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ISSN 2182-9489, e-ISSN 2182-0002

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índice

Editorial

O Museu de Arte do Rio — MAR:

Áurea da Paz Pinheiro

quando “navegar é preciso”

pág. 16-17

Rio de Janeiro Museum of Art:
for when “you need to browse”

Artigos

Ângela Âncora da Luz

Centro de Interpretação do Pampa:

pág. 69-77

a construção de um museu universitário-comunitário
Pampas Understanding Center: the construction

Universidade, educação, museus

of a community – college museum.

e ação patrimonial

Alexandre dos Santos Villas Bôas

University, education, museums and creating

Heloísa Helena Fernandes Gonçalves da Costa

patrimonial sites.

pág. 20-32

Áurea da Paz Pinheiro
Eloisa Capovila da Luz Ramos

A CONSERVAÇÃO E RESTAURO

Marta Rosa Borin

NA FACULDADE DE BELAS-ARTES

pág. 78-91

THE CONSERVATION AND RESTORATION
AT THE FACULTY OF FINE ARTS

Um museu de arte universitário brasileiro:

Alice Nogueira Alves

histórias de um projeto de arte em devir?

Fernando António Baptista Pereira

A Brazilian University Art Museum: stories

Fernando Rosa Dias

of an art project in becoming?

pág. 33-42

Carolina Ruoso
pág. 92-103

Museos de la memoria y educación
para los derechos humanos. Un estudio

O Fotográfico como Património Imaterial

de caso: MUME — Uruguay

Photography as Immaterial Heritage

Memory Museums and education about the

Maria Cecília Silveira de Faria Gomes

human rights. A case study: MUME — Uruguay

pág. 104-112

Ana María Sosa González
pág. 43-54

Projeto Cultural sarau noturno:
desenvolvendo a Educação Patrimonial

Museus do Distrito de Viseu: a construção

através da arte cemiterial

de uma rede de proximidade territorial

Cultural Project sarau noturno: developing

Museums of District of Viseu: framing

the Heritage Education through cemeterial art

of a territorial proximity network.

Clarisse Ismério

Ana Rita Santos Almeida Martins Antunes

pág. 113-127

pág. 55-68
Arte e comunidades: Um Arquivo Poético

Desenvolvimento do Público Interno.

sobre o Envelhecimento

Reflexões acerca da importância de se investir nos

Community Art: A Poetic Archive on Aging

funcionários de museus

Constança Saraiva

Development of Internal Audience. Reflections

pág. 128-138

about the importance of investing in museum employees
Gabriela Figurelli

Museologia e Integração: reflexões sobre

pág. 187-199

as condições de possibilidade na América Latina
Museology and Integration: reflections about

Museus e Criatividade

the conditions of possibility in Latin America

Museums and Creativity

Daniel Maurício Viana de Souza

Inês Ferreira

pág. 139-147

pág. 200-214

O patrimônio cinematográfico e o governo

A parede da rua: modernidade do museu

dos homens: as políticas de subjetivação postas em

ao contrário

funcionamento nas relações interculturais

The Wall Street: modernity of the unlike museum

da contemporaneidade

Isabel Nogueira

The cinematic heritage and the government

pág. 215-221

of men: the politics of subjectivization put into
operation in intercultural relations of contemporary

Sustentabilidade Ambiental

Fábio Zanoni

e Apropriação Social no Conjunto

pág. 148-167

Histórico Praça da Graça
Environmental Sustainability and Social

Narrativas museais na UNIVASF:

Appropriation in Praça da Graça

caminhos a/r/tográficos em construção

Historical Set

Museological narratives in UNIVASF:

Ísis Meireles Rodrigues

a/r/tographic ways under construction

pág. 222-234

Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos
pág. 168-175

Museus Locais: conservação
e produção da memória coletiva

Interações discursivas no trabalho

Local Museums: preservation and production of

de mediação em artes visuais

collective memory

Discursive interactions in the process

Joana Ganilho Marques

of mediation in visual arts

pág. 235-246

Gabriela Bon
pág. 176-186

Educação patrimonial e produção audiovisual
Heritage Education and Audiovisual Production
João Paulo Rodrigues Pires
pág. 247-254
A museologia brasileira: novo marco regulatório

La enseñanza del patrimonio en la

Brazilian Museology: a new regulatory mark

formación incial del profesorado. Desde

José Ricardo Oriá Fernandes

una perspectiva histórico-artística a una didáctica

pág. 255-262

del patrimonio cultural integrado.
HERITAGE TEACHING IN TEACHER TRAINING.

Os Museus como Espaços de Sociabilidade:

From an art-historical perspective to a didactic

as experiências educativas do museu de mértola

of cultural integrated heritage.

Museums as Spaces of Sociability: the

Olga Duarte Piña

educational experiences of mértola’s museum

pág. 323-335

Lígia Rafael
Maria de Fátima Palma

A Reconstrução Histórica de Objetos

pág. 263-275

de Ciência e Tecnologia
RECONSTRUCTION OF HISTORICAL OBJECTS

A EDUCAÇÃO DO RISCO:

OF SCIENCE AND TECHNOLOGY

uma proposta de inserção sócioeconómica

Paulo de Melo Noronha Filho

THE RISK EDUCATION:

pág. 336-347

a proposal for socioeconomic inclusion
Luís Gustavo de Nascimento

Museu Nacional de Arte Antiga

pág. 276-281

e Largo do Dr. José de Figueiredo:
linha que une — uma experiência de intervenção concreta

Visando à inclusão social:

Museu Nacional de Arte Antiga and Largo

criações a partir do patrimônio

do Dr. José de Figueiredo: Connecting line

In search of social inclusion:

— specific intervention experience

creations from patrimony

Pedro Soares Neves

Márcia Isabel Teixeira de Vargas

pág. 348-357

Marilda Mena Barreto Silva Saucedo
pág. 282-294

A Musealização do Patrimônio
Cultural do Bar Ocidente

Igreja de Nossa Senhora do Monte:

The Musealization of Bar Ocidente

história, identidade e preservação

Cultural Heritage

Church of Our Lady of Mount:

Priscila Chagas Oliveira

history, identity and preservation

pág. 358-367

Maria da Graça Andrade Dias
pág. 295-308

Arte, Arqueologia e Museus.
Correspondências e Mediações Contemporâneas

Um Projeto de Novas Tecnologias aplicado

Art, Archaeology and Museums. Contemporary

na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves

Correspondences and Mediations

New Technologies Project applied at

Sara Navarro

Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves

pág. 368-375

Mariana Mendes de Mesquita
pág. 309-322
O Material e o Imaterial na Coleção

Notas de Dissertações e Teses

Etnográfica de Cozinha do Museu

Museus do Distrito de Viseu: a construção

Carlos Machado

de uma rede de proximidade territorial

The genesis of the industrial and

Museums of District of Viseu: framing of a territorial

decorative arts museums

proximity network.

