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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ – BA
LEILA DE LIMA OLIVEIRA
A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF
Conceição do Coité
2013
LEILA DE LIMA OLIVEIRA
A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF
Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de Letras,
como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura
em Letras com Inglês, da Universidade do Estado da Bahia.
Orientador: Profº Me Kleber José F. Simões
Conceição do Coité
2013
LEILA DE LIMA OLIVEIRA
A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF
Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de
Letras, como requisito final para conclusão do Curso de
Licenciatura em Letras com Inglês, da Universidade do
Estado da Bahia.
Aprovada em: ___/___/___
Banca examinadora
_____________________________________
Kleber José F. Simões– Orientador
Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV
_________________________________________
Neila Maria Oliveira Santana
Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV
_________________________________________
Rita de Cássia Sacramento
Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV
Conceição do Coité
2013
Dedico este trabalho à Maestrina Chiquinha Gonzaga, uma inspiração
em minha vida. Em especial, à ex-colega Rita de Cássia Matheus,
cúmplice da amizade e do saber na adolescência; hoje, uma dama da
lei.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade do Estado da Bahia, em primeira fé, instituição de ensino a qual
galguei passos fortuitos para a minha ambição.
Ao professor Kleber José F. Simões, auxiliar do Colegiado de História deste departamento de
educação, por sua contribuição e inspiração em todo o processo nesse trabalho.
Ao professor de Literatura Brasileira e Portuguesa do Departamento de Educação do Campus
XXII Adriano Eysen Rego, por seu exemplo de dedicação e por encorajar-me a seguir os
passos acadêmicos.
À professora de Literatura em Língua Inglesa Rita de Cássia Sacramento, auxiliar deste
Campus, por promover meu encontro com a escritora Virginia Woolf em momento
privilegiado em sala de aula.
Aos professores que efetivamente foram coparticipes no construto do conhecimento em minha
formação, bem como aos colegas que corajosamente engajaram-se em alcançar essa
graduação e me dedicaram apoio.
A mulher não é uma realidade imóvel, e sim um vir a ser; é no
seu vir a ser que se deveria confrontá-la com o homem, isto é,
que se deveriam definir suas possibilidades.
Simone de Beauvoir
RESUMO
Este trabalho versa acerca das conjecturas da escritora e crítica Virginia Woolf e o universo
feminino, sob o viés da obra ensaística A Room of One´s Own (1929). Virginia Woolf foi
pensadora da condição da mulher enquanto signo feminino na sociedade ocidental,
questionado posições misóginas e atentando para o direcionamento da mulher também no
campo da ficção. E produziu o referido livro de ensaios onde aborda estas atenuantes
questões. O contexto cultural, no qual a obra estava inserida, passara por relevantes
transformações a partir da introjeção do pensamento pós-colonialista e da teoria feminista
emergente. O cânone europeu e o sistema de valores na cultura e literatura patriarcais
passaram a ser arguidos e subjugados. Virginia Woolf ousou discutir e incutir a expressão
feminina na defesa de sua idoneidade, enquanto escritora de ficção e também crítica literária
ao longo de sua trajetória, e, mais especialmente, através da obra A Room of One´s Own.
Ainda no século XXI suas palavras ecoam vitoriosamente contra o preconceito às mulheres,
onde quer que haja o alcance de sua escrita.
Palavras-chave: Feminismo. Literatura. Patriarcalismo. Pós-colonialismo.
ABSTRACT
This paper deals with the conjectures of the writer and critic Virginia Woolf and the feminine
universe, under the bias of the essays A Room of One's Own (1929). Virginia Woolf was a
thinker of the condition of women as feminine sign in Western society, questioned
misogynistic positions and paying attention to the direction of the woman also in the field of
fiction. The book of essays talks about these mitigating issues. The cultural context, in which
the work was entered, had undergone significant changes from the introjection of thought
postcolonial and feminist theory emerging. The European Canon and the system of values in
patriarchal culture and literature became questioned and subdued. Virginia Woolf dared to
discuss and instill feminine expression in defense of their capacitance, as a writer of fiction
and literary criticism also throughout her career and most especially, through the work A
Room of One's Own. Still in the 21st
century her words echo victoriously against the prejudice
to women, wherever there is the scope of her writing.
Key Words: Feminism. Literature. Patriarchy. Postcolonialism.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
1 O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA INGLATERRA ENTRE OS
SÉCULOS XIX E XX ............................................................................................................12
1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL INGLÊS..............................................................12
1.2 O FEMINISMO E O PÓS-COLONIALISMO ..................................................................15
1.3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA.............................................................................................17
2 O STATUS QUO DA MULHER ....................................................................................21
2.1 O FEMINISMO DE WOOLF.............................................................................................21
2.2 A ESCRITA FICCIONISTA FEMININA..........................................................................23
2.3 GÊNERO, SEXISMO E ANDROGINIA...........................................................................28
3 O LÓCUS FEMININO EM SOCIEDADE.....................................................................32
3.1 A EDUCAÇÃO DA MULHER BRITÂNICA ..................................................................32
3.2 A EMANCIPAÇÃO FEMININA.......................................................................................35
3.3 A ANTEVISÃO CRÍTICA DE WOOLF...........................................................................38
CONCLUSÃO.........................................................................................................................40
REFERÊNCIAS......................................................................................................................42
10
INTRODUÇÃO
Virginia Woolf é objeto constante em estudos literários e culturais na
contemporaneidade, primeiramente como escritora de ficção modernista e, por conseguinte,
no campo de pesquisas sobre a mulher ocidental. Anotações de seu diário íntimo e outros
escritos pessoais constituem-se em importantes fontes de referência para pesquisadores de sua
obra. A autora de origem britânica escreveu ao longo de sua trajetória diversos ensaios cuja
temática voltava-se para a compreensão e prospecção do ego feminil: ela mesma, artista e
mulher , viveu, reinventou e reluziu o símbolo feminino dentro de sua prosa imaginativa e no
arquétipo vivo de sua conduta.
A produção em ensaios contida no livro A Room of One´s Own (1929), de Virginia
Woolf, importante publicação da autora e crítica, compõe-se de uma série de questionamentos
e altercações sobre o sexo feminino, que , segundo a autora, é um assunto “altamente
desenvolvido” e “infinitamente intrincado.” As deliberações de Virginia Woolf, a partir de
seu discurso proferido em 1928 no Newnham College e Girton College, conduziram-na a
produzir essa obra escrita como um registro no tempo porquanto almejava que suas palavras
se projetassem na história.
Ao falar diretamente e em tom de admoestação ao público feminino, Virginia incita e
chama a atenção para o fato de que naquele momento, em 1928, quando proferiu esse
discurso, muitas mulheres sequer tinham conquistado um diploma em uma universidade, ou
alcançado postos privilegiados como profissionais liberais; e, em tempo hábil, não
encontravam lugar no comércio, na política, muito menos nas forças armadas. A visão desse
fato dessemelhante não está distante dos dias atuais, em alguns contextos as mulheres têm
desempenhado efetivamente cargos e ocupações equiparáveis aos do sexo oposto, porém não
têm encontrado respaldo financeiro ou o devido reconhecimento de suas faculdades.
Virginia Woolf, resolutamente, buscou elucidar o porquê de tão poucas mulheres
alcançarem ao longo da existência legitimidade e reconhecimento enquanto representantes da
literatura no mundo. E, ao fazer esta obra ensaística, revela com demasiada astúcia uma visão
intelectual e humanística que anteviu e consagrou a emancipação feminina não apenas através
de seu imaginário poético.
É notória a importância de seus escritos sobre a mulher, que trazem em sua essência a
visão de uma crítica cultural afinada com as questões ligadas ao gênero e que se pôs na
militância de defender a emancipação da mulher e sua atuação enquanto ser social.
11
O intuito dessa pesquisa de caráter bibliográfico deteve-se em projetar as conjecturas
da autora Virginia Woolf acerca do universo feminino, e de que maneira o seu discurso
refletiu para a emancipação feminina sob o viés da obra A Room of One´s Own. A monografia
está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo trata do contexto histórico-cultural da
Inglaterra entre os séculos XIX e XX, onde profundas mudanças eclodiram no construto da
sociedade, bem como a produção literária no referido período. O segundo capítulo atém-se à
crítica ao feminismo de Woolf, aspectos de sua estética literária e sua visão acerca da
produção escrita feminil. O terceiro capítulo se detém ao discurso articulado da autora em prol
das mulheres britânicas, sua crítica à educação, o anseio pela emancipação feminina e o apelo
às sociedades vindouras.
12
1 O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA INGLATERRA ENTRE OS
SÉCULOS XIX E XX
O capítulo contém uma breve descrição do contexto histórico-cultural inglês, as
mudanças sociais e políticas que antecederam, provocaram e permearam a dialética da autora
Virgínia Woolf em seu livro ensaístico. O capítulo apresenta um conluio de acontecimentos
de ordem social, histórica, cultural e também político-ideológica que perpassaram as notórias
transformações do mundo, notadamente da Europa, e especialmente no território inglês, de
onde a fala da autora britânica reproduz sua retórica.
O capítulo reportou também o surgimento do feminismo, enquanto projeto de
conscientização política e social, que unido ao pensamento pós-colonialista interrogaram o
sistema de valores na cultura e literatura patriarcais. Como construto desse tópico ainda fez-se
necessário apresentar o retrato da literatura escrita nesse período, para uma visão crítica e
acertada da ficção produzida na época.
1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL INGLÊS
No século XIX as chamadas potências da Europa ocidental, através de sua política
imperialista, expandem seus domínios sobre a África, Ásia e Oceania. Há uma intensa
expansão capitalista na segunda metade deste mesmo século que viria afetar não só a
economia mundial, mas estabelecer uma revolução de ordem tecnológica e industrial nunca
antes empreendida. Os lucros fabulosos das chamadas holdings concediam na época para os
ditos países ricos: Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, o total de 80% do capital
mundial. O historiador Eric Hobsbawm1
assim definiu a economia a partir de 1870:
Primeiro, iniciou-se uma nova era tecnológica, caracterizada pela utilização
de novas fontes de energia (eletricidade e petróleo, turbinas e motor a
explosão), de nova maquinaria baseada em novos materiais (ferro, ligas,
metais não ferrosos), de indústrias baseadas em novos avanços científicos,
tais como a indústria da química orgânica. (HOBSBAWM, 1982, p.312)
Entre os principais adventos das novas tecnologias constavam: a invenção do motor a
gasolina (1885), do automóvel (1886) e do motor a diesel (1897). Outras significantes
descobertas que transformaram sobremaneira a vida nas sociedades constam da invenção do
telefone (1876), do fonógrafo (1877), do rádio (1887) e do cinema (1895). Ocorreram
1
Eric Hobsbawm (1917-2012) foi um historiador marxista internacionalmente reconhecido e membro do partido
comunista britânico. Ele, dentre outros historiadores marxistas de sua época, estudaram as organizações das
classes populares, suas lutas e ideologias (tradições), através da chamada "História Social".
13
igualmente invenções no campo científico que modificaram a organização das cidades, com o
avanço da ciência e da medicina houve uma melhora na saúde pública e aumento da
expectativa de vida.
Essas diversas mudanças que se refletiram em seus muitos aspectos na ordem social,
provocaram o aparecimento da urbanização nas cidades. Até 1850 ainda não existia uma
população predominantemente urbana, a Inglaterra seria a pioneira nesse processo. De 1870 a
1910 a população europeia cresceu de 290 para 435 milhões de habitantes. No início do
século (1801) existiam em torno de 23 cidades na Europa, um século depois esse número
passou a ser de 135, cada uma dessas cidades com 100 mil habitantes2
.
O processo de urbanização fez nascer um aumento populacional que, embora a um só
tempo ocorresse de modo global, se deu excessivamente nas áreas de maior industrialização.
Esse fluxo migratório é justificado pelo fato de as grandes populações se dirigiam para as
indústrias em busca de trabalho.
A Inglaterra atingiu seu apogeu industrial e colonialista nesse período, quando se tornou
conhecida como a “oficina do mundo” segundo analistas da época, e foi a responsável por
abastecer os centros dos mercados mundiais com seus produtos industrializados. Esse
afamado período de prosperidade industrial e comercial incide no reinado da rainha Vitória,
que ocupara o trono da Inglaterra de 1837 a 1901.
A Era Vitoriana, período em que governou a rainha Vitória, marcado pela estabilidade
política e o puritanismo moral, influenciou a moda de seu tempo. A riqueza vivenciada nesse
período estendeu-se até o reinado de Eduardo VII, com proliferação das artes e da cultura em
território inglês. A Belle Époque (1890-1911), momento de grande efervescência cultural
ocorrido na França, influenciou os costumes e a moda europeia e ocidental. A França e a
Inglaterra eram os países europeus que ditavam a moda da época. O estilo vitoriano era
copiado pelos burgueses, enquanto a grande população cultuava a moda romântica. A Belle
Époque se estendeu até o século XX, sendo ainda contemporânea da moda Eduardiana (até
1907). Os trajes das senhoras burguesas deveriam ostentar seu status social com opulência.
Eram muitos os atavios, as plumas, os tecidos finos, de fato uma extravagância que marcou
era.
Assim como os demais países ricos da Europa, na Inglaterra o acúmulo de capitais e o
aumento da produção industrial — ditames da própria política capitalista, — não beneficiaram
2
RÉMOND, René. Introdução à história do nosso tempo: do Antigo Regime aos nossos dias. Lisboa, Gradiva,
1994.p.226.
14
todos os setores da sociedade. Os lucros detiveram-se nas mãos dos donos dos cartéis da
indústria e do comércio.
A forma como o trabalho seria visto a partir de então modificaria a estrutura das
sociedades. Assim como na Inglaterra, o trabalho passaria a ser visto como uma ferramenta de
enriquecimento e acúmulo de dinheiro nas mãos de uma minoria: a classe burguesa. A
sociedade passaria a ter duas classes distintas: a classe do operariado e da burguesia, esta
última, cada vez mais abastada e poderosa. Uma terceira classe intermediária quase
extinguível era a classe média composta de pequenos comerciantes, fabricantes, artesãos e
camponeses que, também como o operariado, se opunha à exploração burguesa. Assim era o
retrato das grandes cidades da época:
De um lado, ficam os excluídos: despreparados para a rude competição do
mercado, angustiados pela permanência das necessidades básicas
insatisfeitas, acuados e levados ao desespero, muitas vezes deformados por
uma assimilação doentia das “regras do jogo” capitalista. Do outro, os
privilegiados, que, por serem bem-sucedidos, vivem em estado de apreensão,
apavorados, cercados de subalternos nos quais não podem confiar
inteiramente, empenhados em proteger suas vidas e seu patrimônio de
perigos crescentes, encastelados atrás de grades e muralhas. (KONDER,
2000, p.63)
Karl Marx e Friedrich Engels, que escreveram o Manifesto Comunista3
em defesa da
classe do proletariado, como outros pensadores de seu tempo acataram com a causa do
semelhante, nesse evento, a classe operária. As teorias comunistas que marcaram o mundo
nos séculos XIX e XX encabeçam uma nova era cuja ideologia daria forma a conceitos como
cooperação e revolução. Um trecho do manifesto comunista diz:
De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma
classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e
perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado, pelo
contrário, é o seu produto mais autêntico (MARX e ENGELS, 1980, p.23).
Os marxistas Marx e Engels, assim como as demais teorias que ganharam força no
século XIX, acreditavam numa luta pacífica para alcançar uma sociedade idealizada. Os
marxistas acreditavam que a emancipação da mulher, ao ocupar um lugar nas fábricas, não se
constituía numa causa para “libertação” àquele tempo, mas somente um modo natural de
atuação. O Feminismo, assim, ainda não existia enquanto discurso político. Engels escrevera:
“A primeira oposição de classe que se manifesta na história, coincide com o desenvolvimento
3
O Manifesto Comunista ou Manifesto do Partido Comunista (Manifest der Kommunistischen Partei) foi
publicado pela primeira vez em 21 de Fevereiro de 1848, e é historicamente um dos tratados políticos de maior
influência mundial.
15
do antagonismo entre o homem e a mulher no casamento conjugal; e a primeira opressão de
classe, coincide com a opressão do sexo feminino pelo masculino.” (ENGELS apud
JAPIASSU, 1984, p.29).
O historiador inglês E.P.Thompson, um dos principais historiadores do século XX e
principalmente dos movimentos do operariado, ao contrário da historiografia mais recente,
declara que as organizações militantes operárias teriam sido geradas desde o século XVIII
tanto na Inglaterra quanto na França, e não através dos sindicatos instituídos a partir do século
XIX.
Entre os séculos XIX e XX, a realidade era mesmo essa: homens e mulheres
indistintamente escravos de seus patrões. Pouco se comenta a respeito da situação das
mulheres que operavam nas fábricas, mas é fato que muitas delas morreram acometidas por
tuberculose, morriam mais que a população natural. Muitas delas chegaram a trabalhar até
mesmo em minas de carvão, carregando pesos de sessenta quilos nos poleiros subterrâneos. E
recebiam pagamento muito inferior ao dos homens.
As ocupações femininas na época vitoriana se restringiam, no caso da classe
baixa, ao trabalho árduo das fábricas, com nenhum tempo para o lazer; como
domésticas e babás, no caso da classe média empobrecida; ao lazer e ao ócio,
considerado símbolo do seu status aristocrático, no caso das mulheres da
classe alta e classe média rica (BONNICI, 2007, p.219).
1.2 O FEMINISMO E O PÓS-COLONIALISMO
As lutas do Movimento Feminista originaram-se nos Estados Unidos e na Inglaterra. O
Feminismo na força de sua propulsão promove a emancipação da mulher e sua ascensão
sócio-política ao longo da história. No século XVIII a exclusão do direito de cidadania às
mulheres tinha sido contestado em textos como Declaration des Droits de la Femme e La
Citoyene, de Olympia de Gouges, publicado na França em 1791, e Vindication of the Rights of
Woman, de Mary Wollstonecraft, publicado em Londres em 1792. Nos Estados Unidos o
feminismo nasce com a Declaração de Séneca Falls em 1848, e surgem nomes importantes
como Lucretia Mott e Lucy Stone, que, a exemplo, reivindicavam direitos políticos e
partidários para as mulheres.
Apregoa-se que o discurso pós-colonialista4
teria sido o agente direto e provocador que
suscitou o espírito feminista. No século XIX as teorias pós-colonialistas incidiam fortemente
4
Pós-colonialismo enquanto efeito que as nações imperialistas provocaram na cultura dos países colonizados.
Segundo Ashcroft, Griffiths e Tiffin (1991), o termo “pós-colonialismo” refere-se a toda e qualquer cultura
advinda da possessão imperial desde a colonização até a contemporaneidade.
