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1
2
Sarah Dessen
along
for the
Ride
3
Sinopse
Tem muito tempo desde que Auden dormia a noite. Desde a
separaçãodos seus pais — ou desde que as brigas começaram. Agora ela
tem a chancede passar um verão livre, com seu pai e sua nova família na
charmosa cidade praiana onde eles vivem.
Um emprego numa boutiquede roupas apresenta Auden ao mundo
das garotas: suas conversas, suas amizades, suas paixões. Ela sentiu falta
de tudo isso, muito ocupada em ser a filha perfeita da sua mãe
controladora. Então ela conhece Eli, um solitário intrigante e um
companheiro insone que se torna seu guia para o mundo noturno da
cidade. Juntos eles embarcam numa busca paralela: para Auden,
experimentar a vida adolescente desimpedida que lhe tem sido negada;
para Eli, se entender com a culpa que ele sente pela morte de um amigo.
4
1
O e-mail sempre começava do mesmo jeito.
— Oi Auden!!
Era o ponto deexclamação extra que me incomodava. Minha mãe
o chamaria de estranho, exagerado, exuberante. Para mim, era
simplesmente chato, assim como todo o resto a respeito da minha
madrasta, Heidi.
— Eu espero que você esteja tendo ótimas semanas finais de aulas.
Nós estamos todos bem aqui! Apenas terminando algumas coisas antes
da sua meio-irmã chegar. Ela tem chutado como uma maluca
ultimamente. É como se ela estivesse fazendo golpes de Karachi lá
dentro! Eu estive ocupada manejando a loja (por assim dizer) e
colocando os toques finais no quarto. Eu o fiz todo em rosa e marrom; é
lindo. Eu vou adicionar uma foto para que você possa vê-lo. Seu pai está
ocupado como sempre, trabalhando no seu livro. Eu imagino que vá ver
mais dele queimando o óleo quando eu estiver acordada com o bebê! Eu
realmente espero que você considere vir nos visitar uma vez que você
tiver terminado com a escola. Seria tão divertido, e fazer desse verão
muito mais especial para todos nós. Só venha a qualquer momento. Nós
adoraríamos ver você!
Amor, Heidi (e o seu pai, e o quase bebê).
Só ler essas informações me exauria. Particularmente era a
gramática excitada, que era como alguém gritando no seu ouvido, mas
também apenas a própria Heidi. Ela era tão... Estranha, exagerada,
exuberante. E um saco. Todas as coisas que ela tinha sido para mim, e
mais, desde que ela e meu pai se envolveram, engravidaram e casaram
no ano passado.
5
Minhamãe afirmou não estar surpresa. Desde o divórcio, ela tem
previsto que não demoraria muito antes do meu pai, segundo ela diz, -
Fosse morar com alguma estudantezinha. - Aos vinte e seis, Heidi era
da mesma idade que a minha mãe quando ela teve meu irmão Hollis,
seguido de mim dois anos depois, apesar delas não poderem ser mais
diferentes. Onde minha mãe era uma acadêmica escolar com um
esperto, afiado sagacidade e uma reputação nacional como uma expert
nos papéis das mulheres na literatura da Renascença, Heidi era... Bem,
Heidi. O tipo de mulher cujos fortes eram sua constantemente
automanutenção (pedicure, manicure, luzes no cabelo), saber todo o
tipo de coisa que você nunca quis saber sobre barras de roupas e
sapatos, e enviar e-mails totalmente muito conversatórios para
pessoas que não poderiam se importar menos.
O noivado deles foi rápido, a implantação (como minha mãe o
batizou) acontecendo dentro de uns dois meses. Bem assim, meu pai
foi do que ele tinha sido por anos, marido da Dra. Victoria West e autor
de um bem recebido romance, agora mais conhecido pelos seus
campos interdepartamentais do que a sua continuação ainda em longo
processo, para um novo marido e prestesa ser pai. Adicione a tudo isso
a sua também nova posição, como diretor do departamento criativo do
Colégio Weymar, uma pequena escola em uma cidade de frente para o
mar, e era como se o meu pai tivesse uma completa vida nova. E
mesmo que eles estivessem me convidando para ir, eu não estava certa
de que queria descobrir se ainda havia um espaço para mim nela.
Agora, do outro quarto, eu ouvi uma repentina explosão de
risadas, seguida de um bater de taças. Minha mãe estava
recepcionando outra das suas festinhas de estudantes de graduação,
que sempre começavam com um jantar formal. “A Cultura está em
tanta falta nessa cultura!”, ela disse, antes de inevitavelmente
deteriorar em altos e bêbados debates a cerca de literatura e teoria. Eu
dei uma olhada para o relógio – duas e meia – então abri a porta do
meu quarto com cuidado com o meu dedão, olhando de relance na
direção do longo corredor para a cozinha. Com certeza, eu podia ver
minha mãe sentadana cabeceira da nossamesa da cozinhado tamanho
de um grande bloco de açougueiro, olhando adoramente enquanto ela
6
continuava a respeito, do pouco que eu pude entender; Marlowe1 e a
cultura da mulher.
Essa era ainda, outra das muitas fascinantes contradições a
respeito da minha mãe. Ela era uma expert em mulheres na literatura,
mas não gostava muito delas na prática. Parcialmente era porque
muitas delas eram invejosas: da sua inteligência (praticamente nível
Mensa2), sua bolsa de estudos (quatro livros, inúmeros artigos, um
projeto financiado), ou da sua aparência (alta e curvilínea com longos
cabelos bem preto, que ela normalmente usava solto e selvagem, a
única coisa fora de controle a respeito dela). Por essas e outras razões,
estudantesfemininasraramentevinham para esses encontros, e se elas
vinham, raramente retornavam.
— Dra. West. — um dos estudantes tipicamente malvestido, em
um blazer de aparência barata, cabelo desgrenhado, e óculos de
armação preta de nerd, disse agora. — Você deveria considerar
desenvolver essa ideia em um artigo. É fascinante.
Eu observei minha mãe dar um gole no seu vinho, empurrando
seu cabelo suavemente com uma mão. — Oh, Deus, não. — ela disse,
em sua profunda, ríspida voz (ela soava como uma fumante, apesar de
nunca ter dado um trago na vida). — Eu malemente sequer tenho
tempo para escrever meu livro agora, e isso, pelo menos, eu estou
sendo paga para fazer. Se você pode chamar isso de pagamento.
Mais risadas agradáveis. Minha mãe amava reclamar sobre o
quão pouco ela era paga pelos seus livros, todos acadêmicos,
publicados por editoras universitárias, enquanto o que ela chamava de
fúteis histórias de donas de casa, atraiam grandes quantias. No mundo
da minha mãe, todo mundo iria carregar os trabalhos completos de
Shakespeare para a praia, com talvez uns dois poemas épicos jogados
lá pelo meio.
1
Christopher Marlowe foi dramaturgo,poeta e tradutor inglês, e viveu no Período Elizabetano
2 A Mensa Internationalé a maior, mais antiga e mais famosa sociedade que reúne pessoas com altos
quocientes de inteligência domundo. A organização destina-se à associação entre pessoas com QIs nos 2% do
topo de qualquer teste de inteligência padrãoaprovado.
7
— Ainda. — óculos-de-Nerd disse, pressionando. — É uma
brilhante ideia. Eu poderia... Hm, co-autorá-lo com você, se você quiser.
Minha mãe levantou sua cabeça e sua taça, apertando os olhos
para ele enquanto um silêncio caía. — Oh, vamos. — ela disse. — Que
doce dasua parte. Mas eu não faço coautoria, pela mesma razão que eu
não saio com conhecidos do trabalho ou relacionamentos. Eu sou
apenas muito egoísta.
Eu pudever óculos-de-Nerd engolir, mesmo do meu longo ponto
de vantagem, seu rosto corando assim que ele avançava para a garrafa
de vinho, tentando disfarçar. Idiota, eu pensei, empurrando de leve a
porta fechada. Como se fosse assim tão fácil se comparar a minha mãe,
por algum rápido e apertado laço que iria durar. Eu saberia.
Dez minutos depois, eu estava deslizando para fora pelas portas
laterais, meussapatos enfiados debaixo dos braços, e entrando no meu
carro. Eu dirigi pelas ruas vazias na maioria, passando por quietas
vizinhanças e escuras fachadas de lojas, até que as luzes da Lanchonete
do Ray aparecessem à distância. Pequeno, com completamente muito
neon, e mesas que estavam sempre um pouco grudentas, o Ray era o
único lugar na cidade, aberto vinte e quatro horas, 365 dias por ano.
Desde que eu não estivesse dormindo, eu tinha passado mais noites do
que me lembrava em uma cabine lá, lendo ou estudando, dando uma
gorjeta a cada hora ou a qualquer coisa que eu pedia até que o sol se
levantava.
A insônia começou quando o casamento dos meus pais começou
a se deteriorar três anos antes. Eu não deveria ter ficado surpresa: a
união deles tinha sido tumultuosa por mais tempo que eu posso me
lembrar, apesar deles estarem sempre discutindo mais a respeito de
trabalho do que de si mesmos.
Originariamente eles haviam chegado a Universidade
diretamente da escola de primeiro grau, quando meu pai se ofereceu
para ser professor assistente lá. Neste momento, ele recém havia
encontrado um editor para seu primeiro romance, A Sereia Narwhal,
8
enquanto minha mãe estava grávidade meu irmão e tentando terminar
sua tese.
Rebobinando para frente, quatro anos, até meu nascimento, e
para meu pai em uma maré de critica e êxito comercial, na lista de New
York Times como o mais vendido eindicado para os Prêmios Nacionais
de Livros, estava liderando o programa criativo de escritura, enquanto
minha mãe estava; como ela gostava de dizer, perdida em um mar de
fraldase baixa estima. Quando entrei no jardim de infância, no entanto,
minha mãe voltou para a academia com vontade, conseguindo um
mestrado e um editor para sua tese.
Com o tempo, se transformou em uma das professoras mais
populares no departamento, foi contratada para um cargo de tempo
integral, e conseguiu um segundo, depois um terceiro livro, tudo
enquanto meu pai simplesmente olhava. Ele afirmava estar orgulhoso,
sempre fazendo piadas sobre ela ser seu boleto para a comida, o
sustento da família. Mas logo minha mãe conseguiu seu cargo
acadêmico, o que era muito valorizado, e ele foi despedido por seu
editor, o que não o era, e as coisas começaram a ficar feias.
As brigas sempre pareciam começar pelo jantar, com um deles
fazendo algum pequeno comentário e o outro se sentindo ofendido.
Haveria uma pequena briga, palavras ríspidas, uma tampa de panela
batida com força, mas então pareceria resolvido..., pelo menos até
cerca das dez ou onze, quando de repente eu os ouviria começar de
novo sobre o mesmo assunto. Depois de um tempo eu percebi que esse
braço de tempo ocorria porque eles estavam esperando que eu
adormecesse antes de irem com tudo. Então eu decidi, uma noite, não
dormir. Eu deixei minha porta aberta, minha luz acesa e fiz calculos,
óbvias idas ao banheiro, lavando minhas mãos o mais alto possível. E
por um tempo, funcionou. Até que não, e as brigas começaram de novo.
Mas então meu corpo estava acostumado a ficar acordado até tarde, o
que significava que agora eu estava acordada para cada palavra.
Eu conhecia um monte de pessoas que tinham se separado, e
todo mundo parecia lidar com isso de modo diferente: completa
surpresa, desapontamento esmagador, completo alivio. O
9
denominador comum era, sempre que havia um monte de discussões a
respeito desses sentimentos, ambos com os dois pais, ou um ou outro
separadamente, ou com um terapeuta em grupo ou terapia individual.
Minha família, é claro, tinha que ser a exceção. Eu realmente tive o
sente-que-nós-temos-que-lhe-dizer-algo momento. As noticias foram
dadas pela minha mãe, pela mesa da cozinha enquanto meu pai se
encostava contra um canto por perto, mexendo nervosamente com as
mãos e parecendo cansado.
— O seu pai e eu estamos nos separando. — ela me informou,
com o mesmo inexpressivo, todo negócios tom que eu tão
freqüentemente a ouvia usar com estudantes enquanto ela criticava
seus trabalhos. — Eu tenho certeza que você irá concordar que esse é o
melhor para todos nós.
Ouvindo isso, eu não tinha certeza de como eu me sentia. Não
alivio não um esmagador desapontamento, e de novo, não era uma
surpresa. O que me incomodava, enquanto nós sentávamos ali, os três
de nós naquele cômodo eram; quão pequena eu me sentia. Pequena,
como uma criança. O que era a coisa mais esquisita. Como se tivesse
tomado todo esse imenso momento para uma repentina onda de
infância passar por mim, há muito esperada.
Eu tinha sido uma criança, é claro. Porque cerca do tempo que eu
cheguei, meu irmão, o mais cólico dosbebes, umahiperativa criancinha
engatinhando, uma espirituosa (leia-se ”impossível”) criança, tinha
acabado com os meus pais. Ele ainda os estava cansando, se bem que
de outro continente, vagando pela Europa e enviando apenas o
ocasional e-mail detalhando ainda que outra epifânia a respeito do que
ele deveria fazer da sua vida, seguido de um pedido de mais dinheiro
para ser posto em ação. Pelo menos estando lá fora fazia tudo isso
parecer mais nômade e artístico: agora meus pais poderiam dizer aos
seus amigos que Hollis estava andando pela Torre Eiffel fumando
cigarros ao invés de estar no Quik Zip. Apenas soava melhor.
Se Hollis era uma grande criança, eu era o pequeno adulto, a
criança que, aos três anos, sentaria-se à mesa durante discussões
adultas sobre literatura e coloria meus livros de colorir, sem fazer um
10
ruído. Que aprendeu a se entreter a uma idade muito nova, que era
obsessiva a respeito da escola e notas desde o jardim de infância,
porque universidade era a única coisa que sempre tinha a atenção dos
meus pais. Oh, não se preocupe, minha mãe diria, quando um dos seus
convidados deixasse escapar a palavra com P ou alguma coisa
igualmente crescida na minha frente. Auden é muito madura para sua
idade. E eu era, fosse a idade de dois ou quatro ou dezessete. Com
Hollis requerendo constante supervisão, eu era aquela que carregada
para todo lugar, constantemente fluindo na vigília da minha mãe e do
meu pai. Eles me levavam para a sinfonia, apresentações de arte,
conferências acadêmicas, encontros de comitê, onde eu era esperada
ser vista e não ouvida. Não havia muito tempo para brincadeira e
brinquedos, apesar de eu nunca querer livros, que estavam sempre em
grande quantidade.
Por causa dessa criação, eu tinha o tipo de dificuldade em me
relacionar com outras crianças da minha idade. Eu não entendia suas
loucuras, sua energia, o modo indisciplinado que eles arremessavam
por aí almofadas de sofás, ou digamos, andavam de bicicleta
descontroladamente pelos cul-de-sacs3. Aquilo realmente parecia meio
que divertido, mas ao mesmo tempo, era tão diferente do que eu era
acostumada que eu não conseguia imaginar como eu iria alguma vez
tomar parte se eu tivesse a chance. Que eu não tomei já que os
atiradores de almofadas e os descontrolados motoristas de bicicletas
normalmente não iam à altamente acadêmicas, séries aceleradas
escolas privadas que os meus pais preferiam.
Nos últimos quatro anos, de fato, eu tinha sido trocada de escola
três vezes. Eu tinha apenas demorado na Jackson High por umas duas
semanas antes da minha mãe, tendo visto um erro de soletração e um
erro gramatical no meu programa de estudos de Inglês, me movendo
para a Perkins Day, uma escola privada local. Era menor e mais
rigorosamente acadêmica; apesar de não ser nem tanto quanto
Kiffney/ Brown, a escola privilegiada para qual eu fui transferida no
inicio do ensino médio. Fundada por inúmeros professores da própria
3 É uma expressão francesa que é usada para designar alguns pontos específicos de subúrbios americanos:
como se fosse uma rua sem saída, mas o finaldela geralmente é arredondado,como uma rotatória.
11
localidade, era elite, uma centena de estudantes, estourando, e
enfatizava em bem pequenas turmas e uma forte conexão com a
universidade local, onde você podia fazer cursos de nível universitário
para crédito antecipado. Enquanto eu tinha uns poucos amigos na
Kiffney/ Brown, a ultracompetitiva atmosfera, comparada com o fato
de o currículo ser autocriado, fazia chegar perto deles de alguma
forma, uma dificuldade.
Não que eu me importasse de verdade. A escola era o meu
refúgio, e estudar me deixava escapar, me permitindo viver milharesde
vidas através de outras. Quanto mais os meus pais lamentavam a falta
de iniciativa de Hollis e suas notas terríveis, mais eu me esforçava. E
por mais que eles estivessem orgulhosos de mim, as minhas
realizações nunca pareciam me levar aonde eu queria. Eu era uma
criança tão inteligente, eu deveria ter percebido que o único modo de
realmente conseguir a atenção dos meus pais era desapontá-los ou
reprovar. Mas quando eu finalmente percebi isso, sair-me bem já era
um hábito muito arraigado para parar.
Meu pai se mudou no inicio do meu segundo ano, alugando um
apartamento mobiliado bem perto do campus em um complexo na
maior partehabitado por estudantes. Era suposto que eu passasse cada
fim de semana lá, mas ele estava em tal pânico, ainda se debatendo
com o segundo livro, sua editora (ou a falta dela) exigindo respostas
exatamente quando minha mãe estava ganhando tanta atenção, que
não era exatamente desfrutável. Então por outro lado, a casa da minha
mãe não era muito melhor, já que ela estava tão ocupada celebrando a
sua recém-descoberta vida de solteira e sucesso acadêmico, que ela
tinha pessoas lá em casa o tempo todo, estudantes indo e vindo,
jantares todo o fim de semana. Parecia como se não houvesse meio
termo em lugar nenhum, exceto na Lanchonete do Ray.
Eu tinha passado por ela um milhão de vezes, mas nunca tinha
pensado em parar até uma noite quando eu estava indo de volta para a
casa da minha mãe, cerca de duas da manhã. Meu pai, como minha
mãe, realmente não prestavam muita atenção em mim. Por causa dos
meus horários escolares, uma aula à noite; horas matinais flexíveis de
12
seminários, e inúmeras aulas independentes, eu ia e vinha como eu
quisesse, com pouco ou nenhum questionamento, então nenhum deles
realmente notava quando eu não estava dormindo. Naquela noite, eu
dei uma olhada rápida no Ray, e alguma coisa sobre ele apenas me
acertou. Ele parecia caloroso, quase seguro, habitado por pessoas que
pelo menos eu tinha alguma coisa em comum. Então eu estacionei,
entrei, e pedi uma xícara de café e uma torta de maçã. Eu fiquei até o
nascer do sol.
A coisa legal a respeito do Ray era que uma vez eu tendo me
tornado umaregular, eu aindaconseguia ficar sozinha. Ninguém estava
me perguntando por maisdo que eu quisesse dar, e todas as interações
eram curtas e doces. Se pelo menos os relacionamentos pudessem ser
tão simples, comigo sempre sabendo exatamente a minha parte.
Lá pelo outono, uma das garçonetes, uma velha senhora pesada
cuja placa de nome dizia JULIE, tinha dado uma olhadela na inscrição
que eu estava fazendo enquanto ela enchia de novo a minha xícara.
— Universidade de Defriese. — ela leu alto. Então ela olhou para
mim. — Boa escola.
— Uma das melhores. — eu concordei.
— Acha que vai entrar?
Eu concordei. — É. Eu vou.
Ela sorriu, como se eu fosse meio que bonitinha, então deu um
tapinha no meu ombro. — Ah, ser jovem e confiante. — ela disse e
então estava arrastando os pés para longe.
Eu queria dizer para ela que eu não era confiante, eu apenas
tinha me esforçado muito. Mas ela já tinha se movido para a próxima
cabine, batendo papo com o cara sentado ali, e eu soube que ela
realmente não se importava de todo modo. Havia mundos onde tudo
isso; notas, escola, documentos, nível escolar, admissão adiantada,
GPAs4 que contavam, importavam, ealguns onde eles não importavam.
4 Sigla para o Ponto Médiode Notas, ou seja a média aritmética das suas notas escolares dosemestre ou do
curso que se faz, podendoser apresentada pelas simbologia alfabética (A, B,C, etc),númerica (1.0 – 4.0) ou
13
Eu passei minha vidainteira exatamente no primeiro, e mesmo no Ray,
que era o último, eu ainda não conseguia fazer funcionar.
Ser tão autossuficiente, e frequentando uma escola tão ortodoxa,
significava que eu tinha perdido fazer todos esses momentos do último
ano queos meusvelhos amigos daPerkinsDay tinham passado falando
a respeito nesse último ano inteiro. A única coisa que eu já considerei
alguma vez foi o baile, e isso apenas porque o meu maior competidor
pelo mais alto GPA, Jason Talbot, tinha me perguntando meio quecomo
um oferecimento de paz. No fim, afinal de contas, nem mesmo isso
aconteceu, já que ele cancelou no último minuto depois de ser
convidado para participar de algum tipo de conferencia ecológica. Eu
disse a mim mesma que isso não importava; que era o equivalente a
aquelas almofadas de sofás e voltas em bicicletas nos cul-de-sacs todos
esses anos atrás, frívolos e desnecessários. Mas eu ainda meio que me
perguntei, naqueles e em tantos outros momentos, o que eu estava
perdendo.
Eu estava sentada no Ray, as duas ou três ou quatro da manhã, e
senti essa pontada esquisita. Quando eu desviei os olhos dos meus
livros para ver as pessoas ao meu redor; caminhoneiros, pessoas que
vinham da interestadual por café para seguir outra milha, os doidos
ocasionais, eu teria aquele mesmo sentimento que eu tive no dia em
que a minha mãe anunciou a separação. Como se eu não pertencesse
ali, e deveria estar em casa, adormecida na cama, como todo mundo
que eu veria na escola em algumas horas. Mas tão rapidamente quanto,
ele passaria, eu empurraria a minha xícara para a beirada da mesa,
dizendo sem palavras o que nós duas sabíamos bem, que eu ficaria por
um tempo.
qualitativa (Excelente,Bom, Regular, etc). Utilizada em geral como um dos pontos necessários pra a entrada na
universidade em países como USAe Inglaterra.
14
Minha meio irmã, Thisbe Caroline West, nasceu um dia antes da
minha formatura, pesando doisquilose setecentas gramas. Meu pai me
ligou na manhã seguinte, exausto.
— Eu sinto muito, Auden. — ele disse. — Eu odeio ter que perder
o seu discurso.
— Está tudo bem. — eu disse a ele enquanto minha mãe entrava
na cozinha, no seu roupão, em direção à cafeteira. — Como está Heidi?
— Bem. — ele respondeu. — Cansada. Foi um longo trajeto, e ela
acabou fazendo uma cesariana, o que ela não ficou muito feliz a
respeito. Mas eu estou certo que ela se sentirá melhor depois que tiver
um pouco de descanso.
— Diga a ela que eu dei os parabéns. — eu disse a ele.
— Eu direi. E vá lá e arrebente criança. — isso era típico: para o
meu pai, queera famosamentecompetitivo, qualquer coisa relacionada
com academia era uma batalha. — Eu estarei pensando em você.
Eu sorri e agradeci, então desliguei o telefone assim que minha
mãe colocasse leite em seu café. Ela mexeu a sua xícara, a colher
fazendo barulho suavemente, por um momento antes de dizer: —
Deixe-me adivinhar. Ele não vem.
— Heidi teve o bebê. — eu disse. — Eles a chamam de Thisbe.
Minhamãe zombou. — Oh, meu Deus!— ela disse. — Detodos os
nomes de Shakespeare para escolher, e o seu pai escolhe esse? A pobre
garota. Ela terá que explicar a si mesma durante toda a sua vida.
Minha mãe realmente não tinha direito de falar, considerando
que ela tinha deixado o meu pai colocar nomes em mim e no meu
irmão: Detram Hollis era um professor que meu pai altamente
admirava, enquanto W. H. Auden era o seu poeta favorito. Eu passei
algum tempo como criança desejando que meu nome fosse Ashley ou
Katherine, somente porque eles fariam a minha vida mais simples, mas
minha mãe gostava de dizer era um tipo de teste decisivo. Auden não
era como Frost, ela dizia, ou Whitman. Ele era um pouco mais obscuro,
15
e se alguém o conhecia, então eu poderia ter pelo menos algo de
certeza que eles eram merecedores do meu tempo e energia, capazes
de serem meus iguais intelectuais. Eu percebi que isso poderia ser
ainda mais verdadeiro para Thisbe, mas ao invés de dizer isso eu
apenas me sentei com as minhas notas de discurso.
— Então Heidi sobreviveu ao nascimento, eu assumo? – ela
perguntou, tomando um golinho do seu café.
— Ela teve que fazer uma cesárea.
— Ela foi sortuda. — minha mãe disse. — Hollis pesava quatro
quilos e novecentos gramas, e a epidural não funcionou. Ele quase me
matou.
Eu passei por outros dois cartões, esperando por uma das
histórias que inevitavelmente se seguiam a essa. Havia sempre como
Hollis era uma criança faminta, sugando o leite da minha mãe até o fim.
A loucura que era a sua cólica, como ele tinha que ser posto para andar
constantemente e, mesmo então, gritava por horas sem fim. Ou havia
aquela uma sobre o meu pai, e como ele...
— Eu apenas espero que ela não esteja esperando que o seu pai
seja de muita ajuda. — ela disse, avançando paradoisdos meus cartões
e os escaneando, seus olhos se apertando. — Eu tinha sorte se ele
trocava a fralda uma vez que fosse. E esqueça sobre ele se levantar
para alimentar durante a noite. Ele clama que ele tinha problemas de
sono e tinha que ter suas nove horas para poder ensinar.
Terrivelmente conveniente isso.
Ela ainda estava lendo meus cartões enquanto dizia isso, e eu
senti aquele familiar cutucão que eu experimentava sempre que
alguma coisa que eu fazia repentinamente estava sobre o exame
minucioso dela. Um momento depois, no entanto, ela os colocou de
lado sem comentários.