Sofia Carolina Pacheco Botelho

Ana Rita Santos Almeida Martins Antunes

pág. 376-388

Arte e Comunidades, um Arquivo Poético
sobre o Envelhecimento

A génese dos museus de artes

Community Art, a Poetic Archive on Aging

industriais e decorativas

Constança Saraiva

The Tangible and the Intangible at the

pág. 446-447

of the Carlos Machado Museum
Sofia Leal Rodrigues
pág. 389-402

Isto não é um bandeirante! O trabalho de
mediação na exposição “imagens recriam a história”
This is not a “bandeirante”! The educational work in
the exhibition “images recreate the history”
Valéria Peixoto de Alencar
pág. 403-415

Resenha
Tempo, Memória e Patrimônio Cultural
Áurea da Paz Pinheiro
pág. 418-420

Crítica de Arte e Design
Senhores de seu ofício
Cássia Moura
pág. 422-425

Entrevista
A museologia contemporânea
Fernando António Baptista Pereira
pág. 428-443
368
369

Arte, Arqueologia e Museus.
Correspondências
e Mediações Contemporâneas
Art, Archaeology and Museums.
Contemporary Correspondences and Mediations

Sara Navarro
CIEBA, Centro de Investigação e de Estudos em Belas Artes. Secção de Investigação e de
Estudos em Ciências da Arte e do Património - Francisco de Holanda

Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375.

Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.”

Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa

Resumo: A partir da constatação de que artistas e arqueólogos prestam, atualmente, cada vez mais atenção ao respectivo trabalho de uns e de outros, proponho explorar a forma como a arte contemporânea – em particular a escultura
– se pode encaixar no projeto arqueológico de estudo, compreensão e comunicação do passado humano.
Palavras-chave: Arte, Arqueologia e Transdisciplinaridade

Abstract: Stemming from the observation that artists and archaeologists are,
these days, paying more attention to each other’s work, I propose to explore
the way in which contemporary art – sculpture in particular – can fit in the
archaeological project of study, comprehension and communication of the human past.
Keywords: Art, Archaeology and Transdisciplinarity
Introdução

O diálogo, histórico e permanente, entre arte e arqueologia e a, cada vez mais
comum, colaboração de artistas nos projetos de investigação arqueológica leva-me, como ponto de partida para a presente comunicação, a questionar a natureza desta relação, o status do artista para a arqueologia e o interesse dos arqueólogos na prática artística.
Centrada no caráter reflexivo e subjetivo da cultura material, proponho o
desenvolvimento de novos métodos, menos científicos e mais estéticos, em que
o olhar dos artistas pode ser integrado na metodologia arqueológica, com vista
a desenvolver novos modos de ver e registar, de pensar e representar, de comunicar e expor.
Tal como acontece com a prática artística contemporânea, a meu ver, é crucial que o trabalho da arqueologia não se limite à análise hermética do passado, mas se envolva também na pluralidade e multivocalidade do pensamento
contemporâneo. Ainda que ciente das diferenças entre as disciplinas, acredito
que as propostas culturais da arte contemporânea podem ser um instrumento
valioso para a análise arqueológica.
A interdisciplinaridade leva, geralmente, à criação de pensamento original.
Rumo a um novo território intelectual, a prática interdisciplinar implica assumir riscos, criar rupturas, dar saltos, abdicar, quebrar convenções, renunciar à
facilidade de continuar dentro do que é expectado e, claro, do que é aceite.
Há muito que os artistas compreenderam que a transgressão das fronteiras
disciplinares e a resistência a categorizações leva a um desenvolvimento disciplinar, visando o crescimento e possibilitando uma ontologia transversal.
Penso que, tal como a arte, a arqueologia e os estudos patrimoniais podem
beneficiar ao localizar-se num campo expandido, num contexto mais alargado,
que é simultaneamente arqueológico, histórico e artístico.
Potes e Transfigurações: a arqueologia como pretexto
para a escultura

Após a minha licenciatura em Escultura, o trabalho que desenvolvi, entre 2006
e 2008 no Museu de Portimão, colocou-me em grande proximidade com o trabalho de uma equipa de arqueologia. Esta colaboração fez emergir questões relacionadas com a relevância do cruzamento entre o mundo da arte e o mundo da
arqueologia, na formação, visão e concepção da cultura contemporânea.
Com esta experiência, fui-me apercebendo de todo um campo de investigação
em que poderia dar um contributo inovador às perspectivas que se foram construindo no âmbito do diálogo entre arte e arqueologia, associando-lhes um trabalho de produção artística. Foi assim que, em 2008, iniciei a investigação de doutoramento em Escultura, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa,
sob o título Potes e Transfigurações: a arqueologia como pretexto para a escultura.
De carácter teórico-prático, o meu trabalho procura, através de uma ligação
entre a investigação arqueológica e a produção artística, a criação de objetos escultóricos que se aproximem das formas de cerâmica pré-histórica, distinguindo-se destas pela alteração da escala, por uma manipulação original dos esquemas decorativos e pela ruptura com a funcionalidade. Com este trabalho, espero
não só contribuir para uma visão alargada sobre a cerâmica pré-histórica, como
também encontrar o seu espaço na teoria da arte e mostrar a relevância do seu
estudo para a criação artística contemporânea.
O estudo da cerâmica arqueológica interessa-me na medida em que, a partir
dela, é possível recolher um conjunto de aspectos tecnológicos, morfológicos,
decorativos e simbólicos que podem, a meu ver, ser aplicados, com interesse, ao
campo da escultura contemporânea.
A minha curiosidade pela tecnologia de fabrico de cerâmica pré-histórica
levou-me, em 2007, ainda antes de iniciar a investigação de doutoramento, a
participar na II Oficina de Cerâmica Etnográfica, organizada pelas Oficinas do
Convento, em Montemor-o-Novo. Nesta oficina, pude observar o ‘saber-fazer’ de
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Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375.

Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.”

