… inspiração de muitos poetas!                   Sentir-te…oh prazer imensurável...
     O tempo não te monta, minha musa.                  a gota d'água que me transborda,
     Porque brilhas, se és reflexo                      a energia que dá vida, leva ao céu.
     de meretriz deste Universo?                        Fogo num só momento desejável.
     Sonoro encanto de harmoniosa cadência,
     mulher, amor, ser complexo!                        Adormeço, fecho os olhos...anda, acorda.
     Louca imagem, à qual faço reverência.              Num surto de amor como este meu.
                                                        União do prazer com o amor e a vida,
     Foram os amores de ontem, que te acabaram assim,   é tocar no sol... é ter o céu!
     adorno doce, aos meus olhos sonhadores.
     Continua enamorada,                                Quero morrer de amor, quero-te querida.
     maga, fada encantada,                              Limites de prazer não existem contigo.
     parindo fantasia nestes sopros obcecados.          Sei…este amor é algo fabuloso.
     Como mulher felina mal amada,
     és luxúria, neste mate de arrenegados.             Vejo a vida de forma diferente... castigo?
                                                        E quando sinto isso, fico guloso.
     Oh… orvalhada do meu encanto, deleite e pranto.    Porque só contigo meu amor. Só contigo!
     Pão doce, proibido na dieta,                       Só contigo!
     fonte de refluxo expedito.
     Mar bravio de ondas em grito,
     que fustigas estas areias geladas.
     E assim aquecendo este sangue me agito,
                                                                        ht
     sonhando com dias e noites mais agitadas.




                                                                                                      15
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     Volta amor

     Quero um beijo e um convite,        Anda, que a alegria está aí,
     num futuro anil de mar,             no reviver daquele dia,
     quero nos olhos um sorriso,         que contigo vivi.
     pra que surja afecto d'amar.        Volta amor, sorri como eu sorria.

     Se és inesquecível…amor!            Porque será que não entendes,
     Tanto tempo sem te ver.             que a vida não mais pára,
     Só peço que me acenes,              nem nosso amor desmascara.
     estou à esperar, num fogo de ser.   Volta amor, só quero que te emendes.

     Cada dia é como um ano,             Eis toda a minha razão,
     esperar-te é controverso,           dum amor em convulsão,
     é tão complicado! Oh engano,        que aguarda o teu sinal.
     viver sem ter o verso e reverso.    Volta amor, sai desse pedestal.



                    n                                   p




                                                                                     16
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Ah...minha menina

                                            Os dias passam, as noites se vão.
Ah... Minha menina de voz aflita
                                            Embora saiba que nesta vida tudo passa,
o meu coração se dilui ao ouvir-te.
                                            apenas acredito numa fuga à desgraça
Eu “Amo-te" e quero dizer-te,
                                            e neste amor que me cala o coração.
um amor assim o tempo não agita.
                                            O amor nos está deixando embriagados.
Antes firma o que tem de mais inato.
                                            Ah... minha menina, como eu te amo.
Este amor nasceu de palavras agradecidas,
                                            Acredito que nem a calunia ou desengano,
feridas e doridas como as nossas vidas
                                            muda a face dos nossos pecados.
e dum sonho em que eu me acato.
                                            Vou ficar aqui morrendo de desalento,
Assim como eu sou teu, tu és minha.
                                            até que brilhe em mim uma luz
Sinto que estamos nas mãos da idade
                                            e entretanto vou rezar e num sinal da cruz,
e se a cada nascer do sol muda a verdade,
                                            pedir a Deus que a vida seja a meu contento.
não muda o que sinto, nem se me avinha.
                                            Não vou baixar os braços por fantasia,
A certeza que um dia estaremos juntos,
                                            pois assim morreria qual onda na praia,
eu a sinto no respirar do meu coração.
                                            vou antes sonhar com a chama que de ti saia,
Nem anjo, nem demónio, ou condão,
                                            até que nos surja alguma ideia luzidia.
tem coragem suficiente de nos pôr untos.




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                                                       Tens tanto...tanto
     Já me corre nas veias

                                                       Queres ajudar-me a compor uma poesia,
     Soltam-se-me as palavras em aflição,              queres?
     neste crer que é delírio e ventura                Não importa se for com rima ou não.
     E cada brado com o ardor da intenção,             Inspira-me de fantasias.
     se solta mais abafado e em amargura.              Deixa-me pegar-te na mão.
                                                       Desejo tanto uma poesia de amor,
     Hão-de compreender sonhos e quimeras!             só uma.
     Rogo a quem me escuta, que me perdoe,             São tantas as rimas que tenho escondidas,
     que eu já só me detenho nestas esperas,           que se eu as pudesse compor todas,
     nem vivo, até que este meu sonho voe.             nem um só dia me chegaria.
                                                       O importante não é escrever poesia,
     Consagrei-me aos suspiros e lamento,              é senti-la.
     porque está longe o ente amado,                   Que se lixem os poemas,
     ante esta aflição de ser ou não ideia ao vento.   pudesse eu rasgar o que sinto,
                                                       como posso rasgar as poesias.
     Me quero antes amargo e malfadado.                Tenho tanto para partilhar contigo,
     Reunir-me até das mais perversas ideias,          tanto,
     mas sem este amor, não! Já me corre nas veias!    que sinto ser um desperdício,
                                                       todo este sentir, mesmo até o amargo.
                                                       Tens tanto para partilhar!
                     no                                Tanto… tens tanto,
                                                       para partilhares comigo!




                                                                                                        18
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     É sonhar-te mesmo assim

     Deixei parar os sonhos, perdido, acordado,       Se sentires que morro, e o no sono entardeço,
     foi um erro, esquecer-me de mim,                 beija-me como se eu estivesse perto do fim.
     agora, na areia do meu deserto encantado,        És ilusão…e na noite tanto por ti padeço,
     é sonhar-te mesmo assim.                         é sonhar-te mesmo assim.

     Neste amalgama de desejos, sou perdido,          Assiste-me nesta praia de espuma cor de ternura,
     em pensamentos inquietos, sem fim,               que as ondas fazem ao espraiar neste jardim,
     deixo que a tristeza me encontre arrependido,    onde a o meu vento se acata e a ilusão perdura,
     é sonhar-te mesmo assim.                         é sonhar-te mesmo assim.

     Se alguém se cruza comigo nalgum repente,        Se sentires que o meu sonhar-te é ainda pouco,
     chama-me à atenção apontando o dedo, enfim...    rouba das ondas o sal, faz-te arlequim,
     Conta-me das razões de estares diferente.        mas não insistas em me deixar de louco,
     É sonhar-te mesmo assim.                         é sonhar-te mesmo assim.

     Já não sou aquele ser, que outrora me sorria,
     nem sei o porquê de me saber sem mim,
     não te podendo ter por ora, aguardo-te um dia,
     é sonhar-te mesmo assim.                                         d




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     Anda pra mim

     Aonde andas,             Deixa-me em siso.
     que sou demandas?        Onde é que estás?
     Vês que preciso...       Queda-me na paz,
     desse sorriso.           deste sorrir.
     Assim me roubas,         Quero sentir,
     a paz das causas,        aquela chama,
     como esta, que porfio,   que de ti emana.
     por ti no cio.           Forço-me em ti
     Não te abdico,           em beijos e…
     e te suplico,            sonhos de posse
     só uns momentos,         que a ti endosse.
     teus pensamentos.        Quero-te tanto
     Esta ternura,            que sou um pranto.
     anda em procura,         Aqui definho
     de saber de ti,          triste e sozinho.
     que entristeci.          Volta depressa,
     Neste caminho,           sem que te peça.
     longe e sozinho.         Toma a ternura,
     Oh musa alta,            desta amargura.
     fazes-me falta.          Anda pra mim.
     São meus desejos,        Anda pra mim.
     cobrir-te de beijos.
     Se tanto careço,
     desse sorriso,


                                  j
                                  r
     anda, te peço.



                                                        20
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     Morrer tentando

     Estou tentando te omitir,                   Este fogo que permito, me adoce,
     do meu pensamento e da vida,                vai de mal a pior sem me saber amado,
     é triste viver te vendo sorrir,             perco-me em desejos loucos de posse,
     sem colher desse brilho, querida.           em que os teus sonhos são meu fado.

     Não sei se vou conseguir a bem,             Entristeço a cada pensamento de ti,
     é- me difícil suportar esta ausência,       Se um dia mudares de ideias sabes bem,
     se em cada virgula ou reticência,           este amigo vai te esperar até ao além.
     vou lembrar-me sempre de alguém.            Quero-te lembrar como eu te vi.

     Esta saudade dói, deixa-me amargo,          Toma este beijo feito de amargura.
     no meu peito teima a chama que não apago,   Por teimar em ver a vida tão escura,
     por te querer esquecer, não esqueço.        quero viver eternamente te lembrando,
     Não me telefones mais, te peço.             ou morrer tentando.

     Se me vier a arrepender, eu ligo.
     Perdoa-me, eu só ver o meu umbigo,
     Mas se não for assim, eu faço asneira,
     desculpa-me, ando sem eira nem beira.                     s




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     É morena a minha amada

     A minha amada é morena,            Quero usar seu corpo de fada,
     cor do matiz da noite bela,        cobrir de poesias a sua tez,
     mas tal como ela, eu tenho pena,   desenhando nele a vida tão amada,
     do cheiro de açucena,              com rima alegre e sincopada
     que exala só pra ela.              e vocábulo mais suave, desta vez.

     É tão bela a minha amada,                      d
     radiante e tão divertida.
     Quando me não fala, já nada
     me alegra o dia ou a estada,       Saga
     neste rodopiar da vida.            Pra quê chamar de fantasia,
                                        quando o sonho é dourado,
     Quero tê-la a cada momento,        ou de instantes tresloucado.
     rindo pra mim enfeitiçada,         Se no momento certo se agita
     pois só com ela me contento,       e solta suspiros, como quem grita.
     assim sou, suspiros e lamento.     Serei feliz algum dia?!...
     Como eu amo a minha amada.
                                        Sei que sonho em demasia,
     Traz-me felicidade à vida,         com beijos, carícias, afagos.
     sempre que me devota um beijo,     Feito vinho de tantos bagos,
     para me ficar agradecida,          como este que me embriaga.
     canta pra mim, constrangida,       És tu em sonho, esta saga,
     por saber do meu desejo.           que me consome noite e dia.



                                                                                  22
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                                       Filho
     Mais um dia teve o fim

                                       Filho!
     Mais um dia, que teve o fim,      Acredita-me, eu vou bem,
     outra noite sem te ver,           cá vou indo no meu viver,
     sempre teima em ser assim,        estou sofrendo, lutando a correr,
     mas o que é que hei-de fazer?     com loucura para tu seres alguém.
                                       Perdoa-me a insegurança a que te levei,
     São os meus sonhos voando,        se calhar houve passos errados que dei,
     em volta de ti, com ternura,      Falta aqui a tua voz na mesa do jantar
     só não te vejo... e até quando?   e esse riso de criança no ar.
     Assim, é a minha amargura.        Tu vieste e não houve outro jeito,
                                       senão te apertar contra o peito.
     Ainda não perdi a esperança,      Há horas felizes que eu lembro e repito.
     de que nos vamos encontrar,       Amanhã quero brincar de avô
     quero manter-me em confiança.     no chão da sala a fazer de burrito.
                                       Há tempo de desatar esse nó,
     Dum dia pleno de amar,            vai haver tempo pra tudo,
     beijar teu corpo e na dança,      olha o sol que nasce, miúdo.
     muitos verbos conjugar.           Tu fazes parte de mim,
                                       és um complemento do meu ego
               oy                      e portando eu te delego,
                                       vive, sonha que o meu amanhã sorrirá em ti.




                                                                                          23
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                                                    Imago
     Lembras-te?

                                                    Teimas em querer o “Androceu” igual a ti...
     Lembras-te quando nos conhecemos?
                                                    E ele lerdo nem pensa com o coração,
     Não era pra eu me apaixonar,
                                                    bem tenta, mas arruína a inspiração...
     era só pra fazer amigos e convivermos,
                                                    Acaba por consumir-se em frenesi.
     lembro-me do então, nosso desabafar.
                                                    Pousaste borboleta sobre esta flor,
     De tudo o que dissemos sobre ligações,
                                                    pelo pólen que transpirava, no florar.
     das paixões que tivemos, dos desgostos,
                                                    E ela amamentou o teu sonhar,
     de como vivemos as solidões,
                                                    mas... sonhadora “Moleirinha”, é amor!
     mas hoje, que o fogo está posto.
                                                    Absorve esse pólen, travo e fértil,
     É nesta noite sem fim, que cogito,
                                                    antes que a lua dispute o seu furor,
     no que sonho e no que quer a vida de mim.
                                                    que o seu amor em ti, já exala esse odor,
     Não vai ser fácil, conviver com ela assim.
                                                    qual lírio abrindo vestido de anil.
     Vamos esperar, sofrer, continuar,
                                                    Nem o vento impele essas asas a voar,
     a vida pode estar quando e se, em ti habito.
                                                    até outro jardim mais bonito e claro.
     A chama está acesa... para se aguentar...
                                                    É assim um sonho, é sonho e eu declaro:
                                                    sendo flor, à “Lepidóptero” afirmo o meu amar!
                      xz




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     O teu perfume                            Esse perfume de mulher,
                                              que adoça o meu sentir amargo,
                                              criando em mim razão de um afago,
     Esse perfume de jasmim,                  choro-te sem querer!
     teu perfume se transforma em lágrimas,
     e eu me sinto tão perdido em mágoas,     Esse perfume de menina,
     choro-te assim!                          cujo odor me provoca nostalgias,
                                              sugerindo meus sonhos desses dias,
     Esse perfume de açucenas,                choro-te nesta neblina!
     como um pássaro de asas machucadas,
     nos meus sonhos, de penas encantadas,
     choro-te minhas penas!                                  v
     Esse perfume de alecrim,
     lágrimas, que invadem o meu coração,
     palavras que na alma são meu condão,     Flôr de tília
     choro-te sem fim!

     Esse perfume de rosa,                    Ama-me, como a uma flor de tília,
     porque não o exalas só para mim?         segura mas levemente, a um pé forte,
     Sei que te perdes em odores assim,       mesmo se secar, à fúria de alguma quezília,
     choro-te em prosa!                       não se solta, nem foge, cheia de sorte.

     Esse perfume de alfazema,                Qual lírio, que sozinho se bate nas ventanias,
     que eu sinto quando me abraças,          das minhas intempéries mais descabidas.
     sem teu corpo me desgraças,              Nas ânsias do que, como tu tanto querias,
     choro-te em poema!                       procuramos novo rumo para nossas vidas.




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     Olha-me nos olhos                             Olha-me de frente, nos olhos,
                                                   molha-me a boca com teus beijos.
                                                   Ajuda-me a juntar estes escolhos,
     És o sonho que a minha alma precisa,          consentindo-me alguns desejos.
     desde que te conheço a minha vida mudou,
     até os ventos da serra trazem outra brisa,
     cheia de ternura e o amargor já passou.                     k
     Quanta sensação na minha sensibilidade
     e lágrimas de emoção, teimam em brotar,
     Deste querer que me muda até a idade.         São teus olhos desatinos
     Mas porque sinto eu assim o sol raiar?

     Jamais imaginei, amar alguém assim,           São teus olhos desatinos,
     parece que vivo uma ilusão de amor.           nesse brilho singular,
     Neste recanto da serra, caro pra mim,         quais reflexos matutinos,
     em que amo cada paisagem, cada odor.          No meu corpo àrrepiar.

     Procuro nas estrelas deste céu a ventura,     Entorpecem, contagiam,
     enquanto não te roubo um beijo.               como que a hipnotizar,
     Compondo poemas de amor com ternura,          e eu em cada arrepio,
     bradando neles aquilo que mais desejo.        sinto-me a extenuar...

     Cruzámos a nossa senda por acaso?             É essa tua pele macia,
     Claro que não, o amor é imenso.               no exalar dessa essência,
     Nesta sintonia sem igual, de flor sem vaso,   como que me extasia,
     respiro e sonho e durmo neste incenso.        levando-me à demência.