— Bem. — eu disse enquanto ela tomava outro gole do café. —
Isso foi a um longo tempo atrás. Talvez ele esteja mudado.
16
— As pessoas não mudam. Pelo contrário, você fica mais
acomodado nos seus modos enquanto você envelhece, não menos. —
ela balançou sua cabeça. — Eu lembro que eu costumava sentar em
nosso quarto, com Hollis gritando, e apenas desejando que uma vez a
porta se abrisse, e o seu pai entrasse e dizesse: Aqui, me dê ele. Vá
descansar. Por fim não era nem mesmo o seu pai que eu queria; era
apenas qualquer um. Qualquer pessoa.
Ela estava olhando pela janela enquanto dizia isso, seus dedos
enrolados ao redor de sua xícara, que não estava na mesa ou nos seus
lábios, mas sim flutuando entre os dois. Eu apanhei meus cartões,
cuidadosamente organizando-os de volta na ordem. — Eu deveria ir
me arrumar. — eu disse, empurrando minha cadeira para trás.
Minha mãe não se moveu enquanto eu me levantava e andei por
ela. Era como se ela estivesse congelada, ainda de volta naquele velho
quarto, ainda esperando, pelo menos até que eu fui pelo corredor.
Então, de repente, ela falou: — Você deveria repensar aquela frase de
Faulkner. — ela disse. — É muito para uma abertura. Você irá soar
pretensiosa.
Eu olhei para baixo, para o meu primeiro cartão, onde as
palavras O passado não está morto. Ele nem sequer passou, estavam
escritas na minha arrumada impressão de caixa alta. — Está certo. —
eu disse. Ela estava certa, é claro. Ela sempre estava. — Obrigada.
Eu estive tão concentradano meu último ano do ensino médio e
o inicio da universidadequeeu realmentenão tinha pensado sobre o
tempo entre elas. De repente, no entanto, era verão, e não havia nada
parafazer a não ser esperar pela minhaverdadeiravidacomeçar de
novo.
Passei umas duas semanas arrumando todas as coisas que eu
precisava para Defriese, e tentei arranjar alguns turnos no meu
trabalho de tutoria na Huntsinger Test Prep, apesar de estar indo bem
devagar. Eu parecia ser a única pensando sobre escola, um fato feito
mais obvio pelos vários convites que eu recebia dos meus velhos
amigos da Perkins para jantares ou viagens ao lago. Eu queria ver todo
17
mundo, mas sempre que nos ficávamos juntos, eu me sentia como a
pessoa estranha de fora. Eu tinha estado na Kiffney/Brown por apenas
dois anos, mas era tão diferente, tão inteiramente acadêmica, que
descobri que eu não conseguiria me relacionar de verdade com as suas
conversas sobre empregos de verão e namorados. Depois de umas
poucas saídas desconfortáveis, comecei a me desculpar, dizendo que
eu estava ocupada, e depois de um tempo, eles entenderam.
Em casa estava tão esquisito quanto, enquanto minha mãe tinha
conseguido alguma pesquisa remunerada e estava trabalhando o
tempo todo, e quando ela não estava; seus alunos de graduação
estavam sempre aparecendo para jantares de última hora e horas de
coquetéis. Quando eles ficavam muito barulhentos e a cara muito cheia,
eu iria rumar para o pátio da frente com um livro e leria até que fosse
escuro o suficiente para ir para o Ray.
Uma noite, eu estava profundamente dentro de um livro sobre o
Budismo quando vi uma Mercedes verde vindo na nossa rua. Ela
diminuiu assim que se aproximou da nossa caixa de correio, então
deslizou para parar no meio-fio. Depois de um momento, uma garota
loira bem bonita usando jeans de cós baixo, uma blusinha vermelha, e
sandálias plataforma, saiu com um pacote em uma mão. Ela deu uma
olhadela na casa, então para o pacote, então de volta pata a casa antes
de começar a andar pela entrada de carros. Ela estava quase nos
primeiros degraus do pátio quando me viu.
— Oi! — ela disse; totalmente amigável o que era meio que
alarmante. Eu malmente tive tempo de responder antes que ela
estivesse viesse direto para mim, um grande sorriso no seu rosto. —
Você deve ser a Auden.
— Sim. — eu disse lentamente.
— Eu sou Tara! — claramente, era para o nome ser
supostamente familiar para mim. Quando se tornou obvio que não era,
ela adicionou. — A namorada do Hollis?
Oh, querida, eu pensei. Em voz alta eu disse: — Oh, certo. É claro.
18
— É tão bom conhecer você! — ela disse, movendo-se mais perto
e colocando seus braços ao meu redor. Ela cheirava como gardênias e
lençóis secos. — Hollis sabia que eu estaria passando no caminho de
casa, e me pediu para te trazer isso. Direto da Grécia!
Ela me deu o pacote, que era um simplesembrulho marrom, meu
nome e endereço escrito na frente na caligrafia desleixada e inclinada
do meu irmão.
Houve um momento desconfortável, durante o qual percebi que ela
estava esperando que eu abrisse o pacote, então eu fiz. Era um
pequeno porta-retrato de vidro, salpicado com pedras coloridas: ao
longo do pé estavam gravadas as palavras O MELHOR DOS TEMPOS.
Dentro estava uma fotografia de Hollis parado na frente do Taj Mahal.
Estava sorrindo um dos seus sorrisos preguiçosos, em shorts cargo e
uma camiseta, uma mochila por cima de um ombro.
— É maravilhoso, não é? — Tara disse. — Nós o conseguimos em
uma feirinha de rua em Atenas.
Como eu não poderia dizer o que realmente sentia, que era que
você tem que ser seriamentebem narcisista paradar uma fotografia de
si mesmo como presente, eu disse a ela: — É bonito.
— Eu sabia que você iria gostar! — ela bateu suas mãos. — Eu
disse a ele, todo mundo precisa de porta retratos. Eles fazem uma
memória ainda mais especial, entende?
Abaixei o olhar para o porta-retrato de novo, as bonitas pedras, a
expressão fácil do meu irmão. O MELHOR DOS TEMPOS, de fato. — É.
— eu disse. — totalmente.
Tara me lançou outro sorriso de um milhão de watts, então
bisbilhotou pelas janelas atrás de mim. — Então a sua mãe está por ai?
Eu adoraria conhecê-la. Hollis a adora, fala dela o tempo todo.
— É mútuo. — eu disse. Ela me olhou rapidamente, e eu sorri. —
Ela está na cozinha. Longos cabelos negros, em um vestido verde. Você
não pode errar.
19
— Ótimo! — muito rápido para prever, ela estava me abraçando
de novo. — Muito obrigada.
Eu concordei. Essa confiança era uma marca registrada de todas
as namoradas do meu irmão, pelo menos enquanto elas ainda se
consideravam como tal. Era apenas mais tarde, quando os e-mails e as
ligações paravam, quando ele parecia desaparecido da face da terra,
que nós víamos o outro lado: os olhos vermelhos, as mensagens
chorosas na nossa secretária eletrônica, o ocasional cantar de pneus lá
fora na nossa rua. Tara não parecia o tipo de dar uma passada raivosa.
Mas você nunca sabe.
As onze, os admiradores da minha mãe ainda estavam por lá,
suas vozes altas como sempre. Eu sentei no meu quarto ociosamente
checando minhapágina do myUme.com (nenhuma mensagem, não que
eu tivesse esperado alguma) e e-mail (apenas um do meu pai,
perguntando como tudo estava indo). Eu pensei em ligar para uma das
minhas amigas para ver se alguma coisa estava rolando, mas depois de
lembrar a estranheza dasminhas poucas últimas saídas, ao invés disso,
sentei na minha cama. O porta-retrato de Hollis estava na mesa de
cabeceira, e o seu calmo, sorridente rosto, me lembrou do papo dos
meus velhos amigos enquanto eles trocaram histórias do ano escolar.
Não sobre classes, ou GPAs, mas outras coisas, coisas que eram
estrangeiras para mim como o próprio Taj Mahal, fofocar e garotos e
ter seu coração partido. Eles provavelmente têm um milhão de
fotografias que pertencem a este porta retrato, mas eu não tinha
nenhuma só.
Eu peguei meu laptop, abri minha conta de e-mail, então desci
até a mensagem do meu pai. Sem me deixar pensar muito, digitei uma
resposta rápida, assim como uma pergunta. Dentro de meia hora, ele
tinha me escrito de volta.
Você deveria vir com certeza!
Fique o quanto quiser.
Nós adoraríamos a sua companhia!
20
E bem assim, meu verão mudou.
Na manhã seguinte, enchi meu carro com uma pequena mala de
lona com roupas, meu laptop, e uma grande mala de livros. Mais cedo
no verão, eu tinha encontrado a lista de leituras obrigatórias de uns
dois cursos que eu iria fazer na Defriese no outono, e eu tinha caçado
uns poucos textos na livraria da universidade, pensando que não iria
doer me familiarizar com o material. Não era exatamente como Hollis
iria fazer as malas, masnão era como se fosse ter muito mais para fazer
lá de qualquer modo, além de ir à praia e ficar com a Heidi, nenhum
deles era muito atraente.
Eu tinha dito tchau para minha mãe na noite anterior,
imaginando que ela estaria dormindo quando eu partisse. Mas assim
que entrei nacozinha, eu a encontreilimpando a mesa de um bando de
taças de vinho e guardanapos amassados, um olhar cansado no seu
rosto.
— Noite longa? — perguntei, apesar de saber pelos meus
próprioshábitos noturnosquetinha sido. O último carro tinha saído da
entrada de carros por volta de uma e meia.
— Não de verdade. — ela disse, deixando água correr pela pia.
Ela olhou por cima do seu ombro para as minhas bolsas, empilhadas na
porta da garagem. — Você está indo cedo. Está tão ansiosa para se ver
livre de mim?
— Não. — eu disse. — Apenas não quero pegar trânsito.
Na verdade, eu não esperei que minha mãe se importasse se eu
estava por perto no verão ou não. E talvez ela não fosse, se eu estivesse
21
indo para algum outro lugar qualquer. Ponha meu pai na equação, no
entanto, e as coisas mudam. Elas sempre mudam.
— Eu posso só imaginar em que tipo de situação você está indo
se meter. — ela disse sorrindo. — O seu pai com um recém-nascido!
Nessa idade. É cômico.
— Eu te direi. — eu disse a ela.
— Oh, você deve. Eu requererei atualização regular.
Eu observei enquanto ela enfiou sua mão na água, ensaboando
uma taça. — Então. — eu disse. — O que você achou da namorada do
Hollis?
Minha mãe suspirou cansadamente. — O que ela estava fazendo
aqui, mesmo?
— Hollis a enviou de volta com um presente para mim.
— Mesmo. — ela disse, depositando duas taças no escorredor de
louças. — O que era?
— Um porta-retratos. Da Grécia. Com uma fotografia do Hollis
nele.
— Ah! — ela desligou a água, usando a parte de trás do pulso
para empurrar o cabelo do seu rosto. — Você lhe disse que ela deveria
ter mantido para si mesma, desde que é provável que seja o único jeito
de ela vê-lo de novo alguma vez?
Mesmo que eu tenha tido esse mesmo pensamento, depois de
ouvir minha mãe dizê-lo em alto e bom som, me senti mal por Tara,
com seu aberto rosto amigável, o modo confiante como ela foi em
direção a casa, tão segura em sua posição como a única e primeira de
Hollis. — Nunca se sabe. — eu disse. — Talvez Hollis tenha mudado, e
eles vão noivar.
Minha mãe virou e apertou seus olhos para mim. — Agora
Auden. — ela disse. — O que eu te disse a respeito das pessoas
mudarem?
22
— Que elas não mudam?
— Exatamente.
Ela direcionou sua atenção de volta para a pia, ensopando um
prato, e enquanto ela o fazia, eu enxerguei um par de escuros, estilo
nerd, óculoscolocados no balcão perto daporta. Repentinamente, tudo
fez sentido; as vozes que eu tinha escutado tão tarde, ela estando de pé
cedo, descaracteristicamente ansiosa para limpar tudo da noite
anterior. Considerei levantar os óculos, tendo certeza que ela me visse,
só para lhe provar um ponto meu. Mas ao invés disso, eu os ignorei
enquanto dizíamos adeus, ela me puxando para um abraço apertado,
ela sempreme seguravaperto, como se nuncafosse me largar, antes de
fazer exatamente isso e me mandando no meu caminho.
23
2
A casa do meu pai e da Heidi era exatamente o que eu tinha
esperado.
Bonitinha, pintada de branco com venezianas verdes, tinha uma
varanda de frente bem aberta salpicada de cadeiras de balanço e flores
em vasos e um amigável abacaxi amarelo de cerâmica pendurado na
porta que dizia BEM VINDO! Tudo o que estava faltando era um
cercado de estacas brancas.
Eu estacionei, avistando o Volvo detonado do meu pai na
garagem aberta, com um Prius de aparência nova, estacionado ao lado
dele. Assim que desliguei meu motor, pude ouvir o oceano, alto o
suficiente que ele tinha de estar bem perto. Mas é claro, assim que dei
uma olhadela pelo lado da casa, tudo que pude ver eram graminha de
praia e um amplo pedaço de azul, se estendendo por todo o caminho
para o horizonte.
Pondo a vista de lado, eu tinha minhas dúvidas. Nunca fui de ter
espontaneidade, e o mais longe que eu ficava da casa da minha mãe,
mais eu começava a considerar a realidade de um verão inteiro de
Heidi. Haveria manicures em grupo para mim, ela, e o bebê? Ou talvez
ela fosse insistir em ir me bronzear com ela, usando batas retrô
combinando com EU AMO UNICÓRNIOS? Mas, continuei pensando em
Hollis na frente do Taj Mahal, e como eu me descobri tão entediada
toda sozinha em casa. Além disso, eu dificilmente tinha visto meu pai
desde que ele tinha casado, e isso, oito semanas inteiras quando ele
não estava lecionando, e eu não estava na escola, parecia como a minha
última chance de me atualizar com ele antes da universidade e a vida
real começassem.
Respirei fundo, então saí. Enquanto subia na entrada, eu disse a
mim mesma que não importava o que Heidi dissesse ou fizesse, eu iria
penas sorrir e continuar com isso. Pelo menos até que conseguisse
24
chegar a qualquer quarto que eu fosse permanecer e fechar a porta
atrás de mim.
Toquei a campainha, então dei um passo atrás, ajeitando o meu
rosto em uma apropriadamente-amigável expressão. Não houve
resposta de dentro, então toquei outra vez, depois me aproximei mais
perto, escutando pelos inevitáveis sonsde saltos batendo, a voz feliz de
Heidi falando: — Só um minuto! — mas de novo, nada.
Avançando, tentei a maçaneta: eu a virei facilmente, a porta
abrindo, e eu inclinei minha cabeça por dentro. — Oi? — chamei;
minha voz descendo por um corredor vazio próximo pintado de
amarelo e salpicado com imagens emolduradas.
Silêncio. Eu pisei dentro, fechando a porta atrás de mim. Foi
apenas quando ouvi: o som do oceano de novo, apesar de soar um
pouquinho diferente, e muito mais perto, como se fosse apenas, na
esquina. Eu segui isso pelo corredor, enquanto ficava mais alto e mais
alto. No entanto, encontrei a mim mesma na sala de estar, onde o
barulho estava ensurdecedor, e Heidi estava sentada em uma poltrona,
segurando o bebê nos seus braços.
Pelo menos eu pensei que era Heidi. Era difícil dizer com certeza,
enquanto ela não parecia nada como da última vez que eu a tinha visto.
Seu cabelo estava engatado em um bagunçado rabo de cavalo torto,
com algumas mechas grudadas no seu rosto, e ela usava um par de
calças de moletom velhinhas e uma camiseta muito grande, que tinha
algum tipo de mancha úmida em um dos ombros. Seus olhos estavam
fechados, sua cabeça pendurada para trás bem de leve. De fato, eu
pensei que ela estivesse adormecida até que, sem mexer seus lábios,
ela chiou: — Se você acordá-la, eu irei te matar.
Eu congelei, alarmada, então dei um cuidadoso passo para trás.
— Desculpe. — eu disse. — Eu apenas...
Seus olhos abriram-se de uma vez, e ela girou a cabeça pelos
lados em alerta, seusolhos se fechando em pequeninasfrestas. Quando
ela me localizou, no entanto, sua expressão mudou para surpresa. E
então, bem assim, ela estava chorando.
25
— Oh, Deus, Auden. — ela disse; sua voz engrolada. — Eu sinto
tanto, tanto. Esqueci que você era... e então eu pensei... mas isso não é
desculpa.... — ela deixou em aberto, seus ombros subindo e descendo
assim como, nos seus braços, o bebê, que era miudinho, tão pequeno
que ela parecia tão delicada para sequer existir, dormia,
completamente inconsciente.
Eu dei uma olhada de pânico pelo quarto, me perguntando onde
meu pai estava. Apenas então eu percebi que o inacreditável som de
oceano alto que estava ouvindo não estava vindo de fora, mas ao invés
de uma pequena máquina de sons branca parada em uma mesinha de
café. Quem escuta a um falso oceano quando o verdadeiro está ao
alcance do ouvido? Era uma das muitas coisas que, no momento, não
faziam o menor sentido.
— Hm. — eu disse enquanto Heidi continuava a chorar, seus
soluços pontuados por uma ocasional fungada alta, assim como as
falsas ondas esmurrantes. — Eu posso... Você precisa de alguma ajuda,
ou alguma coisa?
Ela puxou ar tremidamente, então levantou o olhar para mim.
Seus olhos estavam rodeadoscom círculos escuros: havia uma erupção
vermelha de espinha no seu queixo. — Não. — ela disse enquanto
lágrimas frescas enchiam seus olhos. — Eu estou bem. É apenas... Eu
estou bem.
Isso parecia altamente improvável, mesmo para o meu olho
destreinado. Não que eu tivesse tempo para contestar, assim que bem
na hora meu pai entrou, carregando uma bandeja com cafés e uma
pequena sacola de papel marrom. Ele estava usando o seu típico
modelo de calça de sarja cáqui amarrotada e uma camisa de botões por
cima, seus óculos meio que tortos no seu rosto. Quando ele lecionava,
geralmente adicionava uma gravata e um blazer esporte de tweed.
Seus tênis, no entanto, eram uma constante, não importando o que
mais ele estivesse usando.
— Aqui está ela! — ele disse quando me avistou, então veio para
me dar um abraço. Enquanto me puxava mais perto, eu olhei por cima
26
do seu ombro para Heidi, que estava mordendo o seu lábio, olhando
para fora da janela para o oceano. — Como foi a viagem?
— Boa. — eu disse lentamente enquanto ele se afastava e pegava
um café da bandeja, oferecendo-o para mim. Eu peguei, então observei
enquanto ele se servia um antes de colocar o último na mesa na frente
de Heidi, que apenas olhou para isso como se não soubesse o que era.
— Você conheceu sua irmã?
— Uh, não; — eu disse. — Ainda não.
— Oh, bem! — ele abaixou o saco de papel, então avançou para
Heidi que ficou rígida, não que ele parecesse notar, pegando o bebê dos
seus braços. — Aqui está ela. Essa é a Thisbe.
Eu baixei os olhos para o rosto do bebê, que era tão pequena e
delicada que nem sequer parecia real. Seus olhos estavam fechados, e
ela tinha pequeninos, pontudos cílios. Uma das suas mãos estava para
fora da manta, e os dedos eram tão pequenos, dobrados levemente ao
redor um do outro. — Ela é linda. — eu disse, porque isso é o que você
diz.
— Não é? — meu pai sorriu aberto, embalando-a levemente em
seus braços, e seus olhos deslizaram abertos. Ela levantou o olhar para
nós, piscou, e então, assim como sua mãe, repentinamente começou a
chorar. — Opa. — ele disse, sacudindo-a um pouquinho. Thisbe chorou
um pouco mais alto. — Querida? — meu pai disse, virando de volta
para Heidi, que ainda estava sentada exatamente no mesmo lugar e
posição, seus braços agora, largados dos seus lados. — Eu acho que ela
está com fome.
Heidi engoliu em seco, então se virou para ele em silêncio.
Quando meu pai devolveu Thisbe, ela girou no mesmo lugar de volta
paraas janelas, quase como um robô enquanto o choro ficava mais alto,
e então ainda mais alto.
— Vamos lá fora. — meu pai sugeriu, agarrando o saco de papel
do fim da mesa e indicando para que eu o seguisse enquanto andava
paraum par de portas de vidro deslizantes, abrindo uma e me levando
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para fora, no pátio. Normalmente, a vista teria me deixado
momentaneamente sem palavras: a casa era bem na praia, uma
estradinha levando diretamenteparaa areia, masao invésdisso, eu me
encontrei olhando de volta para Heidi, apenas para perceber que ela
tinha desaparecido, deixando seu café intocado na mesa.
— Ela está bem? — eu perguntei.
Ele abriu o saco de papel, tirando dele um bolinho, então
oferecendo para mim. Eu balancei minha cabeça.
— Ela está cansada. — ele disse dando uma mordida, umas
poucas migalhas caindo em sua camisa. Ele as espanou com uma mão,
então continuou comendo. — O bebê fica acordado aos montes de
noite, você sabe, e eu não sou de muita ajuda porque tenho esse
problema de sono e tenho que ter minhas nove horas, e pouco. Eu fico
tentando convencê-la a conseguir alguma ajuda, mas ela não irá fazer.
— Porque não?
— Oh, você conhece Heidi. — ele disse como se eu soubesse. —
Ela tem que fazer tudo ela mesma, e fazer isso perfeitamente. Mas não
se preocupe, ela vai ficar bem. Os primeiros dois meses são apenas
difíceis. Eu me lembro com o Hollis, sua mãe estava apenas prestes a
ficar fora desi. É claro, ele era incrivelmentecólico. Nós costumávamos
andar com ele a noite toda, e ele ainda iria gritar. E o seu apetite! Bom
Deus. Ele sugaria sua mãe até ficar seca e ainda estaria faminto...
Ele continuou falando, mas eu tinha ouvido essa canção antes,
sabia todas as palavras, então apenas beberiquei meu café. Olhando à
esquerda, eu podia ver umas poucas casas mais, então o que parecia
ser algum tipo de orla emparelhada com comércio, assim como uma
praia pública, ainda cheia com guarda sol e banhistas.
— Dequalquer modo. — meu pai estava dizendo agora enquanto
embolava a embalagem do seu bolinho, jogando de volta no saco. — Eu
tenho que voltar para o trabalho, então me deixe mostrar o seu quarto.
Nós podemos ficar em dia no jantar, mais tarde. Isso soa bom?
28
— Claro. — eu disse enquanto nós íamos de volta para dentro,
onde a máquina de som ainda estava berrando. Meu pai balançou sua
cabeça, então avançando, desligou isso com um estalo: o repentino
silêncio era chocante. — Então você está escrevendo?
— Ah, é. Eu estou em uma maré de sorte, definitivamente indo
terminar o livro em breve. — ele repetiu. — É apenas uma questão de
organizar, de verdade, pegando os últimos pedacinhos na página. —
nós voltamos para o saguão, então subimos pela escadaria. Enquanto
andávamos pelo corredor, nós passamos por uma porta aberta, pela
qual eu pude ver uma parede rosa com uma borda de bolinhas
marrons. Dentro, estava silêncio, nenhum choro, pelo menos que eu
pudesse ouvir. Meu pai empurrou a próxima porta, então me cutucou
para dentro com uma mão. — Sinto muito pelo pouco espaço. — ele
disse enquanto eu passava pelo portal. — Mas você tem a melhor vista.
Ele não estava brincando. Apesar de o quarto ser pequeno, com
uma cama de solteiro, uma escrivaninha, e não muito espaço para
outra coisa, a única janela dava para uma área não desenvolvida de
terra, nada além de grama oceânica e areia e água. — Isso é ótimo. —
eu disse.
— Não é mesmo? Esse era originalmente o meu escritório. Mas
então nós tivemos que colocar o bebê no quarto ao lado, então eu me
mudei para o outro lado da casa. Eu não queria mantê-la acordada,
você sabe, com os barulhos do meu processo criativo. — ele deu uma
risadinha, como se isso fosse uma piada que eu deveria entender. —
Falando nisso, é melhor que eu vá ver isso. As manhãs têm sido
realmente produtivas para mim ultimamente. A gente conversa no
jantar, tá bem?
— Oh! — eu disse, olhando de relance para o meu relógio. Eram
11h05min. — Claro.
— Ótimo. — ele apertou meu braço, então começou a seguir pelo
corredor, cantarolando consigo mesmo, enquanto eu o observava ir.
Um momento depois ele passou da porta do quarto rosa-e-marrom,
ouvi a porta fechar-se com estalo.
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Eu acordei às seis e meia naquela tarde com o som do bebê
chorando.
Chorando, na verdade, era uma palavra muito tépida. Thisbe
estava gritando, seus pulmões claramente tendo um sério trabalho. E
enquanto era meramenteaudível no meu quarto, com apenas uma fina
paredeentre nós, quando eu saí no corredor em busca de um banheiro
para escovar meus dentes, o barulho era ensurdecedor.
Eu parei por um segundo na fraca luminosidade fora da porta
para o quarto rosa, ouvindo ao choro enquanto ele aumentava,
aumentava, aumentava, então caia agudamente, somente para subir de
novo, ainda mais alto. Eu estava me perguntando se eu era a única
consciente disso até, durante um raro e curto momento de silêncio, eu
ouvialguém dizendo, —Shh, shh,— antes de ser rapidamenteengolfada
de novo.
Havia algo tão familiar a respeito disso, era como um puxão no
meu subconsciente. Quando meus pais tinham primeiro começado a
brigar de noite, essa tinha sido a parte que eu tinha repetido, —shh,
shh, tudo está bem—, para mim mesma, de novo e de novo, enquanto
eu tentavaignorá-los e adormecer. Ouvindo isso agora, apenas, parecia
estranho, enquanto eu estava acostumada ao som ser privado, apenas
na minha cabeça e com o escuro ao meu redor, então eu segui em
frente.
— Pai?
Meu pai, sentado na frente do seu laptop em uma mesa
encarando a parede, não se moveu enquanto ele dizia. — Hmmm?
