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GERENCIAR IDÉIAS: UMA ABORDAGEM EMPREENDEDORA PARA
             PROJETOS INTERDISCIPLINARES


                           Anderson Antônio Mattos Martins, M. Sc. *
                              Andréa Martins Andujar, M. Sc. *
                              Chames Maria Stallivieri Gariba **
                                  Edis Mafra Lapolli, Dr. ***
                             Fernando Augusto Gauthier, Dr. ***
                                   Glaycon Michels, Dr. ***
                              Maurício Gariba Júnior, M. Eng. *
                                  Paulo Roberto Weigmann *
                                 Waléria Külkamp Haeming *

                               * Escola Técnica Federal de Santa Catarina
                                   Av. Mauro Ramos, 950, Fpolis/SC
                                        gariba@cefetsc.rct-sc.br
                                ** Prefeitura Municipal de Florianópolis
                                        chamesgab@bol.com.br
                   *** Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - PPGEP
                                UFSC, Campus Universitário, Fpolis/SC
                                           oriente@led.ufsc.br



                                                RESUMO

O presente artigo trata de projetos interdisciplinares numa perspectiva empreendedora, apontando a
necessidade de uma educação voltada para o desenvolvimento de competências, ou seja, mais flexível,
abrangente e polivalente em consonância com o mundo do trabalho em que a versatilidade e a adaptabilidade
permeiam todas as ações individuais e coletivas. Parte-se de uma reflexão sobre o papel da educação no tocante
às mudanças na sociedade. Em seguida, enfoca-se o que são projetos interdisciplinares e as competências que
eles requerem. Na seqüência, apresenta-se uma visão de competências empreendedoras e suas implicações
neste processo social de mudanças. Também, considera-se a importância de modelos de ensino pautados no
desenvolvimento de competências requeridas pela cidadania, fazendo-se uma analogia àquelas exigidas para
um perfil empreendedor. Por fim, conclui-se que essa articulação se evidencia como forte alternativa para uma
oferta de ensino adaptado ao mundo contemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE: Projetos Interdisciplinares, Empreendedorismo, Competências.

             INTRODUÇÃO

A educação tem por finalidade contribuir para a formação do homem pleno, inteiro, uno, que
alcance níveis cada vez mais competentes de integração das dimensões básicas - o eu e o
mundo - a fim de que seja capaz de resolver-se, resolvendo os problemas globais e complexos
que a vida lhe apresenta e que seja capaz também de, produzindo conhecimentos, contribuir
para a renovação da sociedade e a resolução dos problemas com que os grupos sociais se
defrontam.
Essa interligação se caracteriza como fundamental na orientação do trabalho de recuperar a
dinâmica das relações recíprocas do próprio sujeito do conhecimento consigo mesmo, com
seus semelhantes, com o produto social do seu trabalho e com a natureza de modo que se veja
como ser global e em relação.
Há a necessidade dessa preocupação em todo processo educativo: o desenvolvimento das
competências básicas tanto para o exercício da cidadania quanto para o desempenho de
atividades profissionais. Assim, “a capacidade de abstração, do raciocínio, da criatividade, da
curiosidade, da resolução de problemas diversos, da capacidade de trabalhar em equipe, da
disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do
pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento” cada vez
mais se fazem necessários na formação do aluno, segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio (PCNEM).
Concomitantemente, não há como negar: profissionais bem preparados para enfrentar os
desafios de economias globalizadas e competitivas dependem da formação a que eles foram
submetidos. Também a construção da cidadania implica domínio de novos códigos e
linguagens, incorporação das sofisticadas ferramentas da ciência e da tecnologia, entendimento
de conceitos sociológicos e apropriação da cultura traduzida em competências e habilidades
específicas.
No Brasil e em outros países do mundo, a partir da década de 80, o avanço científico e
tecnológico fez surgir novas tecnologias que passaram a ser utilizadas com intensidade.
Começou-se a eliminar empregos antes oferecidos em função dos processos de automação e
produção. Ao mesmo tempo, surgem novos modelos gerencias, dando início a novas práticas
administrativas nas empresas, a exemplo do “enxugamento de estruturas” o que contribuiu
sobremaneira para a redução dos postos de trabalho. Características como: autoconfiança,
habilidade em assumir riscos, flexibilidade, forte necessidade de realização pessoal e desejo
forte de independência permeiam o perfil do indivíduo (re)desenhado para esse novo cenário
social.
A questão que se coloca frente a essa realidade é: de que forma a escola pode se adequar às
reais necessidades deste mundo da produção e também, da ética e da cultura? Para que se
vislumbrem soluções para esse desafio, é necessário analisar um aspecto crucial: as
competências requeridas para o exercício da cidadania e para a sobrevivência no mundo do
trabalho estão em consonância com aquelas delineadas no currículo escolar?
Construir sentidos com base no conhecimento é o grande desafio para as novas modalidades de
ensino e um caminho para essa construção é a pedagogia de projetos. Projetos de estudo ou de
trabalho que integram várias disciplinas, tradicionalmente consideradas “extracurriculares”,
deverão tornar-se mais do que nunca “curriculares”. Isso implicará uma sintonia entre currículo
e conhecimento contemporâneo, em conseqüência, haverá o atrelamento da realidade à escola.
A proposta do trabalho por projetos está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado,
essa característica a remete para o enfoque empreendedor, não apenas no sentido restrito de
montar um negócio próprio, mas, acima de tudo, na acepção de possibilitar ao aluno localizar-
se e empreender-se a si próprio, na economia e na sociedade em permanente transformação.
Para que melhor se visualize essa conexão, é mister analisar os fatores que envolvem esse
atrelamento: projetos interdisciplinares e empreendedorismo e, em seguida, perceber as
competências requeridas para o sucesso de ambos.