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oleiras da ilha de Santiago (Cabo Verde) e tentei estabelecer, pela primeira vez,
pontes entre a criação artística, as técnicas ancestrais de produção de cerâmica e
a morfologia das cerâmicas pré-históricas.
Considero importantes os paralelos etnográficos e os estudos etnoarqueológicos, pois podem contribuir para uma melhor compreensão dos processos de fabrico da cerâmica pré-histórica, assim como das representações simbólico-rituais
envolvidas tanto na tecnologia de produção como na utilização das cerâmicas.
O contacto com a olaria tradicional cabo-verdiana teve não só influência em
toda a minha criação artística subsequente, como também na componente pedagógica da minha investigação de doutoramento.
Neste âmbito pedagógico, saliento a residência artística no Museu de Portimão, onde, desde 2011, desenvolvo trabalho prático na área da criação artística
e onde organizei, em 2012, a Oficina de Cerâmica Pré-histórica, que teve lugar no
Centro de Interpretação de Alcalar e na qual participaram, além do público geral, artistas plásticos e arqueólogos.
Saliento, ainda, uma anterior oficina, intitulada O Sentido dos Potes nas Origens: Hoje, que coordenei, em 2010, no Telheiro da Encosta do Castelo de Montemor-o-Novo e que contou com a participação dos alunos do Laboratório de
Cerâmica da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Nestas oficinas, procuro – não só a partir da minha experimentação e do
contacto com as matérias primas, mas também a partir da observação da experiência dos outros participantes – compreender as escolhas dos indivíduos ao
desenvolver, replicar e adotar uma determinada tecnologia.
Com um potencial simbólico reconhecido, a cerâmica é tida como símbolo social de expressão cultural, revestindo-se, tanto a sua produção como a sua utilização, de significados simbólicos e rituais. A arqueologia tem vindo a reconhecer o
seu valor enquanto fonte de informação, como veículo de mensagens e como um
poderoso meio metafórico através do qual as pessoas se exprimiam e refletiam o
seu mundo. A forma como os humanos usaram os artefactos para definir, estruturar e alterar as relações sociais é um tópico de interesse para a minha investigação.
Neste sentido, os artefactos não são, a meu ver, produtos neutros, meramente utilitários, mas produtos ideológicos resultantes de produções conscientes, codificadoras e transmissoras de significados sociais específicos. Ao procurar entender a
relação entre pessoas e artefactos – cultura, ambiente e mente – reflito sobre o
fazer, o usar, o reutilizar e o depositar dos artefactos cerâmicos.
Relacionada com estruturas sociais e ideológicas, a cerâmica arqueológica
é um produto histórico que corporiza as ideias, valores e condições sociais do
tempo dos seus produtores (SHANKS; TILLEY, 1992:137). As formas cerâmicas
representam as escolhas culturais de um contexto histórico-social específico e
a sua decoração responde a regras ou normas culturais que determinam a localização, orientação e combinação dos elementos em configurações que devem
constituir um estilo ou design apropriado (SINOPOLI, 1991:9).
Noutra perspectiva, também me interessa o pensamento mítico sobre a
significação associada à produção e à utilização de objetos cerâmicos. As fontes da antropologia relativas ao fabrico de cerâmica manual indicam que esta
arte, menos simples do que possa parecer, é uma prática rodeada de costumes
e tabus. A argila associa-se a representações mágicas e religiosas e existe toda
uma ‘filosofia’ primitiva que subjaz à sua confecção, ela é objecto de numerosas
práticas rituais, precauções e cuidados (LÉVI-STRAUSS, 1985:25). As oleiras –
que usam o poder do fogo para impor uma determinada forma a uma matéria
amorfa, transformando-a, disciplinando-a – são frequentemente vistas como
figuras associadas a poderes rituais, a saberes ‘especiais’, secretos ou mágicos
(LÉVI-STRAUSS,1985:27). E, no mesmo sentido, também as formas cerâmicas,
em especial os potes, são profundamente infundidos de significados mágico-sociais. Associados a antigas práticas religiosas, os potes – formas habitadas por
espíritos – movimentam-se entre o mundo doméstico e o mundo ritual (BARLEY, 1994:92).
Penso que esta conexão entre arte, arqueologia, antropologia e etnografia
pode ser um campo muito fértil para a criação de escultura contemporânea. A
partir da investigação sobre os possíveis pensamentos, decisões, motivações e
ideias existentes por trás de cada objecto e da reprodução dos respectivos processos tecnológicos, poderá a arte contemporânea (re)encontrar novas linguagens
plásticas, algumas das quais há muito perdidas. Desta forma, o trabalho artístico pode suscitar novas abordagens no domínio da arte contemporânea e novos
olhares e perspectivas relativamente aos objetos cerâmicos estudados, permitindo que se abram caminhos inovadores de reinterpretação e valorização do
património arqueológico e dos saberes etnográficos.
Sabendo eu que a arte é indissociável da sequência de objetos históricos que
lhe servem de enquadramento, o conceito de herança e continuidade no domínio da arte é central para o trabalho que realizo. Penso que cada obra humana se
coloca, de forma mais ou menos consciente, no interior de uma cadeia de obras
similares, ou de ‘sequências formais’, que atravessam os milénios. Neste sentido,
uma sequência formal, ainda que esteja inativa durante milénios, pode sempre
ser reativada pelo estímulo de novas técnicas ou de novos acontecimentos. Independentemente dos ciclos históricos, podemos verificar a ocorrência de sequências formais, numa história aberta onde não existe nada que não possa voltar a
ser atual (KUBLER, 1962).
As coisas possuem uma ‘idade sistémica’ que pouca relação tem com a idade cronológica:
as obras humanas são como as estrelas cuja luz partiu em direção ao observador muito
antes de lhe aparecer. (PERNIOLA, 2003)

No meu trabalho exploro a relação entre a mão e a matéria no sentido do saber-fazer artesanal, anunciando um possível retorno da escultura a uma produção
ancestral. Invoco as práticas primitivas da produção de objetos utilitários e co-
372

Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375.

Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.”

373

noto a prática da escultura com um valor arcaico, quase arquetípico. Concentro-me na forma como o corpo age sobre a argila, massa em movimento, que vai
ganhando forma ao receber a orgânica pressão das mãos. Caracterizadas pela
morfologia, simbologia e pelo processo de produção, as peças podem ser entendidas como testemunhos de uma origem, de um espaço-tempo ancestral, para o
qual parecem querer transportar o observador que com elas se relaciona.
Na exposição Formas de Terra e Fogo (Museu de Portimão, 2012), as peças,
que exprimem claramente a sua própria massa inerente às propriedades físicas
do material cerâmico, aparentam, pela técnica de instalação, estar em suspensão, livres do próprio peso. Esta extrema leveza aparente, ou visual, permite que
as esculturas saiam da condição de objecto, ultrapassem a sua materialidade e
ganhem novos significados simbólicos. Suspensas no espaço da exposição, as
peças, dotadas de um investimento de energia que as impele contra a gravidade,
vencem a resistência do seu próprio peso e pairam como corpos animados ou
planetas num espaço cósmico.