Eu olhei devolta pelo corredor para o quarto rosa, então para ele
de novo. Ele não estava digitando, apenas estudando a tela, um bloco
de anotações amarelo do tipo oficial com alguns rabiscos na mesa ao
lado dele. Eu me perguntei se ele tinha estado ali o tempo todo que
estive dormindo, pelas sete horas. — Eu deveria. — eu disse. — Hum,
começar o jantar, ou alguma coisa?
30
— A Heidi não está fazendo isso? — ele perguntou, ainda encarando
a tela.
— Eu acho que ela está com o bebê. — eu disse.
— Oh. — agora, ele virou sua cabeça, olhando para mim. — Bem,
se você está com fome, tem um lugar grande de hambúrgueres apenas
um quarteirão longe. Suas rodelas de cebola são legendárias.
Eu sorri. — Parece maravilhoso. — eu disse. — Eu deveria
descobrir se Heidi quer alguma coisa?
— Com certeza. E me arranje um cheeseburger e algumas dessas
rodelas de cebola. — ele alcançou no seu bolso de trás, tirando umas
duas notas e me dando-as. — Muito obrigada, Auden. Eu realmente
aprecio isso.
Eu peguei as notas, me sentindo como uma idiota. É claro que ele
não poderia ir lá fora comigo: ele tinha um bebê novo em casa, uma
esposa para dar conta. — Nenhum problema. — eu disse, mesmo que
ele já estivesse virando de volta para a sua tela, sem realmente escutar.
— Eu estarei de volta daqui a pouco.
Eu andei de volta para o quarto rosa, onde Thisbe ainda estava a
todo o vapor. Pensando que pelo menos dessa vez eu não teria que me
preocupar a respeito de acordá-la, bati duas vezes. Depois de um
segundo, abriu-se uma fresta, e Heidi olhou para mim.
Ela parecia mais desfigurada do que antes, se isso fosse sequer
possível: o rabo de cavalo tinha sumido; seu cabelo agora descendo
mole no seu rosto. — Oi. — eu disse, ou no mínimo gritei, por cima da
gritaria. — Eu estou indo pegar o jantar. Do que você gostaria?
— Jantar? — ela repetiu; sua voz também levantada. Eu
concordei. — Já é hora do jantar?
Eu olhei para o meu relógio, como se precisasse confirmar isso.
— É quase quinze para as sete.
— Oh, Meu Deus! — ela fechou seus olhos. — Eu estava indo
fazer um grande jantar de boas vindas para você. Eu tinha tudo
31
planejado, galinha e vegetais, e tudo. Mas o bebê tem estado tão
inquieto, e...
— Está tudo bem. — eu disse. — Eu vou pegar hambúrgueres.
Papai diz que tem um bom lugar descendo a rua.
— O seu pai está aqui? — ela perguntou, mudando Thisbe nos
seus braços e olhando por cima dosmeusombros, pelo corredor. — Eu
pensei que ele tinha ido para o campus.
— Ele está trabalhando em seu escritório. — eu disse. Ela se
aproximou mais perto, claramente não tendo ouvido isso. — Ele está
escrevendo. — eu repeti mais alto. — Então, eu estou indo. Do que você
gostaria?
Heidi apenas ficou ali, o bebê gritando entre nós, olhando pelo
corredor para a luz espalhando pela fresta aberta da porta do
escritório de meu pai. Ela começou a falar, então parou, respirando
bem fundo. — Qualquer coisa que você quiser pedir está bem. — ela
disse depois de um momento. — Obrigada.
Eu concordei, então andei para trás enquanto ela empurrava a
porta fechada de volta entre nós. A última coisa que eu vi foi o rosto
vermelho do bebê, ainda rugindo.
Ainda bem, lá fora da casa estava muito mais quieto. Eu poderia
ouvir apenas o oceano e os vários sons da vizinhança, crianças
berrando, um rádio de carro ocasionalmente, a TV de alguém no mais
alto volume em uma porta de trás, enquanto eu descia a rua para onde
a vizinhança terminava e o distrito do comércio começava.
Havia um estreito calçadão, emparelhado com várias lojas: uma
casa de shakes, uma dessas espeluncas de porcarias praianas que
vendem toalhas baratas e relógios de conchas, uma pizzaria. Cerca de
meio caminho depois, eu passei por uma pequena boutique chamada
Da Clementine, que tinha um toldo laranja luminoso. Pregado na porta
da frente estava um pedaço de papel que dizia, em grandes letras
pretas, É UMA MENINA! THISBE CAROLINE WEST, NASCIDA Á 1º DE
JUNHO, 3, 146 kg. Então essa era a loja da Heidi, eu pensei. Havia
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fileiras de camisetas e jeans, uma sessão de maquiagem e loção
corporal, e uma garota de cabelo preto em um vestido rosa
examinando suas unhas atrás do caixa, um celular apertado na sua
orelha.
Mais à frente, eu podia ver o que parecia ser o lugar de
hambúrguer que o meu pai mencionou: CAFÉ ÚLTIMA CHANCE,
MELHORES RODELAS DE CEBOLA NA PRAIA! Dizia a placa. Pouco
depois disso, havia uma última loja, uma loja de bicicletas. Um bando
de rapazes por volta da minha idade estava reunido em um banco de
madeira muito abusado do lado de fora, conversando e observando
pessoas as passarem.
— O negócio é o seguinte. — um deles disse; que era o
atarracado e trajando shorts e uma carteira de corrente. — O nome
tem que ter vigor. Energia; sabe?
— É mais importante que ele seja esperto. — outro, que era mais
alto com cabelo enrolado, um pouco parecido com um otário, disse. —
Por isso é que vocês deveriam ficar com a minha escolha, o Eixo de
Manivela. É perfeito.
— Isso soa como umaloja de carros, não um lugar de bicicleta. —
o cara mais baixo disse a ele.
— Bikes têm eixos. — o seu amigo indicou. — E carros têm
manivelas.
— Assim como os meus. — o cara magricela disse.
— Você quer chamá-lo de Minha Manivela agora?
— Não. — seu amigo disse enquanto o outro ria. — Eu estou
apenas atestando o fato de que o contexto não precisa ser exclusivo.
— Quem liga para o contexto? — O cara baixo suspirou. — O que
nós precisamos é de um nome que se sobressaia e venda o produto.
Como..., digamos; Bikes Zoom. Ou Bikes No Pique.
— Como é que você consegue superforçar em uma bicicleta? —
outro cara, que tinha suas costas para mim, perguntou. — Isso é idiota.
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— Não é. — o cara com a carteira resmungou. — Além do mais,
eu não vejo você oferecendo nenhuma sugestão.
Eu me afastei da, Da Clementine e comecei a andar de novo.
Assim que eu o fiz, o terceiro cara repentinamente virou, e nossos
olhos se encontraram. Ele tinha cabelos escuros, corte baixo, pele
incrivelmente bronzeada, e um imenso, confiante sorriso, que ele
lançava agora para mim. — Que tal? — ele disse lentamente, seu olhar
aindapreso com o meu. — Eu acabei de ver a garota mais gata de Colby
passando?
— Oh Jesus! — o cara das costas largas disse, balançando sua
cabeça, enquanto o outro ria alto. — Você é patético.
Eu senti o meu rosto corar, mesmo enquanto o ignorava e
continuei andando. Podia senti-lo olhando para mim, ainda sorrindo,
enquanto eu colocava mais e mais distância entre nós.
— Apenas constatando o óbvio. — ele retrucou, assim que eu
estava quase fora de alcance. — Você poderia dizer obrigado, sabia?
Mas eu não disse. Eu não disse nada, apenas porque eu não tinha
a menor ideia de como responder a tamanha proposta. Se a minha
experiência com amigos era escassa, o que eu sabia sobre garotos, além
de serem competidores por notas ou classificação de sala, era
inexistente.
Não que eu não tivesse tido paixonites. Lá atrás em Jackson, tinha
um cara na minha aula de ciências, impossível com equações, que
sempre fazia minhas palmas suarem sempre que nós ficávamos juntos
para as experiências. E na Perkins Day, eu tinha flertado
estranhamente com Nate Cross, que sentava perto de mim em cálculo,
mas todo mundo estava apaixonado por Nate, então isso dificilmente
me fez especial. Não foi até Kiffney/Brown, quando conheci Jason
Talbot, que realmente pensei que eu talvez de fato tivesse um desses
tipos de histórias de namorado para dizer da próxima vez que eu me
encontrasse com meus velhos amigos. Jason era inteligente, de boa
aparência, e seriamente na fase de superação depois da sua namorada
em Jackson largá-lo por, nas suas palavras, “um soldador delinquente
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juvenilcom uma tatuagem”. Por causa do pequeno tamanho-seminário
da Kiffney/Brown, nóspassamosumaboaquantidadedetempo juntos,
batalhando volta e meia para ser orador da turma, e quando ele me
pediu para ir ao baile, eu estava mais entusiasmada do que jamais iria
admitir. Até que ele deu para trás, citando a “grande oportunidade” de
umaconferênciade ecologia. Eusabia que você ficaria bem com isso, ele
me disse enquanto eu concordava, idiotamente, ouvindo essa
novidade. Você compreende o que é realmente importante.
Tudo bem, então não era como se ele tivesse me chamado de
bonita. Mas era um elogio, a seu modo.
Estava cheio no Café Última Chance, com uma fila de pessoas
esperando para serem atendidas e dois cozinheiros visíveis através da
pequena janela da cozinha, correndo por ali enquanto os pedidos se
amontoavam na barra em frente a eles. Eu fazia o meu pedido para
uma bonita garota de cabelos escuros com uma argola na boca, então
me sentei perto da janela para esperar.
Olhando pelaorla, eu conseguiaver os rapazesaindareunidosno
banco: aquele que tinha falado comigo agora estava sentado, seus
braços esticados atrás da cabeça, rindo, enquanto o seu baixo amigo de
costas largas, andava em uma bicicleta para frente e para trás na frente
dele, fazendo pequenos saltos aqui e ali.
Levou um tempo para a comida ficar pronta, mas eu logo percebi
que meu pai estava certo. Valia à pena esperar. Eu estava caindo em
cima das rodelas de cebola antes mesmo de sair pela porta para a orla,
que por aquele tempo estava entupida com famílias tomando sorvetes
de casquinha, casais em encontros, e toneladas de criancinhas
correndo ao longo da areia. Á distância, havia um maravilhoso pôr do
sol, todo laranja e rosa, e eu mantive meus olhos nele enquanto
caminhava, nem mesmo olhando para a loja de bicicletas até que eu
tinha passado dela. O cara ainda estava lá, apesar de agora ele estar
conversando com uma garota alta de cabelo vermelho, que estava
usando um imenso par de óculos de sol.
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— Hey. — ele me chamou. — Se você está procurando alguma
coisa prafazer hoje à noite, tem umafogueirano Tip. Eu vou te guardar
um lugar.
Eu olhei rápido para ele. A de cabelo vermelho estava me dando
agora uma fuzilada com os olhos, um olhar aborrecido em seu rosto,
então eu não disse nada.
— Ah, ela é uma arrasadora de corações! — ele disse, então
gargalhou. Eu continuei andando, agora sentindo o olhar da de cabelo
vermelho perfurando algum lugar entre as minhas omoplatas. —
Apenas tenha isso em mente. Eu vou esperar por você.
De volta a casa, encontrei três pratos e talheres, depois arrumei a
mesa e servi a comida. Eu estava balançando sachês de ketchup em
uma pilha quando o meu pai desceu as escadas.
— Eu pensei ter sentido cheiro de rodelas de cebola. — ele disse,
esfregando suas mãos juntas. — Isso parece maravilhoso.
— A Heidi está descendo? — eu perguntei, deslizando um
hambúrguer em um prato.
— Não tenho certeza. — ele respondeu, servindo a si mesmo
uma rodela de cebola. Com a boca cheia, ele adicionou. — O bebê está
tendo uma noite difícil. Ela provavelmente quer dormir um pouco
primeiro.
Eu lancei um olhar para as escadas, me perguntando se era
possível que Thisbe ainda estivesse chorando, enquanto eu tinha
estado fora pelo menos durante uma hora. — Talvez eu vá, hum,
apenas perguntar se ela quer que eu leve para ela.
— Claro; ótimo. — ele disse, puxando umacadeirae sentando. Eu
fiquei parada por um segundo, observando enquanto ele comia outra
rodela, cutucando um jornal próximo com sua mão livre. Eu queria
jantar com meu pai, claro, mas eu me sentia mal por isso estar
acontecendo desse jeito.
36
Thisbe ainda estava chorando: eu podia ouvi-la do corredor
assim que cheguei ao topo das escadas, o jantar da Heidi em um prato
na minha mão. Quando cheguei ao quarto rosa, a porta estava
entreaberta, e dentro eu podia vê-la sentada na cadeira de balanço,
seus olhos fechados, se movendo para frente e para trás, para frente e
para trás. Eu estava compreensivelmente hesitante de incomodá-la,
mas ela dever ter sentido o cheiro da comida, porque um segundo
depois, abriu os olhos.
— Pensei que você talvez estivesse com fome. — eu disse. —
Você..., eu deveria trazer isso para você?
Ela piscou para mim, então baixou os olhos para Thisbe, que
ainda estava rugindo. — Você pode apenas colocar ali. — ela disse,
indicando uma cômoda branca próxima. — Eu vejo isso em um
segundo.
Eu andei, movendo de lado uma girafa estofada e um livro
chamado Seu bebê: O Básico, que estava aberto em uma página com o
título “Inquietação: O Que Causa Isso, e O Que Você Pode Fazer”. Ou ela
não tinha tido tempo para ler, ou o livro não sabia porcaria nenhuma,
eu pensei enquanto deslizava o prato no lugar.
— Obrigada. — Heidi disse. Ela ainda estava embalando, o
movimento quase hipnótico, apesar de claramente não para Thisbe,
que continuavaa chorar a todo volume. — Eu apenas... Eu não sei o que
eu estou fazendo errado. Ela está alimentada, esta trocada, eu a estou
segurando, e é como..., ela me odeia, ou algo assim.
— Ela provavelmente esta com cólica. — eu disse.
— Mas o que isso significa, exatamente? — ela engoliu em seco,
então olhou baixo de volta para o rosto da sua filha. — Isso não faz o
menor sentido, e eu estou fazendo tudo o que eu posso...
Ela deixou no ar, sua voz ficando apertada, e pensei no meu pai
no andar de baixo, comendo rodelas de cebola e lendo o jornal. Porque
ele não estava aqui? Eu não sabia porcaria nenhuma sobre bebês
37
tampouco. Bem quando eu pensei isso, no entanto, Heidi olhou para
mim de novo.
— Oh, Deus, Auden. Eu sinto muito. — ela balançou sua cabeça.
— Eu tenho certeza que essa é a última coisa que você quer ouvir a
respeito. Você é nova, você deveria estar lá fora se divertindo! — ela
fungou, começando a coçar os olhos com uma mão. — Sabe de uma
coisa, tem um lugar chamado Tip, logo no fim da estrada daqui. Todas
as garotas da minha loja ficam por lá de noite. Você deveria dar uma
olhada. Tem que ser melhor do que isso, certo?
Concordo, eu pensei, mas parecia rude de fato, dizer isso. —
Talvez eu vá. — eu disse.
Ela concordou, como se nós tivéssemos feito um acordo, então
olhou devolta para Thisbe. — Obrigada pelacomida. — ela disse. — Eu
realmente..., eu agradeço por isso.
— Sem problema. — eu disse para ela. Mas ela ainda estava
olhando para o bebê, seu rosto cansado, então entendi isso como uma
dispensa e saí, fechando a porta atrás de mim.
No andar de baixo, meu pai estava terminando seu jantar,
folheando a sessão de esportes. Quando deslizei em uma cadeira
oposta a ele, levantou os olhos para mim e sorriu. — Então, como ela
está indo? O bebê está adormecido?
— Na verdade não. — eu disse, desembrulhando o meu
hambúrguer. — Ela ainda está gritando.
— Eita. — ele empurrou suacadeiraparatrás, ficando depé. — É
melhor eu dar uma olhada.
Finalmente, eu pensei enquanto ele desaparecia pelas escadas.
Peguei meu hambúrguer, mordendo um pedaço: estava frio, mas ainda
bom. Eu tinha comido apenas cerca da metade quando ele reapareceu,
andando para a geladeira e pegando uma cerveja. Sentei lá,
mastigando, enquanto ele abria a tampa, tomava um gole e procurava
por água.
38
— Todo mundo está bem lá?
— Oh claro. — ele disse displicentemente, movendo a garrafa
para sua outra mão. — Ela é apenas cólica, como Hollis era. Não tem
muito que se possa fazer a não ser esperar passar.
O negócio era que eu amava meu pai. Ele poderia ter sido um
pouco mal-humorado, e definitivamente mais do que um pouco
egoísta, mas sempre tinha sido bom para mim, e eu o admirava.
Exatamente naquele momento, no entanto, eu podia ver porque
alguém poderia não gostar muito dele. — A Heidi..., a mãe dela está
vindo para ajudar, ou alguma coisa?
— A mãe dela morreu há uns dois anos atrás. — ele disse,
tomando outro gole da sua cerveja. — Ela tem um irmão, mas ele é
mais velho, vive em Cincinnati com suas próprias crianças.
— E que tal uma babá ou alguma coisa do tipo?
Agora ele olhava para mim. — Ela não quer ajuda. — ele disse. —
É como eu te disse, ela quer fazer tudo do jeito dela.
Eu tive uma visão de Heidi esticando seu pescoço, baixando os
olhos para o escritório do meu pai, o olhar agradecido em seu rosto
quando eu lhe trouxe o seu jantar. — Talvez. — eu disse. — Você
devesse..., você sabe; insistir, no entanto. Ela parece bem cansada.
Ele apenas olhou para mim por um momento, uma expressão
vazia no seu rosto. — Auden. — ele disse finalmente. — Isso não é algo
que você precise se preocupar a respeito, tudo bem? Eu e Heidi vamos
dar um jeito.
Em outras palavras, não se meta. E ele estava certo. Essa era a
sua casa, eu era uma hóspede aqui. Era presunçoso aparecer e apenas
assumir que eu sabia mais, baseada em apenas algumas horas. —
Certo. — eu disse, embolando meu guardanapo. — É claro.
— Tudo bem. — ele disse, sua voz relaxou de novo. — Então..., eu
estou indo lá para cima, voltar para o trabalho. Eu gostaria de terminar
esse capitulo essa noite. Você vai ficar bem por sozinha?
39
Não era nem mesmo uma pergunta, apenas composta para soar
como uma. Engraçado como entonação poderia fazer tanto, mudar
mesmo algo que estava no seu interior. — Claro. — eu disse. — Vá em
frente. Eu ficarei bem.
40
3
Não estava bem, no entanto. Estava chateada e Thisbe ainda
estava gritando. Desempacotei minhas roupas, tratei de entender meu
futuro livro de texto Econ. 101, e apaguei todas as mensagens de texto
do meu celular. Tudo isso me tomou mais ou menos quarenta minutos.
Nesse ponto, com o bebê ainda gritando – ainda gritando! – finalmente
peguei um casaco, puxei o cabelo para trás, e sai para um passeio.
No principio não estava planejando ir ao Tip, ou onde quer que
seja que estivesse. Só queria um pouco de ar, um descanso do barulho,
e umaoportunidadede processar o que seja que tivesse ocorrido entre
meu pai e eu mais cedo essa noite. Mas depois de caminhar na direção
oposta da pista por cerca de uma quadra, o caminho lateral terminava
em uma rua sem saída, vários carros estacionados ocupavam as
bordas. Um caminho era visível por um dos lados, e pude ver luz na
distância. Provavelmente um erro; pensei, mas depois pensei em Hollis
na foto do retrato, e segui de todos os modos.
Serpenteava por um pouco de grama de praia e sobre um par de
dunas, depoisse abria a umaampla faixa deareia. Desdeo que se podia
ver, algum dia havia sido tudo praia, até que a erosão ou a chuva, ou os
dois, criou uma península medíocre, onde agora um grupo de pessoas
estava reunido, algumas sentadas em derivados de madeira que
estavam empilhadosem bancos improvisados, outrasparadasao redor
de uma fogueira onde estava tendo um fogo de bom tamanho. Um
comprido caminhão estava estacionado a um lado, um barril de
cerveja, e reconheci o garoto alto e magro da loja de bicicletas sentado
ao lado dele. Quando me viu, olhou surpreendido, logo olhou para o
fogo. Na verdade, o garoto que havia me dito para vir, estava ali, com
uma jaqueta vermelha, sustentando um copo de plástico. Ele estava
conversando com duas garotas – a ruiva de mais cedo e uma garota
mais baixa de cabelo negro, trançado em um rabo de cavalo –
gesticulando amplamente com a mão livre.
41
― À direita! ― escutei alguém gritar atr|s de mim, e depois houve
um zumbido. Girei, só para ver um baixo e corpulento tipo que havia
visto antes, vir rápido para mim em uma bicicleta, pedalando
freneticamente. Saltei forado caminho justo quando passou como uma
rajada, ao redor da dunae disparando atéa areia planadapraia. Estava
ainda tratando de recuperar o fôlego quando escutei o barulho de
pedais, e mais duas bicicletas saíram emergindo da escuridão do
caminho, os pilotos – um garoto loiro, e uma garota com cabelo curto e
repicado – rindo e conversando entre eles enquanto passavam
zumbindo. Jesus, pensei, retrocedendo de novo, só para me sentir
chocar totalmente contra algo. Ou alguém.
Quando voltei, me encontrei de frente a um garoto alto, com
cabelo bastante comprido puxado para trás de sua nuca, vestindo um
moletom azul gasto e jeans. Olhou-me rapidamente – seus olhos eram
verdes, e profundos – apenas parecendo registrar meu rosto.
― Desculpa. ― disse, ainda que não fosse minha culpa: era ele que
estava se aproximando sigilosamente por trás. Mas ele só assentiu,
como se devesse isso, e continuou até a praia, deslizando suas mãos
nos bolsos.
Quase não precisava de outro sinal de que já era hora de voltar.
Enquanto me dirigia para fazer justamente isso, no entanto, escutei
uma voz atr|s de mim. ― Vê? Sabia que não podia resistir a mim!
Girei, e ali estava o garoto da passarela de madeira, ainda
sustentando seu copo. A ruiva e a garota com tranças estavam agora
paradas ao lado do barril, observando com desaprovação enquanto ele
caminhava para mim. De repente estava nervosa, insegura de como
responder, mas então tive um flash de minha mãe na mesa da cozinha,
rodeadapor todos esses estudantesda graduação. Talvez não soubesse
o que diria. Mas conhecia minha mãe, e as suas técnicas de memória.
― Posso te resistir. ― disse.
― Bom, claro, poderia pensar nisso. Não comecei minha ofensiva
ainda. ― disse ele.
42
― Sua ofensiva? ― perguntei.
Sorriu. Seu sorriso – brilhante, amplo, risco bobão – era seu
melhor expressão, eu sabia. ― Sou Jack. Deixe-me conseguir uma
cerveja para você.
Huh; pensei. Isso não era tão difícil depois de tudo.
― Pegarei eu mesma. ― disse. ― Só mostre o caminho.
Qual é o seu problema?
Não sabia como responder isso. Não quando Jack perguntou a
princípio, quando me afastei dele, juntando minha camisa ao meu
redor, e tropeçando pelasdunaspelo caminho na volta. E não enquanto
caminhava de volta pela rua até a do meu pai, tentando sacudir a areia
do meu cabelo. Meus lábios sentiam-se cheios e roçavam-se, ásperos, o
fechamento do meu sutiã se rompeu a toda pressa, espetando na pele
das minhas costas enquanto entrava pela porta lateral, fechando atrás
de mim.
Arrastei-me pelas escadas, pelo escuro corredor, encantada de
não escutar nada mais que meus próprios passos. Por fim, Thisbe
estava dormindo. Depois de uma longa ducha quente, coloquei uma
calça de ioga e uma camisa fina, depois me instalei em meu quarto,
abrindo meu livro detexto Econ. Mas aindaquando tratava deme focar
nas palavras, os acontecimentos da noite vieram correndo para mim: o
tom agudo do meu pai, o sorriso agradável de Jack, nossa desajeitada e
apressada conexão atrás das dunas, e como tudo de repente pareceu
tão estranho e errado, não como eu mesma pelo menos. Talvez minha
mãe pudesse brincar de ser uma cachorra distante e egoísta. Mas isso
era o que eu tinha estado fazendo: jogando.
Até que o jogo acabou. Eu era uma garota inteligente.
Por que havia feito algo tão estúpido?
Senti que as lágrimas chegavam a meus olhos, as palavras
borrando na página, e pressionei minha palma contra meu rosto,
tentando detê-las. Não tive sorte. No lugar disso, eram contagiosas: um
43
momento depois, escutei Thisbe começar novamente, seguido do som
de alguém – Heidi, eu sabia – vindo pelo corredor e uma porta se
abrindo, depois de fechando.
Ela ficou por uma hora, muito tempo depois de que minhas
próprias lágrimas houvessem acabado e secado. Talvez fosse a culpa
que sentia pelo o que havia feito esta noite. Ou que precisava de uma
distração de meus próprios problemas. Qualquer que fosse a razão,
encontrei-me saindo pelo corredor, logo caminhando para a porta do
quarto de Thisbe. Desta vez, não bati. Só empurrei a porta para abri-la,
e Heidi, seu rosto esfarrapado, manchada com suas próprias lágrimas,
me olhou desde a cadeira de balanço. ― Dê ela para mim. ― disse,
oferecendo meus braços. ― Você descansa um pouco.
Estava bastante segura que Seu Bebê: O Básico, não dizia nada
sobre caminhar ao amanhecer pelo passeio marítimo para a cura das
cólicas. Mas nunca sabia.
No principio, não tinha certeza de que Heidi me deixaria levá-la.
Ainda depois das horas de choro e seu claro e atual esgotamento, ainda
duvidava. Não foi até que avancei outro passo até ela e acrescentei. ―
Vamos. ― que ela deixou escapar um grande suspiro, e o próximo que
soube é que minha irmã estava em meus braços.