           PROJETOS INTERDISCIPLINARES: UMA EDUCAÇÃO DINÂMICA E
           DIALÉTICA

É preciso pensar as questões do ensino considerando as conseqüências graves da fragmentação
dos saberes e da incapacidade de articulá-los uns aos outros. Torna-se fundamental também
problematizar a aptidão para contextualizar esses saberes e integrá-los a uma concepção
global.
Segundo MORAN (2000), “há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os
saberes separados, fragmentados, compartimentados entre as disciplinas e, por outro lado,
realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais,
transnacionais, globais, planetários.”
Convém considerar, além disso, que todas as tentativas de inovar em estratégias de ensino
mostram que o princípio norteador para uma (re)organização deve ser aquele que liga os
saberes e lhes dá sentido. Nesse contexto desponta a organização curricular através de
Projetos de Trabalho, que buscam a estrutura cogniscitiva, o problema eixo; que veiculam os
diferentes saberes os quais confluem num tema para facilitar o estudo e a compreensão por
parte dos alunos. Essa estratégia de ensino abre as portas para a aprendizagem significativa,
contextualizada em que a criação, administração e compartilhamento de idéias dão respostas
inéditas, criativas e eficazes ao ato de aprender. Os projetos desencadeiam um novo olhar para
o fazer pedagógico. Isso se constata em HERNANDEZ (1998), define projeto como:
“a denominação de uma prática educacional que está sendo associada a algumas propostas de
reforma no Brasil. Tais reformas pretendem favorecer mudanças nas concepções e no modo de
atuar dos professores, na gestão das instituições de ensino e nas próprias funções da escola. Os
projetos aparecem como veículo para melhorar o ensino e como distintivo de uma escola que
opta pela atualização de seus conteúdos e pela adequação às necessidades dos alunos e dos
setores da sociedade aos quais cada instituição se vincula”.
Quanto a projetos interdisciplinares HERNANDEZ (1998) sustenta que:
“existem muitos caminhos para o pensamento complexo e , por isso, modos de organizar e
estudar os conteúdos (que não são “ objetos”, e sim modelos de significado). O que leva a
considerar que o melhor para ensinar seja através da pesquisa, observando os diferentes
contextos sociais de procedência dos estudantes e os caminhos ou estratégias que podem usar
para questioná-los, estabelecer relações e criar novas perguntas”
Quando se fala em projetos a primeira questão que vem à tona é “inovação” e vem o
questionamento: os projetos são uma novidade ou uma adaptação?
No início do século XX, mais precisamente em 1918, Dewey , Kilpatrick e Elisabeth
Parkhurst já enfrentavam esse desafio. Já Bruner nos anos 60, tinha a proposta de que o
ensino deveria preocupar-se em facilitar para os alunos conceitos-chave vinculados às
estruturas dos conhecimentos. Stenhouse nos anos 70, tomou como importante a
aprendizagem a partir de situações- problemas, vinculada ao contexto da aprendizagem,
situando os alunos para que aprendessem em relação à(s) cultura(s) nas quais os
conhecimentos tiveram origem.
Das linhas educativas da década de 80, temos a visão construtivista sobre a aprendizagem em
que o aluno exerce uma influência na forma como ele adquiri um novo conhecimento. Em
1993 McClintock considerou que a educação precisaria ser repensada, em relação a valores
sociais e conhecimentos disciplinares - aspectos que cada vez mais vêm sofrendo modificações
- e que a escola de hoje é reflexo do século XIX com alternativas enraizadas no século XVII.
Da tradição do início do século, HERNANDEZ (1998), compartilha a importância de partir
de uma situação problemática, favorecendo um processo de aprendizagem que esteja vinculada
ao mundo de fora da escola oferecendo uma alternativa para a fragmentação das disciplinas.
De qualquer forma, é necessário reiterar que os projetos supõem, em debates e experiências,
uma abordagem do ensino que procura redefinir concepções e práticas educativas, dando
respostas às mudanças sociais, vivenciadas pelos alunos e não uma proposta do passado
atualizada.
A função do projeto, segundo HERNANDEZ (1998), “é favorecer a criação de estratégias de
organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação e os
diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses”. Este mundo emite sinais de que um
colecionador de informações, alguém que decora, memoriza, copia tende a ter baixa aceitação,
ocupando posições subalternas. O trabalhador dever ter um perfil de quem sabe lidar com
imprevistos, aprender com rapidez, ser autônomo e flexível. Essa realidade faz repensar o
papel do educador na relação com seu aluno e a construção de conhecimentos, na
transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento
próprio.
Segundo LÜCK (1999), “ a educação, enquanto se propõe a formar o cidadão para viver uma
vida em sentido mais pleno possível, de modo que possa conhecer e transformar sua situação
social e existencial marcada pela complexidade e globalidade, mostra a necessidade de adotar o
paradigma da interdisciplinaridade”, que é a base da pedagogia de projetos aqui enfatizada.
A interdisciplinaridade vem cada vez mais ao encontro de modelos educacionais voltados aos
novos formatos das relações de trabalho. A superação da fragmentação no contexto de ensino
provoca ações educativas que contribuem para a formação de jovens e adultos, de modo que
possam enfrentar os problemas das mais diversas ordens, com se defrontam e defrontarão
como cidadãos em uma sociedade cada vez mais polivalente e globalizada.
Isso porque a aquisição de conhecimentos e habilidades não pode acontecer de forma isolada e
descontextualizada. A falta de contato do conhecimento com a realidade faz com que se
produzam verdadeiros mosaicos de informações, de conhecimentos paralelos, desagregados
uns dos outros e, até mesmo, antagônicos.
A interdisciplinaridade surge como uma ferramenta para a reorganização do modo de
produção e elaboração do conhecimento, de forma que se diminuam as distâncias estabelecidas
entre o homem e o conhecimento que produz, dessa forma estabelecendo a unidade entre todo
o conhecimento produzido, com vistas a uma necessária contextualização.
Assim, problematiza-se o fazer pedagógico e contribui-se para a formação de pessoas capazes
de se defrontarem com problemas no seu ambiente cultural e natural, ou seja, transforma-se o
educar em ação dinâmica e dialética, visando desenvolver entre seus participantes a
consciência da realidade humana e social, da qual a escola faz parte na perspectiva
globalizadora.
O problema assim posto ratifica a adoção do enfoque interdisciplinar para orientar a prática
pedagógica, o que implica romper hábitos e acomodações, implica buscar algo novo e
desconhecido. É, certamente o grande desafio. A prática interdisciplinar centra-se no construir
o conhecimento em estreita e íntima interconexão com a vida e intercomunhão com seres.
As representações que os indivíduos fazem de sua realidade, e como sobre ela agem, tornam-se
o foco e a práxis do trabalho.
Nessa perspectiva, os projetos interdisciplinares segundo NOGUEIRA (1998), “surgem como
fontes de criação que passam por processos de pesquisa, aprofundamento, análise depuração e
criação de novas hipóteses, colocando em evidência as potencialidades dos elementos de uma
equipe” e, portanto, fazendo com que a escola rompa com as barreiras que a alienam do
cenário social.
O trabalhar por projetos insere-se num contexto de flexibilidade e dinamismo, já que propicia
riqueza de estímulo no processo de elaboração, permite diversas formas de aprendizagem, lida
com o erro de forma construtiva, enfim, possibilita ampliar muitas competências necessárias às
exigências do mercado e da sociedade como um todo.
A metodologia de projetos interdiscplinares desencadeia no aluno atitudes que o prepararão
para o enfrentamento da vida e para a intercomunhão com os seres.
Além disso, a autonomia, perpassa as atividades dessa estratégia de ensino, na medida em que
o professor passa a ter uma nova figura. É aquele que mostra, facilita os caminhos corretos,
fazendo com que os alunos se interessem pela pesquisa e pelo saber, ou seja, ele é o
intermediário entre o estudante e o conhecimento. Dessa forma, vê-se nitidamente uma quebra
de paradigmas no fazer pedagógico em que o saber passa a ser conseqüência do ser.
Professor e aluno revêem conceitos que regem a realidade nas relações de trabalho, bem como
(re)lidam com fatores de natureza cultural, tais como: valores, atitudes, comportamentos e
visão do mundo. Assim sendo, o sucesso da aprendizagem está atrelado ao comportamento,
os alunos geram seu conhecimento mobilizados pelo professor, na construção de seus
métodos próprios de aprendizado, na tomada de decisões, no traçar planos, no desencadear da
proposta delineada.
Assim concretizada, educação e sociedade estão imbricadas, na medida em que a primeira
impulsiona o desenvolvimento das competências cognitivas e culturais exigidas pela segunda,
decorrentes da revolução “sócio-tecnológica” e seus desdobramentos. Ainda mais, segundo os
PCNEM (1999), essa estratégia é “uma circunstância histórica inédita, na qual as capacidades
para o desenvolvimento produtivo seriam idênticas para o papel do cidadão e para o
desenvolvimento social.”

