O documento fornece orientações sobre como desenvolver um plano de continuidade da carreira profissional para enfrentar períodos de crise e desemprego, referenciando a norma ISO 22301 sobre gestão de continuidade de negócios. Sugere realizar análise SWOT, planejamento estratégico, manter reservas financeiras e rede de contatos atualizada para aumentar a empregabilidade e resiliência profissional.
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A continuidade da nossa vida profissional
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A continuidade da nossa vida profissional
Muito obrigado a todos que me contataram sobre o meu post “O
Brasil Precisa de Continuidade (de Negócios)?” e me pediram
dicas sobre como desenvolver o seu plano de continuidade para
atravessar e sobreviver à atual crise político-econômica que o Brasil
vem atravessando há algum tempo e que, ao que tudo indica, ainda
vai demorar para sairmos dela.
Para isto, republico um outro post que publiquei em junho/15, se não
me engano, onde abordo exatamente este tema, “A Continuidade da
nossa vida profissional”. Aproveitei e fiz algumas atualizações para
trazer o texto original à data presente.
Espero que este texto seja útil para você se preparar para enfrentar a
crise e compartilhe-o com alguém que está em dificuldades.
Não deixe de aproveitar este fim de semana prolongado de Páscoa
com a sua família e amigos.
Boa leitura.
Sidney R. Modenesi, MBCI
40 anos de vida profissional, 6 trocas de emprego, empreendedor e há
20 anos profissional de Continuidade de Negócios.
A continuidade da nossa vida profissional
(texto atualizado do post original de junho/15)
Cada dia mais venho recebendo solicitações de recomendações das minhas conexões do Linkedin em busca de
recolocação no mercado profissional. A crise está aí e com ela vem o desemprego, queda do poder aquisitivo, inflação e
demais problemas que estamos vivenciando já há alguns meses.
O mercado de Continuidade de Negócios no Brasil, depois do seu melhor período em 2008 – 2010, vem reduzindo
gradativamente ano após ano. Minha leitura desta retração, confirmada em várias conversas com executivos das
empresas onde transito, é que com os baixos crescimentos da economia brasileira nos últimos anos, os PIBinhos, e o
aumento continuo nas despesas administrativas (OPEX), forçam as empresas a postergar novos projetos (CAPEX) e/ou
reduzir as despesas administrativas reduzindo, consequentemente, as suas equipes de Continuidade de Negócios.
Infelizmente, este cenário não é diferente das demais áreas de negócios das empresas, onde a priorização de projetos e a
redução de despesas administrativas, incluindo a redução do quadro de colaboradores, também vem ocorrendo e tem sido
uma constante nos últimos tempos.
A norma ISO 22301:2012 – Societal Security – Business continuity management systems – Requirements, ou se
preferirem a versão brasileira ABNT.NBR ISO 22301 Segurança da sociedade — Sistema de gestão de continuidade de
negócios — Requisitos, fornece os requisitos necessários para aumentar a resiliência da continuidade de negócios das
organizações e, com alguma adaptação, pode nos ajudar a aumentar a resiliência da continuidade da nossa vida profissional,
na minha visão o segundo maior patrimônio que temos, após a nossa saúde.
Procurarei fazer uma referência aos pontos chave de cada capítulo da norma ISO 22301, a exceção dos capítulos 1, 2 e 3
que são meramente normativos. No escopo deste texto a nossa vida profissional é a nossa organização.
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Capitulo 4 – Contexto da organização
Você tem claro as suas principais habilidades, valores, diferenciais, capacitações, qualificações e os impactos decorrentes
de uma indisponibilidade em pelo menos um destes valores? Qual é o seu apetite ou aversão, se preferir, ao risco?
Você, enquanto um profissional, tem um conjunto de habilidades, valores etc. que podem diferenciá-lo no mercado
profissional, principalmente num momento quando há um excesso de candidatos para poucas oportunidades de
recolocação. Quais são estes diferenciais? Quais são os investimentos que você tem feito ou planejado para
reforçar estes diferenciais? Somente mais experiência não é o suficiente pois os seus concorrentes também
estarão cada dia mais experientes. Existem, por exemplo, excelentes cursos gratuitos online na VEDUCA
(http://www.veduca.com.br/), COURSERA (https://www.coursera.org/) dentre outros, além, é claro, dos vários
cursos pagos.