Figs. 1 e 2 - Exposição Formas de Terra e Fogo, escultura de Sara Navarro,
Museu de Portimão. Fotografia R. Soares
É no museu, ou no espaço da exposição, que, através da emoção estética, o
observador pode metamorfosear as peças em ideia. As peças aproximam-se de
uma ‘corporização abstracta’, isto é, se por um lado assumem a forma enquanto tal, por outro, a maneira como são colocadas no espaço expositivo contribui
para uma superação da sua ‘objetualidade’ formal. As peças colocam o observador num domínio da escultura que pressupõe uma envolvência conceptual, sem
a qual as peças não se distinguiriam de objetos vulgares, utilitários.
Configurando uma ontologia anímica, em diferentes tempos e diferentes culturas, determinados objetos tornam-se animados e passam a ser entendidos como
corpos vivos. Lembrando os ídolos das antigas civilizações, podemos entrever nas
peças, através da transfiguração e do movimento de ascensão, um sentido xamânico da arte, no qual estas, enquanto instrumentos de poder, se veem carregadas de
significados simbólico-rituais que ultrapassam a sua materialidade.
Interessa-me a carga cultural das matérias e dos objetos. A morfologia circular dos potes pré-históricos, a sua forma e o seu vazio, assim como as suas funções ligadas ao transporte, armazenamento, processamento e consumo de bens
alimentares, a par dos seus valores simbólicos associados ao início da agricultura/sedentarização, ao lar, aos rituais da comensalidade, ao corpo e ao papel feminino, têm sido aspectos fundamentais no âmbito da minha prática artística.

Fig. 3 - Poster da exposição Do Magma às Estrelas, escultura de Sara Navarro.
wRuínas romanas de Milreu (Faro). Design T. Coelho e Fotografia R. Soares, 2012.

De forma diferente, mas com o mesmo sentido, as mesmas peças, na exposição Do Magma às Estrelas (ruínas romanas de Milreu - Faro, 2012), utilizam o
carácter arqueológico do espaço expositivo para se relacionarem ou dialogarem
com o observador. Mais uma vez, a suspensão de algumas das peças, no espaço das ruínas, imprime às esculturas um carácter transcendental, cósmico ou
cosmológico, neste caso, também, acentuado pelo próprio título da exposição.
374

Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375.

Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.”

375

Colocadas de forma mais ou menos dissimulada nos estratos arqueológicos das
ruínas, a sua exposição pressupõe o transporte ou a deslocação do observador
entre diferentes tempos, espaços ou mundos.

Fig. 4 - Exposição Do Magma às Estrelas, escultura de Sara Navarro.
Ruínas romanas de Milreu (Faro). Fotografia R. Soares, 2012.

Articulando um inovador diálogo entre arte e arqueologia, esta exposição
propiciou uma nova experiência visual em que se sublinham as semelhanças
tácteis e cromáticas entre a terracota das peças e a estratigrafia do sítio. Com
uma poderosa significância de interpretação do passado no contemporâneo, a
ligação entre arte e arqueologia permite ao observador comprometer-se mais
ativamente com o passado. Aqui, a exposição surge como um ‘laboratório experimental’ onde, numa escavação imaginária, o observador é levado a usar a
imaginação visual para dar vida ao passado que ecoa nas peças.
Se, por um lado, a partir da exposição podemos questionar a forma como a
cultura material permanece, ao longo do tempo, como herança patrimonial, por
outro, podemos, numa equação oposta, pensar sobre a natureza do impacto do
sítio arqueológico sobre as peças. A exposição de obras de arte contemporânea
em sítios arqueológicos pode ser, para além de boa-de-olhar, boa-para-pensar, na
medida em que transforma o lugar e desafia o observador, redirecionando-o para
uma inovadora posição de compromisso entre o contemporâneo e a envolvência arqueológica do espaço. A exposição configura uma passagem do mundo da
matéria, do mundo da terra, para o universo das ideias, dos significados simbólicos da memória. Mais do que um objeto estático, encerrado nas sua limitações
materiais e conotações utilitárias, as peças representam um caminho, um destino, um movimento entre a matéria e a memória que as habita.
Conclusão

Em síntese, propus-me criar peças que evocam a arte e a cultura de outros lugares e de outros tempos. Peças que, pela morfologia e técnica de produção, nos
transportam a uma época em que a cerâmica era uma tecnologia de ponta, uma
conquista tecnológica. Num salto entre milénios, que parte de uma atração
pelas origens, pela arte antes da arte, pelo que foi parcialmente apagado pelo
tempo, as peças agora criadas fazem uma conexão entre os processos criativos
dos objetos mais arcaicos ou remotos e a criação contemporânea. Partindo de
fragmentos de uma realidade perdida, as formas que agora surgem, por mãos
contemporâneas, estabelecem a comunicação entre presente e passado. Pela
transfiguração, repenso e reinvento, num novo quadro, as velhas novidades neolíticas. Surgem objetos arquetípicos, reconhecíveis mas depurados das antigas
funcionalidades e com novas simbologias. Artefactos com significados sempre
múltiplos, com sentidos construídos e reconstruídos…
Contactar a autora: saranavarrocondesso@gmail.com
Artigo submetido a 30 de Abril e aprovado a 15 de Maio de 2013

Referências
· BARLEY, N. Smashing Pots. Feats of Clay from Africa. London: British Museum Press, 1994.
· KUBLER, G. The Shape of Time: Remarks on the History of Things. New Haven (CT) Yale University
Press, 1962
· LEVI-STRAUSS, C. (1985). A Oleira Ciumenta. Lisboa: Edições 70, 1985.
· PERNIOLA, M. O sex appeal do inorgânico. Tradução de Carla David. Coimbra: Ariadne Editora, 2003
· SHANKS, M.; TILLEY, C. Re-Constructing Archaeology. London: Routledge, 1992.
· SINOPOLI, C. Approaches to Archaeological Ceramics. New York: Plenum Press, 1991.
Arte, arqueologia e museus   correspondências e mediações contemporâneas (navarro, s. in vox musei, 2013)

