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          1ª Edição – 2011
__Esta professora deve estar louca! –

                 disse a primeira aluna da fileira onde eu

                 estava sentada, com a cara pregada na mesa

                 da professora lá na frente.

       Minha turma inteira do 2º ano do Ensino Médio estava

chocada com a afirmativa da professora de Biologia de que

temos o código genético muito parecido com o do rato. Dava

para    notar   isso   pelos     protestos   horrorizados   que   se

espalharam pela sala. E pela cara de nojo das duas patricinhas

sentadas atrás de mim. E pelos guinchos esquisitos que vieram

lá do fundo da sala.

       Pois eu acreditei nela!

       Já notou como tem gente com a maior cara de animal?

Meu Tio Leonel, por exemplo, tem uma cara de coelho de dar

dó. E não são só os dentões dele, não. A cara toda sabe? Fico

sempre esperando ele aparecer com uma cenoura na mão.

       Já a minha professora da terceira série, costumava dar

uns rosnados incompreensíveis quando ficava brava, torcendo

                                 4
o nariz de um jeito que só um cachorro buldogue consegue

fazer. E dava o maior resultado, pois bastava ela aparecer na

porta da sala, no final do recreio, para que a turma inteira

fizesse uma fila perfeita em menos de dois segundos.

     E a vendedora da loja de sorvetes na esquina da escola?

Leva o maior jeito de... Bem, eu ficaria o resto da manhã,

filosofando sobre    as características   animais   dos   seres

humanos, mas o garoto mais lindo que eu já tinha visto

apareceu na porta da minha sala, acompanhado da nossa

orientadora educacional. É claro que a turma inteira fechou a

boca, esperando alguma explicação lógica para o fato de um

garoto lindo e totalmente desconhecido estar parado do lado

de fora da sala. Afinal, isso não acontece todos os dias por

aqui. Na verdade, não me lembro de nada parecido nesse

século! O que é, definitivamente, uma das desvantagens de se

viver numa cidade tão pequena. E quando ela nos disse que

ele tinha acabado de ser transferido para a nossa escola, vindo

de Belo Horizonte, a metade da turma (pelo menos a metade

                             5
feminina), pregou os olhos nele e se esqueceu completamente

da professora parada lá na frente. Eu se fosse ela, teria falado

sobre genes perfeitos, porque aquele garoto era um exemplar

perfeito da raça humana.

      Grudei meus olhos nele também. Se aquele não era o

momento pelo qual eu esperei a minha vida inteira, juro que

vou comer um prato inteirinho de chuchu com quiabo e

brócolis e todos os outros legumes nojentos que a minha mãe

tenta me empurrar todos os dias. Por que ele se parecia

exatamente com o garoto dos meus sonhos! Você sabe do que

eu estou falando! Eu tinha acabado de ser fulminada por um

amor à primeira vista...

      E eu espero por esse dia desde que completei cinco anos!

Foi mais ou menos nessa época que eu descobri a minha

verdadeira vocação! Não estou falando que meus talentos se

resumem a ser a namorada de alguém, nem nada desse tipo,

mas foi quando eu decidi me tornar uma escritora de sucesso.

E foi quando eu comecei a escrever meu primeiro livro de

                             6
amor. Você sabe, um tipo de autobiografia. Muito na moda

atualmente...

     Claro que o fato importantíssimo de que eu ainda não

havia conhecido o meu garoto tem atrapalhando um pouco a

minha história, mas eu possuo aquele tipo de personalidade

persistente, que não desiste nunca! E isso não tem nada a ver

com a minha nacionalidade. Quer dizer, eu sou brasileira e

coisa e tal, mas eu já tinha planejado tudo e só estava

esperando que esse dia chegasse, confiante e persistentemente.

     E ele finalmente chegou... O dia, estou dizendo.

     Não é incrível você acordar um dia achando que ele vai

ser igual a todos os outros dias da sua vida: pentear os cabelos

do mesmo jeito de sempre, usar o mesmo batom de todos os

dias, vestir a mesma camiseta branca do uniforme da escola,

calçar aquele tênis que já está ficando meio velhinho (e que

não dá, de jeito nenhum, para ir a outro lugar além da escola),

tomar o leite com Nescau na caneca amarela que ganhou da

sua tia avó quando tinha sete anos, tudo isso sem desconfiar

                             7
que naquele dia, naquele único e extraordinário dia, alguma

coisa fantástica e totalmente inesperada vai dar início a um

redemoinho incontrolável de aventuras, a uma enxurrada

inacreditável de mistérios ou a uma incrível e maravilhosa

história de amor?