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Com um whisky a coisa vai


Esta dupla destilação, deste malte agridoce,                 Sei que nada fiz de errado, nem nesta, nem noutra altura,
faz à minha inspiração, o fervilhar que te trouxe.           Este amor, se está lixado, a culpa só terá cura,
A mente ao turvar amofinou, daí, surtiu a razão,             se tu pensares bem, que a razão pode ser fado
que a amamentou, neste cálice de conspiração.                Pode ser que haja alguém, que queira o caldo entornado.

Perdoo, mas afirmo a intolerância,                           Eu mais uma vez confirmo, nada haver, nem intolerância,
talvez um voo, a encurtar esta distância,                    mas acredita, a minha paciência esgotou, fez jactância,
Possa assim surtir efeito, dando à minha palavra,            nada mais digo, nem se verdade, se me amas, vais entender.
o devido respeito e a este sentimento que me lavra.          Eu amo-te, é esta a realidade, és a minha razão de viver.

Sinto a carência da confia, em frases loucas de ciúme,       Perdoa esta versão dos factos, sou teimoso, bem o sei,
desde o dia, em que percebi faltar o aprume,                 de teimosias estou farto, as minhas e as tuas, que já perdoei.
a dúvida mais insegura e a questão inusitada,                Sê lúcida, pertinaz, olha a vida que se consome,
que fez desta amargura, o afastar da tão amada.              que por mais que eu seja audaz, não aceito este renome.

Meu amor não tens razão alguma, na ambiguidade,              Confio na tua sensatez, no sexto sentido das mulheres,
tanto mais que esta dor, já é velha e na verdade,            não teimes na estupidez, que faz de nós outros seres.
devias ser mais coerente, pois assim podemos perder,         Acredito que vais pensar, vais dar tempo à razão,
um amor tão pertinente, como este que nos faz sofrer.        um dia ao voltar, vens com o amor te enchendo o coração.

A razão não está somente e apenas, desse lado da questão,    Assim não continues, pois só podes piorar,
eu afirmo os meus dilemas, não há nada, nem sequer razão,    nem adianta que jures que me amas, que vai tudo mudar,
portanto, sê salutar no pensamento, vai olhando para traz,   eu já pensei e repensei, em tanta coisa sobre isto,
será que em algum momento, eu me mostrei pertinaz?           que meu amor, já nem sei, porque teimo, porque insisto.




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                                                            Poderei ser…

Sinto que não tens facilitado, a um amante louco como eu,   Não quero ser o livro que não leste,
este meu amar pode ser inusitado, mas é o meu!              ou a aguarela da tua tela de tristeza.
É assim que te amo, com esta perdição, sem sensaborias,     Poderei ser…o poema que não escreveste,
reclamo, para mim esse coração, todos os dias.              mas não quero a culpa minha, ou a incerteza.

Amanhã, depois e vida além, se assim o quiseres.            Se procurares ler as entrelinhas mais audazes,
Estás longe, eu sei-o bem, mas não desesperes.              encontras por ai, nas minhas promessas,
Se me conseguires ajudar a ir até ti, eu vou                tantas coisas que nunca fomos capazes,
amanhã já, porque o ir é frenesi, prometo que me dou.       em tantas poesias escritas às avessas.

Dou-me inteiro a esta causa, a este amar-te,                Tirei ideias daqui e dali com pouco pejo,
não só hoje, ou com alguma pausa, na Lua ou em Marte        roubei tantas rimas à fantasia,
Quero-te minha, mas sem complexos ou barreiras,             mas porque sabia bem o que não queria.
estes assim, meu amor adivinha, não passam de asneiras!
                                                            Deixei para ti o decifrar dos meus pensamentos,
Eu entendo que amar, é doar-se sem nada exigir.             dos sonhos que tenho e dos momentos
Sabes que o meu entregar, tem sido cheio de provir.         carinhosos, feitos de um ou outro beijo.
Minha querida entende…o amor só é saudável,
quando jamais depende, de incerteza intolerável.
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     Sem seu carinho

     Hoje sou perdido em sonhos,             Minha chama é por esta miúda,
     abandonado, no rumo dos desvarios,      que me incendeia o coração,
     dado ao ritmo dos medonhos              mas dar confiança que iluda,
     pensamentos cismáticos e frios.         não concedo tão dura ilusão.
     .
     Falta-me a expectativa                  Deixa-me sem ar, sem fôlego, sem chão.
     de sair desta maldita aridez,           Rastejo por ela, que me agigante!
     que em minha mente faz guarida,         Devo mendigar seu calor, por paixão?
     abafando-me qualquer lucidez.           É ímpio este amar, mas adoçante.

     Só um raio de luz rasgando meu ser,     É singular o seu sorrir, é soberbo,
     me faria sair desta amargura.           lava-me o limo do orgulho,
     Como necessito eu de saber              faz-me mais perspicaz no acervo,
     o que tem ela na cabeça? Como é dura.   das poesias em que mergulho.

     Era o Sol e a Lua em harmonia,          Sem seu carinho, em perspectiva,
     era todo o meu sonho de entardecer.     nem consigo mais respirar. É medonho!
     Fora o seu ciúme uma mais-valia,        Esta doce menina, mudou-me a vida,
     assim, transtorna-me o viver.           tirou-me do meu recanto de sonho.




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     Ontem eu enamorado

     Ontem eu enamorado,           Num encontro pré-previsto,
     no teu colo aconchegado,      daqueles que eu não resisto,
     trocava beijos de amor.       quem sabe pra recordar.
     Era tamanha a porfia,         Tremi o corpo e sorri,
     que a Lua me dizia,           de tanto que me diverti,
     ao ouvido com pudor.          tanto mais quero teimar.

     Olha lá essa atrevida,        Conta pra mim da utopia,
     mexeu com a tua vida,         a fim de evocarmos o dia,
     deixaste ela trepar.          em que iniciamos os passos,
     Foi tudo tão repentino,       nesta afinidade tão bela,
     saiu da casca o destino,      qual canteiro na janela,
     e levou-te a acordar.         em que urdi teus laços.

     Cedeu aos teus repentes,      Penso ser esta a razão,
     em que alteias ardentes,      de estarmos em comunhão,
     clamores de desejos,          nossa carência e solidão,
     Deixaste-a pronunciar:        a tristeza que não nos larga.
     é tão bom! Estou a gostar!    Essa obtusa, tão amarga,
     Dá-me mais dos teus beijos.   que nos encharca o coração!




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     Piquenique

     Queres ir de mão dada comigo,           Não esqueças os chinelos de tecido,
     passear no campo e ao piquenique?       aqueles que condizem tão bem,
     Colher flores, convívio de amigo,       com o chapéu e com o vestido,
     dançar e cantar ao despique.            ficas maravilhosa, como ninguém.

     Todo o mundo te quer por perto,         Põe também aquela fita de cetim,
     a tua presença nos faz falta,           para te poder segurar quando rodopiar
     essa áurea nos deixa de peito aberto,   E quando tentares te agarrar a mim,
     por contagiares a malta.                a fita se solte e circunde o ar.

     Veste aquele vestido de chita           Lembras-te daquela cesta de vime,
     estampado, às flores grandes,           que um ano atrás eu levei às costas?
     ficas mais viva e bonita,               Pois vai comigo de novo! Ah... esquecia-me,
     deixas encanto por onde andes,          vai cheia de acepipes como tanto gostas.

     Põe o chapéu de palha na cabeça,        Levo aquelas empadas deliciosas,
     aquele da fita cor-de-rosa.             croquetes e rissóis de camarão.
     Isso mesmo, só porque te peça.          Não foi eu quem fez, foram mãos habilidosas!
     Sinto-te mais vibrante e radiosa.       Também levo uvas, cerejas e melão.




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     Tenho uma surpresa pra ti,                       Poema em argamassa
     daquelas que eu sei, te enfeitiçam,
     um carinho delicioso, que não conto aqui,
                                                      Quero edificar-te verso a verso em claridade,
     porque surpresa é surpresa e mistérios atiçam.
                                                      como se fosses feita de ladrilho e cimento.
                                                      Construir um bairro inteiro nessa cidade,
     Olha, traz aquela máquina fotográfica,
                                                      na ânsia de dentro de ti viver cada momento.
     que te calhou na quermesse,
     para recordar depois como fica,
                                                      Quero a volúpia desse corpo que não tive,
     que passeio assim, nunca mais esquece.
                                                      nele descansar ao fim de cada dia de labuta,
                                                      Ao edificar esse subúrbio que em ti vive,
     Vou levar o realejo,
                                                      sonhos que a nossa argamassa une a cada luta.
     que me deu o meu padrinho,
     para que ande de beijo em beijo,
                                                      Só me falta que tu sejas feliz dentro de mim,
     soando viras e valsas e um ou outro fadinho.
                                                      neste espaço acanhado em que te quero,
                                                      com esse passo longo que és tu assim,
     Já vibro só de pensar,
                                                      nesta metrópole feita de carpir em que espero.
     que bela tarde vai ser,
     podermos passear,
                                                      És mulher dum só destino arquitectado,
     de mãos dadas, ate ao escurecer.
                                                      feita de aço, pedra e materiais nobres,
                                                      onde nem os sonhos pecam por serem pobres,
     E depois, quem sabe, p`la noite além,
                                                      nem eu como desditoso construtor afadigado.
     poder te apertar nos meus braços.
     Já sonho como ninguém,
     poder tirar esse vestido, o chapéu e os laços.
                                                                       pr




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     Voa comigo

     Voa comigo...                   Voa comigo...
     Vem pra mim menina              Vem pra mim minha musa,
     e nestes sonhos encantados,     dormiremos agarrados
     vamos ao mundo da fantasia      e ao acordarmos bem juntinhos,
     e voltamos de lá cansados,      nos sintamos desejados,
     prontos pra outro dia.          em fogo lento, feitos meninos.

     Voa comigo...                   Voa comigo...
     Vem p’ra mim miúda,             Vem pra mim menina,
     sacia este desejo,              vamos ouvir a nossa melodia,
     de querer-te ao meu lado        tocada só para nós.
     e que em cada beijo,            Anda fazer da noite o dia,
     deseje estar acordado.          em que não estaremos sós.

     Voa comigo...                   Voa comigo...
     Vem pra mim mulher,             Vem pra mim garota,
     vamos romper o véu da noite,    torna esta harmonia linda,
     o espírito do alvorecer         enternecida com nosso amar,
     e em cada gesto, mais afoite,   pra que seja mais ainda,
     até adormecer.                  uma canção de embalar.




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                                      Nunca…
     Voa comigo...
     Vem pra mim rapariga,
     por momentos em felicidade.      Não posso correr mais atrás de ti,
     Ama-me mesmo só por instantes,   nem me torturar assim estupidamente.
     ou deixa aflorar a verdade,      Vejo assim a vida, que só aos outros sorri.
     com que sonham os amantes.       Como continuar com estes brados indecentes?
     Voa comigo...                    Não posso me abater mais às tuas cismas,
     Vem pra mim mulher,              dominantes pelo alento dos ciúmes.
     toma o beijo sagrado,            Não me devo permitir arruinar as rimas,
     que na tua boca deixo deposto,   ouvindo injúria e enganos, se me consomes.
     como o acto mais desejado,
     depois que o fogo é posto.       Não posso secar-me mais com essas inconstâncias,
                                      animadas aos meus ouvidos racionais,
     Voa comigo...                    nem devo permitir-te mais intolerâncias.
     Vem pra mim minha musa,          E assim te afirmo: Findou, já não posso mais!
     antes de eu acordar,
     deste mágico momento,            Nunca vou aceitar ser abafado assim,
     que teima em me transformar,     nem as minhas ideias de viver iam admitir.
     nas sombras do desalento.        É o meu conceito de consideração por mim.
                                      Quero poder ser feliz, quero poder sorrir.



                  u



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     Em amores me levitando

     Roda a lua sobre o céu,       Sinto a lua enciumada ,
     faz um arco viajando,         deprimir na escuridão,
     neste idealizar que é meu,    nesta cegueira descuidada,
     em amores me levitando.       dos males do coração.

     Esta noite está tão gelada,   Adoeceu a minha amada,
     Que até a lua se refugia,     foi da pressão do stress,
     no calo da minha amada,       da vida que leva agitada,
     pra rimar sua poesia.         ou da teimosia a benesse.

     Diante da noite chegando,     Devia fazer mais cautela.
     eu vigio os passos dela,      Porque será que peno também?
     nesta tela desenhando,        Não acalmo sem saber dela,
     seus traços em aguarela.      nunca o senti por ninguém.

     Parece-me tão serena,         Daqui a nada acontece,
     que desdenha o meu sonhar,    a manha clara raiar,
     ou como eu também tem pena,   por toda a noite fiz prece,
     de na noite não se acalmar.   que se sinta melhorar.




                                                                       35
69                                                                                                 70



Quero-te tanto

                                                  Quero-te tanto.
Quero-te tanto.
                                                  Esta música não tem memória.
Esta poesia eu fiz para ti,
                                                  Por enquanto, apenas mostra umas rimas,
sobre os sonhos e mágoas
                                                  na tentativa de inventar uma história.
e com o carinho que já vivi.
                                                  Quero-te tanto.
Quero-te tanto.
                                                  Toda a minha vida eu gostaria de escutá-la contigo.
Conta uma história de amor, que apenas começou,
                                                  Ela só impele para o amar,
mas a vida se vai encarregar,
                                                  sem juramento ou condão de castigo.
de nos mostrar quem a cantou.
                                                  Quero-te tanto.
Quero-te tanto.
                                                  Com música ou sem ela, continuarei...
Comecei a senti-la na radiofonia,
                                                  lavrando palavras, rimando a vida,
debaixo de um céu, que eu inventei,
                                                  até que esta poesia ganhe a razão por que a comecei.
contando que tu a ouvisses algum dia.
                                                  Quero-te tanto.
Quero-te tanto.
                                                  Se numa outra nação o génio for meu amigo,
Admite que queres soltá-la para mim,
                                                  por toda a minha vida eu gostaria de a cantar,
abraçados por muitas noite adentro,
                                                  contigo, contigo, contigo!
sussurrando baixinho e inventando o fim.




                                                                                                         36
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                                           Deixa-me ficar a ti colado,
     Bailando                              num aperto suave e bonito.
                                           Pretendo esse teu corpo suado,
     Deixa-me abraçar-te p’la cintura,     mendigando por mim aflito.
     bailar feito louco sem cessar,        Quero que sintas este bailado,
     esta valsa feita ternura,             como um sonho desejado.
     em que os dois saibamos estar.
     No carinho, na vida e no amar,        Vou te levar com meus passos,
     como um sonho que perdura.            pelo salão de festa rodopiando,
                                           enlaçada em meus braços.
     Eu te desejo feliz assim,             Deixar nosso amor levitando,
     bailando à luz sideral,               a paixão nos conspurcando,
     usando seda de Pequim,                teimando em sermos devassos.
     nessa pele alva, sensual.
     Luxuriante e divinal,                              m
     como uma flor de jasmim.
                                           Se o teu coração
     Quero então dar asas à felicidade,
     cingindo as minhas pernas nas tuas.
     Pensar que toda a realidade,          Se o teu coração me falasse,
     é avançar enquanto recuas.            de tudo, mesmo que à toa,
     Desejando as tuas coxas nuas,         nas palavras que dissesse,
     o prazer colorindo-te a vontade.      falaria dos sons deste mar.
                                           De cada ilusão que o povoa.
                                           na vista que o sobrevoa,
                                           brilhando no singular.




                                                                                  37
73                                                                                          74




     Please

     Nada nisto faz sentido,                   Vou dar tempo à razão,
     ou nem sei aquilo que escrevo.            contando com a sua sinceridade,
     Haverá razão para estar ressentido?       esta distância, será só ela a questão?
     O melhor é ficar calado, será que devo?   Não acredito, não! Será da sua leviandade?