16
sobre a literatura canônica europeia. No momento em que o imperialismo alcança seu apogeu,
a mobilização de mulheres buscando direito civis e, já no início do século XX, escrevendo
ficção, dão ao feminismo corpo e consistência favoráveis à construção de uma teoria
feminista. Do marxismo instala-se a ideia de emancipação econômica da mulher e a cata à
igualdade dos direitos trabalhistas.
Ao tomar consciência que a cultura e literatura haviam sido constituídas até então sob os
ditames do patriarcalismo5
, o feminismo encabeça o seu plano de descolonização ao contestar
a hegemonia patriarcal, e passa a estabelecer um domínio liderado pela linguagem e uso do
pensamento, muito especialmente através da escrita. Como defendia Audre Lorde, ao relatar o
insucesso de algumas escritoras pós-colonialistas 6
: “Sobreviver não é uma habilidade
acadêmica... É aprender como assumir nossas diferenças e transformá-las em poder. Porque as
ferramentas do amo jamais derrubarão a casa dele” (LORDE, 1983, p.93). O objetivo traçado
pelo feminismo a partir desse momento é a inversão de toda a estrutura social, e a
consequente inserção da mulher no lugar de comando exclusivamente masculino. A teoria
feminista vai mais além: propõe a reconstrução do cânone literário europeu.
Importante teórico-feminista que incorpora aos seus estudos questões ligadas a gênero e
raça, Spivak (1985) defende a política de conscientização do feminino opondo-se rigidamente
ao sexismo e à ideia da mulher biologicamente oprimida. Julia Kristeva (1986), também
crítica literária e feminista, considera que a diferença entre os gêneros e a natureza
experimental de cada um está nas relações psicológicas construídas dentro de um contexto
social, negando o determinismo biológico.
O feminismo e o pós-colonialismo destacaram-se em produções literárias de Alice
Walker e Doris Lessing, por exemplo, e também através da crítica literária, a exemplo de
Spivak.
It should not be possible to read nineteenth-century British literature without
remembering that imperialism, understood as England's social mission, was
a crucial part of the cultural representation of England to the English. The
role of literature in the production of cultural representation should not be
ignored. These two obvious "facts" continue to be disregarded in the reading
5
Patriarcalismo: definido como ideologia da supremacia do homem nas relações sociais. O termo “Patriarcado”
tem origem na palavra pater e significa “pai da família”. Bonnici (2007) aponta que “Na teoria feminista, o
patriarcalismo é definido como o controle e a repressão da mulher pela sociedade masculina e parece constituir a
forma histórica mais importante da divisão e opressão social” (p.198).
6
A denominação de “escritores pós-colonialistas” está atrelada ao tipo de literatura, com ênfase na crítica
literária, e que vem a contestar a literatura hegemônica dita historicamente escrita sob domínio patriarcal. Para
Bonicci (2009) os Estudos Pós-coloniais “constituem uma práxis social, política, econômica e cultural
objetivando a resposta e a resistência ao colonialismo, tomado no sentido mais abrangente possível”.
17
of nineteenth-century British literature. This itself attests to the continuing
success of the imperialist project, displaced and dispersed into more modern
forms (SPIVAK, 1985, p.243).7
Os países que passaram pela experiência do pós-colonialismo e, consequentemente a
descolonização da cultura, viveram contextos experienciados distintos; a preocupação da
política feminista pós-colonial no ocidente estava atrelada à questão da igualdade e
emancipação feminina. Contudo, pode-se afirmar que a maior estratégia de libertação
feminina nos países pós-coloniais foi a luta pela descolonização da cultura; e essa luta, por
conseguinte, contribuiu para a autonomia da teoria feminista.
O feminismo assim se delineia, a partir da importância da alteridade e encontra relação
com o pós-colonialismo no auge do imperialismo britânico, intercalando uma crucial lacuna
na história. O cenário social modifica-se: a mulher começa a ocupar um lugar determinante na
esfera social.
Nos anos que antecederam o nascimento de Virginia Woolf (1882-1941), a mulher
inglesa era oprimida e limitada em suas funções, na educação dos filhos e até mesmo no
direito a herança. Quando a autora faz dezoito anos, as mulheres britânicas haviam
conquistado como cidadãs o direito à propriedade (em 1880 só as mulheres casadas
possuíam). Porém, no final do século XIX e início do século XX a total liberdade feminina
ainda não existia, o direito de voto seria alcançado em 1919 (para mulheres com mais de 30
anos) e estendido em sua totalidade em 1928 na Inglaterra.
Entre fins do século XVIII e as primeiras décadas do século XX, período em que se
predomina a “primeira onda feminista” — e onde está inserida a obra de Woolf — o
feminismo intencionará uma mudança de paradigma para a visão da mulher em sociedade.
Proclama-se nesse momento uma luta feminina contra o patriarcado, que ao considerar a
“instituição universal” família constituindo papéis distintos e indissociáveis para os sexos,
delimitava a mulher como ser naturalmente doméstico na divisão do trabalho.
1.3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA
Na segunda metade do século XIX, com o avanço da ciência e da tecnologia, a
sociedade burguesa torna-se um complexo de valores culturais de variados domínios
7
“Não deve ser possível ler literatura britânica do século XIX sem se lembrar de que o imperialismo, entendido
como missão social da Inglaterra, era uma parte crucial da representação cultural da Inglaterra para o Inglês. O
papel da literatura para a produção de representação cultural não deve ser ignorada. Estes dois "fatos" evidentes
continuam a ser desconsiderados na leitura da literatura britânica do século XIX. Isso por si só atesta o sucesso
contínuo do projeto imperialista, deslocado e disperso em formas mais modernas” (tradução nossa).
18
impregnados pelo materialismo. A origem de diversos “ismos” como: o Positivismo, o
Determinismo, o Cientificismo, o Evolucionismo, dentre outros, compuseram a chamada
“sociolatria”. O termo refere-se às aspirações atreladas às mudanças concorrentes, nas quais
os indivíduos passaram a imolar seus próprios interesses em prol do progresso coletivo.
O desenvolvimento marcadamente intelectual e científico influenciou ainda as diversas
manifestações artísticas do início do século XX, tanto a literatura, como o teatro, o cinema, a
pintura, a música, dentre outras expressões culturais arregimentadas pelo universo da
mecanização e as vivências nas sociedades modernas. A literatura ocidental sofreria enorme
influência de Sigmund Freud e de seus estudos sobre a psique humana, também de Karl Marx,
ao debater o duelo entre o capital e a força de trabalho.
Harold Bloom, ensaísta americano, em sua obra The Western Canon (1994), assim fala
do cânone ocidental: “Um dos sinais de originalidade que pode conquistar status canônico
para uma obra literária é aquela estranheza que jamais assimilamos inteiramente, ou que se
torna um tal fato que nos deixa cegos para suas idiossincrasias” (BLOOM,1994, p.14).
O Cânone, inicialmente, relacionava-se à seleção de livros em uma determinada
instituição de ensino. Tradicionalmente continua sendo uma apurada eleição de grandes
autores que compunham o quadro geral de escritores que o mundo imortalizara — inclusas
também as artes clássicas europeias influentes e a música como modelos de representação
artística ocidental. A escolha da chamada “tradição” pode ser ditada por um grupo
hegemônico específico, por instituições educacionais, ou pela crítica clássica. A norma que se
assenta na afirmação de Bloom diz: “Toda originalidade literária forte se torna canônica”
(p.33). 8
No período vitoriano, o romance consagrou-se como a escrita literária influente da
época. Surgem grandes poetas e escritores de língua inglesa, a exemplo de Alfred Tennyson e
Matthew Arnold, e escritores da escola Realista como Walter Scott e Charles Dickens. No
varal de escritoras femininas estão Jane Austen, George Eliot e as irmãs Charlotte, Emily e
Anne Brontë.
Com o crescimento do mercado literário no século XIX, as mulheres passam a
buscar a escolarização, e instigadas a escreverem engajam-se em profissões como o
jornalismo e a editoração. Até então era possível para algumas mulheres dedicarem-se à
pintura, ao piano e ao canto, realidade essa que no mesmo século encontraria novos ensejos.
Em síntese, essa era a condição feminina em transição:
8
Harold Bloom (1994) analisa a tradição literária ocidental, concentrando-se nos trabalhos de vinte e seis autores
centrais para o Cânone, entre estes está a escritora britânica Virginia Woolf.
19
as normas enunciadas no início do século eram normas coletivas definindo
uma função social — a de esposa e mãe —, estabelecendo os direitos da
mulher como uma função de suas obrigações e definindo as mulheres como
um grupo social cuja função e comportamento seriam estabelecidos de
maneira standard e portanto idealizada. Mas essa formulação totalizadora
gradualmente se desintegrou, e identidades femininas começaram a
proliferar: mãe, trabalhadora, solteirona, mulher emancipada, etc.
(BRIDENTHAL, KOONZ e STUART, 1978, p. 4).
Um tipo caracteristicamente peculiar de literatura feminina surge nesse período: os
textos de viagens. As mulheres que escreviam esses relatos compunham-se de senhoras de
classe media e alta, muitas delas esposas de diplomatas e oficiais que acompanhavam seus
conjugues em viagens. Não se poderia atribuir a esses textos um caráter confessional e
introspectivo de apelo feminista, nem mesmo era uma escrita que propunha uma subjetividade
feminina, as mulheres cultivavam a resiliência e a liberdade para elas se alargava com o
passar do tempo.
Os romances vitorianos apenas raramente retratam os problemas referentes
ao status legal das mulheres. Quando isso acontece, mostram mulheres
domesticadas, companheiras educadas dos homens, pessoas-boneca,
enfeitadas e submissas (BONNICI, 2007, p.220).
O estilo dos relatos de viagens escritos por mulheres, por sua vez, alcançou notoriedade
e o distanciamento do lar oportunizou uma ampliação para novos conceitos. Em muitos casos,
uma emancipação proeminente, como apresenta Maria H. Frawley (1994, p. 29): “a viagem
para longe da Inglaterra facilitou a transformação no front doméstico, pois conferiu às
mulheres o “capital simbólico” com o qual passaram a competir no mercado cultural da
sociedade vitoriana”.
Já no início do século XX, aparecem muitos jovens escritores ingleses como E. M.
Forster e D. H. Lawrence que registraram uma literatura crítica sobre a sociedade ocidental. A
arte modernista manteve uma relação íntima com as cidades, e na literatura compuseram o
cenário de uma sociedade tecnologicamente moderna. Londres entre 1880 a 1920
experimentou intenso intercâmbio cultural, e idealizava essencialmente esse cenário
modernista de novas formas e contrastes sociais.
Inserida nesse contexto encontra-se a escritora britânica Virginia Woolf, que compunha
a linha de narrativa de introspecção psicológica, uma característica presente na obra de alguns
autores modernistas do período como James Joyce, escritor de língua inglesa nascido na
Irlanda. Sobre essa transformação cultural e moderna, Virginia Woolf declara em 1910:
“Todas as relações humanas se modificaram — entre patrões e empregados, maridos e
20
mulheres, pais e filhos. E, quando as relações humanas mudam, há ao mesmo tempo uma
mudança na religião, no comportamento, na política e na literatura” (WOOLF, 1966, p.321).
Os romances assim inscritos entre fins do século XIX e ao longo do século XX
revolucionaram esteticamente as formas convencionais da escrita, na ânsia de libertar a
criação artística; além da necessidade de interpretar um mundo de contingências modernas
para as quais novas tendências e novas consciências se aglutinavam. Desse modo, com o
surgimento do feminismo e o fato de mulheres passarem a escrever romance, até mesmos
alguns textos em prosa constituirão representações que questionem o papel da mulher em
sociedade. A busca por uma identidade e espaço legítimos estará interligada à literatura
feminina escrita a partir de então.
Entre as gerações literárias que se destacaram no período romântico e vitoriano inicial,
os principais nomes criteriosamente assinalados foram: Thomas Hardy, Samuel Butler,
George Gissing, Ernest Dowson, Arthur Symons, Ford Madox Hueffer, Arnold Bennet, H.G.
Wells, T.E. Hulme, Lytton Strachey, Dorothy Richardson; além dos já citados E. M. Forster,
D. H. Lawrence e a escritora Virginia Woolf.
21
2 O STATUS QUO DA MULHER
O capítulo em questão abordará a temática feminina nos escritos literários, apresentando
trechos da biografia da autora britânica Virginia Woolf, aspectos de sua importância como
escritora de ficção e ensaísta, destacando marcas do feminismo em seu discurso universal.
Serão ainda apresentadas características da estética woolfiniana e sua androginia.
Num plano introspectivo, serão explanados — a guisa de se compreender questões
pujantes salientadas pela autora — revelações acerca da escrita feminina e seu valor para a
história. Nesse enlace, o capítulo também reproduzirá o sexismo assinalado na obra quanto à
narrativização de alguns fatos apresentados pela escritora.
2.1 O FEMINISMO DE WOOLF
Nascida Adeline Virginia Stephen (1882-1941), Woolf foi uma notável escritora
modernista em sua época, uma aristocrata e intelectual que influenciou a crítica e a teoria
feminista muito especialmente nos estudos literários das décadas de 1960 e 1970. As obras
New Feminist Essays on Virginia Woolf (1981), de Jane Marcus, e Virginia Woolf and Post
Modernism (1991), de Pamela Caughie, são destaques nos estudos contemporâneos dessas
críticas feministas que se ocuparam em examinar a arte e crítica literárias da autora britânica.
A escritora inglesa é apontada atualmente por feministas como sendo criadora da
“crítica literária feminista”, isto, considerando as profícuas publicações A Room of One´s Own
(1929) e Three Guineas (1938). Sobre esse argumento, Harold Bloom considerou
impraticável atribuir às obras supracitadas um caráter eminentemente político ou academicista
aos escritos de Woolf, e expôs:
Seu feminismo (para chamá-lo assim) é poderoso e permanente precisamente
por ser menos uma ideia ou compósito de ideias e mais um formidável
apanhado de percepções e sensações. Discutir com elas é sofrer derrota: o
que ela percebe e experimenta com sua sensibilidade é mais sutilmente
organizado que qualquer resposta que eu possa invocar (BLOOM, 1995,
p.417).
Na conceituada biografia da autora Virginia Woolf: A Biography (1974), escrita por seu
sobrinho Quentin Bell, este revelara que Woolf não era marxista nem mesmo feminista, o que
defendia Bloom ao considerar o processo de criação da autora: “A realidade para ela tremula e
oscila a cada nova percepção e sensação, e as ideias são sombras que ladeiam seus momentos
privilegiados” (p.417).
22
A escritora se opunha ao ativismo político organizado pelas militantes feministas, de
forma que, as personagens Evelyn Murgatroyd, em The Voyage Out (1915), Mary Datchet em
Night and Day (1919), Julia Hedge em Jacob’s Room (1922), e Peggy em The Years (1937),
representariam uma caricatura dessas militantes, para Woolf, inoportunas. Preconiza-se
inclusive uma rejeição por parte da autora para com os textos ditos “feministas” os quais
Woolf recriminava alguns preceitos, demostrando assim certa aversão a essas militantes.
No livro de ensaios, no entanto, Woolf faz referência ao feminismo. Ao externar certo
inconformismo, ela exalta sua importância quando diz: “Doubtless Elizabethan literature
would have been very different from what it is if the women’s movement had begun in the
sixteenth century and not in the nineteenth.” 9
Ela relatava nesse interim a posição de
superioridade que o homem defendia de forma constrangedora sobre as mulheres no século
XVI e que, de maneira alguma, concebia a ideia de ascensão do sexo oposto.
John Burt (1982) defendeu que Virginia Woolf centralizara a construção de seu livro no
ideário feminista, uma vez que combateu os preceitos de opressão e domínio patriarcalistas. E
mais além, atentou para a constituição da alteridade feminina. Assim escreveu Burt: “(...) A
Room of One´s Own, contudo, não é uma argumentação, mas, como proclama Virginia nas
páginas de abertura, um retrato de como uma mente tenta chegar a termos com o seu mundo”
(BURT apud BLOOM, 1995, p.418-419).
A crítica feminista nasceu da necessidade conceitual de se estabelecer uma análise na
esfera da produção de autoria feminina, bem como para combater o establishment cultural
dominante que predominava na constituição androcêntrica de textos canônicos. Nesse
aspecto, é demasiado relevante a escrita feminista que se propôs a (re)significar a
historiografia concebendo o desencadear da mulher como símbolo. Bonnici (2007, p.230)
ressalta que “A literatura e a representação da mulher na literatura e a linguagem são
interdependentes, sendo esta última moldadora da literatura”.
Na visão crítico-teórica de Kristeva (1986), cujos estudos influenciaram principalmente
a crítica literária feminista, a literatura feminina precisava resistir aos códigos linguísticos
patriarcais, pois a rigidez em suas estruturas procurava dominar a mente e linguagem
femininas. Era um grande desafio para as mulheres expressarem-se livremente, e a poesia e a
criatividade enquanto escritura não deveriam ser contidas, nem os impulsos mais profundos
do ego feminino, nesse caso.
9
“Sem dúvida, a literatura elisabetana teria sido muito diferente do que é se o movimento feminista tivesse
começado no século XVI e não no XIX.” (p.123-124).
23
A produção cultural feminina e pensada pela crítica feminista — em vistas de um apelo
linguístico simbólico — encontra em A Room of One´s Own, de Virginia Woolf, qualificação
enquanto representação para o discurso feminista. A frase a qual Woolf centralizou a atenção
para a condição das escritoras emergentes “A woman must have money and a room of her own
if she is to write fiction” 10
pontua os diálogos da autora ao longo de suas observações
proferidas nas universidade inglesas.
Sendo alheio ou não conceber a Virginia Woolf o status de feminista, o fato é que ao
interceder pelas mulheres, sua militância se dá no terreno da estética e por intermédio de uma
crítica empedernida de humanismo. Uma vez que se expõe e subjuga a condição de
inferioridade e prostração a que muitas mulheres eram submetidas, o fez para incitá-las a um
enfrentamento de suas fatalidades e para conceberem uma nova visão do feminino. Virginia
Woolf ao pronunciar-se às mulheres britânicas, verdadeiramente ansiava por uma revolução
social que distinguisse o papel preponderante da mulher na civilização.
2.2 A ESCRITA FICCIONISTA FEMININA
A escritora britânica Virginia Woolf cedo descobriu o universo da leitura. Seu pai Leslie
Stephen, que era escritor, dedicava-lhe tempo e atenção, posto que não veio ela a cursar uma
universidade. Esse fato a teria tornado uma leitora compulsiva desde então.
Harold Bloom (1995), ao elogiar a dedicada inclinação para a leitura e a cultura
livresca da escritora modernista, exalta sua sensibilidade e pessoalidade estética afirmando ter
sido Woolf “a mais completa pessoa-das-letras da Inglaterra no nosso século” (p.415).
