El presente informe expone la metodología de estudio en dos casos sobre la mandiocultura y fruticultura. Elaborado por Sebrae, el documento disemina el grado de organización, institucionalidad, etc.
3. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
PROJETO CASOS DE SUCESSO
OBJETIVO
O Projeto Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir
das prioridades estratégicas do Sistema Sebrae com a finalidade
de disseminar na própria organização, nas instituições de ensi-
no e na sociedade as melhores práticas empreendedoras,
individuais e coletivas, observadas no âmbito de atuação do
Sebrae e de seus parceiros, estimulando a sua multiplicação,
contribuindo para a obtenção de resultados e fortalecendo a
gestão do conhecimento do Sebrae.
METODOLOGIA DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO
A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do
consagrado método de estudos de caso aplicado em Babson
College e Harvard Business School. Foi criada com o objetivo
de garantir a qualidade do conteúdo e nivelar a formação
didática dos escritores e de seus orientadores acadêmicos. Ela
se baseia na história real de um protagonista que, em um dado
contexto, encontra-se diante de um problema ou de um dilema
que precisa ser solucionado. O método estimula o empreen-
dedor ou aluno a vivenciar uma situação real, convidando-o a
assumir a perspectiva do protagonista na tomada de decisão.
O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
Este trabalho é o resultado de uma das ações do Projeto
Casos de Sucesso, construído por colaboradores do Sistema
Sebrae, parceiros, consultores e professores de instituições de
ensino superior parceiras. Esta coletânea é composta por oito
volumes, que descrevem 42 estudos de ações empreendedoras,
divididos por área temática:
• Agronegócios: Ovinocaprinocultura, Leite e Derivados
• Agronegócios: Apicultura
• Agronegócios: Mandiocultura e Fruticultura
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
4. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
• Comércio e Serviços: Comércio Varejista
• Comércio e Serviços: Artesanato
• Comércio e Serviços: Turismo
• Indústria: Têxtil e Confecções, Madeira e Móveis
• Indústria: Petróleo e Gás Natural
DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE
Internet:
O site Casos de Sucesso do Sebrae (www.casosdesucesso.
sebrae.com.br) visa divulgar o conhecimento gerado nas diver-
sas situações apresentadas nos casos, ampliando o acesso aos
estudos para todos os interessados.
Além dos casos da coletânea 2006, o site apresenta estudos
das edições 2003, 2004 e 2005, organizados por área de conhe-
cimento, região, município e palavra-chave. Há ainda vídeos,
fotos e artigos de jornal que ajudam a compreender o cenário
em que os casos se passam. O site disponibiliza também um
manual de orientações para instrutores, professores e alunos so-
bre como utilizar um estudo de caso para fins didáticos.
As experiências relatadas apresentam iniciativas criativas e
empreendedoras para o enfrentamento de problemas tipica-
mente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação
dessas soluções em contextos similares. Esses estudos estão em
sintonia com a crescente importância que os pequenos negócios
vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da
geração de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!
Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Gestão Estratégica
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora Nacional do Projeto Casos de Sucesso
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
5. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA
LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS
ALAGOAS
MUNICÍPIO: ARAPIRACA
A cidade de Arapiraca, situada no semi-árido alagoano era,
em 2005, o centro de uma região que congregava 14 mu-
nicípios com Índice de Desenvolvimento Humano1 (IDH) que
variava de 0,535 a 0,666. Dadas as características do clima e do
solo, os habitantes locais cultivavam a mandioca como ativida-
de produtiva desde o período colonial. Tanto o plantio quan-
to a transformação da mandioca em farinha sempre se deu em
bases artesanais, com uso de tecnologia rudimentar desprovi-
da de qualquer técnica para seu melhor desempenho produti-
vo e econômico. Como conseqüência, os produtores ficavam
predispostos ao risco de acidentes, ocasionando perda de sub-
produtos, baixa produtividade, baixos preços, contaminação
ambiental e qualidade duvidosa. A reputação popular confir-
mava: “a farinha não é boa”.
José Renildo Moura, assim como muitos outros produto-
res de farinha, trabalhava de forma isolada, com acesso res-
trito a linhas de financiamento e à assistência técnica,
operando na informalidade, descumprindo ocasionalmente
normas e regulamentações sanitárias, trabalhistas e ambien-
tais. Essa situação desfavorável era compartilhada por cerca
de 450 casas de farinha que beneficiavam parte da mandioca
plantada e colhida por aproximadamente 20 mil produtores.
Marcos Antônio Martins Fontes, consultor do Sebrae/AL, elaborou o estudo de caso sob
orientação da professora Cláudia Milito, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
integrando as atividades do Projeto Casos de Sucesso, do Sebrae.
1
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa de pobreza,
alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores para os diversos
países do mundo. O índice foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês
Mahbub ul Haq, e vem sendo usado desde 1993 pelo Programa de Desenvolvimento das
Nações Unidas em seu relatório anual. (Wikipédia-http://pt.wikipedia.org/wiki/IDH).
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 1
6. Edson Luiz dos Anjos
DESCASCADORA DE MANDIOCA NA ESTAÇÃO DE TRABALHO
Edson Luiz dos Anjos
CASA DE FARINHA DO APL MADIOCA
7. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
A fama de “a farinha não é boa” e as irregularidades da pro-
dução dificultavam o crescimento do negócio em toda a re-
gião do agreste alagoano.
Renildo, como era conhecido na região, sofreu na pele as
conseqüências do descumprimento da legislação trabalhista.
No ano de 2000, ele e vários outros produtores foram autua-
dos pelo Ministério do Trabalho com pesadas multas, após a
constatação de irregularidades na contratação da mão-de-obra
temporária. Mais tarde, em 2002, Renildo e os demais fari-
nheiros perceberam que a contratação de mão-de-obra em
conformidade com a legislação trabalhista era apenas um dos
inúmeros problemas que compartilhavam. Além disso, para
sair daquela difícil situação, precisariam se unir e contar com o
apoio de diversas instituições, pois a sustentabilidade da ativi-
dade dependia de grandes investimentos. Renildo e os demais
farinheiros não tinham acesso a recursos para tal.
Encontrar uma forma para contratar mão-de-obra de forma
legal e que viabilizasse o negócio; investir nas instalações,
equipamentos e treinamento da mão-de-obra para melhorar a
qualidade do produto final; melhorar a imagem do produto lo-
cal; encontrar alternativas para produzir sem agredir o meio
ambiente. Esses eram os grandes desafios que precisavam ser
enfrentados naquele momento.
