1. COLÉGIO MILITAR DE FORTALEZA
LÍNGUA PORTUGUESA
POESIA- VERSIFICAÇÃO
“Que é poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.”
(Cassiano Ricardo)
“ Poesia é a suprema
forma de beleza.”
(Mallarmé)
“Aprendemos o que é
poesia lendo poesia.” (T.
S. Eliot)
2. Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
3. REFLETINDO SOBRE O
TEXTO...
1. Em que gênero literário está
inserido esse texto?
2. Que características esse
texto apresenta?
4. 3. Poema X Poesia. Existe
diferença?
4. O que é eu-lírico?
5. O que é verso?
6. O que é estrofe?
7.
Como
estrofes?
se
denominam
as
5. Poesia está em toda parte:
nas canções de ninar, nas
cantigas
de
roda,
nas
propagandas,
nas
letras
de
música, em uma bela paisagem...
A poesia encontra seu núcleo
no poema, feito e trabalhado
precisamente para consegui-la.
Ela é indefinível, porém é
definidora.
6. Poema é o gênero textual que
se constrói não apenas com idéias
e sentimentos, mas também por
meio do emprego do verso e seus
recursos musicais – a sonoridade
e o ritmo das palavras – , da
função poética da linguagem e de
palavras com sentido conotativo.
Poesia é o subjetivo, o
abstrato enquanto que poema é o
concreto.
7. Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
(Carlos D de Andrade)
8. Eu-lírico ( eu-poético)
É a voz que fala no poema e nem
sempre corresponde à do autor
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(Fernando Pessoa)
9. Observemos o lirismo dos
versos abaixo, em que o eu-lírico
exprime seus sentimentos em
face
do
mundo
exterior.
“Fui sempre um homem alegre.
Mas depois que tu partiste,
Perdi de todo a alegria:
Fiquei triste, triste, triste.”
(Manuel Bandeira)
10. O eu-lírico pode aparecer na
forma feminina, mesmo o autor
sendo do sexo masculino
“(...)E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode
crer (...)”
(Chico Buarque de Holanda)
11. Verso corresponde a cada
linha do poema. Os versos
organizam-se em estrofes.
Estrofe ou estância é
agrupamento de versos.
um
12. Observe este poema de Manuel Bandeira,
há uma classificação para cada estrofe.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
13. A primeira estrofe chama-se
sextilha, pois apresenta seis
versos.
A segunda estrofe chama-se
terceto, pois apresenta três
versos.
A terceira estrofe chama-se
monóstico, pois apresenta um
verso.
14. DENOMINAÇÃO DAS ESTROFES
QUANTO AO NÚMERO DE VERSOS
•
•
•
•
MONÓSTICO: ESTROFE COM UM VERSO.
DÍSTICO: ESTROFE COM DOIS VERSOS.
TERCETO: ESTROFE COM TRÊS VERSOS.
QUADRA OU QUARTETO: ESTROFE COM
QUATRO
VERSOS.
• QUINTILHA: ESTROFE COM CINCO
VERSOS.
• SEXTILHA: ESTROFE COM SEIS VERSOS.
• SÉTIMA OU SEPTILHA: ESTROFE COM
SETE
VERSOS.
• OITAVA: ESTROFE COM OITO VERSOS.
15. MÉTRICA é a medida ou
quantidade de sílabas que um verso
possui.
A divisão e a contagem das
sílabas métricas de um verso são
chamadas de ESCANSÃO.
Essa contagem não é feita da
mesma forma que a divisão e
contagem de sílabas normais.
16. O número de sílabas poéticas e
gramaticais nem sempre coincidem.
A contagem das sílabas métricas
faz-se auditivamente e subordina-se
às seguintes regras:
1. Só se contam as sílabas
até a última sílaba tônica do
verso.
17. 2. Quando duas ou mais vogais se
encontram no fim de uma palavra
e começo de outra, e podem ser
pronunciadas numa só emissão
de voz, unem-se numa única
sílaba métrica.
“A i/da/de aus/te/ra e/ no/bre a/
que/ che/ga/mos.”
(Alberto de
Oliveira)
18. OBSERVAÇÕES:
•
Para que tais uniões
vocálicas não sejam duras e
malsonantes, as vogais (pelo
menos a primeira delas) devem
ser átonas e não passar de
três.
b) Não se unem vogais tônicas
(vi/ó/dios); (es/tá/úmido) nem se
juntam tônicas com átonas
20. DENOMINAÇÃO QUANTO AO
NÚMERO DE SÍLABAS
POÉTICAS
UMA SÍLABA: Monossílabo
DUAS SÍLABAS: Dissílabos
TRÊS SÍLABAS: Trissílabos
QUATRO SÍLABAS: Tetrassílabos
CINCO SÍLABAS: Pentassílabos
ou
Redondilha
menor
21. OITO SÍLABAS: Octossílabos
NOVE SÍLABAS: Eneassílabos ou
Jâmbicos
DEZ SÍLABAS: Decassílabos ou
Heróicos
ONZE SÍLABAS: Hendecassílabos
DOZE SÍLABAS: Dodecassílabos
ou
Alexandrinos
MAIS DE DOZE SÍLABAS:
Bárbaros
22. OBSERVE O EXEMPLO
DIVISÃO DE SÍLABAS GRAMATICAIS
MI
NH
A
1
2
AL MA
3
D
E
SO
5
6
4
NHA
R
TE
A
N
DA
PE
R
DI
D
A
7
8
9
10
11
12
13
DIVISÃO DE SÍLABAS POÉTICAS
MI
1
NH’
AL
2
MA
3
DE
4
* ÚLTIMA SÍLABA
S
O
5
NHA
R
6
TE
AN
7
DA
8
PE
R
9
DI
*
10
DA
23. VEJA OUTRO EXEMPLO
DIVISÃO DE SÍLABAS
GRAMATICAIS
A ME
S
1
HI
S
TÓ
RI
A
3
2
MA
4
5
TAN
TA
S
VE
ZE
S
LI
DA
6
7
8
9
10
11
12
DIVISÃO DE SÍLABAS POÉTICAS
A
1
MES MA HIS
2
3
TÓ
4
RIA
5
* ÚLTIMA SÍLABA TÔNICA
TAN
6
TAS
7
VE
8
ZES
LI
9
*
10
DA
24. RITMO
Resulta da regular
sucessão de sílabas átonas
ou fracas e de sílabas
tônicas ou fortes.