Ela era tão, tão pequena. E se retorcia, o que a fazia parecer ainda
mais frágil, embora com tanto grito, tivesse que ter um pouco de força
de algum lado. Sua pele era quente contra a minha, e podia sentir a
umidade da base do seu pescoço, o cabelo estava molhado ali. Pobre
bebê, pensei, surpreendendo a mim mesma.
44
― Não sei o que ela precisa. ― disse Heidi, deixando-se cair
pesadamente na cadeira de balanço novamente, o qual depois golpeou
contra a parede. ― Eu só..., não posso..., não posso ouvi-la mais chorar.
― V| dormir. ― eu disse.
― Não sei. ― murmurou. ― Talvez devesse...
― Vai. ― eu disse, e enquanto não queria que minha voz soasse
tão aguda, funcionou. Ela se empurrou para fora da cadeira, passou
choramingando pelo corredor até seu quarto.
Deixou-me sozinha com Thisbe, que ainda estava gritando. Por
um tempo, simplesmente tentei caminhar com ela: em seu quarto,
depois escadas abaixo, através da cozinha, ao redor da ilha, de volta a
sala, o qual a tranquilizou um pouco, mas não muito. Logo me dei conta
do carrinho de passeio, estacionado ao lado da porta. Era perto das
cinco quando a coloquei ali dentro, ainda gritando, e comecei a
empurrar pelo caminho da entrada. No momento em que chegamos à
caixa de correio, sete metros de distância, ela tinha parado.
De nenhuma maneira, pensei, fazendo uma pausa para olhá-la.
Passou um breve silêncio, e logo a olhei tomar fôlego e começar de
novo, mais forte que antes. Rapidamente comecei a empurrá-la mais
uma vez, e depois de umas voltas das rodas..., silêncio de novo.
Peguei o ritmo e sai pela rua.
No momento em que alcançamos a zona das lojas, ela estava
dormindo sob sua manta, com os olhos fechados e com o rosto
relaxado.
Frente a nós, a passarela estava deserta, uma fresca brisa
soprava através dela. Tudo o que podia escutar era o oceano e as rodas
dos carrinhos golpeando sob meus pés.
Havíamos caminhado todo o caminho da Café Última Chance
antes de finalmente ver alguma pessoa, e mesmo assim estavam longe
na distância, apenas um ponto e algum movimento. Não foi até que
voltamos a subir até a marquise laranja da, Da Clementine que me dei
45
conta que era alguém na bicicleta. Estavam em um lugar onde a
passarela se abria para a praia, e observei entrecerrando os olhos,
enquanto subia em sua roda dianteira, saltando por alguns metros,
logo baixando facilmente, girando as manivelas. Depoispedalando para
trás, ziguezagueando, antes de acelerar rapidamente para frente,
inclinando-se por um banco próximo, depois para baixo novamente.
Os movimentos eram fluidos, quase hipnóticos: pensei em Heidi
na cadeira de balanço, e Thisbe dormindo no carrinho, o sutil e
calmante poder do movimento. Estava tão distraída olhando a pessoa
na bicicleta, que não foi até que cheguei até ele que reconheci o
moletom azul, esse cabelo escuro recolhido na nuca. Era o mesmo
garoto que havia batido no caminho horas antes.
Desta vez, entretanto, foi tomado pela surpresa, o que foi óbvio
pelo modo em que se balançou, deslizando em uma parada desajeitada
quando de repente nos viu paradas a menos de três metros dele.
Só pelo seu olhar, soube que me reconheceu também, embora
não foi exatamente amigável – ninguém foi. Mas então, eu tampouco
havia dito algo. Na realidade, nós dois só ficamos parados ali, nos
olhando. Provavelmente tivesse sido bastante incomodo, se Thisbe não
tivesse começado a chorar de novo.
― Oh! ― disse, rapidamente empurrando o carrinho para frente,
logo para trás. Ela se calou imediatamente, mas manteve seus olhos
abertos, olhando o céu. O garoto estava olhando-a, e por alguma razão,
me senti obrigada a adicionar. ― Ela é..., tem sido uma grande noite.
Olhou-me de novo, e seu olhar era tão serio. Quase angustiado,
embora o porquê dessa palavra vir a minha mente, não tinha ideia.
Voltou seu olhar para Thisbe, logo disse. ― Não são todas?
Abri minha boca para dizer algo – para assentir, pelo menos –
mas não me deu oportunidade, já estava pedalando para trás. Nenhum
adeus, nem nada, só um giro do guidão, e então estava levantando-se
nos pedais e indo para longe de nós. No lugar de uma linha reta, se
moveu pela passarela de lado a lado, ziguezagueando lentamente, todo
o caminha até o final.
46
4
― Para você.
Olhei para baixo: parada na minha frente em um prato amarelo;
vi um gordinho e um perfeito muffins de mirtilo5. Uma porção de
manteiga estava parada junto a ele como se fosse um acessório.
― Seu pai disse que é o seu favorito. ― disse Heidi. ― Obtive as
bagas esta manhã, no mercado de agricultores, e as fiz frescas.
Enquanto ainda estava visivelmente cansada, agora minha
madrasta se parecia muito mais a Heidi que conhecia: tinha o cabelo
preso cuidadosamente, e tinha umas calças jeans, uma camisa limpa
fazendo jogo, e brilho nos lábios.
― Realmente não tinha que fazer isso. — disse.
― Sim. ― respondeu ela. Sua voz plana e séria. — Sim tinha.
Era duasdatarde, e eu acabava de descer depois de sete horas de
sono para encontrá-la na cozinha, enxugando uma vasilha, e com o
bebê dormindo no oco de seu outro braço. Ia diretamente para a
cafeteira e não para falar, mas antes que eu soubesse o que estava
acontecendo, ela já havia me cegado com um abraço e com produtos
assados.
― Fiz por você. – disse agora, enquanto deixava-se cair em uma
cadeira de balanço frente a mim, e mudando o bebê um pouco. ― Tive
as primeiras quatro horas interruptas de sono desde que ela nasceu.
Foi como um milagre.
― Realmente não foi grande coisa. ― disse a ela, desejando que
simplesmente deixasse isso. Toda essa agitação sobre uma pessoa, só
cheira a desespero para mim.
5 Blueberries/ Mirtilo: Umafrutinha muito conhecida e usada na América do Norte
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― Falo sério. ― falou, claramente não agarrando a minha indireta.
– Você é oficialmente minha pessoa favorita no mundo agora.
Maravilha, eu pensei. Então tirei a casca envolta do muffins, e dei
umamordidaao invésderesponder. Aindaestava quente, e delicioso, e
me fez sentir terrivelmente ingrata por tudo o que havia sentido desde
que coloquei meus olhos nela.
― Isso é realmente bom. — disse.
― Estou tão feliz. — disse ela, enquanto soava o telefone. ― Como
disse, era o menos que podia fazer.
Dei outra mordida no meu muffin, enquanto ela parava, mudava
o bebê a seu outro braço, logo agarrou o celular sobre o balcão.
― Ol|? Oh, Maggie! Bom. Tenho estado me perguntando se esse
envio entrou... espera, est| bem? ― ela estreitou os olhos. ― Soa como
se tivesse chorando. Está chorando?
MeuDeus! Eu pensei, pegando o jornal e folheando as manchetes.
O que acontece com essa cidade? Eram todos emocionais?
― Est| bem. ― disse Heidi lentamente. ― Simplesmente não pude
deixar de notar..., não, não, claro. O que? Bom, deve estar no escritório,
justo na caixa da esquerda. Não está? Huh. Bom, deixe-me pensar... ―
olhou ao redor da sala, em seguida, lançou uma mão sobre sua boca.
Sua voz se elevou enquanto disse. ― Oh, merda! Está aqui, já a vejo ao
lado da porta.
― Deus, como aconteceu isso? Não, levarei agora mesmo. Não é
um problema, eu só colocarei Thisbe em seu carrinho...
A pessoa na outra linha estava dizendo algo, a voz igualmente
alta e estridente. Tomei um gole do meu café, depois outro, assim como
Thisbe começou a intervir também. Perguntava-me se as emoções
eram como os ciclos menstruais; se teria suficientes mulheres juntas.
Dê tempo, e todo mundo estará chorando.
― Oh, querida. ― disse Heidi, olhando o relógio. ― Olha, vou ter
que dar de comer antes que possamos ir a qualquer lugar. Só informe
48
ao entregador... Há suficiente dinheiro no caixa? Bom, você pode
verificar?
Houve uma pausa, durante ao qual Thisbe passou de choro
intermitente a chorar completamente. Heidi suspirou. ― Muito bem.
Não, estamos indo agora. Só..., aguenta. Bom. Tchau.
Desligou, e depois cruzou a habitação até o final da escada,
movendo ligeiramente Thisbe enquanto ia.
― Robert? ― chamou pela escada. ― Querido?
― Sim. ― meu pai respondeu um momento depois, com a voz
apagada.
― Acha que pode alimentar a Thisbe por mim? Tenho que ir
correndo levar o talão de cheque para a loja.
Ouvi passos lá encima depois a voz de meu pai, mais forte e mais
clara, dizendo: ― Est| falando comigo?
Thisbe escolheu esse momento paraaumentar seu volume: Heidi
teria que gritar sobre ela enquanto dizia. ― Só perguntava se poderia
dar para Thisbe uma mamadeira, tenho que ir a loja por que deixei o
talão de cheque aqui, e pensei que poderia cobrir esse cargo COD com
dinheiro, mas não é suficiente...
Muita informação, pensei, sorvendo o resto do meu café. Por que
ela sempre tem que fazer tudo tão complicado?
― Querida, não estou realmente em um bom momento. ― disse
meu pai. ― Pode esperar uns vinte minutos?
Thisbe uivou em resposta, mais ou menos respondendo a essa
pergunta. ― Hum. ― disse Heidi, olhando ela. ― Eu não sei.
― Bom. ― disse meu pai, e imediatamente reconheci sua voz,
aproveitadorae petulante. Muito bem, ele havia dito para a minha mãe,
só você nos mantém com o seu trabalho. Muito bem, suponho que você
sabe mais sobre o que a Indústria de Publicidade quer. Muito bem, só vou
renunciar a minha forma de escrever completamente,não é que eu tenha
49
sido nomeado para um Prêmio Nacional de Livro alguma vez. ― Só me
dê um minuto, e...
― Eu levarei l|. ― eu disse, empurrando minha cadeira. Heidi
olhou para mim, surpreendida, mas não tanto como eu mesma. Pensei
que havia renunciado a esse tipo de comportamento codependente faz
anos.
― Eu quero ir para a praia de todos os modos.
― Tem certeza? ― Heidi perguntou. ― Devido ao fato de que você
foi de grande ajuda na noite anterior, não quero te pedir.
― Ela est| se oferecendo, Heidi. ― disse papai. Embora não podia
vê-lo, só escutar sua voz, soando para baixo desses lugares ocultos,
como Deus. ― Não seja um m|rtir.
O que seria um bom aviso, eu estava pensando dez minutos mais
tarde, enquanto caminhava pelo passeio marítimo, com o talão de
cheque e alguns pães para as crianças na mão. Vinte e quatro horas em
Colby e já não me reconheço. Minha mãe tinha estado contrariada. Eu
sabia que estava. Quando entrei na Clementine, a primeira coisa que vi
foi à garota de cabelo escuro da noite anterior parada no balcão com
um tipo de UPS6.
― A coisa é. ― ela estava dizendo. ― Sei que é estúpido que ainda
continue chorando por ele. Mas saímos, como, dois anos. Não foi só
uma aventura. Estávamos a sério, tão sério, como coisas como essa
podem ser. Assim que alguns dias, como hoje..., é simplesmente difícil.
O homem da UPS, que parecia decididamente incomodado, se
iluminou a me ver. ― Parece que seu talão de cheque est| aqui. ― disse
ele.
― Oh! ― ela virou para me ver, logo piscou confusa. ― Heidi,
está... Você é...?
― Sua enteada. ― expliquei-lhe.
6 UPS: como o entregador da FedEx nos EUA.
50
― De verdade? Isso é genial. Est| aqui para ajud|-la com o bebê?
― Não. ― disse.
― Mal posso esperar para conhecê-la. ― disse antes que pudesse
terminar. ― E me encanta o seu nome, é tão incomum. Se bem que
pensei que Heidi ia nomeá-la de Isabel, ou Caroline? Mas acho que me
equivoquei...
Entreguei-lhe o talão, depois a bolsa. Quando ela olhou,
zombando, acrescentei. ― Muffins.
― Verdade? ― disse emocionada, abrindo a bolsa. ― Oh! Tem um
delicioso cheiro. Aqui, Ramon, quer uma?
Ela ofereceu a bolsa ao UPS, que pegou e tomou uma, e depois a
mim. Sacudi a cabeça, e ela se serviu de uma. ― Muito obrigada. Aqui,
só vou escrever rápido o cheque e enviá-lo de volta contigo, por que
acho que Heidi precisa dele para algumas faturas, e não gostaria que
você tivesse que fazer outra viagem. Embora seja pratico tê-lo aqui, ao
mesmo tempo.
Eu assenti. Muita informação de novo; então me aproximei de
uma exposição de jeans, deixando-a para que continuasse
conversando.
Atrás dos jeans, metido contra uma parede traseira, estavam
alguns trajes de banho á venda, assim que comecei a escolher entre
eles. Estava olhando um vermelho, biquíni pequeno e curto quenão era
totalmente horrível, quando escutei o som da porta da entrada.
― Trouxe a cafeína. ― a voz de uma menina falou. ― Mocha
duplo, extra batido. Seu favorito.
― E eu. ― disse outro som na entrada. ― Tenho a última matéria
de Holly world. Acaba de cair em uma banca de jornal faz dez minutos.
― Vocês! ― Maggie gritou. Olhei para cima, mas por causa da
grade de roupas, minha vista estava bloqueada: ela era tudo o que
podia ver agora, dado que Ramon claramente tinha deixado o edifício.
Garoto sortudo. ― Qual é o motivo?
51
Ninguém falou por um momento, e voltei a minha pesquisa.
Então, uma das garotas disse: ― Bom..., a verdade é que temos algo
para te dizer.
― Me dizer? ― disse Maggie.
― Sim. ― a outra garota disse. Houve uma pausa. Então... Agora,
antes de fazer isso, quero destacar que isso é para o seu próprio bem.
Está bem?
― Est| bem. ― disse Maggie lentamente. ― Mas não gosto do som
da...
― Jake esteve com outra garota ontem a noite. ― a terceira garota
deixou escapar. ― No Tip.
Oh, merda! Pensei.
― O que? ― Maggie ficou sem fôlego.
― Leah. ― disse uma garota. ― Jesus, eu pensei que estávamos de
acordo que íamos lançá-lo com cuidado.
― Você quer lanç|-lo com cuidado. ― Leah respondeu. ― Disse
que deveríamos simplesmente dizê-lo rápido e de uma vez, como uma
cera para sobrancelhas.
― Est| falando sério? ― a voz de Maggie foi apertada, elevada, e
me retrai mais nos trajes de banho, me perguntando se havia uma
saída nos fundos.
― Como vocês sabem? Quem era? Quero dizer, como...
― Est|vamos ali. ― disse Leah categoricamente. ― Vimos ela
aparecer e vimoseles conversando esaindo caminhando paraas dunas
juntos.
― E não o pararam? ― Maggie gritou.
― Olha. ― disse a outra garota. ― Se acalme ok?
― Não me diga para me acalmar, ok Esther? Quem era ela?
52
Outro silêncio.
Estúpida Heidi e estúpido seu talão de cheque, pensei, me
enterrando mais profundamente perto de uma peça (mais de uma
peça).
― Não sabemos. ― disse Leah. ― É uma garota de veraneio, uma
turista.
― Bom, que aspecto tinha? ― Maggie exigiu.
― Realmente importa? ― Esther respondeu.
― Claro que importa! É primordial.
― Não é. ― disse Leah com um suspiro. ― Primordial.
― Era mais linda que eu? ― perguntou Maggie. ― Mais alta?
Aposto que ela era uma loira. Era loira?
Silêncio.
Espiei por trás da estante de trajes, nesse ponto não fiquei
surpresa totalmente ao ver a ruiva e a garota com tranças da fogueira.
Trocaram um olhar antes que a de tranças, Esther, dissesse. ― Ela tinha
o cabelo preto e a pele clara. Mais alta que você, mas mais do tipo
ossuda.
― E sua pele não era tão maravilhosa. ― a ruiva, que tinha que
ser Leah, acrescentou.
Senti-me estremecer ao ouvir isso. Em primeiro lugar, não era
ossuda. E bem, eu tinha um par de espinhas, mas era temporária, não
uma condição. E de todas as formas, quem eram elas para dizer isso.
De repente, a estante de trajes de banho se afastou justo no meio,
como o Mar Vermelho. E só assim, com um tamborilar de cabides, eu
me encontrei cara a cara com Maggie.
― Ela! ― disse ela, estreitando seus olhos em mim. ― Teria essa
aparência, talvez?
53
― V| { merda. ― disse Leah. A seu lado, Esther bateu uma mão
sobre sua boca.
― Não posso acreditar nisso. ― disse Maggie enquanto eu lutava
contra o impulso de me proteger com umas cintas próximas.
― Estava se encontrando com Jake ontem { noite?
Engoli, parecendo o som mais forte que uma arma de fogo.
― Não estava. ― comecei, depois me dei conta que minha voz era
vacilante e me detive, tomando um fôlego. ― Não foi nada.
Maggie respirou fundo; com as bochechas ocas. ― Nada. ―
repetiu.
Então ela baixou as mãos do conjunto de sua mochila, deixando-
as despencar ao seu lado. ― Você estava se encontrando com o amor da
minha vida, o garoto com ao qual queria me casar.
― Oh, homem. ― disse Leah, ― Aqui vamos nós.
― E não é nada? Sério?
― Maggie. ― disse Esther, caminhando para frente. ― Vamos. Isso
não se trata dela.
― Então do que se trata exatamente?
Esther suspirou. ― Você sabia que isso ai acontecer cedo ou
tarde.
― Não! ― Maggie protestou. ― Eu não sabia disso. Eu não sabia
nada disso.
― Sim, sabia. ― Esther colocou a mão sobre seu ombro,
apertando-o. ― Enfrenteisso. Se não fosse ela, só teria sido com alguma
outra garota.
― Algumaoutra meninaestúpida. ― acrescentou Leah, pegando a
revista e a moveu de um puxão através da garota. E acrescentou Leah,
54
escolhendo uma revista e folheando-a. Então, como uma idéia de
ultimo momento, me olhou e disse: ― Não se ofenda. É só um idiota.
― Ele não é. ― Maggie protestou, com l|grimas nos olhos.
― Vamos Mag. Sabe que ele é. ― Esther me olhou, depois meteu a
mão pelo braço de Maggie, envolvendo uma mão sobre a sua.
― E agora, você realmente pode começar a esquecê-lo. Se pensar
bem, isso provavelmente é o melhor que pode ter acontecido.
― É assim. ― disse Leah concordando, dando a volta em outra
página.
― Como sabe? ― Maggie gemeu, mas se deixou ser conduzida de
novo ao balcão, confusa tomando sua mocha quando Leah o deu.
― Por que. ― disse Esther suavemente. ― Você ainda estava
esperando ele, torturando a você mesma, pensando que ele voltaria. E
agora deve deixá-lo ir. Ela te fez um médio favor, se você pensa
realmente nele.
Maggie voltou para mim, e eu me endireitei. Eu não podia achar
que havia estado realmente preocupadapor ela: ela era pequena e rosa
como uma borla de pó. Pensando nisso, sai de trás dos trajes e me
dirigi à porta.
― Espera um segundo. ― disse.
Eu não tinha que parar. Já sabia. No entanto, diminui meus
passos, voltando para ela. Mas eu não disse nada.
― Você. ― começou, mas se deteve e tomou fôlego. ― Realmente
gosta dele? Só me diga. Sei que é patético, mas preciso saber.
Só a olhei por um momento, sentindo todos os olhos em mim. ―
Ele não é nada para mim. ― disse.
Ela manteve seu olhar em mim por mais um momento. Então
pegou o talão de cheque, se aproximando e me dando. ― Obrigada. ―
disse.
55
Talvez no mundo das meninas, isso se supõe que era um
momento decisivo.
Quando víamos através de nossas diferenças iniciais, nos
dávamos conta que teríamos algo em comum depois de tudo, e nos
converteríamos em verdadeiras amigas. Mas esse era um lugar que eu
não conhecia bem, em que nunca havia vivido, e não tinha nenhum
interesse em descobrir, ainda como uma turista. Então agarrei o talão,
assenti, e caminhei para a porta, deixando elas como havia feito com
tantos outros grupos, para que dissessem o que seja que quisessem
sobre mim uma vez que eu tivesse ido.
― Então. ― disse minha mãe. ― Me conte tudo.
Era ao anoitecer, e estava dormindo profundamente quando o
telefone tocou. Ainda sem olhá-lo, sabia que deveria ser minha mãe.
Primeiro, por que era sua hora preferida para fazer chamadas, justo na
hora dos coquetéis. Não era como se estivesse esperando escutar sobre
mais alguém, exceto talvez meu irmão, Hollis, e ele só ligou na metade
da noite, tendo ainda que se adaptar ao conceito das zonas horárias.
― Bom. ― disse, reprimindo um bocejo. ― É realmente muito
bonito aqui. Deveria ver a vista.
― Tenho certeza que é. ― respondeu. ― Mas não me chateie com
esse cenário, preciso de detalhes. Como está seu pai?
Engoli, depois olhei a minha porta fechada, como se de alguma
maneira pudesse olhar através dela, todo o caminho até ele.
Surpreendentemente fácil era que minha mãe podia me levar até a
única coisa que não queria falar. Ela simplesmente sabia.
56
Agora, tinha estado no meu pai por três dias, durante o qual
havia o visto em um total de, três horas. Ele estava em seu escritório
trabalhando, ou em seu quarto dormindo, ou na cozinha pegando um
lanche rápido, ou correndo de um lado a outro. Muito para as minhas
visões de nós passeando ou juntos, compartilhando um prato de
rodelasde cebola ou discutindo sobre literatura e meu futuro. No lugar
disso, nossas conversas usualmente tinham lugar nas escadas, um
rápido, Como você está indo? Foi à praia hoje? enquanto nos dirigimos
em direções opostas. Esta ainda, no entanto, eram os melhores
esforços que eu havia feito ao golpear a porta de seu escritório. Então,
ele nem sequer havia se irritado em se afastar da tela do computador,
minhas tentativas de diálogos colocados em sua nuca como tiros
errando a cesta por uma milha.
Chateada. O que era pior, entretanto, era que se minha mãe era
inexistente, Heidi estava em todos os lados. Se eu ia buscar um café, ela
estava na cozinha, alimentando o bebê.
Se eu tentava me esconder na plataforma, ela surgia com Thisbe
na Baby Bjorn7, meconvidando aacompanhá-lasa um passeio napraia.
Nem se quer em meu quarto estava segura, que ficava tão perto do
quarto das crianças que o mínimo movimento ou barulho a chamava,
como se ela assumisse que eu estava tão desesperada por companhia
como ela estava.
Claramente, ela se sentia sozinha. Mas eu não. Eu estava
acostumada a ficar sozinha: eu gostava. Razão pela qual era
surpreendente que nem sequer tivesse notado a falta de atenção do
meu pai, muito menoseu me importava. Mas por alguma razão, o fazia.
E todos os seus muffins; conversa fiada e excesso de carinho só o
fazia pior.
Podia ter dito à minha mãe tudo isso. Depois de tudo, era
exatamente o que ela queria escutar. Mas fazer isso, por alguma razão,
parecia como um fracasso. Quero dizer, o que eu havia esperado de
todos os modos? Assim que tomei uma tática diferente.
7 Para carregar bebês,geralmente amarradonos ombros e cintura da mãe.
57
― Bem. ― comecei. ― Ele est| escrevendo um monte. Ele est| em
seu escritório todos os dias, todo o dia.
Uma pausaenquanto ela processavaisso. Depois, disse. ― Realmente?
― Sim. ― disse. ― Ele disse que já esta quase terminando o livro,
só tem que ajustar algumas coisas.
―- Ajustar algumas coisas que tomam todos os dias, todo o dia. ―
disse ela. Ouch. ― O que acontece com o bebê? Ele est| ajudando a
Heidi com ela?
― Hm. ― disse, depoisimediatamente me arrependi, sabendo que
esta palavra dizia tudo. ― Faz. Mas ela est| realmente muito
determinada de fazer tudo por ela mesma...
― Oh, por favor. ― disse minha mãe. Podia escutar sua satisfação.
― Ninguém quer ser a única que cuida de um recém-nascido. E se eles
dizem assim, é só por que na verdade não tem alternativa. Você
já viu seu pai trocar uma fralda?
― Tenho certeza que ele j| fez.
― Sim, mas Auden. ― estremeci. Isso era como estar pintada em
uma esquina, pincelada por pincelada. ― Você viu?
― Bem. ― disse. ― Na verdade não.
― Ah! ― ela suspirou novamente, e quase pude ouvi-la sorrir. ―
Bom, é agradável saber que algumas coisas realmente nunca mudam.
Quis salientar que isso era o que ela tinha tanta certeza, não
deveria estar tão surpresa.
No lugar disso, disse. ― Então, como você esta?
― Eu? ― um suspiro. ― Oh, o mesmo de sempre. Pediram-me
para que dirigisse o centro do comitê de redação dos cursos de
espanhol para o próximo ano, com todos os encarregados do drama
que aguentar. E tenho vários artigos esperados por diferentes revistas,
minha viagem a Strangford se aproxima, e, claro, muitas teses que
58
claramente não podem ser concluídas sem uma grande quantidade de
mão de obra.
― Soa como um bom verão. ― disse, abrindo minha janela.
― Conte-me sobre isso. Esses estudantes de graduação, juro,
simplesmente nunca acabam. Eles são todos tão necessitados. ― ela
suspirou de novo, e pensei naqueles óculos de armação preto apoiado
no balcão. ― Tenho quase decidido a desaparecer na costa, como você,
e passar o verão na praia sem uma preocupação com o mundo.
