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Ler e uma Festa!
Sofia de Matos Pedrosa
nº 26, 10º Ano Turma A
Escola Básica e Secundária de Anadia - Agrupamento de Escolas de Anadia
Concurso «Ler é uma Festa»
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Ler é uma festa!
O meu cabelo esvoaçava com a suave brisa que melodiosamente entoava um cântico
primaveril e embalava a minha caneta, ajudando-me a fazer os trabalhos de casa. Sentada no
banco de jardim, os meus dedos dedilhavam as teclas da calculadora e transpunha depois para o
meu caderno diário, registando em cada quadrícula o resultado desse trabalho que realizávamos
em conjunto.
Eu e a Matemática debatemo-nos, ainda que como aliadas, a escrever, a calcular, a ler,
enfim, a estudar. Enquanto isso, o Sol lança os seus fios de ouro, embora cada vez mais
tenuemente, juntando-se a nós, envolvendo-nos num abraço, partilhando connosco a sua luz e
calor, e torna este num momento perfeito.
Atrai-me o meu caderno diário e o meu manual de Físico-Química e nada mais me dispersa
da leitura que me absorve: “… os gases são formados por unidades estruturais muito pequenas
relativamente ao volume total que ocupam, pelo que num gás há muito espaço vazio…”. O
restolhar das folhas desvia momentaneamente a atenção da minha leitura. É a Lua, a minha
gatinha, que no seu deambular majestoso vem, pé ante pé, deitar-se ao meu colo. Deixo-a
aconchegar-se e vejo que o tempo voou.
Um breve passar de olhos pelo telemóvel diz-me que ainda tenho tempo de viajar pelo
reino da Biologia. Tenho de deambular pelo fascinante mundo das células… Num gesto digno de
fazer inveja a qualquer mágico, para não perturbar o sono descansado de Lua, faço aparecer o
manual e rendo-me à leitura das suas palavras, transportando-me para o mundo das células
procarióticas e eucarióticas.
- Querida! Querida!
- Sim, mãe.
A minha mãe pensa que ainda sou um bebé, que ainda me tem de avisar para ir tomar
banho e que já são horas de jantar. Claro, eu até me esqueço de alguns pormenores, quando
estou a ler seja o que for. Mas, nada de grave. Ela diz que eu vivo no mundo da lua, mas di-lo com
um sorriso. E eu até a compreendo. Até aprecio a sua preocupação. O pior não são as brincadeiras
dela. Não! As piores são as brincadeiras mordazes de alguns colegas da escola. Essas são as que
realmente magoam. Essas são aquelas que ferem e dilaceram o meu coração.
Ah! Como eu gostava de ser considerada mais social e integrada! De não estar a ser sempre
gozada por gostar de andar sempre agarrada aos livros, ou aos meus cadernos. Mas, eu sou assim.
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Gosto de ler e de escrever. Esse é o meu vício. A minha droga! Enfim, esta é a minha maneira de
ser. A minha vida!
Falar com os meus pais? E dizer-lhes o quê? Que alguns colegas gozam comigo? Que sou
vítima de bullying? E eles vão fazer o quê? Se até a minha mãe o faz, embora a brincar. Ela não ia
compreender. Os meus pais não iam entender!
A Diana é sem dúvida a pior. A incentivadora. A líder! Por isso, tento evitá-la a todo o custo.
Conhecemo-nos desde o infantário, embora ela seja mais velha do que eu e sempre teve esse
jeito, esse mau feitio com todos os meninos, gosta de se meter com aqueles que não lhe fazem
frente, de explorar a sua fragilidade, de ver até onde pode ir e de ir cada vez mais longe. Pois
comigo ainda não acabou e vai conseguir, pois sabe que eu deixo… Só que eu sigo o caminho fácil.
Fujo!
Agora, sinto-me reconfortada e protegida entre os lençóis da minha cama, e o luar que me
envolve e me acaricia faz-me esquecer as mágoas do meu dia. Pego no livro que ando a ler e deixo
que ele me transporte para o seu mundo encantado, onde visto a pele de uma outra pessoa mais
corajosa, que enfrenta os seus receios, os seus medos. Onde consigo combater os meus inimigos
de igual para igual.
A manhã nasce alegre, contrastando com o meu interior sombrio, apesar do sorriso que
decido colocar em meus lábios. Depois do meu habitual pequeno-almoço e do bom dia aos meus
pais, vou para a escola com a ambiguidade de sempre: ansiosa e desesperada. Ansiosa, pois adoro
aprender, conhecer novos conteúdos, saber sempre mais… Desesperada, por saber que nem
sempre consigo contornar a fúria das palavras agressivas da Diana e dos demais colegas que
quiserem agredir-me com o seu vocabulário maldoso.
Caminho pela avenida com os meus pensamentos, saltitando entre a ansiedade e o
desespero… Mas, algo desperta a minha atenção. O chilrear agudo de um passarinho faz-me olhar
para o topo de uma árvore e lá está o ninho com os filhotes que aguardam pelo seu alimento.
Este meu momento de devaneio, em que fico fascinada a observar a beleza da natureza, é
drasticamente quebrado pelo som estridente das gargalhadas de Diana e do seu grupo de
apoiantes:
- Olhem se não é a sabichona!
- O rato das bibliotecas. - refere o Rui.
- Agora decidiste ser observadora de pássaros? Vê lá se eles te c… na cabeça. Até te ficava
bem nessa tua cabeça pensadora. – acrescentou novamente a Diana.
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- Deixem-me! – pedi eu, com a voz enfraquecida pelo medo.
- Coitadinha. Deixem-me! Deixem-me! Deixem-me! – gozou o Marcelo, tentando imitar a
minha voz.
- Parem com isso! Não acham que já chega?
Com os meus olhos marejados, olhei para onde provinha aquela voz e vi-o. Era alto, um
porte atlético e, … e dominava!
O silêncio que se seguiu foi interrompido ao final de um longo período e senti, pela
primeira vez, o vacilar da voz de Diana, a líder do grupo:
- Quem és tu?
- Eu é que te pergunto a ti. Quem és tu e estes outros, para estarem a fazer o que estão a
fazer a esta colega?
- Quem? A esta?! - repete Diana.
- Como te atreves a falar assim de uma colega tua? - indagou o desconhecido.
- Beeem. - gaguejou a Diana.
- Vai para a escola. - continuou ele. - Haverá outras ocasiões para falarmos. E, agora para
vocês todos, que não veja mais nenhum de vocês a fazer mal a mais nenhum colega a partir de
hoje. Eu vou estar atento. Eu sou novo nesta escola, mas não admito este tipo de atitude!
Como ninguém dizia nada, ele levantou a voz:
- Compreenderam?!
- Sim. - responderam em uníssono.