Virginia Woolf esteve ligada em sua juventude a um recluso grupo de intelectuais
chamado Bloomsbury, responsável em parte por sua formação cultural. Também se
encontrava ligada às questões estéticas modernistas do grupo por grau de parentesco com
Clive Bell e por sua amizade com Roger Fry, mas até então ainda não escrevia ficção.
Sua atividade como crítica antecedeu a de romancista, em 1905 passa a publicar artigos
para o The Times Literary Suplement, tendo escrito ao longo de sua trajetória mais de
quinhentos ensaios e artigos, veiculados também em outros periódicos, onde prevalecia a
especialidade dialógica da autora ao dirigir-se ao público leitor.
10
“Uma mulher deve antes possuir dinheiro e casa própria se quiser escrever ficção” (p.8). A frase surgiu de um
polêmico ensaio intitulado Woman in Fiction escrito por Virginia Woolf.
24
A escritora casa-se com Leonardo Woolf em 1912, e juntos fundam uma editora em
1917, a Hogarth Press, que revelara nomes importantes para a literatura como Katherine
Mansfield e T.S. Eliot e publicara escritos psicanalíticos de Sigmund Freud.
O primeiro romance escrito de Virginia Woolf foi The Voyage Out (1915) representava
o anseio de uma geração, pois revelava o desejo de emancipação de uma mulher que deixa o
lar comum, o seio familiar, em busca de outra vida que acreditava ser plena para si. A
consagrada autora é um exemplo de consorte intelectiva que veio a transgredir o universo
equidistante entre o ser mulher usufruto da natureza, rendida ao lar e ao marido, para um
contexto de classe sublime capaz de tornar-se incandescente e elevar-se na esfera social.
A criação literária, uma vez que absorve um mundo de possibilidades do real, tem o
poder enquanto representação de incutir ideias, comportamentos, ditar valores, propor
saberes, interferir no social. Woolf declarou sobre a criação: “If one shuts one’s eyes and
thinks of the novel as a whole, it would seem to be a creation owning a certain looking-glass
likeness to life, though of course with simplifications and distortions innumerable.” 11
A ficção literária em certa medida está intercalada na cultura vigente, no construto
histórico, político ou ideológico, mesmo que essa cultura não aponte um modelo de
representação para o fato social, nesse evento, a condição feminina. O que ocorrera
especialmente na situação das mulheres é que elas não eram reconhecidas pela cultura,
percebidas pela doxa patriarcal como seres naturalmente invariáveis.
Woolf inicia a discussão sobre “Mulher e Ficção” em resposta às estudantes fazendo sua
defesa pessoal diante da impossibilidade de um desfecho para suas próprias indagações ao
dizer: “One can only give one’s audience the chance of drawing their own conclusions as
they observe the limitations, the prejudices, the idiosyncrasies of the speaker”.12
Porém,
munida de argumentos, propôs provar sua tese de que as mulheres precisam de um teto e
dinheiro próprios para tornarem-se escritoras.
Virginia Woolf usou de intuição e mesura em sua argumentação, e constatou que o
número de mulheres que escreviam ficção era inferior ao dos homens porém não devido a um
demérito, mas por conta de um silenciamento histórico intimamente ligado à pobreza das
mulheres.
11
“Quando se fecham os olhos e se pensa no romance como um todo, ele se afigura como uma criação dotada de
certa semelhança especular com a vida, embora, é claro, com inumeráveis simplificações e distorções” (p.88-89).
12
“Pode-se apenas dar à plateia a oportunidade de tirar as próprias conclusões, enquanto observa as limitações,
os preconceitos e as idiossincrasias do orador” (p.8).
25
Engels aponta em sua obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado
(1884),13
que com o surgimento do patriarcado dá-se início também ao processo de produção
que admitiria a derrota das mulheres enquanto classe justamente porque as atribuições do
homem, gerador de produção, eram enaltecidas e ao trabalho caseiro da mulher não se
ajuizava valor algum. Com isso, para que a libertação feminina ocorresse a mulher teria de
prosperar economicamente:
A emancipação da mulher e sua equiparação ao homem são e continuarão
sendo impossíveis, enquanto ela permanecer excluída do trabalho produtivo
social e confinada ao trabalho doméstico, que é um trabalho privado. A
emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em
grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico
lhe toma apenas um tempo insignificante (ENGELS, 1884, p.58).
No intuito de construir uma argumentação para o fato das mulheres e a ficção escrita
por elas e sobre as mesmas, Virginia Woolf vai a Oxbridge 14
visitar o Museu Britânico.
Munida de lápis e um bloco de notas, escolhe aleatoriamente alguns livros. Há nesse instante
uma profunda consternação por parte da mesma ao perceber o quanto a historiografia
silenciou muitas mulheres, negando-lhes a oportunidade de serem incluídas no cânone
literário, e esboçando indignação constata: “Have you any notion of how many books are
written about women in the course of one year? Have you any notion how many are written
by men? Are you aware that you are, perhaps, the most discussed animal in the universe?” 15
Virginia Woolf não fez valer a sua pena placidamente e os seus louros, segundo ela , se
deviam ao talento único que lhe negaria a própria existência, caso não o tivesse perseguido.
Com certa intrepidez, ela traduz um belo exemplo de constância ao revelar como sustentou o
seu labor. Antes de 1918 algumas das atividades que eram atribuídas às mulheres lhe rendiam
pouco dinheiro e eram penosas, sendo que ela mesma teve de sacrificar-se. Woolf além de
escrever para jornais realizou alguns serviços, como enviar cartas, produzir flores artificiais e
ler para anciãs.
O fato de ter ela angariado de sua tia Mary Bethon a quantia de quinhentas libras ao ano
como herança e, por toda vida, trazia-lhe amparo, como evidencia: “No force in the world can
take from me my five hundred pounds. Food, house and clothing are mine forever. Therefore
13
Título original em alemão: Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats. A obra escrita por
Engels aponta a crescente materialidade da civilização e o momento em que se estabelece o Estado.
14
Nome fictício de uma universidade, que seria uma fusão das Universidades de Oxford e Cambridge.
15
“Têm vocês alguma noção de quantos livros são escritos sobre as mulheres em um ano? Têm alguma noção de
quantos são escritos por homens? Estão cientes de ser, talvez, o animal mais discutido do universo?” (p.34).
26
not merely do effort and labour cease, but also hatred and bitterness.” 16
Ela reconhecia,
assim, a necessidade dos esforços de muitas mulheres de classe média e trabalhadoras em
obter dinheiro para escrever romances.
Ao constatar a inexistência de escritoras ficcionistas no século XVI na historiografia de
Londres, Virginia Woolf meditava na ideia de que uma mulher nesse período, que certamente
vivera um contexto traumático, quer uma poetisa ou dramaturga, somente conseguiria
escrever textos impregnados de um caráter desvirtuado. A escritora britânica revela ainda que
no século XIX a “castidade” relacionada à autoria de mulheres fez com que escritoras como
Charlotte Brontë e George Eliot e tantas outras usassem de pseudônimos masculinos para
assim terem os seus textos apreciados, como supôs Woolf:
Talvez não tenha sido apenas na intenção de receber críticas imparciais que
George Eliot e Miss Brontë adotaram pseudônimos masculinos: talvez
quisessem libertar a própria consciência, enquanto escreviam, das
expectativas tirânicas em relação ao seu sexo (WOOLF, 2013,p.28).
Em fins do século XVIII é que se origina uma escrita de mulheres de classe média
inclinadas a produzir literatura, episódio esse que teria significado para Virginia Woolf um
fato histórico mais esplendoroso que As Cruzadas ou A Guerra das Rosas. Ela consagra,
através de suas conjecturas, a acuidade de obras femininas como Pride and Prejudice (1813),
de Jane Austen e Wuthering Heights (1850), da autora Emily Brontë 17
. Woolf atribuiu à Jane
Austen e às irmãs Brontë e ainda a George Eliot o título de predecessoras, que anonimamente
ou não desbravaram um terreno homérico até então masculino.
The extreme activity of mind which showed itself in the later eighteenth
century among women — the talking, and the meeting, the writing of essays
on Shakespeare, the translating of the classics — was founded on the solid
fact that women could make money by writing (WOOLF, 1928).18
Virginia Woolf acreditava numa conjuração que forjava a ideia de que a mulher
determinada a escrever se expunha ao grotesco ou ao infortúnio. Aphra Behn, escritora
inglesa, é lembrada por Woolf como lendária: “(...) it was she who earned them the right to
16
“Nenhuma força no mundo pode arrancar-me minhas quinhentas libras. Comida, casa e roupas são minhas
para sempre. Assim, cessam não apenas o esforço e o trabalho árduo, mas também o ódio e a amargura” (p.48).
17
Wuthering Heights, versão consagrada em português como “O Morro dos Ventos Uivantes”, é um clássico da
literatura universal. Emily Brontë, escritora britânica, adotou o pseudônimo masculino Ellis Bell ao escrever a
referida obra. Charlotte Brontë usara o pseudônimo Currer Bell. O nome verdadeiro de George Eliot era Marian
Evans.
18
“A extrema atividade mental que se revelou entre as mulheres no final do século XVIII — as conversas, as
reuniões, a redação de ensaios sobre Shakespeare, a tradução dos clássicos — baseou-se no sólido fato de que as
mulheres podiam ganhar dinheiro escrevendo” (p.81-82).
27
speak their minds. It is she — shady and amorous as she was. — who makes it not quite
fantastic for me to say to you tonight: Earn five hundred a year by your wits”.19
Behn fora
uma senhora de classe média que, acometida de circunstâncias aterradoras, precisou competir
igualitariamente com homens e, através de sua escrita, custeou a própria existência.
Woolf apregoava a ideia de que a liberdade intelectual está ligada ao material, e que
escrever poesia, por exemplo, ou ficção — como mostra do intelecto de muitas mulheres — se
tornaria impossível sem que angariassem dinheiro. As “quinhentas libras” que menciona
certamente faz ligação com a quantia que lhe foi assegurada por sua tia Mary Bethon, esse
valor expresso se concilia ao tema da obra. São as duas condições propostas por Woolf para
as mulheres tornarem-se literatas: ter “dinheiro” e “um teto próprios”.
Fica evidenciada a materialidade imperiosa a que Woolf pré-estabelecia para que
mulheres escrevessem ao revelar em certos momentos a substanciosa valia das quinhentas
libras: “(...) five hundred a year stands for the power to contemplate, that a lock on the door
means the power to think for oneself. ” 20
Ao referir-se à romancista Mary Carmichael : “(…)
if she has a room to herself, of which I am not quite sure; if she has five hundred a year of her
own — but that remains to be proved — then I think that something of great importance has
happened” 21
.
Virginia Woolf encontra no século XIX prateleiras com obras escritas exclusivamente
por mulheres. Ela prossegue a apreciar livros de algumas autoras, e exortar a respeito delas,
de suas grafias e o percurso que empreenderam para tornarem-se romancistas. No início do
século a chamada “sala de estar” ou “sala de visita” era o lugar comum das famílias de classe
média, onde se estabeleciam as relações, cunhando assim a sensibilidade para com a qual
mulheres passaram a escrever. A escrita feminina se estabelecia ao nível das relações íntimas,
da observância do caráter, no quotidiano ainda corriqueiro de muitas mulheres limitadas às
regras do lar e das aparências.
Woolf apontara que Jane Austen (1775-1817) quando começara a escrever, temia que
seus escritos fossem descobertos, logo, este ofício. Sendo assim, a falta de liberdade para
19
“(...), pois foi ela quem lhes assegurou o direito de dizerem o que pensam”. É ela — por mais suspeita e
sensual que tenha sido — que me faz parecer não muito fantástico o que vou dizer-lhes esta noite: "Ganhem
quinhentas libras anuais com sua inteligência” (p.82-83).
20
“(...) quinhentas libras por ano representam o poder de contemplar, e de que a fechadura da porta significa o
poder de pensar por si mesma” (p.130).
21
“(...) se ela tiver um quarto próprio, coisa de que não estou bem certa; se tiver suas próprias quinhentas libras
anuais — mas isso ainda fica por comprovar —, penso, então, que algo de grande importância aconteceu” (p.
104).
28
expressar-se — e a exclusividade de um quarto próprio — certamente deveria lhe ter imposto
algum constrangimento. O ato de compor se assemelhava a ideia de uma infração, devia ser
sigiloso. Woolf meditara:
Indeed, since freedom and fullness of expression are of the essence of the
art, such a lack of tradition, such a scarcity and inadequacy of tools, must
have told enormously upon the writing of women (…) And this shape too
has been made by men out of their own needs for their own uses (WOOLF
1928).22
Mesmo tendo encontrado — já nas primeiras décadas do século XX — escritores vivos
entre homens e mulheres com um número de publicações equiparáveis, fica evidente a
insatisfação da autora para com a contemplação do seu próprio sexo. Para além das
perspectivas apontadas, a ensaísta ponderava principalmente na falta de liberdade que
transgrediu muito da falácia feminina, atingindo a integridade de muitas literatas ou aspirantes
em potencial.
2.3 GÊNERO, SEXISMO E ANDROGINIA
O conceito que se estabelece entre os gêneros masculino e feminino nas sociedades
patriarcais, além de conceber o valor que os repartem, revela uma hierarquia de submissão do
“sexo frágil”: a mulher em posição inferior ao homem. Sendo assim, é possível compreender
a construção da “natureza” da mulher ao longo do tempo sendo alheia à cultura e às relações
de poder, que de modo discrepantes forjaram o triunfo do sexo masculino. Até mesmo a
sexualidade é comprometida em detrimento do patriarcalismo, que legitimou “o controle da
sexualidade, dos corpos”, a autonomia do homem sobre a mulher na relação conjugal
(MILLET, 1970; SCOTT, 1995).
Woolf declarara : “Hence the enormous importance to a patriarch who has to conquer,
who has to rule, of feeling that great numbers of people, half the human race indeed, are by
nature inferior to himself. It must indeed be one of the chief sources of his power.” 23
Ela
discutia assim que a liberdade conferida aos homens permitira a muitos destes um exercício
inalienável de seu poder.
22
“De fato, uma vez que a liberdade e a plenitude de expressão são da essência da arte, essa falta de tradição,
essa escassez e inadequação dos instrumentos devem ter afetado enormemente os escritos das mulheres (...). E
também essa forma foi feita pelos homens a partir das próprias necessidades e para as próprias aplicações”
(p.95).
23
“Daí a enorme importância para um patriarca que tem que conquistar, que tem que dominar, de sentir que um
grande número de pessoas, a rigor, metade da raça humana lhe é por natureza inferior. De fato, essa deve ser
uma das principais fontes de seu poder” (p.44).
29
Virginia Woolf em seu livro ensaístico reconhece o papel centralizador da figura
masculina, porém sua repulsa ao sexismo se devia muito mais a conceitos de ordem
humanística e reformadora que um apelo puramente feminista. Ao expor a opinião de homens
sobre mulheres, Woolf mostra o despropósito de suas convicções misantrópicas em certos
momentos, a ignomínia com que ultrajaram a imagem feminina causada por especulações
pérfidas dirigidas às mulheres em todas as épocas.
Napoleon thought them incapable. Dr. Johnson thought the opposite. Have
they souls or have they not souls? Some savages say they have none. Others,
on the contrary, maintain that women are half divine and worship them on
that account. Some sages hold that they are shallower in the brain; others
that they are deeper in the consciousness. Goethe honoured them; Mussolini
despises them. Wherever one looked men thought about women and thought
differently (WOOLF, 1928).24
Woolf faz referência ao Sr. Oscar Browning, uma imponente figura da Universidade de
Cambridge, cujo tirocínio era proferir a supremacia do macho. A autora britânica ressaltara
que no século XIX a visão misógina que se opunha às mulheres no culto ao saber ainda
prevalecia nos idos de 1928. Sob a forma de um preconceito que persistia na lógica da
inferioridade intelectual das mulheres, a autora calculara desse modo o agravo com que se
configurou “a essência de ser mulher”.
For here again we come within range of that very interesting and obscure
masculine complex which has had so much influence upon the woman’s
movement; that deep seated desire, not so much that she shall be inferior as
that he shall be superior, which plants him wherever one looks, not only in
front of the arts, but barring the way to politics too (...) (WOOLF, 1928).25
Outro ponto categórico — dessa vez envolvendo o ato de criação e a pessoa de um
bispo — Woolf rememorara sua colocação machista de que a mulher não poderia escrever
uma obra de ficção proeminente. O dito bispo afirmara que uma dona jamais seria concebida
com um gênio igualável ao de Shakespeare.26
Virginia Woolf corroborava com o de fato de
24
“Napoleão as considerava incapazes. O Dr. Johnson pensava o oposto. Elas têm ou não têm alma? Alguns
selvagens afirmam que não. Outros, ao contrário, sustentam que as mulheres são semidivinas e adoram-nas em
função disso. Alguns sábios asseguram que elas são mais vazias de cabeça; outros, que têm uma consciência
mais profunda. Goethe exaltou-as; Mussolini despreza-as. Para onde quer que se olhasse, os homens pensavam
nas mulheres, e pensavam diferentemente” (p.38-39).
25
“Pois aí, mais uma vez, entramos no âmbito daquele complexo masculino muito interessante e obscuro que
teve tanta influência no movimento feminista, daquele desejo arraigado não tanto de que ela seja inferior, mas de
que ele seja superior, o que o coloca, para onde quer que se olhe, não apenas na dianteira das artes, mas barrando
também o caminho da política, (...)” (p.68-69).
26
William Shakespeare (1564-1616) foi um poeta, escritor e dramaturgo inglês, cuja obra é constantemente
revisitada pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Em seu livro Western Canon (1994), Harold Bloom declara:
30
que mulher alguma atingiria o talento de William Shakespeare, mas explicara: àquela época e
contexto. Ficou conhecido um ditado inglês que apregoou a superioridade intelectual do
homem, ao comparar o cérebro masculino de 1,60 kg ao da mulher, que sistematicamente
seria de 1,22 kg.
Em contraponto, crendo na possibilidade de uma mente feminina proativa para as artes,
Woolf dá vida a uma personagem de nome Judith que ela projetara como sendo uma fictícia
irmã de Shakespeare. Judith intuitivamente teria sido tomada pelo crescente desejo de compor
ou atuar, mas nem mesmo frequentara uma escola como o irmão, porque caberia a ela
aprender as regras do lar, as providências de uma casa, atributos de uma fêmea que desde
cedo cultivara sua designação. A personagem suicidara-se, como induziu, diante da
impossibilidade realizável de sua aspiração: “(...) who shall measure the heat and violence of
the poet’s heart when caught and tangled in a woman’s body? (…)” 27
.Woolf, com a
metáfora construída com Judith alertava às mulheres que nunca desistissem de suas
pretensões na vida, por mais arbitrárias que fossem as circunstâncias.