Olhei pela janela a água, a areia branca, o Tip. apenas visível mais
ao longe. Sim, queria dizer. Essa sou eu exatamente. ― Então. ― disse,
pensando nisso. ― Tem escutado de Hollis ultimamente?
― Anteontem { noite. ― disse ela. Logo riu. ― Ele me disse que
conheceu alguns noruegueses que estavam a caminho de uma
convenção em Amsterdam. Eles são donos de algum lançamento de
Internet, e aparentemente estão muito interessados em Hollis,
acreditam que ele realmente esta a par de seus objetivos com
audiência americana, portanto os acompanhou. Ele está pensando que
poderia ser um sucesso em algum tipo de cargo...
Revirei os olhos. Era maravilhoso como minha mãe podia ver
através de mim completamente, mas Hollis saindo para Amsterdam
com algumas pessoas que recém havia conhecido, se convertia em uma
mudança de carreira, e ela mordeu a isca, de cabo a rabo.
Honestamente.
Justo então, houve um golpe na minha porta. Quando a abri, me
surpreendi ao ver meu pai para ali.
― Hey. ― disse ele, sorrindo. ― Vamos sair para jantar, pensei
que poderia querer ir.
― Certo. ― articulei com a boca, esperando que minha mãe, que
ainda estava falando de Hollis, não escutasse.
A caminho do verão - Sarah Dessen
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A caminho do verão - Sarah Dessen

  • 1. 1
  • 3. 3 Sinopse Tem muito tempo desde que Auden dormia a noite. Desde a separaçãodos seus pais — ou desde que as brigas começaram. Agora ela tem a chancede passar um verão livre, com seu pai e sua nova família na charmosa cidade praiana onde eles vivem. Um emprego numa boutiquede roupas apresenta Auden ao mundo das garotas: suas conversas, suas amizades, suas paixões. Ela sentiu falta de tudo isso, muito ocupada em ser a filha perfeita da sua mãe controladora. Então ela conhece Eli, um solitário intrigante e um companheiro insone que se torna seu guia para o mundo noturno da cidade. Juntos eles embarcam numa busca paralela: para Auden, experimentar a vida adolescente desimpedida que lhe tem sido negada; para Eli, se entender com a culpa que ele sente pela morte de um amigo.
  • 4. 4 1 O e-mail sempre começava do mesmo jeito. — Oi Auden!! Era o ponto deexclamação extra que me incomodava. Minha mãe o chamaria de estranho, exagerado, exuberante. Para mim, era simplesmente chato, assim como todo o resto a respeito da minha madrasta, Heidi. — Eu espero que você esteja tendo ótimas semanas finais de aulas. Nós estamos todos bem aqui! Apenas terminando algumas coisas antes da sua meio-irmã chegar. Ela tem chutado como uma maluca ultimamente. É como se ela estivesse fazendo golpes de Karachi lá dentro! Eu estive ocupada manejando a loja (por assim dizer) e colocando os toques finais no quarto. Eu o fiz todo em rosa e marrom; é lindo. Eu vou adicionar uma foto para que você possa vê-lo. Seu pai está ocupado como sempre, trabalhando no seu livro. Eu imagino que vá ver mais dele queimando o óleo quando eu estiver acordada com o bebê! Eu realmente espero que você considere vir nos visitar uma vez que você tiver terminado com a escola. Seria tão divertido, e fazer desse verão muito mais especial para todos nós. Só venha a qualquer momento. Nós adoraríamos ver você! Amor, Heidi (e o seu pai, e o quase bebê). Só ler essas informações me exauria. Particularmente era a gramática excitada, que era como alguém gritando no seu ouvido, mas também apenas a própria Heidi. Ela era tão... Estranha, exagerada, exuberante. E um saco. Todas as coisas que ela tinha sido para mim, e mais, desde que ela e meu pai se envolveram, engravidaram e casaram no ano passado.
  • 5. 5 Minhamãe afirmou não estar surpresa. Desde o divórcio, ela tem previsto que não demoraria muito antes do meu pai, segundo ela diz, - Fosse morar com alguma estudantezinha. - Aos vinte e seis, Heidi era da mesma idade que a minha mãe quando ela teve meu irmão Hollis, seguido de mim dois anos depois, apesar delas não poderem ser mais diferentes. Onde minha mãe era uma acadêmica escolar com um esperto, afiado sagacidade e uma reputação nacional como uma expert nos papéis das mulheres na literatura da Renascença, Heidi era... Bem, Heidi. O tipo de mulher cujos fortes eram sua constantemente automanutenção (pedicure, manicure, luzes no cabelo), saber todo o tipo de coisa que você nunca quis saber sobre barras de roupas e sapatos, e enviar e-mails totalmente muito conversatórios para pessoas que não poderiam se importar menos. O noivado deles foi rápido, a implantação (como minha mãe o batizou) acontecendo dentro de uns dois meses. Bem assim, meu pai foi do que ele tinha sido por anos, marido da Dra. Victoria West e autor de um bem recebido romance, agora mais conhecido pelos seus campos interdepartamentais do que a sua continuação ainda em longo processo, para um novo marido e prestesa ser pai. Adicione a tudo isso a sua também nova posição, como diretor do departamento criativo do Colégio Weymar, uma pequena escola em uma cidade de frente para o mar, e era como se o meu pai tivesse uma completa vida nova. E mesmo que eles estivessem me convidando para ir, eu não estava certa de que queria descobrir se ainda havia um espaço para mim nela. Agora, do outro quarto, eu ouvi uma repentina explosão de risadas, seguida de um bater de taças. Minha mãe estava recepcionando outra das suas festinhas de estudantes de graduação, que sempre começavam com um jantar formal. “A Cultura está em tanta falta nessa cultura!”, ela disse, antes de inevitavelmente deteriorar em altos e bêbados debates a cerca de literatura e teoria. Eu dei uma olhada para o relógio – duas e meia – então abri a porta do meu quarto com cuidado com o meu dedão, olhando de relance na direção do longo corredor para a cozinha. Com certeza, eu podia ver minha mãe sentadana cabeceira da nossamesa da cozinhado tamanho de um grande bloco de açougueiro, olhando adoramente enquanto ela
  • 6. 6 continuava a respeito, do pouco que eu pude entender; Marlowe1 e a cultura da mulher. Essa era ainda, outra das muitas fascinantes contradições a respeito da minha mãe. Ela era uma expert em mulheres na literatura, mas não gostava muito delas na prática. Parcialmente era porque muitas delas eram invejosas: da sua inteligência (praticamente nível Mensa2), sua bolsa de estudos (quatro livros, inúmeros artigos, um projeto financiado), ou da sua aparência (alta e curvilínea com longos cabelos bem preto, que ela normalmente usava solto e selvagem, a única coisa fora de controle a respeito dela). Por essas e outras razões, estudantesfemininasraramentevinham para esses encontros, e se elas vinham, raramente retornavam. — Dra. West. — um dos estudantes tipicamente malvestido, em um blazer de aparência barata, cabelo desgrenhado, e óculos de armação preta de nerd, disse agora. — Você deveria considerar desenvolver essa ideia em um artigo. É fascinante. Eu observei minha mãe dar um gole no seu vinho, empurrando seu cabelo suavemente com uma mão. — Oh, Deus, não. — ela disse, em sua profunda, ríspida voz (ela soava como uma fumante, apesar de nunca ter dado um trago na vida). — Eu malemente sequer tenho tempo para escrever meu livro agora, e isso, pelo menos, eu estou sendo paga para fazer. Se você pode chamar isso de pagamento. Mais risadas agradáveis. Minha mãe amava reclamar sobre o quão pouco ela era paga pelos seus livros, todos acadêmicos, publicados por editoras universitárias, enquanto o que ela chamava de fúteis histórias de donas de casa, atraiam grandes quantias. No mundo da minha mãe, todo mundo iria carregar os trabalhos completos de Shakespeare para a praia, com talvez uns dois poemas épicos jogados lá pelo meio. 1 Christopher Marlowe foi dramaturgo,poeta e tradutor inglês, e viveu no Período Elizabetano 2 A Mensa Internationalé a maior, mais antiga e mais famosa sociedade que reúne pessoas com altos quocientes de inteligência domundo. A organização destina-se à associação entre pessoas com QIs nos 2% do topo de qualquer teste de inteligência padrãoaprovado.
  • 7. 7 — Ainda. — óculos-de-Nerd disse, pressionando. — É uma brilhante ideia. Eu poderia... Hm, co-autorá-lo com você, se você quiser. Minha mãe levantou sua cabeça e sua taça, apertando os olhos para ele enquanto um silêncio caía. — Oh, vamos. — ela disse. — Que doce dasua parte. Mas eu não faço coautoria, pela mesma razão que eu não saio com conhecidos do trabalho ou relacionamentos. Eu sou apenas muito egoísta. Eu pudever óculos-de-Nerd engolir, mesmo do meu longo ponto de vantagem, seu rosto corando assim que ele avançava para a garrafa de vinho, tentando disfarçar. Idiota, eu pensei, empurrando de leve a porta fechada. Como se fosse assim tão fácil se comparar a minha mãe, por algum rápido e apertado laço que iria durar. Eu saberia. Dez minutos depois, eu estava deslizando para fora pelas portas laterais, meussapatos enfiados debaixo dos braços, e entrando no meu carro. Eu dirigi pelas ruas vazias na maioria, passando por quietas vizinhanças e escuras fachadas de lojas, até que as luzes da Lanchonete do Ray aparecessem à distância. Pequeno, com completamente muito neon, e mesas que estavam sempre um pouco grudentas, o Ray era o único lugar na cidade, aberto vinte e quatro horas, 365 dias por ano. Desde que eu não estivesse dormindo, eu tinha passado mais noites do que me lembrava em uma cabine lá, lendo ou estudando, dando uma gorjeta a cada hora ou a qualquer coisa que eu pedia até que o sol se levantava. A insônia começou quando o casamento dos meus pais começou a se deteriorar três anos antes. Eu não deveria ter ficado surpresa: a união deles tinha sido tumultuosa por mais tempo que eu posso me lembrar, apesar deles estarem sempre discutindo mais a respeito de trabalho do que de si mesmos. Originariamente eles haviam chegado a Universidade diretamente da escola de primeiro grau, quando meu pai se ofereceu para ser professor assistente lá. Neste momento, ele recém havia encontrado um editor para seu primeiro romance, A Sereia Narwhal,
  • 8. 8 enquanto minha mãe estava grávidade meu irmão e tentando terminar sua tese. Rebobinando para frente, quatro anos, até meu nascimento, e para meu pai em uma maré de critica e êxito comercial, na lista de New York Times como o mais vendido eindicado para os Prêmios Nacionais de Livros, estava liderando o programa criativo de escritura, enquanto minha mãe estava; como ela gostava de dizer, perdida em um mar de fraldase baixa estima. Quando entrei no jardim de infância, no entanto, minha mãe voltou para a academia com vontade, conseguindo um mestrado e um editor para sua tese. Com o tempo, se transformou em uma das professoras mais populares no departamento, foi contratada para um cargo de tempo integral, e conseguiu um segundo, depois um terceiro livro, tudo enquanto meu pai simplesmente olhava. Ele afirmava estar orgulhoso, sempre fazendo piadas sobre ela ser seu boleto para a comida, o sustento da família. Mas logo minha mãe conseguiu seu cargo acadêmico, o que era muito valorizado, e ele foi despedido por seu editor, o que não o era, e as coisas começaram a ficar feias. As brigas sempre pareciam começar pelo jantar, com um deles fazendo algum pequeno comentário e o outro se sentindo ofendido. Haveria uma pequena briga, palavras ríspidas, uma tampa de panela batida com força, mas então pareceria resolvido..., pelo menos até cerca das dez ou onze, quando de repente eu os ouviria começar de novo sobre o mesmo assunto. Depois de um tempo eu percebi que esse braço de tempo ocorria porque eles estavam esperando que eu adormecesse antes de irem com tudo. Então eu decidi, uma noite, não dormir. Eu deixei minha porta aberta, minha luz acesa e fiz calculos, óbvias idas ao banheiro, lavando minhas mãos o mais alto possível. E por um tempo, funcionou. Até que não, e as brigas começaram de novo. Mas então meu corpo estava acostumado a ficar acordado até tarde, o que significava que agora eu estava acordada para cada palavra. Eu conhecia um monte de pessoas que tinham se separado, e todo mundo parecia lidar com isso de modo diferente: completa surpresa, desapontamento esmagador, completo alivio. O
  • 9. 9 denominador comum era, sempre que havia um monte de discussões a respeito desses sentimentos, ambos com os dois pais, ou um ou outro separadamente, ou com um terapeuta em grupo ou terapia individual. Minha família, é claro, tinha que ser a exceção. Eu realmente tive o sente-que-nós-temos-que-lhe-dizer-algo momento. As noticias foram dadas pela minha mãe, pela mesa da cozinha enquanto meu pai se encostava contra um canto por perto, mexendo nervosamente com as mãos e parecendo cansado. — O seu pai e eu estamos nos separando. — ela me informou, com o mesmo inexpressivo, todo negócios tom que eu tão freqüentemente a ouvia usar com estudantes enquanto ela criticava seus trabalhos. — Eu tenho certeza que você irá concordar que esse é o melhor para todos nós. Ouvindo isso, eu não tinha certeza de como eu me sentia. Não alivio não um esmagador desapontamento, e de novo, não era uma surpresa. O que me incomodava, enquanto nós sentávamos ali, os três de nós naquele cômodo eram; quão pequena eu me sentia. Pequena, como uma criança. O que era a coisa mais esquisita. Como se tivesse tomado todo esse imenso momento para uma repentina onda de infância passar por mim, há muito esperada. Eu tinha sido uma criança, é claro. Porque cerca do tempo que eu cheguei, meu irmão, o mais cólico dosbebes, umahiperativa criancinha engatinhando, uma espirituosa (leia-se ”impossível”) criança, tinha acabado com os meus pais. Ele ainda os estava cansando, se bem que de outro continente, vagando pela Europa e enviando apenas o ocasional e-mail detalhando ainda que outra epifânia a respeito do que ele deveria fazer da sua vida, seguido de um pedido de mais dinheiro para ser posto em ação. Pelo menos estando lá fora fazia tudo isso parecer mais nômade e artístico: agora meus pais poderiam dizer aos seus amigos que Hollis estava andando pela Torre Eiffel fumando cigarros ao invés de estar no Quik Zip. Apenas soava melhor. Se Hollis era uma grande criança, eu era o pequeno adulto, a criança que, aos três anos, sentaria-se à mesa durante discussões adultas sobre literatura e coloria meus livros de colorir, sem fazer um
  • 10. 10 ruído. Que aprendeu a se entreter a uma idade muito nova, que era obsessiva a respeito da escola e notas desde o jardim de infância, porque universidade era a única coisa que sempre tinha a atenção dos meus pais. Oh, não se preocupe, minha mãe diria, quando um dos seus convidados deixasse escapar a palavra com P ou alguma coisa igualmente crescida na minha frente. Auden é muito madura para sua idade. E eu era, fosse a idade de dois ou quatro ou dezessete. Com Hollis requerendo constante supervisão, eu era aquela que carregada para todo lugar, constantemente fluindo na vigília da minha mãe e do meu pai. Eles me levavam para a sinfonia, apresentações de arte, conferências acadêmicas, encontros de comitê, onde eu era esperada ser vista e não ouvida. Não havia muito tempo para brincadeira e brinquedos, apesar de eu nunca querer livros, que estavam sempre em grande quantidade. Por causa dessa criação, eu tinha o tipo de dificuldade em me relacionar com outras crianças da minha idade. Eu não entendia suas loucuras, sua energia, o modo indisciplinado que eles arremessavam por aí almofadas de sofás, ou digamos, andavam de bicicleta descontroladamente pelos cul-de-sacs3. Aquilo realmente parecia meio que divertido, mas ao mesmo tempo, era tão diferente do que eu era acostumada que eu não conseguia imaginar como eu iria alguma vez tomar parte se eu tivesse a chance. Que eu não tomei já que os atiradores de almofadas e os descontrolados motoristas de bicicletas normalmente não iam à altamente acadêmicas, séries aceleradas escolas privadas que os meus pais preferiam. Nos últimos quatro anos, de fato, eu tinha sido trocada de escola três vezes. Eu tinha apenas demorado na Jackson High por umas duas semanas antes da minha mãe, tendo visto um erro de soletração e um erro gramatical no meu programa de estudos de Inglês, me movendo para a Perkins Day, uma escola privada local. Era menor e mais rigorosamente acadêmica; apesar de não ser nem tanto quanto Kiffney/ Brown, a escola privilegiada para qual eu fui transferida no inicio do ensino médio. Fundada por inúmeros professores da própria 3 É uma expressão francesa que é usada para designar alguns pontos específicos de subúrbios americanos: como se fosse uma rua sem saída, mas o finaldela geralmente é arredondado,como uma rotatória.
  • 11. 11 localidade, era elite, uma centena de estudantes, estourando, e enfatizava em bem pequenas turmas e uma forte conexão com a universidade local, onde você podia fazer cursos de nível universitário para crédito antecipado. Enquanto eu tinha uns poucos amigos na Kiffney/ Brown, a ultracompetitiva atmosfera, comparada com o fato de o currículo ser autocriado, fazia chegar perto deles de alguma forma, uma dificuldade. Não que eu me importasse de verdade. A escola era o meu refúgio, e estudar me deixava escapar, me permitindo viver milharesde vidas através de outras. Quanto mais os meus pais lamentavam a falta de iniciativa de Hollis e suas notas terríveis, mais eu me esforçava. E por mais que eles estivessem orgulhosos de mim, as minhas realizações nunca pareciam me levar aonde eu queria. Eu era uma criança tão inteligente, eu deveria ter percebido que o único modo de realmente conseguir a atenção dos meus pais era desapontá-los ou reprovar. Mas quando eu finalmente percebi isso, sair-me bem já era um hábito muito arraigado para parar. Meu pai se mudou no inicio do meu segundo ano, alugando um apartamento mobiliado bem perto do campus em um complexo na maior partehabitado por estudantes. Era suposto que eu passasse cada fim de semana lá, mas ele estava em tal pânico, ainda se debatendo com o segundo livro, sua editora (ou a falta dela) exigindo respostas exatamente quando minha mãe estava ganhando tanta atenção, que não era exatamente desfrutável. Então por outro lado, a casa da minha mãe não era muito melhor, já que ela estava tão ocupada celebrando a sua recém-descoberta vida de solteira e sucesso acadêmico, que ela tinha pessoas lá em casa o tempo todo, estudantes indo e vindo, jantares todo o fim de semana. Parecia como se não houvesse meio termo em lugar nenhum, exceto na Lanchonete do Ray. Eu tinha passado por ela um milhão de vezes, mas nunca tinha pensado em parar até uma noite quando eu estava indo de volta para a casa da minha mãe, cerca de duas da manhã. Meu pai, como minha mãe, realmente não prestavam muita atenção em mim. Por causa dos meus horários escolares, uma aula à noite; horas matinais flexíveis de
  • 12. 12 seminários, e inúmeras aulas independentes, eu ia e vinha como eu quisesse, com pouco ou nenhum questionamento, então nenhum deles realmente notava quando eu não estava dormindo. Naquela noite, eu dei uma olhada rápida no Ray, e alguma coisa sobre ele apenas me acertou. Ele parecia caloroso, quase seguro, habitado por pessoas que pelo menos eu tinha alguma coisa em comum. Então eu estacionei, entrei, e pedi uma xícara de café e uma torta de maçã. Eu fiquei até o nascer do sol. A coisa legal a respeito do Ray era que uma vez eu tendo me tornado umaregular, eu aindaconseguia ficar sozinha. Ninguém estava me perguntando por maisdo que eu quisesse dar, e todas as interações eram curtas e doces. Se pelo menos os relacionamentos pudessem ser tão simples, comigo sempre sabendo exatamente a minha parte. Lá pelo outono, uma das garçonetes, uma velha senhora pesada cuja placa de nome dizia JULIE, tinha dado uma olhadela na inscrição que eu estava fazendo enquanto ela enchia de novo a minha xícara. — Universidade de Defriese. — ela leu alto. Então ela olhou para mim. — Boa escola. — Uma das melhores. — eu concordei. — Acha que vai entrar? Eu concordei. — É. Eu vou. Ela sorriu, como se eu fosse meio que bonitinha, então deu um tapinha no meu ombro. — Ah, ser jovem e confiante. — ela disse e então estava arrastando os pés para longe. Eu queria dizer para ela que eu não era confiante, eu apenas tinha me esforçado muito. Mas ela já tinha se movido para a próxima cabine, batendo papo com o cara sentado ali, e eu soube que ela realmente não se importava de todo modo. Havia mundos onde tudo isso; notas, escola, documentos, nível escolar, admissão adiantada, GPAs4 que contavam, importavam, ealguns onde eles não importavam. 4 Sigla para o Ponto Médiode Notas, ou seja a média aritmética das suas notas escolares dosemestre ou do curso que se faz, podendoser apresentada pelas simbologia alfabética (A, B,C, etc),númerica (1.0 – 4.0) ou
  • 13. 13 Eu passei minha vidainteira exatamente no primeiro, e mesmo no Ray, que era o último, eu ainda não conseguia fazer funcionar. Ser tão autossuficiente, e frequentando uma escola tão ortodoxa, significava que eu tinha perdido fazer todos esses momentos do último ano queos meusvelhos amigos daPerkinsDay tinham passado falando a respeito nesse último ano inteiro. A única coisa que eu já considerei alguma vez foi o baile, e isso apenas porque o meu maior competidor pelo mais alto GPA, Jason Talbot, tinha me perguntando meio quecomo um oferecimento de paz. No fim, afinal de contas, nem mesmo isso aconteceu, já que ele cancelou no último minuto depois de ser convidado para participar de algum tipo de conferencia ecológica. Eu disse a mim mesma que isso não importava; que era o equivalente a aquelas almofadas de sofás e voltas em bicicletas nos cul-de-sacs todos esses anos atrás, frívolos e desnecessários. Mas eu ainda meio que me perguntei, naqueles e em tantos outros momentos, o que eu estava perdendo. Eu estava sentada no Ray, as duas ou três ou quatro da manhã, e senti essa pontada esquisita. Quando eu desviei os olhos dos meus livros para ver as pessoas ao meu redor; caminhoneiros, pessoas que vinham da interestadual por café para seguir outra milha, os doidos ocasionais, eu teria aquele mesmo sentimento que eu tive no dia em que a minha mãe anunciou a separação. Como se eu não pertencesse ali, e deveria estar em casa, adormecida na cama, como todo mundo que eu veria na escola em algumas horas. Mas tão rapidamente quanto, ele passaria, eu empurraria a minha xícara para a beirada da mesa, dizendo sem palavras o que nós duas sabíamos bem, que eu ficaria por um tempo. qualitativa (Excelente,Bom, Regular, etc). Utilizada em geral como um dos pontos necessários pra a entrada na universidade em países como USAe Inglaterra.
  • 14. 14 Minha meio irmã, Thisbe Caroline West, nasceu um dia antes da minha formatura, pesando doisquilose setecentas gramas. Meu pai me ligou na manhã seguinte, exausto. — Eu sinto muito, Auden. — ele disse. — Eu odeio ter que perder o seu discurso. — Está tudo bem. — eu disse a ele enquanto minha mãe entrava na cozinha, no seu roupão, em direção à cafeteira. — Como está Heidi? — Bem. — ele respondeu. — Cansada. Foi um longo trajeto, e ela acabou fazendo uma cesariana, o que ela não ficou muito feliz a respeito. Mas eu estou certo que ela se sentirá melhor depois que tiver um pouco de descanso. — Diga a ela que eu dei os parabéns. — eu disse a ele. — Eu direi. E vá lá e arrebente criança. — isso era típico: para o meu pai, queera famosamentecompetitivo, qualquer coisa relacionada com academia era uma batalha. — Eu estarei pensando em você. Eu sorri e agradeci, então desliguei o telefone assim que minha mãe colocasse leite em seu café. Ela mexeu a sua xícara, a colher fazendo barulho suavemente, por um momento antes de dizer: — Deixe-me adivinhar. Ele não vem. — Heidi teve o bebê. — eu disse. — Eles a chamam de Thisbe. Minhamãe zombou. — Oh, meu Deus!— ela disse. — Detodos os nomes de Shakespeare para escolher, e o seu pai escolhe esse? A pobre garota. Ela terá que explicar a si mesma durante toda a sua vida. Minha mãe realmente não tinha direito de falar, considerando que ela tinha deixado o meu pai colocar nomes em mim e no meu irmão: Detram Hollis era um professor que meu pai altamente admirava, enquanto W. H. Auden era o seu poeta favorito. Eu passei algum tempo como criança desejando que meu nome fosse Ashley ou Katherine, somente porque eles fariam a minha vida mais simples, mas minha mãe gostava de dizer era um tipo de teste decisivo. Auden não era como Frost, ela dizia, ou Whitman. Ele era um pouco mais obscuro,
  • 15. 15 e se alguém o conhecia, então eu poderia ter pelo menos algo de certeza que eles eram merecedores do meu tempo e energia, capazes de serem meus iguais intelectuais. Eu percebi que isso poderia ser ainda mais verdadeiro para Thisbe, mas ao invés de dizer isso eu apenas me sentei com as minhas notas de discurso. — Então Heidi sobreviveu ao nascimento, eu assumo? – ela perguntou, tomando um golinho do seu café. — Ela teve que fazer uma cesárea. — Ela foi sortuda. — minha mãe disse. — Hollis pesava quatro quilos e novecentos gramas, e a epidural não funcionou. Ele quase me matou. Eu passei por outros dois cartões, esperando por uma das histórias que inevitavelmente se seguiam a essa. Havia sempre como Hollis era uma criança faminta, sugando o leite da minha mãe até o fim. A loucura que era a sua cólica, como ele tinha que ser posto para andar constantemente e, mesmo então, gritava por horas sem fim. Ou havia aquela uma sobre o meu pai, e como ele... — Eu apenas espero que ela não esteja esperando que o seu pai seja de muita ajuda. — ela disse, avançando paradoisdos meus cartões e os escaneando, seus olhos se apertando. — Eu tinha sorte se ele trocava a fralda uma vez que fosse. E esqueça sobre ele se levantar para alimentar durante a noite. Ele clama que ele tinha problemas de sono e tinha que ter suas nove horas para poder ensinar. Terrivelmente conveniente isso. Ela ainda estava lendo meus cartões enquanto dizia isso, e eu senti aquele familiar cutucão que eu experimentava sempre que alguma coisa que eu fazia repentinamente estava sobre o exame minucioso dela. Um momento depois, no entanto, ela os colocou de lado sem comentários. — Bem. — eu disse enquanto ela tomava outro gole do café. — Isso foi a um longo tempo atrás. Talvez ele esteja mudado.