- Quanto a ti, sempre que algum deles ou outro se meter contigo, já sabes, vens-me dizer,
percebeste? Não guardes para ti.
- Está bem. Obrigada! - foi apenas o que consegui dizer.
No entanto, acompanhou-me até à escola e, para meu espanto, éramos da mesma turma.
A partir daí a nossa amizade cresceu. Ele tinha algumas dificuldades nalgumas disciplinas,
pelo que eu o ajudei e ele conseguiu recuperar.
Certo dia, a professora de Português lançou um desafio à turma para quem quisesse
escrever um texto sobre um tema à escolha, para um concurso da Biblioteca Municipal intitulado
“A arte da leitura e da escrita”.
Claro que o meu sonho é mesmo esse, a escrita, e eu já me estava a ver sentada na minha
secretária, ou no meu jardim, com o meu computador a escrevê-lo, as teclas a saltar nos meus
dedos, as letras a formar as palavras, o texto a começar a fluir, a imaginação a voar…
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- Então, rato da biblioteca, já estás outra vez no mundo da lua? – sussurrou-me a Diana ao
ouvido. -Pensas que o teu amiguinho te protege para sempre? Ele é um idiota igual a ti. Se ele se
volta a meter no meu caminho, tem os dias contados e se tu lhe contas, vais ver o que vos
acontece aos dois. Portanto, é contigo. Dizes-lhe alguma coisa e estás feita. Se eu sei que tu lhe
contaste, os meus amigos dão cabo dele e de ti. Não consideres isto um conselho, mas sim uma
ameaça!
Os meus joelhos tremiam. Estava tudo a voltar. Não. Era pior, pois, pela primeira vez havia
ameaças físicas. E agora não estava só eu envolvida. Havia também outra pessoa. Alguém que por
minha causa podia ser ferida. Alguém que me tinha defendido. Eu tinha a certeza que ela e o seu
bando de malfeitores eram capazes de fazer tudo o que ela tinha dito. O que podia eu fazer?
Nada! O melhor era fazer como sempre tinha feito, nada. Absolutamente nada!
O meu regresso a casa foi silenciosamente penoso. O Nuno, o meu amigo, questionou-me a
mudança. Mas eu contornei a questão com a excitação do texto que iria escrever. Não sei se o
convenci.
A minha capacidade de me abstrair do problema “Diana”, como eu o apelido, tornou-se, ao
longo dos tempos, um dos meus maiores feitos. Portanto, remeto-o para um recanto bem
profundo e depois de fazer o meu estudo, inicio o meu texto. Todos os dias, este é o meu ritmo de
trabalho.
Desde o dia em que a professora de Português nos lançou a proposta que o grupo da Diana
e a própria me têm lançado agressões verbais, agora acrescidas com ameaças físicas, sempre
dissimuladamente e sempre fora da presença do Nuno, mas eu escondo-lhe toda a situação.
Em casa, guardo um pouco de espaço e deixo que as emoções negativas tomem conta de
mim. Nesse momento, dou asas para que a torrente que os meus olhos reprimem durante o dia se
desprenda. Deixo que a água deslize, tumultuosa pelas faces, trazendo ao de cima todo o
sofrimento. Sofrimento que não compreendo porque me está a ser imposto.
Recomponho-me rapidamente, pego nos meus livros e concentro-me nos meus estudos.
Leio os meus apontamentos, os manuais e faço todos os trabalhos de casa. Verifico se tenho todo
o estudo bem consolidado e deixo-me finalmente atrair pelo texto que ando a construir.
O Nuno costuma acompanhar-me na ida para a escola. Quando estou a chegar ao local,
onde nos costumamos cruzar, verifico que ele ainda não chegou. O telemóvel está a tocar…
atendo. É ele a dizer que se encontra doente e hoje não vem. Prossigo sozinha com os meus
pensamentos, vagueando pelo mundo da leitura e da escrita, dos livros e da imaginação, do texto
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que estou a escrever. Penso que estou a conseguir transmitir tudo aquilo que sinto, mas ainda há
algo que falta e não estou a conseguir.
- Então, não tens o teu guardião? - oiço uma voz atrás de mim. Claro, só podia ser a minha
querida amiga Diana.
- Diana, o que tens contra mim? – pergunto, enchendo-me de coragem.
- Olha, olha, a mostrar as garras. - responde ela.
- Não é nada disso. Apenas gostava de saber porque me tratas assim. O que tens contra
mim?
- Eu? Nada! Apenas gosto de implicar contigo. És patética. Fácil. Bem, tu és uma pessoa
particularmente incomodativa. Fazes tudo aquilo que eu realmente detesto. Sempre a ler, a
escrever, estudar… Isso é algo mesmo irritante. Para que é que serve? Andar sempre com um livro
atrás. Sempre na biblioteca. Só de ti. Além do mais, eu adoro implicar com as pessoas como tu.
Adoro vê-las a rastejar. Adoro sentir como elas se rebaixam, sentir o medo, o pavor… E tu és tão
boa nisso. És impecável. És a melhor. A mais adorável. Agora, desde que apareceu o teu amiguinho
e desde que eu ameacei que lhe fazia mal, ainda aprimoraste mais o teu medo. Estou a adorar. E
sabes? Até era mesmo capaz de lhe mandar dar uns pontapés, tenho uns gorilas que fariam um
serviço impecável!
- Porque farias isso?
- Para te ver sofrer. Não é um bom motivo? Até logo.
- Cuidado, não atravesses! Vem um carro…
- Não me enganas, sua…
- Diana! Pare! Não vá embora. Ajude-a por favor.
E agora o que posso fazer? Ela estará viva? O carro bateu-lhe com tanta força e foi embora.
Porque não me ouviu ela? Eu disse-lhe que vinha um carro.
Não mexer nela, chamar o 112… Foi o que os meus pais me ensinaram. Sim, o 112. O meu
telemóvel…
O tempo de espera pareceu-me uma eternidade.
- Viste quem foi? - perguntou um dos senhores do 112, quando finalmente chegaram.
- Foi um carro e ele continuou, embora eu tenha gritado que ela precisava de ajuda.
Decerto não se apercebeu que ela ia a atravessar e bateu-lhe, pois não há ninguém que deixasse
uma pessoa assim, pois não? - questionei eu.
- Pois. - disse o outro senhor do 112.
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- O carro era vermelho. – apenas soube dizer isto.
- Conheces os pais? – perguntaram.
- Não, senhor. - respondi.
- Eu vou com ela. Não vou abandonar a minha colega.
- Está bem. Já que não está mais ninguém para a acompanhar. - referiu o outro.
Estive muito tempo no hospital até ter notícias.
Finalmente, um médico veio dizer que ela estava bem e que ia voltar para casa dentro de
dois ou três dias. Ainda ficava em observação, mas estava tudo bem para ela, claro! Para mim, ia
continuar o sofrimento.
