Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Um conto na plataforma
1. FRANKLENO FERREIRA DA ENCARNAÇÃO – CGU 117785210
Um conto na plataforma
Já estava naquela posição incômoda e desgastante há alguns minutos e que pareciam horas
intermináveis.
Foraumlongodiae agorasomente haviaaexpectativadechegaremcasa, tomarumbombanho
e (quemsabe) comeralgo,por si só, me dava calafriosde prazer:ter a possibilidade de mitigar
as dores dessa espera.
Todososdiaseraaquelamesmacenaquese desenrolavanacidadeemquetantosiame vinham,
buscandoalgoque talvez nemelesmesmostinhamalgumacerteza,querfossealgooualguém.
Mas, ainda assim, buscando...
O que nos unia, naquele momento, como em tantos momentos nos dias anteriores, era a
expectativa da chegada e da partida e ainda assim (para muitos outros) era também espaço e
momento de encontros, desencontros, negócios, reatamentos de amores passados...
Assim como eles, eu também estava ali todos os dias como se este ritual fora um inadiável
compromisso de vida ou morte, daqueles que não se pode faltar, mesmo que se queira...
A plataformaenchia-se cadavezmais,não apenasde numerosaspessoas,masde vidasque se
intercruzavam (ainda que momentaneamente) e não tanto de forma harmoniosa.
Voltae meiaumapalavramaisáspera,umgrito,umassovioousimplesmente omatraqueardos
vendedores em redor.
Tudo issose somavae multiplicavanaqueleburburinhoconstante de vozes,desejos,saudades,
alegrias e tristezas...
Em meioaesse momento,ondealternavaminhaobservação e divagavaemmeuspensamentos,
eu a percebo à distânciae assim como eu,entretidaemseus própriospensamentos(ouquem
sabe não!)
Deixei de ladotodaa cena sociologicamente definidaparacentrar-me nela,tentandoentender
o porquê de estar ali a observá-la.
Obviamente não tínhamos nos apresentado e abordá-la poderia ser mal interpretado...
Pus-me a observá-la discretamente tentando reter na memória aquilo que a qualificava como
única em meio à multidão de anônimos.
Nemalta,nembaixa,de certaforma me pareceutera belezadasninfasgregas,mas com nosso
toque amazônida.
Não pude ver à distância qual era a cor de seus olhos, mas pude ver seu olhar...
Um olhar suave e aconchegante...
Logo, e por instantes,vi despontarumleve sorriso,nãoalgolargo,masintimamente cativante.
Ela ouvia música em seus headphones...Ou quem sabe falava ao celular com alguém.
2. Sim, ela falava com alguém, pois percebi seus lábios mexerem como numa conversa com
alguém, que percebi ser de sua intimidade pela forma como seu rosto se expressava naquela
linguagem corporal e facial.
Neste momentoelase viroue olhouemdireçãoaalgumlugardoterminal,poisumônibusvinha
chegando e o corre-corre era automático.
Mas para meu regalo não era o dela e de novo pôs-se a conversar no celular.
Estou tão focado na cena que só depois me apercebo de que acabara de perder o meu tão
aguardado “busão”...
Mas, surpreendentemente paramimissonãomaisimportava,e simsaberquemeraaquelaque
roubava minha atenção buscando pelo olhar absorver algo dela.
Por vezes ela também olha em redor como que tentando captar algo ou quem sabe por conta
daquele supostoinstintofemininopercebe serpercebida,masaindaassimpermaneçoalheioà
sua percepção.
Outros ônibus chegam e o tumulto é generalizado como se houvesse a convergência de dois
caudalososrioscheiosde cabeçashumanasaconvergirparaummesmopontoe comissoperco-
a de vista.
Procuro obstinadamente ao longo da plataforma como se buscasse algo muito rico para mim
semnuncatê-lopossuídoe jáme davaporvencidoquandoolho paraoladoe vejoaquelesolhos
profundamentelindosfitando-mee um leve sorriso, pelo canto da boca carnuda, se esboça...
Enquanto, paciente e pesadamente o ônibus se vai, ainda há tempo de fita-la e retribuir o
sorriso...
Amanhã estaremos de novo aqui... talvez haja esperança...