Virginia Woolf ao assimilar a projeção da mulher com o dobro do perfil masculino,
associada à imagem refletida no espelho, apregoava a necessidade vital da existência das
mulheres, com a qual justificava o próprio sucesso do homem. Ela ilustrara assim a razão de
homens poderosos declararem-se autossuficientes e ignorarem as críticas femininas. Ela disse
de modo inflamado: “I need not hate any man; he cannot hurt me. I need not flatter any man;
he has nothing to give me” 28
, como se confessasse a si própria que sua dignidade não
dependia das atribuições do sexo oposto.
A relação entre gêneros, para Virginia Woolf, no que concerne à natureza de cada ser
não lhe sugeria uma divisão peremptória, pelo contrário, ela os qualificara em certo momento
como “criaturas da ilusão” (2004, p.41), ao compreender o aspecto do humano como dotado
de ardores e anseios, sem distinção. Em sua visão: “It would be a thousand pities if women
wrote like men, or lived like men, or looked like men, for if two sexes are quite inadequate,
“Ele é o cânone secular, ou mesmo a escritura secular; para fins canônicos, antepassados e herdeiros igualmente
são definidos apenas por ele” (p.32).
27
“(...) quem pode medir o fogo e a violência do coração do poeta quando capturado e enredado num corpo de
mulher? (...)” (p.61).
28
“Não preciso odiar homem algum: ele não pode ferir-me. Não preciso bajular homem algum: ele nada tem a
dar-me.” (p.48).
31
considering the vastness and variety of the world, how should we manage with one only?”29
Fica subentendida a ideia de conciliação entre as partes pela autora, ao fazer um juízo de valor
à condição humana.
O que se deve considerar ainda é que, ao escrever, as mulheres o faziam não
necessariamente diferente dos homens, mas o universo que compunha o seu discurso pré-
estabelecia inevitavelmente uma correspondência à ideologia feminina na constituição de
gender.
Como artista, defendia a visão da androginia da mente cujo espírito criativo não faz
distinção de gênero, senão do teor artístico nato ao ser humano. Bonicci (2007, p.268) fala a
esse respeito: “O conceito de androginia de Woolf (a rejeição da dicotomia essencialista entre
o masculino e o feminino) não é uma fuga de identidades fixas do gênero, mas a percepção da
enganadora natureza essencialista das identidades”.
A autora concordava com Coleridge de que a mente criativa estaria em um homem
mais feminino e uma mulher mais masculina, como interpretara: “He meant, perhaps, that the
androgynous mind is resonant and porous; that it transmits emotion without impediment; that
it is naturally creative, incandescent and undivided”.30
Virginia Woolf fez ainda referência a
outros autores que demonstrara serem andróginos, a exemplo de Shakespeare.
Woolf é considerada pioneira na vertente que estabelece o conceito de “descentramento
do sujeito autoral” (MOI, 1988) 31
. A postura dualista de Virginia Woolf — e que se fez
presente em sua palestra proferida em Cambridge — aclamou o seu discurso frente à
constituição da metafísica ocidental anos mais tarde. Esse dualismo se dá na abordagem que a
autora faz sobre o próprio sexo e por permitir que as “verdades” ali expostas passem pelo
crivo do público, ou seja, este se torna coparticipe de uma análise na qual cada um faz sua
própria leitura.
Moi (2002, p.9) assim destacou: “Através da exploração consciente da natureza sensual
e lúdica da linguagem, Woolf rejeita o essencialismo matafísico subjacente à ideologia
patriarcal, que apela a Deus, o pai ou o falo como o significado transcendental”. Por volta da
década de 70, esse tipo de discurso seria chamado de “desconstrucionista”.
29
“Seria mil vezes lastimável se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como os homens, ou se
parecessem com os homens, pois se dois sexos são bem insuficientes, considerando-se a vastidão e a variedade
do mundo, como nos arranjaríamos com apenas um?” (p.109).
30
“Ele quis dizer, quem sabe, que a mente andrógina é ressoante e porosa; que transmite emoções sem
empecilhos; que é naturalmente criativa, incandescente e indivisa” (p. 121).
31
MOI, Toril. Sexual/Textual politics: feminist literary theory. Trad. Amaia Bárcena. Madri: Cátedra, 1988, p.
15-32.
32
3 O LÓCUS FEMININO EM SOCIEDADE
O capítulo que segue trará alguns aspectos da educação da mulher inglesa e sua
compleição em sociedade, interacionando o pensamento crítico de Virginia Woolf com
respeito à presença das mulheres nas universidades e o próprio sistema educacional inglês.
Esse recorte ainda apresentará a postura da autora inglesa concernente ao discurso de
1928 e o lugar da mulher enquanto gender numa projeção futura. Também serão observadas
meditações acerca de sua visão analítica que, já fazia repercutir naquele século a emancipação
das sociedades, abrangendo as artes, a cultura e o próprio ser humano.
3.1 A EDUCAÇÃO DA MULHER BRITÂNICA
A necessidade de se manter a moralidade acentuada na observância do lar, da família
enquanto “instituição universal”, em vista de uma sociedade tecnologizada no século XIX —
o elo progresso e moral, trunfos do governo da rainha Vitória — fez notória uma reflexão
sobre a educação da mulher britânica.
Segue-se que a mulher que ousava cultivar sua inteligência e escolaridade
além do desempenho da sala de estar estava violando a natureza e a tradição
religiosa. As mulheres eram avaliadas conforme as características
“inerentes” a seu sexo, ou seja, a ternura, a inocência, o amor ao lar e a
submissão (BONICCI, 2007, p.219).
Para assegurar a harmonia e a contenção dos valores no ambiente doméstico das
famílias de classe média e alta, surge uma especial função para algumas mulheres inspiradas
em virtudes especiais, sendo estas denominadas “anjos do lar”. A “preceptora” ou “anjo do
lar” seria desse modo diretamente responsável pela formação da mulher inglesa, tanto moral
quanto cultural.
Em vistas de paginar e cultuar valores de uma lady, uma senhorita vitoriana deveria
esforçar-se por alcançar afirmação na vitrine social, e isto incluía ser educada
convencionalmente em seu próprio lar.
Uma lady deveria ostentar determinados accomplishments, que incluiriam:
falar francês (e, se possível, italiano), tocar piano, dançar e mostrar
proficiência no trabalho com a agulha. O problema seria como e onde a
mulher adquiriria tais accomplishments. As mulheres da alta classe media já
não queriam ou não podiam ensinar seus próprios filhos, pois isto poderia
comprometer o status de que gozavam e, além disso, nem sempre estavam
suficientemente preparadas para fazer um syllabus elaborado. A solução
imediatamente encontrada foi recorrer aos pensionatos de moda, cuja tarefa
precípua era revestir a mulher de certo verniz cultural. (MONTEIRO, 1999,
p.157)
33
A preceptora era escolhida quase sempre por ser membro da família em certo grau ou
indicada por alguém ligado ao clérigo. Sua função vital era educar os filhos da aristocracia no
trato aos valares morais e sociais. Com referência aos cuidados com as jovens pupilas,
precisava fazer-lhes a observância de itens tais quais “sentimentos mais finos, em vez de
tópicos viris das disciplinas acadêmicas” (EAGLETON, 1989, p.28).
Embora recebendo uma remuneração que para a época não condizia com o alto preço
de seus atributos, a realidade para uma jovem solteira e sem instrução era ainda pior, se se
estabelecesse como operária, tarefa ainda mais rígida. Uma vez que a legislação inglesa não
reconhecia a profissão de preceptora com litígio — tendo a sua dedicação estimável valor
social, — configurava uma expropriação do trabalho dessas senhoritas.
A preceptora particular não tem existência, não é considerada ser vivo e
racional, exceto em relação aos deveres enfadonhos e cansativos que tem
que cumprir. Enquanto está ensinando, trabalhando e divertindo as crianças,
tudo bem, mas se rouba momentos para ela, torna-se incômoda (BRONTË
apud GLASKELL, 1975, p. 187-188).
A escola St. Mary´s Hall, fundada pelo reverendo Henry Elliot em 1836, visava preparar
preceptoras para atuarem nas casas de família da alta e média burguesia. Existia uma
preocupação excessiva com os hábitos das preceptoras, pois quando as filhas de comerciantes
começam a engessar a função, os moralistas temiam essa influência e o risco de desvirtuação
do papel do anjo do lar.
Já por volta de 1890, muitas mulheres dentre estas ex-preceptoras, estavam
enquadrando a atividade docente nas escolas onde moças em torno dos 15 anos podiam
frequentar aulas. Na fase seguinte, estariam aos cuidados de uma preceptora. Com isso, os
atributos para a preceptora tornaram-se ainda mais rigorosos e, para a formação de uma lady
as perspectivas deveriam ser ampliadas para além de um ornamento ou manual. As
preceptoras cada dia mais precisavam demonstrar capacidade, e em alguns casos era exigida
certificação do Queen´s College ou do Junior e Senior Local University, escolas de prestígio
na época.
De fato a missão para uma senhora inglesa era aperfeiçoar os seus talentos enquanto
“anjo do lar”, e resignadamente cultivar qualidades intrínsecas para uma dama. Esse episódio
era repugnante para escritora britânica, pois: “Escrever constituía uma rebeldia que exigia
subterfúgios e bajulações. Portanto, a morte do “anjo do lar” é necessária e, para que isso
aconteça, Woolf insiste na educação das mulheres e dos homens” (BONNICI, 2007, p.269).
A escritora Virginia Woolf lamentara o fato de não ter cursado uma faculdade. Por sua
vez, fez críticas severas ao tratamento dado à educação de mulheres nas universidades
34
britânicas, e mesmo apontou o fato de uma universidade masculina como Oxbridge ser de alto
padrão, enquanto Fernham, uma faculdade essencialmente para mulheres, ser tão carente. O
descaso com que era vista a educação feminina e até o tratamento dado às mulheres em uma
universidade como Oxbridge, fez a autora inglesa indignar-se, pois, dentre outras razões
apontadas, estava o fato de uma senhorita somente ser admitida ali com uma carta de
apresentação ou na companhia de um fellow32
se, como fez a autora, desejasse visitar a
biblioteca. Não poderiam inclusive, como observou Woolf, pisar no gramado onde somente
os rapazes que lá estudavam possuíam acesso.
Em momentos em que a autora britânica fala diretamente às estudantes e aspirantes
escritoras, ela procura adverti-las de colocações misóginas tais quais a do Sr. Browning que
admitia a inferioridade intelectual das mulheres como algo fatídico, e ressalva a colocação do
Sr. John Langdon Davies quanto ao fato de as mulheres em um dado instante serem
“desnecessárias” 33
.
Com temperada liderança, exortou a respeito da condição das mulheres e os privilégios
que se lhe apresentavam a partir de então, os quais muitas ainda não acordavam ou
despretensiosamente atentavam. Woolf revelou que já em 1866 algumas universidades
estavam abertas para as mulheres na Inglaterra.
May I also remind you that most of the professions have been open to you
for close on ten years now? When you reflect upon these immense privileges
and the length of time during which they have been enjoyed, and the fact that
there must be at this moment some two thousand women capable of earning
over five hundred a year in one way or another, you will agree that the
excuse of lack of opportunity, training, encouragement, leisure and money
no longer holds good (WOOLF, 1928). 34
Além de também alertar as jovens no discurso de seu tempo até mesmo sobre a
condição de terem filhos — cuja incidência não deveria superar o número três — Woolf
refletira intelectualmente sobre a condição social e educacional da Inglaterra através de sua
conjuntura histórica. Ela trouxe uma consistente arguição na qual dizia que os povos foram
compelidos pelo destino de forma que não seriam responsáveis por falhas construídas na
32
Fellows são estudantes de cursos de pós-graduação admitidos pela Fellowships, fundação que os ancoram à
universidade onde estes, por vezes, costumam residir.
33
John Langdon Davies, que era um repórter, escrevera: "(...) quando as crianças deixam de ser inteiramente
desejáveis, as mulheres deixam de ser inteiramente necessárias (...)” (p.136)
34
“Será que posso também lembrar-lhes que a maioria das profissões está aberta a vocês há quase dez anos?
Quando refletirem sobre esses imensos privilégios, a extensão de tempo em que eles vêm sendo desfrutados e o
fato de que deve haver, neste momento, umas duas mil mulheres capazes de ganhar mais de quinhentas libras por
ano de um modo ou de outro, vocês hão de concordar em que a desculpa da falta de oportunidade, formação,
incentivo, lazer e dinheiro já não se aplica” (p.137).
35
arregimentação dos líderes, e defende a estes dizendo: “They too, the patriarchs, the
professors, had endless difficulties, terrible drawbacks to contend with” 35
justificando o
próprio ensino e o de muitos como consequência de uma carência pré-existente.
3.2 A EMANCIPAÇÃO FEMININA
O discurso é um ato enunciativo que tem na fala do locutor a finalidade de impactar um
público específico, embora não tendo a primazia de elucidar constatações em seu direito de
apresentar-se como tal 36
. O livro de Virginia Woolf se baseia em duas aulas proferidas pela
autora em Newham e em Girton College (duas faculdades para mulheres na Universidade de
Cambridge). Trata-se de um longo ensaio escrito dois dias antes de sua audição. A escritora e
crítica literária, através de seu “discurso feminista” em A Room of a One´s Own (1929),
direcionava-se às leitoras, escritoras e ouvintes senhoras da Universidade de Cambridge,
posicionando-se, dessa forma, como porta voz das mulheres ocidentais.
A construção da categoria “mulher” inclui discursos de diferentes origens
sociais, como o literário, o científico, o religioso, os diversos discursos de
senso comum e também discursos de diferentes orientações ideológicas,
desde os mais conservadores aos mais progressistas, incluídos aqueles
produzidos pelo feminismo (TEXEIRA, 2009, p.90).
A ensaísta ressaltara que, em se tratando do tema mulher e literatura não chegaria um
consenso, pois ao exaltar que a própria condição do gênero é um assunto “altamente
desenvolvido” e “infinitamente intrincado”, dada a complexidade e ao tratamento necessário
aos assuntos do sexo, contraria a própria verbalização a não chegar a exposições resolutas.
Virginia Woolf, usando de certa ironia com a sutil constatação “The history of men’s
opposition to women’s emancipation is more interesting perhaps than the story of that
emancipation itself” 37
, referia-se à faceta de alguns homens que tentaram estrategicamente
estagnar a emancipação feminina. E, desse modo, sugeria que as alunas das faculdades em
Cambridge pudessem comprovar essa teoria.
There would always have been that assertion — you cannot do this, you are
incapable of doing that — to protest against, to overcome. Probably for a
novelist this germ is no longer of much effect; for there have been women
novelists of merit. But for painters it must still have some sting in it; and for
35
“Também eles, os patriarcas, os professores, tiveram dificuldades infindáveis, terríveis obstáculos contra o que
lutar” (p.48).
36
MAINGUENEAU, Dominique. Discurso Literário. São Paulo: Contexto, 2006, p.35-45.
37
“A história da oposição dos homens à emancipação das mulheres talvez seja mais interessante do que a
história da própria emancipação” (p.69).
36
musicians, I imagine, is even now active and poisonous in the extreme
(WOOLF, 1928) 38
.
Ao passo que discute a condição feminina, já em 1928, a autora observa que em amplos
setores da sociedade: educação, política, comércio, dentre outros, as mulheres não se
encontravam. Poucas alcançaram como status uma graduação na universidade. Para Virginia
Woolf, por sua vez, as mulheres haviam chegado a um impasse para a sua categoria:
necessitavam dar um salto decisivo e estabelecer o seu espaço na sociedade, em outras
palavras, estavam direcionadas ao sucesso.
For women have sat indoors all these millions of years, so that by this time
the very walls are permeated by their creative force, which has, indeed, so
overcharged the capacity of bricks and mortar that it must needs harness
itself to pens and brushes and business and politics (WOOLF,1928). 39
A escritora britânica avaliou que a luta pelo sufrágio fez nascer nos homens um
instinto de autodefesa implacável que os fizera atentar para uma investida ainda mais acirrada
em contraponto às mulheres, cujos romances as descreviam sempre através de estereótipos.
Ao afirmar que “No age can ever have been as stridently sex-conscious as our own; those
innumerable books by men about women in the British Museum are a proof of it” 40
,
demonstrara clareza em sua convicção de que as mulheres romperam barreiras e se
posicionaram em uma linha de confronto na qual a constituição de sua alteridade passou a
exercer domínios e prerrogativas.
Politicamente as mulheres eram consideradas cidadãs de segunda categoria.
Elas não podiam votar, assumir cargos administrativos (exceção feita à
rainha Vitória, a qual era antifeminista), trabalhar como advogadas ou
médicas, nem sequer como secretárias nos escritórios. Desde a década de
1840 o parlamento britânico era assediado por pedidos de sufrágio feminino
considerado “uma tolice louca” pela rainha Vitória (BONNICI, 2007, p.219).
Virginia Woolf, ao longo de seu ensaio, demonstrou com veemência a crença em um
descortinamento e ascensão da mulher na sociedade, e, como prova, sequer subestimou ou
38
“Haveria sempre aquela afirmativa — você não pode fazer isto, você é incapaz de fazer aquilo — contra a qual
protestar e a ser superada. Provavelmente, para uma romancista, esse germe já não surte grande efeito, pois tem
havido mulheres romancistas de mérito. Mas, para as pintoras, isso deve trazer ainda algum tormento; e para as
musicistas, imagino, é ainda hoje ativo e venenoso ao extremo” (p.67-68).
39
“Pois as mulheres têm permanecido dentro de casa por todos esses milhões de anos, de modo que a essa altura
as próprias paredes estão impregnadas por sua força criadora, que, de fato, sobrecarregou de tal maneira a
capacidade dos tijolos e da argamassa que deve precisar atrelar-se a caneta e pincéis e negócios e política” (p.
108).
40
“Nenhuma era jamais conseguirá ser tão ruidosamente consciente do sexo quanto a nossa; esses incontáveis
livros escritos por homens acerca de mulheres no Museu Britânico são prova disso” (p.121).
37
limitou a capacidade feminina, ao ponto de imaginar mulheres chefiando cargos de alto
escalão para uma era que ela própria não alcançaria.
Moreover, in a hundred years, I thought, reaching my own doorstep, women
will have ceased to be the protected sex (…) all assumptions founded on the
facts observed when women were the protected sex will have disappeared
(...) anything may happen when womanhood has ceased to be a protected
occupation (…) (WOOLF,1928).41
Atentando para o futuro da ficção, Woolf se satisfazia com a ideia de as mulheres
assimilarem a arte como expressividade, ao invés de um postulado que exercesse a ideia de
uma “literatura escrita por mulheres.” Até mesmo porque, como reiterou a autora, não caberia
um julgamento que avaliasse o teor dos textos femininos comparado aos masculinos no
contexto de seu tempo. Isto, porque julgara cedo, já que mulheres precisariam ganhar mais
dinheiro e terem, assim, mais obras escritas. Além disso, justificara que “(...) even if the time
had come I do not believe that gifts, whether of mind or character, can be weighed like sugar
and butter (…)” 42
Virginia Woolf lembrara refletidamente das figuras de Jane Austen e Emily Brontë.