MANDIOCA: UMA TRADIÇÃO, UMA REALIDADE
A mandioca sempre foi um produto de consumo secular na
mesa do nordestino, principalmente em Alagoas. Para o
povo do agreste alagoano, ela representava muito mais que
uma importante fonte de alimento e de renda, sobretudo após
o declínio da produção de fumo na região. A população tinha
forte apego ao plantio de mandioca, à fabricação de farinha
e ao local em que vivem.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 3
8. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
Aliás, motivo para isso era o que não faltava. A mandioca,
presente quase que exclusivamente na pequena propriedade,
era uma das poucas culturas capazes de se desenvolver no
clima adverso do agreste alagoano e com o pouco trato dado
pelos produtores, em sua maioria de baixa renda. A grande
área plantada com mandioca propiciou, ao longo dos anos,
a construção de casas de farinha, caracterizando um impor-
tante segmento produtivo na região.
Durante a década de 1990, pela primeira vez o setor obte-
ve apoio governamental para o fortalecimento da atividade em
Alagoas. Foram reformadas ou construídas aproximadamente
450 casas de farinha em 14 municípios do entorno de Arapi-
raca. A idéia era de que haveria o aquecimento dos negócios
na região a partir dessa iniciativa.
Renildo começou a trabalhar como corretor de farinha aos
14 anos. Aos 17, montou a sua primeira casa de farinha em
Girau do Ponciano, no povoado Caldeirões, na região agreste
de Alagoas. Com a unidade instalada com dois fornos, passou
a processar a mandioca de diversos produtores para obter a
farinha a ser vendida no mercado.
A realidade dos produtores de mandioca não era fácil. A
renda per capita média nos municípios da região de Arapiraca
variava entre R$ 47,94 e R$ 129,21. Certamente, o baixo nível
de renda refletia o baixo nível de escolaridade e de outras
condicionantes, como comprova o IDH da região que, em
2000, variava de 0,535 a 0,666, com vários municípios apre-
sentando índices inferiores ao do Estado de Alagoas (0,649),
27ª posição no ranking nacional.
O apoio governamental feito na década de 1990 se restrin-
giu à construção civil e aquisição de equipamentos. Nada foi
feito em termos de organização setorial, acesso a financia-
mento para capital de giro das empresas, capacitação geren-
cial, etc. Em decorrência disso, muitas das casas de farinha
fecharam por falta de competitividade.
4 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
9. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
Para agravar ainda mais a situação, o investimento caiu por
completo no esquecimento do governo. Mas o mesmo não
ocorreu com cerca de 20 mil produtores da região. Para eles,
além de outras culturas como milho, feijão, tubérculos, horta-
liças e o fumo, a mandioca sempre teve espaço garantido nas
pequenas unidades familiares, que raramente ultrapassam
dez hectares. Com a decadência da cultura do fumo, a mais
importante do passado na região, a mandioca foi ocupando
espaços cada vez mais importantes, assim como também a
produção de farinha.
Nesse cenário, Renildo desenvolvia a sua atividade, cuja
produção alternava períodos de preços atrativos com períodos
de preços que mal cobriam os custos. Proprietário de uma
das maiores casas de farinha da região, comprava raízes de
vários produtores e contratava temporariamente numerosos
contingentes de mão-de-obra para descascar, manualmente,
toneladas de mandioca, etapa fundamental na produção de fa-
rinha. Essa mão-de-obra utilizada nas casas de farinha sempre
foi constituída de mulheres, comumente acompanhadas de
seus filhos pequenos, uma vez que não tinham com quem
deixá-los enquanto trabalhavam para o sustento da família.
Assim, Renildo e vários outros empresários de farinha e
produtores de mandioca realizavam suas atividades de forma
artesanal, pouco competitiva em relação aos estados vizinhos,
mas sem maiores problemas aparentes. Entretanto, em 2000, o
Ministério do Trabalho iniciou um processo de fiscalização das
casas de farinha na região agreste de Alagoas. O empreendi-
mento de Renildo foi um dos visitados pelo ministério, que
lá identificou irregularidades.
As mulheres, descascadoras de mandioca, como desenvol-
viam uma atividade temporária, não tinham carteira assinada,
o que não era viável para as casas de farinha, pois trabalha-
vam com um produto de baixo valor agregado. Como eram
remuneradas por produtividade, era comum trabalharem
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 5
10. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
mais de oito horas por dia. Além disso, muitas mães tinham
ao seu lado crianças ainda pequenas, que, embora não esti-
vessem necessariamente trabalhando, estavam no ambiente
de trabalho, inadequado para crianças daquela idade.
O resultado da visita dos fiscais do ministério para Renildo
e vários outros empresários que compartilhavam da mesma
realidade foi autuação e um prazo para regularizar a situação
trabalhista. No entanto, contratar todas as descascadoras de
mandioca com carteira de trabalho e atender aos requisitos da
legislação trabalhista era algo totalmente inviável. Isso seria
decretar o fim da atividade na região agreste e o sustento de
inúmeras famílias. As fiscalizações continuaram e pesadas mul-
tas foram inevitáveis.
O agravamento da situação fez com que um grupo de
empresários da farinha se reunisse para discutir o grave dile-
ma: como contratar as descascadoras de mandioca de forma
legal e manter a produção de farinha economicamente viável?
Desse encontro surgiu a Associação dos Beneficiadores de
Mandioca de Alagoas (Abeman), cujo propósito era defender
os interesses dos produtores e beneficiadores de mandioca.
Renildo foi eleito o presidente.
A solução para o problema não era simples e, em 2001, a
Abeman conseguiu o apoio das Secretarias Municipais de
Agricultura dos municípios de Girau do Ponciano e Arapiraca
e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Ala-
goas (Sebrae/AL) para realizar um seminário com a finalidade
de discutir as questões trabalhistas nas casas de farinha. Foi a
primeira ação realizada de uma forma mais organizada pelos
beneficiadores de mandioca do agreste alagoano.