  • 16. 16 — As pessoas não mudam. Pelo contrário, você fica mais acomodado nos seus modos enquanto você envelhece, não menos. — ela balançou sua cabeça. — Eu lembro que eu costumava sentar em nosso quarto, com Hollis gritando, e apenas desejando que uma vez a porta se abrisse, e o seu pai entrasse e dizesse: Aqui, me dê ele. Vá descansar. Por fim não era nem mesmo o seu pai que eu queria; era apenas qualquer um. Qualquer pessoa. Ela estava olhando pela janela enquanto dizia isso, seus dedos enrolados ao redor de sua xícara, que não estava na mesa ou nos seus lábios, mas sim flutuando entre os dois. Eu apanhei meus cartões, cuidadosamente organizando-os de volta na ordem. — Eu deveria ir me arrumar. — eu disse, empurrando minha cadeira para trás. Minha mãe não se moveu enquanto eu me levantava e andei por ela. Era como se ela estivesse congelada, ainda de volta naquele velho quarto, ainda esperando, pelo menos até que eu fui pelo corredor. Então, de repente, ela falou: — Você deveria repensar aquela frase de Faulkner. — ela disse. — É muito para uma abertura. Você irá soar pretensiosa. Eu olhei para baixo, para o meu primeiro cartão, onde as palavras O passado não está morto. Ele nem sequer passou, estavam escritas na minha arrumada impressão de caixa alta. — Está certo. — eu disse. Ela estava certa, é claro. Ela sempre estava. — Obrigada. Eu estive tão concentradano meu último ano do ensino médio e o inicio da universidadequeeu realmentenão tinha pensado sobre o tempo entre elas. De repente, no entanto, era verão, e não havia nada parafazer a não ser esperar pela minhaverdadeiravidacomeçar de novo. Passei umas duas semanas arrumando todas as coisas que eu precisava para Defriese, e tentei arranjar alguns turnos no meu trabalho de tutoria na Huntsinger Test Prep, apesar de estar indo bem devagar. Eu parecia ser a única pensando sobre escola, um fato feito mais obvio pelos vários convites que eu recebia dos meus velhos amigos da Perkins para jantares ou viagens ao lago. Eu queria ver todo
  • 17. 17 mundo, mas sempre que nos ficávamos juntos, eu me sentia como a pessoa estranha de fora. Eu tinha estado na Kiffney/Brown por apenas dois anos, mas era tão diferente, tão inteiramente acadêmica, que descobri que eu não conseguiria me relacionar de verdade com as suas conversas sobre empregos de verão e namorados. Depois de umas poucas saídas desconfortáveis, comecei a me desculpar, dizendo que eu estava ocupada, e depois de um tempo, eles entenderam. Em casa estava tão esquisito quanto, enquanto minha mãe tinha conseguido alguma pesquisa remunerada e estava trabalhando o tempo todo, e quando ela não estava; seus alunos de graduação estavam sempre aparecendo para jantares de última hora e horas de coquetéis. Quando eles ficavam muito barulhentos e a cara muito cheia, eu iria rumar para o pátio da frente com um livro e leria até que fosse escuro o suficiente para ir para o Ray. Uma noite, eu estava profundamente dentro de um livro sobre o Budismo quando vi uma Mercedes verde vindo na nossa rua. Ela diminuiu assim que se aproximou da nossa caixa de correio, então deslizou para parar no meio-fio. Depois de um momento, uma garota loira bem bonita usando jeans de cós baixo, uma blusinha vermelha, e sandálias plataforma, saiu com um pacote em uma mão. Ela deu uma olhadela na casa, então para o pacote, então de volta pata a casa antes de começar a andar pela entrada de carros. Ela estava quase nos primeiros degraus do pátio quando me viu. — Oi! — ela disse; totalmente amigável o que era meio que alarmante. Eu malmente tive tempo de responder antes que ela estivesse viesse direto para mim, um grande sorriso no seu rosto. — Você deve ser a Auden. — Sim. — eu disse lentamente. — Eu sou Tara! — claramente, era para o nome ser supostamente familiar para mim. Quando se tornou obvio que não era, ela adicionou. — A namorada do Hollis? Oh, querida, eu pensei. Em voz alta eu disse: — Oh, certo. É claro.
  • 18. 18 — É tão bom conhecer você! — ela disse, movendo-se mais perto e colocando seus braços ao meu redor. Ela cheirava como gardênias e lençóis secos. — Hollis sabia que eu estaria passando no caminho de casa, e me pediu para te trazer isso. Direto da Grécia! Ela me deu o pacote, que era um simplesembrulho marrom, meu nome e endereço escrito na frente na caligrafia desleixada e inclinada do meu irmão. Houve um momento desconfortável, durante o qual percebi que ela estava esperando que eu abrisse o pacote, então eu fiz. Era um pequeno porta-retrato de vidro, salpicado com pedras coloridas: ao longo do pé estavam gravadas as palavras O MELHOR DOS TEMPOS. Dentro estava uma fotografia de Hollis parado na frente do Taj Mahal. Estava sorrindo um dos seus sorrisos preguiçosos, em shorts cargo e uma camiseta, uma mochila por cima de um ombro. — É maravilhoso, não é? — Tara disse. — Nós o conseguimos em uma feirinha de rua em Atenas. Como eu não poderia dizer o que realmente sentia, que era que você tem que ser seriamentebem narcisista paradar uma fotografia de si mesmo como presente, eu disse a ela: — É bonito. — Eu sabia que você iria gostar! — ela bateu suas mãos. — Eu disse a ele, todo mundo precisa de porta retratos. Eles fazem uma memória ainda mais especial, entende? Abaixei o olhar para o porta-retrato de novo, as bonitas pedras, a expressão fácil do meu irmão. O MELHOR DOS TEMPOS, de fato. — É. — eu disse. — totalmente. Tara me lançou outro sorriso de um milhão de watts, então bisbilhotou pelas janelas atrás de mim. — Então a sua mãe está por ai? Eu adoraria conhecê-la. Hollis a adora, fala dela o tempo todo. — É mútuo. — eu disse. Ela me olhou rapidamente, e eu sorri. — Ela está na cozinha. Longos cabelos negros, em um vestido verde. Você não pode errar.
  • 19. 19 — Ótimo! — muito rápido para prever, ela estava me abraçando de novo. — Muito obrigada. Eu concordei. Essa confiança era uma marca registrada de todas as namoradas do meu irmão, pelo menos enquanto elas ainda se consideravam como tal. Era apenas mais tarde, quando os e-mails e as ligações paravam, quando ele parecia desaparecido da face da terra, que nós víamos o outro lado: os olhos vermelhos, as mensagens chorosas na nossa secretária eletrônica, o ocasional cantar de pneus lá fora na nossa rua. Tara não parecia o tipo de dar uma passada raivosa. Mas você nunca sabe. As onze, os admiradores da minha mãe ainda estavam por lá, suas vozes altas como sempre. Eu sentei no meu quarto ociosamente checando minhapágina do myUme.com (nenhuma mensagem, não que eu tivesse esperado alguma) e e-mail (apenas um do meu pai, perguntando como tudo estava indo). Eu pensei em ligar para uma das minhas amigas para ver se alguma coisa estava rolando, mas depois de lembrar a estranheza dasminhas poucas últimas saídas, ao invés disso, sentei na minha cama. O porta-retrato de Hollis estava na mesa de cabeceira, e o seu calmo, sorridente rosto, me lembrou do papo dos meus velhos amigos enquanto eles trocaram histórias do ano escolar. Não sobre classes, ou GPAs, mas outras coisas, coisas que eram estrangeiras para mim como o próprio Taj Mahal, fofocar e garotos e ter seu coração partido. Eles provavelmente têm um milhão de fotografias que pertencem a este porta retrato, mas eu não tinha nenhuma só. Eu peguei meu laptop, abri minha conta de e-mail, então desci até a mensagem do meu pai. Sem me deixar pensar muito, digitei uma resposta rápida, assim como uma pergunta. Dentro de meia hora, ele tinha me escrito de volta. Você deveria vir com certeza! Fique o quanto quiser. Nós adoraríamos a sua companhia!
  • 20. 20 E bem assim, meu verão mudou. Na manhã seguinte, enchi meu carro com uma pequena mala de lona com roupas, meu laptop, e uma grande mala de livros. Mais cedo no verão, eu tinha encontrado a lista de leituras obrigatórias de uns dois cursos que eu iria fazer na Defriese no outono, e eu tinha caçado uns poucos textos na livraria da universidade, pensando que não iria doer me familiarizar com o material. Não era exatamente como Hollis iria fazer as malas, masnão era como se fosse ter muito mais para fazer lá de qualquer modo, além de ir à praia e ficar com a Heidi, nenhum deles era muito atraente. Eu tinha dito tchau para minha mãe na noite anterior, imaginando que ela estaria dormindo quando eu partisse. Mas assim que entrei nacozinha, eu a encontreilimpando a mesa de um bando de taças de vinho e guardanapos amassados, um olhar cansado no seu rosto. — Noite longa? — perguntei, apesar de saber pelos meus próprioshábitos noturnosquetinha sido. O último carro tinha saído da entrada de carros por volta de uma e meia. — Não de verdade. — ela disse, deixando água correr pela pia. Ela olhou por cima do seu ombro para as minhas bolsas, empilhadas na porta da garagem. — Você está indo cedo. Está tão ansiosa para se ver livre de mim? — Não. — eu disse. — Apenas não quero pegar trânsito. Na verdade, eu não esperei que minha mãe se importasse se eu estava por perto no verão ou não. E talvez ela não fosse, se eu estivesse
  • 21. 21 indo para algum outro lugar qualquer. Ponha meu pai na equação, no entanto, e as coisas mudam. Elas sempre mudam. — Eu posso só imaginar em que tipo de situação você está indo se meter. — ela disse sorrindo. — O seu pai com um recém-nascido! Nessa idade. É cômico. — Eu te direi. — eu disse a ela. — Oh, você deve. Eu requererei atualização regular. Eu observei enquanto ela enfiou sua mão na água, ensaboando uma taça. — Então. — eu disse. — O que você achou da namorada do Hollis? Minha mãe suspirou cansadamente. — O que ela estava fazendo aqui, mesmo? — Hollis a enviou de volta com um presente para mim. — Mesmo. — ela disse, depositando duas taças no escorredor de louças. — O que era? — Um porta-retratos. Da Grécia. Com uma fotografia do Hollis nele. — Ah! — ela desligou a água, usando a parte de trás do pulso para empurrar o cabelo do seu rosto. — Você lhe disse que ela deveria ter mantido para si mesma, desde que é provável que seja o único jeito de ela vê-lo de novo alguma vez? Mesmo que eu tenha tido esse mesmo pensamento, depois de ouvir minha mãe dizê-lo em alto e bom som, me senti mal por Tara, com seu aberto rosto amigável, o modo confiante como ela foi em direção a casa, tão segura em sua posição como a única e primeira de Hollis. — Nunca se sabe. — eu disse. — Talvez Hollis tenha mudado, e eles vão noivar. Minha mãe virou e apertou seus olhos para mim. — Agora Auden. — ela disse. — O que eu te disse a respeito das pessoas mudarem?
  • 22. 22 — Que elas não mudam? — Exatamente. Ela direcionou sua atenção de volta para a pia, ensopando um prato, e enquanto ela o fazia, eu enxerguei um par de escuros, estilo nerd, óculoscolocados no balcão perto daporta. Repentinamente, tudo fez sentido; as vozes que eu tinha escutado tão tarde, ela estando de pé cedo, descaracteristicamente ansiosa para limpar tudo da noite anterior. Considerei levantar os óculos, tendo certeza que ela me visse, só para lhe provar um ponto meu. Mas ao invés disso, eu os ignorei enquanto dizíamos adeus, ela me puxando para um abraço apertado, ela sempreme seguravaperto, como se nuncafosse me largar, antes de fazer exatamente isso e me mandando no meu caminho.
  • 23. 23 2 A casa do meu pai e da Heidi era exatamente o que eu tinha esperado. Bonitinha, pintada de branco com venezianas verdes, tinha uma varanda de frente bem aberta salpicada de cadeiras de balanço e flores em vasos e um amigável abacaxi amarelo de cerâmica pendurado na porta que dizia BEM VINDO! Tudo o que estava faltando era um cercado de estacas brancas. Eu estacionei, avistando o Volvo detonado do meu pai na garagem aberta, com um Prius de aparência nova, estacionado ao lado dele. Assim que desliguei meu motor, pude ouvir o oceano, alto o suficiente que ele tinha de estar bem perto. Mas é claro, assim que dei uma olhadela pelo lado da casa, tudo que pude ver eram graminha de praia e um amplo pedaço de azul, se estendendo por todo o caminho para o horizonte. Pondo a vista de lado, eu tinha minhas dúvidas. Nunca fui de ter espontaneidade, e o mais longe que eu ficava da casa da minha mãe, mais eu começava a considerar a realidade de um verão inteiro de Heidi. Haveria manicures em grupo para mim, ela, e o bebê? Ou talvez ela fosse insistir em ir me bronzear com ela, usando batas retrô combinando com EU AMO UNICÓRNIOS? Mas, continuei pensando em Hollis na frente do Taj Mahal, e como eu me descobri tão entediada toda sozinha em casa. Além disso, eu dificilmente tinha visto meu pai desde que ele tinha casado, e isso, oito semanas inteiras quando ele não estava lecionando, e eu não estava na escola, parecia como a minha última chance de me atualizar com ele antes da universidade e a vida real começassem. Respirei fundo, então saí. Enquanto subia na entrada, eu disse a mim mesma que não importava o que Heidi dissesse ou fizesse, eu iria penas sorrir e continuar com isso. Pelo menos até que conseguisse
  • 24. 24 chegar a qualquer quarto que eu fosse permanecer e fechar a porta atrás de mim. Toquei a campainha, então dei um passo atrás, ajeitando o meu rosto em uma apropriadamente-amigável expressão. Não houve resposta de dentro, então toquei outra vez, depois me aproximei mais perto, escutando pelos inevitáveis sonsde saltos batendo, a voz feliz de Heidi falando: — Só um minuto! — mas de novo, nada. Avançando, tentei a maçaneta: eu a virei facilmente, a porta abrindo, e eu inclinei minha cabeça por dentro. — Oi? — chamei; minha voz descendo por um corredor vazio próximo pintado de amarelo e salpicado com imagens emolduradas. Silêncio. Eu pisei dentro, fechando a porta atrás de mim. Foi apenas quando ouvi: o som do oceano de novo, apesar de soar um pouquinho diferente, e muito mais perto, como se fosse apenas, na esquina. Eu segui isso pelo corredor, enquanto ficava mais alto e mais alto. No entanto, encontrei a mim mesma na sala de estar, onde o barulho estava ensurdecedor, e Heidi estava sentada em uma poltrona, segurando o bebê nos seus braços. Pelo menos eu pensei que era Heidi. Era difícil dizer com certeza, enquanto ela não parecia nada como da última vez que eu a tinha visto. Seu cabelo estava engatado em um bagunçado rabo de cavalo torto, com algumas mechas grudadas no seu rosto, e ela usava um par de calças de moletom velhinhas e uma camiseta muito grande, que tinha algum tipo de mancha úmida em um dos ombros. Seus olhos estavam fechados, sua cabeça pendurada para trás bem de leve. De fato, eu pensei que ela estivesse adormecida até que, sem mexer seus lábios, ela chiou: — Se você acordá-la, eu irei te matar. Eu congelei, alarmada, então dei um cuidadoso passo para trás. — Desculpe. — eu disse. — Eu apenas... Seus olhos abriram-se de uma vez, e ela girou a cabeça pelos lados em alerta, seusolhos se fechando em pequeninasfrestas. Quando ela me localizou, no entanto, sua expressão mudou para surpresa. E então, bem assim, ela estava chorando.
  • 25. 25 — Oh, Deus, Auden. — ela disse; sua voz engrolada. — Eu sinto tanto, tanto. Esqueci que você era... e então eu pensei... mas isso não é desculpa.... — ela deixou em aberto, seus ombros subindo e descendo assim como, nos seus braços, o bebê, que era miudinho, tão pequeno que ela parecia tão delicada para sequer existir, dormia, completamente inconsciente. Eu dei uma olhada de pânico pelo quarto, me perguntando onde meu pai estava. Apenas então eu percebi que o inacreditável som de oceano alto que estava ouvindo não estava vindo de fora, mas ao invés de uma pequena máquina de sons branca parada em uma mesinha de café. Quem escuta a um falso oceano quando o verdadeiro está ao alcance do ouvido? Era uma das muitas coisas que, no momento, não faziam o menor sentido. — Hm. — eu disse enquanto Heidi continuava a chorar, seus soluços pontuados por uma ocasional fungada alta, assim como as falsas ondas esmurrantes. — Eu posso... Você precisa de alguma ajuda, ou alguma coisa? Ela puxou ar tremidamente, então levantou o olhar para mim. Seus olhos estavam rodeadoscom círculos escuros: havia uma erupção vermelha de espinha no seu queixo. — Não. — ela disse enquanto lágrimas frescas enchiam seus olhos. — Eu estou bem. É apenas... Eu estou bem. Isso parecia altamente improvável, mesmo para o meu olho destreinado. Não que eu tivesse tempo para contestar, assim que bem na hora meu pai entrou, carregando uma bandeja com cafés e uma pequena sacola de papel marrom. Ele estava usando o seu típico modelo de calça de sarja cáqui amarrotada e uma camisa de botões por cima, seus óculos meio que tortos no seu rosto. Quando ele lecionava, geralmente adicionava uma gravata e um blazer esporte de tweed. Seus tênis, no entanto, eram uma constante, não importando o que mais ele estivesse usando. — Aqui está ela! — ele disse quando me avistou, então veio para me dar um abraço. Enquanto me puxava mais perto, eu olhei por cima
  • 26. 26 do seu ombro para Heidi, que estava mordendo o seu lábio, olhando para fora da janela para o oceano. — Como foi a viagem? — Boa. — eu disse lentamente enquanto ele se afastava e pegava um café da bandeja, oferecendo-o para mim. Eu peguei, então observei enquanto ele se servia um antes de colocar o último na mesa na frente de Heidi, que apenas olhou para isso como se não soubesse o que era. — Você conheceu sua irmã? — Uh, não; — eu disse. — Ainda não. — Oh, bem! — ele abaixou o saco de papel, então avançou para Heidi que ficou rígida, não que ele parecesse notar, pegando o bebê dos seus braços. — Aqui está ela. Essa é a Thisbe. Eu baixei os olhos para o rosto do bebê, que era tão pequena e delicada que nem sequer parecia real. Seus olhos estavam fechados, e ela tinha pequeninos, pontudos cílios. Uma das suas mãos estava para fora da manta, e os dedos eram tão pequenos, dobrados levemente ao redor um do outro. — Ela é linda. — eu disse, porque isso é o que você diz. — Não é? — meu pai sorriu aberto, embalando-a levemente em seus braços, e seus olhos deslizaram abertos. Ela levantou o olhar para nós, piscou, e então, assim como sua mãe, repentinamente começou a chorar. — Opa. — ele disse, sacudindo-a um pouquinho. Thisbe chorou um pouco mais alto. — Querida? — meu pai disse, virando de volta para Heidi, que ainda estava sentada exatamente no mesmo lugar e posição, seus braços agora, largados dos seus lados. — Eu acho que ela está com fome. Heidi engoliu em seco, então se virou para ele em silêncio. Quando meu pai devolveu Thisbe, ela girou no mesmo lugar de volta paraas janelas, quase como um robô enquanto o choro ficava mais alto, e então ainda mais alto. — Vamos lá fora. — meu pai sugeriu, agarrando o saco de papel do fim da mesa e indicando para que eu o seguisse enquanto andava paraum par de portas de vidro deslizantes, abrindo uma e me levando
  • 27. 27 para fora, no pátio. Normalmente, a vista teria me deixado momentaneamente sem palavras: a casa era bem na praia, uma estradinha levando diretamenteparaa areia, masao invésdisso, eu me encontrei olhando de volta para Heidi, apenas para perceber que ela tinha desaparecido, deixando seu café intocado na mesa. — Ela está bem? — eu perguntei. Ele abriu o saco de papel, tirando dele um bolinho, então oferecendo para mim. Eu balancei minha cabeça. — Ela está cansada. — ele disse dando uma mordida, umas poucas migalhas caindo em sua camisa. Ele as espanou com uma mão, então continuou comendo. — O bebê fica acordado aos montes de noite, você sabe, e eu não sou de muita ajuda porque tenho esse problema de sono e tenho que ter minhas nove horas, e pouco. Eu fico tentando convencê-la a conseguir alguma ajuda, mas ela não irá fazer. — Porque não? — Oh, você conhece Heidi. — ele disse como se eu soubesse. — Ela tem que fazer tudo ela mesma, e fazer isso perfeitamente. Mas não se preocupe, ela vai ficar bem. Os primeiros dois meses são apenas difíceis. Eu me lembro com o Hollis, sua mãe estava apenas prestes a ficar fora desi. É claro, ele era incrivelmentecólico. Nós costumávamos andar com ele a noite toda, e ele ainda iria gritar. E o seu apetite! Bom Deus. Ele sugaria sua mãe até ficar seca e ainda estaria faminto... Ele continuou falando, mas eu tinha ouvido essa canção antes, sabia todas as palavras, então apenas beberiquei meu café. Olhando à esquerda, eu podia ver umas poucas casas mais, então o que parecia ser algum tipo de orla emparelhada com comércio, assim como uma praia pública, ainda cheia com guarda sol e banhistas. — Dequalquer modo. — meu pai estava dizendo agora enquanto embolava a embalagem do seu bolinho, jogando de volta no saco. — Eu tenho que voltar para o trabalho, então me deixe mostrar o seu quarto. Nós podemos ficar em dia no jantar, mais tarde. Isso soa bom?
  • 28. 28 — Claro. — eu disse enquanto nós íamos de volta para dentro, onde a máquina de som ainda estava berrando. Meu pai balançou sua cabeça, então avançando, desligou isso com um estalo: o repentino silêncio era chocante. — Então você está escrevendo? — Ah, é. Eu estou em uma maré de sorte, definitivamente indo terminar o livro em breve. — ele repetiu. — É apenas uma questão de organizar, de verdade, pegando os últimos pedacinhos na página. — nós voltamos para o saguão, então subimos pela escadaria. Enquanto andávamos pelo corredor, nós passamos por uma porta aberta, pela qual eu pude ver uma parede rosa com uma borda de bolinhas marrons. Dentro, estava silêncio, nenhum choro, pelo menos que eu pudesse ouvir. Meu pai empurrou a próxima porta, então me cutucou para dentro com uma mão. — Sinto muito pelo pouco espaço. — ele disse enquanto eu passava pelo portal. — Mas você tem a melhor vista. Ele não estava brincando. Apesar de o quarto ser pequeno, com uma cama de solteiro, uma escrivaninha, e não muito espaço para outra coisa, a única janela dava para uma área não desenvolvida de terra, nada além de grama oceânica e areia e água. — Isso é ótimo. — eu disse. — Não é mesmo? Esse era originalmente o meu escritório. Mas então nós tivemos que colocar o bebê no quarto ao lado, então eu me mudei para o outro lado da casa. Eu não queria mantê-la acordada, você sabe, com os barulhos do meu processo criativo. — ele deu uma risadinha, como se isso fosse uma piada que eu deveria entender. — Falando nisso, é melhor que eu vá ver isso. As manhãs têm sido realmente produtivas para mim ultimamente. A gente conversa no jantar, tá bem? — Oh! — eu disse, olhando de relance para o meu relógio. Eram 11h05min. — Claro. — Ótimo. — ele apertou meu braço, então começou a seguir pelo corredor, cantarolando consigo mesmo, enquanto eu o observava ir. Um momento depois ele passou da porta do quarto rosa-e-marrom, ouvi a porta fechar-se com estalo.
  • 29. 29 Eu acordei às seis e meia naquela tarde com o som do bebê chorando. Chorando, na verdade, era uma palavra muito tépida. Thisbe estava gritando, seus pulmões claramente tendo um sério trabalho. E enquanto era meramenteaudível no meu quarto, com apenas uma fina paredeentre nós, quando eu saí no corredor em busca de um banheiro para escovar meus dentes, o barulho era ensurdecedor. Eu parei por um segundo na fraca luminosidade fora da porta para o quarto rosa, ouvindo ao choro enquanto ele aumentava, aumentava, aumentava, então caia agudamente, somente para subir de novo, ainda mais alto. Eu estava me perguntando se eu era a única consciente disso até, durante um raro e curto momento de silêncio, eu ouvialguém dizendo, —Shh, shh,— antes de ser rapidamenteengolfada de novo. Havia algo tão familiar a respeito disso, era como um puxão no meu subconsciente. Quando meus pais tinham primeiro começado a brigar de noite, essa tinha sido a parte que eu tinha repetido, —shh, shh, tudo está bem—, para mim mesma, de novo e de novo, enquanto eu tentavaignorá-los e adormecer. Ouvindo isso agora, apenas, parecia estranho, enquanto eu estava acostumada ao som ser privado, apenas na minha cabeça e com o escuro ao meu redor, então eu segui em frente. — Pai? Meu pai, sentado na frente do seu laptop em uma mesa encarando a parede, não se moveu enquanto ele dizia. — Hmmm? Eu olhei devolta pelo corredor para o quarto rosa, então para ele de novo. Ele não estava digitando, apenas estudando a tela, um bloco de anotações amarelo do tipo oficial com alguns rabiscos na mesa ao lado dele. Eu me perguntei se ele tinha estado ali o tempo todo que estive dormindo, pelas sete horas. — Eu deveria. — eu disse. — Hum, começar o jantar, ou alguma coisa?