Entretanto, chegaram os pais dela que me agradeceram muito.
- Deves ser muito amiga da Diana, apesar de ela nunca nos ter falado de ti. Mas ela
também não fala muito dos amigos.
Eu apenas fiz um sorriso tímido para os pais. O que mais podia fazer? Claro que não era
amiga da Diana. A Diana considerava-me a sua arqui-inimiga. Para ela, eu era o alvo a abater. Eu
nem sabia bem porquê. Mas era assim. Ela tinha tentado explicar. Eu tinha a cabeça a prémio. Eu e
o Nuno. Eu era inimiga dela por ser como era, por gostar de ler e de escrever. Ele apenas porque
era meu amigo. Como era possível?
Era só ela sair do hospital e a partir desse momento seria muito pior, pois ir-me-ia culpar
do seu acidente. Eu só queria ir para casa e voltar à minha rotina e tentar esquecer aquela
imagem. Tentar apagar da minha mente aqueles momentos, que me pareciam intermináveis,
desde o instante em que ela apareceu e se iniciou o nosso diálogo até ao momento presente.
Eu, pela primeira vez, tinha tentado enfrentá-la. Bem, não se pode dizer que a enfrentei,
foi mais tê-la questionado, pois queria saber o porquê. Mas nem sei bem se gosto do que ouvi. Se
estou mais descansada, ou se contrariamente ainda estou mais confusa e apavorada.
Os meus pais, por sua vez, foram-me buscar e eu pude regressar a casa, depois de um dia
extenuante e muito diferente daquele que imaginara.
Tudo voltou ao normal na escola, o Nuno regressou e claro, soube do acidente da Diana.
Entretanto, tive de prestar declarações, mas o dono do carro ainda não fora identificado.
Eu, como estava preocupada com a Diana, nem me lembrei de olhar para a matrícula do carro. Só
me lembro da sua cor.
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A Diana também regressou à escola. Mas eu nem tento aproximar-me dela. Ela deve andar
a planear o modo como me irá atacar. Por enquanto, nem ela nem nenhum dos seus amigos me
disseram ou fizeram nada. Só me resta estar alerta.
O mais perturbante de tudo continuam a ser as noites. Quando fecho os olhos, continuo a
ver a Diana a atravessar aquela avenida e o carro a chegar. Ainda oiço o meu grito e ela a ignorá-
lo, rindo-se de mim com aqueles olhos verdes de gato selvagem. Eu, impotentemente, corro e
tento puxar por ela, mas volto a chegar tarde. Ela já está caída no chão e o carro continua a fugir e
a abandonar-nos às duas ali sozinhas.
O pesadelo lentamente vai-se dissipando e eu vou sentindo o alívio da sua ausência. Já
consigo sentir a doçura reconfortante da almofada quando me deito, depois de viajar pelo mundo
da leitura e da fantasia no livro que agora me faz companhia.
O dia da cerimónia da entrega dos prémios do concurso “A arte da leitura e da escrita”
estava finalmente marcado.
A minha professora de Português, aquando da entrega do meu texto, procedeu à sua
correção e, depois de o fazer, disse-me que o meu texto estava muito bom. O seguinte passo foi
ter do entregar na nossa biblioteca para a seleção e, para minha grande surpresa e alegria, ele
tinha sido selecionado. Agora, havia outras escolas do concelho a concurso, portanto, a meu ver,
ia ser difícil conseguir um bom resultado.
Eis que chegou o dia tão esperado!
Como é habitual, a cerimónia de apresentação do concurso e de atribuição dos prémios
decorre no auditório da Biblioteca Municipal com a presença da Presidente da Câmara, da
Bibliotecária, que faz a apresentação, de uma escritora famosa, da Vereadora da Cultura e dos
diversos Diretores dos Agrupamentos e Colégios. E nesse dia não foi exceção.
Os prémios são sempre apresentados a partir dos níveis mais baixos, começando na
educação pré-escolar e só no fim é que apresentam o ensino secundário. Portanto, eu ia ter muito
que esperar.
Junto dos meus pais, serenamente apreciava o excelente espetáculo cheio de luz, cor e os
muitos textos e poemas que as crianças e jovens liam acompanhados pela suave música que
ajudava a dar-lhes emoção e vida.
As crianças da sala vencedora da Educação Pré-escolar, pois neste grau de ensino o prémio
é por sala, apresentaram o texto que vencera. Interessante a forma como a história foi construída:
um texto sem palavras. Ou melhor, o texto foi construído de tal modo que permitiu contar uma
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história sem saberem ler. Estava fantástico, pois desenvolve nas crianças hábitos e gosto pela
escrita e pela leitura. Fiquei, de facto, fascinada. Eu, e todos quantos se encontravam a assistir.
Quando por fim chegou a vez do secundário, a Vereadora da Cultura chamou o aluno
vencedor da menção honrosa e, logo de seguida, disse:
- Dou os parabéns à aluna que escreveu o texto cuja originalidade, criatividade e correção
levaram o júri do concurso a elegerem-no como o texto vencedor. Mas, antes de dizer o seu
nome, vamos escutar a leitura de um outro texto da autoria da nossa laureada que nos fala sobre
a beleza da leitura e da escrita lido por uma sua colega que pretende, desta forma, expressar toda
a sua gratidão e amizade por ela.
Os meus olhos não queriam acreditar no que viam, quando a Diana entrou e se dirigiu ao
púlpito e, agradecendo à Sra. Vereadora, começou a leitura do texto que rapidamente eu
identifiquei.
“O que seria de nós sem a leitura e a escrita?
Quando penso na leitura e na escrita, não me refiro apenas a juntar as letras, as sílabas, a
formar ditongos, a ler palavras, frases, textos, ou simplesmente ler bem, mas sim, a ir mais além. A
compreender o que se lê. A compreender para além da simples escrita, a aprofundar a leitura, a
procurar nas entrelinhas o significado superior do que o escritor pretende transmitir. A exploração
do significado mais profundo que às vezes parece estar ausente! Infelizmente, apercebo-me que
muitos não o conseguem ou querem alcançar. Muitos de nós aprendemos a ler e a escrever, mas
não queremos tirar proveito desse facto, pois não queremos pegar neste belo instrumento e lutar
pelo nosso futuro. Pois é disso que se trata: o nosso futuro! Não queremos compreender a
mensagem que está implícita na escrita e na leitura.
É fácil compreender que, ao não saber escrever e ler bem, não se consegue compreender
bem. Logo, não se consegue estudar com proveito. Desta maneira, como se pode estudar as várias
disciplinas? Se não se consegue ler bem, não se pode aprender bem: Português, Matemática,
Físico-Química, Biologia, ou outra disciplina qualquer. Sem dúvida, que isto me faz pensar!