     Olhei para o Caio (não é um nome terrivelmente lindo?)

com olhos sonhadores. Olhei também para minha melhor

amiga do outro lado da sala, a Érica. Ela me deu um daqueles

seus olhares incompreensíveis. Às vezes, eu imagino porque

nós duas ficamos amigas, já que somos tão diferentes uma da

outra! Ela é alta, gosta de falar com gente que nunca viu na

vida, tem uns olhos ligeiramente amendoados que deixam os

garotos desnorteados e é a maior cuca fresca que eu já

encontrei na vida! Eu sou baixinha, fico completamente tímida

quando estou com gente que não conheço e possuo uma

capacidade desconcertante de me preocupar com tudo, numa

proporção infinitamente superior à medida normal dos fatos.

Mas bastou a gente se sentar na mesma mesinha, no primeiro

                            8
dia de aula do maternal, para não desgrudarmos mais uma da

outra.

     E eu só esperava que ela não estivesse suspirando alto e

imaginando que o Caio ia cair direto nos braços dela.

Exatamente como a garota magricela sentada atrás de mim. E

a que está do meu lado também. É que eu meio que estava

escutando um tipo de suspiro coletivo! Que começava lá no

fim da sala e terminava na primeira carteira. Ou um

pouquinho mais na frente, se a gente considerasse a cara que a

nossa professora estava fazendo! E não é que eu tenha medo

da concorrência, nem nada desse tipo, mas acho mesmo

horrível brigar com sua melhor amiga por causa de um garoto.

Não pense que eu estou preocupada porque ela é mais bonita

do que eu. Nem por que ela é mais alta e tem olhos verdes

incrivelmente tentadores. Eu realmente não ligo nem um

pouquinho para esse tipo de coisa. E não é que eu não seja

bonitinha. Por que eu sou! Bonitinha, quero dizer. Não do tipo

comercial de xampu, capa de revista ou novela de televisão.

                            9
Mas um tipo bonitinha normal, sabe como é. Claro que se eu

fosse uns 20 centímetros mais alta e tivesse longos cabelos

avermelhados, cheios de cachos sedutores e um bunda

empinada (que é, na verdade, exatamente como a Érica é) isso

contribuiria muito com o efeito final do meu visual. Mas é que

eu fui abençoada com genes genéricos. Você sabe. Olhos

normais, nariz normal, boca normal. Eu sei que, diante disso,

não foi muito inteligente da minha parte escolher uma melhor

amiga tão linda, mas a gente não pensa muito nas

consequências quando tem três anos de idade!

      E eu sei que a Érica adoraria ter o meu estilo mignon

(adjetivo: palavra francesa; mulher pequena e frágil; delicada) e usar

calças capri sem dar a impressão de que fez compras na seção

infantil da C&A e que ela realmente inveja o tom sedoso da

minha pele e vive vasculhando meu banheiro em busca do

creme milagroso que ela acha que eu uso no rosto todos os

dias. Acontece que eu não uso nada. Nada além do trio

sabonete, tônico de limpeza e hidratante, é claro. Mas eu acho

                               10
que ter escapado do resultado dos hormônios adolescentes e

ter uma pele branca e perfeita é só um tipo de compensação

cósmica pelo meu tamanho. Que poderia muito bem ter se

estendido até a parte superior da minha cabeça.

      Por que os meus cabelos... São terrivelmente terríveis.

Não são nem lisos nem cacheados. Não são nem pretos nem

loiros. Não são brilhantes nem opacos. Meus cabelos são...

nada! Claro que se eu fizesse escova todos os dias eles seriam

sempre lindos. Cairiam lisos e sedosos pelas minhas costas.

Mas não consigo convencer a minha mãe da importância de

me deixar ir ao salão todas as vezes que passo pelo chuveiro.

Ela sempre diz que meus cabelos são lindos como são:

ondulados, bastos, poéticos... Minha mãe não entende que eu

não quero cabelos poéticos. Quero cabelos lisos!

      E eu sei que passo dois terços da minha vida falando e

pensando neles, o que me transforma numa autêntica

cabelomaníaca. Fato cientificamente comprovado pelo uso

inadequado de quase cem palavras para descrevê-los. Tenho

                             11
uma certeza quase absoluta de que meu professor de redação

ficaria de cabelo em pé ao ler isso...

      E eu nem estava pensando nos meus cabelos. Estava

ocupada demais tentando atrair a atenção do Caio. Claro que

todas as outras meninas da sala fizeram a mesma coisa. Claro

que ele não deu a mínima bola para nenhuma de nós. No final

da quinta aula já estava exausta de parecer inteligente. A Érica

estava me olhando com aquela cara de já-sei-o-que-você-está-

pretendendo. Ignorei o olhar dela, mas acabei desistindo, por

ora. Minha avó já dizia que homem não gosta de mulher

inteligente.

      Quanto a isso, não posso fazer nada...