  • 30. 30 — A Heidi não está fazendo isso? — ele perguntou, ainda encarando a tela. — Eu acho que ela está com o bebê. — eu disse. — Oh. — agora, ele virou sua cabeça, olhando para mim. — Bem, se você está com fome, tem um lugar grande de hambúrgueres apenas um quarteirão longe. Suas rodelas de cebola são legendárias. Eu sorri. — Parece maravilhoso. — eu disse. — Eu deveria descobrir se Heidi quer alguma coisa? — Com certeza. E me arranje um cheeseburger e algumas dessas rodelas de cebola. — ele alcançou no seu bolso de trás, tirando umas duas notas e me dando-as. — Muito obrigada, Auden. Eu realmente aprecio isso. Eu peguei as notas, me sentindo como uma idiota. É claro que ele não poderia ir lá fora comigo: ele tinha um bebê novo em casa, uma esposa para dar conta. — Nenhum problema. — eu disse, mesmo que ele já estivesse virando de volta para a sua tela, sem realmente escutar. — Eu estarei de volta daqui a pouco. Eu andei de volta para o quarto rosa, onde Thisbe ainda estava a todo o vapor. Pensando que pelo menos dessa vez eu não teria que me preocupar a respeito de acordá-la, bati duas vezes. Depois de um segundo, abriu-se uma fresta, e Heidi olhou para mim. Ela parecia mais desfigurada do que antes, se isso fosse sequer possível: o rabo de cavalo tinha sumido; seu cabelo agora descendo mole no seu rosto. — Oi. — eu disse, ou no mínimo gritei, por cima da gritaria. — Eu estou indo pegar o jantar. Do que você gostaria? — Jantar? — ela repetiu; sua voz também levantada. Eu concordei. — Já é hora do jantar? Eu olhei para o meu relógio, como se precisasse confirmar isso. — É quase quinze para as sete. — Oh, Meu Deus! — ela fechou seus olhos. — Eu estava indo fazer um grande jantar de boas vindas para você. Eu tinha tudo
  • 31. 31 planejado, galinha e vegetais, e tudo. Mas o bebê tem estado tão inquieto, e... — Está tudo bem. — eu disse. — Eu vou pegar hambúrgueres. Papai diz que tem um bom lugar descendo a rua. — O seu pai está aqui? — ela perguntou, mudando Thisbe nos seus braços e olhando por cima dosmeusombros, pelo corredor. — Eu pensei que ele tinha ido para o campus. — Ele está trabalhando em seu escritório. — eu disse. Ela se aproximou mais perto, claramente não tendo ouvido isso. — Ele está escrevendo. — eu repeti mais alto. — Então, eu estou indo. Do que você gostaria? Heidi apenas ficou ali, o bebê gritando entre nós, olhando pelo corredor para a luz espalhando pela fresta aberta da porta do escritório de meu pai. Ela começou a falar, então parou, respirando bem fundo. — Qualquer coisa que você quiser pedir está bem. — ela disse depois de um momento. — Obrigada. Eu concordei, então andei para trás enquanto ela empurrava a porta fechada de volta entre nós. A última coisa que eu vi foi o rosto vermelho do bebê, ainda rugindo. Ainda bem, lá fora da casa estava muito mais quieto. Eu poderia ouvir apenas o oceano e os vários sons da vizinhança, crianças berrando, um rádio de carro ocasionalmente, a TV de alguém no mais alto volume em uma porta de trás, enquanto eu descia a rua para onde a vizinhança terminava e o distrito do comércio começava. Havia um estreito calçadão, emparelhado com várias lojas: uma casa de shakes, uma dessas espeluncas de porcarias praianas que vendem toalhas baratas e relógios de conchas, uma pizzaria. Cerca de meio caminho depois, eu passei por uma pequena boutique chamada Da Clementine, que tinha um toldo laranja luminoso. Pregado na porta da frente estava um pedaço de papel que dizia, em grandes letras pretas, É UMA MENINA! THISBE CAROLINE WEST, NASCIDA Á 1º DE JUNHO, 3, 146 kg. Então essa era a loja da Heidi, eu pensei. Havia
  • 32. 32 fileiras de camisetas e jeans, uma sessão de maquiagem e loção corporal, e uma garota de cabelo preto em um vestido rosa examinando suas unhas atrás do caixa, um celular apertado na sua orelha. Mais à frente, eu podia ver o que parecia ser o lugar de hambúrguer que o meu pai mencionou: CAFÉ ÚLTIMA CHANCE, MELHORES RODELAS DE CEBOLA NA PRAIA! Dizia a placa. Pouco depois disso, havia uma última loja, uma loja de bicicletas. Um bando de rapazes por volta da minha idade estava reunido em um banco de madeira muito abusado do lado de fora, conversando e observando pessoas as passarem. — O negócio é o seguinte. — um deles disse; que era o atarracado e trajando shorts e uma carteira de corrente. — O nome tem que ter vigor. Energia; sabe? — É mais importante que ele seja esperto. — outro, que era mais alto com cabelo enrolado, um pouco parecido com um otário, disse. — Por isso é que vocês deveriam ficar com a minha escolha, o Eixo de Manivela. É perfeito. — Isso soa como umaloja de carros, não um lugar de bicicleta. — o cara mais baixo disse a ele. — Bikes têm eixos. — o seu amigo indicou. — E carros têm manivelas. — Assim como os meus. — o cara magricela disse. — Você quer chamá-lo de Minha Manivela agora? — Não. — seu amigo disse enquanto o outro ria. — Eu estou apenas atestando o fato de que o contexto não precisa ser exclusivo. — Quem liga para o contexto? — O cara baixo suspirou. — O que nós precisamos é de um nome que se sobressaia e venda o produto. Como..., digamos; Bikes Zoom. Ou Bikes No Pique. — Como é que você consegue superforçar em uma bicicleta? — outro cara, que tinha suas costas para mim, perguntou. — Isso é idiota.
  • 33. 33 — Não é. — o cara com a carteira resmungou. — Além do mais, eu não vejo você oferecendo nenhuma sugestão. Eu me afastei da, Da Clementine e comecei a andar de novo. Assim que eu o fiz, o terceiro cara repentinamente virou, e nossos olhos se encontraram. Ele tinha cabelos escuros, corte baixo, pele incrivelmente bronzeada, e um imenso, confiante sorriso, que ele lançava agora para mim. — Que tal? — ele disse lentamente, seu olhar aindapreso com o meu. — Eu acabei de ver a garota mais gata de Colby passando? — Oh Jesus! — o cara das costas largas disse, balançando sua cabeça, enquanto o outro ria alto. — Você é patético. Eu senti o meu rosto corar, mesmo enquanto o ignorava e continuei andando. Podia senti-lo olhando para mim, ainda sorrindo, enquanto eu colocava mais e mais distância entre nós. — Apenas constatando o óbvio. — ele retrucou, assim que eu estava quase fora de alcance. — Você poderia dizer obrigado, sabia? Mas eu não disse. Eu não disse nada, apenas porque eu não tinha a menor ideia de como responder a tamanha proposta. Se a minha experiência com amigos era escassa, o que eu sabia sobre garotos, além de serem competidores por notas ou classificação de sala, era inexistente. Não que eu não tivesse tido paixonites. Lá atrás em Jackson, tinha um cara na minha aula de ciências, impossível com equações, que sempre fazia minhas palmas suarem sempre que nós ficávamos juntos para as experiências. E na Perkins Day, eu tinha flertado estranhamente com Nate Cross, que sentava perto de mim em cálculo, mas todo mundo estava apaixonado por Nate, então isso dificilmente me fez especial. Não foi até Kiffney/Brown, quando conheci Jason Talbot, que realmente pensei que eu talvez de fato tivesse um desses tipos de histórias de namorado para dizer da próxima vez que eu me encontrasse com meus velhos amigos. Jason era inteligente, de boa aparência, e seriamente na fase de superação depois da sua namorada em Jackson largá-lo por, nas suas palavras, “um soldador delinquente
  • 34. 34 juvenilcom uma tatuagem”. Por causa do pequeno tamanho-seminário da Kiffney/Brown, nóspassamosumaboaquantidadedetempo juntos, batalhando volta e meia para ser orador da turma, e quando ele me pediu para ir ao baile, eu estava mais entusiasmada do que jamais iria admitir. Até que ele deu para trás, citando a “grande oportunidade” de umaconferênciade ecologia. Eusabia que você ficaria bem com isso, ele me disse enquanto eu concordava, idiotamente, ouvindo essa novidade. Você compreende o que é realmente importante. Tudo bem, então não era como se ele tivesse me chamado de bonita. Mas era um elogio, a seu modo. Estava cheio no Café Última Chance, com uma fila de pessoas esperando para serem atendidas e dois cozinheiros visíveis através da pequena janela da cozinha, correndo por ali enquanto os pedidos se amontoavam na barra em frente a eles. Eu fazia o meu pedido para uma bonita garota de cabelos escuros com uma argola na boca, então me sentei perto da janela para esperar. Olhando pelaorla, eu conseguiaver os rapazesaindareunidosno banco: aquele que tinha falado comigo agora estava sentado, seus braços esticados atrás da cabeça, rindo, enquanto o seu baixo amigo de costas largas, andava em uma bicicleta para frente e para trás na frente dele, fazendo pequenos saltos aqui e ali. Levou um tempo para a comida ficar pronta, mas eu logo percebi que meu pai estava certo. Valia à pena esperar. Eu estava caindo em cima das rodelas de cebola antes mesmo de sair pela porta para a orla, que por aquele tempo estava entupida com famílias tomando sorvetes de casquinha, casais em encontros, e toneladas de criancinhas correndo ao longo da areia. Á distância, havia um maravilhoso pôr do sol, todo laranja e rosa, e eu mantive meus olhos nele enquanto caminhava, nem mesmo olhando para a loja de bicicletas até que eu tinha passado dela. O cara ainda estava lá, apesar de agora ele estar conversando com uma garota alta de cabelo vermelho, que estava usando um imenso par de óculos de sol.
  • 35. 35 — Hey. — ele me chamou. — Se você está procurando alguma coisa prafazer hoje à noite, tem umafogueirano Tip. Eu vou te guardar um lugar. Eu olhei rápido para ele. A de cabelo vermelho estava me dando agora uma fuzilada com os olhos, um olhar aborrecido em seu rosto, então eu não disse nada. — Ah, ela é uma arrasadora de corações! — ele disse, então gargalhou. Eu continuei andando, agora sentindo o olhar da de cabelo vermelho perfurando algum lugar entre as minhas omoplatas. — Apenas tenha isso em mente. Eu vou esperar por você. De volta a casa, encontrei três pratos e talheres, depois arrumei a mesa e servi a comida. Eu estava balançando sachês de ketchup em uma pilha quando o meu pai desceu as escadas. — Eu pensei ter sentido cheiro de rodelas de cebola. — ele disse, esfregando suas mãos juntas. — Isso parece maravilhoso. — A Heidi está descendo? — eu perguntei, deslizando um hambúrguer em um prato. — Não tenho certeza. — ele respondeu, servindo a si mesmo uma rodela de cebola. Com a boca cheia, ele adicionou. — O bebê está tendo uma noite difícil. Ela provavelmente quer dormir um pouco primeiro. Eu lancei um olhar para as escadas, me perguntando se era possível que Thisbe ainda estivesse chorando, enquanto eu tinha estado fora pelo menos durante uma hora. — Talvez eu vá, hum, apenas perguntar se ela quer que eu leve para ela. — Claro; ótimo. — ele disse, puxando umacadeirae sentando. Eu fiquei parada por um segundo, observando enquanto ele comia outra rodela, cutucando um jornal próximo com sua mão livre. Eu queria jantar com meu pai, claro, mas eu me sentia mal por isso estar acontecendo desse jeito.
  • 36. 36 Thisbe ainda estava chorando: eu podia ouvi-la do corredor assim que cheguei ao topo das escadas, o jantar da Heidi em um prato na minha mão. Quando cheguei ao quarto rosa, a porta estava entreaberta, e dentro eu podia vê-la sentada na cadeira de balanço, seus olhos fechados, se movendo para frente e para trás, para frente e para trás. Eu estava compreensivelmente hesitante de incomodá-la, mas ela dever ter sentido o cheiro da comida, porque um segundo depois, abriu os olhos. — Pensei que você talvez estivesse com fome. — eu disse. — Você..., eu deveria trazer isso para você? Ela piscou para mim, então baixou os olhos para Thisbe, que ainda estava rugindo. — Você pode apenas colocar ali. — ela disse, indicando uma cômoda branca próxima. — Eu vejo isso em um segundo. Eu andei, movendo de lado uma girafa estofada e um livro chamado Seu bebê: O Básico, que estava aberto em uma página com o título “Inquietação: O Que Causa Isso, e O Que Você Pode Fazer”. Ou ela não tinha tido tempo para ler, ou o livro não sabia porcaria nenhuma, eu pensei enquanto deslizava o prato no lugar. — Obrigada. — Heidi disse. Ela ainda estava embalando, o movimento quase hipnótico, apesar de claramente não para Thisbe, que continuavaa chorar a todo volume. — Eu apenas... Eu não sei o que eu estou fazendo errado. Ela está alimentada, esta trocada, eu a estou segurando, e é como..., ela me odeia, ou algo assim. — Ela provavelmente esta com cólica. — eu disse. — Mas o que isso significa, exatamente? — ela engoliu em seco, então olhou baixo de volta para o rosto da sua filha. — Isso não faz o menor sentido, e eu estou fazendo tudo o que eu posso... Ela deixou no ar, sua voz ficando apertada, e pensei no meu pai no andar de baixo, comendo rodelas de cebola e lendo o jornal. Porque ele não estava aqui? Eu não sabia porcaria nenhuma sobre bebês
  • 37. 37 tampouco. Bem quando eu pensei isso, no entanto, Heidi olhou para mim de novo. — Oh, Deus, Auden. Eu sinto muito. — ela balançou sua cabeça. — Eu tenho certeza que essa é a última coisa que você quer ouvir a respeito. Você é nova, você deveria estar lá fora se divertindo! — ela fungou, começando a coçar os olhos com uma mão. — Sabe de uma coisa, tem um lugar chamado Tip, logo no fim da estrada daqui. Todas as garotas da minha loja ficam por lá de noite. Você deveria dar uma olhada. Tem que ser melhor do que isso, certo? Concordo, eu pensei, mas parecia rude de fato, dizer isso. — Talvez eu vá. — eu disse. Ela concordou, como se nós tivéssemos feito um acordo, então olhou devolta para Thisbe. — Obrigada pelacomida. — ela disse. — Eu realmente..., eu agradeço por isso. — Sem problema. — eu disse para ela. Mas ela ainda estava olhando para o bebê, seu rosto cansado, então entendi isso como uma dispensa e saí, fechando a porta atrás de mim. No andar de baixo, meu pai estava terminando seu jantar, folheando a sessão de esportes. Quando deslizei em uma cadeira oposta a ele, levantou os olhos para mim e sorriu. — Então, como ela está indo? O bebê está adormecido? — Na verdade não. — eu disse, desembrulhando o meu hambúrguer. — Ela ainda está gritando. — Eita. — ele empurrou suacadeiraparatrás, ficando depé. — É melhor eu dar uma olhada. Finalmente, eu pensei enquanto ele desaparecia pelas escadas. Peguei meu hambúrguer, mordendo um pedaço: estava frio, mas ainda bom. Eu tinha comido apenas cerca da metade quando ele reapareceu, andando para a geladeira e pegando uma cerveja. Sentei lá, mastigando, enquanto ele abria a tampa, tomava um gole e procurava por água.
  • 38. 38 — Todo mundo está bem lá? — Oh claro. — ele disse displicentemente, movendo a garrafa para sua outra mão. — Ela é apenas cólica, como Hollis era. Não tem muito que se possa fazer a não ser esperar passar. O negócio era que eu amava meu pai. Ele poderia ter sido um pouco mal-humorado, e definitivamente mais do que um pouco egoísta, mas sempre tinha sido bom para mim, e eu o admirava. Exatamente naquele momento, no entanto, eu podia ver porque alguém poderia não gostar muito dele. — A Heidi..., a mãe dela está vindo para ajudar, ou alguma coisa? — A mãe dela morreu há uns dois anos atrás. — ele disse, tomando outro gole da sua cerveja. — Ela tem um irmão, mas ele é mais velho, vive em Cincinnati com suas próprias crianças. — E que tal uma babá ou alguma coisa do tipo? Agora ele olhava para mim. — Ela não quer ajuda. — ele disse. — É como eu te disse, ela quer fazer tudo do jeito dela. Eu tive uma visão de Heidi esticando seu pescoço, baixando os olhos para o escritório do meu pai, o olhar agradecido em seu rosto quando eu lhe trouxe o seu jantar. — Talvez. — eu disse. — Você devesse..., você sabe; insistir, no entanto. Ela parece bem cansada. Ele apenas olhou para mim por um momento, uma expressão vazia no seu rosto. — Auden. — ele disse finalmente. — Isso não é algo que você precise se preocupar a respeito, tudo bem? Eu e Heidi vamos dar um jeito. Em outras palavras, não se meta. E ele estava certo. Essa era a sua casa, eu era uma hóspede aqui. Era presunçoso aparecer e apenas assumir que eu sabia mais, baseada em apenas algumas horas. — Certo. — eu disse, embolando meu guardanapo. — É claro. — Tudo bem. — ele disse, sua voz relaxou de novo. — Então..., eu estou indo lá para cima, voltar para o trabalho. Eu gostaria de terminar esse capitulo essa noite. Você vai ficar bem por sozinha?
  • 39. 39 Não era nem mesmo uma pergunta, apenas composta para soar como uma. Engraçado como entonação poderia fazer tanto, mudar mesmo algo que estava no seu interior. — Claro. — eu disse. — Vá em frente. Eu ficarei bem.
  • 40. 40 3 Não estava bem, no entanto. Estava chateada e Thisbe ainda estava gritando. Desempacotei minhas roupas, tratei de entender meu futuro livro de texto Econ. 101, e apaguei todas as mensagens de texto do meu celular. Tudo isso me tomou mais ou menos quarenta minutos. Nesse ponto, com o bebê ainda gritando – ainda gritando! – finalmente peguei um casaco, puxei o cabelo para trás, e sai para um passeio. No principio não estava planejando ir ao Tip, ou onde quer que seja que estivesse. Só queria um pouco de ar, um descanso do barulho, e umaoportunidadede processar o que seja que tivesse ocorrido entre meu pai e eu mais cedo essa noite. Mas depois de caminhar na direção oposta da pista por cerca de uma quadra, o caminho lateral terminava em uma rua sem saída, vários carros estacionados ocupavam as bordas. Um caminho era visível por um dos lados, e pude ver luz na distância. Provavelmente um erro; pensei, mas depois pensei em Hollis na foto do retrato, e segui de todos os modos. Serpenteava por um pouco de grama de praia e sobre um par de dunas, depoisse abria a umaampla faixa deareia. Desdeo que se podia ver, algum dia havia sido tudo praia, até que a erosão ou a chuva, ou os dois, criou uma península medíocre, onde agora um grupo de pessoas estava reunido, algumas sentadas em derivados de madeira que estavam empilhadosem bancos improvisados, outrasparadasao redor de uma fogueira onde estava tendo um fogo de bom tamanho. Um comprido caminhão estava estacionado a um lado, um barril de cerveja, e reconheci o garoto alto e magro da loja de bicicletas sentado ao lado dele. Quando me viu, olhou surpreendido, logo olhou para o fogo. Na verdade, o garoto que havia me dito para vir, estava ali, com uma jaqueta vermelha, sustentando um copo de plástico. Ele estava conversando com duas garotas – a ruiva de mais cedo e uma garota mais baixa de cabelo negro, trançado em um rabo de cavalo – gesticulando amplamente com a mão livre.
  • 41. 41 ― À direita! ― escutei alguém gritar atr|s de mim, e depois houve um zumbido. Girei, só para ver um baixo e corpulento tipo que havia visto antes, vir rápido para mim em uma bicicleta, pedalando freneticamente. Saltei forado caminho justo quando passou como uma rajada, ao redor da dunae disparando atéa areia planadapraia. Estava ainda tratando de recuperar o fôlego quando escutei o barulho de pedais, e mais duas bicicletas saíram emergindo da escuridão do caminho, os pilotos – um garoto loiro, e uma garota com cabelo curto e repicado – rindo e conversando entre eles enquanto passavam zumbindo. Jesus, pensei, retrocedendo de novo, só para me sentir chocar totalmente contra algo. Ou alguém. Quando voltei, me encontrei de frente a um garoto alto, com cabelo bastante comprido puxado para trás de sua nuca, vestindo um moletom azul gasto e jeans. Olhou-me rapidamente – seus olhos eram verdes, e profundos – apenas parecendo registrar meu rosto. ― Desculpa. ― disse, ainda que não fosse minha culpa: era ele que estava se aproximando sigilosamente por trás. Mas ele só assentiu, como se devesse isso, e continuou até a praia, deslizando suas mãos nos bolsos. Quase não precisava de outro sinal de que já era hora de voltar. Enquanto me dirigia para fazer justamente isso, no entanto, escutei uma voz atr|s de mim. ― Vê? Sabia que não podia resistir a mim! Girei, e ali estava o garoto da passarela de madeira, ainda sustentando seu copo. A ruiva e a garota com tranças estavam agora paradas ao lado do barril, observando com desaprovação enquanto ele caminhava para mim. De repente estava nervosa, insegura de como responder, mas então tive um flash de minha mãe na mesa da cozinha, rodeadapor todos esses estudantesda graduação. Talvez não soubesse o que diria. Mas conhecia minha mãe, e as suas técnicas de memória. ― Posso te resistir. ― disse. ― Bom, claro, poderia pensar nisso. Não comecei minha ofensiva ainda. ― disse ele.
  • 42. 42 ― Sua ofensiva? ― perguntei. Sorriu. Seu sorriso – brilhante, amplo, risco bobão – era seu melhor expressão, eu sabia. ― Sou Jack. Deixe-me conseguir uma cerveja para você. Huh; pensei. Isso não era tão difícil depois de tudo. ― Pegarei eu mesma. ― disse. ― Só mostre o caminho. Qual é o seu problema? Não sabia como responder isso. Não quando Jack perguntou a princípio, quando me afastei dele, juntando minha camisa ao meu redor, e tropeçando pelasdunaspelo caminho na volta. E não enquanto caminhava de volta pela rua até a do meu pai, tentando sacudir a areia do meu cabelo. Meus lábios sentiam-se cheios e roçavam-se, ásperos, o fechamento do meu sutiã se rompeu a toda pressa, espetando na pele das minhas costas enquanto entrava pela porta lateral, fechando atrás de mim. Arrastei-me pelas escadas, pelo escuro corredor, encantada de não escutar nada mais que meus próprios passos. Por fim, Thisbe estava dormindo. Depois de uma longa ducha quente, coloquei uma calça de ioga e uma camisa fina, depois me instalei em meu quarto, abrindo meu livro detexto Econ. Mas aindaquando tratava deme focar nas palavras, os acontecimentos da noite vieram correndo para mim: o tom agudo do meu pai, o sorriso agradável de Jack, nossa desajeitada e apressada conexão atrás das dunas, e como tudo de repente pareceu tão estranho e errado, não como eu mesma pelo menos. Talvez minha mãe pudesse brincar de ser uma cachorra distante e egoísta. Mas isso era o que eu tinha estado fazendo: jogando. Até que o jogo acabou. Eu era uma garota inteligente. Por que havia feito algo tão estúpido? Senti que as lágrimas chegavam a meus olhos, as palavras borrando na página, e pressionei minha palma contra meu rosto, tentando detê-las. Não tive sorte. No lugar disso, eram contagiosas: um
  • 43. 43 momento depois, escutei Thisbe começar novamente, seguido do som de alguém – Heidi, eu sabia – vindo pelo corredor e uma porta se abrindo, depois de fechando. Ela ficou por uma hora, muito tempo depois de que minhas próprias lágrimas houvessem acabado e secado. Talvez fosse a culpa que sentia pelo o que havia feito esta noite. Ou que precisava de uma distração de meus próprios problemas. Qualquer que fosse a razão, encontrei-me saindo pelo corredor, logo caminhando para a porta do quarto de Thisbe. Desta vez, não bati. Só empurrei a porta para abri-la, e Heidi, seu rosto esfarrapado, manchada com suas próprias lágrimas, me olhou desde a cadeira de balanço. ― Dê ela para mim. ― disse, oferecendo meus braços. ― Você descansa um pouco. Estava bastante segura que Seu Bebê: O Básico, não dizia nada sobre caminhar ao amanhecer pelo passeio marítimo para a cura das cólicas. Mas nunca sabia. No principio, não tinha certeza de que Heidi me deixaria levá-la. Ainda depois das horas de choro e seu claro e atual esgotamento, ainda duvidava. Não foi até que avancei outro passo até ela e acrescentei. ― Vamos. ― que ela deixou escapar um grande suspiro, e o próximo que soube é que minha irmã estava em meus braços. Ela era tão, tão pequena. E se retorcia, o que a fazia parecer ainda mais frágil, embora com tanto grito, tivesse que ter um pouco de força de algum lado. Sua pele era quente contra a minha, e podia sentir a umidade da base do seu pescoço, o cabelo estava molhado ali. Pobre bebê, pensei, surpreendendo a mim mesma.
