1) A linha de ônibus 3141 liga os terminais Parque Dom Pedro e São Mateus, percorrendo quase metade da Avenida Sapopemba.
2) O cobrador José Pedro Santos, de 62 anos, trabalha há 3 anos nessa linha e observa os passageiros.
3) A maioria dos passageiros nessa linha são idosos indo para consultas médicas, embora em horários de pico sejam mais de 600 por dia.
1. PÁGINA 6 - ABRIL DE 2008 TRANSPORTE URBANO
Linha de ônibus cruza várias paisagens
A ligação São Mateus-Parque Dom Pedro percorre quase metade da Avenida Sapopemba
Fotos Viviane Oliveira
Viviane Oliveira analisar quem entra e sai do ôni-
bus. “A linha é tranqüila, não é pe-
O relógio marcava 8h20 e os pas- rigosa, mas tenho que ficar atento
sageiros da linha 3141, que liga os todos os dias. Trabalho há três anos
terminais Parque Dom Pedro e São aqui, e nunca teve assalto no meu
Mateus, se acomodavam no ônibus. horário”, afirma Santos.
Não era horário de pico e cerca de Com uma distância de 23 qui-
70% dos passageiros representam lômetros, quase metade da exten-
idosos a caminho de consultas mé- são da Avenida, a linha que saiu do
dicas. O coletivo não saiu cheio do Terminal Parque Dom Pedro com
terminal, tinha apenas 12 viajantes. 12 passageiros chega a 40 embarca-
A linha 3141 é a que percorre o dos até a altura do número 6.400.
maior trecho da avenida mais ex- O terminal Sapopemba, locali-
tensa da América Latina. Na Aveni- zado na altura do número 11.000
da Sapopemba, a linha vai do nú- da avenida, foi inaugurado há um
mero 200 ao 15.000. O cobrador ano; 13 linhas de ônibus saem des-
José Pedro Santos, 62 anos, traba- te ponto todos os dias sendo qua-
lha há 18 anos com o ofício, sendo tro delas com sentido ao centro da
três nessa linha. Ele diz que em ho- cidade de São Paulo.
rário de pico há muito movimento. O terminal de ônibus Sapopem-
“Tem mais de 600 passageiros por ba trouxe aos moradores da região
dia nessa linha, homens, mulheres LONGA JORNADA – O cobrador José Pedro Santos trabalha há três anos na linha 3141 mais facilidade para se locomover
e crianças, mas a maioria é gente indo em direção aos bairros próximos,
trabalhar”, afirma Santos. gem passa por algumas mudanças a mudança. É como se o ar ficasse e prédios comerciais. ou mesmo ao centro da cidade. Ain-
No início do trajeto, o ônibus e é possível senti-las pela visão e mais pesado e a poluição passa a ser O percurso de um terminal a da há muito que melhorar, de acor-
chega à altura do número 200 da olfato. Há trechos em que se pode mais visível também. outro leva em média 1h15 minu- do com o operador de máquina,
Sapopemba, e pode-se visualizar re- ver casas, e apenas elas dominam o No número 2.400, aproximada- tos e nesse tempo o cobrador anali- Douglas Silva, 22 anos, e usuário
sidências e comércios pequenos, tí- cenário: o cheiro nesse momento é mente, as residências dão lugar ao sa tudo e todos atentamente. O ôni- da linha todos os dias. “O trans-
picos de bairro. Nessa altura da Ave- suave, chega a ser familiar. comércio. Próximo ao número bus pára praticamente em todos os porte melhorou bastante aqui, era
nida fica o bairro da Água Rasa. Quando o comércio passa a sur- 4.400, as residências voltam a surgir pontos, e apesar do fluxo de passa- bem pior, mas ainda tem poucos
No decorrer da viagem a paisa- gir na viagem, o olfato logo percebe e percebe-se uma mescla entre casas geiros ser pequeno é importante ônibus para as pessoas”, conclui.