E o seu apetite ou aversão ao risco qual é? É melhor pensar sobre ele enquanto você está empregado do que
desempregado. Talvez você tenha que rever o seu apetite ao risco pois a medida que o tempo vai passando e
ficamos cada vez mais experientes em contrapartida a quantidade de oportunidades de recolocação no mercado
também diminuem significativamente, o que pode nos obrigar a rever o nosso apetite ao risco, só que agora numa
situação de pressão, o que normalmente não é uma boa forma de decidir.
Assumindo que tenhamos uma vida profissional de pelo menos 45 anos, dos 20 aos 65, e que um ciclo médio de
trabalho numa empresa seja de 5 anos, então teremos, pelo menos, 9 transições na nossa vida profissional. Só
esta quantidade de recolocações profissionais já justifica o planejamento para enfrentarmos de forma estruturada
as transições, inevitáveis, na nossa vida profissional, agravadas, como já mencionei antes, com o aumento da
nossa idade.
Capítulo 5 – Liderança
Você é o CEO da sua organização, o presidente da sua vida profissional. As decisões que você tomar, ou deixar de tomar,
afetarão o seu futuro profissional. Lembre-se: “não decidir é uma decisão que o tempo se encarregará de tomar”. Um item
muito importante deste capítulo é o COMPROMETIMENTO. Quanto, de fato, você está comprometido com a sua vida
profissional? Numa escala de 0 a 5, onde 0 é Nenhum e 5 é Extremo que nota, sincera, você daria ao seu
COMPROMETIMENTO com a sua vida profissional?
Deixa a Vida me Levar
Zeca Pagodinho
E deixa a vida me levar (vida leva eu!)
Deixa a vida me levar (vida leva eu!)
Deixa a vida me levar (vida leva eu!)
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu.
Infelizmente nossa vida profissional não é a música do Zeca Pagodinho. Nossa vida profissional requer
planejamento e para podermos realizar o nosso planejamento precisamos, antes de tudo, estarmos
comprometidos.
Assim, como qualquer CEO, não somos senhores absolutos de nossas decisões. Deve existir uma diretoria
executiva, quem sabe um conselho de administração, temos que prestar contas para as auditorias internas e
externas etc. Qual será a nova avaliação do seu COMPROMETIMENTO com a sua vida profissional na sua
estrutura familiar?
Entre investir num MBA ou viagem à Disneylândia com a família, com tudo o que tem direito, qual seria a sua
decisão e a da sua família, enquanto CEO da sua vida profissional.
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Capítulo 6 – Planejamento
Para não vivermos conforme a música do Zeca Pagodinho será necessário planejarmos a nossa vida profissional.
As organizações não fazem planejamento estratégico para vários anos? Nossa vida profissional não é nossa
organização? Então porque não fazemos planejamento estratégico para ela? Quais são os seus planos para a
sua vida profissional para daqui 5 anos? 10 anos? Para quando não conseguir mais recolocação e for obrigado
a partir para um negócio próprio, sendo obrigado a aceitar riscos previsíveis não mapeados anteriormente? E
para a sua aposentadoria?
Na década de 90, quando fazia os treinamentos gerenciais na Credicard/Citibank já nos era ensinado que
deveríamos manter uma reserva financeira de pelo menos 1 ano, com alguma redução no padrão de vida, para
enfrentarmos as inevitáveis transições na nossa vida profissional.
Não tenho parâmetros para afirmar, mas acredito que hoje, para uma gerência intermediária ou um cargo técnico
especializado, o prazo médio de recolocação é de pelo menos 1 ano, provavelmente mais. Você tem esta
reserva financeira? Se tem ótimo e se não tem, quais são os seus planos para obtê-la rapidamente?
Juntando comprometimento com planejamento, a sua família conhece e concorda com este plano? Concorda,
por exemplo, em reduzir significativamente as despesas, os almoços de finais de semana, as baladas, as viagens,
os hobbies etc. ou para juntar a reserva financeira ou para sobreviver durante o longo período de recolocação?
São vários os casos de crises familiares decorrentes da redução no padrão de vida.
Capítulo 7 – Recursos
Já abordei recursos financeiros acima. Mas além dos recursos financeiros quais outros recursos você necessitaria para ou
se preparar para enfrentar a recolocação ou para enfrentar a recolocação se e quando ela ocorrer? Ainda este capítulo da
norma ISO 22301 aborda um item muito importante que é a comunicação.