Os acentos tônicos, ou as
sílabas
tônicas,
devem
repetir-se
com
intervalos
regulares, de
modo a
cadenciar o verso e torná-lo
25. Observe o ritmo nas estrofes a seguir,
sempre na 2ª sílaba poética.
“Quem dera
Que sintas
as dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
Eu vi!...” (Casimiro de Abreu)
26. Agora observe estes versos que
apresentam acentuação na 3ª, na 6ª
e na 9ª sílabas.
“ Contem plan do o teu vul to
sa gra do,
Compreen de mos o no sso de ver ;
E o Bra sil , por seus fi lhos
a ma do,
Pode ro so e fe liz há de ser .”
(Hino à Bandeira – Olavo Bilac)
27. Manuel Bandeira
Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
28. Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)
29. Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)
(Manuel Bandeira in "Estrela da Manhã" 1936)
30. RIMA
São coincidências sonoras que
podem ocorrer em qualquer lugar
dos versos, dependendo da escolha
do poeta.
Obedecem
a
diversas
classificações. As rimas de dentro
do verso são chamadas internas e as
rimas nas últimas palavras do verso
são chamadas de finais.
31. QUANTO À TERMINAÇÃO
DO SOM
1) PERFEITAS:
sereno e moreno; neve e
leve
2) IMPERFEITAS:
Deus e céus; estrela e vela
32. QUANTO À TONICIDADE
1) AGUDAS (oxítonas)
feroz e atroz; amor e clamor
2) GRAVES (paroxítonas)
festa e manifesta; flores e cores
3) ESDRÚXULAS (proparoxítonas)
mágico e trágico; lírico e onírico
34. RIMA INTERIOR
Veja alguns exemplos:
“Como são cheirosas as primeiras
rosas” (A. de Guimarães)
“Donzela bela, que me inspira a
lira
Um canto santo de fremente amor
Ao bardo o cardo da tremenda
senda
Estanca arranca-lhe a terrível
dor.”
(Castro
35. DISPOSIÇÃO DAS RIMAS
NAS ESTROFES
RIMAS EMPARELHADAS (AABB)
“Ele deixava atrás tanta recorda ção! A
E o pesar, a saudade, até no próprio chão, A
Debaixo dos seus pés, parece que gem ia, B
Levanta-se o sol, vinha rompendo o d ia(...)” B
(A. de Oliveira)
36. RIMAS ALTERNADAS (ABAB)
“ Tu és um beijo materno ! A
mat
Tu és um riso infant il , B
Sol entre as flores de inv erno ,
A
Rosa entre as flores de abr il ! ”
B
37. RIMAS INTERPOLADAS
OU OPOSTAS (ABBA)
“ Saudade! Olhar de minha mãe rez ando
E o pranto lento deslizando em f io ...
Saudade! Amor dminha terra... O r io
Cantigas de águas claras soluç ando . “
A
B
B
A
(Da Costa e Silva)
38. VERSOS BRANCOS
São os versos sem rima.
Envelhecer
Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os
fantasmas.
(Mário Quintana)
39. VERSO LIVRE
São os versos que não
obedecem aos preceitos da
versificação
tradicional,
em
relação à métrica e ao ritmo.
Observe este
Ferreira Gullar
poema
de
40. Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
Está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
O homem sem estômago
a mulher de nuvens
A fruta sem preço
O poema, senhores,
Não fede
nem cheira.
41. AS FORMAS FIXAS
Há poemas que têm forma fixa, isto é,
submetida a regras quanto à combinação
dos versos, das rimas e das estrofes. Assim,
há, por exemplo, o soneto, cujos versos
são agrupados em dois quartetos e dois
tercetos; a balada (três oitavas e uma
quadra); o rondó (somente quadras ou
quadras combinadas com oitavas); o haicai
(um terceto em que o 1º e o 3º versos são
pentassílabos e o 2º é heptassílabo).
42. DISPOSIÇÃO DAS RIMAS NO
SONETO
As rimas das quadras são as mesmas. Um par
de rimas serve a ambas, segundo o
esquema abba-abba ou abab-abab.
Nos tercetos podem combinar-se duas ou,
mais frequentemente, três rimas.
Quando há apenas duas rimas, dispõem-se
elas normalmente de forma alternada: cdcdcd.
Se as rimas são três, distribuem-se em
geral nos esquemas: ccd-eed, cdc-ede, cde-cde.
43. Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
a
b
b
a
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
a
b
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
b
a
c
c
d
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
e
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros, e
Que tu és como Deus: princípio e fim!…” d