Contrariamente, a importância de ler e de ler bem, explorando todos os seus lados, facilita, sem
dúvida, o estudo. A capacidade de ler bem leva-nos a ter maior sucesso, porque permite alcançar
mais facilmente o conhecimento em todos os domínios.
Ao ler, conhecemos novos lugares, viajamos sem fim, sem rumo… Exploramos sem nos
intrometermos, sem alterarmos os factos, nem os espaços, nem a fauna, nem a flora… Permite-
Página 10 de 12
nos questionar, duvidar e, por isso mesmo, pensar e representar. Ao ler, podemos alterar as
situações, representar personagens, discutir com elas, mudar o final da história.
A capacidade de ler para um público também não é para todos, assim como a capacidade
de estar só quando se lê, a capacidade de ouvir o nosso silêncio, de sonhar e de sofrer, de sorrir e
de chorar, de viajar para mundos de aventura, de ilusão e de sofrimento, de alegria e felicidade,
também não. Ler faz-nos sentir uma emoção e um prazer que anima o nosso íntimo. Enfim, é esta
capacidade de ler que me leva a amar a escrita, que me leva ao meu bem-estar, seja ele em casa,
seja na escola, ou em qualquer outro lugar.
Seja qual for a ocasião da nossa vida, podemos recorrer à leitura, podemos ler com gosto,
com prazer. A leitura pode funcionar como fonte de conhecimento, de informação, de descoberta,
de imaginação ou sonho. Mas ela foi, é e será sempre uma fonte de riqueza que nos fará voar pela
realidade da ciência, passar por mensagens e histórias, desejar, sofrer, sonhar, … conhecer as
experiências de outros Homens e outras épocas, aceder a diferentes modos de vida e
pensamentos e, por fim, voar até à fantasia da mais pura história infantil das «Mil e uma noites».
Sei que muitos não sentem esta minha afeição por ler e por escrever e que até me criticam.
Ler é de todas a minha grande capacidade e sinto que esta riqueza, que tenho dentro de
mim, me leva a uma aprendizagem constante e da qual eu tiro um prazer infinito, me faz crescer e
por isso, para mim, ler é uma festa!”.
Como é que o meu texto lhe tinha chegado às mãos? Ninguém o conhecia, se nem mesmo
eu lhe tinha pegado mais. Tinha-o escrito num momento de pura distração em que pensava como
muitos maltratavam a leitura e a escrita. O que iriam pensar? Pois, nem sequer tinha sido corrigido
pela professora de Português. Mas ouvi os presentes baterem palmas, enquanto uma bela
melodia preenchia o auditório e acabei por esquecer o assunto.
Diana prendeu o seu olhar no meu e sorriu. Eu nem acreditava naquele rosto que olhava
para mim, parecia-me tão igual e tão diferente da Diana que eu conhecia e que me odiava.
A Vereadora, com um sorriso no olhar, exclamou:
- Sofia Rodrigues, a grande e justa vencedora do concurso: “A arte da leitura e da escrita”.
A medo, levantei-me enquanto a Vereadora, depois de me cumprimentar e de me dar o
meu certificado e o meu prémio, acrescentou:
- Meus amigos, ainda há outra surpresa para a nossa vencedora. Podes sentar-te, Sofia.
Fiquei sem saber bem o que fazer e o que pensar… Mas, agradeci timidamente e regressei
ao meu lugar.
Página 11 de 12
Diana continuou com aquele novo sorriso e olhou para mim num misto de… nem consegui
definir. Para ser sincera, vi neles mágoa e alegria, mas uma alegria diferente de quando gozava
comigo. Nesse preciso momento, não consegui explicar o que estava diferente nesta nova Diana.
A Vereadora, por sua vez, passou-lhe novamente a palavra.
- Eu sempre fui uma pessoa má. – o silêncio cortante, que se fez sentir, arrepiava o mais
herói dos presentes. – Sim, eu incentivei o bullying na minha escola. Desde tenra idade, persegui a
Sofia. Agredi-a verbalmente e, ultimamente, cheguei a ameaçá-la fisicamente, a ela e a um amigo.
E sabem porquê? Por inveja. Por ela ser um alvo fácil. Por não me dar resposta. Por não se tentar
defender. Por fazer aquilo de que gosta. Por gostar de estudar, por gostar de ler e de escrever! E
sabem qual foi a resposta dela, quando eu precisei da sua ajuda? Quando eu mais necessitei de
alguém para me ajudar? Ela ficou ali comigo. Pediu ajuda. Esperou para ver como eu estava.
Aguardou que lhe dissessem que eu estava bem e só depois é que regressou a casa. Nunca me
abandonou, apesar de tudo o que eu sempre representei para ela. Hoje, movi mundos e pedi à
Sra. Vereadora para me deixar ler um texto seu, o qual os seus pais me facultaram, e ainda me foi
permitido dizer estas palavras finais.
Por tudo isto, eu quero agradecer-te e também expressar, em frente a todos vós e em
particular a ti, minha salvadora, o meu arrependimento de tudo o que fiz, não só a ti como a
muitos outros, e prometer que vou lutar para que o bullying deixe de ser uma realidade na nossa
escola. Os bombeiros têm um prémio anual para o qual eu propus a Sofia, e é esse prémio que ela
hoje também vai receber e que eu fui autorizada a revelar.
Mais uma vez, a Diana encarou-me e eu senti o meu rosto ficar húmido pelas lágrimas, que
teimosas, não consegui evitar, enquanto o público aplaudia. Eu senti que flutuava e que a
qualquer instante certamente iria acordar de um sonho vivido e não de uma realidade que estava
a viver.
O Sr. Comandante dos Bombeiros Voluntários entregou-me, então, uma estatueta em
miniatura e fazendo a continência congratulou-me, dizendo:
- Parabéns!
Dos meus lábios saiu um ténue “obrigada!”, pois os meus olhos estavam decerto raiados
do fogo da água que tentava conter, enquanto Diana continuava o seu já longo discurso:
- Não gostaria de ir sem dizer a todos que sempre fui péssima aluna, pois desprezava aquilo
que a Sofia dá mais prazer: o ler e o escrever. Desprezava, disse bem. Pois, nos últimos tempos,
tenho sido uma frequentadora assídua desta biblioteca, da qual já sou leitora desde o dia em que
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saí do hospital. Gostaria de terminar conforme a Sofia, a minha amiga, com um A muito grande,
terminou o texto que há pouco acabei de vos ler: “Ler é uma Festa!”.
O público mais uma vez, mas nesse momento de pé, aplaudiu estrondosamente. Porém,
não sei porquê! Se por eu ter ganho os prémios, ou se foi por a Diana ter feito um discurso tão
moralizador, ou então por ela se ter convertido.
O que eu sei é que a Diana, apanhando-me completamente de surpresa, abraçou-me e eu,
que sou um coração não de manteiga, mas de açúcar, acabei a abraçá-la também.