           PARADIGMA EMPREENDEDOR E COMPETÊNCIAS                                    PARA      A
           CIDADANIA: UM BINÔMIO POSSÍVEL

Cada vez mais experiências comprovam que o que se aprende na escola é superado
rapidamente por aquilo que se aprende fora dela. O acúmulo de informações torna-se cada vez
mais descartável. É preciso saber aprender fazendo, errando, corrigindo rumos, criando. Vive-
se a era da educação entendida como desenvolvimento de todo potencial humano. Segundo
DOLABELA (1999), “não só a razão, mas a emoção, o sonho, a auto-imagem como substrato
de atitudes e comportamentos criativos, inovadores que provoquem mudanças” devem
permear a formação do indivíduo.
Também as relações de trabalho mudaram, o emprego cede lugar à empregabilidade. Em
processos de contratação, são valorizadas, além das habilidades técnicas, capacidades como:
trabalhar em equipe, comunicação verbal e escrita, apresentação de idéias, dimensionamento
do tempo, autonomia para aprender entre outras competências pessoais.
A análise desse contexto nos remete a considerações sobre o paradigma empreendedor
permeando a formação de novos cidadãos. Segundo LAPOLLI e outros, (1998)
“Empreendedorismo é um processo que ocorre em diferentes ambientes e situações
empresariais. Provoca mudanças através da inovação feita por pessoas que geram ou
aproveitam oportunidades econômicas, que criam valor tanto para si próprios como
para a sociedadequot;.
Ser empreendedor é, conforme VÉRAS ( apud URIARTE, 2000): transformar idéias recentes
e inovadoras em negócios reais, e conseguir obter lucro com isso; definir prioridade e
objetivos; conhecer e compreender as necessidades e anseios dos clientes, criando e adaptando
produtos para satisfazê-los; buscar sempre a qualidade total, inclusive na perfeição do produto.
Reduzir custos e melhorar o atendimento; estar atento para o desempenho dos concorrentes;
agir com rapidez e eficácia na hora de resolver um problema; admitir erros, pois ninguém é
infalível; estar consciente de seus limites; concentrar energias onde for mais importante;
investir em treinamento pessoal e respeitar o jeito de ser do outro; estar atento para o que
acontece no mundo e não esquecer de que é um agente de desenvolvimento da sociedade;
conversar, ler, discutir e aceitar sugestões.
A abordagem aqui feita enfatiza que ser empreendedor hoje não significa necessariamente ser
um empresário com grandes meios de produção. A palavra empreendedor, de sentido bastante
amplo, no contexto aqui delineado ressalta a introjeção de valores, atitudes, comportamentos,
formas de percepção do mundo e de si mesmo, voltados para atividades em que o risco, a
capacidade de inovar, perseverar e de conviver com a incerteza são elementos indispensáveis.
Em BARRETO (1998), a palavra empreender deriva do latim “imprehendere”, sendo
incorporada à língua portuguesa no século XV. No entanto, a expressão “empreendedor”,
conforme a literatura pertinente, teria surgido na língua portuguesa apenas no século seguinte.
Já a expressão empreendedorismo parece ter sido originada da expressão “entrepreneurship”,
do francês “entrepreneur” e do inglês “ship”, cujo significado indica posição, relação, grau,
estado, qualidade, perícia ou habilidade
Por definição, em DEGEN (1989), lê-se que o empreendedor, é aquele que assume riscos e
cujo sucesso está relacionado à capacidade de conviver com eles e a eles sobreviver. Ser
empreendedor significa ter a necessidade de realizar coisas novas, pôr em prática idéias
próprias, além de possuir características de personalidade e comportamento que nem sempre é
fácil de encontrar.
Conforme CUNHA e FERLA (1997), empreendedor é alguém que define metas, busca
informações e é obstinado. SHAPERO (1977) considera o empreendedor como sendo alguém
decidido, que toma iniciativa de reunir recursos de modo inovador, gerando uma organização
relativamente independente, na qual o sucesso é incerto.
Segundo GERBER (1996), o empreendedor é um grande estrategista, criador de novos
métodos para penetrar e/ou criar novos mercados; lida bem com o desconhecido,
transformando possibilidades em probabilidades e caos em harmonia. Desse modo, o
empreendedor é um portador do mecanismo de mudança. Para KIRZNER (1997), o elemento
fundamental de um empreendedor é o seu estado de alerta.
PENROSE (1995) considera alguns aspectos importantes num empreendedor: versatilidade,
que estaria relacionada com a capacidade de imaginação e visão pessoal; Ambição; e
capacidade de julgamento. De acordo com DOLABELA (1999), “o empreendedor evolui
através de um processo interativo de tentativa e erro, avança em virtude das descobertas que
faz, as quais podem se referir a uma infinidade de elementos, como novas oportunidades,
novas formas de comercialização, vendas, tecnologia, gestão etc.” Conforme AZEVEDO
(1994), o empreendedor é, sobretudo, aquele indivíduo que tem necessidade de desenvolver
novos projetos. Feitas essas ponderações, observa-se que o paradigma empreendedor
considera competências básicas que podem ser contempladas na formação escolar, quais
sejam: tradução do pensamento em ações, iniciativa, autonomia, autoconfiança, necessidade de
realização, otimismo, método próprio de aprendizagem, criatividade e espírito desafiador.
No contexto educacional - qualquer que seja o nível - a formação escolar, dentro de um
paradigma inovador, busca (re)significar os conteúdos escolares como meios para constituição
de competências e valores e não como objetivos de ensino em si mesmos, bem como enfatiza
também a adoção de estratégias que mobilizem menos a memória e mais o raciocínio e outras
competências cognitivas tais como deduzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do fato
observado, entre outras.
BERGER FILHO (1998) define competências como “esquemas mentais, ou seja, as ações e
operações mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo ou psicomotor que mobilizadas e
associadas a saberes teóricos ou experiências geram habilidades, ou seja, um saber fazer”.
PERRENOUD (1999), em consonância, atesta que competência significa mobilizar um
conjunto de recursos cognitivos (saberes, habilidades, informações) para solucionar com
eficácia uma série de situações. Na visão do autor, a competência abrange conhecimentos e
esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, com vistas a desenvolver respostas
inéditas, criativas e eficazes. A descrição das competências deve partir da análise de situações,
da ação, e daí resultar em conhecimento. Portanto, devem estar associadas a contextos
culturais, profissionais e sociais, visto que os indivíduos não vivenciam as mesmas situações e
tão pouco se defrontam com os mesmos problemas.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio:
“a lei reconhece que nas sociedades contemporâneas todos, independentemente de sua origem
ou destino sócio-profissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho enquanto uma
das principais atividades humanas, enquanto campo de preparação para escolhas profissionais
futuras, enquanto espaço de exercício da cidadania, enquanto processo de produção de bens,
serviços e conhecimentos com as tarefas laborais que lhes são próprias.”
Assim concebida, a educação abre-se para o desenvolvimento das competências básicas à
formação pessoal, à autonomia intelectual, à criatividade, à solução de problemas, à análise e
prospecção, entre outras. Nessa perspectiva, educar transforma-se num processo permanente
de aprendizagem. Educar, de acordo com MORAN e outros (2000), “é ajudar os alunos na
construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida,
no desenvolvimento de habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes
permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos
realizados e produtivos”.
Com base nessas deferências, a formulação de competências afasta-se das abstrações e
respalda-se no trabalho por resolução de problemas e por projetos e na proposição de
desafios, pressupondo uma pedagogia ativa, cooperativa e contextualizada. Vê-se enfatizada
essa idéia também em BERGER FILHO (1998), que afirma, ao se referir à necessidade de
repensar a educação: “Está-se falando de uma outra escola menos voltada para o interior do
próprio sistema de ensino, diferente daquela na qual cada objeto de ensino esteja referido
apenas no momento seguinte da escolarização; menos centrada no acúmulo de informações
para consumo no próprio sistema escolar; menos orientada para uma falsa erudição
enciclopédica; menos referida ao tempo futuro”
Pensar um ensino que responda aos três eixos básicos: flexibilidade, diversidade e
contextualização é remetê-lo para fora dos muros da escola, em que a produção interna
integra-se à produção da prática social e ao desenvolvimento pessoal. Segundo BERGER
FILHO (1998):
“que reconhece a multiplicidade de agentes e fontes de informação e apropria-se deles
integrando-os ao seu fazer; que tem como centro da sua produção s construção de busca,
identificação, seleção, articulação e produção de conhecimentos para agir no e sobre o mundo;
que integre os tempos, apropriando-se do passado para articular o futuro no presente.”
Em MORAN (2000), encontramos a afirmação de que ensinar e aprender exigem hoje
flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo. Deparamo-nos hoje, com muitas
informações e das mais variadas, e a dificuldade está em escolher quais são significativas e
como integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. Frente a tal realidade, a aquisição da
informação dependerá cada vez menos do professor, cujo papel principal será o de ajudar o
aluno a desenvolver suas próprias competências.
Para desenvolver competências, enfatiza PERRENOUD (1999), é necessário trabalhar por
resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que estimulem os
alunos a mobilizar seus conhecimentos, o que pressupõe uma pedagogia ativa , cooperativa e
aberta à realidade de quem aprende. Neste sentido, ressalta MORAN (2000) que enquanto a
informação não fizer parte do contexto pessoal(intelectual e emocional) do educando, esta não
se tornará verdadeiramente significativa.
Para PERRENOUD (1999), a abordagem por competência redimensiona a figura do educador,
instigando-o a: considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados; trabalhar
regularmente por problemas; criar ou utilizar outros meios de ensino; negociar e conduzir
projetos com seus alunos; adotar um planejamento flexível e indicativo e improvisar; praticar
uma avaliação fornecedora em situação de trabalho; dirigir-se para uma menor
compartimentalização disciplinar; implementar e explicitar um novo contrato didático;
Nessa perspectiva, ao educando cabe construir seu conhecimento , sendo capaz de raciocinar
abstrata e significativamente sobre várias fontes, analisando e interpretando fenômenos,
selecionando informações relevantes, combinando e sintetizando conceitos apreendidos.
Também , deve o aluno ser criativo, inovador, questionador, buscar alternativas e soluções
para os problemas apresentados. Pelo que se constatou, as competências para a cidadania são
enfatizadas pela escola que leva seu fazer pedagógico para fora dela, ou seja, que integra o
conhecimento adquirido à possibilidade de instrumentalizá-lo para uma aprendizagem ao longo
da vida. As mudanças na sociedade, de uma forma geral, exigem novas posturas na educação,
não só por parte dos alunos, mas, principalmente, do professor e da Instituição que precisam
(re)significar seu fazer pedagógico sobre essas questões para, indubitavelmente, serem
tomados pela pergunta inevitável e óbvia: que tipo de estudante deve sair da escola para
sobreviver no mundo do trabalho?
As empresas dizem aos educadores que a formação exclusivamente especializada está
condenada pela velocidade tecnológica. Portanto, o aluno e futuro trabalhador deve ter uma
sólida formação geral que o habilite a lidar com necessidades específicas. Segundo BELLONI
(1999), “a educação deve preparar os jovens aprendentes para adquirir autonomia suficiente -
capacidade de aprender - que lhes permita continuar sua própria formação ao longo da vida
profissional.”

           CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em uma sociedade tão dinâmica e complexa, a Escola passou a assumir novas
responsabilidades e funções. As rápidas e freqüentes modificações da vida atual, causadas, em
parte, pelos grandes acontecimentos de repercussão mundial, criaram a necessidade de um
novo tipo de ensino.
Embora muito se tem avançado rumo aos verdadeiros caminhos da Educação, estamos em um
período de transição entre o ensino clássico tradicional e o ensino moderno. Apesar de várias
experimentações realizadas no campo da Educação, com ótimos resultados, muitos professores
mostram-se céticos em relação à eficácia desse e de outros novos métodos de ensino e
continuam a reproduzir aquele modelo de aprendizagem que servia ao tempo de seus pais,
avós e, quem sabe, ao seu próprio.
Sai-se da transmissão, às vezes caótica do conhecimento, para a construção do pensar, tão
necessário a qualquer cidadão. O professor muda sua concepção pedagógica e conscientiza-se
de que a informação o aluno encontra a sua volta. A ele - professor- cabe o papel de
articulador, orientador no processo ensino-aprendizagem.
Somado a isso, verifica-se que o papel do professor neste novo século, é o de “formador”.
Este sim será cada vez mais importante. Mais do que nunca o professor deverá levar para a
sala de aula um espírito empreendedor, gerando muita energia e criatividade, sugerindo
situações experimentais para facilitar a invenção de seu aluno, dando a ele condições para que
possa lidar com situações novas. Evidencia-se o caráter autônomo e flexível da construção do
conhecimento. O professor que surge como auxiliador do fazer sentido desencadeia o saber
fazer do aluno, o que implica a união mental de atitudes, procedimentos e da ação do re-fazer.
Dessa forma, são concebidos os projetos interdisciplinares que desencadeiam também
competências empreendedoras na medida em que desenvolvem: a versatilidade, a
adaptabilidade na articulação da informação necessária para tratar o problema objeto de
estudo; a busca de procedimentos adequados para desenvolver, ordenar, compreender e
aplicar; a intervenção argumentativa com pontos de vista alternativos, de forma a interferir
na realidade e propor alternativas de solução.
Ora, flexibilidade, articulação, busca, aplicação, intervenção são pilares do espírito
empreendedor tão necessário a qualquer ação humana. Percebe-se mais claramente ainda essa
articulação entre pedagogia de projetos interdisciplinares e paradigma empreendedor quando
se observam as características deste último, elencadas por CUNHA e FERLA (1997): visão:
busca de conceitos e idéias que possibilitam caminhar segundo uma direção pré-estabelecida;
energia: possui disposição para alcançar objetivos; comprometimento: despende esforços
pessoais para concretizar projetos; liderança: capacidade de agregar pessoas em torno de si e
movê-las em direção aos objetivos; obstinação: usa de estratégias alternativas para enfrentar
desafios e superar obstáculos; capacidade de decisão/concentração: possui senso de
prioridade; criatividade: apresenta personalidade criativa; independência: busca de
autonomia; entusiasmo: tem paixão pelo que faz.
Todas essas características permeiam o trabalho com projetos, na medida em que o processo
de conhecimento está integrado às práticas. Os alunos deixam de ser apenas um “aprendiz” do
conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. São seres humanos que estão desenvolvendo
uma atividade complexa e que nesse processo estão se apropriando         , ao mesmo tempo,
de um determinado objeto de conhecimento cultural e se formando como sujeito cultural.
A partir dessas características, podemos situar os projetos como uma proposta de intervenção
pedagógica que dá à atividade de aprender um sentido novo, em que as necessidades de
aprendizagem afloram nas tentativas de se resolver situações problemáticas, ou desafiantes,
como diriam os empreendedores.Um projeto gera situações de aprendizagem, ao mesmo
tempo, reais e diversificadas, ou novo olhar para o objeto, como diriam os empreendedores.
Possibilita, assim, que os educandos, ao decidirem, opinarem, debaterem, construam sua
autonomia e seu compromisso com o social, formando-se como sujeitos culturais, ou como
sujeitos capazes de gerar novas e boas idéias, como diriam os empreendedores.

           REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, João H. Como iniciar uma empresa de sucesso. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1994.

BARRETO, Luiz Pondé. Educação para o empreendedorismo: núcleo para estudos do
empreendedorismo. Salvador: Universidade Católica de Salvador, 1998.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 1999.

BERGER FILHO, R. L. Formação baseada em competências numa concepção inovadora
para a formação tecnológica. Anais do V Congresso de Educação Tecnológica dos Países do
MERCOSUL. Pelotas: MEC/SEMTEC/ETFPEL, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. INEP.ENEM - documento básico. Brasília: MEC/INEP,
1998.

BRASIL/Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. MEC,
dez.1996.

CUNHA, Cristiano J.C. de Almeida & FERLA, Luiz Alberto. Iniciando seu próprio negócio.
Florianópolis: Instituto de Estudos Avançados, 1997.

DEGEN, Ronald Jean. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo:
McGraw-Hill, 1989.

DOLABELA, Fernando. Oficina do empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Associados,
1999.

GERBER, Michael E. O mito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 1996.
__________________. O segredo de Luísa. São Paulo : Cultura Ed. Associados, 1999.

HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por
projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

_________________. Transgressão e mudanças na educação: os projetos de trabalho.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

_________________.Presença pedagógica, v. 4 n.20,1998.


KIRZNER, Israel M. Entrepreneurial discovery and the competitive market process: na
austrian approuch. Journal of Economic Literature, v.35, p.60-85, mar. 1997
LÜCK, Heloísa. Pedagogia Interdisciplinar. Petrópolis, RJ; Vozes, 1994.

MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e
telemáticas. In: Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.

MORIN, Edgar. A cabeça bem - feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Uma prática para o desenvolvimento das múltiplas
inteligências. São Paulo: Érica, 1998.

PENROSE, Edith. The theory of the growth of the firm. 3 ed. Oxford University, 1995.

PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 1999.

SHAPERO, A. The role of entrepreneurship in economic development at the less-than
national level. US Department of Commerce, Jan., 1977

VÉRAS, Gabriela. Como ser empresário. Revista Jovem Empreendedor. Florianópolis:
Editora empreendedor, 1999. p.12-16.

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Uma Abordagem Empreendedora

  • 1. GERENCIAR IDÉIAS: UMA ABORDAGEM EMPREENDEDORA PARA PROJETOS INTERDISCIPLINARES Anderson Antônio Mattos Martins, M. Sc. * Andréa Martins Andujar, M. Sc. * Chames Maria Stallivieri Gariba ** Edis Mafra Lapolli, Dr. *** Fernando Augusto Gauthier, Dr. *** Glaycon Michels, Dr. *** Maurício Gariba Júnior, M. Eng. * Paulo Roberto Weigmann * Waléria Külkamp Haeming * * Escola Técnica Federal de Santa Catarina Av. Mauro Ramos, 950, Fpolis/SC gariba@cefetsc.rct-sc.br ** Prefeitura Municipal de Florianópolis chamesgab@bol.com.br *** Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - PPGEP UFSC, Campus Universitário, Fpolis/SC oriente@led.ufsc.br RESUMO O presente artigo trata de projetos interdisciplinares numa perspectiva empreendedora, apontando a necessidade de uma educação voltada para o desenvolvimento de competências, ou seja, mais flexível, abrangente e polivalente em consonância com o mundo do trabalho em que a versatilidade e a adaptabilidade permeiam todas as ações individuais e coletivas. Parte-se de uma reflexão sobre o papel da educação no tocante às mudanças na sociedade. Em seguida, enfoca-se o que são projetos interdisciplinares e as competências que eles requerem. Na seqüência, apresenta-se uma visão de competências empreendedoras e suas implicações neste processo social de mudanças. Também, considera-se a importância de modelos de ensino pautados no desenvolvimento de competências requeridas pela cidadania, fazendo-se uma analogia àquelas exigidas para um perfil empreendedor. Por fim, conclui-se que essa articulação se evidencia como forte alternativa para uma oferta de ensino adaptado ao mundo contemporâneo. PALAVRAS-CHAVE: Projetos Interdisciplinares, Empreendedorismo, Competências. INTRODUÇÃO A educação tem por finalidade contribuir para a formação do homem pleno, inteiro, uno, que alcance níveis cada vez mais competentes de integração das dimensões básicas - o eu e o mundo - a fim de que seja capaz de resolver-se, resolvendo os problemas globais e complexos que a vida lhe apresenta e que seja capaz também de, produzindo conhecimentos, contribuir para a renovação da sociedade e a resolução dos problemas com que os grupos sociais se defrontam. Essa interligação se caracteriza como fundamental na orientação do trabalho de recuperar a dinâmica das relações recíprocas do próprio sujeito do conhecimento consigo mesmo, com seus semelhantes, com o produto social do seu trabalho e com a natureza de modo que se veja como ser global e em relação.
  • 2. Há a necessidade dessa preocupação em todo processo educativo: o desenvolvimento das competências básicas tanto para o exercício da cidadania quanto para o desempenho de atividades profissionais. Assim, “a capacidade de abstração, do raciocínio, da criatividade, da curiosidade, da resolução de problemas diversos, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento” cada vez mais se fazem necessários na formação do aluno, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM). Concomitantemente, não há como negar: profissionais bem preparados para enfrentar os desafios de economias globalizadas e competitivas dependem da formação a que eles foram submetidos. Também a construção da cidadania implica domínio de novos códigos e linguagens, incorporação das sofisticadas ferramentas da ciência e da tecnologia, entendimento de conceitos sociológicos e apropriação da cultura traduzida em competências e habilidades específicas. No Brasil e em outros países do mundo, a partir da década de 80, o avanço científico e tecnológico fez surgir novas tecnologias que passaram a ser utilizadas com intensidade. Começou-se a eliminar empregos antes oferecidos em função dos processos de automação e produção. Ao mesmo tempo, surgem novos modelos gerencias, dando início a novas práticas administrativas nas empresas, a exemplo do “enxugamento de estruturas” o que contribuiu sobremaneira para a redução dos postos de trabalho. Características como: autoconfiança, habilidade em assumir riscos, flexibilidade, forte necessidade de realização pessoal e desejo forte de independência permeiam o perfil do indivíduo (re)desenhado para esse novo cenário social. A questão que se coloca frente a essa realidade é: de que forma a escola pode se adequar às reais necessidades deste mundo da produção e também, da ética e da cultura? Para que se vislumbrem soluções para esse desafio, é necessário analisar um aspecto crucial: as competências requeridas para o exercício da cidadania e para a sobrevivência no mundo do trabalho estão em consonância com aquelas delineadas no currículo escolar? Construir sentidos com base no conhecimento é o grande desafio para as novas modalidades de ensino e um caminho para essa construção é a pedagogia de projetos. Projetos de estudo ou de trabalho que integram várias disciplinas, tradicionalmente consideradas “extracurriculares”, deverão tornar-se mais do que nunca “curriculares”. Isso implicará uma sintonia entre currículo e conhecimento contemporâneo, em conseqüência, haverá o atrelamento da realidade à escola. A proposta do trabalho por projetos está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado, essa característica a remete para o enfoque empreendedor, não apenas no sentido restrito de montar um negócio próprio, mas, acima de tudo, na acepção de possibilitar ao aluno localizar- se e empreender-se a si próprio, na economia e na sociedade em permanente transformação. Para que melhor se visualize essa conexão, é mister analisar os fatores que envolvem esse atrelamento: projetos interdisciplinares e empreendedorismo e, em seguida, perceber as competências requeridas para o sucesso de ambos. PROJETOS INTERDISCIPLINARES: UMA EDUCAÇÃO DINÂMICA E DIALÉTICA É preciso pensar as questões do ensino considerando as conseqüências graves da fragmentação dos saberes e da incapacidade de articulá-los uns aos outros. Torna-se fundamental também problematizar a aptidão para contextualizar esses saberes e integrá-los a uma concepção global.
  • 3. Segundo MORAN (2000), “há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre as disciplinas e, por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetários.” Convém considerar, além disso, que todas as tentativas de inovar em estratégias de ensino mostram que o princípio norteador para uma (re)organização deve ser aquele que liga os saberes e lhes dá sentido. Nesse contexto desponta a organização curricular através de Projetos de Trabalho, que buscam a estrutura cogniscitiva, o problema eixo; que veiculam os diferentes saberes os quais confluem num tema para facilitar o estudo e a compreensão por parte dos alunos. Essa estratégia de ensino abre as portas para a aprendizagem significativa, contextualizada em que a criação, administração e compartilhamento de idéias dão respostas inéditas, criativas e eficazes ao ato de aprender. Os projetos desencadeiam um novo olhar para o fazer pedagógico. Isso se constata em HERNANDEZ (1998), define projeto como: “a denominação de uma prática educacional que está sendo associada a algumas propostas de reforma no Brasil. Tais reformas pretendem favorecer mudanças nas concepções e no modo de atuar dos professores, na gestão das instituições de ensino e nas próprias funções da escola. Os projetos aparecem como veículo para melhorar o ensino e como distintivo de uma escola que opta pela atualização de seus conteúdos e pela adequação às necessidades dos alunos e dos setores da sociedade aos quais cada instituição se vincula”. Quanto a projetos interdisciplinares HERNANDEZ (1998) sustenta que: “existem muitos caminhos para o pensamento complexo e , por isso, modos de organizar e estudar os conteúdos (que não são “ objetos”, e sim modelos de significado). O que leva a considerar