Uma vez mais organizados, os encontros entre produtores
de farinha para discutir questões relacionadas ao seu negócio
tornaram-se mais freqüentes. Outros problemas da Cadeia
Produtiva da Mandioca, até então latentes, foram percebidos
pelos membros da Abeman. Entre os problemas, Renildo e
6 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
11. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
seus colegas identificaram que a sustentabilidade da ativida-
de de produção de farinha precisava de algo maior que nem
eles mesmos sabiam exatamente o que era. Faltava capaci-
tação, infra-estrutura, investimentos para o setor? Por onde
começar? O que queriam? Do que necessitavam? A única
certeza que tinham naquele momento era de que precisavam
contar com o apoio de diversas instituições, pois certamente a
sustentabilidade da atividade dependeria de uma redefinição
total do sistema produtivo, o que demandaria necessariamente
pesados investimentos. A Abeman não os possuía e nem po-
deria obtê-los atuando de forma isolada.
MANDIOCULTURA: DILEMAS E POTENCIALIDADES
E m meio a tantas dúvidas e uma única certeza, a de que pre-
cisaria de ajuda, a Abeman buscou o apoio do Sebrae/AL,
em julho de 2002. A associação necessitava compreender
melhor os problemas e encontrar uma saída não só para con-
tratar as descascadoras de mandioca de forma legal, mas
principalmente para encontrar caminhos para tornar a produção
de farinha uma atividade economicamente viável.
Naquela época, o Sebrae/AL, assim como as demais insti-
tuições de fomento e governamentais, não possuía nenhum
projeto voltado para o apoio à mandiocultura em Alagoas.
O plantio de mandioca e a produção de farinha não eram
atividades prioritárias e nem constavam das diretrizes estraté-
gicas de desenvolvimento do Estado.
Isto significa dizer que os técnicos do Sebrae/AL também
não tinham respostas para as inúmeras perguntas dos empre-
sários da farinha. Assim, naquele momento, a primeira ação foi
a realização de uma oficina de trabalho com produtores de
mandioca, de farinha, técnicos dos serviços de assistência téc-
nica e pesquisadores para, em conjunto, dimensionarem o pro-
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 7
12. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
blema. A finalidade da oficina foi analisar a situação daquele
momento, definir objetivos e estabelecer um plano de ação.
Os trabalhos foram divididos em duas fases: a análise da
situação e a elaboração de uma matriz de planejamento. Na
primeira, duas perguntas orientaram os participantes: Quais os
problemas que afetavam a Cadeia Produtiva da Mandioca?
Quais as suas potencialidades?
Nos debates que se seguiram, foram identificados problemas
relacionados à comercialização, assistência técnica, organização
dos produtores, diversificação da produção, entre outros.
No campo das potencialidades da mandiocultura na região
agreste, muitas possibilidades foram levantadas. Entre elas, a di-
versidade de usos da mandioca e de seus inúmeros derivados,
a escala de produção, o grande número de ocupações geradas
e as possibilidades de ampliação da renda e de novas ocupa-
ções, a adaptação à região, e o grande mercado existente.
Atestando a potencialidade da cultura e o apego à atividade
que desenvolviam, alguns argumentos daquele grupo, extraídos
do relatório da oficina, são dignos de se relembrar: “Com man-
dioca é garantia de produção em qualquer condição climática.
Todo mundo produz. É um meio de vida para os produtores.
A produção de fécula é uma possibilidade. É importante para
alimentação humana e animal. Dá meios de sobrevivência.
É fácil de produzir no sistema de plantio regional”.
A segunda fase foi caracterizada pelo planejamento da ati-
vidade. Os objetivos eram bastante claros. Usando as palavras
daquele grupo determinado e cheio de esperança, o desejo
maior era “trabalho e renda ampliados na região”. Para isso se
tornar uma realidade seria necessário ter um projeto cujo resul-
tado desejado poderia ser alcançado: a cadeia produtiva da
mandioca operando em condições de sustentabilidade.
Orientadas por essas duas diretrizes, várias ações foram lista-
das e classificadas em quatro grupos, de acordo com a priorida-
de e os resultados almejados: assistência técnica capacitada e em
8 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
13. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
contato permanente com o produtor; diversificação de varieda-
des agrícolas e produtos processados; formas associativas de or-
ganização de produtores implementadas na região; atividade de
comercialização adequada às necessidades do mercado.
Àquela altura, realizar a oficina de planejamento, compreen-
der os problemas e ter um plano de ação para implementar já
era uma grande conquista para produtores de mandioca e de fa-
rinha. Já sabiam do que precisavam. Haviam conseguido, de for-
ma organizada, chamar a atenção das instituições de fomento
que, até então, sequer se preocupavam com aquela atividade.
Embora importante, essa vitória inicial não era o suficiente.
A Abeman continuou a sua luta em defesa dos interesses dos
produtores e beneficiadores de mandioca no agreste alagoano.
Assim, ainda em 2002, a Abeman conseguiu junto ao Minis-
tério do Trabalho que a produção de farinha fosse reconhe-
cida como atividade de produtor rural e não como atividade
industrial. Essa nova conquista significaria menores encargos
trabalhistas para a produção de farinha.
NOVOS HORIZONTES
O ano de 2002 marcou definitivamente o início de uma nova
era da mandiocultura no agreste alagoano. A atividade co-
meçava a chamar a atenção das instituições e a obter algumas
conquistas, embora ainda pequenas, bastante significativas.
O reconhecimento da produção de farinha como atividade
rural, a elaboração de um plano de ação para o seu desenvol-
vimento e a garantia de recursos do Sebrae/AL num projeto
específico para a cadeia produtiva da mandioca, no valor de
R$ 60.000,00, para execução em 2003, indicavam o início dos
novos tempos para a mandiocultura.
Em 2003, a Abeman continuou a sua luta. A primeira con-
quista do ano foi obtida junto ao governo do Estado por meio
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 9
14. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
da Secretaria da Fazenda, que na época tinha como secretário
Sérgio Roberto Uchoa Dória e como subsecretário, Evandro
Lobo. A alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS), que era de 17%, passou para 0% para co-
mercialização no Estado de Alagoas e para 2,5% com crédito
presumido no caso do comércio interestadual.
Produtores e beneficiadores de mandioca estavam fazendo
a sua parte. Naquele ano, pela primeira vez na história, a Abe-
man conseguiu exportar farinha de mandioca para o Rio de Ja-
neiro, Amazonas e até para o Pará, principal produtor de
farinha do País.