E sim, sem dúvida que ler une as pessoas, por isso, ler só pode ser uma Festa!

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2014 09-12 - ler é uma festa sec - ler é uma festa - sofia m pedrosa 10 a

  • 1. Ler e uma Festa! Sofia de Matos Pedrosa nº 26, 10º Ano Turma A Escola Básica e Secundária de Anadia - Agrupamento de Escolas de Anadia Concurso «Ler é uma Festa»
  • 2. Página 2 de 12 Ler é uma festa! O meu cabelo esvoaçava com a suave brisa que melodiosamente entoava um cântico primaveril e embalava a minha caneta, ajudando-me a fazer os trabalhos de casa. Sentada no banco de jardim, os meus dedos dedilhavam as teclas da calculadora e transpunha depois para o meu caderno diário, registando em cada quadrícula o resultado desse trabalho que realizávamos em conjunto. Eu e a Matemática debatemo-nos, ainda que como aliadas, a escrever, a calcular, a ler, enfim, a estudar. Enquanto isso, o Sol lança os seus fios de ouro, embora cada vez mais tenuemente, juntando-se a nós, envolvendo-nos num abraço, partilhando connosco a sua luz e calor, e torna este num momento perfeito. Atrai-me o meu caderno diário e o meu manual de Físico-Química e nada mais me dispersa da leitura que me absorve: “… os gases são formados por unidades estruturais muito pequenas relativamente ao volume total que ocupam, pelo que num gás há muito espaço vazio…”. O restolhar das folhas desvia momentaneamente a atenção da minha leitura. É a Lua, a minha gatinha, que no seu deambular majestoso vem, pé ante pé, deitar-se ao meu colo. Deixo-a aconchegar-se e vejo que o tempo voou. Um breve passar de olhos pelo telemóvel diz-me que ainda tenho tempo de viajar pelo reino da Biologia. Tenho de deambular pelo fascinante mundo das células… Num gesto digno de fazer inveja a qualquer mágico, para não perturbar o sono descansado de Lua, faço aparecer o manual e rendo-me à leitura das suas palavras, transportando-me para o mundo das células procarióticas e eucarióticas. - Querida! Querida! - Sim, mãe. A minha mãe pensa que ainda sou um bebé, que ainda me tem de avisar para ir tomar banho e que já são horas de jantar. Claro, eu até me esqueço de alguns pormenores, quando estou a ler seja o que for. Mas, nada de grave. Ela diz que eu vivo no mundo da lua, mas di-lo com um sorriso. E eu até a compreendo. Até aprecio a sua preocupação. O pior não são as brincadeiras dela. Não! As piores são as brincadeiras mordazes de alguns colegas da escola. Essas são as que realmente magoam. Essas são aquelas que ferem e dilaceram o meu coração. Ah! Como eu gostava de ser considerada mais social e integrada! De não estar a ser sempre gozada por gostar de andar sempre agarrada aos livros, ou aos meus cadernos. Mas, eu sou assim.
  • 3. Página 3 de 12 Gosto de ler e de escrever. Esse é o meu vício. A minha droga! Enfim, esta é a minha maneira de ser. A minha vida! Falar com os meus pais? E dizer-lhes o quê? Que alguns colegas gozam comigo? Que sou vítima de bullying? E eles vão fazer o quê? Se até a minha mãe o faz, embora a brincar. Ela não ia compreender. Os meus pais não iam entender! A Diana é sem dúvida a pior. A incentivadora. A líder! Por isso, tento evitá-la a todo o custo. Conhecemo-nos desde o infantário, embora ela seja mais velha do que eu e sempre teve esse jeito, esse mau feitio com todos os meninos, gosta de se meter com aqueles que não lhe fazem frente, de explorar a sua fragilidade, de ver até onde pode ir e de ir cada vez mais longe. Pois comigo ainda não acabou e vai conseguir, pois sabe que eu deixo… Só que eu sigo o caminho fácil. Fujo! Agora, sinto-me reconfortada e protegida entre os lençóis da minha cama, e o luar que me envolve e me acaricia faz-me esquecer as mágoas do meu dia. Pego no livro que ando a ler e deixo que ele me transporte para o seu mundo encantado, onde visto a pele de uma outra pessoa mais corajosa, que enfrenta os seus receios, os seus medos. Onde consigo combater os meus inimigos de igual para igual. A manhã nasce alegre, contrastando com o meu interior sombrio, apesar do sorriso que decido colocar em meus lábios. Depois do meu habitual pequeno-almoço e do bom dia aos meus pais, vou para a escola com a ambiguidade de sempre: ansiosa e desesperada. Ansiosa, pois adoro aprender, conhecer novos conteúdos, saber sempre mais… Desesperada, por saber que nem sempre consigo contornar a fúria das palavras agressivas da Diana e dos demais colegas que quiserem agredir-me com o seu vocabulário maldoso. Caminho pela avenida com os meus pensamentos, saltitando entre a ansiedade e o desespero… Mas, algo desperta a minha atenção. O chilrear agudo de um passarinho faz-me olhar para o topo de uma árvore e lá está o ninho com os filhotes que aguardam pelo seu alimento. Este meu momento de devaneio, em que fico fascinada a observar a beleza da natureza, é drasticamente quebrado pelo som estridente das gargalhadas de Diana e do seu grupo de apoiantes: - Olhem se não é a sabichona! - O rato das bibliotecas. - refere o Rui. - Agora decidiste ser observadora de pássaros? Vê lá se eles te c… na cabeça. Até te ficava bem nessa tua cabeça pensadora. – acrescentou novamente a Diana.
