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A ARTE DOS POVOS DA ÁFRICA OCIDENTAL.
AMARAL, Carla G. F. do1; SILVA, Úrsula Rosa da2.
1

2

Lic. Artes Visuais (Ufpel), carlagiamaral@gmail.com; Profa.Orientadora ,Dra.História (PUC/RS),
anda
D . Educação (UFPel) profa.Instituto de Artes e Design (UFPel), bear@ufpel.edu.br.

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
É fato já comprovado a grande influência da cultura africana em nosso país,
e isto pode ser notado em inúmeros e diferentes aspectos de nosso cotidiano.
Com o objetivo de buscar a origem desta influência também na arte produzida
pelos artistas negros no Brasil, esta pesquisa estuda as principais características
da arte produzida na região ocidental da África, onde se localizavam o povo iorubá
e seus vizinhos – que por terem sido um dos povos africanos dos quais o Brasil
mais recebeu escravos – tem presença intensa e marcante na iconografia dos
artistas negros brasileiros. Para o melhor desenvolvimento deste trabalho foi
necessário também estudar o histórico dos povos que compunham a região, pois
estes dados auxiliam na contextualização e colaboram para uma melhor
compreensão do desenvolvimento artístico dos povos em estudo.
2. METODOLOGIA
Este trabalho se realizou através de levantamento bibliográfico, onde foram
contemplados o desenvolvimento histórico e artístico dos povos em questão.
Após, passou-se para a fase de elaboração de leituras de imagens e organização
de acervo digital das imagens e suas respectivas leituras formais. A partir da
análise destas imagens e contextualização histórica foi produzido um texto geral
sobre a pesquisa, a fim de organizar as informações obtidas em um todo que
auxiliasse na melhor compreensão das formas artísticas das regiões em estudo.
3. A ARTE DOS POVOS DA ÁFRICA OCIDENTAL
A África Ocidental é localizada em uma área de floresta equatorial, que
apresenta chuvas moderadas, fato que possibilitou o desenvolvimento uma
intensa atividade agrícola. O clima tropical moderado da zona equatorial torna a
área da orla da floresta favorável ao povoamento, assim os povos que lá
habitaram desenvolveram grandes civilizações, complexamente organizadas com
base em noções de parentesco.
A economia foi caracterizada pelo expressivo comércio desenvolvido entre
os povos desta região e os povos que habitavam mais ao norte, além dos
europeus, que a partir do século XV começaram a entrar nesta região pelo litoral.
A presença dos estrangeiros foi determinante no desenvolvimento de novas
técnicas de artesanato e manufatura, assim como exerceu influencia
preponderante na arte.
Na África Ocidental se distribuem inúmeros povos reunidos sob grandes
grupos com subdivisões. Os mais importantes e que exercem maior influência
sobre a arte negra brasileira serão descritos a seguir.
3.1. Povo iorubá
Grupo de povos de 12 milhões de indivíduos que habitou a região centrooeste da atual Nigéria e que formou, até a colonização inglesa, uma federação de
cidades-estados lideradas por poderosos monarcas divinos, que tinham como
centro e capital espiritual Ilé-Ifé. A organização política iorubana estava ligada às
instituições religiosas e o seu núcleo principal era pequenos municípios com
cidades, que unidos, formavam os reinos, e caracterizavam o estilo de vida urbano
deste povo. Vários reinos iorubá florescem a partir do século XVI, mas nem todos
conhecem a mesma evolução tendo alguns, declínio mais rápido que os outros em
virtude das constantes guerras entre si ou com reinos vizinhos, desencadeadas
por motivos políticos, como a anexação territorial ou com o objetivo de conseguir
escravos para serem vendidos aos mercadores estrangeiros.
Localizada em privilegiada posição geográfica, Ifé é o coração da
monarquia iorubá e sede do oni, dirigente religioso supremo de todo esse povo. A
cidade desenvolveu comércio internacional com países vizinhos e do norte da
África e é possível que uma das suas principais fontes de renda fosse a
exportação de escravos. Na arte de Ifé destacam-se as cabeças de bronze e
terracota, tendo essas últimas, conforme Gillon (1989), exemplares naturalistas ou
clássicos, abstratos e expressionistas. O trabalho em metais não se restringe às
cabeças, foram produzidos muitos outros objetos com esse material, como por
exemplo, estatuetas. Também trabalhavam muito bem com o latão, o granito, o
vidro e a madeira.