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  • 3.
  • 4. Revista VOX MUSEI: arte e património Relações públicas: Isabel Nunes Volume 1, Número 2, julho-dezembro Logística: Lurdes Santos 2013 — Tema: Património, Educação e Museus Gestão financeira: Cristina Fernandes e Isabel Pereira ISSN 2182-9489, e-ISSN 2182-0002 Propriedade e serviços administrativos Revista Internacional — Comissão Científica Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, e Revisão por Pares (sistema double blind review) Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes, PT Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes Grupo de Pesquisa — CNPq Memória, Ensino da Universidade de Lisboa, Portugal e Património Cultural, Universidade Federal do Piauí, BR Grupo de Pesquisa, CNPq Memória, Ensino e Património Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Cultural, Universidade Federal do Piauí, Brasil Lisboa, Portugal T +351 213 252 108 / F +351 213 470 689 Periodicidade: semestral Impressão e acabamento: Serisexpresso Revisão de submissões: arbitragem duplamente cega Tiragem: 500 exemplares pelo Conselho Editorial Depósito legal: 360924/13 Direção: Áurea da Paz Pinheiro PVP: 10€ Projecto gráfico: Jorge dos Reis ISSN 2182-9489 Imagem da capa: Cássia Moura e-ISSN 2182-0002 Paginação: Inês Chambel Aquisição de exemplares, assinaturas e permutas: Revista VOX MUSEI arte e património Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes, Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa, Portugal T +351 213 252 108 / F +351 213 470 689 Mail: voxmusei@fba.ul.pt voxmuseiartepatrimonio@gmail.com www.voxmusei.fba.ul.pt www.voxmusei.ufpi.br
  • 5. índice Editorial O Museu de Arte do Rio — MAR: Áurea da Paz Pinheiro quando “navegar é preciso” pág. 16-17 Rio de Janeiro Museum of Art: for when “you need to browse” Artigos Ângela Âncora da Luz Centro de Interpretação do Pampa: pág. 69-77 a construção de um museu universitário-comunitário Pampas Understanding Center: the construction Universidade, educação, museus of a community – college museum. e ação patrimonial Alexandre dos Santos Villas Bôas University, education, museums and creating Heloísa Helena Fernandes Gonçalves da Costa patrimonial sites. pág. 20-32 Áurea da Paz Pinheiro Eloisa Capovila da Luz Ramos A CONSERVAÇÃO E RESTAURO Marta Rosa Borin NA FACULDADE DE BELAS-ARTES pág. 78-91 THE CONSERVATION AND RESTORATION AT THE FACULTY OF FINE ARTS Um museu de arte universitário brasileiro: Alice Nogueira Alves histórias de um projeto de arte em devir? Fernando António Baptista Pereira A Brazilian University Art Museum: stories Fernando Rosa Dias of an art project in becoming? pág. 33-42 Carolina Ruoso pág. 92-103 Museos de la memoria y educación para los derechos humanos. Un estudio O Fotográfico como Património Imaterial de caso: MUME — Uruguay Photography as Immaterial Heritage Memory Museums and education about the Maria Cecília Silveira de Faria Gomes human rights. A case study: MUME — Uruguay pág. 104-112 Ana María Sosa González pág. 43-54 Projeto Cultural sarau noturno: desenvolvendo a Educação Patrimonial Museus do Distrito de Viseu: a construção através da arte cemiterial de uma rede de proximidade territorial Cultural Project sarau noturno: developing Museums of District of Viseu: framing the Heritage Education through cemeterial art of a territorial proximity network. Clarisse Ismério Ana Rita Santos Almeida Martins Antunes pág. 113-127 pág. 55-68
  • 6. Arte e comunidades: Um Arquivo Poético Desenvolvimento do Público Interno. sobre o Envelhecimento Reflexões acerca da importância de se investir nos Community Art: A Poetic Archive on Aging funcionários de museus Constança Saraiva Development of Internal Audience. Reflections pág. 128-138 about the importance of investing in museum employees Gabriela Figurelli Museologia e Integração: reflexões sobre pág. 187-199 as condições de possibilidade na América Latina Museology and Integration: reflections about Museus e Criatividade the conditions of possibility in Latin America Museums and Creativity Daniel Maurício Viana de Souza Inês Ferreira pág. 139-147 pág. 200-214 O patrimônio cinematográfico e o governo A parede da rua: modernidade do museu dos homens: as políticas de subjetivação postas em ao contrário funcionamento nas relações interculturais The Wall Street: modernity of the unlike museum da contemporaneidade Isabel Nogueira The cinematic heritage and the government pág. 215-221 of men: the politics of subjectivization put into operation in intercultural relations of contemporary Sustentabilidade Ambiental Fábio Zanoni e Apropriação Social no Conjunto pág. 148-167 Histórico Praça da Graça Environmental Sustainability and Social Narrativas museais na UNIVASF: Appropriation in Praça da Graça caminhos a/r/tográficos em construção Historical Set Museological narratives in UNIVASF: Ísis Meireles Rodrigues a/r/tographic ways under construction pág. 222-234 Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos pág. 168-175 Museus Locais: conservação e produção da memória coletiva Interações discursivas no trabalho Local Museums: preservation and production of de mediação em artes visuais collective memory Discursive interactions in the process Joana Ganilho Marques of mediation in visual arts pág. 235-246 Gabriela Bon pág. 176-186 Educação patrimonial e produção audiovisual Heritage Education and Audiovisual Production João Paulo Rodrigues Pires pág. 247-254
  • 7. A museologia brasileira: novo marco regulatório La enseñanza del patrimonio en la Brazilian Museology: a new regulatory mark formación incial del profesorado. Desde José Ricardo Oriá Fernandes una perspectiva histórico-artística a una didáctica pág. 255-262 del patrimonio cultural integrado. HERITAGE TEACHING IN TEACHER TRAINING. Os Museus como Espaços de Sociabilidade: From an art-historical perspective to a didactic as experiências educativas do museu de mértola of cultural integrated heritage. Museums as Spaces of Sociability: the Olga Duarte Piña educational experiences of mértola’s museum pág. 323-335 Lígia Rafael Maria de Fátima Palma A Reconstrução Histórica de Objetos pág. 263-275 de Ciência e Tecnologia RECONSTRUCTION OF HISTORICAL OBJECTS A EDUCAÇÃO DO RISCO: OF SCIENCE AND TECHNOLOGY uma proposta de inserção sócioeconómica Paulo de Melo Noronha Filho THE RISK EDUCATION: pág. 336-347 a proposal for socioeconomic inclusion Luís Gustavo de Nascimento Museu Nacional de Arte Antiga pág. 276-281 e Largo do Dr. José de Figueiredo: linha que une — uma experiência de intervenção concreta Visando à inclusão social: Museu Nacional de Arte Antiga and Largo criações a partir do patrimônio do Dr. José de Figueiredo: Connecting line In search of social inclusion: — specific intervention experience creations from patrimony Pedro Soares Neves Márcia Isabel Teixeira de Vargas pág. 348-357 Marilda Mena Barreto Silva Saucedo pág. 282-294 A Musealização do Patrimônio Cultural do Bar Ocidente Igreja de Nossa Senhora do Monte: The Musealization of Bar Ocidente história, identidade e preservação Cultural Heritage Church of Our Lady of Mount: Priscila Chagas Oliveira history, identity and preservation pág. 358-367 Maria da Graça Andrade Dias pág. 295-308 Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas Um Projeto de Novas Tecnologias aplicado Art, Archaeology and Museums. Contemporary na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves Correspondences and Mediations New Technologies Project applied at Sara Navarro Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves pág. 368-375 Mariana Mendes de Mesquita pág. 309-322