Taxistas levam boas histórias à Avenida
Hércules Silva
Hércules Silva Acho mesmo que o país Mesmo com a con-
está evoluindo”, afirma. corrência, ele se diz satis- Como surgiu o
Com a crescente urbanização de De Paula fala da rela- feito com a profissão e
países em desenvolvimento como ção com os passageiros. dá a receita para um bom táxi no mundo?
o Brasil, o mercado de trabalho para “Em uma corrida que profissional condutor de O táxi, como é conhecido
taxistas tornou-se mais amplo nos fiz com um senhor com táxi, como o chama. hoje, surgiu quando foram apli-
últimos anos. Hoje, não somente a aparência de pouco mais “Tem que ter muita pa- cadas taxas à sua utilização atra-
classe média utiliza o serviço. Nos de 60 anos, ele começou ciência no trânsito, saber vés dos conhecidos taxímetros,
bairros, há uma crescente deman- a se confessar comigo. ouvir, além de muita res- no século 19. Contudo, o servi-
da, principalmente de idosos. Falou de vários proble- ponsabilidade e conhe- ço de transportar pessoas é bem
A Sapopemba é a maior aveni- mas que tinha em sua cimento das ruas, o que mais antigo. O primeiro serviço
da da Zona Leste de São Paulo, que casa e questionava sobre é fundamental.” desse gênero apareceu com a in-
inicia no acesso à avenida Salim Fa- qual atitude tomar. Foi Entre as maiores re- venção do riquixá – carro de duas
rah Maluf e termina no acesso ao engraçado”, conta. clamações dos taxistas rodas puxado por um só ho-
município de Ribeirão Pires, em O segmento no está a falta de segurança. mem, comum na Antigüidade,
direção à região de São Mateus. É mercado dos taxistas que Mesmo com um posto porém exclusivo das elites, que
considerada a terceira maior aveni- mais tem crescido é o do policial na região, eles não tinham escravos como “puxado-
da do mundo, com cerca de 45 qui- rádio-táxi, no qual as se sentem seguros; mui- res” desses veículos.
lômetros de extensão. pessoas telefonam para tos, inclusive, já foram Os primeiros táxis motori-
Na altura do número 8.900 da uma empresa, solicitan- EXPERIÊNCIA - Algevato tem 40 anos de profissão assaltados mais de dez zados apareceram em 1896 na ci-
Avenida Sapopemba, há um pon- do os serviços do mo- vezes em menos de um dade alemã de Estugarda. No ano
to de táxi considerado um dos mais torista, para determinada hora e lo- Segundo ele, a Avenida como ano. O membro do Conselho de seguinte, Freidrich Greiner abriu
antigos do local. A média de idade cal. Hoje em dia, os passageiros li- qualquer outra de grande movimen- Segurança (Conseg) do bairro, Sal- uma empresa concorrente, mas
dos taxistas do ponto, mais conhe- gam até mesmo no celular, o que tação tem seus benefícios. Por exem- vador dos Santos, 57 anos, partici- com os carros equipados com
cido como Ponto Jardim Grimal- facilita o trabalho. plo, uma maior demanda de passa- pa das reuniões na subprefeitura e um sistema inovador de cobran-
di, é de 60 anos. Taxista há quatro décadas, José geiros. Mas nos últimos anos tem diz que sempre solicita melhores ça: o taxímetro. Nesse mesmo
O taxista mais antigo, Algevato Vieira Lima, 78 anos, é do Jardim enfrentado forte concorrência. “Os condições para a segurança do local. ano, em Paris, todos os carros
de Paula, 73 anos, tem 40 de profis- Grimaldi e mora numa travessa da ônibus e lotações são os maiores “Faço a minha parte: represento os de aluguel tinham de possuir um
são e pelo seu veículo já passaram Sapopemba. “Moro aqui desde mi- concorrentes. Como nosso públi- moradores, mas nem todas as soli- taxímetro. Antes da Primeira
muitas histórias. “Meu grande pú- nha infância e trabalho neste ponto co maior aqui são senhoras, nem citações são atendidas totalmente. Guerra Mundial (1914-18), as
blico são as senhoras que fazem desde que comecei. A renda que con- sempre elas pagam condução devi- Porém muita coisa já melhorou grandes cidades européias e nor-
compras no mercado municipal da sigo com meu trabalho dá para sus- do à idade. Mas como tenho mui- aqui, afirma. Procurada pela repor- te-americanas tinham serviço de
Avenida Sapopemba. Hoje, o pú- tentar toda a família. Aliás uma gran- tos tempo neste mesmo local, te- tagem, a subprefeitura de Vila Pru- táxi legais e pintados com esque-
blico mudou. Não somente as ‘ma- de família, pois tenho esposa, seis nho uma freguesia simples, porém dente, responsável pela segurança mas de cores diferentes. (HS)
dames’ solicitam nossos serviços. filhos e 13 netos”, diz Lima. fiel”, afirma Lima. do local, não respondeu às ligações.