O gigante acorda após décadas dormindo e fica enfurecido por ter crescido menos que seus vizinhos. Ele vai até a corte da rainha exigir explicações, mas o ilusionista o encanta com seu show e o convence de que tudo está bem no reino, fazendo o gigante voltar a dormir levando a capa vermelha do ilusionista.
1. O GIGANTE E O ILUSIONISTA
Alexandra Orrico
Num reino não muito distante, havia um gigante que estava adormecido há mais
de década.
Um dia, sem motivo aparente, o gigante acordou e se pôs em pé, um tanto
quanto cambaleante.
Do alto de sua natureza, o gigante vislumbrou sua majestosa dimensão. Porém,
percebera, também, que os anos de inércia o deixou menor que seus vizinhos.
Num misto de pasmo e enfurecimento, pôs-se, então, em marcha. No caminho
ele urrava, gritava, quebrava janelas, pedia que todos que estivessem dormindo
também acordassem, e que juntos fossem ter com a rainha e sua corte.
Precisava descobrir o motivo de sua atrofia, e o porque de, apesar de tão rico,
não ter obtido o mesmo crescimento daqueles que lhe avizinhava.
Nas cidades, a atitude do gigante tinha ares de libertação. Lá na corte, porém,
ninguém entendia o motivo de tanta confusão.
Quando o gigante enfurecido, enfim, na corte chegou, com voz ensurdecedora
bradou:
- Acordei!!!!
A rainha, então, serenamente, apresentou para o gigante uma figura estranha,
pequena, de aparência meio amassada, e que usava uma longa capa vermelha.
Era o ilusionista; sujeito falador, de mãos rápidas e grandes, e que prontamente
deu início ao seu show.
Em seus gestos havia tanta luz, tanta cor, que o gigante aos poucos se
encantou; se aquietou.
Com o gigante mais calmo, o ilusionista se pôs a explicar:
- Olhe gigante, ninguém aqui passa fome, não há mais invasão de propriedade,
as crianças dessa terra estão estudando, toda violência foi contida, e os órgão
públicos estão seguros e bem administrados pela rainha e sua corte...
E o gigante entorpecido começou de si mesmo duvidar. Tentou reagir ao
encanto, mas, indeciso, começou a se retirar.
O ilusionista embasbacado com a facilidade da missão que resolveram lhe dar,
arrancou a própria capa vermelha e deu para o gigante levar.
Sorrindo com a gentileza do encantador, o gigante subdesenvolvido voltou para
hibernar.
Antes, porém, remoeu em sua mente confusa a razão que o fez acordar. Mas,
tudo lhe pareceu tão sem sentido, que deixou mais uma vez a letargia lhe tomar.
E adormeceu, segurando a magnífica capa vermelha que o ilusionista tão
bonzinho deu pra ele usar.