Apreciadora do talento que possuíam, destacou também o fato de terem elas resistido
bravamente ao sistema patriarcalista em seus liames. Woolf as aclamara como sendo as únicas
mulheres de suas épocas que alcançaram sucesso “escrevendo como mulheres e não como
homens”. E acrescera: “(...) they alone entirely ignored the perpetual admonitions of the
eternal pedagogue — write this, think that.” 43
Elas conseguiram contrariar a máxima de Sir
Egerton Brydges, que dissera em 1928: “… Female novelists should only aspire to excellence
by courageously acknowledging the limitations of their sex.” 44
.
A luta feminina ao longo de séculos esteve representada em muitos contextos como uma
forma de resistência e submissão das mulheres — que ainda no final do século XX entoavam
um brado pela liberdade intelectual. As condições para a emancipação feminina, e para as
41
“Além disso, dentro de cem anos, pensei, alcançando a porta de casa, as mulheres terão deixado de ser o sexo
protegido (...) todas as suposições fundamentadas nos fatos observados quando as mulheres eram o sexo
protegido terão desaparecido (...) tudo pode acontecer quando a feminilidade tiver deixado de ser uma ocupação
protegida (...)” (p.50-51).
42
“(...) mesmo que fosse chegada a hora, não creio que os dons, sejam eles da mente ou do caráter, possam ser
pesados como açúcar e manteiga (...)” (p.128-129).
43
“(...) somente elas ignoraram por completo as admoestações perpétuas do eterno pedagogo — escreva isto,
pense aquilo.” (p.93).
44
“... As romancistas só devem aspirar a excelência reconhecendo corajosamente as limitações de seu sexo."
(p.93).
38
mulheres não mais tolerarem ser o “sexo protegido”, como afirmou Woolf, exigia uma
mudança de paradigma ousadamente por cada uma delas.
A história do feminismo é a história de mulheres que só tiveram a oferecer
paradoxos não porque — como queriam os críticos misóginos — a
capacidade racional da mulher seja deficiente ou a essência de sua natureza
seja fundamentalmente diferente, nem porque o feminismo de algum modo,
não conseguiu alinhar teoria com prática, mas porque o feminismo ocidental
e historicamente moderno é construído por práticas discursivas de política
democrática que igualaram individualidade e masculinidade. (SCOTT, 2002,
p.29)
3.3 A ANTEVISÃO CRÍTICA DE WOOLF
As palavras da escritora Virginia Woolf em A Room of One´s Own marcam com
evidência o posicionamento de uma intelectual que em nenhum momento deixou de situar o
aspecto humano e suas incertezas, dissabores e magnitude. A autora britânica demonstra em
muitos instantes a potencialidade de antever os arroubos do amanhã, considerando sutilmente
sua sabedoria, inteligência e intuição. E, de tal maneira, não anuncia uma visão profética —
antes, revela uma “crença ou instinto” de ordem filosófica — a confiança em um
despojamento de caráter humano.
For my belief is that if we live another century or so — I am talking of the
common life which is the real life and not of the little separate lives which
we live as individuals (…) if we have the habit of freedom and the courage
to write exactly what we think; if we escape a little from the common sitting-
room and see human beings not always in their relation to each other but in
relation to reality;(…) ; if we face the fact, for it is a fact, that there is no arm
to cling to, but that we go alone and that our relation is to the world of reality
and not only to the world of men and women, then the opportunity will come
(…) (WOOLF, 1928).45
As admoestações de Woolf em seu ensaio direcionadas às mulheres assumem em
muitas ocasiões um caráter acidental, onde por vezes o público é cúmplice de suas
deliberações. Em outros instantes a escritora assume a posição de catedrática e precursora;
também aquela que advoga a causa feminina porque entende a sua função enquanto crítica,
artista e mulher.
45
“Pois minha crença é de que, se vivermos aproximadamente mais um século — e estou falando na vida
comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente; (...); se tivermos o hábito da
liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar e virmos
os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, (...) se encararmos
o fato, porque é um fato, de que não há nenhum braço onde nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que
nossa relação é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres,
então a oportunidade surgirá, (...)” (p.138).
39
Quando falava de guerra, especialmente a Primeira Guerra Mundial, psicologicamente
sentia-se perturbada com o fato de mulheres perderem os seus maridos e filhos, e colocava-se
à revelia da condição e do opróbrio que os “homens” constituíam com a miséria, a falta de paz
e a perda de suas populações. Muitas mulheres, inclusive, precisaram em períodos de guerra
substituir a mão de obra masculina. Era desse modo, uma mulher que sofrera com os horrores
da guerra e seus perjuros e denotava uma preocupação perene com os rumos da civilização.
A própria Virginia Woolf considera uma missão do artista abstrair da realidade além das
possibilidades de qualquer outra pessoa, e torná-la visível, interpretá-la e comunicá-la ao
mundo. Ajuizava que as aspirantes escrevessem sobre os mais diversos temas: “Thus when I
ask you to write more books I am urging you to do what will be for your good and for the
good of the world at large.” 46
As possiblidades para a ficção assim se multiplicariam, pois
Woolf atribuía mérito em se estudar ciência, filosofia ou história, ou outra disciplina, contanto
que se ampliassem suas visões de mundo, de criação e inventividade.
Virginia Woolf, ao compreender o Museu Britânico e a cidade como “grande oficina” e
um lugar de “fábricas e trabalhadores”, concebeu bases para a fundação do Pós-
Estruturalismo ao situar-se numa visão integrada do mecanicismo e das transformações que
advieram com o capitalismo e o sindicalismo. Ela interpenetrara a condição humana e social
considerando os mais diferentes aspectos: humano, político, cultural e intelectual.
A escritora também é tratada como vanguardista ao conceber, como na mente
andrógina, a união entre os gêneros, não lhes atribuindo, reiteradamente, a condição de
oposição ou dualismo. Antecipara nesse viés a destituição de hierarquias históricas. Quando
afirma que “It is fatal to be a man or woman pure and simple; one must be woman-manly or
man-womanly” 47
, prova a impossibilidade de um sexo viver sem outro. Proclama assim uma
união vindoura, a dinâmica ideal entre o despertar para uma nova realidade e o essencial em
cada ser: a conscientização de si e do outro. Sua antevisão acerca da compleição feminina
contribuiu ainda para a fundamentação de estudos pós-modernos sobre a condição das
mulheres no mundo atual.
46
“Portanto, quando lhes peço que escrevam mais livros, insisto em que façam algo que será para seu bem e para
o bem do mundo em geral.” (p.133).
47
“É fatal ser um homem ou uma mulher, pura e simplesmente; é preciso ser masculinamente feminina ou
femininamente masculino.” (p.127).
40
CONCLUSÃO
A importância dos estudos sobre a mulher quer na contemporaneidade, quer em exames
futuros, certamente deverá considerar as contribuições de Virginia Woolf para a compreensão
do retrato da mulher em sociedade, mais especialmente da mulher ocidental. A autora
britânica em seu livro ensaístico expõe ao leitor muito mais que prerrogativas estanques sobre
a condição feminina e sua autenticidade enquanto símbolo. No discurso de seu tempo ela
promoveu um levante, uma iniciativa para a realização de um feito inatingível para muitas
mulheres: a liberdade de contemplar o futuro.
Woolf, no que concerne sua visão de mundo e, ao assumir-se declaradamente provida
de consciência de seu próprio sexo como elemento, faz de A Room of One´s Own uma jornada
de circunstantes declarações e revelações que apresentam ao leitor e pesquisador de sua obra
uma abundante argumentação para o fato feminino. Há que se considerar como afirmou
Bloom (2004, p.420) que “não se pode distinguir seu feminismo de seu esteticismo; talvez
devêssemos aprender a falar de seu “feminismo contemplativo”, na verdade uma posição
metafórica”.
A ensaísta apontou que as mulheres haviam sido pobres não somente nos últimos
duzentos anos, mas desde o início dos tempos. Assim, avançou para os fatos que
evidenciaram a inexistência ou a condição desassistida de escritoras em potencial, porém
reverenciando aquelas que romperam o silêncio e escreveram seus nomes na história.
Virginia Woolf criticamente propôs através da androginia da mente um novo
paradigma para a condição do artista, também a humana. Ao longo de todo o ensaio
demonstrou os seus dotes peculiares como crítica cultural, e julgou o valor estético de obras
literárias femininas assim como elogiara o talento de escritores consagrados do sexo
masculino. Desse modo, marcara o seu discurso com um diálogo aberto e acessível às jovens
estudantes e aspirantes escritoras de seu tempo, evidenciando o seu caráter humano e
intelectualmente engajado para uma causa maior: a união dos gêneros.
Simone de Beauvoir, escritora francesa que pertenceu à segunda onda feminista,
também defendia a união entre homens e mulheres e questionou: “Será suficiente mudar leis,
instituições, costumes, opinião pública e todo o contexto social para que homens e mulheres
se tornem verdadeiramente iguais?” (BEAUVOIR, 1974, p.799). Virginia Woolf acreditava
que as mulheres em cem anos estariam liderando e alcançando espaços privilegiados nas
sociedades.
41
Ainda não se completaram os proferidos anos e o episódio está se consumando, mas a
autonomia feminina é ainda controvertida. O que desejam as mulheres no presente século do
alto das torres de suas cidades satélites é o encorajamento dos poderes limítrofes de
assumirem a importância do exercício feminino na medida de suas reais potencialidades.
O patriarcalismo insistente dos dias de hoje, diferentemente do passado, está intercalado
no presente em discursos tais quais o da defesa dos direitos humanos que, em 1993 instituiu
os chamados crimes de “violência de gênero”, que são os preconceitos direcionados às
mulheres e qualquer tipo de violência que se impõe de modo desigual. Ou seja, existem as leis
que protegem e asseguram os diversos direitos, porém estes efetivamente não são
contemplados em muitas circunstâncias.
Quando Virginia Woolf aconselhou as estudantes a escreverem sobre qualquer tema por
mais banal que fosse, julgando que poderia significar por horas ou por séculos, talvez
refletidamente acreditasse que suas palavras se projetariam na vida daquelas jovens ali
presentes. Seu discurso durou uma hora, duas? O que se sabe é que as “verdades” ditas pela
escritora ainda hoje apontam direções e lampejos que penetram a condição feminina.
Virginia Woolf, ao conclamar que distintas mulheres em seus mundos particulares
saiam do acaso petrificado pela história para a conscientização de seus valores no universo, dá
um passo decisivamente hercúleo para a emancipação do feminino. Numa posição atrelada a
valores intrinsicamente pulsantes do eu feminino, a autora e intelectual assumiu a militância e
as aspirações femininas de seu tempo eclodindo como um sol a ofuscar as nuvens sombrias do
patriarcado inglês para a elevação de um novo prisma no horizonte.
Existem muitos desafios no dardejante caminhar feminino rumo à liberdade igualitária.
Mas cabe às mulheres hoje, como no passado, transgredirem o presente e assim inscreverem-
se num futuro almejado e seguramente seu.
42
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Monografia de Leila de Lima Oliveira

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ – BA LEILA DE LIMA OLIVEIRA A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF Conceição do Coité 2013
  • 2. LEILA DE LIMA OLIVEIRA A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de Letras, como requisito parcial para conclusão do Curso de Licenciatura em Letras com Inglês, da Universidade do Estado da Bahia. Orientador: Profº Me Kleber José F. Simões Conceição do Coité 2013
  • 3. LEILA DE LIMA OLIVEIRA A VISÃO DO FEMININO EM A ROOM OF ONE´S OWN DE VIRGINIA WOOLF Monografia apresentada à Coordenação do Colegiado de Letras, como requisito final para conclusão do Curso de Licenciatura em Letras com Inglês, da Universidade do Estado da Bahia. Aprovada em: ___/___/___ Banca examinadora _____________________________________ Kleber José F. Simões– Orientador Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV _________________________________________ Neila Maria Oliveira Santana Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV _________________________________________ Rita de Cássia Sacramento Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV Conceição do Coité 2013
  • 4. Dedico este trabalho à Maestrina Chiquinha Gonzaga, uma inspiração em minha vida. Em especial, à ex-colega Rita de Cássia Matheus, cúmplice da amizade e do saber na adolescência; hoje, uma dama da lei.
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradeço à Universidade do Estado da Bahia, em primeira fé, instituição de ensino a qual galguei passos fortuitos para a minha ambição. Ao professor Kleber José F. Simões, auxiliar do Colegiado de História deste departamento de educação, por sua contribuição e inspiração em todo o processo nesse trabalho. Ao professor de Literatura Brasileira e Portuguesa do Departamento de Educação do Campus XXII Adriano Eysen Rego, por seu exemplo de dedicação e por encorajar-me a seguir os passos acadêmicos. À professora de Literatura em Língua Inglesa Rita de Cássia Sacramento, auxiliar deste Campus, por promover meu encontro com a escritora Virginia Woolf em momento privilegiado em sala de aula. Aos professores que efetivamente foram coparticipes no construto do conhecimento em minha formação, bem como aos colegas que corajosamente engajaram-se em alcançar essa graduação e me dedicaram apoio.
  • 6. A mulher não é uma realidade imóvel, e sim um vir a ser; é no seu vir a ser que se deveria confrontá-la com o homem, isto é, que se deveriam definir suas possibilidades. Simone de Beauvoir
  • 7. RESUMO Este trabalho versa acerca das conjecturas da escritora e crítica Virginia Woolf e o universo feminino, sob o viés da obra ensaística A Room of One´s Own (1929). Virginia Woolf foi pensadora da condição da mulher enquanto signo feminino na sociedade ocidental, questionado posições misóginas e atentando para o direcionamento da mulher também no campo da ficção. E produziu o referido livro de ensaios onde aborda estas atenuantes questões. O contexto cultural, no qual a obra estava inserida, passara por relevantes transformações a partir da introjeção do pensamento pós-colonialista e da teoria feminista emergente. O cânone europeu e o sistema de valores na cultura e literatura patriarcais passaram a ser arguidos e subjugados. Virginia Woolf ousou discutir e incutir a expressão feminina na defesa de sua idoneidade, enquanto escritora de ficção e também crítica literária ao longo de sua trajetória, e, mais especialmente, através da obra A Room of One´s Own. Ainda no século XXI suas palavras ecoam vitoriosamente contra o preconceito às mulheres, onde quer que haja o alcance de sua escrita. Palavras-chave: Feminismo. Literatura. Patriarcalismo. Pós-colonialismo.
  • 8. ABSTRACT This paper deals with the conjectures of the writer and critic Virginia Woolf and the feminine universe, under the bias of the essays A Room of One's Own (1929). Virginia Woolf was a thinker of the condition of women as feminine sign in Western society, questioned misogynistic positions and paying attention to the direction of the woman also in the field of fiction. The book of essays talks about these mitigating issues. The cultural context, in which the work was entered, had undergone significant changes from the introjection of thought postcolonial and feminist theory emerging. The European Canon and the system of values in patriarchal culture and literature became questioned and subdued. Virginia Woolf dared to discuss and instill feminine expression in defense of their capacitance, as a writer of fiction and literary criticism also throughout her career and most especially, through the work A Room of One's Own. Still in the 21st century her words echo victoriously against the prejudice to women, wherever there is the scope of her writing. Key Words: Feminism. Literature. Patriarchy. Postcolonialism.
  • 9. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10 1 O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA INGLATERRA ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX ............................................................................................................12 1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL INGLÊS..............................................................12 1.2 O FEMINISMO E O PÓS-COLONIALISMO ..................................................................15 1.3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA.............................................................................................17 2 O STATUS QUO DA MULHER ....................................................................................21 2.1 O FEMINISMO DE WOOLF.............................................................................................21 2.2 A ESCRITA FICCIONISTA FEMININA..........................................................................23 2.3 GÊNERO, SEXISMO E ANDROGINIA...........................................................................28 3 O LÓCUS FEMININO EM SOCIEDADE.....................................................................32 3.1 A EDUCAÇÃO DA MULHER BRITÂNICA ..................................................................32 3.2 A EMANCIPAÇÃO FEMININA.......................................................................................35 3.3 A ANTEVISÃO CRÍTICA DE WOOLF...........................................................................38 CONCLUSÃO.........................................................................................................................40 REFERÊNCIAS......................................................................................................................42
  • 10. 10 INTRODUÇÃO Virginia Woolf é objeto constante em estudos literários e culturais na contemporaneidade, primeiramente como escritora de ficção modernista e, por conseguinte, no campo de pesquisas sobre a mulher ocidental. Anotações de seu diário íntimo e outros escritos pessoais constituem-se em importantes fontes de referência para pesquisadores de sua obra. A autora de origem britânica escreveu ao longo de sua trajetória diversos ensaios cuja temática voltava-se para a compreensão e prospecção do ego feminil: ela mesma, artista e mulher , viveu, reinventou e reluziu o símbolo feminino dentro de sua prosa imaginativa e no arquétipo vivo de sua conduta. A produção em ensaios contida no livro A Room of One´s Own (1929), de Virginia Woolf, importante publicação da autora e crítica, compõe-se de uma série de questionamentos e altercações sobre o sexo feminino, que , segundo a autora, é um assunto “altamente desenvolvido” e “infinitamente intrincado.” As deliberações de Virginia Woolf, a partir de seu discurso proferido em 1928 no Newnham College e Girton College, conduziram-na a produzir essa obra escrita como um registro no tempo porquanto almejava que suas palavras se projetassem na história. Ao falar diretamente e em tom de admoestação ao público feminino, Virginia incita e chama a atenção para o fato de que naquele momento, em 1928, quando proferiu esse discurso, muitas mulheres sequer tinham conquistado um diploma em uma universidade, ou alcançado postos privilegiados como profissionais liberais; e, em tempo hábil, não encontravam lugar no comércio, na política, muito menos nas forças armadas. A visão desse fato dessemelhante não está distante dos dias atuais, em alguns contextos as mulheres têm desempenhado efetivamente cargos e ocupações equiparáveis aos do sexo oposto, porém não têm encontrado respaldo financeiro ou o devido reconhecimento de suas faculdades. Virginia Woolf, resolutamente, buscou elucidar o porquê de tão poucas mulheres alcançarem ao longo da existência legitimidade e reconhecimento enquanto representantes da literatura no mundo. E, ao fazer esta obra ensaística, revela com demasiada astúcia uma visão intelectual e humanística que anteviu e consagrou a emancipação feminina não apenas através de seu imaginário poético. É notória a importância de seus escritos sobre a mulher, que trazem em sua essência a visão de uma crítica cultural afinada com as questões ligadas ao gênero e que se pôs na militância de defender a emancipação da mulher e sua atuação enquanto ser social.