Neste período, o Sebrae/AL colocava em ação o Projeto
Cadeia Produtiva Tubérculos e Raízes. Pela primeira vez, a
instituição estava apoiando a Cadeia Produtiva da Mandioca.
Aumentar a eficiência do setor produtivo da matéria prima,
caracterizar e identificar as demandas tecnológicas, identificar
cultivares de mandioca com aptidão industrial e de mesa
adaptados às principais regiões produtoras do Estado, capacitar
produtores e empresários, qualificar mão-de-obra, realizar
um diagnóstico da eficiência econômica da cadeia produtiva
constituíam os objetivos do projeto.
De fato eram objetivos ousados para os R$ 60.000,00 do
orçamento. Mas foi o possível. O projeto original estava orça-
do em R$ 200 mil. O corte comprovava que a mandiocultura
ainda não era uma atividade prioritária para o Sebrae/AL.
Com recursos escassos para enormes desafios e público,
pouco se podia fazer. A estratégia utilizada no projeto foi
integrar os esforços ao Projeto Vida Rural Sustentável2, que
trabalhava com o mesmo público-alvo, os agricultores fami-
liares de Arapiraca, no agreste; de Santana do Mundaú, na
Zona da Mata; e de Maragogi, no litoral norte de Alagoas.
2
Projeto Vida Rural Sustentável, implantado em 2002, visa estimular o desenvolvimento
local sustentável por meio da agricultura familiar e da agroecologia.
10 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
15. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
Assim, o Projeto Cadeia Produtiva Tubérculos e Raízes prio-
rizou a realização do diagnóstico da eficiência econômica da
cadeia produtiva da mandioca, a capacitação de produtores
em diversificação das formas de utilização da mandioca e o
seu uso na alimentação humana e animal.
As ações estavam acontecendo. O povo do agreste começa-
va a ver o plano de ação sair do papel e participar sempre de
forma entusiástica e compromissada das ações do projeto. A
mandiocultura do agreste estava ganhando importância e pas-
sando a ser percebida como importante atividade produtiva e
econômica para o agreste de Alagoas.
Neste cenário, nove municípios da região adotaram como es-
tratégia de desenvolvimento regional e fortalecimento da agricul-
tura familiar constituir um Consórcio Intermunicipal de Produção,
Industrialização e Comercialização dos Produtos da Agricultura
Familiar da Região Agreste de Alagoas (Consiagri). Por meio do
consórcio, a captação de recursos para o desenvolvimento de
projetos de desenvolvimento seria facilitada. Foi principalmente
esse fato que motivou Arapiraca, Campo Grande, Coité do Nóia,
Craíbas, Girau do Ponciano, Lagoa da Canoa, Limoeiro de Ana-
dia, São Sebastião e Taquarana a se organizarem na forma de
um consórcio. Outros quatro municípios poderiam integrar-se
ao consórcio, somando uma população rural de 207,6 mil habi-
tantes e total de 423,9 mil habitantes3.
A idéia inicial era, por intermédio do Consiagri, implantar uma
rede de negócios, composta de unidades municipais que seriam
responsáveis pelo planejamento, assistência técnica, seleção, be-
neficiamento, industrialização e comercialização dos principais
produtos da agricultura familiar da região. Isso seria viabilizado
com o apoio dos recursos do Programa Nacional de Fortaleci-
mento da Agricultura Familiar (Pronaf Infra-estrutura), uma linha
de apoio financeiro do governo federal, com recursos não reem-
3
Censo IBGE 2000.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 11
16. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
bolsáveis, que atua em parceria com os governos municipais, nas
áreas de infra-estrutura pública e serviços de apoio ao desenvol-
vimento da agricultura familiar. Em Alagoas, o programa contava
também com o apoio da Secretaria Estadual de Agricultura.
Ainda em 2003, uma decisão foi tomada. O consórcio prio-
rizou as ações voltadas para a cultura da mandioca, como a
estratégia adotada pelos agricultores para substituir a cultura
do fumo, que entrava em decadência na região. Nessa ocasião,
a área cultivada já somava 30,6 mil hectares, sendo 11,5 mil hec-
tares de mandioca solteira e 19,1 mil hectares de consorciada
com outras culturas, como o milho, o feijão e o algodão.
A CONSOLIDAÇÃO DA AÇÃO COLETIVA
A idéia inicial evoluiu e a intenção de implantar uma rede
de negócios cedeu lugar para o projeto de implantação de
uma fecularia de mandioca no município de Arapiraca, com o
argumento que essa iniciativa beneficiaria maior número de
agricultores. Situada no centro geográfico do Estado de Ala-
goas e da região agreste, além de ter localização estratégica,
Arapiraca era o município de maior dinamismo econômico e
político na região e o único capaz de arcar com a contrapar-
tida de 20% para implantação do projeto da fecularia, cujo
valor aproximado era de R$ 1,3 milhão.
Em outubro de 2003, o governo do Estado de Alagoas, por
meio da Secretaria de Planejamento (Seplan), e o Sebrae/AL
aproveitando a experiência acumulada de uma atuação con-
junta no Projeto Desenvolvimento Local Integrado e Sustentá-
vel (DLIS)4, iniciaram um trabalho de identificação e seleção
4
É um novo modo de promover o desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades
mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, de descobrir ou despertar suas
vocações locais, de desenvolver suas potencialidades específicas e de fomentar o intercâmbio
externo, aproveitando-se de suas vantagens comparativas locais.
12 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
17. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
de territórios que apresentavam alguma especialização pro-
dutiva. Esses territórios serviriam de base para um programa
prioritário do governo estadual: Programa de Mobilização
para o Desenvolvimento dos Arranjos e Territórios Produti-
vos Locais do Estado de Alagoas (PAPL).
Segundo o governador do Estado de Alagoas, Ronaldo Lessa,
“a economia de Alagoas é basicamente uma economia de micro
e pequenas empresas. Quando as alavancamos nas diversas
áreas urbanas e rurais do Estado, é a própria economia de
Alagoas que estará progredindo. Para não pulverizar os ins-
trumentos e mecanismos de desenvolvimento, que controlamos
ou que sabemos como acessar por negociação, vamos atuar nas
concentrações, espaciais, especializadas, de micro e pequenos
empreendedores de Alagoas”.