  • 44. 44 ― Não sei o que ela precisa. ― disse Heidi, deixando-se cair pesadamente na cadeira de balanço novamente, o qual depois golpeou contra a parede. ― Eu só..., não posso..., não posso ouvi-la mais chorar. ― V| dormir. ― eu disse. ― Não sei. ― murmurou. ― Talvez devesse... ― Vai. ― eu disse, e enquanto não queria que minha voz soasse tão aguda, funcionou. Ela se empurrou para fora da cadeira, passou choramingando pelo corredor até seu quarto. Deixou-me sozinha com Thisbe, que ainda estava gritando. Por um tempo, simplesmente tentei caminhar com ela: em seu quarto, depois escadas abaixo, através da cozinha, ao redor da ilha, de volta a sala, o qual a tranquilizou um pouco, mas não muito. Logo me dei conta do carrinho de passeio, estacionado ao lado da porta. Era perto das cinco quando a coloquei ali dentro, ainda gritando, e comecei a empurrar pelo caminho da entrada. No momento em que chegamos à caixa de correio, sete metros de distância, ela tinha parado. De nenhuma maneira, pensei, fazendo uma pausa para olhá-la. Passou um breve silêncio, e logo a olhei tomar fôlego e começar de novo, mais forte que antes. Rapidamente comecei a empurrá-la mais uma vez, e depois de umas voltas das rodas..., silêncio de novo. Peguei o ritmo e sai pela rua. No momento em que alcançamos a zona das lojas, ela estava dormindo sob sua manta, com os olhos fechados e com o rosto relaxado. Frente a nós, a passarela estava deserta, uma fresca brisa soprava através dela. Tudo o que podia escutar era o oceano e as rodas dos carrinhos golpeando sob meus pés. Havíamos caminhado todo o caminho da Café Última Chance antes de finalmente ver alguma pessoa, e mesmo assim estavam longe na distância, apenas um ponto e algum movimento. Não foi até que voltamos a subir até a marquise laranja da, Da Clementine que me dei
  • 45. 45 conta que era alguém na bicicleta. Estavam em um lugar onde a passarela se abria para a praia, e observei entrecerrando os olhos, enquanto subia em sua roda dianteira, saltando por alguns metros, logo baixando facilmente, girando as manivelas. Depoispedalando para trás, ziguezagueando, antes de acelerar rapidamente para frente, inclinando-se por um banco próximo, depois para baixo novamente. Os movimentos eram fluidos, quase hipnóticos: pensei em Heidi na cadeira de balanço, e Thisbe dormindo no carrinho, o sutil e calmante poder do movimento. Estava tão distraída olhando a pessoa na bicicleta, que não foi até que cheguei até ele que reconheci o moletom azul, esse cabelo escuro recolhido na nuca. Era o mesmo garoto que havia batido no caminho horas antes. Desta vez, entretanto, foi tomado pela surpresa, o que foi óbvio pelo modo em que se balançou, deslizando em uma parada desajeitada quando de repente nos viu paradas a menos de três metros dele. Só pelo seu olhar, soube que me reconheceu também, embora não foi exatamente amigável – ninguém foi. Mas então, eu tampouco havia dito algo. Na realidade, nós dois só ficamos parados ali, nos olhando. Provavelmente tivesse sido bastante incomodo, se Thisbe não tivesse começado a chorar de novo. ― Oh! ― disse, rapidamente empurrando o carrinho para frente, logo para trás. Ela se calou imediatamente, mas manteve seus olhos abertos, olhando o céu. O garoto estava olhando-a, e por alguma razão, me senti obrigada a adicionar. ― Ela é..., tem sido uma grande noite. Olhou-me de novo, e seu olhar era tão serio. Quase angustiado, embora o porquê dessa palavra vir a minha mente, não tinha ideia. Voltou seu olhar para Thisbe, logo disse. ― Não são todas? Abri minha boca para dizer algo – para assentir, pelo menos – mas não me deu oportunidade, já estava pedalando para trás. Nenhum adeus, nem nada, só um giro do guidão, e então estava levantando-se nos pedais e indo para longe de nós. No lugar de uma linha reta, se moveu pela passarela de lado a lado, ziguezagueando lentamente, todo o caminha até o final.
  • 46. 46 4 ― Para você. Olhei para baixo: parada na minha frente em um prato amarelo; vi um gordinho e um perfeito muffins de mirtilo5. Uma porção de manteiga estava parada junto a ele como se fosse um acessório. ― Seu pai disse que é o seu favorito. ― disse Heidi. ― Obtive as bagas esta manhã, no mercado de agricultores, e as fiz frescas. Enquanto ainda estava visivelmente cansada, agora minha madrasta se parecia muito mais a Heidi que conhecia: tinha o cabelo preso cuidadosamente, e tinha umas calças jeans, uma camisa limpa fazendo jogo, e brilho nos lábios. ― Realmente não tinha que fazer isso. — disse. ― Sim. ― respondeu ela. Sua voz plana e séria. — Sim tinha. Era duasdatarde, e eu acabava de descer depois de sete horas de sono para encontrá-la na cozinha, enxugando uma vasilha, e com o bebê dormindo no oco de seu outro braço. Ia diretamente para a cafeteira e não para falar, mas antes que eu soubesse o que estava acontecendo, ela já havia me cegado com um abraço e com produtos assados. ― Fiz por você. – disse agora, enquanto deixava-se cair em uma cadeira de balanço frente a mim, e mudando o bebê um pouco. ― Tive as primeiras quatro horas interruptas de sono desde que ela nasceu. Foi como um milagre. ― Realmente não foi grande coisa. ― disse a ela, desejando que simplesmente deixasse isso. Toda essa agitação sobre uma pessoa, só cheira a desespero para mim. 5 Blueberries/ Mirtilo: Umafrutinha muito conhecida e usada na América do Norte
  • 47. 47 ― Falo sério. ― falou, claramente não agarrando a minha indireta. – Você é oficialmente minha pessoa favorita no mundo agora. Maravilha, eu pensei. Então tirei a casca envolta do muffins, e dei umamordidaao invésderesponder. Aindaestava quente, e delicioso, e me fez sentir terrivelmente ingrata por tudo o que havia sentido desde que coloquei meus olhos nela. ― Isso é realmente bom. — disse. ― Estou tão feliz. — disse ela, enquanto soava o telefone. ― Como disse, era o menos que podia fazer. Dei outra mordida no meu muffin, enquanto ela parava, mudava o bebê a seu outro braço, logo agarrou o celular sobre o balcão. ― Ol|? Oh, Maggie! Bom. Tenho estado me perguntando se esse envio entrou... espera, est| bem? ― ela estreitou os olhos. ― Soa como se tivesse chorando. Está chorando? MeuDeus! Eu pensei, pegando o jornal e folheando as manchetes. O que acontece com essa cidade? Eram todos emocionais? ― Est| bem. ― disse Heidi lentamente. ― Simplesmente não pude deixar de notar..., não, não, claro. O que? Bom, deve estar no escritório, justo na caixa da esquerda. Não está? Huh. Bom, deixe-me pensar... ― olhou ao redor da sala, em seguida, lançou uma mão sobre sua boca. Sua voz se elevou enquanto disse. ― Oh, merda! Está aqui, já a vejo ao lado da porta. ― Deus, como aconteceu isso? Não, levarei agora mesmo. Não é um problema, eu só colocarei Thisbe em seu carrinho... A pessoa na outra linha estava dizendo algo, a voz igualmente alta e estridente. Tomei um gole do meu café, depois outro, assim como Thisbe começou a intervir também. Perguntava-me se as emoções eram como os ciclos menstruais; se teria suficientes mulheres juntas. Dê tempo, e todo mundo estará chorando. ― Oh, querida. ― disse Heidi, olhando o relógio. ― Olha, vou ter que dar de comer antes que possamos ir a qualquer lugar. Só informe
  • 48. 48 ao entregador... Há suficiente dinheiro no caixa? Bom, você pode verificar? Houve uma pausa, durante ao qual Thisbe passou de choro intermitente a chorar completamente. Heidi suspirou. ― Muito bem. Não, estamos indo agora. Só..., aguenta. Bom. Tchau. Desligou, e depois cruzou a habitação até o final da escada, movendo ligeiramente Thisbe enquanto ia. ― Robert? ― chamou pela escada. ― Querido? ― Sim. ― meu pai respondeu um momento depois, com a voz apagada. ― Acha que pode alimentar a Thisbe por mim? Tenho que ir correndo levar o talão de cheque para a loja. Ouvi passos lá encima depois a voz de meu pai, mais forte e mais clara, dizendo: ― Est| falando comigo? Thisbe escolheu esse momento paraaumentar seu volume: Heidi teria que gritar sobre ela enquanto dizia. ― Só perguntava se poderia dar para Thisbe uma mamadeira, tenho que ir a loja por que deixei o talão de cheque aqui, e pensei que poderia cobrir esse cargo COD com dinheiro, mas não é suficiente... Muita informação, pensei, sorvendo o resto do meu café. Por que ela sempre tem que fazer tudo tão complicado? ― Querida, não estou realmente em um bom momento. ― disse meu pai. ― Pode esperar uns vinte minutos? Thisbe uivou em resposta, mais ou menos respondendo a essa pergunta. ― Hum. ― disse Heidi, olhando ela. ― Eu não sei. ― Bom. ― disse meu pai, e imediatamente reconheci sua voz, aproveitadorae petulante. Muito bem, ele havia dito para a minha mãe, só você nos mantém com o seu trabalho. Muito bem, suponho que você sabe mais sobre o que a Indústria de Publicidade quer. Muito bem, só vou renunciar a minha forma de escrever completamente,não é que eu tenha
  • 49. 49 sido nomeado para um Prêmio Nacional de Livro alguma vez. ― Só me dê um minuto, e... ― Eu levarei l|. ― eu disse, empurrando minha cadeira. Heidi olhou para mim, surpreendida, mas não tanto como eu mesma. Pensei que havia renunciado a esse tipo de comportamento codependente faz anos. ― Eu quero ir para a praia de todos os modos. ― Tem certeza? ― Heidi perguntou. ― Devido ao fato de que você foi de grande ajuda na noite anterior, não quero te pedir. ― Ela est| se oferecendo, Heidi. ― disse papai. Embora não podia vê-lo, só escutar sua voz, soando para baixo desses lugares ocultos, como Deus. ― Não seja um m|rtir. O que seria um bom aviso, eu estava pensando dez minutos mais tarde, enquanto caminhava pelo passeio marítimo, com o talão de cheque e alguns pães para as crianças na mão. Vinte e quatro horas em Colby e já não me reconheço. Minha mãe tinha estado contrariada. Eu sabia que estava. Quando entrei na Clementine, a primeira coisa que vi foi à garota de cabelo escuro da noite anterior parada no balcão com um tipo de UPS6. ― A coisa é. ― ela estava dizendo. ― Sei que é estúpido que ainda continue chorando por ele. Mas saímos, como, dois anos. Não foi só uma aventura. Estávamos a sério, tão sério, como coisas como essa podem ser. Assim que alguns dias, como hoje..., é simplesmente difícil. O homem da UPS, que parecia decididamente incomodado, se iluminou a me ver. ― Parece que seu talão de cheque est| aqui. ― disse ele. ― Oh! ― ela virou para me ver, logo piscou confusa. ― Heidi, está... Você é...? ― Sua enteada. ― expliquei-lhe. 6 UPS: como o entregador da FedEx nos EUA.
  • 50. 50 ― De verdade? Isso é genial. Est| aqui para ajud|-la com o bebê? ― Não. ― disse. ― Mal posso esperar para conhecê-la. ― disse antes que pudesse terminar. ― E me encanta o seu nome, é tão incomum. Se bem que pensei que Heidi ia nomeá-la de Isabel, ou Caroline? Mas acho que me equivoquei... Entreguei-lhe o talão, depois a bolsa. Quando ela olhou, zombando, acrescentei. ― Muffins. ― Verdade? ― disse emocionada, abrindo a bolsa. ― Oh! Tem um delicioso cheiro. Aqui, Ramon, quer uma? Ela ofereceu a bolsa ao UPS, que pegou e tomou uma, e depois a mim. Sacudi a cabeça, e ela se serviu de uma. ― Muito obrigada. Aqui, só vou escrever rápido o cheque e enviá-lo de volta contigo, por que acho que Heidi precisa dele para algumas faturas, e não gostaria que você tivesse que fazer outra viagem. Embora seja pratico tê-lo aqui, ao mesmo tempo. Eu assenti. Muita informação de novo; então me aproximei de uma exposição de jeans, deixando-a para que continuasse conversando. Atrás dos jeans, metido contra uma parede traseira, estavam alguns trajes de banho á venda, assim que comecei a escolher entre eles. Estava olhando um vermelho, biquíni pequeno e curto quenão era totalmente horrível, quando escutei o som da porta da entrada. ― Trouxe a cafeína. ― a voz de uma menina falou. ― Mocha duplo, extra batido. Seu favorito. ― E eu. ― disse outro som na entrada. ― Tenho a última matéria de Holly world. Acaba de cair em uma banca de jornal faz dez minutos. ― Vocês! ― Maggie gritou. Olhei para cima, mas por causa da grade de roupas, minha vista estava bloqueada: ela era tudo o que podia ver agora, dado que Ramon claramente tinha deixado o edifício. Garoto sortudo. ― Qual é o motivo?
  • 51. 51 Ninguém falou por um momento, e voltei a minha pesquisa. Então, uma das garotas disse: ― Bom..., a verdade é que temos algo para te dizer. ― Me dizer? ― disse Maggie. ― Sim. ― a outra garota disse. Houve uma pausa. Então... Agora, antes de fazer isso, quero destacar que isso é para o seu próprio bem. Está bem? ― Est| bem. ― disse Maggie lentamente. ― Mas não gosto do som da... ― Jake esteve com outra garota ontem a noite. ― a terceira garota deixou escapar. ― No Tip. Oh, merda! Pensei. ― O que? ― Maggie ficou sem fôlego. ― Leah. ― disse uma garota. ― Jesus, eu pensei que estávamos de acordo que íamos lançá-lo com cuidado. ― Você quer lanç|-lo com cuidado. ― Leah respondeu. ― Disse que deveríamos simplesmente dizê-lo rápido e de uma vez, como uma cera para sobrancelhas. ― Est| falando sério? ― a voz de Maggie foi apertada, elevada, e me retrai mais nos trajes de banho, me perguntando se havia uma saída nos fundos. ― Como vocês sabem? Quem era? Quero dizer, como... ― Est|vamos ali. ― disse Leah categoricamente. ― Vimos ela aparecer e vimoseles conversando esaindo caminhando paraas dunas juntos. ― E não o pararam? ― Maggie gritou. ― Olha. ― disse a outra garota. ― Se acalme ok? ― Não me diga para me acalmar, ok Esther? Quem era ela?
  • 52. 52 Outro silêncio. Estúpida Heidi e estúpido seu talão de cheque, pensei, me enterrando mais profundamente perto de uma peça (mais de uma peça). ― Não sabemos. ― disse Leah. ― É uma garota de veraneio, uma turista. ― Bom, que aspecto tinha? ― Maggie exigiu. ― Realmente importa? ― Esther respondeu. ― Claro que importa! É primordial. ― Não é. ― disse Leah com um suspiro. ― Primordial. ― Era mais linda que eu? ― perguntou Maggie. ― Mais alta? Aposto que ela era uma loira. Era loira? Silêncio. Espiei por trás da estante de trajes, nesse ponto não fiquei surpresa totalmente ao ver a ruiva e a garota com tranças da fogueira. Trocaram um olhar antes que a de tranças, Esther, dissesse. ― Ela tinha o cabelo preto e a pele clara. Mais alta que você, mas mais do tipo ossuda. ― E sua pele não era tão maravilhosa. ― a ruiva, que tinha que ser Leah, acrescentou. Senti-me estremecer ao ouvir isso. Em primeiro lugar, não era ossuda. E bem, eu tinha um par de espinhas, mas era temporária, não uma condição. E de todas as formas, quem eram elas para dizer isso. De repente, a estante de trajes de banho se afastou justo no meio, como o Mar Vermelho. E só assim, com um tamborilar de cabides, eu me encontrei cara a cara com Maggie. ― Ela! ― disse ela, estreitando seus olhos em mim. ― Teria essa aparência, talvez?
  • 53. 53 ― V| { merda. ― disse Leah. A seu lado, Esther bateu uma mão sobre sua boca. ― Não posso acreditar nisso. ― disse Maggie enquanto eu lutava contra o impulso de me proteger com umas cintas próximas. ― Estava se encontrando com Jake ontem { noite? Engoli, parecendo o som mais forte que uma arma de fogo. ― Não estava. ― comecei, depois me dei conta que minha voz era vacilante e me detive, tomando um fôlego. ― Não foi nada. Maggie respirou fundo; com as bochechas ocas. ― Nada. ― repetiu. Então ela baixou as mãos do conjunto de sua mochila, deixando- as despencar ao seu lado. ― Você estava se encontrando com o amor da minha vida, o garoto com ao qual queria me casar. ― Oh, homem. ― disse Leah, ― Aqui vamos nós. ― E não é nada? Sério? ― Maggie. ― disse Esther, caminhando para frente. ― Vamos. Isso não se trata dela. ― Então do que se trata exatamente? Esther suspirou. ― Você sabia que isso ai acontecer cedo ou tarde. ― Não! ― Maggie protestou. ― Eu não sabia disso. Eu não sabia nada disso. ― Sim, sabia. ― Esther colocou a mão sobre seu ombro, apertando-o. ― Enfrenteisso. Se não fosse ela, só teria sido com alguma outra garota. ― Algumaoutra meninaestúpida. ― acrescentou Leah, pegando a revista e a moveu de um puxão através da garota. E acrescentou Leah,
  • 54. 54 escolhendo uma revista e folheando-a. Então, como uma idéia de ultimo momento, me olhou e disse: ― Não se ofenda. É só um idiota. ― Ele não é. ― Maggie protestou, com l|grimas nos olhos. ― Vamos Mag. Sabe que ele é. ― Esther me olhou, depois meteu a mão pelo braço de Maggie, envolvendo uma mão sobre a sua. ― E agora, você realmente pode começar a esquecê-lo. Se pensar bem, isso provavelmente é o melhor que pode ter acontecido. ― É assim. ― disse Leah concordando, dando a volta em outra página. ― Como sabe? ― Maggie gemeu, mas se deixou ser conduzida de novo ao balcão, confusa tomando sua mocha quando Leah o deu. ― Por que. ― disse Esther suavemente. ― Você ainda estava esperando ele, torturando a você mesma, pensando que ele voltaria. E agora deve deixá-lo ir. Ela te fez um médio favor, se você pensa realmente nele. Maggie voltou para mim, e eu me endireitei. Eu não podia achar que havia estado realmente preocupadapor ela: ela era pequena e rosa como uma borla de pó. Pensando nisso, sai de trás dos trajes e me dirigi à porta. ― Espera um segundo. ― disse. Eu não tinha que parar. Já sabia. No entanto, diminui meus passos, voltando para ela. Mas eu não disse nada. ― Você. ― começou, mas se deteve e tomou fôlego. ― Realmente gosta dele? Só me diga. Sei que é patético, mas preciso saber. Só a olhei por um momento, sentindo todos os olhos em mim. ― Ele não é nada para mim. ― disse. Ela manteve seu olhar em mim por mais um momento. Então pegou o talão de cheque, se aproximando e me dando. ― Obrigada. ― disse.
  • 55. 55 Talvez no mundo das meninas, isso se supõe que era um momento decisivo. Quando víamos através de nossas diferenças iniciais, nos dávamos conta que teríamos algo em comum depois de tudo, e nos converteríamos em verdadeiras amigas. Mas esse era um lugar que eu não conhecia bem, em que nunca havia vivido, e não tinha nenhum interesse em descobrir, ainda como uma turista. Então agarrei o talão, assenti, e caminhei para a porta, deixando elas como havia feito com tantos outros grupos, para que dissessem o que seja que quisessem sobre mim uma vez que eu tivesse ido. ― Então. ― disse minha mãe. ― Me conte tudo. Era ao anoitecer, e estava dormindo profundamente quando o telefone tocou. Ainda sem olhá-lo, sabia que deveria ser minha mãe. Primeiro, por que era sua hora preferida para fazer chamadas, justo na hora dos coquetéis. Não era como se estivesse esperando escutar sobre mais alguém, exceto talvez meu irmão, Hollis, e ele só ligou na metade da noite, tendo ainda que se adaptar ao conceito das zonas horárias. ― Bom. ― disse, reprimindo um bocejo. ― É realmente muito bonito aqui. Deveria ver a vista. ― Tenho certeza que é. ― respondeu. ― Mas não me chateie com esse cenário, preciso de detalhes. Como está seu pai? Engoli, depois olhei a minha porta fechada, como se de alguma maneira pudesse olhar através dela, todo o caminho até ele. Surpreendentemente fácil era que minha mãe podia me levar até a única coisa que não queria falar. Ela simplesmente sabia.
  • 56. 56 Agora, tinha estado no meu pai por três dias, durante o qual havia o visto em um total de, três horas. Ele estava em seu escritório trabalhando, ou em seu quarto dormindo, ou na cozinha pegando um lanche rápido, ou correndo de um lado a outro. Muito para as minhas visões de nós passeando ou juntos, compartilhando um prato de rodelasde cebola ou discutindo sobre literatura e meu futuro. No lugar disso, nossas conversas usualmente tinham lugar nas escadas, um rápido, Como você está indo? Foi à praia hoje? enquanto nos dirigimos em direções opostas. Esta ainda, no entanto, eram os melhores esforços que eu havia feito ao golpear a porta de seu escritório. Então, ele nem sequer havia se irritado em se afastar da tela do computador, minhas tentativas de diálogos colocados em sua nuca como tiros errando a cesta por uma milha. Chateada. O que era pior, entretanto, era que se minha mãe era inexistente, Heidi estava em todos os lados. Se eu ia buscar um café, ela estava na cozinha, alimentando o bebê. Se eu tentava me esconder na plataforma, ela surgia com Thisbe na Baby Bjorn7, meconvidando aacompanhá-lasa um passeio napraia. Nem se quer em meu quarto estava segura, que ficava tão perto do quarto das crianças que o mínimo movimento ou barulho a chamava, como se ela assumisse que eu estava tão desesperada por companhia como ela estava. Claramente, ela se sentia sozinha. Mas eu não. Eu estava acostumada a ficar sozinha: eu gostava. Razão pela qual era surpreendente que nem sequer tivesse notado a falta de atenção do meu pai, muito menoseu me importava. Mas por alguma razão, o fazia. E todos os seus muffins; conversa fiada e excesso de carinho só o fazia pior. Podia ter dito à minha mãe tudo isso. Depois de tudo, era exatamente o que ela queria escutar. Mas fazer isso, por alguma razão, parecia como um fracasso. Quero dizer, o que eu havia esperado de todos os modos? Assim que tomei uma tática diferente. 7 Para carregar bebês,geralmente amarradonos ombros e cintura da mãe.
  • 57. 57 ― Bem. ― comecei. ― Ele est| escrevendo um monte. Ele est| em seu escritório todos os dias, todo o dia. Uma pausaenquanto ela processavaisso. Depois, disse. ― Realmente? ― Sim. ― disse. ― Ele disse que já esta quase terminando o livro, só tem que ajustar algumas coisas. ―- Ajustar algumas coisas que tomam todos os dias, todo o dia. ― disse ela. Ouch. ― O que acontece com o bebê? Ele est| ajudando a Heidi com ela? ― Hm. ― disse, depoisimediatamente me arrependi, sabendo que esta palavra dizia tudo. ― Faz. Mas ela est| realmente muito determinada de fazer tudo por ela mesma... ― Oh, por favor. ― disse minha mãe. Podia escutar sua satisfação. ― Ninguém quer ser a única que cuida de um recém-nascido. E se eles dizem assim, é só por que na verdade não tem alternativa. Você já viu seu pai trocar uma fralda? ― Tenho certeza que ele j| fez. ― Sim, mas Auden. ― estremeci. Isso era como estar pintada em uma esquina, pincelada por pincelada. ― Você viu? ― Bem. ― disse. ― Na verdade não. ― Ah! ― ela suspirou novamente, e quase pude ouvi-la sorrir. ― Bom, é agradável saber que algumas coisas realmente nunca mudam. Quis salientar que isso era o que ela tinha tanta certeza, não deveria estar tão surpresa. No lugar disso, disse. ― Então, como você esta? ― Eu? ― um suspiro. ― Oh, o mesmo de sempre. Pediram-me para que dirigisse o centro do comitê de redação dos cursos de espanhol para o próximo ano, com todos os encarregados do drama que aguentar. E tenho vários artigos esperados por diferentes revistas, minha viagem a Strangford se aproxima, e, claro, muitas teses que
  • 58. 58 claramente não podem ser concluídas sem uma grande quantidade de mão de obra. ― Soa como um bom verão. ― disse, abrindo minha janela. ― Conte-me sobre isso. Esses estudantes de graduação, juro, simplesmente nunca acabam. Eles são todos tão necessitados. ― ela suspirou de novo, e pensei naqueles óculos de armação preto apoiado no balcão. ― Tenho quase decidido a desaparecer na costa, como você, e passar o verão na praia sem uma preocupação com o mundo. Olhei pela janela a água, a areia branca, o Tip. apenas visível mais ao longe. Sim, queria dizer. Essa sou eu exatamente. ― Então. ― disse, pensando nisso. ― Tem escutado de Hollis ultimamente? ― Anteontem { noite. ― disse ela. Logo riu. ― Ele me disse que conheceu alguns noruegueses que estavam a caminho de uma convenção em Amsterdam. Eles são donos de algum lançamento de Internet, e aparentemente estão muito interessados em Hollis, acreditam que ele realmente esta a par de seus objetivos com audiência americana, portanto os acompanhou. Ele está pensando que poderia ser um sucesso em algum tipo de cargo... Revirei os olhos. Era maravilhoso como minha mãe podia ver através de mim completamente, mas Hollis saindo para Amsterdam com algumas pessoas que recém havia conhecido, se convertia em uma mudança de carreira, e ela mordeu a isca, de cabo a rabo. Honestamente. Justo então, houve um golpe na minha porta. Quando a abri, me surpreendi ao ver meu pai para ali. ― Hey. ― disse ele, sorrindo. ― Vamos sair para jantar, pensei que poderia querer ir. ― Certo. ― articulei com a boca, esperando que minha mãe, que ainda estava falando de Hollis, não escutasse.