que o melhor para ensinar seja através da pesquisa, observando os diferentes contextos sociais de procedência dos estudantes e os caminhos ou estratégias que podem usar para questioná-los, estabelecer relações e criar novas perguntas” Quando se fala em projetos a primeira questão que vem à tona é “inovação” e vem o questionamento: os projetos são uma novidade ou uma adaptação? No início do século XX, mais precisamente em 1918, Dewey , Kilpatrick e Elisabeth Parkhurst já enfrentavam esse desafio. Já Bruner nos anos 60, tinha a proposta de que o ensino deveria preocupar-se em facilitar para os alunos conceitos-chave vinculados às estruturas dos conhecimentos. Stenhouse nos anos 70, tomou como importante a aprendizagem a partir de situações- problemas, vinculada ao contexto da aprendizagem, situando os alunos para que aprendessem em relação à(s) cultura(s) nas quais os conhecimentos tiveram origem. Das linhas educativas da década de 80, temos a visão construtivista sobre a aprendizagem em que o aluno exerce uma influência na forma como ele adquiri um novo conhecimento. Em 1993 McClintock considerou que a educação precisaria ser repensada, em relação a valores sociais e conhecimentos disciplinares - aspectos que cada vez mais vêm sofrendo modificações - e que a escola de hoje é reflexo do século XIX com alternativas enraizadas no século XVII. Da tradição do início do século, HERNANDEZ (1998), compartilha a importância de partir de uma situação problemática, favorecendo um processo de aprendizagem que esteja vinculada ao mundo de fora da escola oferecendo uma alternativa para a fragmentação das disciplinas. De qualquer forma, é necessário reiterar que os projetos supõem, em debates e experiências, uma abordagem do ensino que procura redefinir concepções e práticas educativas, dando respostas às mudanças sociais, vivenciadas pelos alunos e não uma proposta do passado atualizada. A função do projeto, segundo HERNANDEZ (1998), “é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação e os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses”. Este mundo emite sinais de que um colecionador de informações, alguém que decora, memoriza, copia tende a ter baixa aceitação,
  • 4. ocupando posições subalternas. O trabalhador dever ter um perfil de quem sabe lidar com imprevistos, aprender com rapidez, ser autônomo e flexível. Essa realidade faz repensar o papel do educador na relação com seu aluno e a construção de conhecimentos, na transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio. Segundo LÜCK (1999), “ a educação, enquanto se propõe a formar o cidadão para viver uma vida em sentido mais pleno possível, de modo que possa conhecer e transformar sua situação social e existencial marcada pela complexidade e globalidade, mostra a necessidade de adotar o paradigma da interdisciplinaridade”, que é a base da pedagogia de projetos aqui enfatizada. A interdisciplinaridade vem cada vez mais ao encontro de modelos educacionais voltados aos novos formatos das relações de trabalho. A superação da fragmentação no contexto de ensino provoca ações educativas que contribuem para a formação de jovens e adultos, de modo que possam enfrentar os problemas das mais diversas ordens, com se defrontam e defrontarão como cidadãos em uma sociedade cada vez mais polivalente e globalizada. Isso porque a aquisição de conhecimentos e habilidades não pode acontecer de forma isolada e descontextualizada. A falta de contato do conhecimento com a realidade faz com que se produzam verdadeiros mosaicos de informações, de conhecimentos paralelos, desagregados uns dos outros e, até mesmo, antagônicos. A interdisciplinaridade surge como uma ferramenta para a reorganização do modo de produção e elaboração do conhecimento, de forma que se diminuam as distâncias estabelecidas entre o homem e o conhecimento que produz, dessa forma estabelecendo a unidade entre todo o conhecimento produzido, com vistas a uma necessária contextualização. Assim, problematiza-se o fazer pedagógico e contribui-se para a formação de pessoas capazes de se defrontarem com problemas no seu ambiente cultural e natural, ou seja, transforma-se o educar em ação dinâmica e dialética, visando desenvolver entre seus participantes a consciência da realidade humana e social, da qual a escola faz parte na perspectiva globalizadora. O problema assim posto ratifica a adoção do enfoque interdisciplinar para orientar a prática pedagógica, o que implica romper hábitos e acomodações, implica buscar algo novo e desconhecido. É, certamente o grande desafio. A prática interdisciplinar centra-se no construir o conhecimento em estreita e íntima interconexão com a vida e intercomunhão com seres. As representações que os indivíduos fazem de sua realidade, e como sobre ela agem, tornam-se o foco e a práxis do trabalho. Nessa perspectiva, os projetos interdisciplinares segundo NOGUEIRA (1998), “surgem como fontes de criação que passam por processos de pesquisa, aprofundamento, análise depuração e criação de novas hipóteses, colocando em evidência as potencialidades dos elementos de uma equipe” e, portanto, fazendo com que a escola rompa com as barreiras que a alienam do cenário social. O trabalhar por projetos insere-se num contexto de flexibilidade e dinamismo, já que propicia riqueza de estímulo no processo de elaboração, permite diversas formas de aprendizagem, lida com o erro de forma construtiva, enfim, possibilita ampliar muitas competências necessárias às exigências do mercado e da sociedade como um todo. A metodologia de projetos interdiscplinares desencadeia no aluno atitudes que o prepararão para o enfrentamento da vida e para a intercomunhão com os seres. Além disso, a autonomia, perpassa as atividades dessa estratégia de ensino, na medida em que o professor passa a ter uma nova figura. É aquele que mostra, facilita os caminhos corretos, fazendo com que os alunos se interessem pela pesquisa e pelo saber, ou seja, ele é o intermediário entre o estudante e o conhecimento. Dessa forma, vê-se nitidamente uma quebra de paradigmas no fazer pedagógico em que o saber passa a ser conseqüência do ser. Professor e aluno revêem conceitos que regem a realidade nas relações de trabalho, bem como
  • 5. (re)lidam com fatores de natureza cultural, tais como: valores, atitudes, comportamentos e visão do mundo. Assim sendo, o sucesso da aprendizagem está atrelado ao comportamento, os alunos geram seu conhecimento mobilizados pelo professor, na construção de seus métodos próprios de aprendizado, na tomada de decisões, no traçar planos, no desencadear da proposta delineada. Assim concretizada, educação e sociedade estão imbricadas, na medida em que a primeira impulsiona o desenvolvimento das competências cognitivas e culturais exigidas pela segunda, decorrentes da revolução “sócio-tecnológica” e seus desdobramentos. Ainda mais, segundo os PCNEM (1999), essa estratégia é “uma circunstância histórica inédita, na qual as capacidades para o desenvolvimento produtivo seriam idênticas para o papel do cidadão e para o desenvolvimento social.” PARADIGMA EMPREENDEDOR E COMPETÊNCIAS PARA A CIDADANIA: UM BINÔMIO POSSÍVEL Cada vez mais experiências comprovam que o que se aprende na escola é superado rapidamente por aquilo que se aprende fora dela. O acúmulo de informações torna-se cada vez mais descartável. É preciso saber aprender fazendo, errando, corrigindo rumos, criando. Vive- se a era da educação entendida como desenvolvimento de todo potencial humano. Segundo DOLABELA (1999), “não só a razão, mas a emoção, o sonho, a auto-imagem como substrato de atitudes e comportamentos criativos, inovadores que provoquem mudanças” devem permear a formação do indivíduo. Também as relações de trabalho mudaram, o emprego cede lugar à empregabilidade. Em processos de contratação, são valorizadas, além das habilidades técnicas, capacidades como: trabalhar em equipe, comunicação verbal e escrita, apresentação de idéias, dimensionamento do tempo, autonomia para aprender entre outras competências pessoais. A análise desse contexto nos remete a considerações sobre o paradigma empreendedor permeando a formação de novos cidadãos. Segundo LAPOLLI e outros, (1998) “Empreendedorismo é um processo que ocorre em diferentes ambientes e situações empresariais. Provoca mudanças através da inovação feita por pessoas que geram ou aproveitam oportunidades econômicas, que criam valor tanto para si próprios como para a sociedadequot;. Ser empreendedor é, conforme VÉRAS ( apud URIARTE, 2000): transformar