  • 4. Página 4 de 12 - Deixem-me! – pedi eu, com a voz enfraquecida pelo medo. - Coitadinha. Deixem-me! Deixem-me! Deixem-me! – gozou o Marcelo, tentando imitar a minha voz. - Parem com isso! Não acham que já chega? Com os meus olhos marejados, olhei para onde provinha aquela voz e vi-o. Era alto, um porte atlético e, … e dominava! O silêncio que se seguiu foi interrompido ao final de um longo período e senti, pela primeira vez, o vacilar da voz de Diana, a líder do grupo: - Quem és tu? - Eu é que te pergunto a ti. Quem és tu e estes outros, para estarem a fazer o que estão a fazer a esta colega? - Quem? A esta?! - repete Diana. - Como te atreves a falar assim de uma colega tua? - indagou o desconhecido. - Beeem. - gaguejou a Diana. - Vai para a escola. - continuou ele. - Haverá outras ocasiões para falarmos. E, agora para vocês todos, que não veja mais nenhum de vocês a fazer mal a mais nenhum colega a partir de hoje. Eu vou estar atento. Eu sou novo nesta escola, mas não admito este tipo de atitude! Como ninguém dizia nada, ele levantou a voz: - Compreenderam?! - Sim. - responderam em uníssono. - Quanto a ti, sempre que algum deles ou outro se meter contigo, já sabes, vens-me dizer, percebeste? Não guardes para ti. - Está bem. Obrigada! - foi apenas o que consegui dizer. No entanto, acompanhou-me até à escola e, para meu espanto, éramos da mesma turma. A partir daí a nossa amizade cresceu. Ele tinha algumas dificuldades nalgumas disciplinas, pelo que eu o ajudei e ele conseguiu recuperar. Certo dia, a professora de Português lançou um desafio à turma para quem quisesse escrever um texto sobre um tema à escolha, para um concurso da Biblioteca Municipal intitulado “A arte da leitura e da escrita”. Claro que o meu sonho é mesmo esse, a escrita, e eu já me estava a ver sentada na minha secretária, ou no meu jardim, com o meu computador a escrevê-lo, as teclas a saltar nos meus dedos, as letras a formar as palavras, o texto a começar a fluir, a imaginação a voar…
  • 5. Página 5 de 12 - Então, rato da biblioteca, já estás outra vez no mundo da lua? – sussurrou-me a Diana ao ouvido. -Pensas que o teu amiguinho te protege para sempre? Ele é um idiota igual a ti. Se ele se volta a meter no meu caminho, tem os dias contados e se tu lhe contas, vais ver o que vos acontece aos dois. Portanto, é contigo. Dizes-lhe alguma coisa e estás feita. Se eu sei que tu lhe contaste, os meus amigos dão cabo dele e de ti. Não consideres isto um conselho, mas sim uma ameaça! Os meus joelhos tremiam. Estava tudo a voltar. Não. Era pior, pois, pela primeira vez havia ameaças físicas. E agora não estava só eu envolvida. Havia também outra pessoa. Alguém que por minha causa podia ser ferida. Alguém que me tinha defendido. Eu tinha a certeza que ela e o seu bando de malfeitores eram capazes de fazer tudo o que ela tinha dito. O que podia eu fazer? Nada! O melhor era fazer como sempre tinha feito, nada. Absolutamente nada! O meu regresso a casa foi silenciosamente penoso. O Nuno, o meu amigo, questionou-me a mudança. Mas eu contornei a questão com a excitação do texto que iria escrever. Não sei se o convenci. A minha capacidade de me abstrair do problema “Diana”, como eu o apelido, tornou-se, ao longo dos tempos, um dos meus maiores feitos. Portanto, remeto-o para um recanto bem profundo e depois de fazer o meu estudo, inicio o meu texto. Todos os dias, este é o meu ritmo de trabalho. Desde o dia em que a professora de Português nos lançou a proposta que o grupo da Diana e a própria me têm lançado agressões verbais, agora acrescidas com ameaças físicas, sempre dissimuladamente e sempre fora da presença do Nuno, mas eu escondo-lhe toda a situação. Em casa, guardo um pouco de espaço e deixo que as emoções negativas tomem conta de mim. Nesse momento, dou asas para que a torrente que os meus olhos reprimem durante o dia se desprenda. Deixo que a água deslize, tumultuosa pelas faces, trazendo ao de cima todo o sofrimento. Sofrimento que não compreendo porque me está a ser imposto. Recomponho-me rapidamente, pego nos meus livros e concentro-me nos meus estudos. Leio os meus apontamentos, os manuais e faço todos os trabalhos de casa. Verifico se tenho todo o estudo bem consolidado e deixo-me finalmente atrair pelo texto que ando a construir. O Nuno costuma acompanhar-me na ida para a escola. Quando estou a chegar ao local, onde nos costumamos cruzar, verifico que ele ainda não chegou. O telemóvel está a tocar… atendo. É ele a dizer que se encontra doente e hoje não vem. Prossigo sozinha com os meus pensamentos, vagueando pelo mundo da leitura e da escrita, dos livros e da imaginação, do texto
  • 6. Página 6 de 12 que estou a escrever. Penso que estou a conseguir transmitir tudo aquilo que sinto, mas ainda há algo que falta e não estou a conseguir. - Então, não tens o teu guardião? - oiço uma voz atrás de mim. Claro, só podia ser a minha querida amiga Diana. - Diana, o que tens contra mim? – pergunto, enchendo-me de coragem. - Olha, olha, a mostrar as garras. - responde ela. - Não é nada disso. Apenas gostava de saber porque me tratas assim. O que tens contra mim? - Eu? Nada! Apenas gosto de implicar contigo. És patética. Fácil. Bem, tu és uma pessoa particularmente incomodativa. Fazes tudo aquilo que eu realmente detesto. Sempre a ler, a escrever, estudar… Isso é algo mesmo irritante. Para que é que serve? Andar sempre com um livro atrás. Sempre na biblioteca. Só de ti. Além do mais, eu adoro implicar com as pessoas como tu. Adoro vê-las a rastejar. Adoro sentir como elas se rebaixam, sentir o medo, o pavor… E tu és tão boa nisso. És impecável. És a melhor. A mais adorável. Agora, desde que apareceu o teu amiguinho e desde que eu ameacei que lhe fazia mal, ainda aprimoraste mais o teu medo. Estou a adorar. E sabes? Até era mesmo capaz de lhe mandar dar uns pontapés, tenho uns gorilas que fariam um serviço impecável! - Porque farias isso? - Para te ver sofrer. Não é um bom motivo? Até logo. - Cuidado, não atravesses! Vem um carro… - Não me enganas, sua… - Diana! Pare! Não vá embora. Ajude-a por favor. E agora o que posso fazer? Ela estará viva? O carro bateu-lhe com tanta força e foi embora. Porque não me ouviu ela? Eu disse-lhe que vinha um carro. Não mexer nela, chamar o 112… Foi o que os meus pais me ensinaram. Sim, o 112. O meu telemóvel… O tempo de espera pareceu-me uma eternidade. - Viste quem foi? - perguntou um dos senhores do 112, quando finalmente chegaram. - Foi um carro e ele continuou, embora eu tenha gritado que ela precisava de ajuda. Decerto não se apercebeu que ela ia a atravessar e bateu-lhe, pois não há ninguém que deixasse uma pessoa assim, pois não? - questionei eu. - Pois. - disse o outro senhor do 112.