  • 8. O Material e o Imaterial na Coleção Notas de Dissertações e Teses Etnográfica de Cozinha do Museu Museus do Distrito de Viseu: a construção Carlos Machado de uma rede de proximidade territorial The genesis of the industrial and Museums of District of Viseu: framing of a territorial decorative arts museums proximity network. Sofia Carolina Pacheco Botelho Ana Rita Santos Almeida Martins Antunes pág. 376-388 Arte e Comunidades, um Arquivo Poético sobre o Envelhecimento A génese dos museus de artes Community Art, a Poetic Archive on Aging industriais e decorativas Constança Saraiva The Tangible and the Intangible at the pág. 446-447 of the Carlos Machado Museum Sofia Leal Rodrigues pág. 389-402 Isto não é um bandeirante! O trabalho de mediação na exposição “imagens recriam a história” This is not a “bandeirante”! The educational work in the exhibition “images recreate the history” Valéria Peixoto de Alencar pág. 403-415 Resenha Tempo, Memória e Patrimônio Cultural Áurea da Paz Pinheiro pág. 418-420 Crítica de Arte e Design Senhores de seu ofício Cássia Moura pág. 422-425 Entrevista A museologia contemporânea Fernando António Baptista Pereira pág. 428-443
  • 9.
  • 10. 368 369 Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas Art, Archaeology and Museums. Contemporary Correspondences and Mediations Sara Navarro CIEBA, Centro de Investigação e de Estudos em Belas Artes. Secção de Investigação e de Estudos em Ciências da Arte e do Património - Francisco de Holanda Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375. Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.” Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Resumo: A partir da constatação de que artistas e arqueólogos prestam, atualmente, cada vez mais atenção ao respectivo trabalho de uns e de outros, proponho explorar a forma como a arte contemporânea – em particular a escultura – se pode encaixar no projeto arqueológico de estudo, compreensão e comunicação do passado humano. Palavras-chave: Arte, Arqueologia e Transdisciplinaridade Abstract: Stemming from the observation that artists and archaeologists are, these days, paying more attention to each other’s work, I propose to explore the way in which contemporary art – sculpture in particular – can fit in the archaeological project of study, comprehension and communication of the human past. Keywords: Art, Archaeology and Transdisciplinarity Introdução O diálogo, histórico e permanente, entre arte e arqueologia e a, cada vez mais comum, colaboração de artistas nos projetos de investigação arqueológica leva-me, como ponto de partida para a presente comunicação, a questionar a natureza desta relação, o status do artista para a arqueologia e o interesse dos arqueólogos na prática artística. Centrada no caráter reflexivo e subjetivo da cultura material, proponho o desenvolvimento de novos métodos, menos científicos e mais estéticos, em que o olhar dos artistas pode ser integrado na metodologia arqueológica, com vista a desenvolver novos modos de ver e registar, de pensar e representar, de comunicar e expor. Tal como acontece com a prática artística contemporânea, a meu ver, é crucial que o trabalho da arqueologia não se limite à análise hermética do passado, mas se envolva também na pluralidade e multivocalidade do pensamento contemporâneo. Ainda que ciente das diferenças entre as disciplinas, acredito
  • 11. que as propostas culturais da arte contemporânea podem ser um instrumento valioso para a análise arqueológica. A interdisciplinaridade leva, geralmente, à criação de pensamento original. Rumo a um novo território intelectual, a prática interdisciplinar implica assumir riscos, criar rupturas, dar saltos, abdicar, quebrar convenções, renunciar à facilidade de continuar dentro do que é expectado e, claro, do que é aceite. Há muito que os artistas compreenderam que a transgressão das fronteiras disciplinares e a resistência a categorizações leva a um desenvolvimento disciplinar, visando o crescimento e possibilitando uma ontologia transversal. Penso que, tal como a arte, a arqueologia e os estudos patrimoniais podem beneficiar ao localizar-se num campo expandido, num contexto mais alargado, que é simultaneamente arqueológico, histórico e artístico. Potes e Transfigurações: a arqueologia como pretexto para a escultura Após a minha licenciatura em Escultura, o trabalho que desenvolvi, entre 2006 e 2008 no Museu de Portimão, colocou-me em grande proximidade com o trabalho de uma equipa de arqueologia. Esta colaboração fez emergir questões relacionadas com a relevância do cruzamento entre o mundo da arte e o mundo da arqueologia, na formação, visão e concepção da cultura contemporânea. Com esta experiência, fui-me apercebendo de todo um campo de investigação em que poderia dar um contributo inovador às perspectivas que se foram construindo no âmbito do diálogo entre arte e arqueologia, associando-lhes um trabalho de produção artística. Foi assim que, em 2008, iniciei a investigação de doutoramento em Escultura, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, sob o título Potes e Transfigurações: a arqueologia como pretexto para a escultura. De carácter teórico-prático, o meu trabalho procura, através de uma ligação entre a investigação arqueológica e a produção artística, a criação de objetos escultóricos que se aproximem das formas de cerâmica pré-histórica, distinguindo-se destas pela alteração da escala, por uma manipulação original dos esquemas decorativos e pela ruptura com a funcionalidade. Com este trabalho, espero não só contribuir para uma visão alargada sobre a cerâmica pré-histórica, como também encontrar o seu espaço na teoria da arte e mostrar a relevância do seu estudo para a criação artística contemporânea. O estudo da cerâmica arqueológica interessa-me na medida em que, a partir dela, é possível recolher um conjunto de aspectos tecnológicos, morfológicos, decorativos e simbólicos que podem, a meu ver, ser aplicados, com interesse, ao campo da escultura contemporânea. A minha curiosidade pela tecnologia de fabrico de cerâmica pré-histórica levou-me, em 2007, ainda antes de iniciar a investigação de doutoramento, a participar na II Oficina de Cerâmica Etnográfica, organizada pelas Oficinas do Convento, em Montemor-o-Novo. Nesta oficina, pude observar o ‘saber-fazer’ de