idéias recentes e inovadoras em negócios reais, e conseguir obter lucro com isso; definir prioridade e objetivos; conhecer e compreender as necessidades e anseios dos clientes, criando e adaptando produtos para satisfazê-los; buscar sempre a qualidade total, inclusive na perfeição do produto. Reduzir custos e melhorar o atendimento; estar atento para o desempenho dos concorrentes; agir com rapidez e eficácia na hora de resolver um problema; admitir erros, pois ninguém é infalível; estar consciente de seus limites; concentrar energias onde for mais importante; investir em treinamento pessoal e respeitar o jeito de ser do outro; estar atento para o que acontece no mundo e não esquecer de que é um agente de desenvolvimento da sociedade; conversar, ler, discutir e aceitar sugestões. A abordagem aqui feita enfatiza que ser empreendedor hoje não significa necessariamente ser um empresário com grandes meios de produção. A palavra empreendedor, de sentido bastante amplo, no contexto aqui delineado ressalta a introjeção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo, voltados para atividades em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e de conviver com a incerteza são elementos indispensáveis. Em BARRETO (1998), a palavra empreender deriva do latim “imprehendere”, sendo incorporada à língua portuguesa no século XV. No entanto, a expressão “empreendedor”,
  • 6. conforme a literatura pertinente, teria surgido na língua portuguesa apenas no século seguinte. Já a expressão empreendedorismo parece ter sido originada da expressão “entrepreneurship”, do francês “entrepreneur” e do inglês “ship”, cujo significado indica posição, relação, grau, estado, qualidade, perícia ou habilidade Por definição, em DEGEN (1989), lê-se que o empreendedor, é aquele que assume riscos e cujo sucesso está relacionado à capacidade de conviver com eles e a eles sobreviver. Ser empreendedor significa ter a necessidade de realizar coisas novas, pôr em prática idéias próprias, além de possuir características de personalidade e comportamento que nem sempre é fácil de encontrar. Conforme CUNHA e FERLA (1997), empreendedor é alguém que define metas, busca informações e é obstinado. SHAPERO (1977) considera o empreendedor como sendo alguém decidido, que toma iniciativa de reunir recursos de modo inovador, gerando uma organização relativamente independente, na qual o sucesso é incerto. Segundo GERBER (1996), o empreendedor é um grande estrategista, criador de novos métodos para penetrar e/ou criar novos mercados; lida bem com o desconhecido, transformando possibilidades em probabilidades e caos em harmonia. Desse modo, o empreendedor é um portador do mecanismo de mudança. Para KIRZNER (1997), o elemento fundamental de um empreendedor é o seu estado de alerta. PENROSE (1995) considera alguns aspectos importantes num empreendedor: versatilidade, que estaria relacionada com a capacidade de imaginação e visão pessoal; Ambição; e capacidade de julgamento. De acordo com DOLABELA (1999), “o empreendedor evolui através de um processo interativo de tentativa e erro, avança em virtude das descobertas que faz, as quais podem se referir a uma infinidade de elementos, como novas oportunidades, novas formas de comercialização, vendas, tecnologia, gestão etc.” Conforme AZEVEDO (1994), o empreendedor é, sobretudo, aquele indivíduo que tem necessidade de desenvolver novos projetos. Feitas essas ponderações, observa-se que o paradigma empreendedor considera competências básicas que podem ser contempladas na formação escolar, quais sejam: tradução do pensamento em ações, iniciativa, autonomia, autoconfiança, necessidade de realização, otimismo, método próprio de aprendizagem, criatividade e espírito desafiador. No contexto educacional - qualquer que seja o nível - a formação escolar, dentro de um paradigma inovador, busca (re)significar os conteúdos escolares como meios para constituição de competências e valores e não como objetivos de ensino em si mesmos, bem como enfatiza também a adoção de estratégias que mobilizem menos a memória e mais o raciocínio e outras competências cognitivas tais como deduzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do fato observado, entre outras. BERGER FILHO (1998) define competências como “esquemas mentais, ou seja, as ações e operações mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo ou psicomotor que mobilizadas e associadas a saberes teóricos ou experiências geram habilidades, ou seja, um saber fazer”. PERRENOUD (1999), em consonância, atesta que competência significa mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, habilidades, informações) para solucionar com eficácia uma série de situações. Na visão do autor, a competência abrange conhecimentos e esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, com vistas a desenvolver respostas inéditas, criativas e eficazes. A descrição das competências deve partir da análise de situações, da ação, e daí resultar em conhecimento. Portanto, devem estar associadas a contextos culturais, profissionais e sociais, visto que os indivíduos não vivenciam as mesmas situações e tão pouco se defrontam com os mesmos problemas. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: “a lei reconhece que nas sociedades contemporâneas todos, independentemente de sua origem ou destino sócio-profissional, devem ser educados na perspectiva do trabalho enquanto uma das principais atividades humanas, enquanto campo de preparação para escolhas profissionais
  • 7. futuras, enquanto espaço de exercício da cidadania, enquanto processo de produção de bens, serviços e conhecimentos com as tarefas laborais que lhes são próprias.” Assim concebida, a educação abre-se para o desenvolvimento das competências básicas à formação pessoal, à autonomia intelectual, à criatividade, à solução de problemas, à análise e prospecção, entre outras. Nessa perspectiva, educar transforma-se num processo permanente de aprendizagem. Educar, de acordo com MORAN e outros (2000), “é ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento de habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos”. Com base nessas deferências, a formulação de competências afasta-se das abstrações e respalda-se no trabalho por resolução de problemas e por projetos e na proposição de desafios, pressupondo uma pedagogia ativa, cooperativa e contextualizada. Vê-se enfatizada essa idéia também em BERGER FILHO (1998), que afirma, ao se referir à necessidade de repensar a educação: “Está-se falando de uma outra escola menos voltada para o interior do próprio sistema de ensino, diferente daquela na qual cada objeto de ensino esteja referido apenas no momento seguinte da escolarização; menos centrada no acúmulo de informações para consumo no próprio sistema escolar; menos orientada para uma falsa erudição enciclopédica; menos referida ao tempo futuro” Pensar um ensino que responda aos três eixos básicos: flexibilidade, diversidade e contextualização é remetê-lo para fora dos muros da escola, em que a produção interna integra-se à produção da prática social e ao desenvolvimento pessoal. Segundo BERGER FILHO (1998): “que reconhece a multiplicidade de agentes e fontes de informação e apropria-se deles integrando-os ao seu fazer; que tem como centro da sua produção s construção de busca, identificação, seleção, articulação e produção de conhecimentos para agir no e sobre o mundo; que integre os tempos, apropriando-se do passado para articular o futuro no presente.” Em MORAN (2000), encontramos a afirmação de que ensinar e aprender exigem hoje flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo. Deparamo-nos hoje, com muitas informações e das mais variadas, e a dificuldade está em escolher quais são significativas e como integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. Frente a tal realidade, a aquisição da informação dependerá cada vez menos do professor, cujo papel principal será o de ajudar o aluno a desenvolver suas próprias competências. Para desenvolver competências, enfatiza PERRENOUD (1999), é necessário trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que estimulem os alunos a mobilizar seus conhecimentos, o que pressupõe uma pedagogia ativa , cooperativa e aberta à realidade de quem aprende. Neste sentido, ressalta MORAN (2000) que enquanto a informação não fizer parte do contexto pessoal(intelectual e emocional) do educando, esta não se tornará verdadeiramente significativa. Para PERRENOUD (1999), a abordagem por competência redimensiona a figura do educador, instigando-o a: considerar os conhecimentos como recursos a serem mobilizados; trabalhar regularmente por problemas; criar ou utilizar outros meios de ensino; negociar e conduzir projetos com seus alunos; adotar um planejamento flexível e indicativo e improvisar; praticar uma avaliação fornecedora em situação de trabalho; dirigir-se para uma menor compartimentalização disciplinar; implementar e explicitar um novo contrato didático; Nessa perspectiva, ao educando cabe construir seu conhecimento , sendo capaz de raciocinar abstrata e significativamente sobre várias fontes, analisando e interpretando fenômenos, selecionando informações relevantes, combinando e sintetizando conceitos apreendidos. Também , deve o aluno ser criativo, inovador, questionador, buscar alternativas e soluções para os problemas apresentados. Pelo que se constatou, as competências para a cidadania são