Vamos primeiramente aos recursos. Seguramente você necessitará de muita tranquilidade para enfrentar a crise
da recolocação. Me lembro quando, depois de quase 10 anos e uma carreira brilhante, fui demitido da
Credicard/Citibank. Foi como se o chão tivesse desaparecido debaixo dos meus pés. Foram semanas até
absorver e digerir o golpe, que felizmente não impactaram a minha carreira profissional. E naquela época eu
também não tinha nenhum plano, tudo acabou sendo resolvido no melhor estilo Zeca Pagodinho, “deixando a vida
me levar”.
Outro recurso estratégico importante inserido no contexto da comunicação é a sua rede profissional de contatos.
O Linkedin pode te ajudar, mas não fará milagres se você diuturnamente não cuidar desta rede social. Quantas
horas por semana você passa no Facebook ou outras mídias sociais e quantas horas você se dedica a cultivar a
sua carreira profissional? Pois é, uma hora a conta aparece. O que vemos com frequência no Linkedin são
candidatos em busca de recolocação disparando convites, quase que de forma desesperada, para aumentar a
sua rede de contatos e esperando com isto a desejada recolocação.
Na minha visão, o Linkedin é um local para você construir e solidificar a sua carreira profissional, participando de
grupos de discussão, elaborando artigos e trocando experiências com a sua comunidade. Linkedin, como vários
postam quase que diariamente, não é o Facebook, para você ficar postando selfies ou outros fatos do seu dia a
dia.
Ainda com relação à comunicação você tem um plano para comunicar a sua família que você foi desligado da
empresa onde trabalhava? Sei de vários casos de profissionais que continuaram levantando pela manhã e
saindo de casa, pretendendo que estavam indo ao trabalho, ou por medo ou vergonha de contarem em casa que
foram demitidos. Demissão não é vergonha alguma e faz parte da vida profissional de qualquer um.
Capítulo 8 – Operação
É neste capítulo que materializaremos o macroplanejamento da nossa vida profissional, conciliando as nossas
competências, apetite ou aversão ao risco, aos recursos e planos de ação.
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Nosso plano de ação inclui a avaliação dos riscos e dos impactos, o desenvolvimento das nossas estratégias e os planos de
ação.
Para avaliação dos riscos, oportunidades e impactos recomendo a análise SWOT – Strengths (Forças),
Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças). Um bom profissional de coaching
pode te ajudar a realizar esta análise de maneira bastante imparcial e com isto te permitindo identificar as suas
habilidades, limitações, oportunidades que eventualmente você não esteja enxergando e as ameaças que você
está correndo, sem se perceber disto.
Parafraseando Delfos, a análise SWOT permitirá que você "Conhece-te a ti mesmo" trazendo informações
relevantes para a elaboração dos planos de ação para a sua carreira profissional.
Alguns exemplos:
Forças: capacidade de planejamento, liderança, fluência em mais de um idioma, competência técnica
etc.
Fraquezas: falta de planejamento, liderança difusa, sem segunda língua, desatualizado tecnicamente
etc.
Oportunidades: uma recolocação em outra cidade/estado/país, uma recolocação interna em outra área
de conhecimento, uma vaga numa start up promissora etc.
Ameaças: acomodado, inabilidade política, falta de capacidade de comunicação objetiva etc.
Voltando à minha demissão na Credicard/Citibank, no dia seguinte ao fato, uma terça-feira, pedi uma conversa
rápida com o então vice-presidente de tecnologia para entender as razões da minha demissão. A resposta foi
dura, embora no fundo eu já a soubesse: “você tinha um futuro brilhante nesta organização e até mesmo na
holding, mas a sua falta de habilidade política, e não foram poucos os avisos que te demos, nos levaram a tomar
esta decisão”, disse o vice-presidente. Falhei na avaliação dos meus riscos e consequentemente na minha
postura estratégica.
No meu pacote de demissão estava incluído uma empresa de recolocação. Optei pela Lens&Minarelli
(www.lensminarelli.com.br/) onde tive o prazer de conhecer o José Augusto Minarelli, que desenvolveu um
conceito muito interessante sobre empregabilidade, que remete à capacidade do profissional de ter a sua carreira
protegida dos riscos inerentes ao mercado de trabalho.
Na sua análise SWOT, qual seria o escore para a sua empregabilidade? Quanto menor for este escore,
provavelmente maiores serão as suas dificuldades de recolocação. Projete o escore da sua empregabilidade ao
longo do tempo, antecipando as possíveis crises que poderão ocorrer nas suas transições de carreira à medida
que você envelhece.