  • 11. 11 O intuito dessa pesquisa de caráter bibliográfico deteve-se em projetar as conjecturas da autora Virginia Woolf acerca do universo feminino, e de que maneira o seu discurso refletiu para a emancipação feminina sob o viés da obra A Room of One´s Own. A monografia está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo trata do contexto histórico-cultural da Inglaterra entre os séculos XIX e XX, onde profundas mudanças eclodiram no construto da sociedade, bem como a produção literária no referido período. O segundo capítulo atém-se à crítica ao feminismo de Woolf, aspectos de sua estética literária e sua visão acerca da produção escrita feminil. O terceiro capítulo se detém ao discurso articulado da autora em prol das mulheres britânicas, sua crítica à educação, o anseio pela emancipação feminina e o apelo às sociedades vindouras.
  • 12. 12 1 O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA INGLATERRA ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX O capítulo contém uma breve descrição do contexto histórico-cultural inglês, as mudanças sociais e políticas que antecederam, provocaram e permearam a dialética da autora Virgínia Woolf em seu livro ensaístico. O capítulo apresenta um conluio de acontecimentos de ordem social, histórica, cultural e também político-ideológica que perpassaram as notórias transformações do mundo, notadamente da Europa, e especialmente no território inglês, de onde a fala da autora britânica reproduz sua retórica. O capítulo reportou também o surgimento do feminismo, enquanto projeto de conscientização política e social, que unido ao pensamento pós-colonialista interrogaram o sistema de valores na cultura e literatura patriarcais. Como construto desse tópico ainda fez-se necessário apresentar o retrato da literatura escrita nesse período, para uma visão crítica e acertada da ficção produzida na época. 1.1 O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL INGLÊS No século XIX as chamadas potências da Europa ocidental, através de sua política imperialista, expandem seus domínios sobre a África, Ásia e Oceania. Há uma intensa expansão capitalista na segunda metade deste mesmo século que viria afetar não só a economia mundial, mas estabelecer uma revolução de ordem tecnológica e industrial nunca antes empreendida. Os lucros fabulosos das chamadas holdings concediam na época para os ditos países ricos: Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, o total de 80% do capital mundial. O historiador Eric Hobsbawm1 assim definiu a economia a partir de 1870: Primeiro, iniciou-se uma nova era tecnológica, caracterizada pela utilização de novas fontes de energia (eletricidade e petróleo, turbinas e motor a explosão), de nova maquinaria baseada em novos materiais (ferro, ligas, metais não ferrosos), de indústrias baseadas em novos avanços científicos, tais como a indústria da química orgânica. (HOBSBAWM, 1982, p.312) Entre os principais adventos das novas tecnologias constavam: a invenção do motor a gasolina (1885), do automóvel (1886) e do motor a diesel (1897). Outras significantes descobertas que transformaram sobremaneira a vida nas sociedades constam da invenção do telefone (1876), do fonógrafo (1877), do rádio (1887) e do cinema (1895). Ocorreram 1 Eric Hobsbawm (1917-2012) foi um historiador marxista internacionalmente reconhecido e membro do partido comunista britânico. Ele, dentre outros historiadores marxistas de sua época, estudaram as organizações das classes populares, suas lutas e ideologias (tradições), através da chamada "História Social".
  • 13. 13 igualmente invenções no campo científico que modificaram a organização das cidades, com o avanço da ciência e da medicina houve uma melhora na saúde pública e aumento da expectativa de vida. Essas diversas mudanças que se refletiram em seus muitos aspectos na ordem social, provocaram o aparecimento da urbanização nas cidades. Até 1850 ainda não existia uma população predominantemente urbana, a Inglaterra seria a pioneira nesse processo. De 1870 a 1910 a população europeia cresceu de 290 para 435 milhões de habitantes. No início do século (1801) existiam em torno de 23 cidades na Europa, um século depois esse número passou a ser de 135, cada uma dessas cidades com 100 mil habitantes2 . O processo de urbanização fez nascer um aumento populacional que, embora a um só tempo ocorresse de modo global, se deu excessivamente nas áreas de maior industrialização. Esse fluxo migratório é justificado pelo fato de as grandes populações se dirigiam para as indústrias em busca de trabalho. A Inglaterra atingiu seu apogeu industrial e colonialista nesse período, quando se tornou conhecida como a “oficina do mundo” segundo analistas da época, e foi a responsável por abastecer os centros dos mercados mundiais com seus produtos industrializados. Esse afamado período de prosperidade industrial e comercial incide no reinado da rainha Vitória, que ocupara o trono da Inglaterra de 1837 a 1901. A Era Vitoriana, período em que governou a rainha Vitória, marcado pela estabilidade política e o puritanismo moral, influenciou a moda de seu tempo. A riqueza vivenciada nesse período estendeu-se até o reinado de Eduardo VII, com proliferação das artes e da cultura em território inglês. A Belle Époque (1890-1911), momento de grande efervescência cultural ocorrido na França, influenciou os costumes e a moda europeia e ocidental. A França e a Inglaterra eram os países europeus que ditavam a moda da época. O estilo vitoriano era copiado pelos burgueses, enquanto a grande população cultuava a moda romântica. A Belle Époque se estendeu até o século XX, sendo ainda contemporânea da moda Eduardiana (até 1907). Os trajes das senhoras burguesas deveriam ostentar seu status social com opulência. Eram muitos os atavios, as plumas, os tecidos finos, de fato uma extravagância que marcou era. Assim como os demais países ricos da Europa, na Inglaterra o acúmulo de capitais e o aumento da produção industrial — ditames da própria política capitalista, — não beneficiaram 2 RÉMOND, René. Introdução à história do nosso tempo: do Antigo Regime aos nossos dias. Lisboa, Gradiva, 1994.p.226.
  • 14. 14 todos os setores da sociedade. Os lucros detiveram-se nas mãos dos donos dos cartéis da indústria e do comércio. A forma como o trabalho seria visto a partir de então modificaria a estrutura das sociedades. Assim como na Inglaterra, o trabalho passaria a ser visto como uma ferramenta de enriquecimento e acúmulo de dinheiro nas mãos de uma minoria: a classe burguesa. A sociedade passaria a ter duas classes distintas: a classe do operariado e da burguesia, esta última, cada vez mais abastada e poderosa. Uma terceira classe intermediária quase extinguível era a classe média composta de pequenos comerciantes, fabricantes, artesãos e camponeses que, também como o operariado, se opunha à exploração burguesa. Assim era o retrato das grandes cidades da época: De um lado, ficam os excluídos: despreparados para a rude competição do mercado, angustiados pela permanência das necessidades básicas insatisfeitas, acuados e levados ao desespero, muitas vezes deformados por uma assimilação doentia das “regras do jogo” capitalista. Do outro, os privilegiados, que, por serem bem-sucedidos, vivem em estado de apreensão, apavorados, cercados de subalternos nos quais não podem confiar inteiramente, empenhados em proteger suas vidas e seu patrimônio de perigos crescentes, encastelados atrás de grades e muralhas. (KONDER, 2000, p.63) Karl Marx e Friedrich Engels, que escreveram o Manifesto Comunista3 em defesa da classe do proletariado, como outros pensadores de seu tempo acataram com a causa do semelhante, nesse evento, a classe operária. As teorias comunistas que marcaram o mundo nos séculos XIX e XX encabeçam uma nova era cuja ideologia daria forma a conceitos como cooperação e revolução. Um trecho do manifesto comunista diz: De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado, pelo contrário, é o seu produto mais autêntico (MARX e ENGELS, 1980, p.23). Os marxistas Marx e Engels, assim como as demais teorias que ganharam força no século XIX, acreditavam numa luta pacífica para alcançar uma sociedade idealizada. Os marxistas acreditavam que a emancipação da mulher, ao ocupar um lugar nas fábricas, não se constituía numa causa para “libertação” àquele tempo, mas somente um modo natural de atuação. O Feminismo, assim, ainda não existia enquanto discurso político. Engels escrevera: “A primeira oposição de classe que se manifesta na história, coincide com o desenvolvimento 3 O Manifesto Comunista ou Manifesto do Partido Comunista (Manifest der Kommunistischen Partei) foi publicado pela primeira vez em 21 de Fevereiro de 1848, e é historicamente um dos tratados políticos de maior influência mundial.
  • 15. 15 do antagonismo entre o homem e a mulher no casamento conjugal; e a primeira opressão de classe, coincide com a opressão do sexo feminino pelo masculino.” (ENGELS apud JAPIASSU, 1984, p.29). O historiador inglês E.P.Thompson, um dos principais historiadores do século XX e principalmente dos movimentos do operariado, ao contrário da historiografia mais recente, declara que as organizações militantes operárias teriam sido geradas desde o século XVIII tanto na Inglaterra quanto na França, e não através dos sindicatos instituídos a partir do século XIX. Entre os séculos XIX e XX, a realidade era mesmo essa: homens e mulheres indistintamente escravos de seus patrões. Pouco se comenta a respeito da situação das mulheres que operavam nas fábricas, mas é fato que muitas delas morreram acometidas por tuberculose, morriam mais que a população natural. Muitas delas chegaram a trabalhar até mesmo em minas de carvão, carregando pesos de sessenta quilos nos poleiros subterrâneos. E recebiam pagamento muito inferior ao dos homens. As ocupações femininas na época vitoriana se restringiam, no caso da classe baixa, ao trabalho árduo das fábricas, com nenhum tempo para o lazer; como domésticas e babás, no caso da classe média empobrecida; ao lazer e ao ócio, considerado símbolo do seu status aristocrático, no caso das mulheres da classe alta e classe média rica (BONNICI, 2007, p.219). 1.2 O FEMINISMO E O PÓS-COLONIALISMO As lutas do Movimento Feminista originaram-se nos Estados Unidos e na Inglaterra. O Feminismo na força de sua propulsão promove a emancipação da mulher e sua ascensão sócio-política ao longo da história. No século XVIII a exclusão do direito de cidadania às mulheres tinha sido contestado em textos como Declaration des Droits de la Femme e La Citoyene, de Olympia de Gouges, publicado na França em 1791, e Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft, publicado em Londres em 1792. Nos Estados Unidos o feminismo nasce com a Declaração de Séneca Falls em 1848, e surgem nomes importantes como Lucretia Mott e Lucy Stone, que, a exemplo, reivindicavam direitos políticos e partidários para as mulheres. Apregoa-se que o discurso pós-colonialista4 teria sido o agente direto e provocador que suscitou o espírito feminista. No século XIX as teorias pós-colonialistas incidiam fortemente 4 Pós-colonialismo enquanto efeito que as nações imperialistas provocaram na cultura dos países colonizados. Segundo Ashcroft, Griffiths e Tiffin (1991), o termo “pós-colonialismo” refere-se a toda e qualquer cultura advinda da possessão imperial desde a colonização até a contemporaneidade.
  • 16. 16 sobre a literatura canônica europeia. No momento em que o imperialismo alcança seu apogeu, a mobilização de mulheres buscando direito civis e, já no início do século XX, escrevendo ficção, dão ao feminismo corpo e consistência favoráveis à construção de uma teoria feminista. Do marxismo instala-se a ideia de emancipação econômica da mulher e a cata à igualdade dos direitos trabalhistas. Ao tomar consciência que a cultura e literatura haviam sido constituídas até então sob os ditames do patriarcalismo5 , o feminismo encabeça o seu plano de descolonização ao contestar a hegemonia patriarcal, e passa a estabelecer um domínio liderado pela linguagem e uso do pensamento, muito especialmente através da escrita. Como defendia Audre Lorde, ao relatar o insucesso de algumas escritoras pós-colonialistas 6 : “Sobreviver não é uma habilidade acadêmica... É aprender como assumir nossas diferenças e transformá-las em poder. Porque as ferramentas do amo jamais derrubarão a casa dele” (LORDE, 1983, p.93). O objetivo traçado pelo feminismo a partir desse momento é a inversão de toda a estrutura social, e a consequente inserção da mulher no lugar de comando exclusivamente masculino. A teoria feminista vai mais além: propõe a reconstrução do cânone literário europeu. Importante teórico-feminista que incorpora aos seus estudos questões ligadas a gênero e raça, Spivak (1985) defende a política de conscientização do feminino opondo-se rigidamente ao sexismo e à ideia da mulher biologicamente oprimida. Julia Kristeva (1986), também crítica literária e feminista, considera que a diferença entre os gêneros e a natureza experimental de cada um está nas relações psicológicas construídas dentro de um contexto social, negando o determinismo biológico. O feminismo e o pós-colonialismo destacaram-se em produções literárias de Alice Walker e Doris Lessing, por exemplo, e também através da crítica literária, a exemplo de Spivak. It should not be possible to read nineteenth-century British literature without remembering that imperialism, understood as England's social mission, was a crucial part of the cultural representation of England to the English. The role of literature in the production of cultural representation should not be ignored. These two obvious "facts" continue to be disregarded in the reading 5 Patriarcalismo: definido como ideologia da supremacia do homem nas relações sociais. O termo “Patriarcado” tem origem na palavra pater e significa “pai da família”. Bonnici (2007) aponta que “Na teoria feminista, o patriarcalismo é definido como o controle e a repressão da mulher pela sociedade masculina e parece constituir a forma histórica mais importante da divisão e opressão social” (p.198). 6 A denominação de “escritores pós-colonialistas” está atrelada ao tipo de literatura, com ênfase na crítica literária, e que vem a contestar a literatura hegemônica dita historicamente escrita sob domínio patriarcal. Para Bonicci (2009) os Estudos Pós-coloniais “constituem uma práxis social, política, econômica e cultural objetivando a resposta e a resistência ao colonialismo, tomado no sentido mais abrangente possível”.
  • 17. 17 of nineteenth-century British literature. This itself attests to the continuing success of the imperialist project, displaced and dispersed into more modern forms (SPIVAK, 1985, p.243).7 Os países que passaram pela experiência do pós-colonialismo e, consequentemente a descolonização da cultura, viveram contextos experienciados distintos; a preocupação da política feminista pós-colonial no ocidente estava atrelada à questão da igualdade e emancipação feminina. Contudo, pode-se afirmar que a maior estratégia de libertação feminina nos países pós-coloniais foi a luta pela descolonização da cultura; e essa luta, por conseguinte, contribuiu para a autonomia da teoria feminista. O feminismo assim se delineia, a partir da importância da alteridade e encontra relação com o pós-colonialismo no auge do imperialismo britânico, intercalando uma crucial lacuna na história. O cenário social modifica-se: a mulher começa a ocupar um lugar determinante na esfera social. Nos anos que antecederam o nascimento de Virginia Woolf (1882-1941), a mulher inglesa era oprimida e limitada em suas funções, na educação dos filhos e até mesmo no direito a herança. Quando a autora faz dezoito anos, as mulheres britânicas haviam conquistado como cidadãs o direito à propriedade (em 1880 só as mulheres casadas possuíam). Porém, no final do século XIX e início do século XX a total liberdade feminina ainda não existia, o direito de voto seria alcançado em 1919 (para mulheres com mais de 30 anos) e estendido em sua totalidade em 1928 na Inglaterra. Entre fins do século XVIII e as primeiras décadas do século XX, período em que se predomina a “primeira onda feminista” — e onde está inserida a obra de Woolf — o feminismo intencionará uma mudança de paradigma para a visão da mulher em sociedade. Proclama-se nesse momento uma luta feminina contra o patriarcado, que ao considerar a “instituição universal” família constituindo papéis distintos e indissociáveis para os sexos, delimitava a mulher como ser naturalmente doméstico na divisão do trabalho. 1.3 A PRODUÇÃO LITERÁRIA Na segunda metade do século XIX, com o avanço da ciência e da tecnologia, a sociedade burguesa torna-se um complexo de valores culturais de variados domínios 7 “Não deve ser possível ler literatura britânica do século XIX sem se lembrar de que o imperialismo, entendido como missão social da Inglaterra, era uma parte crucial da representação cultural da Inglaterra para o Inglês. O papel da literatura para a produção de representação cultural não deve ser ignorada. Estes dois "fatos" evidentes continuam a ser desconsiderados na leitura da literatura britânica do século XIX. Isso por si só atesta o sucesso contínuo do projeto imperialista, deslocado e disperso em formas mais modernas” (tradução nossa).
  • 18. 18 impregnados pelo materialismo. A origem de diversos “ismos” como: o Positivismo, o Determinismo, o Cientificismo, o Evolucionismo, dentre outros, compuseram a chamada “sociolatria”. O termo refere-se às aspirações atreladas às mudanças concorrentes, nas quais os indivíduos passaram a imolar seus próprios interesses em prol do progresso coletivo. O desenvolvimento marcadamente intelectual e científico influenciou ainda as diversas manifestações artísticas do início do século XX, tanto a literatura, como o teatro, o cinema, a pintura, a música, dentre outras expressões culturais arregimentadas pelo universo da mecanização e as vivências nas sociedades modernas. A literatura ocidental sofreria enorme influência de Sigmund Freud e de seus estudos sobre a psique humana, também de Karl Marx, ao debater o duelo entre o capital e a força de trabalho. Harold Bloom, ensaísta americano, em sua obra The Western Canon (1994), assim fala do cânone ocidental: “Um dos sinais de originalidade que pode conquistar status canônico para uma obra literária é aquela estranheza que jamais assimilamos inteiramente, ou que se torna um tal fato que nos deixa cegos para suas idiossincrasias” (BLOOM,1994, p.14). O Cânone, inicialmente, relacionava-se à seleção de livros em uma determinada instituição de ensino. Tradicionalmente continua sendo uma apurada eleição de grandes autores que compunham o quadro geral de escritores que o mundo imortalizara — inclusas também as artes clássicas europeias influentes e a música como modelos de representação artística ocidental. A escolha da chamada “tradição” pode ser ditada por um grupo hegemônico específico, por instituições educacionais, ou pela crítica clássica. A norma que se assenta na afirmação de Bloom diz: “Toda originalidade literária forte se torna canônica” (p.33). 8 No período vitoriano, o romance consagrou-se como a escrita literária influente da época. Surgem grandes poetas e escritores de língua inglesa, a exemplo de Alfred Tennyson e Matthew Arnold, e escritores da escola Realista como Walter Scott e Charles Dickens. No varal de escritoras femininas estão Jane Austen, George Eliot e as irmãs Charlotte, Emily e Anne Brontë. Com o crescimento do mercado literário no século XIX, as mulheres passam a buscar a escolarização, e instigadas a escreverem engajam-se em profissões como o jornalismo e a editoração. Até então era possível para algumas mulheres dedicarem-se à pintura, ao piano e ao canto, realidade essa que no mesmo século encontraria novos ensejos. Em síntese, essa era a condição feminina em transição: 8 Harold Bloom (1994) analisa a tradição literária ocidental, concentrando-se nos trabalhos de vinte e seis autores centrais para o Cânone, entre estes está a escritora britânica Virginia Woolf.