Assim, o PAPL definia a estratégia de atuação do governo
de Alagoas em conjunto com o Sebrae/AL e parceiros, para a
geração de ocupação e renda, tendo como base a atuação
prioritária em ações coletivas e integradoras direcionadas ao
desenvolvimento dos pequenos negócios.
O Sebrae/AL encerrou o ano de 2003 aplicando os
R$ 60.000,00 previstos no projeto daquele ano e decidiu que
continuaria a apoiar a mandiocultura no ano seguinte. Apro-
vou, então, o Projeto Cadeia Produtiva Tubérculos e Raízes II,
no valor de R$ 200 mil, para execução em 2004.
Em março de 2004, de 27 territórios produtivos identifi-
cados em Alagoas pela Seplan e pelo Sebrae/AL, dez foram
selecionados para constituir o PAPL. Um conjunto de 13
municípios na porção agreste de Alagoas havia sido selecio-
nado como um dos territórios para integrar o PAPL. O terri-
tório tinha uma área de 3,1 mil km2, 11% da área do Estado;
reunia uma população de 423,9 mil habitantes representan-
do 15% da população estadual; apresentava taxa de alfabe-
tização de 53%; PIB de R$ 720 milhões; reunia 20 mil
produtores agricultores familiares que se dedicavam ao cul-
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 13
18. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
tivo de fumo, feijão milho, algodão e produziram em 2003,
132,4 mil toneladas de mandioca, sendo uma parte proces-
sada em 450 casas de farinha. A especialização produtiva do
território era o plantio e o beneficiamento da mandioca e foi
denominada pelo PAPL como Arranjo Produtivo Local da
Mandioca no Agreste, mais conhecido, em Alagoas, como
APL Mandioca.
Foi uma grande conquista. A mandiocultura naquele mo-
mento tornara-se uma prioridade para o governo estadual, para
o Sebrae/AL e para a rede de parceiros que começava a se for-
mar e estreitar as relações de parceria. Renildo entendeu ser
esse o momento de avançar em seu negócio e adquiriu sua se-
gunda casa de farinha, no município de Lagoa da Canoa, num
povoado chamado Mata Limpa, o mesmo nome de uma das
marcas da farinha comercializadas por ele.
A Abeman continuava firme na defesa dos interesses do setor
e conseguiu junto à Companhia Energética de Alagoas (CEAL)
que a taxa de energia elétrica utilizada nas casas de farinha
fosse calculada com base na tarifa rural e não mais baseada na
tarifa industrial. A redução dos gastos com energia elétrica nas
casas de farinha foi de 50%.
Ainda em 2004, finalmente foi encontrada uma saída legal
para a contratação de mão-de-obra temporária. A Abeman,
orientada pelo Ministério do Trabalho, fundou o primeiro con-
domínio de empregadores rurais, o que possibilitava a contrata-
ção das descascadoras de mandioca, de forma legal e sem elevar
os custos desta atividade a ponto de inviabilizar a atividade de
produção de farinha.
O Sebrae/AL implementava o Projeto Cadeia Produtiva
Tubérculos e Raízes II, que, assim como o projeto anterior,
visava sanar alguns dos entraves ao desenvolvimento da
mandiocultura apontados nos diagnósticos realizados.
Embora o projeto tivesse como objetivo fortalecer os prin-
cipais elos da Cadeia Produtiva da Mandioca em Alagoas,
14 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
19. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
adotara como estratégia em 2004, concentrar os esforços na
região agreste, principal região produtora de mandioca do
Estado, mais especificamente nos municípios de Arapiraca,
Girau do Ponciano, Lagoa da Canoa, São Sebastião, Limoeiro
de Anadia, Taquarana e Coité do Nóia.
As principais ações desse projeto foram: a editoração do
Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Mandioca, realizado em
2003; a elaboração de um plano estadual para a cadeia pro-
dutiva; a implantação de três unidades demonstrativas da
cultura da mandioca – conservação do solo, produção sus-
tentável e uso da mandioca na alimentação animal; a avalia-
ção de cultivares de mandioca para indústria e para mesa;
capacitações em classificação e qualidade da farinha, técni-
cas de fabricação de polvilho, boas práticas de fabricação
em unidades de produção de farinha; programa de qualida-
de total rural; oficina de design e palestras gerenciais. No
mesmo ano, foram iniciadas as obras da fecularia de man-
dioca, as quais se estenderiam até 2005.
Uma vez selecionados os territórios de atuação, o PAPL
entrava numa nova fase. Entre janeiro e abril de 2004, deu-
se a formação da rede e parceiros do programa. Entre abril
e setembro foi elaborado o plano de ação do APL Mandio-
ca, no Agreste. Sua elaboração iniciou com um diagnóstico
que contou com a participação de agricultores, produtores
de farinha, técnicos da região, parceiros de diversas institui-
ções e um consultor especialista em agronegócios que con-
solidou as informações geradas. Essa ação caracterizou o
início da integração dos projetos relacionados à mandiocul-
tura que estavam em andamento. Assim, esse diagnóstico
participativo substituiu a elaboração do plano estadual para
a Cadeia Produtiva da Mandioca, previsto no projeto Cadeia
Produtiva Tubérculos e raízes gerido pelo Sebrae/AL. Isso
definitivamente integrou os esforços desse projeto com o
plano de ação do APL Mandioca.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 15
20. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
Após setembro de 2004, o plano elaborado pelo consultor
foi apreciado e aprovado pelo mesmo público presente à
oficina de planejamento. O resultado final foi um projeto co-
letivo que definia claramente o público-alvo, os resultados
esperados e integrava as novas ações com todas as iniciativas
que estavam sendo desenvolvidas no setor da mandioca
naquela época. O objetivo era implantar o principal pólo nor-
destino de industrialização da mandioca, visando promover o
desenvolvimento local, por meio do fortalecimento da organi-
zação, da melhoria do nível de conhecimento tecnológico, do
beneficiamento e diversificação da produção, gerando ocupa-
ção, renda e crescimento econômico com sustentabilidade.
De posse de um projeto consistente com metas, resultados,
ações e seus respectivos custos claramente definidos, o PAPL
estava apto a iniciar a fase de negociação das ações com os par-
ceiros. Essa fase foi marcada com uma rodada de negociações
ocorrida em outubro de 2004 na qual o projeto foi apresentado
à rede de parceiros, que foram assumindo voluntariamente as
ações de maior afinidade com suas missões. Embora a rodada
tenha sido um fato marcante, as negociações demonstraram ser
atividades permanentes num projeto de APL.