Como possíveis estratégias de recolocação profissional pode ser que surja o “negócio próprio”. Se me permite
um conselho, não se lance a esta empreitada se você não tiver um bom plano de negócios, capital e demais
recursos necessários, conhecimento no ramo de atuação e muita vontade de vencer, tendo que trabalhar muitas
vezes 16, 18 horas por dia de segunda a segunda.
As estatísticas do SEBRAE estão aí, 90% das pequenas empresas não completam um ano de vida, muitas vezes
deixando os seus empreendedores ainda mais quebrados, devendo na praça e/ou para as suas famílias.
Com todo este conjunto de informações em mãos é hora de desenvolver os planos de ação. Os planos de ação
dependerão, fundamentalmente, do que você definiu como os seus objetivos profissionais de curto, médio e longo
prazos.
O seu plano de ação é a recolocação? Com vínculo empregatício ou não? Então foco e mãos à obra.
Estabeleça uma rotina de trabalho. Lá na Lens&Minarelli éramos obrigados a ir de terno e gravata, OK eram
outros tempos, realizar as nossas atividades de networking e prospecção de oportunidades. Isto para não perder
o foco nem tratar a atividade como secundária.
Se o seu objetivo é a recolocação com vínculo empregatício e a oportunidade que surgiu é de terceirizado, avalie
bem o seu plano de ação. 70% de alguma coisa é muito melhor do que 100% de nada e não assuma um
compromisso que você não pretende honrar. O mercado é pequeno demais para comportamentos assim.
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Da mesma forma, avalie muito aceitar um cargo de coordenação, por exemplo, quando você já tinha um cargo de
gerência. A situação é muito parecida com a acima. Um bom headhunter perceberá facilmente as suas
intenções.
Seu objetivo é o negócio próprio? SUCESSO! Faça o seu plano de negócios e demais orientações já citadas
aqui.
Capítulos 9 e 10 – Avaliação de Performance e Melhoria
Planos desenvolvidos e indicadores estabelecidos é hora de avaliarmos se os planos estabelecidos estão se desenvolvendo
como planejados ou não.
Caso os planos estejam ocorrendo como planejados o que podemos fazer para melhorá-los ainda mais? Em contrapartida,
se estão ocorrendo desvios ou não estamos conseguindo cumprir o planejando, quais ações devem ser executadas de
forma a fazer cumprir o planejado, eventualmente até mesmo mudando o planejamento todo, que pode estar baseado em
premissas não confirmadas.
Capítulos 11 – Infelizmente aconteceu (este capítulo não está na norma)
Infelizmente o indesejado aconteceu, a demissão.
Vamos ao básico.
Você tinha um bom plano de ação para este momento? Então é hora de executá-lo, de forma organizada, sem
atropelos ou decisões emocionais. Siga o plano, antecipe e monitore os desvios. Replaneje se for necessário.
Você não tinha um plano de ação? Não se culpe, administre a crise estabelecida. Decisões emocionais ou
não planejadas agravarão a crise. Mantenha a calma. Faça uma rápida análise da situação.
o Qual a sua folga financeira, o que pode ser cortado para reduzir as despesas?
o Por quanto tempo você conseguirá viver assim?
o Estabeleça intervalos de tempo associados à sua reserva financeira, digamos quando chegar a 75%,
50% e 25% das reservas;
o Quais outras despesas podem ser cortadas? Lembre-se estamos operando em modo sobrevivência,
onde itens não essenciais são desnecessários;
o Se as reservas financeiras permitirem ou dentro do novo planejamento financeiro busque apoio
profissional: coaching, plano de negócios etc.
o Quais as alternativas para trazer alguma receita para casa?
o Desenvolva um plano de ação. Assuma, por hipótese, que você levará, no mínimo, 1 ano para se
recolocar.
o Estabeleça uma rotina de trabalho para conseguir a sua recolocação. Ficar 24 hs./dia somente
fazendo isto pode te deixar muito angustiado e ansioso. Arrume alguma atividade onde você possa
relaxar, desestressar, renovar as suas energias para perseverar na busca da sua recolocação;
o Cultive a sua rede de contatos, mas sem afobação;
o Desenvolva um plano B caso o plano A não funcione satisfatoriamente.
Sidney R. Modenesi, MBCI