     Para dizer coisas incoerentes,            Vá lá, toma consciência da escassez,
     o melhor é não dizer nada.                na falta que faz um sorriso.
     Foges-me, onde vais, será que mentes?     Não me deixes nesta estupidez,
     Tenho as ideias em debandada.             pensa em ti e verás o quanto te preciso.

     Mas então que mais farei?                 Estas palavras assim, não são chantagem,
     Se não falo, enlouqueço,                  é apenas o sentir que me aperroa e deixa mal.
     por mais quanto tempo aguentarei?         Será que não vês, como os namorados agem?
     Se não te escuto, entristeço.             Preciso de ti, em tempo integral!

     Se me oprimo e não exprimo,               Já devias ter percebido o quanto te adoro ,
     é certo o meu desvairar.                  acredito que nem precisas que tu frise,
     Isto ferve no meu íntimo,                 mas se for necessário repeti-lo, nem demoro.
     talvez se dissolva se esperar.            Adoro-te, amo-te! Vira-te pra mim “please”!

     Ficar caladinho e sossegado,
     apávido e sereno completamente.                            t
     Confiar no ser amado?
     Talvez tudo faça sentido, de repente.



                                                                                                 38
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     Ó meu amor                             És o meu sonho mau p’la lonjura.
                                            Nem numa hora destas de solidão
                                            e por me deixares nesta noite escura,
     São montanhas, outros mares,           aqui, em frenética amargura,
     tais distâncias que nem sei,           num sufoco, me apertando o coração.
     se é só por me amares,
     ou outras coisas similares.            Anda, vem fazer-me um carinho
     Mas o certo é que não te encontrei.    E nas ondas deste mar bravio,
                                            com cheiro de verde pinho
     Eu te aguardo, eu te chamo,            e perfume de rosmaninho,
     mas tu não estas mais aqui.            qual garanhão em pleno cio.
     Óh tristeza esta a minha, se te amo,
     tanto que bem alto o proclamo.         Traz esse sorriso de amante-menina
     Nem esta distância me afasta de ti!    e mostra pra mim em véu azul,
                                            esse corpo de mulher felina,
     No peito tenho um sonho puro,          com brios rubros de purpurina,
     que aflui de carinhos e de festas,     para que eu ai me emule.
     que este meu coração duro,
     teima em buscar o que procuro,         Não consigo mais esperar,
     nos encontros a que tu te prestas.     é dor, carpir, sofreguidão,
                                            De amores e loucuras me dar.
     Tudo o que tenho é haver sofrido       Qual sinfonia em pleno ar,
     e agora és tu, me parindo esta dor.    neste amargo da razão.
     Neste meu delírio digno e perdido,
     encantado, belo e arrependido,         É loucura a mais na dor,
     do meu amor, do meu amor.              de sonhar-te e bem querer,
                                            que nem o sol com seu calor,
                                            me aquece neste frio rubor.
                                            Ó meu amor, ó meu amor.
                                                                                         39
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Porque me olhas assim

Porque me olhas assim, de viés?                           Sinto como, uma necessidade vital,
Não vês que estou abafando?                               de vida, sonho, ou harmonia,
Que já não posso mais não saber quem és,                  sem esquecer-me de que sou real.
esta dúvida que a vida me impõe será até quando?          Não me olhes, como se eu fosse da vida a mestria
                                                          .
Sinto que não sou tão forte assim,                        Sou apenas alguém, talvez uma aberração,
que possa viver triste, ou tão só.                        que deseja sentir a vida correndo nas veias,
São muitos os anos em que carrego este fardo em mim,      sem reservas, a saborear com sofreguidão.
esta insatisfação insuportável, mete dó.                  Porque me olhas assim, com todas essas peias?

É um querer viver, amando com intensidade.                Se não podes entender-me com facilidade,
Agora que penso ter encontrado parceria,                  deixa-me ao menos sonhar contigo,
alguém que sente como eu esta verdade:                    com esses braços quentes, ou na felicidade,
ser apaixonado do viver, e deste querer em que se alia.   que seria abraçares-me e adormeceres comigo.

Tenho a paixão na alma me sorrindo,
vejo a vida em cores fortes,
são sentimentos como vulcões se abrindo,
em lavas rubras, neste partilhar de puras sortes.                         g




                                                                                                              40
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     Borboleta
                                        Pousou sorrindo na minha nata,
     Num vaso, semeei flores,           com beleza e mestria,
     brincos de princesa violeta.       depois voou louca, insensata,
     Noutros há doutras cores,          sabe do meu bem-querer e confia.
     pra uma amiga inquieta.
                                        Em cumplicidade e magia,
     Ao regá-las de manhã cedo,         fica à espera descansando,
     encontrei lindos botões,           cuidando das asas de dia,
     já abertos, mexi-lhes a medo.      prà noite sair voando.
     Parecem frágeis ilusões.
                                        No próximo voo, vou segui-la,
     Pétalas suaves, encantadas,        pra saber aonde pára,
     parecem feitas de tule,            pois parece que vacila,
     tal como ela são delicadas,        ou foge quando me encara.
     seduzem, com a áurea em azul.

     Borboleta delicada bailando,
     em contradança imaginável,                     s
     suave e melódica vai voando.
     Esta mariposa parece incansável.




                                                                                41
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     Quem és tu?

                                       Neste mundo tão imperfeito,
     Quem és tu, doce mulher?          nem calas o preconceito.
     chegas num sonho qualquer,        Mas quem és tu, afinal,
     nem marcas deixas nas horas       que mordes feito animal?
     e és sangue que em mim afloras.
                                       És gente?
     És da vida o mais fruto,          E sendo pessoa, que sente,
     gritando a dor em bruto,          és normal,
     que tão bem falas ciúme           ou algum ser irreal?
     e desse amor que é lume.
                                       Não preciso explicação,
     Que arde sem se ver,              só reclamo magia.
     como li Camões escrever.          Que enquanto houver coração,
     És um caso de mistério,           mesmo sem explicação,
     que a sorrir falas a sério.       vai existir poesia!

     Sonhos que jogas no peito,        Não fora eu um romântico,
     com os quais eu me deleito,       que segundo reza o tântrico,
     num gritar a peito feito,         vou continuar escrevendo
     clamando razões de respeito.      E tu amor, me vais lendo.

     Em veemente exclamação.
     Matança de uma flor que é pão.
     Não queres calar a desgraça,                  dl
     clamando à vida que passa?



                                                                           42
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     És o meu oxigénio

     Como és doce, meu bombom,        És quimera feita alimento,
     esses lábios cor da amora,       que em mim reina, soberana,
     desejo-os assim, sem demora.     pelo amor que de ti emana.
     Meu pecado feito dom,            Desde o primeiro momento,
     meu delírio de “edredon”         sublevas-me o pensamento,
     com cheiro do raiar da aurora.   como oxigénio desta chama.

     Rendo-me à tua sina,             Meu turbilhão de loucura,
     neste amar-te com loucura.       do pecado a salvação.
     No meu devaneio encantadora ,    Meu delírio em evolução.
     teu olhar me ilumina.            Quero brindar-te a ternura
     És meu céu, minha menina,        E quero isto em salsa pura,
     livre áurea sedutora.            ao ritmo da nossa canção.

     Liberta-me deste delírio,        Neste apogeu da felicidade,
     quero-te sorrindo, meu amor,     neste sentir em cascata,
     esse brilhar tentador...         és a água que a sede mata,
     Quero-te! Sê meu colírio.        o meu astro-rei em liberdade,
     Meu reflexo de puro sírio,       jorro do vulcão nesta verdade.
     num conceito inovador.           Amo-te! És o sonho que me acata!




                                                                              43
85                                                                        86



     Minhas penas

                                          Pena, que sejam penas soltas,
     Vou fazer um poema,
                                          como as penas que penei,
     mas não um poema audaz,
                                          mas é pena que nas voltas,
     daqueles que qualquer pena,
                                          são penas, que deixarei.
     sente que é capaz.
                                          Algumas já foram de crista,
     Não sei que penas tenho,
                                          daquela crista de galo,
     mas sei que é grande a minha pena.
                                          hoje nem sei se as vista.
     Se fosse uma pena pequena,
                                          Será que teimo e me entalo?
     não era do meu tamanho.
                                          Aquelas que tinha no peito,
     Já cobriu um pássaro veloz,
                                          essas, não as perdi todas,
     daqueles que voam alto,
                                          são penas cá do meu jeito,
     qual pesado albatroz,
                                          adorno de tantas mudas.
     voando em sobressalto.
                                          Mas acredito ser pena,
     Agora, as penas já pesam,
                                          não poder trocar algumas,
     pelo peso que suportam,
                                          trocava aquelas da melena,
     mas são penas que me elevam,
                                          que me ornavam a pluma.
     tão alto que me exortam.
                                                     r




                                                                               44
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Queria um sorriso

                                                    Amanhã, quando te cheirar de novo quero-te minha,
Queria um sorriso teu, quando te acordasse          quero sentir esse fogo que nos consome,
com um beijo a meio da noite, no ouvido.            deixo para o teu pensamento, o que se avizinha...
Deixar que o teu cabelo me arrolhasse.              tantos carinhos, e o tu sussurrares o meu nome.
Ouvir sussurrar na orelha umas malícias,
imerso num novo despertar perfumado                 Amanhã, um amanhã bem breve,
e enfrentar a teu desatino por carícias.            quero poder te dizer no rosto,
                                                    quanto te amo, tudo o que me eleve...
Já não acredito que venhas por hoje aqui,           este amar, o quanto te gosto.
até porque, para mim já está ficando tarde.
Tenho imensas saudades meu amor, tuas...de ti,      Mais logo vamos falar de novo sem cerimónias,
dos teus gargalhares, do teu alarde.                dos carinhos que se nos oferecem,
                                                    do quão belo é este amor e das insónias,
Deixas-me sempre bem-disposto com o teu riso,       que nos teimam, que nos abatem.
provocas-me o amor-próprio e a lábia.
Como que me consumes o juízo,                       Não queria que sentisses este frio na espinha,
deixando a minha perspicácia com mais ousadia.      esta amarga saudade que me aflora,
                                                    a cada vez que penso em ti, minha menina
Até mais logo meu amor, toma um beijinho.           e nesta nossa condição que nos deplora.
Sabes que te adoro e o quanto te desejo
e nesses lábios doces e cheios de carinho,          A vida de tão triste e insuportável tem disto.
queria deixar tantos sonhos, tanto beijo…           destes infortúnios com que nos deparamos.
                                                    Meu amor, à tua sina, eu já não resisto,
Não me deixes aqui endiabrado, pensando loucuras,   se não, olha para nós e para o quanto nos amamos.
nos beijos que te daria e não posso.
Temos uma sombra, que este amor obscura,
mas adoro-te e a este segredo que é só nosso.


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A minha dor

O meu pensamento, quero registá-lo em poesia,            É o mar em baixo que compõe esta maresia,
evocar em palavras, a minha consciência,                 traz esta humidade que baila nos céus
recordar-me dos instantes cheio de alegria,              e este vento que sacode as mágoas de fim de dia.
porque carpir, leva a mágoas e demência.                 Serás tu que envias estes sussurros pra serem meus?

Falta aqui o meu amor, falta-me o seu sorriso,           Eu sinto que é a tua voz me dando mercês,
reunir-me ao céu em seus braços e pernas,                talvez querendo que saiba do teu amor,
queimar-me na fogueira do que preciso,                   da falta que sentes, porque não me vês,
porque assim, neste vazio me consternas.                 mas mesmo que seja só ilusão, são sons de dor.

Quero ser contigo um tempo de vida,                      Estas luzes da cidade ferem-me a vista,
ser a flor, onde pousa a borboleta agitada.              matam a alma pelo que de brilho delegam,
que ao fechar as asas, fica radiante e divertida         nem dão constância, nem descanso à conquista,
E ao abri-las, se lança em voo mais animada.             dum dia como o de hoje, em que estes ventos me cegam.

Desejando bálsamo resto-me a mirar estas ruas            Preferia o sossego da serra e os ares da lua,
Olhar esta paisagem de palmeiras e relvado               com os ventos passando por cima das serranias
Na ilusão de encontrar aqui as sombras que fossem tuas   e no vale a calma ser completa com uma presença tua
Mas a ansiedade não te trás, até este gramado            e ai, te poder beijar, como beijei outros dias.

O meu pensamento, sinto-o me desafiando,                 Se tudo isto não passar dum sonho,
como uma chama me queimando a fronte,                    ou este vento se perder pra lá do alvorar,
mas nem o tempo, nem as tuas sombras aqui faltando,      o meu pensamento sempre amaina e o componho.
vão mudar esta aragem, ou atear este monte.              Nestes sítios, doutra saga, mas no teu amar,




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     Boneca


     Devagar mas enérgica avança,          Deixa-me uma sensação de anulado,
     ondulando as ancas com beldade,       quer de prazer, quer de pensar,
     todo o corpo vibra e balança,         embriaga-me o cérebro já toldado.
     esta boneca parece de verdade.        Nada paga esta visão, visão sem par.

     Cabelos longos, até parecem           Quero mais, muito mais destas visões,
     roubados às crinas do unicórnio.      por isso, vou de joelhos me prostrar,
     Como os seios estremecem,             ou fico aqui fazendo dias e serões,
     fazem ofegar até o demónio.           na esperança de que volte a passar.

     Vista de perto percebemos logo,       Com tanto arrojo me dirigi a ela.
     que de boneca só tem a graça.         Com voz rouca da emoção disse audaz:
     Meu Deus! Tanto Te rogo...            ...flor dos meus olhos, tu és tão bela.
     detém-na quieta, que me desgraça.     Mas sem me olhar, deixou-me pra traz.

     Faz-me brilhar os olhos sorrindo,     Como é amargo sentir desprezo,
     os lábios rubros malícia,             tanta arrogância nada combina.
     abrasam como que ávidos se abrindo.   Por tal, eu hoje tanto me avesso,
     E eu a olho, aparvalhado da vícia.    beleza assim, é perigo em ti, menina.


                                                          d



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Impulso de carinho


“Sei que tu és capaz!”                                  Queres ver o ser humano inteiro?
Olha-me nos olhos e diz-me isso,                        Queres sentir a sensação do que fizeste?
com esse olhar tão doce e sereno,                       Avancei e no fundo do abismo vi um sorriso...
talvez eu assim fizesse caso.                           ...era teu, tu sabes que sim
Desata o que me resta do impulso de rapaz,              e que o sorriso era pra mim.
apertando-me num quente e ameno abraço,                 Sorrindo ao poeta, como quem sorri ao menino,
Porque preciso de aconchegar esta flor no vaso.         fizeste num impulso o que eu assino.

“Tens um potencial tão grande,                          Este modo que me mostras é angústia,
mesmo dentro dessas noites oprimidas.                   são mutismos e suturas desta vida,
Teimoso, sai dessa, olha o amanhã… que se ensarilha!”   que eu teimo em deixar ao vento.
Os sonhos são feitos assim, de manhãs inquietas.        E livre, solto como a pomba da paz,
Bebe um trago de saudade… Anda, sorri,                  acabrunhado e mudo como um sagaz,
monta nesse cavalo louco que tens em ti,                sou nesta pele de angústia vestido,
põe aquela espora de prata, que tanto brilha.           mas na fleuma do meu contento.

Deixas-me um sorriso nos lábios,                        Conversa estúpida, sem nexo,
ao empurrares-me a vida p’rà frente,                    palavreado de quem não sonha mais...
quando ela teima em ficar pra trás.                     ...nem de mãos dadas,
Porque não me deixas de ânimo acanhado,                 são estas ideias comungadas.
cabisbaixo, pensativo, estupidificado?                  Teimas e tonturas de ser complexo,
Porque teimas em me dizer essas coisas assim,           frémito louco e adverso,
desse modo provocador e pertinaz?                       de quem já nada quer, nem ais.