ADENSAMENTO DE AÇÕES NA MANDIOCULTURA
O ano de 2004 encerrou-se com investimentos no valor de
R$ 1,3 milhão e ações negociadas para realização em 2005
no valor de R$ 3,1 milhões. O novo ano começou com uma ce-
rimônia no palácio do governo estadual em que a rede de par-
ceiros assinou um documento no qual se comprometia com os
recursos financeiros e execução das ações assumidas na roda-
da de negociações ocorrida em outubro de 2004.
No decorrer de 2005, o plano de ação do APL Mandioca,
no agreste, desenvolveu-se de forma bastante efetiva. As
16 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
21. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
principais ações realizadas foram capacitação dos Agentes
de Desenvolvimento Rural (ADR); treinamento em processos
de gestão pela qualidade; treinamento em utilização da ma-
nipueira para diversas finalidades; treinamento em formas
de utilização da mandioca; capacitação em organização pro-
dutiva (para produtores e técnicos em produção de mandio-
ca e farinha, com objetivo de planejar e gerenciar empresas
comunitárias com base em parâmetros de eficiência, susten-
tabilidade e rentabilidade); capacitação de produtores rurais
em manejo do solo e da cultura da mandioca; capacitação
em controle oficial da produção e da qualidade da farinha;
missão técnica a Paranavaí (PR); missão ao Congresso Bra-
sileiro de Mandioca – Campo Grande (MS); elaboração de
um plano de negócios para a fecularia; a atualização dos
custos de produção da mandioca e da farinha; elaboração
de um projeto-referência de engenharia e arquitetura para
casas de farinha e desenvolvimento de uma estação de tra-
balho para descascadoras de mandioca.
A rede de parceiros estabelecida, o montante de recursos
investidos na mandiocultura e a natureza das ações que es-
tavam se desenvolvendo indicavam que Renildo, seus cole-
gas da Abeman e demais produtores estavam certos.
Conforme eles já imaginavam no começo, sozinhos eles não
teriam conseguido. As transformações iniciadas no agreste
alagoano foram resultado do esforço de muitas pessoas e de
pesados investimentos. O gráfico a seguir mostra a evolução
de investimentos dos parceiros aplicados entre 2002 e 2005,
e os investimentos previstos para 2006 na mandiocultura.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 17
22. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
EVOLUÇÃO DOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS EM MANDIOCULTURA
NO AGRESTE ALAGOANO ENTRE 2002 E 2006 (R$)
10.000.000 9.162.146
8.000.000
6.000.000 5.048.191
4.000.000
2.716.215
2.000.000 1.337.240
500 60.000
0
2002 2003 2004 2005 2006 Total
Fonte: 2002 a 2003 Sebrae/AL; 2004 a 2006 PAPL (http://www.sigeor.sebrae.com.br/).
Em 2006, os municípios envolvidos no projeto eram: Ara-
piraca, Campo Grande, Coité do Nóia, Craíbas, Feira Grande,
Girau do Ponciano, Igaci, Junqueiro, Lagoa da Canoa, Limoeiro
de Anadia, Olho D’Água Grande, São Sebastião, Taquarana,
Palmeira dos Índios.
AS CONQUISTAS
E ntre 2000 e 2005, muita coisa aconteceu no agreste alagoa-
no. Buscando atender ao pleito de produtores e beneficia-
dores de mandioca, organizados pela primeira vez naquela
oficina de planejamento em 2002, muitas conquistas foram al-
cançadas. Nesse período, Renildo e a Abeman experimentaram
um significativo crescimento da atividade no Estado, como
mostram os indicadores de produção relacionados a seguir:
18 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
23. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
QUADRO1: INDICADORES DE PRODUÇÃO
Indicadores de Renildo Abeman
produção da atividade 2000 2005 2005/2000 2000 2005
Nº de unidades produtivas
(casas de farinha) 1 2 200% – 15
Toneladas de mandioca
processadas manualmente 600 1.500 250% – 13.500
Produção anual de farinha
em toneladas 120 300 250% – 2.700
Faturamento anual com o bene-
ficiamento da mandioca em R$ 30.000 150.000 500% – 1.350.000
Nº de empregos gerados com
o beneficiamento da mandioca* 34 42 124% – 454
Nº de associados da Abeman
em 1º de janeiro de cada ano – – – – 17
Fonte: Pesquisa direta. Informações sobre o beneficiamento de mandioca no período de 2000 a
2005 para Renildo e Abeman.
* Empregos formais e informais incluindo mão-de-obra familiar.
No período 2000 a 2006, outros importantes resultados e
conquistas foram alcançados para a mandiocultura, entre as
quais se destacaram:
• Mobilização de parcerias. A metodologia do PAPL facilitou a
integração dos esforços entre institucionais e proporcionou a
obtenção de resultados melhores e mais rápidos.
• Organização do setor produtivo. Os empresários passaram
a dispor de fóruns para debates e reivindicações relativas à
mandiocultura. Associações de produtores foram formadas,
fortalecidas ou ampliaram o escopo de atuação, como nos ca-
sos da constituição da Abeman e da atuação da Cooperativa
de Pequenos Agricultores Familiares (Cooperal), na produção
de fécula de mandioca.
• Construção da primeira fecularia de mandioca do Nordeste,
inaugurada em 28 de outubro de 2005. Isso representou maior
agregação de valor à produção local.
• Em 2006, designação de 14 Agentes de Desenvolvimento
Rural (ADR), técnicos agrícolas treinados para trabalhar com a
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 19
24. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
cultura da mandioca. Esses técnicos atuaram por 12 meses
prestando assistência técnica aos municípios do APL. Cada
ADR assistia a um grupo de 70 produtores.
• Desenvolvimento de um projeto de referência para constru-
ção e modernização de casas de farinha. Esse projeto contem-
plou todas as normas que regulamentam a produção de farinha
e de alimentos adequadas a um modelo de produção artesanal,
com objetivo de permitir melhoria na qualidade dos produtos
e acesso a novos mercados.
• Aquisição de equipamentos para modernização de 23 casas de
farinha com recursos não reembolsáveis por meio do Pronaf.
• Desenvolvimento de uma estação de trabalho para as
descascadoras de mandioca, que considerou princípios de
saúde e segurança no trabalho, com o propósito de possi-
bilitar maior conforto e higiene para a atividade e princi-
palmente evitar problemas de saúde relacionados à postura
inadequada.