A arte iorubá tem como principal objetivo colaborar na construção de
relações protetoras com forças da natureza, através do poder intermediador dos
antepassados. Exemplos disso são os atos de semear e colher, vitais para a
sobrevivência desta sociedade, que não eram realizados sem a celebração de
ritos para tentar conter a cólera das potências invisíveis e ameaçadoras, que este
povo acreditava desejarem ameaçar o equilíbrio do mundo. O recurso à
adivinhação, a enorme quantidade de altares e locais sagrados para a realização
de oferendas e sacrifícios ao deus celeste, aos deuses menores, aos
antepassados e, de um modo geral, a todos os espíritos e forças de vida
presentes na natureza, eram também fatores geradores de uma intensa produção
artística. Para elaborar sua enorme quantidade de objetos artísticos utilizavam
materiais como: madeira, ferro, bronze e terracota.
Havia também entre os iorubas uma estatutária de iconografia específica e
muito forte, dedicada ao culto de deuses importantes como Xangô e Exu. Os oxês
ou machados de duas lâminas eram objetos portados pelos fiéis de Xangô quando
em transe, para mostrar que estavam totalmente possuídos por seu orixá. Exu é o
orixá através do qual adoravam indiretamente a Olorun - deus supremo do céu, do
qual não podiam ser feitas imagens – é representado sob forma humana, e
reconhecido pela presença do gorro, ganchos, flautas e facas.
As guerras já mencionadas entre os iorubas e seus vizinhos, ou mesmo
conflitos inter-étnicos, explicam a decadência dessa civilização que inicia ainda no
século XVIII. Durante todo o século XIX esses conflitos foram acirrados, povos
estrangeiros invadiram o território e promoveram a dominação política e a
islamização de algumas cidades-estado, além da cristianização de outras. Esses
problemas fizeram com que a resistência à dominação européia fosse fracassada
e toda a região acabou sendo ocupada pelos europeus no final do século XIX.
3.2. O povo Edo e o Reino do Benin
Edo é a denominação que se dá ao povo formador do Reino do Benin.
Situado a sudoeste de Ifé, logo acima do Delta do Níger, o reino do Benin foi um
dos mais poderosos impérios negros da Costa da Guiné. As qualidades guerreiras
e de expansão do povo bini estruturam esta poderosa cidade-estado. A base do
reino eram as aldeias governadas por anciões locais, mas todos eram reunidos
sob a autoridade - como em Ifé, considerada divina – do rei supremo obá.
Como o comércio era de extrema importância para a economia, os binis
eram muito rígidos na feitura e respeito aos contratos comerciais, respondendo ao
desrespeito a eles com boicotes. Mantinham relações com outros reinos africanos,
distribuindo ferro, armas, instrumentos agrícolas e alimentos.
A arte do Reino do Benin se caracteriza por ser essencialmente cortesã e
apresentar formas suntuosas, em obras criadas com os mais diferentes materiais
como madeira, marfim e bronze, através de um naturalismo estilizado, com o
objetivo de celebrar os faustos do reino. Os principais personagens representados
são o obá, seus dignatários e servos, além da rainha-mãe, que tinha grande
importância nesta sociedade e por isso, muitas vezes, era glorificada nas obras
produzidas por este povo.
No século XVIII já se vêm sinais de esgotamento em Benin, mas a
decadência do Reino propriamente dita começou no século XIX com a instalação
dos ingleses em Lagos, em 1851, deixando ao soberano do Benin o controle
apenas do território a oeste do Níger. Em 1897, o rei foi destronado e o controle
britânico se estabeleceu em toda a região.
3.3. O povo Fon e o Reino do Daomé
Os fon pertencem ao grande grupo Evé, mas relacionava-se diretamente
com os iorubá através da religião, sistemas políticos, sociais e línguas. São
originários de Ilé-Ifé, estabelecendo-se primeiro em Togo, mas em seguida
passaram a ocupar o Planalto de Abomé, na atual republica de Benin e lá
fundaram os Reinos do Daomé, Whydah e Allada.
Os Fon acreditavam na alma imortal e sua religião era caracterizada pelo
culto aos ancestrais, cuja proteção e benevolência são garantidas por oferendas.
Outro culto característico é feito à serpente Dan, também chamada Aido Wedo.