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     O poema sou eu

                                          Na dor do amor,
     Eu sou um poema,                     aspiro minhas bênçãos,
     mas és tu que me levas a isso.       vivendo o amor com perturbação,
     Pelo carinho que me dedicas,         sou assim, fiel aos meus mitos,
     as minhas palavras, eu repiso,       e perturbado no ser,
     mas são aquelas que eu mais gosto.   como qualquer enamorado deve ser.
     Nos versos de amor que te escrevo,   És tu que mo fazes ser...
     e assim nascem em mim,               Inspiras-me rimas,
     só porque penso em ti...             que só a ti sei escrever.
     Sou poesia!                          Nos versos de amor que escrevo,
     Meus versos guiam em mim,            deixo todo o calor que te devo...
     lembranças de ti, sem fim...         Dou-me na minha poesia,
     Sou poesia destilando amor,          por isso digo que sou um poema,
     rimando cada verso gota a gota,      transporto sonho e fantasia.
     com mimo, com paixão,                Mas esse é o meu dilema.
     surgi para suspirar meus cantos,     Quando o que pretendo é ser feliz,
     e na tua mão depor o meu coração,    e amar, amar e ser feliz,
     com sonhos ilusões e prantos.        e só porque me sorris,
                                          escrevo pensando em ti.
                 j



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     Num bar qualquer


     Sonho-a ao meu lado sentada,            Umas legítimas e sublimes,
     de mente e gestos provocada.            onde ela se redime,
     São razões e desejos insaciados,        outras transpiram sensualidade.
     feitos de esperas e deleites,           São todas, desejos insatisfeitos,
     na demora de serem aceites,             de carícias e de beijos,
     como actos consumados.                  coisas próprias desta idade.

     Sinto uma ânsia indecente,              Mas eis que um sorriso sobressai,
     me devastando a mente,                  de tanto imaginar o que pr`aqui vai.
     enlouqueço de prazer.                   Alguém, pergunta: Amigo como andas?
     De olhos fechados a sonhar,             Respondo, ainda sonhando: Olá, vou bem!
     sinto os seus dedos me tocar,           Pareces sonhar com alguém.
     fazendo-me o corpo estremecer.          Pois sonho, anda uma amada em cirandas.

     Mas, continuando o sonho no ar,         Quem é ela, podes dizer?
     sozinho nesta mesa de bar,              Porque não, se queres saber,
     dum bar qualquer da cidade,             mora longe, muito longe e por isso ando aéreo,
     sorvendo apenas o meu ar e a ambição,   um dia sulco os mares
     neste preambulo da inspiração.          e quando menos esperares,
     São fantasias envoltas em realidade.    eis-me perto dela, acredita falo a sério.




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     Perdoa-lhe


     Se esta briga de impropérios não parar               Palavras assim irreflectidas ou injuriosas,
     e for para continuar até de madrugada,               lastram este chão de amarguras doentias...
     melhor fora que a voz fosse embargada.               basta semeá-las assim e crescem todos os dias,
     Ele há cada uma! Isto não pode continuar.            como promessas não cumpridas e dolosas.

     Se esta chuva de palavras não parar,                 Águas assim vêm molhadas de amarguras,
     é todo o campo que fica alagado,                     prometem apenas regar os chãos hostÍs.
     imerge o pensamento por insultado,                   Não teimes mais, pois tudo o que se diz
     mata as culturas, matando todo o sonhar.             no calor duma prosa assim, vira loucuras.

     Se me sinto perplexo e aperreado,                    Olha…expirei, insultado e injuriado,
     não é tanto pelos verbos, mas pelas ideias,          enquanto a chuva caía já feita em lama.
     há termos desnaturados, tão cheios de peias,         Foram tantas as falsidades ouvidas nesta trama.
     que mais parecem a letra dalgum cruel fado .         Meu Deus, perdoa-lhe mais este pecado.

     Vou fazer crer, que sou surdo e mudo,
     ou como se fosse atacado de morte súbita,
     para nem compactuar mais desta desdita.                                 l
     Já basta, mais não! Que este atropelo seja tudo...




                                                                                                                  51
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      Que será isto?                             Que será isto que me aflige,
                                                 que me salta aos olhos e me atraiçoa,
                                                 que me estreita o peito e me faz confessar?
                                                 Isto, porque suplico à toa
      Que será isto que sinto?                   o que ficou sem jeito de dissimular.
      São vibrações e tremores que me agitam.    Será que vai passar?
      Abrasam-me por dentro,                     Será o amor que veio pra ficar?
      perturbam-me o sono,
      sacudindo-me o alento.
      Sensações estranhas que comigo coabitam.                  d
      Que será isto, que se passa,
      todos estes calores que me inflamam,
      com suores agradáveis a me embeber?        Ser razão
      São os meus ânimos a chamar,
      numa aflição enorme que me retesam,
      prendendo-me a mente e o querer.
                                                 Para quê escrever, meu amor,
                                                 quando a vontade é abraçar.
      Que será isto que me atormenta,
                                                 Sentir estes olhos em flor,
      que me faz perder a intrepidez,
                                                 no paraíso te eternizar.
      que desabrocha à flor da minha tez?
                                                 Ir além dor e além pecado.
      Me alucina e me deixa mal.
                                                 Sentir o verbo se acabar,
      Isto que me amedronta a cada vez,
                                                 verbo sorrir e como um fado,
      turvando-me o olhar, dá-me timidez.
                                                 ser razão deste amar.




                                                                                                     52
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      Quem de vós dirá?                 Meu coração para quê…


      Se fujo quero voltar,             Meu coração, para quê este sofrimento?
      fica longe o sol que sonho.       O que eu posso fazer por ti? Anda, diz?
      Se fico morro de amar.            Não tens paz, não? No momento
      São decisões que eu engonho.      são emoções de mais, ora choras, ora ris.

      Nem com pós de perlimpimpim,      Divide comigo irmamente, cada lágrima,
      posso encurtar esta hora.         cada instante de amor, solenemente.
      Como é breve o sol em mim,        Cada tormento, ilusão, ou cada rima.
      nem me aquece o corpo agora.      Divide tudo, carinhos, paixões… docemente.

      Amigos aqui são bastantes,        Para mim, assim não haverá mais paz.
      mais além tenho outros tantos,    Eu quero-a, tu sabes bem, se é loucura,
      mas já não é como era dantes,     sana este aperto em mim, se fores capaz .
      andam os sonhos pelos cantos.     Oh, pobre coração...sentimento este que perdura.

      Daqui, vejo fugir com pressa...   Todos os dias morres, eu sei, um pouco mais,
      Este sonho não é mais feliz.      Qual onda que em espuma se esmorece,
      Esta ideia de ir não cessa.       nesta praia feita de sofrer e sentimentos reais.
      Quem me dirá: fica e mo diz.      Oh! Meu pobre coração...não a esquece.

                                        Esta sensação de sufoco, é tormento revolto.
                  u                     Todos os dias, eu sei, está mais perto a solução
                                        e o meu amor mais doce, mais digno e solto.
                                        Aguenta! Sê audaz...oh, meu pobre coração!




                                                                                                 53
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Estou enamorado

E vejo assim o tempo passar,                            Pode tudo se transformar,
gostando a cada dia mais e mais de ti.                  tudo pode se perder.
Este meu modo de te sonhar,                             Pode o mundo contra mim se revoltar,
refina a cada beijo que de ti perdi.
                                                        que aconteça o que acontecer,
O que será que fez com que eu te gostasse tanto?        eu jamais irei deixar de te amar.
Tanto assim…                                            Jamais poderei te esquecer.
tanto que é por ti que canto.
E porque não me abraças, porque não te abraças a mim?   Meu amor, se é por ti que eu canto,
                                                        meu amor, se és todo o meu encanto,
Se em cada beijo que tu não me dás,                     meu amor, se é por ti meu pranto...
é o meu corpo que não estremece,                        meu amor, meu amor, quero-te tanto!
Que se perde e se esquece e assim jaz,
tanto que é por ti que me choro nesta prece.            "Quero beijar-te, sem estrofes, sem rimas,
                                                        sem palavras, mas de lábios encostados"




                                                                                                           54
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      Mas meu amor

                                                     Que a minha loucura seja absolvida,
      Afirmo que te amo sem pudor,
                                                     se sentires que metade de mim é amor.
      nem sei se coro ao afirmar.
                                                     Que não seja preciso mais sofre na vida,
      Devo parecer um jovem com rubor,
                                                     por coisas como esta, sem valor.
      confesso que já me fizeste chorar.
                                                     Para te fazer aquietar o entendimento,
      Dúvidas estúpidas, me aludiste,
                                                     que a tua paz me diga cada vez mais.
      até que me achei inútil e perdido,
                                                     Palavra que eu fale, te dê discernimento
      mas felizmente sem razão, como viste,
                                                     e não sejam ouvidas como prece, jamais.
      o amor tem disto, amor este, sofrido.
                                                     Quero que a força do medo que tenho,
      Para quê fugir deste castigo,
                                                     não me impeça de ver o que acredito.
      começo a ver que não te esqueço,
                                                     Esta doçura que tenho atinja um tal tamanho,
      porque será que o não consigo?
                                                     que os meus actos sejam o que deixo escrito.
      Se alguma razão houver eu desconheço.
                                                     E se entretanto a vida me negar,
      Rastejo a teus pés, se for preciso,
                                                     aquilo a que julgo ter direito,
      até que me perdoes, por me esquecer.
                                                     Aí, então poderei até rastejar,
      Agora penso, se será falta de juízo.
                                                     mas meu amor, tem-me respeito.
      Sou mesmo assim, estúpido, está bom de ver.
                                                     Jamais pronuncio a palavra nunca,
      Mas se a arte me apontar uma resposta,
                                                     porque o dia de amanhã não me pertence,
      não serei eu a complicar a relação.
                                                     mas dizer que o linguajar se me adunca,
      Sinceridade para dizer de quem se gosta,
                                                     não está nos meus horizontes, que eu pense.
      é fácil, quando a metade de mim seja perdão.




                                                                                                          55
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      Hoje pensei…                                     Nesta manhã


      Hoje, pensei num Natal diferente,                Nesta manha senti vontade dos teus suspiros,
      cheio de silêncios, de madrugadas frias,         senti tanta falta dessa ansiedade em brasa.
      tantas vidas insípidas, vazias,                  Preciso-te com qualquer humor, ou disposição,
      tantos sonhos perdidos, em tanta gente.          senti falta dos teus sons a vibrar na casa,
                                                       até daquelas frases excessivas de inquietação.
      Hoje, pensei nas compras de Natal,
      aquelas feitas à pressa,                         Queria tomar o meu café, da tua boca
      antes que a noite apareça,                       e depois ouvir qualquer palavra tua,
      compras de pão sem sal.                          dita sussurrando, enquanto te punha nua.
                                                       Como eu preciso te encantar, deixar-te louca.
      Hoje, pensei em nós, nos nós que fizemos,
      em como desatá-los,                              Sempre acabo pensando no som do aspirador,
      ou num laço apertá-los.                          percorrendo o chão nas manhas de domingo,
                                                       e nas noites em que dormia na dor
      Hoje, pensei se o Menino voltaria,               da solidão e pensava: só te ouvindo me vingo.
      se este ano, o Natal ainda aqueceria,
      se ainda vai haver, aquele Natal que queremos?

                        yv                                                  j




                                                                                                              56
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  Reflexo                                              Não disfarces mais essas claridades,
                                                       o espelho não atraiçoa, nem ludibria.
                                                       É assim mesmo como vês! São essas as realidades!
                                                       Vive e deixa-me ver esses reflexos á luz do dia.
  Não é fácil olhar-te nesta imagem,
  vejo nela reflexos de luz,                           Um sorriso, tal qual Miguel Ângelo pintou no Mona Lisa,
  urgentes e impenetráveis, como numa miragem.         um sorriso feito de carinhos, como só tu sabes, amor,
  Contrariaste o espelho, fazendo jus!                 Faz um assim pra mim! Esse ar angélico sintetiza…
                                                       Quero poder lembra-lo amanhã. Desabrocha essa flor.
  Beija-me? Queria dizer: Beijo-te, nada mais
  e enquanto os lábios se mantiverem encostados,
  não te distraiam com pensamentos sensuais.                              k
  Há coisas lindas nessa imagem que parecem irreais.

  Olha nesse espelhar uma outra vez,
  pensa na prata com que foi feito.
                                                             Carência
  Tanta energia tem e nem vês…
  Suspira, mas fundo, nesse peito.

  Eu me sinto oco, porque não reflicto assim,                Do meu amor senti a ausência
  ando assoberbado na alma, ou sem jeito.                    Tanta falta que ela me faz!
  Guarda um pouco desse cariz pra mim,                       É carência em cima de carência
  para que eu recate o entusiasmo neste peito.               Só ela me satisfaz.