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Capítulo 1 ataques, contra-ataques e conquistas

  • 1. contra- ata Ataques, contra- ataques conquis e conquistas
  • 2. Outras obras da Autora Coleção Espelho Mágico * Amor versus Amor * Uma cilada, seis garotas e um super-herói * Quer casar comigo?
  • 3. Iolanda Medina contra- ata Ataques, contra- ataques e conquistas 1ª Edição – 2011
  • 4. __Esta professora deve estar louca! – disse a primeira aluna da fileira onde eu estava sentada, com a cara pregada na mesa da professora lá na frente. Minha turma inteira do 2º ano do Ensino Médio estava chocada com a afirmativa da professora de Biologia de que temos o código genético muito parecido com o do rato. Dava para notar isso pelos protestos horrorizados que se espalharam pela sala. E pela cara de nojo das duas patricinhas sentadas atrás de mim. E pelos guinchos esquisitos que vieram lá do fundo da sala. Pois eu acreditei nela! Já notou como tem gente com a maior cara de animal? Meu Tio Leonel, por exemplo, tem uma cara de coelho de dar dó. E não são só os dentões dele, não. A cara toda sabe? Fico sempre esperando ele aparecer com uma cenoura na mão. Já a minha professora da terceira série, costumava dar uns rosnados incompreensíveis quando ficava brava, torcendo 4
  • 5. o nariz de um jeito que só um cachorro buldogue consegue fazer. E dava o maior resultado, pois bastava ela aparecer na porta da sala, no final do recreio, para que a turma inteira fizesse uma fila perfeita em menos de dois segundos. E a vendedora da loja de sorvetes na esquina da escola? Leva o maior jeito de... Bem, eu ficaria o resto da manhã, filosofando sobre as características animais dos seres humanos, mas o garoto mais lindo que eu já tinha visto apareceu na porta da minha sala, acompanhado da nossa orientadora educacional. É claro que a turma inteira fechou a boca, esperando alguma explicação lógica para o fato de um garoto lindo e totalmente desconhecido estar parado do lado de fora da sala. Afinal, isso não acontece todos os dias por aqui. Na verdade, não me lembro de nada parecido nesse século! O que é, definitivamente, uma das desvantagens de se viver numa cidade tão pequena. E quando ela nos disse que ele tinha acabado de ser transferido para a nossa escola, vindo de Belo Horizonte, a metade da turma (pelo menos a metade 5
  • 6. feminina), pregou os olhos nele e se esqueceu completamente da professora parada lá na frente. Eu se fosse ela, teria falado sobre genes perfeitos, porque aquele garoto era um exemplar perfeito da raça humana. Grudei meus olhos nele também. Se aquele não era o momento pelo qual eu esperei a minha vida inteira, juro que vou comer um prato inteirinho de chuchu com quiabo e brócolis e todos os outros legumes nojentos que a minha mãe tenta me empurrar todos os dias. Por que ele se parecia exatamente com o garoto dos meus sonhos! Você sabe do que eu estou falando! Eu tinha acabado de ser fulminada por um amor à primeira vista... E eu espero por esse dia desde que completei cinco anos! Foi mais ou menos nessa época que eu descobri a minha verdadeira vocação! Não estou falando que meus talentos se resumem a ser a namorada de alguém, nem nada desse tipo, mas foi quando eu decidi me tornar uma escritora de sucesso. E foi quando eu comecei a escrever meu primeiro livro de 6
  • 7. amor. Você sabe, um tipo de autobiografia. Muito na moda atualmente... Claro que o fato importantíssimo de que eu ainda não havia conhecido o meu garoto tem atrapalhando um pouco a minha história, mas eu possuo aquele tipo de personalidade persistente, que não desiste nunca! E isso não tem nada a ver com a minha nacionalidade. Quer dizer, eu sou brasileira e coisa e tal, mas eu já tinha planejado tudo e só estava esperando que esse dia chegasse, confiante e persistentemente. E ele finalmente chegou... O dia, estou dizendo. Não é incrível você acordar um dia achando que ele vai ser igual a todos os outros dias da sua vida: pentear os cabelos do mesmo jeito de sempre, usar o mesmo batom de todos os dias, vestir a mesma camiseta branca do uniforme da escola, calçar aquele tênis que já está ficando meio velhinho (e que não dá, de jeito nenhum, para ir a outro lugar além da escola), tomar o leite com Nescau na caneca amarela que ganhou da sua tia avó quando tinha sete anos, tudo isso sem desconfiar 7