Dan pode ser representada por um arco-íris ou por uma serpente mordendo a
própria cauda, símbolo de continuidade do vodum Aido Wedo. Esses elementos
são presentes nos símbolos reais, assim como o camaleão, símbolo do casal
criador Lissa-Mahu, que paira acima do universo, representando respectivamente
o Sol e a Lua, e que, em algumas lendas é a mesma Aido Wedo. Abaixo desses
deuses e servindo de vetores para sua ação na terra se encontram deuses
especializados em diferentes setores, chamados de voduns.
Muito da arte Fon é comissionada pela corte real, com o objetivo de
justificá-la e dignificá-la. Para tanto produziam tronos reais e cadeiras para os
signatários, semelhantes as do povo Acan. Estes tronos têm um caráter sagrado,
sendo objeto de culto após a morte do dono, pois sua conservação constitui um
elo mágico entre o defunto e seus descendentes. Aplicações em tecido eram
usadas como tábuas de mensagem em forma de banners dispostos durante
encontros públicos.
No fim do século XIX, tropas colonialistas francesas começaram a assediar
o Reino fon do Daomé. O rei Behanzim resistiu, mas os franceses derrotaram o
poderoso exército de Daomé e suas amazonas em 1892, apesar do reino ter
oferecido resistência com uma excelente força de guerra aliada às armas
européias.
3.4. O Povo Acan
Denomina-se acan a um grande grupo de povos de mais ou menos quatro
milhões de indivíduos que habitavam as regiões central e sul do atual Gana e
também o sudeste da Costa do Marfim. Fazem parte do grupo Acan oriental os
povos Axanti e Fanti, e do grupo Acan ocidental os Baulê e os Agni. Os Axanti
foram a etnia dominante concentrando-se em Kumasi, já os Fanti se localizavam
mais na região costeira. O desenvolvimento do comércio e a utilização de armas
de fogo provocaram conflitos entre os estados Acan e o conseqüente predomínio
dos Axanti entre os séculos XVII e XIX.
Todos os povos Acan compartilhavam a crença em um deus supremo
criador chamado Nyame e em divindades intermediárias chamadas de Obosom,
que seriam os espíritos dos bosques e rios. Também acreditavam na bruxaria e no
poder protetor de amuletos que tinham a forma de talismãs de ouro ou couro que
os chefes levavam costurados nas roupas.
A arte Acan é ligada ao comércio do ouro, abundante no país. Apresentam
uma parte de sua produção artística de cunho ritualístico, desenvolvendo objetos
pra uso nos santuários e com finalidades de culto. Outros objetos destinados aos
ritos eram os recipientes de latão, lâmpadas de azeite, sinos, banquinhos e
espadas cerimoniais. A principal influência externa na arte da região foi o
islamismo. A maior parte da produção artística, entretanto, estava a serviço do
estado e das necessidades da corte e dos governantes, ou ainda relacionada ao
comércio ou exigências domésticas. A riqueza e o poder dos reinos eram
expressos através das insígnias dos monarcas, chefes e cortesões e os
penteados eram usados como meio de identificação do status e do cargo.
Desde o início do século XIX os acan foram atacados por forças
imperialistas inglesas às quais ofereceram resistência, enquanto outros estados
tornavam-se parte do Império Britânico, entretanto em 1901 este povo avançado e
progressista, via sua Confederação derrotada e saqueada, tornando-se parte da
colônia inglesa da Costa do Ouro, atual Gana.
4. CONCLUSÃO
Estudar a arte africana, seu desenvolvimento e suas inúmeras faces é uma
eficiente maneira de enxergarmos com nossos próprios olhos a essência de nossa
cultura e a importância elementar que os povos africanos têm na nossa formação
cultural. Mostrando a nós mesmos o quão desenvolvidas eram as sociedades
africanas, sejam elas pequenas tribos ou grandes reinos, talvez possamos
encontrar repertório para entender melhor o esforço que os afro-descendentes
fizeram por manter vivos aqui seus costumes e tradições. Ter uma visão clara da
África que os escravos deixaram para trás e desconstruir a idéia de que esse
continente tinha apenas uma base tribal crua e simples, nos possibilitará identificar
nela traços que agora são nossos e assim, talvez em um futuro – que não se sabe
se próximo ou distante – seremos capazes de reagir contra o preconceito racial,
que de forma tão arraigada, embora às vezes velado, ainda faz parte de nossa
sociedade.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GILLON, Werner. Breve história del arte africano. 1984. Ed.Cast: Alianza
Editorial, S. A., 1989.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense S.A.,
1993
LOPES, Nei. Bantos, malês e identidade negra. RJ: Forense Universitária, 1988.
MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas.
Petrópolis, Vozes, 1986.