                                                                                                                 57
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  • 1.
  • 2. 2 Composto por: João Morgado k 2
  • 3. 4 3 Poesia de: João Morgado Apresentação João António Santiago Morgado, nasceu no dia 04-02-1953 no seio duma família numerosa na Vila do Juncal, Porto de Mós onde viveu até aos 35 anos.. Foi então morar para Alvôco da Serra, Concelho de Seia, aquando foi trabalhar como modelista numa empresa metalúrgica da zona, fixando ai residência. Ao longo da sua vida dedicou-se a várias actividades culturais e sociais como: ao teatro amador por influência paterna, ao folclore criando o Grupo Folclórico e Etnográfico de x Alvoco da Serra e entre outras, à gestão da colectividade da sua terra natal. Após a doença que o incapacitou para a sua actividade laboral, dedicou-se cada vez mais afincadamente à poesia, talvez devido à sua solidão e condicionalismos de saúde. A pintura é outra das suas paixões, embora numa outra escala.
  • 4. 5 6 O livro Abri aquele livro descorado pela idade, em que te encerrei, quimera de desalento Dedicatória e nessa pequenez fiz o meu destino lento, Fiz-me cativo de loucuras de intimidade. Dedico este meu livro aos Soprei da capa, tanta nostalgia, meus filhos: Pedro, Olga soprei cada promessa, que voou com o bafejo, e Vítor, e às minhas netas: havia lá tantos sonhos lavrados na euforia, Sofia e Mónica com perfume dos carinhos...e tanto beijo. Fiquei-me a ver cada página, de olhar humedecido e lia nelas, de olhos cerrados, tudo o que me prometeste, quando dei por mim, pensava no que não foi cumprido. n Hoje, não sou mais o jovem puro que conheceste, nem o meu corpo ainda goza daquela exaltação. Preciso queimar este livro, é de capa de solidão. sr 4
  • 5. 7 8 Vestido de poesia Eu acredito Desta vez estou contigo, Deitado na relva perto da ribeira, vestido de poesia cerro os olhos e dou asas à utopia. e neste encontro de amigo, Sinto nas águas uma esteira, quero ser toda a alegria. entre o sonho e a fantasia. Que seja bonito o instante, A tua face brilhando estou vendo, deste encontro, que afinal, entretanto, com a luxúria da margem, terás de mim como amante, sinto o fresco me percorrendo, do romantismo natural. pelo sorriso que observo na miragem. Vou ampliar o sentimento, És tu, pensando em mim que me acodes, de voz trémula de emoção, num fogo, a dizer-me do teu bem-querer, quando chegar o momento, talvez pensando em tudo o que podes, vou abrir o coração. comigo e em mim também fazer. Passo então cada pedacinho, Só peço aos Deuses, algures, com sentimento de alegria, que olhem pra nós com engrandecimento. com o meu habitual carinho, Imagino que p’los teus lábios jures, mas vestido de poesia. fidelidade e amor, de mim tens o juramento. Queres saber o porquê, De olhos fechados continuo a sonhar, deste meu jeito original? apenas deixando a brisa acariciar-me, Porque me encanto! Toma lê. parece que me sussurra, em beijos sem par: Faz com ele um recital. amo-te, meu “…….…”, vem amar-me. 5
  • 6. 9 10 Acaricia-me Mas, o vento parou junto às águas, Acaricia-me, para suavemente ao meu ouvido gemer: como a borboleta que beija a flor, Como lamento meu amigo, as tuas mágoas. ou a lua que enfeitiça as noites, Nem tu nem ela, merecem assim sofrer. remexe neste modo de sentir a dor, se um beijo não chegar, dá-me uns açoites, Levantei-me e junto ao rio lavei o rosto, o frio da água entrando em mim deixou revelado: Acaricia-me, Amigo, espera melhores dias, o fogo está posto. com gestos audazes desses dedos Eu acredito em ti, Rio Sagrado. E na plenitude dos meus segredos, rouba das noites os meus medos, que concebem cerrados arvoredos. Acaricia-me, minha amiga, meu guru protector, g compreende os meus tormentos, perdoando meus erros de amor. crendo nos meus sentimentos. Acaricia-me, como se foras uma brisa solta, arrancando-me deste casulo. Sana esta minha revolta, estes temores, em que me emulo. 6
  • 7. 11 12 Será amnésia? Acaricia-me, Hoje queria te escrever algo de delicado, faz com que me sinta protegido, mas nem sei a razão, de nada me ocorrer, nas madrugadas solitárias, como arrancar desta mente de alienado, em que sinto o teu carpido, alguma ideia que luzindo, me faça entender. que tal como o meu, nos gera párias. Comigo me revolto mesmo sem querer, Acaricia-me, parece que tenho minha mente vazia, esta alma sofredora e inquieta, nem sei como começar o que tenho a dizer, em sublimação dos momentos, mora em mim uma ideia, que tanto queria. quando a revolta retorna secreta, assediando-me os pensamentos. Mas para assim me compreenderes, quero que saibas de que serei capaz, Acaricia-me. com palavras minhas para entenderes, e eu tenha enfim, um pouco de paz. . Mas hoje, que se passa? Não consigo contar! Não me aflora nenhuma palavra bonita. Contudo, mesmo assim terei que tentar, palavra que eu bem o tento, acredita. a Ainda assim, com o meu modesto vocábulo, vou fazer um esforço e ir mais além, para te dizer que o lápis com que lavro, será sempre a minha arma do bem. / 7
  • 8. 13 14 Tu partiste… Tu partiste, eu deixei, Pois rabisco o que escrevo para te dar, por não ter outra opção, uma noticia repleta de sentido da verdade, os abraços que não dei, nem sei bem porque teimo em te contar, guardei-os no coração. mas sei que tenho essa necessidade. Tu partiste, eu fiquei, Talvez porque sinta que nisto perco o pio, sem saber o que falar, ou não conseguindo mais abafar, o proclamo. mais uma vez me calei, Já chega de tanto rodeio e desvio, no esforço de não chorar. não posso demorar mais a te dizer: TE AMO! Tu partiste, eu pensei, do sonho que não escolhi, das alturas despenhei, sabendo que te perdi. Tu partiste, eu bem sei, o quanto por mim eras querida, mas nunca foste minha, avaliei, s como então ter-te perdida. Tu partiste, aceitei, meu romantismo excessivo, no mundo que inventei, fiz de ti o meu motivo. Tu partiste, revisei, o meu amor voluntário, outra página virei, tentando mudar o cenário. 8
  • 9. 15 16 Sonhos d’água Tu partiste, eu deixei, nada mais podia fazer, mas ainda bem, pois eu sei, Alongam-se pelas areias das praias, doutra vida, outro querer. destas margens azuis e frias, tapetes de flores em que te atraias, Tu partiste, agora sei, e eu, sonho com essas belas e arredias. foi o melhor que fizeste. como princesa te tratei Sinto-me atraindo pelo seu chamar, e tu, que me deste? com esses brados lançados no vento, porque conjugo nelas este sonhar, Tu partiste, ainda bem, que nem pretendo apagar tal sentimento. já nem vale a pena voltares, já encontrei outro alguém, Apertado que me quero em seus braços, logo após tu me deixares. com o sol se abrindo em suave tortura, que o pó da areia circunde o espaço, Tu partiste, nem sabes o que custou, nascido deste amor que me segura. mas hoje agradeço o gesto, não voltes que eu não vou. Esta hora cambaleia em demasia, Pensa que eu não presto. nuns sorrisos meigos em flor-d’água, quando me diz: sonha, que ainda um dia, Tu partiste, sou livre agora, serás criança e ai esquecerás as mágoas. os filhos ainda nos prendem, por toda a vida fora, Olho estas flores delicadas, recordando, mas descansa que eles entendem. em marachãos floridos, tanto carinho, àqueles que eu me alonguei amando, Tu partiste, ainda bem! por estas praias brincando de pá e ancinho. 9
  • 10. 17 18 Borrasca Nestes delírios de criança, que ainda sinto, Porque será que continuo abrindo a alma? sou perdido e achado por belezas assim, Matizando a áurea do ânimo com desejos, lembro-me quando saltava o livre plinto. porque teimo em amar só quem me acalma? Preciso renovar esses sentimentos em mim. Porque dos seus lábios, nascem beijos! É isso tudo que quero fazer ai então, Berro aos ventos com os sentidos despertos, correr, brincar, saltar à corda… sem siso, e pinto na aguarela do meu sonho emoções. nessas areias cristalinas de sertão, E no espírito destas tormentas faço acertos, banhar-me nessas águas quentes de paraíso. na ânsia de que me levem as desilusões. Pensei que iria gostar de estar acompanhado, Deixo assim que as rajadas afastem mais, por alguém que goste dum pôr-do-sol ameno, todas as mágoas dum amor quase desfeito, abraçado, sorrindo, sentindo-me enamorado. e dos meus lábios, nascem beijos como ais, É tal o sonho em mim, que me sinto pequeno. gritos de uma vida sem ti, me abrindo o peito. Esta distância que separa o som desigual, como o do ferir das ondas nas fragas, de uma presença que és tu no areal, contando a gesta dos teus medos e saga. l Conta antes uma história bela e amorosa, dessa boca em gestos sentidos na magia, dum pôr do sol escrito com linhas de prosa, não sei porque choro, será da alegria? 10
  • 11. 19 20 Alicia-me Alicia-me com teu jeito terno, É que para mim são beijos, esses na alma, arriscando em mim um beijo ardente. são gritos ao vento de lágrimas de sal, Apertando-me com força, leva-me ao inferno, insisto assim sulcando mares na calma, da malícia insana e atraente. desta borrasca louca, numa cantilena irreal. Sufoca-me com teus beijos... Porque sonho e desejo, não sei! É possessão. em sofreguidão e desespero. Como os versos que eu rabisco aqui… Anda a meus braços, porque te quero, Completam-me em alguém em comunhão, afogueada de desejos. desta canção de amor que tenho em ti. Ofereço-te um momento mágico, Mas vou até que um dia, um dia esta canção em minha poesia secreta, seja balada, com letra de sonho em harmonia, nas rimas ardentes do poeta. quando as palavras escorrerem das mãos, qual areia fina, que o sol queima de dia. Toques de ternura, fragmentados de loucura. Porque me quero, nesse cansaço letárgico. g qe 11
  • 12. 21 22 Feitiçaria Sulco a quimera em flamas bravas, Na passarela da existência, e, aí sonhando...existo em poesia, fitas de doçura na cintura, pensando em ti, nem vi que aqui estavas. máscara feita de essência, Tão perto, tão longe… feitiçaria! de mulher felina e pura. Feiticeira da minha alma, cada gesto em segredo, quietude de pura calma, d cada impulso sem ter medo . E nessa vaga avassaladora, devoras o mundo sem receio, desatas o espaço, sedutora, até á hora do recreio. Nunca mais Desfraldas essa tua nudez e a sorrir riscas o fósforo, Nunca mais a cama fria, num abraço de altivez, a noite de insónia, culpa do mais belo desaforo. a vida vazia. Nunca mais as palavras não ditas, Hipnotismo, sem contratempo, nunca mais, os sonhos adiados, pra sempre em pura magia, os gestos parados, aqui, neste dia, num desalento, nunca mais… cada sonho fique pra depois! na tortura da ausência da tua companhia. Nunca mais. 12
  • 13. 23 24 É ilusão Já não tenho mais a tua boca, É ilusão: amor, delírio de viver, me mandando beijos e suspiros, é desejo, ternura e poesia, perdes-te por outros sonhos feita louca, num lento e doce entorpecer, assim as minhas noites são retiros. é um sonhar-te até que surja o dia. Sem essa tua pele suave e fresca, É por um mau fado que se revela, a me deslumbrar com seu cariz, até que aquele momento venha, sou eu que me perco na borrasca, mas a noite deixou de ser bela, desta vida assim presa por um triz. É da tua ausência, esta dor tamanha. Este mar bravio que é o meu corpo, Como esse teu olhar me faz falta, é agora um ginete feito sultão, esse brilho raro e quente que me atrai, são ondas revoltas, estas que sulco, agora que não te vejo, tudo ressalta, e espraiam em areias frias de mar chão. até a tristeza se impõe e sobressai. A noite que devia ser suave e calma, em sonhos belos cheios de graça, invade de sombras a minha alma, l porque esse corpo não me entrelaça. 13
  • 14. 25 26 Deixa-me Às vezes Deixa-me dormir abraçado a ti, São tantas as vezes que os dias duram meses , prometo fazer cadeirinha somente, tantas as vezes em que os dias são de penúria, nem sei porque ainda não dormi, que por vezes são os gestos atados em fúria, é um sonho que tenho ainda pendente. lembrando-nos que a vida só é boa às vezes. Se eu ressonar não me acordes, Às vezes nem criando em nós uma ilusão, posso estar a sonhar mais uma vez. duma noite, que na noite seja dia, no meu último sonho, beijava-te os pés, conseguimos mais que a euforia, se fores tu a ressonar não te incomodes. do prazer do sonho, criado no coração. Quero ficar olhando-te apenas, Mas assim mesmo tomando nos braços, tornar as minhas noites mais pequenas. a beleza duma fantasia por nós criada, Se me ouvires sonhar em voz alta, nos livramos de tantas noites de cansaços, direi unicamente o quanto me fazes falta. Fazendo do dia a noite mais enamorada Mas se por ventura o amor acontecer e da noite o dia ganhar os seus passos, e viermos então a fazer sexo, às vezes, é só assim, uma vida sonhada. acredito não seja assim tão complexo, se nos amamos, é natural assim ser. yv 14
  • 15. 27 28 Oh…orvalhada Só contigo! Oh… inspiração de muitos poetas! Sentir-te…oh prazer imensurável... O tempo não te monta, minha musa. a gota d'água que me transborda, Porque brilhas, se és reflexo a energia que dá vida, leva ao céu. de meretriz deste Universo? Fogo num só momento desejável. Sonoro encanto de harmoniosa cadência, mulher, amor, ser complexo! Adormeço, fecho os olhos...anda, acorda. Louca imagem, à qual faço reverência. Num surto de amor como este meu. União do prazer com o amor e a vida, Foram os amores de ontem, que te acabaram assim, é tocar no sol... é ter o céu! adorno doce, aos meus olhos sonhadores. Continua enamorada, Quero morrer de amor, quero-te querida. maga, fada encantada, Limites de prazer não existem contigo. parindo fantasia nestes sopros obcecados. Sei…este amor é algo fabuloso. Como mulher felina mal amada, és luxúria, neste mate de arrenegados. Vejo a vida de forma diferente... castigo? E quando sinto isso, fico guloso. Oh… orvalhada do meu encanto, deleite e pranto. Porque só contigo meu amor. Só contigo! Pão doce, proibido na dieta, Só contigo! fonte de refluxo expedito. Mar bravio de ondas em grito, que fustigas estas areias geladas. E assim aquecendo este sangue me agito, ht sonhando com dias e noites mais agitadas. 15
  • 16. 29 30 Volta amor Quero um beijo e um convite, Anda, que a alegria está aí, num futuro anil de mar, no reviver daquele dia, quero nos olhos um sorriso, que contigo vivi. pra que surja afecto d'amar. Volta amor, sorri como eu sorria. Se és inesquecível…amor! Porque será que não entendes, Tanto tempo sem te ver. que a vida não mais pára, Só peço que me acenes, nem nosso amor desmascara. estou à esperar, num fogo de ser. Volta amor, só quero que te emendes. Cada dia é como um ano, Eis toda a minha razão, esperar-te é controverso, dum amor em convulsão, é tão complicado! Oh engano, que aguarda o teu sinal. viver sem ter o verso e reverso. Volta amor, sai desse pedestal. n p 16
  • 17. 32 Ah...minha menina Os dias passam, as noites se vão. Ah... Minha menina de voz aflita Embora saiba que nesta vida tudo passa, o meu coração se dilui ao ouvir-te. apenas acredito numa fuga à desgraça Eu “Amo-te" e quero dizer-te, e neste amor que me cala o coração. um amor assim o tempo não agita. O amor nos está deixando embriagados. Antes firma o que tem de mais inato. Ah... minha menina, como eu te amo. Este amor nasceu de palavras agradecidas, Acredito que nem a calunia ou desengano, feridas e doridas como as nossas vidas muda a face dos nossos pecados. e dum sonho em que eu me acato. Vou ficar aqui morrendo de desalento, Assim como eu sou teu, tu és minha. até que brilhe em mim uma luz Sinto que estamos nas mãos da idade e entretanto vou rezar e num sinal da cruz, e se a cada nascer do sol muda a verdade, pedir a Deus que a vida seja a meu contento. não muda o que sinto, nem se me avinha. Não vou baixar os braços por fantasia, A certeza que um dia estaremos juntos, pois assim morreria qual onda na praia, eu a sinto no respirar do meu coração. vou antes sonhar com a chama que de ti saia, Nem anjo, nem demónio, ou condão, até que nos surja alguma ideia luzidia. tem coragem suficiente de nos pôr untos. 17