  • 8. enfatizadas pela escola que leva seu fazer pedagógico para fora dela, ou seja, que integra o conhecimento adquirido à possibilidade de instrumentalizá-lo para uma aprendizagem ao longo da vida. As mudanças na sociedade, de uma forma geral, exigem novas posturas na educação, não só por parte dos alunos, mas, principalmente, do professor e da Instituição que precisam (re)significar seu fazer pedagógico sobre essas questões para, indubitavelmente, serem tomados pela pergunta inevitável e óbvia: que tipo de estudante deve sair da escola para sobreviver no mundo do trabalho? As empresas dizem aos educadores que a formação exclusivamente especializada está condenada pela velocidade tecnológica. Portanto, o aluno e futuro trabalhador deve ter uma sólida formação geral que o habilite a lidar com necessidades específicas. Segundo BELLONI (1999), “a educação deve preparar os jovens aprendentes para adquirir autonomia suficiente - capacidade de aprender - que lhes permita continuar sua própria formação ao longo da vida profissional.” CONSIDERAÇÕES FINAIS Em uma sociedade tão dinâmica e complexa, a Escola passou a assumir novas responsabilidades e funções. As rápidas e freqüentes modificações da vida atual, causadas, em parte, pelos grandes acontecimentos de repercussão mundial, criaram a necessidade de um novo tipo de ensino. Embora muito se tem avançado rumo aos verdadeiros caminhos da Educação, estamos em um período de transição entre o ensino clássico tradicional e o ensino moderno. Apesar de várias experimentações realizadas no campo da Educação, com ótimos resultados, muitos professores mostram-se céticos em relação à eficácia desse e de outros novos métodos de ensino e continuam a reproduzir aquele modelo de aprendizagem que servia ao tempo de seus pais, avós e, quem sabe, ao seu próprio. Sai-se da transmissão, às vezes caótica do conhecimento, para a construção do pensar, tão necessário a qualquer cidadão. O professor muda sua concepção pedagógica e conscientiza-se de que a informação o aluno encontra a sua volta. A ele - professor- cabe o papel de articulador, orientador no processo ensino-aprendizagem. Somado a isso, verifica-se que o papel do professor neste novo século, é o de “formador”. Este sim será cada vez mais importante. Mais do que nunca o professor deverá levar para a sala de aula um espírito empreendedor, gerando muita energia e criatividade, sugerindo situações experimentais para facilitar a invenção de seu aluno, dando a ele condições para que possa lidar com situações novas. Evidencia-se o caráter autônomo e flexível da construção do conhecimento. O professor que surge como auxiliador do fazer sentido desencadeia o saber fazer do aluno, o que implica a união mental de atitudes, procedimentos e da ação do re-fazer. Dessa forma, são concebidos os projetos interdisciplinares que desencadeiam também competências empreendedoras na medida em que desenvolvem: a versatilidade, a adaptabilidade na articulação da informação necessária para tratar o problema objeto de estudo; a busca de procedimentos adequados para desenvolver, ordenar, compreender e aplicar; a intervenção argumentativa com pontos de vista alternativos, de forma a interferir na realidade e propor alternativas de solução. Ora, flexibilidade, articulação, busca, aplicação, intervenção são pilares do espírito empreendedor tão necessário a qualquer ação humana. Percebe-se mais claramente ainda essa articulação entre pedagogia de projetos interdisciplinares e paradigma empreendedor quando se observam as características deste último, elencadas por CUNHA e FERLA (1997): visão: busca de conceitos e idéias que possibilitam caminhar segundo uma direção pré-estabelecida; energia: possui disposição para alcançar objetivos; comprometimento: despende esforços
  • 9. pessoais para concretizar projetos; liderança: capacidade de agregar pessoas em torno de si e movê-las em direção aos objetivos; obstinação: usa de estratégias alternativas para enfrentar desafios e superar obstáculos; capacidade de decisão/concentração: possui senso de prioridade; criatividade: apresenta personalidade criativa; independência: busca de autonomia; entusiasmo: tem paixão pelo que faz. Todas essas características permeiam o trabalho com projetos, na medida em que o processo de conhecimento está integrado às práticas. Os alunos deixam de ser apenas um “aprendiz” do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. São seres humanos que estão desenvolvendo uma atividade complexa e que nesse processo estão se apropriando , ao mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento cultural e se formando como sujeito cultural. A partir dessas características, podemos situar os projetos como uma proposta de intervenção pedagógica que dá à atividade de aprender um sentido novo, em que as necessidades de aprendizagem afloram nas tentativas de se resolver situações problemáticas, ou desafiantes, como diriam os empreendedores.Um projeto gera situações de aprendizagem, ao mesmo tempo, reais e diversificadas, ou novo olhar para o objeto, como diriam os empreendedores. Possibilita, assim, que os educandos, ao decidirem, opinarem, debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com o social, formando-se como sujeitos culturais, ou como sujeitos capazes de gerar novas e boas idéias, como diriam os empreendedores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, João H. Como iniciar uma empresa de sucesso. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1994. BARRETO, Luiz Pondé. Educação para o empreendedorismo: núcleo para estudos do empreendedorismo. Salvador: Universidade Católica de Salvador, 1998. BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 1999. BERGER FILHO, R. L. Formação baseada em competências numa concepção inovadora para a formação tecnológica. Anais do V Congresso de Educação Tecnológica dos Países do MERCOSUL. Pelotas: MEC/SEMTEC/ETFPEL, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. INEP.ENEM - documento básico. Brasília: MEC/INEP, 1998. BRASIL/Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. MEC, dez.1996. CUNHA, Cristiano J.C. de Almeida & FERLA, Luiz Alberto. Iniciando seu próprio negócio. Florianópolis: Instituto de Estudos Avançados, 1997. DEGEN, Ronald Jean. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, 1989. DOLABELA, Fernando. Oficina do empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. GERBER, Michael E. O mito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 1996.
  • 10. __________________. O segredo de Luísa. São Paulo : Cultura Ed. Associados, 1999. HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. _________________. Transgressão e mudanças na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. _________________.Presença pedagógica, v. 4 n.20,1998. KIRZNER, Israel M. Entrepreneurial discovery and the competitive market process: na austrian approuch. Journal of Economic Literature, v.35, p.60-85, mar. 1997 LÜCK, Heloísa. Pedagogia Interdisciplinar. Petrópolis, RJ; Vozes, 1994. MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. MORIN, Edgar. A cabeça bem - feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Uma prática para o desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 1998. PENROSE, Edith. The theory of the growth of the firm. 3 ed. Oxford University, 1995. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. SHAPERO, A. The role of entrepreneurship in economic development at the less-than national level. US Department of Commerce, Jan., 1977 VÉRAS, Gabriela. Como ser empresário. Revista Jovem Empreendedor. Florianópolis: Editora empreendedor, 1999. p.12-16.