  • 7. Página 7 de 12 - O carro era vermelho. – apenas soube dizer isto. - Conheces os pais? – perguntaram. - Não, senhor. - respondi. - Eu vou com ela. Não vou abandonar a minha colega. - Está bem. Já que não está mais ninguém para a acompanhar. - referiu o outro. Estive muito tempo no hospital até ter notícias. Finalmente, um médico veio dizer que ela estava bem e que ia voltar para casa dentro de dois ou três dias. Ainda ficava em observação, mas estava tudo bem para ela, claro! Para mim, ia continuar o sofrimento. Entretanto, chegaram os pais dela que me agradeceram muito. - Deves ser muito amiga da Diana, apesar de ela nunca nos ter falado de ti. Mas ela também não fala muito dos amigos. Eu apenas fiz um sorriso tímido para os pais. O que mais podia fazer? Claro que não era amiga da Diana. A Diana considerava-me a sua arqui-inimiga. Para ela, eu era o alvo a abater. Eu nem sabia bem porquê. Mas era assim. Ela tinha tentado explicar. Eu tinha a cabeça a prémio. Eu e o Nuno. Eu era inimiga dela por ser como era, por gostar de ler e de escrever. Ele apenas porque era meu amigo. Como era possível? Era só ela sair do hospital e a partir desse momento seria muito pior, pois ir-me-ia culpar do seu acidente. Eu só queria ir para casa e voltar à minha rotina e tentar esquecer aquela imagem. Tentar apagar da minha mente aqueles momentos, que me pareciam intermináveis, desde o instante em que ela apareceu e se iniciou o nosso diálogo até ao momento presente. Eu, pela primeira vez, tinha tentado enfrentá-la. Bem, não se pode dizer que a enfrentei, foi mais tê-la questionado, pois queria saber o porquê. Mas nem sei bem se gosto do que ouvi. Se estou mais descansada, ou se contrariamente ainda estou mais confusa e apavorada. Os meus pais, por sua vez, foram-me buscar e eu pude regressar a casa, depois de um dia extenuante e muito diferente daquele que imaginara. Tudo voltou ao normal na escola, o Nuno regressou e claro, soube do acidente da Diana. Entretanto, tive de prestar declarações, mas o dono do carro ainda não fora identificado. Eu, como estava preocupada com a Diana, nem me lembrei de olhar para a matrícula do carro. Só me lembro da sua cor.
  • 8. Página 8 de 12 A Diana também regressou à escola. Mas eu nem tento aproximar-me dela. Ela deve andar a planear o modo como me irá atacar. Por enquanto, nem ela nem nenhum dos seus amigos me disseram ou fizeram nada. Só me resta estar alerta. O mais perturbante de tudo continuam a ser as noites. Quando fecho os olhos, continuo a ver a Diana a atravessar aquela avenida e o carro a chegar. Ainda oiço o meu grito e ela a ignorá- lo, rindo-se de mim com aqueles olhos verdes de gato selvagem. Eu, impotentemente, corro e tento puxar por ela, mas volto a chegar tarde. Ela já está caída no chão e o carro continua a fugir e a abandonar-nos às duas ali sozinhas. O pesadelo lentamente vai-se dissipando e eu vou sentindo o alívio da sua ausência. Já consigo sentir a doçura reconfortante da almofada quando me deito, depois de viajar pelo mundo da leitura e da fantasia no livro que agora me faz companhia. O dia da cerimónia da entrega dos prémios do concurso “A arte da leitura e da escrita” estava finalmente marcado. A minha professora de Português, aquando da entrega do meu texto, procedeu à sua correção e, depois de o fazer, disse-me que o meu texto estava muito bom. O seguinte passo foi ter do entregar na nossa biblioteca para a seleção e, para minha grande surpresa e alegria, ele tinha sido selecionado. Agora, havia outras escolas do concelho a concurso, portanto, a meu ver, ia ser difícil conseguir um bom resultado. Eis que chegou o dia tão esperado! Como é habitual, a cerimónia de apresentação do concurso e de atribuição dos prémios decorre no auditório da Biblioteca Municipal com a presença da Presidente da Câmara, da Bibliotecária, que faz a apresentação, de uma escritora famosa, da Vereadora da Cultura e dos diversos Diretores dos Agrupamentos e Colégios. E nesse dia não foi exceção. Os prémios são sempre apresentados a partir dos níveis mais baixos, começando na educação pré-escolar e só no fim é que apresentam o ensino secundário. Portanto, eu ia ter muito que esperar. Junto dos meus pais, serenamente apreciava o excelente espetáculo cheio de luz, cor e os muitos textos e poemas que as crianças e jovens liam acompanhados pela suave música que ajudava a dar-lhes emoção e vida. As crianças da sala vencedora da Educação Pré-escolar, pois neste grau de ensino o prémio é por sala, apresentaram o texto que vencera. Interessante a forma como a história foi construída: um texto sem palavras. Ou melhor, o texto foi construído de tal modo que permitiu contar uma
  • 9. Página 9 de 12 história sem saberem ler. Estava fantástico, pois desenvolve nas crianças hábitos e gosto pela escrita e pela leitura. Fiquei, de facto, fascinada. Eu, e todos quantos se encontravam a assistir. Quando por fim chegou a vez do secundário, a Vereadora da Cultura chamou o aluno vencedor da menção honrosa e, logo de seguida, disse: - Dou os parabéns à aluna que escreveu o texto cuja originalidade, criatividade e correção levaram o júri do concurso a elegerem-no como o texto vencedor. Mas, antes de dizer o seu nome, vamos escutar a leitura de um outro texto da autoria da nossa laureada que nos fala sobre a beleza da leitura e da escrita lido por uma sua colega que pretende, desta forma, expressar toda a sua gratidão e amizade por ela. Os meus olhos não queriam acreditar no que viam, quando a Diana entrou e se dirigiu ao púlpito e, agradecendo à Sra. Vereadora, começou a leitura do texto que rapidamente eu identifiquei. “O que seria de nós sem a leitura e a escrita? Quando penso na leitura e na escrita, não me refiro apenas a juntar as letras, as sílabas, a formar ditongos, a ler palavras, frases, textos, ou simplesmente ler bem, mas sim, a ir mais além. A compreender o que se lê. A compreender para além da simples escrita, a aprofundar a leitura, a procurar nas entrelinhas o significado superior do que o escritor pretende transmitir. A exploração do significado mais profundo que às vezes parece estar ausente! Infelizmente, apercebo-me que muitos não o conseguem ou querem alcançar. Muitos de nós aprendemos a ler e a escrever, mas não queremos tirar proveito desse facto, pois não queremos pegar neste belo instrumento e lutar pelo nosso futuro. Pois é disso que se trata: o nosso futuro! Não queremos compreender a mensagem que está implícita na escrita e na leitura. É fácil compreender que, ao não saber escrever e ler bem, não se consegue compreender bem. Logo, não se consegue estudar com proveito. Desta maneira, como se pode estudar as várias disciplinas? Se não se consegue ler bem, não se pode aprender bem: Português, Matemática, Físico-Química, Biologia, ou outra disciplina qualquer. Sem dúvida, que isto me faz pensar! Contrariamente, a importância de ler e de ler bem, explorando todos os seus lados, facilita, sem dúvida, o estudo. A capacidade de ler bem leva-nos a ter maior sucesso, porque permite alcançar mais facilmente o conhecimento em todos os domínios. Ao ler, conhecemos novos lugares, viajamos sem fim, sem rumo… Exploramos sem nos intrometermos, sem alterarmos os factos, nem os espaços, nem a fauna, nem a flora… Permite-