  • 18. 33 34 Tens tanto...tanto Já me corre nas veias Queres ajudar-me a compor uma poesia, Soltam-se-me as palavras em aflição, queres? neste crer que é delírio e ventura Não importa se for com rima ou não. E cada brado com o ardor da intenção, Inspira-me de fantasias. se solta mais abafado e em amargura. Deixa-me pegar-te na mão. Desejo tanto uma poesia de amor, Hão-de compreender sonhos e quimeras! só uma. Rogo a quem me escuta, que me perdoe, São tantas as rimas que tenho escondidas, que eu já só me detenho nestas esperas, que se eu as pudesse compor todas, nem vivo, até que este meu sonho voe. nem um só dia me chegaria. O importante não é escrever poesia, Consagrei-me aos suspiros e lamento, é senti-la. porque está longe o ente amado, Que se lixem os poemas, ante esta aflição de ser ou não ideia ao vento. pudesse eu rasgar o que sinto, como posso rasgar as poesias. Me quero antes amargo e malfadado. Tenho tanto para partilhar contigo, Reunir-me até das mais perversas ideias, tanto, mas sem este amor, não! Já me corre nas veias! que sinto ser um desperdício, todo este sentir, mesmo até o amargo. Tens tanto para partilhar! no Tanto… tens tanto, para partilhares comigo! 18
  • 19. 35 36 É sonhar-te mesmo assim Deixei parar os sonhos, perdido, acordado, Se sentires que morro, e o no sono entardeço, foi um erro, esquecer-me de mim, beija-me como se eu estivesse perto do fim. agora, na areia do meu deserto encantado, És ilusão…e na noite tanto por ti padeço, é sonhar-te mesmo assim. é sonhar-te mesmo assim. Neste amalgama de desejos, sou perdido, Assiste-me nesta praia de espuma cor de ternura, em pensamentos inquietos, sem fim, que as ondas fazem ao espraiar neste jardim, deixo que a tristeza me encontre arrependido, onde a o meu vento se acata e a ilusão perdura, é sonhar-te mesmo assim. é sonhar-te mesmo assim. Se alguém se cruza comigo nalgum repente, Se sentires que o meu sonhar-te é ainda pouco, chama-me à atenção apontando o dedo, enfim... rouba das ondas o sal, faz-te arlequim, Conta-me das razões de estares diferente. mas não insistas em me deixar de louco, É sonhar-te mesmo assim. é sonhar-te mesmo assim. Já não sou aquele ser, que outrora me sorria, nem sei o porquê de me saber sem mim, não te podendo ter por ora, aguardo-te um dia, é sonhar-te mesmo assim. d 19
  • 20. 37 38 Anda pra mim Aonde andas, Deixa-me em siso. que sou demandas? Onde é que estás? Vês que preciso... Queda-me na paz, desse sorriso. deste sorrir. Assim me roubas, Quero sentir, a paz das causas, aquela chama, como esta, que porfio, que de ti emana. por ti no cio. Forço-me em ti Não te abdico, em beijos e… e te suplico, sonhos de posse só uns momentos, que a ti endosse. teus pensamentos. Quero-te tanto Esta ternura, que sou um pranto. anda em procura, Aqui definho de saber de ti, triste e sozinho. que entristeci. Volta depressa, Neste caminho, sem que te peça. longe e sozinho. Toma a ternura, Oh musa alta, desta amargura. fazes-me falta. Anda pra mim. São meus desejos, Anda pra mim. cobrir-te de beijos. Se tanto careço, desse sorriso, j r anda, te peço. 20
  • 21. 39 40 Morrer tentando Estou tentando te omitir, Este fogo que permito, me adoce, do meu pensamento e da vida, vai de mal a pior sem me saber amado, é triste viver te vendo sorrir, perco-me em desejos loucos de posse, sem colher desse brilho, querida. em que os teus sonhos são meu fado. Não sei se vou conseguir a bem, Entristeço a cada pensamento de ti, é- me difícil suportar esta ausência, Se um dia mudares de ideias sabes bem, se em cada virgula ou reticência, este amigo vai te esperar até ao além. vou lembrar-me sempre de alguém. Quero-te lembrar como eu te vi. Esta saudade dói, deixa-me amargo, Toma este beijo feito de amargura. no meu peito teima a chama que não apago, Por teimar em ver a vida tão escura, por te querer esquecer, não esqueço. quero viver eternamente te lembrando, Não me telefones mais, te peço. ou morrer tentando. Se me vier a arrepender, eu ligo. Perdoa-me, eu só ver o meu umbigo, Mas se não for assim, eu faço asneira, desculpa-me, ando sem eira nem beira. s 21
  • 22. 41 42 É morena a minha amada A minha amada é morena, Quero usar seu corpo de fada, cor do matiz da noite bela, cobrir de poesias a sua tez, mas tal como ela, eu tenho pena, desenhando nele a vida tão amada, do cheiro de açucena, com rima alegre e sincopada que exala só pra ela. e vocábulo mais suave, desta vez. É tão bela a minha amada, d radiante e tão divertida. Quando me não fala, já nada me alegra o dia ou a estada, Saga neste rodopiar da vida. Pra quê chamar de fantasia, quando o sonho é dourado, Quero tê-la a cada momento, ou de instantes tresloucado. rindo pra mim enfeitiçada, Se no momento certo se agita pois só com ela me contento, e solta suspiros, como quem grita. assim sou, suspiros e lamento. Serei feliz algum dia?!... Como eu amo a minha amada. Sei que sonho em demasia, Traz-me felicidade à vida, com beijos, carícias, afagos. sempre que me devota um beijo, Feito vinho de tantos bagos, para me ficar agradecida, como este que me embriaga. canta pra mim, constrangida, És tu em sonho, esta saga, por saber do meu desejo. que me consome noite e dia. 22
  • 23. 43 44 Filho Mais um dia teve o fim Filho! Mais um dia, que teve o fim, Acredita-me, eu vou bem, outra noite sem te ver, cá vou indo no meu viver, sempre teima em ser assim, estou sofrendo, lutando a correr, mas o que é que hei-de fazer? com loucura para tu seres alguém. Perdoa-me a insegurança a que te levei, São os meus sonhos voando, se calhar houve passos errados que dei, em volta de ti, com ternura, Falta aqui a tua voz na mesa do jantar só não te vejo... e até quando? e esse riso de criança no ar. Assim, é a minha amargura. Tu vieste e não houve outro jeito, senão te apertar contra o peito. Ainda não perdi a esperança, Há horas felizes que eu lembro e repito. de que nos vamos encontrar, Amanhã quero brincar de avô quero manter-me em confiança. no chão da sala a fazer de burrito. Há tempo de desatar esse nó, Dum dia pleno de amar, vai haver tempo pra tudo, beijar teu corpo e na dança, olha o sol que nasce, miúdo. muitos verbos conjugar. Tu fazes parte de mim, és um complemento do meu ego oy e portando eu te delego, vive, sonha que o meu amanhã sorrirá em ti. 23
  • 24. 45 46 Imago Lembras-te? Teimas em querer o “Androceu” igual a ti... Lembras-te quando nos conhecemos? E ele lerdo nem pensa com o coração, Não era pra eu me apaixonar, bem tenta, mas arruína a inspiração... era só pra fazer amigos e convivermos, Acaba por consumir-se em frenesi. lembro-me do então, nosso desabafar. Pousaste borboleta sobre esta flor, De tudo o que dissemos sobre ligações, pelo pólen que transpirava, no florar. das paixões que tivemos, dos desgostos, E ela amamentou o teu sonhar, de como vivemos as solidões, mas... sonhadora “Moleirinha”, é amor! mas hoje, que o fogo está posto. Absorve esse pólen, travo e fértil, É nesta noite sem fim, que cogito, antes que a lua dispute o seu furor, no que sonho e no que quer a vida de mim. que o seu amor em ti, já exala esse odor, Não vai ser fácil, conviver com ela assim. qual lírio abrindo vestido de anil. Vamos esperar, sofrer, continuar, Nem o vento impele essas asas a voar, a vida pode estar quando e se, em ti habito. até outro jardim mais bonito e claro. A chama está acesa... para se aguentar... É assim um sonho, é sonho e eu declaro: sendo flor, à “Lepidóptero” afirmo o meu amar! xz 24
  • 25. 47 48 O teu perfume Esse perfume de mulher, que adoça o meu sentir amargo, criando em mim razão de um afago, Esse perfume de jasmim, choro-te sem querer! teu perfume se transforma em lágrimas, e eu me sinto tão perdido em mágoas, Esse perfume de menina, choro-te assim! cujo odor me provoca nostalgias, sugerindo meus sonhos desses dias, Esse perfume de açucenas, choro-te nesta neblina! como um pássaro de asas machucadas, nos meus sonhos, de penas encantadas, choro-te minhas penas! v Esse perfume de alecrim, lágrimas, que invadem o meu coração, palavras que na alma são meu condão, Flôr de tília choro-te sem fim! Esse perfume de rosa, Ama-me, como a uma flor de tília, porque não o exalas só para mim? segura mas levemente, a um pé forte, Sei que te perdes em odores assim, mesmo se secar, à fúria de alguma quezília, choro-te em prosa! não se solta, nem foge, cheia de sorte. Esse perfume de alfazema, Qual lírio, que sozinho se bate nas ventanias, que eu sinto quando me abraças, das minhas intempéries mais descabidas. sem teu corpo me desgraças, Nas ânsias do que, como tu tanto querias, choro-te em poema! procuramos novo rumo para nossas vidas. 25
  • 26. 49 50 Olha-me nos olhos Olha-me de frente, nos olhos, molha-me a boca com teus beijos. Ajuda-me a juntar estes escolhos, És o sonho que a minha alma precisa, consentindo-me alguns desejos. desde que te conheço a minha vida mudou, até os ventos da serra trazem outra brisa, cheia de ternura e o amargor já passou. k Quanta sensação na minha sensibilidade e lágrimas de emoção, teimam em brotar, Deste querer que me muda até a idade. São teus olhos desatinos Mas porque sinto eu assim o sol raiar? Jamais imaginei, amar alguém assim, São teus olhos desatinos, parece que vivo uma ilusão de amor. nesse brilho singular, Neste recanto da serra, caro pra mim, quais reflexos matutinos, em que amo cada paisagem, cada odor. No meu corpo àrrepiar. Procuro nas estrelas deste céu a ventura, Entorpecem, contagiam, enquanto não te roubo um beijo. como que a hipnotizar, Compondo poemas de amor com ternura, e eu em cada arrepio, bradando neles aquilo que mais desejo. sinto-me a extenuar... Cruzámos a nossa senda por acaso? É essa tua pele macia, Claro que não, o amor é imenso. no exalar dessa essência, Nesta sintonia sem igual, de flor sem vaso, como que me extasia, respiro e sonho e durmo neste incenso. levando-me à demência. 26
  • 27. 51 52 Com um whisky a coisa vai Esta dupla destilação, deste malte agridoce, Sei que nada fiz de errado, nem nesta, nem noutra altura, faz à minha inspiração, o fervilhar que te trouxe. Este amor, se está lixado, a culpa só terá cura, A mente ao turvar amofinou, daí, surtiu a razão, se tu pensares bem, que a razão pode ser fado que a amamentou, neste cálice de conspiração. Pode ser que haja alguém, que queira o caldo entornado. Perdoo, mas afirmo a intolerância, Eu mais uma vez confirmo, nada haver, nem intolerância, talvez um voo, a encurtar esta distância, mas acredita, a minha paciência esgotou, fez jactância, Possa assim surtir efeito, dando à minha palavra, nada mais digo, nem se verdade, se me amas, vais entender. o devido respeito e a este sentimento que me lavra. Eu amo-te, é esta a realidade, és a minha razão de viver. Sinto a carência da confia, em frases loucas de ciúme, Perdoa esta versão dos factos, sou teimoso, bem o sei, desde o dia, em que percebi faltar o aprume, de teimosias estou farto, as minhas e as tuas, que já perdoei. a dúvida mais insegura e a questão inusitada, Sê lúcida, pertinaz, olha a vida que se consome, que fez desta amargura, o afastar da tão amada. que por mais que eu seja audaz, não aceito este renome. Meu amor não tens razão alguma, na ambiguidade, Confio na tua sensatez, no sexto sentido das mulheres, tanto mais que esta dor, já é velha e na verdade, não teimes na estupidez, que faz de nós outros seres. devias ser mais coerente, pois assim podemos perder, Acredito que vais pensar, vais dar tempo à razão, um amor tão pertinente, como este que nos faz sofrer. um dia ao voltar, vens com o amor te enchendo o coração. A razão não está somente e apenas, desse lado da questão, Assim não continues, pois só podes piorar, eu afirmo os meus dilemas, não há nada, nem sequer razão, nem adianta que jures que me amas, que vai tudo mudar, portanto, sê salutar no pensamento, vai olhando para traz, eu já pensei e repensei, em tanta coisa sobre isto, será que em algum momento, eu me mostrei pertinaz? que meu amor, já nem sei, porque teimo, porque insisto. 27
  • 28. 53 54 Poderei ser… Sinto que não tens facilitado, a um amante louco como eu, Não quero ser o livro que não leste, este meu amar pode ser inusitado, mas é o meu! ou a aguarela da tua tela de tristeza. É assim que te amo, com esta perdição, sem sensaborias, Poderei ser…o poema que não escreveste, reclamo, para mim esse coração, todos os dias. mas não quero a culpa minha, ou a incerteza. Amanhã, depois e vida além, se assim o quiseres. Se procurares ler as entrelinhas mais audazes, Estás longe, eu sei-o bem, mas não desesperes. encontras por ai, nas minhas promessas, Se me conseguires ajudar a ir até ti, eu vou tantas coisas que nunca fomos capazes, amanhã já, porque o ir é frenesi, prometo que me dou. em tantas poesias escritas às avessas. Dou-me inteiro a esta causa, a este amar-te, Tirei ideias daqui e dali com pouco pejo, não só hoje, ou com alguma pausa, na Lua ou em Marte roubei tantas rimas à fantasia, Quero-te minha, mas sem complexos ou barreiras, mas porque sabia bem o que não queria. estes assim, meu amor adivinha, não passam de asneiras! Deixei para ti o decifrar dos meus pensamentos, Eu entendo que amar, é doar-se sem nada exigir. dos sonhos que tenho e dos momentos Sabes que o meu entregar, tem sido cheio de provir. carinhosos, feitos de um ou outro beijo. Minha querida entende…o amor só é saudável, quando jamais depende, de incerteza intolerável. bv 28
  • 29. 55 56 Sem seu carinho Hoje sou perdido em sonhos, Minha chama é por esta miúda, abandonado, no rumo dos desvarios, que me incendeia o coração, dado ao ritmo dos medonhos mas dar confiança que iluda, pensamentos cismáticos e frios. não concedo tão dura ilusão. . Falta-me a expectativa Deixa-me sem ar, sem fôlego, sem chão. de sair desta maldita aridez, Rastejo por ela, que me agigante! que em minha mente faz guarida, Devo mendigar seu calor, por paixão? abafando-me qualquer lucidez. É ímpio este amar, mas adoçante. Só um raio de luz rasgando meu ser, É singular o seu sorrir, é soberbo, me faria sair desta amargura. lava-me o limo do orgulho, Como necessito eu de saber faz-me mais perspicaz no acervo, o que tem ela na cabeça? Como é dura. das poesias em que mergulho. Era o Sol e a Lua em harmonia, Sem seu carinho, em perspectiva, era todo o meu sonho de entardecer. nem consigo mais respirar. É medonho! Fora o seu ciúme uma mais-valia, Esta doce menina, mudou-me a vida, assim, transtorna-me o viver. tirou-me do meu recanto de sonho. 29
  • 30. 57 58 Ontem eu enamorado Ontem eu enamorado, Num encontro pré-previsto, no teu colo aconchegado, daqueles que eu não resisto, trocava beijos de amor. quem sabe pra recordar. Era tamanha a porfia, Tremi o corpo e sorri, que a Lua me dizia, de tanto que me diverti, ao ouvido com pudor. tanto mais quero teimar. Olha lá essa atrevida, Conta pra mim da utopia, mexeu com a tua vida, a fim de evocarmos o dia, deixaste ela trepar. em que iniciamos os passos, Foi tudo tão repentino, nesta afinidade tão bela, saiu da casca o destino, qual canteiro na janela, e levou-te a acordar. em que urdi teus laços. Cedeu aos teus repentes, Penso ser esta a razão, em que alteias ardentes, de estarmos em comunhão, clamores de desejos, nossa carência e solidão, Deixaste-a pronunciar: a tristeza que não nos larga. é tão bom! Estou a gostar! Essa obtusa, tão amarga, Dá-me mais dos teus beijos. que nos encharca o coração! 30