  • 8. que naquele dia, naquele único e extraordinário dia, alguma coisa fantástica e totalmente inesperada vai dar início a um redemoinho incontrolável de aventuras, a uma enxurrada inacreditável de mistérios ou a uma incrível e maravilhosa história de amor? Olhei para o Caio (não é um nome terrivelmente lindo?) com olhos sonhadores. Olhei também para minha melhor amiga do outro lado da sala, a Érica. Ela me deu um daqueles seus olhares incompreensíveis. Às vezes, eu imagino porque nós duas ficamos amigas, já que somos tão diferentes uma da outra! Ela é alta, gosta de falar com gente que nunca viu na vida, tem uns olhos ligeiramente amendoados que deixam os garotos desnorteados e é a maior cuca fresca que eu já encontrei na vida! Eu sou baixinha, fico completamente tímida quando estou com gente que não conheço e possuo uma capacidade desconcertante de me preocupar com tudo, numa proporção infinitamente superior à medida normal dos fatos. Mas bastou a gente se sentar na mesma mesinha, no primeiro 8
  • 9. dia de aula do maternal, para não desgrudarmos mais uma da outra. E eu só esperava que ela não estivesse suspirando alto e imaginando que o Caio ia cair direto nos braços dela. Exatamente como a garota magricela sentada atrás de mim. E a que está do meu lado também. É que eu meio que estava escutando um tipo de suspiro coletivo! Que começava lá no fim da sala e terminava na primeira carteira. Ou um pouquinho mais na frente, se a gente considerasse a cara que a nossa professora estava fazendo! E não é que eu tenha medo da concorrência, nem nada desse tipo, mas acho mesmo horrível brigar com sua melhor amiga por causa de um garoto. Não pense que eu estou preocupada porque ela é mais bonita do que eu. Nem por que ela é mais alta e tem olhos verdes incrivelmente tentadores. Eu realmente não ligo nem um pouquinho para esse tipo de coisa. E não é que eu não seja bonitinha. Por que eu sou! Bonitinha, quero dizer. Não do tipo comercial de xampu, capa de revista ou novela de televisão. 9
  • 10. Mas um tipo bonitinha normal, sabe como é. Claro que se eu fosse uns 20 centímetros mais alta e tivesse longos cabelos avermelhados, cheios de cachos sedutores e um bunda empinada (que é, na verdade, exatamente como a Érica é) isso contribuiria muito com o efeito final do meu visual. Mas é que eu fui abençoada com genes genéricos. Você sabe. Olhos normais, nariz normal, boca normal. Eu sei que, diante disso, não foi muito inteligente da minha parte escolher uma melhor amiga tão linda, mas a gente não pensa muito nas consequências quando tem três anos de idade! E eu sei que a Érica adoraria ter o meu estilo mignon (adjetivo: palavra francesa; mulher pequena e frágil; delicada) e usar calças capri sem dar a impressão de que fez compras na seção infantil da C&A e que ela realmente inveja o tom sedoso da minha pele e vive vasculhando meu banheiro em busca do creme milagroso que ela acha que eu uso no rosto todos os dias. Acontece que eu não uso nada. Nada além do trio sabonete, tônico de limpeza e hidratante, é claro. Mas eu acho 10
  • 11. que ter escapado do resultado dos hormônios adolescentes e ter uma pele branca e perfeita é só um tipo de compensação cósmica pelo meu tamanho. Que poderia muito bem ter se estendido até a parte superior da minha cabeça. Por que os meus cabelos... São terrivelmente terríveis. Não são nem lisos nem cacheados. Não são nem pretos nem loiros. Não são brilhantes nem opacos. Meus cabelos são... nada! Claro que se eu fizesse escova todos os dias eles seriam sempre lindos. Cairiam lisos e sedosos pelas minhas costas. Mas não consigo convencer a minha mãe da importância de me deixar ir ao salão todas as vezes que passo pelo chuveiro. Ela sempre diz que meus cabelos são lindos como são: ondulados, bastos, poéticos... Minha mãe não entende que eu não quero cabelos poéticos. Quero cabelos lisos! E eu sei que passo dois terços da minha vida falando e pensando neles, o que me transforma numa autêntica cabelomaníaca. Fato cientificamente comprovado pelo uso inadequado de quase cem palavras para descrevê-los. Tenho 11
  • 12. uma certeza quase absoluta de que meu professor de redação ficaria de cabelo em pé ao ler isso... E eu nem estava pensando nos meus cabelos. Estava ocupada demais tentando atrair a atenção do Caio. Claro que todas as outras meninas da sala fizeram a mesma coisa. Claro que ele não deu a mínima bola para nenhuma de nós. No final da quinta aula já estava exausta de parecer inteligente. A Érica estava me olhando com aquela cara de já-sei-o-que-você-está- pretendendo. Ignorei o olhar dela, mas acabei desistindo, por ora. Minha avó já dizia que homem não gosta de mulher inteligente. Quanto a isso, não posso fazer nada... 12