  • 12. 370 Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375. Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.” 371 oleiras da ilha de Santiago (Cabo Verde) e tentei estabelecer, pela primeira vez, pontes entre a criação artística, as técnicas ancestrais de produção de cerâmica e a morfologia das cerâmicas pré-históricas. Considero importantes os paralelos etnográficos e os estudos etnoarqueológicos, pois podem contribuir para uma melhor compreensão dos processos de fabrico da cerâmica pré-histórica, assim como das representações simbólico-rituais envolvidas tanto na tecnologia de produção como na utilização das cerâmicas. O contacto com a olaria tradicional cabo-verdiana teve não só influência em toda a minha criação artística subsequente, como também na componente pedagógica da minha investigação de doutoramento. Neste âmbito pedagógico, saliento a residência artística no Museu de Portimão, onde, desde 2011, desenvolvo trabalho prático na área da criação artística e onde organizei, em 2012, a Oficina de Cerâmica Pré-histórica, que teve lugar no Centro de Interpretação de Alcalar e na qual participaram, além do público geral, artistas plásticos e arqueólogos. Saliento, ainda, uma anterior oficina, intitulada O Sentido dos Potes nas Origens: Hoje, que coordenei, em 2010, no Telheiro da Encosta do Castelo de Montemor-o-Novo e que contou com a participação dos alunos do Laboratório de Cerâmica da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Nestas oficinas, procuro – não só a partir da minha experimentação e do contacto com as matérias primas, mas também a partir da observação da experiência dos outros participantes – compreender as escolhas dos indivíduos ao desenvolver, replicar e adotar uma determinada tecnologia. Com um potencial simbólico reconhecido, a cerâmica é tida como símbolo social de expressão cultural, revestindo-se, tanto a sua produção como a sua utilização, de significados simbólicos e rituais. A arqueologia tem vindo a reconhecer o seu valor enquanto fonte de informação, como veículo de mensagens e como um poderoso meio metafórico através do qual as pessoas se exprimiam e refletiam o seu mundo. A forma como os humanos usaram os artefactos para definir, estruturar e alterar as relações sociais é um tópico de interesse para a minha investigação. Neste sentido, os artefactos não são, a meu ver, produtos neutros, meramente utilitários, mas produtos ideológicos resultantes de produções conscientes, codificadoras e transmissoras de significados sociais específicos. Ao procurar entender a relação entre pessoas e artefactos – cultura, ambiente e mente – reflito sobre o fazer, o usar, o reutilizar e o depositar dos artefactos cerâmicos. Relacionada com estruturas sociais e ideológicas, a cerâmica arqueológica é um produto histórico que corporiza as ideias, valores e condições sociais do tempo dos seus produtores (SHANKS; TILLEY, 1992:137). As formas cerâmicas representam as escolhas culturais de um contexto histórico-social específico e a sua decoração responde a regras ou normas culturais que determinam a localização, orientação e combinação dos elementos em configurações que devem constituir um estilo ou design apropriado (SINOPOLI, 1991:9). Noutra perspectiva, também me interessa o pensamento mítico sobre a
  • 13. significação associada à produção e à utilização de objetos cerâmicos. As fontes da antropologia relativas ao fabrico de cerâmica manual indicam que esta arte, menos simples do que possa parecer, é uma prática rodeada de costumes e tabus. A argila associa-se a representações mágicas e religiosas e existe toda uma ‘filosofia’ primitiva que subjaz à sua confecção, ela é objecto de numerosas práticas rituais, precauções e cuidados (LÉVI-STRAUSS, 1985:25). As oleiras – que usam o poder do fogo para impor uma determinada forma a uma matéria amorfa, transformando-a, disciplinando-a – são frequentemente vistas como figuras associadas a poderes rituais, a saberes ‘especiais’, secretos ou mágicos (LÉVI-STRAUSS,1985:27). E, no mesmo sentido, também as formas cerâmicas, em especial os potes, são profundamente infundidos de significados mágico-sociais. Associados a antigas práticas religiosas, os potes – formas habitadas por espíritos – movimentam-se entre o mundo doméstico e o mundo ritual (BARLEY, 1994:92). Penso que esta conexão entre arte, arqueologia, antropologia e etnografia pode ser um campo muito fértil para a criação de escultura contemporânea. A partir da investigação sobre os possíveis pensamentos, decisões, motivações e ideias existentes por trás de cada objecto e da reprodução dos respectivos processos tecnológicos, poderá a arte contemporânea (re)encontrar novas linguagens plásticas, algumas das quais há muito perdidas. Desta forma, o trabalho artístico pode suscitar novas abordagens no domínio da arte contemporânea e novos olhares e perspectivas relativamente aos objetos cerâmicos estudados, permitindo que se abram caminhos inovadores de reinterpretação e valorização do património arqueológico e dos saberes etnográficos. Sabendo eu que a arte é indissociável da sequência de objetos históricos que lhe servem de enquadramento, o conceito de herança e continuidade no domínio da arte é central para o trabalho que realizo. Penso que cada obra humana se coloca, de forma mais ou menos consciente, no interior de uma cadeia de obras similares, ou de ‘sequências formais’, que atravessam os milénios. Neste sentido, uma sequência formal, ainda que esteja inativa durante milénios, pode sempre ser reativada pelo estímulo de novas técnicas ou de novos acontecimentos. Independentemente dos ciclos históricos, podemos verificar a ocorrência de sequências formais, numa história aberta onde não existe nada que não possa voltar a ser atual (KUBLER, 1962). As coisas possuem uma ‘idade sistémica’ que pouca relação tem com a idade cronológica: as obras humanas são como as estrelas cuja luz partiu em direção ao observador muito antes de lhe aparecer. (PERNIOLA, 2003) No meu trabalho exploro a relação entre a mão e a matéria no sentido do saber-fazer artesanal, anunciando um possível retorno da escultura a uma produção ancestral. Invoco as práticas primitivas da produção de objetos utilitários e co-