  • 19. 19 as normas enunciadas no início do século eram normas coletivas definindo uma função social — a de esposa e mãe —, estabelecendo os direitos da mulher como uma função de suas obrigações e definindo as mulheres como um grupo social cuja função e comportamento seriam estabelecidos de maneira standard e portanto idealizada. Mas essa formulação totalizadora gradualmente se desintegrou, e identidades femininas começaram a proliferar: mãe, trabalhadora, solteirona, mulher emancipada, etc. (BRIDENTHAL, KOONZ e STUART, 1978, p. 4). Um tipo caracteristicamente peculiar de literatura feminina surge nesse período: os textos de viagens. As mulheres que escreviam esses relatos compunham-se de senhoras de classe media e alta, muitas delas esposas de diplomatas e oficiais que acompanhavam seus conjugues em viagens. Não se poderia atribuir a esses textos um caráter confessional e introspectivo de apelo feminista, nem mesmo era uma escrita que propunha uma subjetividade feminina, as mulheres cultivavam a resiliência e a liberdade para elas se alargava com o passar do tempo. Os romances vitorianos apenas raramente retratam os problemas referentes ao status legal das mulheres. Quando isso acontece, mostram mulheres domesticadas, companheiras educadas dos homens, pessoas-boneca, enfeitadas e submissas (BONNICI, 2007, p.220). O estilo dos relatos de viagens escritos por mulheres, por sua vez, alcançou notoriedade e o distanciamento do lar oportunizou uma ampliação para novos conceitos. Em muitos casos, uma emancipação proeminente, como apresenta Maria H. Frawley (1994, p. 29): “a viagem para longe da Inglaterra facilitou a transformação no front doméstico, pois conferiu às mulheres o “capital simbólico” com o qual passaram a competir no mercado cultural da sociedade vitoriana”. Já no início do século XX, aparecem muitos jovens escritores ingleses como E. M. Forster e D. H. Lawrence que registraram uma literatura crítica sobre a sociedade ocidental. A arte modernista manteve uma relação íntima com as cidades, e na literatura compuseram o cenário de uma sociedade tecnologicamente moderna. Londres entre 1880 a 1920 experimentou intenso intercâmbio cultural, e idealizava essencialmente esse cenário modernista de novas formas e contrastes sociais. Inserida nesse contexto encontra-se a escritora britânica Virginia Woolf, que compunha a linha de narrativa de introspecção psicológica, uma característica presente na obra de alguns autores modernistas do período como James Joyce, escritor de língua inglesa nascido na Irlanda. Sobre essa transformação cultural e moderna, Virginia Woolf declara em 1910: “Todas as relações humanas se modificaram — entre patrões e empregados, maridos e
  • 20. 20 mulheres, pais e filhos. E, quando as relações humanas mudam, há ao mesmo tempo uma mudança na religião, no comportamento, na política e na literatura” (WOOLF, 1966, p.321). Os romances assim inscritos entre fins do século XIX e ao longo do século XX revolucionaram esteticamente as formas convencionais da escrita, na ânsia de libertar a criação artística; além da necessidade de interpretar um mundo de contingências modernas para as quais novas tendências e novas consciências se aglutinavam. Desse modo, com o surgimento do feminismo e o fato de mulheres passarem a escrever romance, até mesmos alguns textos em prosa constituirão representações que questionem o papel da mulher em sociedade. A busca por uma identidade e espaço legítimos estará interligada à literatura feminina escrita a partir de então. Entre as gerações literárias que se destacaram no período romântico e vitoriano inicial, os principais nomes criteriosamente assinalados foram: Thomas Hardy, Samuel Butler, George Gissing, Ernest Dowson, Arthur Symons, Ford Madox Hueffer, Arnold Bennet, H.G. Wells, T.E. Hulme, Lytton Strachey, Dorothy Richardson; além dos já citados E. M. Forster, D. H. Lawrence e a escritora Virginia Woolf.
  • 21. 21 2 O STATUS QUO DA MULHER O capítulo em questão abordará a temática feminina nos escritos literários, apresentando trechos da biografia da autora britânica Virginia Woolf, aspectos de sua importância como escritora de ficção e ensaísta, destacando marcas do feminismo em seu discurso universal. Serão ainda apresentadas características da estética woolfiniana e sua androginia. Num plano introspectivo, serão explanados — a guisa de se compreender questões pujantes salientadas pela autora — revelações acerca da escrita feminina e seu valor para a história. Nesse enlace, o capítulo também reproduzirá o sexismo assinalado na obra quanto à narrativização de alguns fatos apresentados pela escritora. 2.1 O FEMINISMO DE WOOLF Nascida Adeline Virginia Stephen (1882-1941), Woolf foi uma notável escritora modernista em sua época, uma aristocrata e intelectual que influenciou a crítica e a teoria feminista muito especialmente nos estudos literários das décadas de 1960 e 1970. As obras New Feminist Essays on Virginia Woolf (1981), de Jane Marcus, e Virginia Woolf and Post Modernism (1991), de Pamela Caughie, são destaques nos estudos contemporâneos dessas críticas feministas que se ocuparam em examinar a arte e crítica literárias da autora britânica. A escritora inglesa é apontada atualmente por feministas como sendo criadora da “crítica literária feminista”, isto, considerando as profícuas publicações A Room of One´s Own (1929) e Three Guineas (1938). Sobre esse argumento, Harold Bloom considerou impraticável atribuir às obras supracitadas um caráter eminentemente político ou academicista aos escritos de Woolf, e expôs: Seu feminismo (para chamá-lo assim) é poderoso e permanente precisamente por ser menos uma ideia ou compósito de ideias e mais um formidável apanhado de percepções e sensações. Discutir com elas é sofrer derrota: o que ela percebe e experimenta com sua sensibilidade é mais sutilmente organizado que qualquer resposta que eu possa invocar (BLOOM, 1995, p.417). Na conceituada biografia da autora Virginia Woolf: A Biography (1974), escrita por seu sobrinho Quentin Bell, este revelara que Woolf não era marxista nem mesmo feminista, o que defendia Bloom ao considerar o processo de criação da autora: “A realidade para ela tremula e oscila a cada nova percepção e sensação, e as ideias são sombras que ladeiam seus momentos privilegiados” (p.417).
  • 22. 22 A escritora se opunha ao ativismo político organizado pelas militantes feministas, de forma que, as personagens Evelyn Murgatroyd, em The Voyage Out (1915), Mary Datchet em Night and Day (1919), Julia Hedge em Jacob’s Room (1922), e Peggy em The Years (1937), representariam uma caricatura dessas militantes, para Woolf, inoportunas. Preconiza-se inclusive uma rejeição por parte da autora para com os textos ditos “feministas” os quais Woolf recriminava alguns preceitos, demostrando assim certa aversão a essas militantes. No livro de ensaios, no entanto, Woolf faz referência ao feminismo. Ao externar certo inconformismo, ela exalta sua importância quando diz: “Doubtless Elizabethan literature would have been very different from what it is if the women’s movement had begun in the sixteenth century and not in the nineteenth.” 9 Ela relatava nesse interim a posição de superioridade que o homem defendia de forma constrangedora sobre as mulheres no século XVI e que, de maneira alguma, concebia a ideia de ascensão do sexo oposto. John Burt (1982) defendeu que Virginia Woolf centralizara a construção de seu livro no ideário feminista, uma vez que combateu os preceitos de opressão e domínio patriarcalistas. E mais além, atentou para a constituição da alteridade feminina. Assim escreveu Burt: “(...) A Room of One´s Own, contudo, não é uma argumentação, mas, como proclama Virginia nas páginas de abertura, um retrato de como uma mente tenta chegar a termos com o seu mundo” (BURT apud BLOOM, 1995, p.418-419). A crítica feminista nasceu da necessidade conceitual de se estabelecer uma análise na esfera da produção de autoria feminina, bem como para combater o establishment cultural dominante que predominava na constituição androcêntrica de textos canônicos. Nesse aspecto, é demasiado relevante a escrita feminista que se propôs a (re)significar a historiografia concebendo o desencadear da mulher como símbolo. Bonnici (2007, p.230) ressalta que “A literatura e a representação da mulher na literatura e a linguagem são interdependentes, sendo esta última moldadora da literatura”. Na visão crítico-teórica de Kristeva (1986), cujos estudos influenciaram principalmente a crítica literária feminista, a literatura feminina precisava resistir aos códigos linguísticos patriarcais, pois a rigidez em suas estruturas procurava dominar a mente e linguagem femininas. Era um grande desafio para as mulheres expressarem-se livremente, e a poesia e a criatividade enquanto escritura não deveriam ser contidas, nem os impulsos mais profundos do ego feminino, nesse caso. 9 “Sem dúvida, a literatura elisabetana teria sido muito diferente do que é se o movimento feminista tivesse começado no século XVI e não no XIX.” (p.123-124).
  • 23. 23 A produção cultural feminina e pensada pela crítica feminista — em vistas de um apelo linguístico simbólico — encontra em A Room of One´s Own, de Virginia Woolf, qualificação enquanto representação para o discurso feminista. A frase a qual Woolf centralizou a atenção para a condição das escritoras emergentes “A woman must have money and a room of her own if she is to write fiction” 10 pontua os diálogos da autora ao longo de suas observações proferidas nas universidade inglesas. Sendo alheio ou não conceber a Virginia Woolf o status de feminista, o fato é que ao interceder pelas mulheres, sua militância se dá no terreno da estética e por intermédio de uma crítica empedernida de humanismo. Uma vez que se expõe e subjuga a condição de inferioridade e prostração a que muitas mulheres eram submetidas, o fez para incitá-las a um enfrentamento de suas fatalidades e para conceberem uma nova visão do feminino. Virginia Woolf ao pronunciar-se às mulheres britânicas, verdadeiramente ansiava por uma revolução social que distinguisse o papel preponderante da mulher na civilização. 2.2 A ESCRITA FICCIONISTA FEMININA A escritora britânica Virginia Woolf cedo descobriu o universo da leitura. Seu pai Leslie Stephen, que era escritor, dedicava-lhe tempo e atenção, posto que não veio ela a cursar uma universidade. Esse fato a teria tornado uma leitora compulsiva desde então. Harold Bloom (1995), ao elogiar a dedicada inclinação para a leitura e a cultura livresca da escritora modernista, exalta sua sensibilidade e pessoalidade estética afirmando ter sido Woolf “a mais completa pessoa-das-letras da Inglaterra no nosso século” (p.415). Virginia Woolf esteve ligada em sua juventude a um recluso grupo de intelectuais chamado Bloomsbury, responsável em parte por sua formação cultural. Também se encontrava ligada às questões estéticas modernistas do grupo por grau de parentesco com Clive Bell e por sua amizade com Roger Fry, mas até então ainda não escrevia ficção. Sua atividade como crítica antecedeu a de romancista, em 1905 passa a publicar artigos para o The Times Literary Suplement, tendo escrito ao longo de sua trajetória mais de quinhentos ensaios e artigos, veiculados também em outros periódicos, onde prevalecia a especialidade dialógica da autora ao dirigir-se ao público leitor. 10 “Uma mulher deve antes possuir dinheiro e casa própria se quiser escrever ficção” (p.8). A frase surgiu de um polêmico ensaio intitulado Woman in Fiction escrito por Virginia Woolf.
  • 24. 24 A escritora casa-se com Leonardo Woolf em 1912, e juntos fundam uma editora em 1917, a Hogarth Press, que revelara nomes importantes para a literatura como Katherine Mansfield e T.S. Eliot e publicara escritos psicanalíticos de Sigmund Freud. O primeiro romance escrito de Virginia Woolf foi The Voyage Out (1915) representava o anseio de uma geração, pois revelava o desejo de emancipação de uma mulher que deixa o lar comum, o seio familiar, em busca de outra vida que acreditava ser plena para si. A consagrada autora é um exemplo de consorte intelectiva que veio a transgredir o universo equidistante entre o ser mulher usufruto da natureza, rendida ao lar e ao marido, para um contexto de classe sublime capaz de tornar-se incandescente e elevar-se na esfera social. A criação literária, uma vez que absorve um mundo de possibilidades do real, tem o poder enquanto representação de incutir ideias, comportamentos, ditar valores, propor saberes, interferir no social. Woolf declarou sobre a criação: “If one shuts one’s eyes and thinks of the novel as a whole, it would seem to be a creation owning a certain looking-glass likeness to life, though of course with simplifications and distortions innumerable.” 11 A ficção literária em certa medida está intercalada na cultura vigente, no construto histórico, político ou ideológico, mesmo que essa cultura não aponte um modelo de representação para o fato social, nesse evento, a condição feminina. O que ocorrera especialmente na situação das mulheres é que elas não eram reconhecidas pela cultura, percebidas pela doxa patriarcal como seres naturalmente invariáveis. Woolf inicia a discussão sobre “Mulher e Ficção” em resposta às estudantes fazendo sua defesa pessoal diante da impossibilidade de um desfecho para suas próprias indagações ao dizer: “One can only give one’s audience the chance of drawing their own conclusions as they observe the limitations, the prejudices, the idiosyncrasies of the speaker”.12 Porém, munida de argumentos, propôs provar sua tese de que as mulheres precisam de um teto e dinheiro próprios para tornarem-se escritoras. Virginia Woolf usou de intuição e mesura em sua argumentação, e constatou que o número de mulheres que escreviam ficção era inferior ao dos homens porém não devido a um demérito, mas por conta de um silenciamento histórico intimamente ligado à pobreza das mulheres. 11 “Quando se fecham os olhos e se pensa no romance como um todo, ele se afigura como uma criação dotada de certa semelhança especular com a vida, embora, é claro, com inumeráveis simplificações e distorções” (p.88-89). 12 “Pode-se apenas dar à plateia a oportunidade de tirar as próprias conclusões, enquanto observa as limitações, os preconceitos e as idiossincrasias do orador” (p.8).
  • 25. 25 Engels aponta em sua obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884),13 que com o surgimento do patriarcado dá-se início também ao processo de produção que admitiria a derrota das mulheres enquanto classe justamente porque as atribuições do homem, gerador de produção, eram enaltecidas e ao trabalho caseiro da mulher não se ajuizava valor algum. Com isso, para que a libertação feminina ocorresse a mulher teria de prosperar economicamente: A emancipação da mulher e sua equiparação ao homem são e continuarão sendo impossíveis, enquanto ela permanecer excluída do trabalho produtivo social e confinada ao trabalho doméstico, que é um trabalho privado. A emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante (ENGELS, 1884, p.58). No intuito de construir uma argumentação para o fato das mulheres e a ficção escrita por elas e sobre as mesmas, Virginia Woolf vai a Oxbridge 14 visitar o Museu Britânico. Munida de lápis e um bloco de notas, escolhe aleatoriamente alguns livros. Há nesse instante uma profunda consternação por parte da mesma ao perceber o quanto a historiografia silenciou muitas mulheres, negando-lhes a oportunidade de serem incluídas no cânone literário, e esboçando indignação constata: “Have you any notion of how many books are written about women in the course of one year? Have you any notion how many are written by men? Are you aware that you are, perhaps, the most discussed animal in the universe?” 15 Virginia Woolf não fez valer a sua pena placidamente e os seus louros, segundo ela , se deviam ao talento único que lhe negaria a própria existência, caso não o tivesse perseguido. Com certa intrepidez, ela traduz um belo exemplo de constância ao revelar como sustentou o seu labor. Antes de 1918 algumas das atividades que eram atribuídas às mulheres lhe rendiam pouco dinheiro e eram penosas, sendo que ela mesma teve de sacrificar-se. Woolf além de escrever para jornais realizou alguns serviços, como enviar cartas, produzir flores artificiais e ler para anciãs. O fato de ter ela angariado de sua tia Mary Bethon a quantia de quinhentas libras ao ano como herança e, por toda vida, trazia-lhe amparo, como evidencia: “No force in the world can take from me my five hundred pounds. Food, house and clothing are mine forever. Therefore 13 Título original em alemão: Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats. A obra escrita por Engels aponta a crescente materialidade da civilização e o momento em que se estabelece o Estado. 14 Nome fictício de uma universidade, que seria uma fusão das Universidades de Oxford e Cambridge. 15 “Têm vocês alguma noção de quantos livros são escritos sobre as mulheres em um ano? Têm alguma noção de quantos são escritos por homens? Estão cientes de ser, talvez, o animal mais discutido do universo?” (p.34).
  • 26. 26 not merely do effort and labour cease, but also hatred and bitterness.” 16 Ela reconhecia, assim, a necessidade dos esforços de muitas mulheres de classe média e trabalhadoras em obter dinheiro para escrever romances. Ao constatar a inexistência de escritoras ficcionistas no século XVI na historiografia de Londres, Virginia Woolf meditava na ideia de que uma mulher nesse período, que certamente vivera um contexto traumático, quer uma poetisa ou dramaturga, somente conseguiria escrever textos impregnados de um caráter desvirtuado. A escritora britânica revela ainda que no século XIX a “castidade” relacionada à autoria de mulheres fez com que escritoras como Charlotte Brontë e George Eliot e tantas outras usassem de pseudônimos masculinos para assim terem os seus textos apreciados, como supôs Woolf: Talvez não tenha sido apenas na intenção de receber críticas imparciais que George Eliot e Miss Brontë adotaram pseudônimos masculinos: talvez quisessem libertar a própria consciência, enquanto escreviam, das expectativas tirânicas em relação ao seu sexo (WOOLF, 2013,p.28). Em fins do século XVIII é que se origina uma escrita de mulheres de classe média inclinadas a produzir literatura, episódio esse que teria significado para Virginia Woolf um fato histórico mais esplendoroso que As Cruzadas ou A Guerra das Rosas. Ela consagra, através de suas conjecturas, a acuidade de obras femininas como Pride and Prejudice (1813), de Jane Austen e Wuthering Heights (1850), da autora Emily Brontë 17 . Woolf atribuiu à Jane Austen e às irmãs Brontë e ainda a George Eliot o título de predecessoras, que anonimamente ou não desbravaram um terreno homérico até então masculino. The extreme activity of mind which showed itself in the later eighteenth century among women — the talking, and the meeting, the writing of essays on Shakespeare, the translating of the classics — was founded on the solid fact that women could make money by writing (WOOLF, 1928).18 Virginia Woolf acreditava numa conjuração que forjava a ideia de que a mulher determinada a escrever se expunha ao grotesco ou ao infortúnio. Aphra Behn, escritora inglesa, é lembrada por Woolf como lendária: “(...) it was she who earned them the right to 16 “Nenhuma força no mundo pode arrancar-me minhas quinhentas libras. Comida, casa e roupas são minhas para sempre. Assim, cessam não apenas o esforço e o trabalho árduo, mas também o ódio e a amargura” (p.48). 17 Wuthering Heights, versão consagrada em português como “O Morro dos Ventos Uivantes”, é um clássico da literatura universal. Emily Brontë, escritora britânica, adotou o pseudônimo masculino Ellis Bell ao escrever a referida obra. Charlotte Brontë usara o pseudônimo Currer Bell. O nome verdadeiro de George Eliot era Marian Evans. 18 “A extrema atividade mental que se revelou entre as mulheres no final do século XVIII — as conversas, as reuniões, a redação de ensaios sobre Shakespeare, a tradução dos clássicos — baseou-se no sólido fato de que as mulheres podiam ganhar dinheiro escrevendo” (p.81-82).