  • 31. 59 60 Piquenique Queres ir de mão dada comigo, Não esqueças os chinelos de tecido, passear no campo e ao piquenique? aqueles que condizem tão bem, Colher flores, convívio de amigo, com o chapéu e com o vestido, dançar e cantar ao despique. ficas maravilhosa, como ninguém. Todo o mundo te quer por perto, Põe também aquela fita de cetim, a tua presença nos faz falta, para te poder segurar quando rodopiar essa áurea nos deixa de peito aberto, E quando tentares te agarrar a mim, por contagiares a malta. a fita se solte e circunde o ar. Veste aquele vestido de chita Lembras-te daquela cesta de vime, estampado, às flores grandes, que um ano atrás eu levei às costas? ficas mais viva e bonita, Pois vai comigo de novo! Ah... esquecia-me, deixas encanto por onde andes, vai cheia de acepipes como tanto gostas. Põe o chapéu de palha na cabeça, Levo aquelas empadas deliciosas, aquele da fita cor-de-rosa. croquetes e rissóis de camarão. Isso mesmo, só porque te peça. Não foi eu quem fez, foram mãos habilidosas! Sinto-te mais vibrante e radiosa. Também levo uvas, cerejas e melão. 31
  • 32. 61 62 Tenho uma surpresa pra ti, Poema em argamassa daquelas que eu sei, te enfeitiçam, um carinho delicioso, que não conto aqui, Quero edificar-te verso a verso em claridade, porque surpresa é surpresa e mistérios atiçam. como se fosses feita de ladrilho e cimento. Construir um bairro inteiro nessa cidade, Olha, traz aquela máquina fotográfica, na ânsia de dentro de ti viver cada momento. que te calhou na quermesse, para recordar depois como fica, Quero a volúpia desse corpo que não tive, que passeio assim, nunca mais esquece. nele descansar ao fim de cada dia de labuta, Ao edificar esse subúrbio que em ti vive, Vou levar o realejo, sonhos que a nossa argamassa une a cada luta. que me deu o meu padrinho, para que ande de beijo em beijo, Só me falta que tu sejas feliz dentro de mim, soando viras e valsas e um ou outro fadinho. neste espaço acanhado em que te quero, com esse passo longo que és tu assim, Já vibro só de pensar, nesta metrópole feita de carpir em que espero. que bela tarde vai ser, podermos passear, És mulher dum só destino arquitectado, de mãos dadas, ate ao escurecer. feita de aço, pedra e materiais nobres, onde nem os sonhos pecam por serem pobres, E depois, quem sabe, p`la noite além, nem eu como desditoso construtor afadigado. poder te apertar nos meus braços. Já sonho como ninguém, poder tirar esse vestido, o chapéu e os laços. pr 32
  • 33. 63 64 Voa comigo Voa comigo... Voa comigo... Vem pra mim menina Vem pra mim minha musa, e nestes sonhos encantados, dormiremos agarrados vamos ao mundo da fantasia e ao acordarmos bem juntinhos, e voltamos de lá cansados, nos sintamos desejados, prontos pra outro dia. em fogo lento, feitos meninos. Voa comigo... Voa comigo... Vem p’ra mim miúda, Vem pra mim menina, sacia este desejo, vamos ouvir a nossa melodia, de querer-te ao meu lado tocada só para nós. e que em cada beijo, Anda fazer da noite o dia, deseje estar acordado. em que não estaremos sós. Voa comigo... Voa comigo... Vem pra mim mulher, Vem pra mim garota, vamos romper o véu da noite, torna esta harmonia linda, o espírito do alvorecer enternecida com nosso amar, e em cada gesto, mais afoite, pra que seja mais ainda, até adormecer. uma canção de embalar. 33
  • 34. 65 66 Nunca… Voa comigo... Vem pra mim rapariga, por momentos em felicidade. Não posso correr mais atrás de ti, Ama-me mesmo só por instantes, nem me torturar assim estupidamente. ou deixa aflorar a verdade, Vejo assim a vida, que só aos outros sorri. com que sonham os amantes. Como continuar com estes brados indecentes? Voa comigo... Não posso me abater mais às tuas cismas, Vem pra mim mulher, dominantes pelo alento dos ciúmes. toma o beijo sagrado, Não me devo permitir arruinar as rimas, que na tua boca deixo deposto, ouvindo injúria e enganos, se me consomes. como o acto mais desejado, depois que o fogo é posto. Não posso secar-me mais com essas inconstâncias, animadas aos meus ouvidos racionais, Voa comigo... nem devo permitir-te mais intolerâncias. Vem pra mim minha musa, E assim te afirmo: Findou, já não posso mais! antes de eu acordar, deste mágico momento, Nunca vou aceitar ser abafado assim, que teima em me transformar, nem as minhas ideias de viver iam admitir. nas sombras do desalento. É o meu conceito de consideração por mim. Quero poder ser feliz, quero poder sorrir. u 34
  • 35. 67 68 Em amores me levitando Roda a lua sobre o céu, Sinto a lua enciumada , faz um arco viajando, deprimir na escuridão, neste idealizar que é meu, nesta cegueira descuidada, em amores me levitando. dos males do coração. Esta noite está tão gelada, Adoeceu a minha amada, Que até a lua se refugia, foi da pressão do stress, no calo da minha amada, da vida que leva agitada, pra rimar sua poesia. ou da teimosia a benesse. Diante da noite chegando, Devia fazer mais cautela. eu vigio os passos dela, Porque será que peno também? nesta tela desenhando, Não acalmo sem saber dela, seus traços em aguarela. nunca o senti por ninguém. Parece-me tão serena, Daqui a nada acontece, que desdenha o meu sonhar, a manha clara raiar, ou como eu também tem pena, por toda a noite fiz prece, de na noite não se acalmar. que se sinta melhorar. 35
  • 36. 69 70 Quero-te tanto Quero-te tanto. Quero-te tanto. Esta música não tem memória. Esta poesia eu fiz para ti, Por enquanto, apenas mostra umas rimas, sobre os sonhos e mágoas na tentativa de inventar uma história. e com o carinho que já vivi. Quero-te tanto. Quero-te tanto. Toda a minha vida eu gostaria de escutá-la contigo. Conta uma história de amor, que apenas começou, Ela só impele para o amar, mas a vida se vai encarregar, sem juramento ou condão de castigo. de nos mostrar quem a cantou. Quero-te tanto. Quero-te tanto. Com música ou sem ela, continuarei... Comecei a senti-la na radiofonia, lavrando palavras, rimando a vida, debaixo de um céu, que eu inventei, até que esta poesia ganhe a razão por que a comecei. contando que tu a ouvisses algum dia. Quero-te tanto. Quero-te tanto. Se numa outra nação o génio for meu amigo, Admite que queres soltá-la para mim, por toda a minha vida eu gostaria de a cantar, abraçados por muitas noite adentro, contigo, contigo, contigo! sussurrando baixinho e inventando o fim. 36
  • 37. 71 72 Deixa-me ficar a ti colado, Bailando num aperto suave e bonito. Pretendo esse teu corpo suado, Deixa-me abraçar-te p’la cintura, mendigando por mim aflito. bailar feito louco sem cessar, Quero que sintas este bailado, esta valsa feita ternura, como um sonho desejado. em que os dois saibamos estar. No carinho, na vida e no amar, Vou te levar com meus passos, como um sonho que perdura. pelo salão de festa rodopiando, enlaçada em meus braços. Eu te desejo feliz assim, Deixar nosso amor levitando, bailando à luz sideral, a paixão nos conspurcando, usando seda de Pequim, teimando em sermos devassos. nessa pele alva, sensual. Luxuriante e divinal, m como uma flor de jasmim. Se o teu coração Quero então dar asas à felicidade, cingindo as minhas pernas nas tuas. Pensar que toda a realidade, Se o teu coração me falasse, é avançar enquanto recuas. de tudo, mesmo que à toa, Desejando as tuas coxas nuas, nas palavras que dissesse, o prazer colorindo-te a vontade. falaria dos sons deste mar. De cada ilusão que o povoa. na vista que o sobrevoa, brilhando no singular. 37
  • 38. 73 74 Please Nada nisto faz sentido, Vou dar tempo à razão, ou nem sei aquilo que escrevo. contando com a sua sinceridade, Haverá razão para estar ressentido? esta distância, será só ela a questão? O melhor é ficar calado, será que devo? Não acredito, não! Será da sua leviandade? Para dizer coisas incoerentes, Vá lá, toma consciência da escassez, o melhor é não dizer nada. na falta que faz um sorriso. Foges-me, onde vais, será que mentes? Não me deixes nesta estupidez, Tenho as ideias em debandada. pensa em ti e verás o quanto te preciso. Mas então que mais farei? Estas palavras assim, não são chantagem, Se não falo, enlouqueço, é apenas o sentir que me aperroa e deixa mal. por mais quanto tempo aguentarei? Será que não vês, como os namorados agem? Se não te escuto, entristeço. Preciso de ti, em tempo integral! Se me oprimo e não exprimo, Já devias ter percebido o quanto te adoro , é certo o meu desvairar. acredito que nem precisas que tu frise, Isto ferve no meu íntimo, mas se for necessário repeti-lo, nem demoro. talvez se dissolva se esperar. Adoro-te, amo-te! Vira-te pra mim “please”! Ficar caladinho e sossegado, apávido e sereno completamente. t Confiar no ser amado? Talvez tudo faça sentido, de repente. 38
  • 39. 75 76 Ó meu amor És o meu sonho mau p’la lonjura. Nem numa hora destas de solidão e por me deixares nesta noite escura, São montanhas, outros mares, aqui, em frenética amargura, tais distâncias que nem sei, num sufoco, me apertando o coração. se é só por me amares, ou outras coisas similares. Anda, vem fazer-me um carinho Mas o certo é que não te encontrei. E nas ondas deste mar bravio, com cheiro de verde pinho Eu te aguardo, eu te chamo, e perfume de rosmaninho, mas tu não estas mais aqui. qual garanhão em pleno cio. Óh tristeza esta a minha, se te amo, tanto que bem alto o proclamo. Traz esse sorriso de amante-menina Nem esta distância me afasta de ti! e mostra pra mim em véu azul, esse corpo de mulher felina, No peito tenho um sonho puro, com brios rubros de purpurina, que aflui de carinhos e de festas, para que eu ai me emule. que este meu coração duro, teima em buscar o que procuro, Não consigo mais esperar, nos encontros a que tu te prestas. é dor, carpir, sofreguidão, De amores e loucuras me dar. Tudo o que tenho é haver sofrido Qual sinfonia em pleno ar, e agora és tu, me parindo esta dor. neste amargo da razão. Neste meu delírio digno e perdido, encantado, belo e arrependido, É loucura a mais na dor, do meu amor, do meu amor. de sonhar-te e bem querer, que nem o sol com seu calor, me aquece neste frio rubor. Ó meu amor, ó meu amor. 39
  • 40. 77 78 Porque me olhas assim Porque me olhas assim, de viés? Sinto como, uma necessidade vital, Não vês que estou abafando? de vida, sonho, ou harmonia, Que já não posso mais não saber quem és, sem esquecer-me de que sou real. esta dúvida que a vida me impõe será até quando? Não me olhes, como se eu fosse da vida a mestria . Sinto que não sou tão forte assim, Sou apenas alguém, talvez uma aberração, que possa viver triste, ou tão só. que deseja sentir a vida correndo nas veias, São muitos os anos em que carrego este fardo em mim, sem reservas, a saborear com sofreguidão. esta insatisfação insuportável, mete dó. Porque me olhas assim, com todas essas peias? É um querer viver, amando com intensidade. Se não podes entender-me com facilidade, Agora que penso ter encontrado parceria, deixa-me ao menos sonhar contigo, alguém que sente como eu esta verdade: com esses braços quentes, ou na felicidade, ser apaixonado do viver, e deste querer em que se alia. que seria abraçares-me e adormeceres comigo. Tenho a paixão na alma me sorrindo, vejo a vida em cores fortes, são sentimentos como vulcões se abrindo, em lavas rubras, neste partilhar de puras sortes. g 40
  • 41. 79 80 Borboleta Pousou sorrindo na minha nata, Num vaso, semeei flores, com beleza e mestria, brincos de princesa violeta. depois voou louca, insensata, Noutros há doutras cores, sabe do meu bem-querer e confia. pra uma amiga inquieta. Em cumplicidade e magia, Ao regá-las de manhã cedo, fica à espera descansando, encontrei lindos botões, cuidando das asas de dia, já abertos, mexi-lhes a medo. prà noite sair voando. Parecem frágeis ilusões. No próximo voo, vou segui-la, Pétalas suaves, encantadas, pra saber aonde pára, parecem feitas de tule, pois parece que vacila, tal como ela são delicadas, ou foge quando me encara. seduzem, com a áurea em azul. Borboleta delicada bailando, em contradança imaginável, s suave e melódica vai voando. Esta mariposa parece incansável. 41
  • 42. 81 82 Quem és tu? Neste mundo tão imperfeito, Quem és tu, doce mulher? nem calas o preconceito. chegas num sonho qualquer, Mas quem és tu, afinal, nem marcas deixas nas horas que mordes feito animal? e és sangue que em mim afloras. És gente? És da vida o mais fruto, E sendo pessoa, que sente, gritando a dor em bruto, és normal, que tão bem falas ciúme ou algum ser irreal? e desse amor que é lume. Não preciso explicação, Que arde sem se ver, só reclamo magia. como li Camões escrever. Que enquanto houver coração, És um caso de mistério, mesmo sem explicação, que a sorrir falas a sério. vai existir poesia! Sonhos que jogas no peito, Não fora eu um romântico, com os quais eu me deleito, que segundo reza o tântrico, num gritar a peito feito, vou continuar escrevendo clamando razões de respeito. E tu amor, me vais lendo. Em veemente exclamação. Matança de uma flor que é pão. Não queres calar a desgraça, dl clamando à vida que passa? 42
  • 43. 83 84 És o meu oxigénio Como és doce, meu bombom, És quimera feita alimento, esses lábios cor da amora, que em mim reina, soberana, desejo-os assim, sem demora. pelo amor que de ti emana. Meu pecado feito dom, Desde o primeiro momento, meu delírio de “edredon” sublevas-me o pensamento, com cheiro do raiar da aurora. como oxigénio desta chama. Rendo-me à tua sina, Meu turbilhão de loucura, neste amar-te com loucura. do pecado a salvação. No meu devaneio encantadora , Meu delírio em evolução. teu olhar me ilumina. Quero brindar-te a ternura És meu céu, minha menina, E quero isto em salsa pura, livre áurea sedutora. ao ritmo da nossa canção. Liberta-me deste delírio, Neste apogeu da felicidade, quero-te sorrindo, meu amor, neste sentir em cascata, esse brilhar tentador... és a água que a sede mata, Quero-te! Sê meu colírio. o meu astro-rei em liberdade, Meu reflexo de puro sírio, jorro do vulcão nesta verdade. num conceito inovador. Amo-te! És o sonho que me acata! 43
  • 44. 85 86 Minhas penas Pena, que sejam penas soltas, Vou fazer um poema, como as penas que penei, mas não um poema audaz, mas é pena que nas voltas, daqueles que qualquer pena, são penas, que deixarei. sente que é capaz. Algumas já foram de crista, Não sei que penas tenho, daquela crista de galo, mas sei que é grande a minha pena. hoje nem sei se as vista. Se fosse uma pena pequena, Será que teimo e me entalo? não era do meu tamanho. Aquelas que tinha no peito, Já cobriu um pássaro veloz, essas, não as perdi todas, daqueles que voam alto, são penas cá do meu jeito, qual pesado albatroz, adorno de tantas mudas. voando em sobressalto. Mas acredito ser pena, Agora, as penas já pesam, não poder trocar algumas, pelo peso que suportam, trocava aquelas da melena, mas são penas que me elevam, que me ornavam a pluma. tão alto que me exortam. r 44