• Realização de pesquisas para avaliação e seleção de culti-
vares de mandioca mais produtivos, mais adaptados à região
e ao processamento mecanizado, além da definição das me-
lhores épocas de plantio e colheita.
• Construção de dois sistemas de produção de mandioca para
a região. Um considerou conceitos agroecológicos e o outro,
conceitos da agricultura convencional. Ambos tiveram por
objetivo contribuir para ganhos de produtividade na cultura
da mandioca.
• Disseminação de novas formas de utilização de mandioca.
Agricultores passaram a utilizar a parte aérea da mandioca na
alimentação animal, seja na forma de feno ou de silagem,
além de novas receitas com as raízes.
• Implantação de um condomínio para contratação de mão-
de-obra temporária. Isso permitiu a contratação de mão-de-
obra temporária, atendendo à legislação trabalhista e
viabilizando a produção de farinha.
20 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
25. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
• Difusão de algumas formas de utilização da manipueira.
Embora esta ainda não tenha sido a solução definitiva para
o problema, agricultores passaram a utilizar o subproduto
como fertilizante, inseticida, fungicida, entre outros usos. Isto
já contribuiu, ainda que em escala reduzida, para a redução
do impacto ambiental e significou o aprendizado de práticas
agronômicas de menor custo para o cultivo da mandioca e
outras culturas.
• Atualização das planilhas para financiamentos bancários às
lavouras de mandioca. Essa medida aumentou os valores finan-
ciados e por conseqüência permitiu maiores investimentos em
tecnologia na cultura, proporcionando ganhos de produtividade.
• Estabelecimento de uma rede de parceiros em torno da
mandiocultura, o que proporcionou maiores investimentos e
desenvolvimento de tecnologias apropriadas à região.
• Estruturação de um projeto para construção do centro técnico
da mandioca com a finalidade de elaborar e divulgar informa-
ções, prestar assistência técnica, capacitar e desenvolver mode-
los técnicos e econômicos da cadeia regional da mandioca.
• Realização de estudos acadêmicos como, por exemplo, uma
tese de mestrado desenvolvida em São Paulo, cujo tema envolve
ergonomia e saúde ocupacional das descascadoras de mandioca.
LIÇÕES APRENDIDAS
P or ser presidente da Abeman, Renildo se considerava suspei-
to para falar, mas os fatos dos últimos anos o credenciavam
a dizer: “A criação dessa associação foi muito boa para o setor
mandioqueiro em Alagoas. A Abeman nasceu da necessidade
de um grupo que se encontrava em grandes dificuldades, mas
hoje, não só eu, não só os associados da Abeman, mas todos os
produtores de mandioca e de farinha de Alagoas se benefi-
ciam de tudo o que temos conquistado”.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 21
26. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
De fato, as lutas da Abeman acarretavam benefícios que
extrapolavam até mesmo os limites do APL Mandioca, no
agreste, como, por exemplo, a redução das tarifas de energia
elétrica. Um de seus associados passou a representar a asso-
ciação e o Estado de Alagoas na Câmara Setorial da Mandio-
ca, um fórum de discussão nacional que congregava as mais
importantes instituições com interesse na mandiocultura, como
a Empresa brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o
Sebrae Nacional, entre outras.
Em 2006, a Abeman negociava com a empresa Gás de
Alagoas S.A. (Algas) para que o fornecimento de gás chegas-
se até a região produtora de farinha. Segundo Renildo, os
investimentos para isso não seriam elevados e os produto-
res poderiam substituir a lenha pelo gás como alternativa
para o suprimento de energia dos fornos. Com isso, o meio
ambiente não seria degradado para abastecer os fornos com
lenha e ganhariam os produtores de farinha com redução
dos custos de produção.
Para os novos entrantes na atividade uma coisa era certa,
afirmava Renildo: “Em qualquer setor é necessário estudar,
pesquisar e analisar o que é melhor para a região. Não
adianta copiar as coisas de outras regiões. É preciso adap-
tar a tecnologia disponível à nossa realidade. Fazendo isto,
tudo dá certo”. Renildo tinha convicção de que, se cometera
algum erro, um deles fora não ter investido em informação
e tecnologia há mais tempo. Na tentativa de solucionar os
problemas com a mão-de-obra e outros de natureza técnica,
ele investiu em equipamentos, sendo que alguns não se
adequaram à região, outros tiveram que ser adaptados.
22 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
27. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
SONHOS E PERSISTÊNCIA: AINDA HÁ
MUITO POR FAZER
A pesar das conquistas obtidas e da expressiva elevação
dos investimentos no setor, os desafios permaneciam em
2006. O agreste alagoano encontrava-se apenas no início de
uma longa jornada. O desafio de tornar-se o principal pólo
nordestino de industrialização da mandioca ainda estava lon-
ge de ser atingido. Mesmo com o grande avanço dos últimos
anos, alguns pontos fracos da produção local ainda persis-
tiam. Entre eles destacavam-se a baixa qualidade da farinha,
a existência de muitas casas de farinha com custos operacio-
nais elevados, a baixa produtividade da mandioca, o sistema
de comercialização baseado em feiras livres e intermediários,
além da desorganização do sistema de assistência técnica e
dos problemas ambientais.
Para Renildo, o modelo secular de casas de farinha não
era mais adequado para o agreste alagoano. “A realidade
agora é outra. Para ser competitiva, não ter problemas com
a legislação trabalhista e com o meio ambiente, uma casa
de farinha ou uma fecularia precisam ser modernas, com
equipamentos sofisticados e produzir com qualidade. É ver-
dade que dessa forma serão gerados menos empregos nas
unidades de processamento, mas, em compensação, a quan-
tidade de empregos gerados no campo será bem maior”.
Segundo Renildo e demais sócios da Abeman, entre os princi-
pais desafios futuros, destacavam-se a implantação de uma nova
e moderna fecularia e farinheira com capacidade para processar
400 toneladas de mandioca por dia, ou seja, oito vezes maior do
que a fecularia inaugurada em outubro de 2005 e com o padrão
das melhores fecularias atualmente existentes no mundo.