  • 14. 372 Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375. Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.” 373 noto a prática da escultura com um valor arcaico, quase arquetípico. Concentro-me na forma como o corpo age sobre a argila, massa em movimento, que vai ganhando forma ao receber a orgânica pressão das mãos. Caracterizadas pela morfologia, simbologia e pelo processo de produção, as peças podem ser entendidas como testemunhos de uma origem, de um espaço-tempo ancestral, para o qual parecem querer transportar o observador que com elas se relaciona. Na exposição Formas de Terra e Fogo (Museu de Portimão, 2012), as peças, que exprimem claramente a sua própria massa inerente às propriedades físicas do material cerâmico, aparentam, pela técnica de instalação, estar em suspensão, livres do próprio peso. Esta extrema leveza aparente, ou visual, permite que as esculturas saiam da condição de objecto, ultrapassem a sua materialidade e ganhem novos significados simbólicos. Suspensas no espaço da exposição, as peças, dotadas de um investimento de energia que as impele contra a gravidade, vencem a resistência do seu próprio peso e pairam como corpos animados ou planetas num espaço cósmico. Figs. 1 e 2 - Exposição Formas de Terra e Fogo, escultura de Sara Navarro, Museu de Portimão. Fotografia R. Soares
  • 15. É no museu, ou no espaço da exposição, que, através da emoção estética, o observador pode metamorfosear as peças em ideia. As peças aproximam-se de uma ‘corporização abstracta’, isto é, se por um lado assumem a forma enquanto tal, por outro, a maneira como são colocadas no espaço expositivo contribui para uma superação da sua ‘objetualidade’ formal. As peças colocam o observador num domínio da escultura que pressupõe uma envolvência conceptual, sem a qual as peças não se distinguiriam de objetos vulgares, utilitários. Configurando uma ontologia anímica, em diferentes tempos e diferentes culturas, determinados objetos tornam-se animados e passam a ser entendidos como corpos vivos. Lembrando os ídolos das antigas civilizações, podemos entrever nas peças, através da transfiguração e do movimento de ascensão, um sentido xamânico da arte, no qual estas, enquanto instrumentos de poder, se veem carregadas de significados simbólico-rituais que ultrapassam a sua materialidade. Interessa-me a carga cultural das matérias e dos objetos. A morfologia circular dos potes pré-históricos, a sua forma e o seu vazio, assim como as suas funções ligadas ao transporte, armazenamento, processamento e consumo de bens alimentares, a par dos seus valores simbólicos associados ao início da agricultura/sedentarização, ao lar, aos rituais da comensalidade, ao corpo e ao papel feminino, têm sido aspectos fundamentais no âmbito da minha prática artística. Fig. 3 - Poster da exposição Do Magma às Estrelas, escultura de Sara Navarro. wRuínas romanas de Milreu (Faro). Design T. Coelho e Fotografia R. Soares, 2012. De forma diferente, mas com o mesmo sentido, as mesmas peças, na exposição Do Magma às Estrelas (ruínas romanas de Milreu - Faro, 2012), utilizam o carácter arqueológico do espaço expositivo para se relacionarem ou dialogarem com o observador. Mais uma vez, a suspensão de algumas das peças, no espaço das ruínas, imprime às esculturas um carácter transcendental, cósmico ou cosmológico, neste caso, também, acentuado pelo próprio título da exposição.
  • 16. 374 Revista Vox Musei arte e património. ISSN 2182-9489. Vol. 1 (2): pp. 368-375. Navarro, Sara (2013) “Arte, Arqueologia e Museus. Correspondências e Mediações Contemporâneas.” 375 Colocadas de forma mais ou menos dissimulada nos estratos arqueológicos das ruínas, a sua exposição pressupõe o transporte ou a deslocação do observador entre diferentes tempos, espaços ou mundos. Fig. 4 - Exposição Do Magma às Estrelas, escultura de Sara Navarro. Ruínas romanas de Milreu (Faro). Fotografia R. Soares, 2012. Articulando um inovador diálogo entre arte e arqueologia, esta exposição propiciou uma nova experiência visual em que se sublinham as semelhanças tácteis e cromáticas entre a terracota das peças e a estratigrafia do sítio. Com uma poderosa significância de interpretação do passado no contemporâneo, a ligação entre arte e arqueologia permite ao observador comprometer-se mais ativamente com o passado. Aqui, a exposição surge como um ‘laboratório experimental’ onde, numa escavação imaginária, o observador é levado a usar a imaginação visual para dar vida ao passado que ecoa nas peças. Se, por um lado, a partir da exposição podemos questionar a forma como a cultura material permanece, ao longo do tempo, como herança patrimonial, por outro, podemos, numa equação oposta, pensar sobre a natureza do impacto do sítio arqueológico sobre as peças. A exposição de obras de arte contemporânea em sítios arqueológicos pode ser, para além de boa-de-olhar, boa-para-pensar, na medida em que transforma o lugar e desafia o observador, redirecionando-o para uma inovadora posição de compromisso entre o contemporâneo e a envolvência arqueológica do espaço. A exposição configura uma passagem do mundo da matéria, do mundo da terra, para o universo das ideias, dos significados simbólicos da memória. Mais do que um objeto estático, encerrado nas sua limitações
  • 17. materiais e conotações utilitárias, as peças representam um caminho, um destino, um movimento entre a matéria e a memória que as habita. Conclusão Em síntese, propus-me criar peças que evocam a arte e a cultura de outros lugares e de outros tempos. Peças que, pela morfologia e técnica de produção, nos transportam a uma época em que a cerâmica era uma tecnologia de ponta, uma conquista tecnológica. Num salto entre milénios, que parte de uma atração pelas origens, pela arte antes da arte, pelo que foi parcialmente apagado pelo tempo, as peças agora criadas fazem uma conexão entre os processos criativos dos objetos mais arcaicos ou remotos e a criação contemporânea. Partindo de fragmentos de uma realidade perdida, as formas que agora surgem, por mãos contemporâneas, estabelecem a comunicação entre presente e passado. Pela transfiguração, repenso e reinvento, num novo quadro, as velhas novidades neolíticas. Surgem objetos arquetípicos, reconhecíveis mas depurados das antigas funcionalidades e com novas simbologias. Artefactos com significados sempre múltiplos, com sentidos construídos e reconstruídos… Contactar a autora: saranavarrocondesso@gmail.com Artigo submetido a 30 de Abril e aprovado a 15 de Maio de 2013 Referências · BARLEY, N. Smashing Pots. Feats of Clay from Africa. London: British Museum Press, 1994. · KUBLER, G. The Shape of Time: Remarks on the History of Things. New Haven (CT) Yale University Press, 1962 · LEVI-STRAUSS, C. (1985). A Oleira Ciumenta. Lisboa: Edições 70, 1985. · PERNIOLA, M. O sex appeal do inorgânico. Tradução de Carla David. Coimbra: Ariadne Editora, 2003 · SHANKS, M.; TILLEY, C. Re-Constructing Archaeology. London: Routledge, 1992. · SINOPOLI, C. Approaches to Archaeological Ceramics. New York: Plenum Press, 1991.