  • 45. 87 88 Queria um sorriso Amanhã, quando te cheirar de novo quero-te minha, Queria um sorriso teu, quando te acordasse quero sentir esse fogo que nos consome, com um beijo a meio da noite, no ouvido. deixo para o teu pensamento, o que se avizinha... Deixar que o teu cabelo me arrolhasse. tantos carinhos, e o tu sussurrares o meu nome. Ouvir sussurrar na orelha umas malícias, imerso num novo despertar perfumado Amanhã, um amanhã bem breve, e enfrentar a teu desatino por carícias. quero poder te dizer no rosto, quanto te amo, tudo o que me eleve... Já não acredito que venhas por hoje aqui, este amar, o quanto te gosto. até porque, para mim já está ficando tarde. Tenho imensas saudades meu amor, tuas...de ti, Mais logo vamos falar de novo sem cerimónias, dos teus gargalhares, do teu alarde. dos carinhos que se nos oferecem, do quão belo é este amor e das insónias, Deixas-me sempre bem-disposto com o teu riso, que nos teimam, que nos abatem. provocas-me o amor-próprio e a lábia. Como que me consumes o juízo, Não queria que sentisses este frio na espinha, deixando a minha perspicácia com mais ousadia. esta amarga saudade que me aflora, a cada vez que penso em ti, minha menina Até mais logo meu amor, toma um beijinho. e nesta nossa condição que nos deplora. Sabes que te adoro e o quanto te desejo e nesses lábios doces e cheios de carinho, A vida de tão triste e insuportável tem disto. queria deixar tantos sonhos, tanto beijo… destes infortúnios com que nos deparamos. Meu amor, à tua sina, eu já não resisto, Não me deixes aqui endiabrado, pensando loucuras, se não, olha para nós e para o quanto nos amamos. nos beijos que te daria e não posso. Temos uma sombra, que este amor obscura, mas adoro-te e a este segredo que é só nosso. 45
  • 46. 89 90 A minha dor O meu pensamento, quero registá-lo em poesia, É o mar em baixo que compõe esta maresia, evocar em palavras, a minha consciência, traz esta humidade que baila nos céus recordar-me dos instantes cheio de alegria, e este vento que sacode as mágoas de fim de dia. porque carpir, leva a mágoas e demência. Serás tu que envias estes sussurros pra serem meus? Falta aqui o meu amor, falta-me o seu sorriso, Eu sinto que é a tua voz me dando mercês, reunir-me ao céu em seus braços e pernas, talvez querendo que saiba do teu amor, queimar-me na fogueira do que preciso, da falta que sentes, porque não me vês, porque assim, neste vazio me consternas. mas mesmo que seja só ilusão, são sons de dor. Quero ser contigo um tempo de vida, Estas luzes da cidade ferem-me a vista, ser a flor, onde pousa a borboleta agitada. matam a alma pelo que de brilho delegam, que ao fechar as asas, fica radiante e divertida nem dão constância, nem descanso à conquista, E ao abri-las, se lança em voo mais animada. dum dia como o de hoje, em que estes ventos me cegam. Desejando bálsamo resto-me a mirar estas ruas Preferia o sossego da serra e os ares da lua, Olhar esta paisagem de palmeiras e relvado com os ventos passando por cima das serranias Na ilusão de encontrar aqui as sombras que fossem tuas e no vale a calma ser completa com uma presença tua Mas a ansiedade não te trás, até este gramado e ai, te poder beijar, como beijei outros dias. O meu pensamento, sinto-o me desafiando, Se tudo isto não passar dum sonho, como uma chama me queimando a fronte, ou este vento se perder pra lá do alvorar, mas nem o tempo, nem as tuas sombras aqui faltando, o meu pensamento sempre amaina e o componho. vão mudar esta aragem, ou atear este monte. Nestes sítios, doutra saga, mas no teu amar, 46
  • 47. 91 92 Boneca Devagar mas enérgica avança, Deixa-me uma sensação de anulado, ondulando as ancas com beldade, quer de prazer, quer de pensar, todo o corpo vibra e balança, embriaga-me o cérebro já toldado. esta boneca parece de verdade. Nada paga esta visão, visão sem par. Cabelos longos, até parecem Quero mais, muito mais destas visões, roubados às crinas do unicórnio. por isso, vou de joelhos me prostrar, Como os seios estremecem, ou fico aqui fazendo dias e serões, fazem ofegar até o demónio. na esperança de que volte a passar. Vista de perto percebemos logo, Com tanto arrojo me dirigi a ela. que de boneca só tem a graça. Com voz rouca da emoção disse audaz: Meu Deus! Tanto Te rogo... ...flor dos meus olhos, tu és tão bela. detém-na quieta, que me desgraça. Mas sem me olhar, deixou-me pra traz. Faz-me brilhar os olhos sorrindo, Como é amargo sentir desprezo, os lábios rubros malícia, tanta arrogância nada combina. abrasam como que ávidos se abrindo. Por tal, eu hoje tanto me avesso, E eu a olho, aparvalhado da vícia. beleza assim, é perigo em ti, menina. d 47
  • 48. 93 94 Impulso de carinho “Sei que tu és capaz!” Queres ver o ser humano inteiro? Olha-me nos olhos e diz-me isso, Queres sentir a sensação do que fizeste? com esse olhar tão doce e sereno, Avancei e no fundo do abismo vi um sorriso... talvez eu assim fizesse caso. ...era teu, tu sabes que sim Desata o que me resta do impulso de rapaz, e que o sorriso era pra mim. apertando-me num quente e ameno abraço, Sorrindo ao poeta, como quem sorri ao menino, Porque preciso de aconchegar esta flor no vaso. fizeste num impulso o que eu assino. “Tens um potencial tão grande, Este modo que me mostras é angústia, mesmo dentro dessas noites oprimidas. são mutismos e suturas desta vida, Teimoso, sai dessa, olha o amanhã… que se ensarilha!” que eu teimo em deixar ao vento. Os sonhos são feitos assim, de manhãs inquietas. E livre, solto como a pomba da paz, Bebe um trago de saudade… Anda, sorri, acabrunhado e mudo como um sagaz, monta nesse cavalo louco que tens em ti, sou nesta pele de angústia vestido, põe aquela espora de prata, que tanto brilha. mas na fleuma do meu contento. Deixas-me um sorriso nos lábios, Conversa estúpida, sem nexo, ao empurrares-me a vida p’rà frente, palavreado de quem não sonha mais... quando ela teima em ficar pra trás. ...nem de mãos dadas, Porque não me deixas de ânimo acanhado, são estas ideias comungadas. cabisbaixo, pensativo, estupidificado? Teimas e tonturas de ser complexo, Porque teimas em me dizer essas coisas assim, frémito louco e adverso, desse modo provocador e pertinaz? de quem já nada quer, nem ais. 48
  • 49. 95 96 O poema sou eu Na dor do amor, Eu sou um poema, aspiro minhas bênçãos, mas és tu que me levas a isso. vivendo o amor com perturbação, Pelo carinho que me dedicas, sou assim, fiel aos meus mitos, as minhas palavras, eu repiso, e perturbado no ser, mas são aquelas que eu mais gosto. como qualquer enamorado deve ser. Nos versos de amor que te escrevo, És tu que mo fazes ser... e assim nascem em mim, Inspiras-me rimas, só porque penso em ti... que só a ti sei escrever. Sou poesia! Nos versos de amor que escrevo, Meus versos guiam em mim, deixo todo o calor que te devo... lembranças de ti, sem fim... Dou-me na minha poesia, Sou poesia destilando amor, por isso digo que sou um poema, rimando cada verso gota a gota, transporto sonho e fantasia. com mimo, com paixão, Mas esse é o meu dilema. surgi para suspirar meus cantos, Quando o que pretendo é ser feliz, e na tua mão depor o meu coração, e amar, amar e ser feliz, com sonhos ilusões e prantos. e só porque me sorris, escrevo pensando em ti. j 49
  • 50. 97 98 Num bar qualquer Sonho-a ao meu lado sentada, Umas legítimas e sublimes, de mente e gestos provocada. onde ela se redime, São razões e desejos insaciados, outras transpiram sensualidade. feitos de esperas e deleites, São todas, desejos insatisfeitos, na demora de serem aceites, de carícias e de beijos, como actos consumados. coisas próprias desta idade. Sinto uma ânsia indecente, Mas eis que um sorriso sobressai, me devastando a mente, de tanto imaginar o que pr`aqui vai. enlouqueço de prazer. Alguém, pergunta: Amigo como andas? De olhos fechados a sonhar, Respondo, ainda sonhando: Olá, vou bem! sinto os seus dedos me tocar, Pareces sonhar com alguém. fazendo-me o corpo estremecer. Pois sonho, anda uma amada em cirandas. Mas, continuando o sonho no ar, Quem é ela, podes dizer? sozinho nesta mesa de bar, Porque não, se queres saber, dum bar qualquer da cidade, mora longe, muito longe e por isso ando aéreo, sorvendo apenas o meu ar e a ambição, um dia sulco os mares neste preambulo da inspiração. e quando menos esperares, São fantasias envoltas em realidade. eis-me perto dela, acredita falo a sério. 50
  • 51. 99 100 Perdoa-lhe Se esta briga de impropérios não parar Palavras assim irreflectidas ou injuriosas, e for para continuar até de madrugada, lastram este chão de amarguras doentias... melhor fora que a voz fosse embargada. basta semeá-las assim e crescem todos os dias, Ele há cada uma! Isto não pode continuar. como promessas não cumpridas e dolosas. Se esta chuva de palavras não parar, Águas assim vêm molhadas de amarguras, é todo o campo que fica alagado, prometem apenas regar os chãos hostÍs. imerge o pensamento por insultado, Não teimes mais, pois tudo o que se diz mata as culturas, matando todo o sonhar. no calor duma prosa assim, vira loucuras. Se me sinto perplexo e aperreado, Olha…expirei, insultado e injuriado, não é tanto pelos verbos, mas pelas ideias, enquanto a chuva caía já feita em lama. há termos desnaturados, tão cheios de peias, Foram tantas as falsidades ouvidas nesta trama. que mais parecem a letra dalgum cruel fado . Meu Deus, perdoa-lhe mais este pecado. Vou fazer crer, que sou surdo e mudo, ou como se fosse atacado de morte súbita, para nem compactuar mais desta desdita. l Já basta, mais não! Que este atropelo seja tudo... 51
  • 52. 101 102 Que será isto? Que será isto que me aflige, que me salta aos olhos e me atraiçoa, que me estreita o peito e me faz confessar? Isto, porque suplico à toa Que será isto que sinto? o que ficou sem jeito de dissimular. São vibrações e tremores que me agitam. Será que vai passar? Abrasam-me por dentro, Será o amor que veio pra ficar? perturbam-me o sono, sacudindo-me o alento. Sensações estranhas que comigo coabitam. d Que será isto, que se passa, todos estes calores que me inflamam, com suores agradáveis a me embeber? Ser razão São os meus ânimos a chamar, numa aflição enorme que me retesam, prendendo-me a mente e o querer. Para quê escrever, meu amor, quando a vontade é abraçar. Que será isto que me atormenta, Sentir estes olhos em flor, que me faz perder a intrepidez, no paraíso te eternizar. que desabrocha à flor da minha tez? Ir além dor e além pecado. Me alucina e me deixa mal. Sentir o verbo se acabar, Isto que me amedronta a cada vez, verbo sorrir e como um fado, turvando-me o olhar, dá-me timidez. ser razão deste amar. 52
  • 53. 103 104 Quem de vós dirá? Meu coração para quê… Se fujo quero voltar, Meu coração, para quê este sofrimento? fica longe o sol que sonho. O que eu posso fazer por ti? Anda, diz? Se fico morro de amar. Não tens paz, não? No momento São decisões que eu engonho. são emoções de mais, ora choras, ora ris. Nem com pós de perlimpimpim, Divide comigo irmamente, cada lágrima, posso encurtar esta hora. cada instante de amor, solenemente. Como é breve o sol em mim, Cada tormento, ilusão, ou cada rima. nem me aquece o corpo agora. Divide tudo, carinhos, paixões… docemente. Amigos aqui são bastantes, Para mim, assim não haverá mais paz. mais além tenho outros tantos, Eu quero-a, tu sabes bem, se é loucura, mas já não é como era dantes, sana este aperto em mim, se fores capaz . andam os sonhos pelos cantos. Oh, pobre coração...sentimento este que perdura. Daqui, vejo fugir com pressa... Todos os dias morres, eu sei, um pouco mais, Este sonho não é mais feliz. Qual onda que em espuma se esmorece, Esta ideia de ir não cessa. nesta praia feita de sofrer e sentimentos reais. Quem me dirá: fica e mo diz. Oh! Meu pobre coração...não a esquece. Esta sensação de sufoco, é tormento revolto. u Todos os dias, eu sei, está mais perto a solução e o meu amor mais doce, mais digno e solto. Aguenta! Sê audaz...oh, meu pobre coração! 53
  • 54. 105 106 Estou enamorado E vejo assim o tempo passar, Pode tudo se transformar, gostando a cada dia mais e mais de ti. tudo pode se perder. Este meu modo de te sonhar, Pode o mundo contra mim se revoltar, refina a cada beijo que de ti perdi. que aconteça o que acontecer, O que será que fez com que eu te gostasse tanto? eu jamais irei deixar de te amar. Tanto assim… Jamais poderei te esquecer. tanto que é por ti que canto. E porque não me abraças, porque não te abraças a mim? Meu amor, se é por ti que eu canto, meu amor, se és todo o meu encanto, Se em cada beijo que tu não me dás, meu amor, se é por ti meu pranto... é o meu corpo que não estremece, meu amor, meu amor, quero-te tanto! Que se perde e se esquece e assim jaz, tanto que é por ti que me choro nesta prece. "Quero beijar-te, sem estrofes, sem rimas, sem palavras, mas de lábios encostados" 54
  • 55. 107 108 Mas meu amor Que a minha loucura seja absolvida, Afirmo que te amo sem pudor, se sentires que metade de mim é amor. nem sei se coro ao afirmar. Que não seja preciso mais sofre na vida, Devo parecer um jovem com rubor, por coisas como esta, sem valor. confesso que já me fizeste chorar. Para te fazer aquietar o entendimento, Dúvidas estúpidas, me aludiste, que a tua paz me diga cada vez mais. até que me achei inútil e perdido, Palavra que eu fale, te dê discernimento mas felizmente sem razão, como viste, e não sejam ouvidas como prece, jamais. o amor tem disto, amor este, sofrido. Quero que a força do medo que tenho, Para quê fugir deste castigo, não me impeça de ver o que acredito. começo a ver que não te esqueço, Esta doçura que tenho atinja um tal tamanho, porque será que o não consigo? que os meus actos sejam o que deixo escrito. Se alguma razão houver eu desconheço. E se entretanto a vida me negar, Rastejo a teus pés, se for preciso, aquilo a que julgo ter direito, até que me perdoes, por me esquecer. Aí, então poderei até rastejar, Agora penso, se será falta de juízo. mas meu amor, tem-me respeito. Sou mesmo assim, estúpido, está bom de ver. Jamais pronuncio a palavra nunca, Mas se a arte me apontar uma resposta, porque o dia de amanhã não me pertence, não serei eu a complicar a relação. mas dizer que o linguajar se me adunca, Sinceridade para dizer de quem se gosta, não está nos meus horizontes, que eu pense. é fácil, quando a metade de mim seja perdão. 55
  • 56. 109 110 Hoje pensei… Nesta manhã Hoje, pensei num Natal diferente, Nesta manha senti vontade dos teus suspiros, cheio de silêncios, de madrugadas frias, senti tanta falta dessa ansiedade em brasa. tantas vidas insípidas, vazias, Preciso-te com qualquer humor, ou disposição, tantos sonhos perdidos, em tanta gente. senti falta dos teus sons a vibrar na casa, até daquelas frases excessivas de inquietação. Hoje, pensei nas compras de Natal, aquelas feitas à pressa, Queria tomar o meu café, da tua boca antes que a noite apareça, e depois ouvir qualquer palavra tua, compras de pão sem sal. dita sussurrando, enquanto te punha nua. Como eu preciso te encantar, deixar-te louca. Hoje, pensei em nós, nos nós que fizemos, em como desatá-los, Sempre acabo pensando no som do aspirador, ou num laço apertá-los. percorrendo o chão nas manhas de domingo, e nas noites em que dormia na dor Hoje, pensei se o Menino voltaria, da solidão e pensava: só te ouvindo me vingo. se este ano, o Natal ainda aqueceria, se ainda vai haver, aquele Natal que queremos? yv j 56
  • 57. 111 112 Reflexo Não disfarces mais essas claridades, o espelho não atraiçoa, nem ludibria. É assim mesmo como vês! São essas as realidades! Vive e deixa-me ver esses reflexos á luz do dia. Não é fácil olhar-te nesta imagem, vejo nela reflexos de luz, Um sorriso, tal qual Miguel Ângelo pintou no Mona Lisa, urgentes e impenetráveis, como numa miragem. um sorriso feito de carinhos, como só tu sabes, amor, Contrariaste o espelho, fazendo jus! Faz um assim pra mim! Esse ar angélico sintetiza… Quero poder lembra-lo amanhã. Desabrocha essa flor. Beija-me? Queria dizer: Beijo-te, nada mais e enquanto os lábios se mantiverem encostados, não te distraiam com pensamentos sensuais. k Há coisas lindas nessa imagem que parecem irreais. Olha nesse espelhar uma outra vez, pensa na prata com que foi feito. Carência Tanta energia tem e nem vês… Suspira, mas fundo, nesse peito. Eu me sinto oco, porque não reflicto assim, Do meu amor senti a ausência ando assoberbado na alma, ou sem jeito. Tanta falta que ela me faz! Guarda um pouco desse cariz pra mim, É carência em cima de carência para que eu recate o entusiasmo neste peito. Só ela me satisfaz. 57