  • 10. Página 10 de 12 nos questionar, duvidar e, por isso mesmo, pensar e representar. Ao ler, podemos alterar as situações, representar personagens, discutir com elas, mudar o final da história. A capacidade de ler para um público também não é para todos, assim como a capacidade de estar só quando se lê, a capacidade de ouvir o nosso silêncio, de sonhar e de sofrer, de sorrir e de chorar, de viajar para mundos de aventura, de ilusão e de sofrimento, de alegria e felicidade, também não. Ler faz-nos sentir uma emoção e um prazer que anima o nosso íntimo. Enfim, é esta capacidade de ler que me leva a amar a escrita, que me leva ao meu bem-estar, seja ele em casa, seja na escola, ou em qualquer outro lugar. Seja qual for a ocasião da nossa vida, podemos recorrer à leitura, podemos ler com gosto, com prazer. A leitura pode funcionar como fonte de conhecimento, de informação, de descoberta, de imaginação ou sonho. Mas ela foi, é e será sempre uma fonte de riqueza que nos fará voar pela realidade da ciência, passar por mensagens e histórias, desejar, sofrer, sonhar, … conhecer as experiências de outros Homens e outras épocas, aceder a diferentes modos de vida e pensamentos e, por fim, voar até à fantasia da mais pura história infantil das «Mil e uma noites». Sei que muitos não sentem esta minha afeição por ler e por escrever e que até me criticam. Ler é de todas a minha grande capacidade e sinto que esta riqueza, que tenho dentro de mim, me leva a uma aprendizagem constante e da qual eu tiro um prazer infinito, me faz crescer e por isso, para mim, ler é uma festa!”. Como é que o meu texto lhe tinha chegado às mãos? Ninguém o conhecia, se nem mesmo eu lhe tinha pegado mais. Tinha-o escrito num momento de pura distração em que pensava como muitos maltratavam a leitura e a escrita. O que iriam pensar? Pois, nem sequer tinha sido corrigido pela professora de Português. Mas ouvi os presentes baterem palmas, enquanto uma bela melodia preenchia o auditório e acabei por esquecer o assunto. Diana prendeu o seu olhar no meu e sorriu. Eu nem acreditava naquele rosto que olhava para mim, parecia-me tão igual e tão diferente da Diana que eu conhecia e que me odiava. A Vereadora, com um sorriso no olhar, exclamou: - Sofia Rodrigues, a grande e justa vencedora do concurso: “A arte da leitura e da escrita”. A medo, levantei-me enquanto a Vereadora, depois de me cumprimentar e de me dar o meu certificado e o meu prémio, acrescentou: - Meus amigos, ainda há outra surpresa para a nossa vencedora. Podes sentar-te, Sofia. Fiquei sem saber bem o que fazer e o que pensar… Mas, agradeci timidamente e regressei ao meu lugar.
  • 11. Página 11 de 12 Diana continuou com aquele novo sorriso e olhou para mim num misto de… nem consegui definir. Para ser sincera, vi neles mágoa e alegria, mas uma alegria diferente de quando gozava comigo. Nesse preciso momento, não consegui explicar o que estava diferente nesta nova Diana. A Vereadora, por sua vez, passou-lhe novamente a palavra. - Eu sempre fui uma pessoa má. – o silêncio cortante, que se fez sentir, arrepiava o mais herói dos presentes. – Sim, eu incentivei o bullying na minha escola. Desde tenra idade, persegui a Sofia. Agredi-a verbalmente e, ultimamente, cheguei a ameaçá-la fisicamente, a ela e a um amigo. E sabem porquê? Por inveja. Por ela ser um alvo fácil. Por não me dar resposta. Por não se tentar defender. Por fazer aquilo de que gosta. Por gostar de estudar, por gostar de ler e de escrever! E sabem qual foi a resposta dela, quando eu precisei da sua ajuda? Quando eu mais necessitei de alguém para me ajudar? Ela ficou ali comigo. Pediu ajuda. Esperou para ver como eu estava. Aguardou que lhe dissessem que eu estava bem e só depois é que regressou a casa. Nunca me abandonou, apesar de tudo o que eu sempre representei para ela. Hoje, movi mundos e pedi à Sra. Vereadora para me deixar ler um texto seu, o qual os seus pais me facultaram, e ainda me foi permitido dizer estas palavras finais. Por tudo isto, eu quero agradecer-te e também expressar, em frente a todos vós e em particular a ti, minha salvadora, o meu arrependimento de tudo o que fiz, não só a ti como a muitos outros, e prometer que vou lutar para que o bullying deixe de ser uma realidade na nossa escola. Os bombeiros têm um prémio anual para o qual eu propus a Sofia, e é esse prémio que ela hoje também vai receber e que eu fui autorizada a revelar. Mais uma vez, a Diana encarou-me e eu senti o meu rosto ficar húmido pelas lágrimas, que teimosas, não consegui evitar, enquanto o público aplaudia. Eu senti que flutuava e que a qualquer instante certamente iria acordar de um sonho vivido e não de uma realidade que estava a viver. O Sr. Comandante dos Bombeiros Voluntários entregou-me, então, uma estatueta em miniatura e fazendo a continência congratulou-me, dizendo: - Parabéns! Dos meus lábios saiu um ténue “obrigada!”, pois os meus olhos estavam decerto raiados do fogo da água que tentava conter, enquanto Diana continuava o seu já longo discurso: - Não gostaria de ir sem dizer a todos que sempre fui péssima aluna, pois desprezava aquilo que a Sofia dá mais prazer: o ler e o escrever. Desprezava, disse bem. Pois, nos últimos tempos, tenho sido uma frequentadora assídua desta biblioteca, da qual já sou leitora desde o dia em que
  • 12. Página 12 de 12 saí do hospital. Gostaria de terminar conforme a Sofia, a minha amiga, com um A muito grande, terminou o texto que há pouco acabei de vos ler: “Ler é uma Festa!”. O público mais uma vez, mas nesse momento de pé, aplaudiu estrondosamente. Porém, não sei porquê! Se por eu ter ganho os prémios, ou se foi por a Diana ter feito um discurso tão moralizador, ou então por ela se ter convertido. O que eu sei é que a Diana, apanhando-me completamente de surpresa, abraçou-me e eu, que sou um coração não de manteiga, mas de açúcar, acabei a abraçá-la também. E sim, sem dúvida que ler une as pessoas, por isso, ler só pode ser uma Festa!