Uma nova fecularia se justificaria por duas razões. Em pri-
meiro lugar, embora a Abeman tenha sido um importante ator
nas conquistas do APL Mandioca no agreste, a fecularia recém-
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 23
28. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
construída, com recursos do Pronaf Infra-estrutura, era gerida
pela Cooperal, uma cooperativa da qual Renildo e demais só-
cios da Abeman não eram cooperados. Em segundo lugar, a
escala de produção média das fecularias no Brasil era de 250
toneladas de mandioca processadas por dia – um índice de
produtividade baixo quando comparado ao das instalações
existentes nos países líderes na produção de fécula, como a
Tailândia, com uma produtividade média de 800 toneladas por
dia. Portanto, para se inserirem numa economia de mercado
de forma competitiva, os sócios da Abeman precisariam dis-
por de uma unidade de processamento de mandioca à altura
dos concorrentes nacionais e internacionais.
Com relação à concorrência, Renildo nunca teve medo.
“Eu sei que a fecularia de Arapiraca foi a primeira do Nor-
deste e que hoje outras até maiores estão sendo construídas.
Comparei a qualidade da fécula produzida aqui com a fécula
produzida no Paraná e constatei que a de lá está melhor.
Precisamos é investir em tecnologia no campo e no processa-
mento. A tecnologia da fecularia que construiremos está entre
as mais modernas no mundo. Temos condições de alcançar
a qualidade deles em pouco tempo, temos matéria-prima em
abundância e os nossos portos estão mais próximos da Europa.
Poderemos exportar.”
Em 2006, as palavras de ordem no mercado de farinha
eram preço, qualidade e prazo de entrega. No setor de ami-
dos, principalmente o modificado, um dos mais fechados do
mundo, entre os fatores de sucesso estavam custos operacio-
nais reduzidos, qualidade da matéria prima e estabilidade do
padrão de qualidade. Investir em tecnologia parecia ser o
rumo certo.
A partir da metodologia utilizada pelo PAPL, produtores e
processadores de mandioca, técnicos e instituições de fo-
mento representando os 14 municípios do APL Mandioca
continuavam se reunindo com freqüência mínima mensal,
24 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
29. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
em fórum de discussão denominado Núcleo Gestor do APL
Mandioca Agreste, reuniões com maciça freqüência e ativa
participação dos representantes de todos os municípios e seg-
mentos. O núcleo foi criado para ter como principais atri-
buições acompanhar, avaliar, discutir e tomar decisões sobre
o projeto de desenvolvimento do APL, bem como organizar
demandas e reivindicações. A Secretaria de Planejamento do
Estado de Alagoas (Seplan) e o Sebrae/AL, instituições coor-
denadoras do programa de APLs, sempre estimularam e
apoiaram as reuniões que se tornaram cada vez mais impor-
tantes nos processos decisórios, com fundamental papel na
integração de iniciativas relacionadas à mandiocultura no
agreste. Manter esse núcleo vivo mesmo após o término do
PAPL seria muito importante para a organização setorial na-
quele território.
Por fim, um grande desafio para produtores e beneficiado-
res de mandioca do agreste alagoano consistia em manter os
investimentos públicos na atividade. A união dos municípios
em consórcio, a priorização da Cadeia Produtiva da Mandioca,
e a orientação nacional de agregação de valor ao produto da
agricultura familiar constituíam oportunidades para se alavan-
car o desenvolvimento local, aproveitando a força conferida
pela tradição regional e pela grande rede de casas de farinha
e da fecularia existentes no território. No entanto, o PAPL esta-
va vinculado ao programa do governo em exercício e seu pla-
no de ação se estenderia até 2007. Com eleições em 2006 para
os governos estaduais e federal, não havia segurança sobre a
continuidade do programa. Portanto, os empresários deveriam
estar atentos às mudanças políticas, preparando-se para garan-
tir o fomento à mandiocultura na região para além de 2007.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 25
30. AGRONEGÓCIOS — MANDIOCULTURA E FRUTICULTURA
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
• Como garantir que a governança do APL Mandioca no
agreste e que as redes de desenvolvimento montadas conti-
nuem articuladas após o término do PAPL?
• Como garantir a continuidade dos investimentos públicos
após o término do PAPL?
• Como os empresários do APL Mandioca poderão captar recur-
sos para as obras de modernização em suas unidades produtivas?
• Unidades modernas de produção de farinha e fécula são bas-
tante automatizadas. Como modernizar as casas de farinha
existentes e gerar postos de trabalho no APL?
• Que diferencial competitivo o APL Mandioca poderá ter em
relação a outras regiões produtoras de farinha e de fécula do
Brasil?
• Como garantir mão-de-obra qualificada para atuar nos novos
empreendimentos mais modernos que começam a se instalar
no agreste alagoano?
• Como garantir à fecularia do APL, gerida por uma coopera-
tiva de agricultores familiares, uma gestão totalmente profissio-
nalizada, operando com base em conceitos contemporâneos
de administração?
AGRADECIMENTOS
Conselho Deliberativo do Sebrae/AL: Maria Fernanda Quintella Brandão Vilela
e conselheiros.
Diretoria Executiva do Sebrae/AL: José Roberval Cabral da Silva Gomes, Marcos
Antônio da Rocha Vieira e Osvaldo Viegas.
26 HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006
31. MANDIOCULTURA: GOVERNANÇA LOCAL NO AGRESTE DE ALAGOAS – AL
REFERÊNCIAS
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dutiva da Mandioca em Alagoas. Maceió: CDI Sebrae/AL, 2003.
SEBRAE/AL Agronegócios. Relatório da Oficina para Levanta-
mento de Problemas da CP da Mandioca. Maceió: Sebrae/AL,
2002.
PACHECO, Maria Inês Nogueira. Plano de Ação Mandioca
Agreste – Programa de Mobilização para o Desenvolvimento de
Arranjos e Territórios Produtivos Locais do Estado de Alagoas.
Maceió: PAPL – Sebrae/AL, Seplan, 2004.
FONTES, Marcos Antônio Martins. Gestão de Projetos de Desen-
volvimento de Arranjos Podutivos Locais. Trabalho de Conclusão
de Curso. Maceió, 2005.
BARROS, Geraldo Sant’Ana de Camargos (coordenador).
Melhoria da Compeitividade da Cadeia Agroindustrial da Man-
dioca no Estado de São Paulo. Piracicaba, SP: Esalq, Cepea, 2004.
HISTÓRIAS DE SUCESSO – COLETÂNEA 2006 27