OLIVER, Rand. A experiência africana – da pré-história aos nossos dias. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.
J. KI-ZERBO em História Geral da África. São Paulo: Ática/Unesco, 1982.

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A arte dos povos da áfrica ocidental carla amaral e ursula rosa

  • 1. A ARTE DOS POVOS DA ÁFRICA OCIDENTAL. AMARAL, Carla G. F. do1; SILVA, Úrsula Rosa da2. 1 2 Lic. Artes Visuais (Ufpel), carlagiamaral@gmail.com; Profa.Orientadora ,Dra.História (PUC/RS), anda D . Educação (UFPel) profa.Instituto de Artes e Design (UFPel), bear@ufpel.edu.br. 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS É fato já comprovado a grande influência da cultura africana em nosso país, e isto pode ser notado em inúmeros e diferentes aspectos de nosso cotidiano. Com o objetivo de buscar a origem desta influência também na arte produzida pelos artistas negros no Brasil, esta pesquisa estuda as principais características da arte produzida na região ocidental da África, onde se localizavam o povo iorubá e seus vizinhos – que por terem sido um dos povos africanos dos quais o Brasil mais recebeu escravos – tem presença intensa e marcante na iconografia dos artistas negros brasileiros. Para o melhor desenvolvimento deste trabalho foi necessário também estudar o histórico dos povos que compunham a região, pois estes dados auxiliam na contextualização e colaboram para uma melhor compreensão do desenvolvimento artístico dos povos em estudo. 2. METODOLOGIA Este trabalho se realizou através de levantamento bibliográfico, onde foram contemplados o desenvolvimento histórico e artístico dos povos em questão. Após, passou-se para a fase de elaboração de leituras de imagens e organização de acervo digital das imagens e suas respectivas leituras formais. A partir da análise destas imagens e contextualização histórica foi produzido um texto geral sobre a pesquisa, a fim de organizar as informações obtidas em um todo que auxiliasse na melhor compreensão das formas artísticas das regiões em estudo. 3. A ARTE DOS POVOS DA ÁFRICA OCIDENTAL A África Ocidental é localizada em uma área de floresta equatorial, que apresenta chuvas moderadas, fato que possibilitou o desenvolvimento uma intensa atividade agrícola. O clima tropical moderado da zona equatorial torna a área da orla da floresta favorável ao povoamento, assim os povos que lá habitaram desenvolveram grandes civilizações, complexamente organizadas com base em noções de parentesco. A economia foi caracterizada pelo expressivo comércio desenvolvido entre
  • 2. os povos desta região e os povos que habitavam mais ao norte, além dos europeus, que a partir do século XV começaram a entrar nesta região pelo litoral. A presença dos estrangeiros foi determinante no desenvolvimento de novas técnicas de artesanato e manufatura, assim como exerceu influencia preponderante na arte. Na África Ocidental se distribuem inúmeros povos reunidos sob grandes grupos com subdivisões. Os mais importantes e que exercem maior influência sobre a arte negra brasileira serão descritos a seguir. 3.1. Povo iorubá Grupo de povos de 12 milhões de indivíduos que habitou a região centrooeste da atual Nigéria e que formou, até a colonização inglesa, uma federação de cidades-estados lideradas por poderosos monarcas divinos, que tinham como centro e capital espiritual Ilé-Ifé. A organização política iorubana estava ligada às instituições religiosas e o seu núcleo principal era pequenos municípios com cidades, que unidos, formavam os reinos, e caracterizavam o estilo de vida urbano deste povo. Vários reinos iorubá florescem a partir do século XVI, mas nem todos conhecem a mesma evolução tendo alguns, declínio mais rápido que os outros em virtude das constantes guerras entre si ou com reinos vizinhos, desencadeadas por motivos políticos, como a anexação territorial ou com o objetivo de conseguir escravos para serem vendidos aos mercadores estrangeiros. Localizada em privilegiada posição geográfica, Ifé é o coração da monarquia iorubá e sede do oni, dirigente religioso supremo de todo esse povo. A cidade desenvolveu comércio internacional com países vizinhos e do norte da África e é possível que uma das suas principais fontes de renda fosse a exportação de escravos. Na arte de Ifé destacam-se as cabeças de bronze e terracota, tendo essas últimas, conforme Gillon (1989), exemplares naturalistas ou clássicos, abstratos e expressionistas. O trabalho em metais não se restringe às cabeças, foram produzidos muitos outros objetos com esse material, como por exemplo, estatuetas. Também trabalhavam muito bem com o latão, o granito, o vidro e a madeira. A arte iorubá tem como principal objetivo colaborar na construção de relações protetoras com forças da natureza, através do poder intermediador dos antepassados. Exemplos disso são os atos de semear e colher, vitais para a sobrevivência desta sociedade, que não eram realizados sem a celebração de ritos para tentar conter a cólera das potências invisíveis e ameaçadoras, que este povo acreditava desejarem ameaçar o equilíbrio do mundo. O recurso à adivinhação, a enorme quantidade de altares e locais sagrados para a realização de oferendas e sacrifícios ao deus celeste, aos deuses menores, aos antepassados e, de um modo geral, a todos os espíritos e forças de vida presentes na natureza, eram também fatores geradores de uma intensa produção artística. Para elaborar sua enorme quantidade de objetos artísticos utilizavam materiais como: madeira, ferro, bronze e terracota. Havia também entre os iorubas uma estatutária de iconografia específica e muito forte, dedicada ao culto de deuses importantes como Xangô e Exu. Os oxês ou machados de duas lâminas eram objetos portados pelos fiéis de Xangô quando em transe, para mostrar que estavam totalmente possuídos por seu orixá. Exu é o orixá através do qual adoravam indiretamente a Olorun - deus supremo do céu, do
  • 3. qual não podiam ser feitas imagens – é representado sob forma humana, e reconhecido pela presença do gorro, ganchos, flautas e facas. As guerras já mencionadas entre os iorubas e seus vizinhos, ou mesmo conflitos inter-étnicos, explicam a decadência dessa civilização que inicia ainda no século XVIII. Durante todo o século XIX esses conflitos foram acirrados, povos estrangeiros invadiram o território e promoveram a dominação política e a islamização de algumas cidades-estado, além da cristianização de outras. Esses problemas fizeram com que a resistência à dominação européia fosse fracassada e toda a região acabou sendo ocupada pelos europeus no final do século XIX. 3.2. O povo Edo e o Reino do Benin Edo é a denominação que se dá ao povo formador do Reino do Benin. Situado a sudoeste de Ifé, logo acima do Delta do Níger, o reino do Benin foi um dos mais poderosos impérios negros da Costa da Guiné. As qualidades guerreiras e de expansão do povo bini estruturam esta poderosa cidade-estado. A base do reino eram as aldeias governadas por anciões locais, mas todos eram reunidos sob a autoridade - como em Ifé, considerada divina – do rei supremo obá. Como o comércio era de extrema importância para a economia, os binis eram muito rígidos na feitura e respeito aos contratos comerciais, respondendo ao desrespeito a eles com boicotes. Mantinham relações com outros reinos africanos, distribuindo ferro, armas, instrumentos agrícolas e alimentos. A arte do Reino do Benin se caracteriza por ser essencialmente cortesã e apresentar formas suntuosas, em obras criadas com os mais diferentes materiais como madeira, marfim e bronze, através de um naturalismo estilizado, com o objetivo de celebrar os faustos do reino. Os principais personagens representados são o obá, seus dignatários e servos, além da rainha-mãe, que tinha grande importância nesta sociedade e por isso, muitas vezes, era glorificada nas obras produzidas por este povo. No século XVIII já se vêm sinais de esgotamento em Benin, mas a decadência do Reino propriamente dita começou no século XIX com a instalação dos ingleses em Lagos, em 1851, deixando ao soberano do Benin o controle apenas do território a oeste do Níger. Em 1897, o rei foi destronado e o controle britânico se estabeleceu em toda a região. 3.3. O povo Fon e o Reino do Daomé Os fon pertencem ao grande grupo Evé, mas relacionava-se diretamente com os iorubá através da religião, sistemas políticos, sociais e línguas. São originários de Ilé-Ifé, estabelecendo-se primeiro em Togo, mas em seguida passaram a ocupar o Planalto de Abomé, na atual republica de Benin e lá fundaram os Reinos do Daomé, Whydah e Allada. Os Fon acreditavam na alma imortal e sua religião era caracterizada pelo culto aos ancestrais, cuja proteção e benevolência são garantidas por oferendas. Outro culto característico é feito à serpente Dan, também chamada Aido Wedo. Dan pode ser representada por um arco-íris ou por uma serpente mordendo a própria cauda, símbolo de continuidade do vodum Aido Wedo. Esses elementos são presentes nos símbolos reais, assim como o camaleão, símbolo do casal criador Lissa-Mahu, que paira acima do universo, representando respectivamente o Sol e a Lua, e que, em algumas lendas é a mesma Aido Wedo. Abaixo desses deuses e servindo de vetores para sua ação na terra se encontram deuses
  • 4. especializados em diferentes setores, chamados de voduns. Muito da arte Fon é comissionada pela corte real, com o objetivo de justificá-la e dignificá-la. Para tanto produziam tronos reais e cadeiras para os signatários, semelhantes as do povo Acan. Estes tronos têm um caráter sagrado, sendo objeto de culto após a morte do dono, pois sua conservação constitui um elo mágico entre o defunto e seus descendentes. Aplicações em tecido eram usadas como tábuas de mensagem em forma de banners dispostos durante encontros públicos. No fim do século XIX, tropas colonialistas francesas começaram a assediar o Reino fon do Daomé. O rei Behanzim resistiu, mas os franceses derrotaram o poderoso exército de Daomé e suas amazonas em 1892, apesar do reino ter oferecido resistência com uma excelente força de guerra aliada às armas européias. 3.4. O Povo Acan Denomina-se acan a um grande grupo de povos de mais ou menos quatro milhões de indivíduos que habitavam as regiões central e sul do atual Gana e também o sudeste da Costa do Marfim. Fazem parte do grupo Acan oriental os povos Axanti e Fanti, e do grupo Acan ocidental os Baulê e os Agni. Os Axanti foram a etnia dominante concentrando-se em Kumasi, já os Fanti se localizavam mais na região costeira. O desenvolvimento do comércio e a utilização de armas de fogo provocaram conflitos entre os estados Acan e o conseqüente predomínio dos Axanti entre os séculos XVII e XIX. Todos os povos Acan compartilhavam a crença em um deus supremo criador chamado Nyame e em divindades intermediárias chamadas de Obosom, que seriam os espíritos dos bosques e rios. Também acreditavam na bruxaria e no poder protetor de amuletos que tinham a forma de talismãs de ouro ou couro que os chefes levavam costurados nas roupas. A arte Acan é ligada ao comércio do ouro, abundante no país. Apresentam uma parte de sua produção artística de cunho ritualístico, desenvolvendo objetos pra uso nos santuários e com finalidades de culto. Outros objetos destinados aos ritos eram os recipientes de latão, lâmpadas de azeite, sinos, banquinhos e espadas cerimoniais. A principal influência externa na arte da região foi o islamismo. A maior parte da produção artística, entretanto, estava a serviço do estado e das necessidades da corte e dos governantes, ou ainda relacionada ao comércio ou exigências domésticas. A riqueza e o poder dos reinos eram expressos através das insígnias dos monarcas, chefes e cortesões e os penteados eram usados como meio de identificação do status e do cargo. Desde o início do século XIX os acan foram atacados por forças imperialistas inglesas às quais ofereceram resistência, enquanto outros estados tornavam-se parte do Império Britânico, entretanto em 1901 este povo avançado e progressista, via sua Confederação derrotada e saqueada, tornando-se parte da colônia inglesa da Costa do Ouro, atual Gana. 4. CONCLUSÃO Estudar a arte africana, seu desenvolvimento e suas inúmeras faces é uma eficiente maneira de enxergarmos com nossos próprios olhos a essência de nossa
  • 5. cultura e a importância elementar que os povos africanos têm na nossa formação cultural. Mostrando a nós mesmos o quão desenvolvidas eram as sociedades africanas, sejam elas pequenas tribos ou grandes reinos, talvez possamos encontrar repertório para entender melhor o esforço que os afro-descendentes fizeram por manter vivos aqui seus costumes e tradições. Ter uma visão clara da África que os escravos deixaram para trás e desconstruir a idéia de que esse continente tinha apenas uma base tribal crua e simples, nos possibilitará identificar nela traços que agora são nossos e assim, talvez em um futuro – que não se sabe se próximo ou distante – seremos capazes de reagir contra o preconceito racial, que de forma tão arraigada, embora às vezes velado, ainda faz parte de nossa sociedade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GILLON, Werner. Breve história del arte africano. 1984. Ed.Cast: Alianza Editorial, S. A., 1989. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense S.A., 1993 LOPES, Nei. Bantos, malês e identidade negra. RJ: Forense Universitária, 1988. MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis, Vozes, 1986. OLIVER, Rand. A experiência africana – da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. J. KI-ZERBO em História Geral da África. São Paulo: Ática/Unesco, 1982.