  • 27. 27 speak their minds. It is she — shady and amorous as she was. — who makes it not quite fantastic for me to say to you tonight: Earn five hundred a year by your wits”.19 Behn fora uma senhora de classe média que, acometida de circunstâncias aterradoras, precisou competir igualitariamente com homens e, através de sua escrita, custeou a própria existência. Woolf apregoava a ideia de que a liberdade intelectual está ligada ao material, e que escrever poesia, por exemplo, ou ficção — como mostra do intelecto de muitas mulheres — se tornaria impossível sem que angariassem dinheiro. As “quinhentas libras” que menciona certamente faz ligação com a quantia que lhe foi assegurada por sua tia Mary Bethon, esse valor expresso se concilia ao tema da obra. São as duas condições propostas por Woolf para as mulheres tornarem-se literatas: ter “dinheiro” e “um teto próprios”. Fica evidenciada a materialidade imperiosa a que Woolf pré-estabelecia para que mulheres escrevessem ao revelar em certos momentos a substanciosa valia das quinhentas libras: “(...) five hundred a year stands for the power to contemplate, that a lock on the door means the power to think for oneself. ” 20 Ao referir-se à romancista Mary Carmichael : “(…) if she has a room to herself, of which I am not quite sure; if she has five hundred a year of her own — but that remains to be proved — then I think that something of great importance has happened” 21 . Virginia Woolf encontra no século XIX prateleiras com obras escritas exclusivamente por mulheres. Ela prossegue a apreciar livros de algumas autoras, e exortar a respeito delas, de suas grafias e o percurso que empreenderam para tornarem-se romancistas. No início do século a chamada “sala de estar” ou “sala de visita” era o lugar comum das famílias de classe média, onde se estabeleciam as relações, cunhando assim a sensibilidade para com a qual mulheres passaram a escrever. A escrita feminina se estabelecia ao nível das relações íntimas, da observância do caráter, no quotidiano ainda corriqueiro de muitas mulheres limitadas às regras do lar e das aparências. Woolf apontara que Jane Austen (1775-1817) quando começara a escrever, temia que seus escritos fossem descobertos, logo, este ofício. Sendo assim, a falta de liberdade para 19 “(...), pois foi ela quem lhes assegurou o direito de dizerem o que pensam”. É ela — por mais suspeita e sensual que tenha sido — que me faz parecer não muito fantástico o que vou dizer-lhes esta noite: "Ganhem quinhentas libras anuais com sua inteligência” (p.82-83). 20 “(...) quinhentas libras por ano representam o poder de contemplar, e de que a fechadura da porta significa o poder de pensar por si mesma” (p.130). 21 “(...) se ela tiver um quarto próprio, coisa de que não estou bem certa; se tiver suas próprias quinhentas libras anuais — mas isso ainda fica por comprovar —, penso, então, que algo de grande importância aconteceu” (p. 104).
  • 28. 28 expressar-se — e a exclusividade de um quarto próprio — certamente deveria lhe ter imposto algum constrangimento. O ato de compor se assemelhava a ideia de uma infração, devia ser sigiloso. Woolf meditara: Indeed, since freedom and fullness of expression are of the essence of the art, such a lack of tradition, such a scarcity and inadequacy of tools, must have told enormously upon the writing of women (…) And this shape too has been made by men out of their own needs for their own uses (WOOLF 1928).22 Mesmo tendo encontrado — já nas primeiras décadas do século XX — escritores vivos entre homens e mulheres com um número de publicações equiparáveis, fica evidente a insatisfação da autora para com a contemplação do seu próprio sexo. Para além das perspectivas apontadas, a ensaísta ponderava principalmente na falta de liberdade que transgrediu muito da falácia feminina, atingindo a integridade de muitas literatas ou aspirantes em potencial. 2.3 GÊNERO, SEXISMO E ANDROGINIA O conceito que se estabelece entre os gêneros masculino e feminino nas sociedades patriarcais, além de conceber o valor que os repartem, revela uma hierarquia de submissão do “sexo frágil”: a mulher em posição inferior ao homem. Sendo assim, é possível compreender a construção da “natureza” da mulher ao longo do tempo sendo alheia à cultura e às relações de poder, que de modo discrepantes forjaram o triunfo do sexo masculino. Até mesmo a sexualidade é comprometida em detrimento do patriarcalismo, que legitimou “o controle da sexualidade, dos corpos”, a autonomia do homem sobre a mulher na relação conjugal (MILLET, 1970; SCOTT, 1995). Woolf declarara : “Hence the enormous importance to a patriarch who has to conquer, who has to rule, of feeling that great numbers of people, half the human race indeed, are by nature inferior to himself. It must indeed be one of the chief sources of his power.” 23 Ela discutia assim que a liberdade conferida aos homens permitira a muitos destes um exercício inalienável de seu poder. 22 “De fato, uma vez que a liberdade e a plenitude de expressão são da essência da arte, essa falta de tradição, essa escassez e inadequação dos instrumentos devem ter afetado enormemente os escritos das mulheres (...). E também essa forma foi feita pelos homens a partir das próprias necessidades e para as próprias aplicações” (p.95). 23 “Daí a enorme importância para um patriarca que tem que conquistar, que tem que dominar, de sentir que um grande número de pessoas, a rigor, metade da raça humana lhe é por natureza inferior. De fato, essa deve ser uma das principais fontes de seu poder” (p.44).
  • 29. 29 Virginia Woolf em seu livro ensaístico reconhece o papel centralizador da figura masculina, porém sua repulsa ao sexismo se devia muito mais a conceitos de ordem humanística e reformadora que um apelo puramente feminista. Ao expor a opinião de homens sobre mulheres, Woolf mostra o despropósito de suas convicções misantrópicas em certos momentos, a ignomínia com que ultrajaram a imagem feminina causada por especulações pérfidas dirigidas às mulheres em todas as épocas. Napoleon thought them incapable. Dr. Johnson thought the opposite. Have they souls or have they not souls? Some savages say they have none. Others, on the contrary, maintain that women are half divine and worship them on that account. Some sages hold that they are shallower in the brain; others that they are deeper in the consciousness. Goethe honoured them; Mussolini despises them. Wherever one looked men thought about women and thought differently (WOOLF, 1928).24 Woolf faz referência ao Sr. Oscar Browning, uma imponente figura da Universidade de Cambridge, cujo tirocínio era proferir a supremacia do macho. A autora britânica ressaltara que no século XIX a visão misógina que se opunha às mulheres no culto ao saber ainda prevalecia nos idos de 1928. Sob a forma de um preconceito que persistia na lógica da inferioridade intelectual das mulheres, a autora calculara desse modo o agravo com que se configurou “a essência de ser mulher”. For here again we come within range of that very interesting and obscure masculine complex which has had so much influence upon the woman’s movement; that deep seated desire, not so much that she shall be inferior as that he shall be superior, which plants him wherever one looks, not only in front of the arts, but barring the way to politics too (...) (WOOLF, 1928).25 Outro ponto categórico — dessa vez envolvendo o ato de criação e a pessoa de um bispo — Woolf rememorara sua colocação machista de que a mulher não poderia escrever uma obra de ficção proeminente. O dito bispo afirmara que uma dona jamais seria concebida com um gênio igualável ao de Shakespeare.26 Virginia Woolf corroborava com o de fato de 24 “Napoleão as considerava incapazes. O Dr. Johnson pensava o oposto. Elas têm ou não têm alma? Alguns selvagens afirmam que não. Outros, ao contrário, sustentam que as mulheres são semidivinas e adoram-nas em função disso. Alguns sábios asseguram que elas são mais vazias de cabeça; outros, que têm uma consciência mais profunda. Goethe exaltou-as; Mussolini despreza-as. Para onde quer que se olhasse, os homens pensavam nas mulheres, e pensavam diferentemente” (p.38-39). 25 “Pois aí, mais uma vez, entramos no âmbito daquele complexo masculino muito interessante e obscuro que teve tanta influência no movimento feminista, daquele desejo arraigado não tanto de que ela seja inferior, mas de que ele seja superior, o que o coloca, para onde quer que se olhe, não apenas na dianteira das artes, mas barrando também o caminho da política, (...)” (p.68-69). 26 William Shakespeare (1564-1616) foi um poeta, escritor e dramaturgo inglês, cuja obra é constantemente revisitada pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Em seu livro Western Canon (1994), Harold Bloom declara:
  • 30. 30 que mulher alguma atingiria o talento de William Shakespeare, mas explicara: àquela época e contexto. Ficou conhecido um ditado inglês que apregoou a superioridade intelectual do homem, ao comparar o cérebro masculino de 1,60 kg ao da mulher, que sistematicamente seria de 1,22 kg. Em contraponto, crendo na possibilidade de uma mente feminina proativa para as artes, Woolf dá vida a uma personagem de nome Judith que ela projetara como sendo uma fictícia irmã de Shakespeare. Judith intuitivamente teria sido tomada pelo crescente desejo de compor ou atuar, mas nem mesmo frequentara uma escola como o irmão, porque caberia a ela aprender as regras do lar, as providências de uma casa, atributos de uma fêmea que desde cedo cultivara sua designação. A personagem suicidara-se, como induziu, diante da impossibilidade realizável de sua aspiração: “(...) who shall measure the heat and violence of the poet’s heart when caught and tangled in a woman’s body? (…)” 27 .Woolf, com a metáfora construída com Judith alertava às mulheres que nunca desistissem de suas pretensões na vida, por mais arbitrárias que fossem as circunstâncias. Virginia Woolf ao assimilar a projeção da mulher com o dobro do perfil masculino, associada à imagem refletida no espelho, apregoava a necessidade vital da existência das mulheres, com a qual justificava o próprio sucesso do homem. Ela ilustrara assim a razão de homens poderosos declararem-se autossuficientes e ignorarem as críticas femininas. Ela disse de modo inflamado: “I need not hate any man; he cannot hurt me. I need not flatter any man; he has nothing to give me” 28 , como se confessasse a si própria que sua dignidade não dependia das atribuições do sexo oposto. A relação entre gêneros, para Virginia Woolf, no que concerne à natureza de cada ser não lhe sugeria uma divisão peremptória, pelo contrário, ela os qualificara em certo momento como “criaturas da ilusão” (2004, p.41), ao compreender o aspecto do humano como dotado de ardores e anseios, sem distinção. Em sua visão: “It would be a thousand pities if women wrote like men, or lived like men, or looked like men, for if two sexes are quite inadequate, “Ele é o cânone secular, ou mesmo a escritura secular; para fins canônicos, antepassados e herdeiros igualmente são definidos apenas por ele” (p.32). 27 “(...) quem pode medir o fogo e a violência do coração do poeta quando capturado e enredado num corpo de mulher? (...)” (p.61). 28 “Não preciso odiar homem algum: ele não pode ferir-me. Não preciso bajular homem algum: ele nada tem a dar-me.” (p.48).
  • 31. 31 considering the vastness and variety of the world, how should we manage with one only?”29 Fica subentendida a ideia de conciliação entre as partes pela autora, ao fazer um juízo de valor à condição humana. O que se deve considerar ainda é que, ao escrever, as mulheres o faziam não necessariamente diferente dos homens, mas o universo que compunha o seu discurso pré- estabelecia inevitavelmente uma correspondência à ideologia feminina na constituição de gender. Como artista, defendia a visão da androginia da mente cujo espírito criativo não faz distinção de gênero, senão do teor artístico nato ao ser humano. Bonicci (2007, p.268) fala a esse respeito: “O conceito de androginia de Woolf (a rejeição da dicotomia essencialista entre o masculino e o feminino) não é uma fuga de identidades fixas do gênero, mas a percepção da enganadora natureza essencialista das identidades”. A autora concordava com Coleridge de que a mente criativa estaria em um homem mais feminino e uma mulher mais masculina, como interpretara: “He meant, perhaps, that the androgynous mind is resonant and porous; that it transmits emotion without impediment; that it is naturally creative, incandescent and undivided”.30 Virginia Woolf fez ainda referência a outros autores que demonstrara serem andróginos, a exemplo de Shakespeare. Woolf é considerada pioneira na vertente que estabelece o conceito de “descentramento do sujeito autoral” (MOI, 1988) 31 . A postura dualista de Virginia Woolf — e que se fez presente em sua palestra proferida em Cambridge — aclamou o seu discurso frente à constituição da metafísica ocidental anos mais tarde. Esse dualismo se dá na abordagem que a autora faz sobre o próprio sexo e por permitir que as “verdades” ali expostas passem pelo crivo do público, ou seja, este se torna coparticipe de uma análise na qual cada um faz sua própria leitura. Moi (2002, p.9) assim destacou: “Através da exploração consciente da natureza sensual e lúdica da linguagem, Woolf rejeita o essencialismo matafísico subjacente à ideologia patriarcal, que apela a Deus, o pai ou o falo como o significado transcendental”. Por volta da década de 70, esse tipo de discurso seria chamado de “desconstrucionista”. 29 “Seria mil vezes lastimável se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como os homens, ou se parecessem com os homens, pois se dois sexos são bem insuficientes, considerando-se a vastidão e a variedade do mundo, como nos arranjaríamos com apenas um?” (p.109). 30 “Ele quis dizer, quem sabe, que a mente andrógina é ressoante e porosa; que transmite emoções sem empecilhos; que é naturalmente criativa, incandescente e indivisa” (p. 121). 31 MOI, Toril. Sexual/Textual politics: feminist literary theory. Trad. Amaia Bárcena. Madri: Cátedra, 1988, p. 15-32.
  • 32. 32 3 O LÓCUS FEMININO EM SOCIEDADE O capítulo que segue trará alguns aspectos da educação da mulher inglesa e sua compleição em sociedade, interacionando o pensamento crítico de Virginia Woolf com respeito à presença das mulheres nas universidades e o próprio sistema educacional inglês. Esse recorte ainda apresentará a postura da autora inglesa concernente ao discurso de 1928 e o lugar da mulher enquanto gender numa projeção futura. Também serão observadas meditações acerca de sua visão analítica que, já fazia repercutir naquele século a emancipação das sociedades, abrangendo as artes, a cultura e o próprio ser humano. 3.1 A EDUCAÇÃO DA MULHER BRITÂNICA A necessidade de se manter a moralidade acentuada na observância do lar, da família enquanto “instituição universal”, em vista de uma sociedade tecnologizada no século XIX — o elo progresso e moral, trunfos do governo da rainha Vitória — fez notória uma reflexão sobre a educação da mulher britânica. Segue-se que a mulher que ousava cultivar sua inteligência e escolaridade além do desempenho da sala de estar estava violando a natureza e a tradição religiosa. As mulheres eram avaliadas conforme as características “inerentes” a seu sexo, ou seja, a ternura, a inocência, o amor ao lar e a submissão (BONICCI, 2007, p.219). Para assegurar a harmonia e a contenção dos valores no ambiente doméstico das famílias de classe média e alta, surge uma especial função para algumas mulheres inspiradas em virtudes especiais, sendo estas denominadas “anjos do lar”. A “preceptora” ou “anjo do lar” seria desse modo diretamente responsável pela formação da mulher inglesa, tanto moral quanto cultural. Em vistas de paginar e cultuar valores de uma lady, uma senhorita vitoriana deveria esforçar-se por alcançar afirmação na vitrine social, e isto incluía ser educada convencionalmente em seu próprio lar. Uma lady deveria ostentar determinados accomplishments, que incluiriam: falar francês (e, se possível, italiano), tocar piano, dançar e mostrar proficiência no trabalho com a agulha. O problema seria como e onde a mulher adquiriria tais accomplishments. As mulheres da alta classe media já não queriam ou não podiam ensinar seus próprios filhos, pois isto poderia comprometer o status de que gozavam e, além disso, nem sempre estavam suficientemente preparadas para fazer um syllabus elaborado. A solução imediatamente encontrada foi recorrer aos pensionatos de moda, cuja tarefa precípua era revestir a mulher de certo verniz cultural. (MONTEIRO, 1999, p.157)
  • 33. 33 A preceptora era escolhida quase sempre por ser membro da família em certo grau ou indicada por alguém ligado ao clérigo. Sua função vital era educar os filhos da aristocracia no trato aos valares morais e sociais. Com referência aos cuidados com as jovens pupilas, precisava fazer-lhes a observância de itens tais quais “sentimentos mais finos, em vez de tópicos viris das disciplinas acadêmicas” (EAGLETON, 1989, p.28). Embora recebendo uma remuneração que para a época não condizia com o alto preço de seus atributos, a realidade para uma jovem solteira e sem instrução era ainda pior, se se estabelecesse como operária, tarefa ainda mais rígida. Uma vez que a legislação inglesa não reconhecia a profissão de preceptora com litígio — tendo a sua dedicação estimável valor social, — configurava uma expropriação do trabalho dessas senhoritas. A preceptora particular não tem existência, não é considerada ser vivo e racional, exceto em relação aos deveres enfadonhos e cansativos que tem que cumprir. Enquanto está ensinando, trabalhando e divertindo as crianças, tudo bem, mas se rouba momentos para ela, torna-se incômoda (BRONTË apud GLASKELL, 1975, p. 187-188). A escola St. Mary´s Hall, fundada pelo reverendo Henry Elliot em 1836, visava preparar preceptoras para atuarem nas casas de família da alta e média burguesia. Existia uma preocupação excessiva com os hábitos das preceptoras, pois quando as filhas de comerciantes começam a engessar a função, os moralistas temiam essa influência e o risco de desvirtuação do papel do anjo do lar. Já por volta de 1890, muitas mulheres dentre estas ex-preceptoras, estavam enquadrando a atividade docente nas escolas onde moças em torno dos 15 anos podiam frequentar aulas. Na fase seguinte, estariam aos cuidados de uma preceptora. Com isso, os atributos para a preceptora tornaram-se ainda mais rigorosos e, para a formação de uma lady as perspectivas deveriam ser ampliadas para além de um ornamento ou manual. As preceptoras cada dia mais precisavam demonstrar capacidade, e em alguns casos era exigida certificação do Queen´s College ou do Junior e Senior Local University, escolas de prestígio na época. De fato a missão para uma senhora inglesa era aperfeiçoar os seus talentos enquanto “anjo do lar”, e resignadamente cultivar qualidades intrínsecas para uma dama. Esse episódio era repugnante para escritora britânica, pois: “Escrever constituía uma rebeldia que exigia subterfúgios e bajulações. Portanto, a morte do “anjo do lar” é necessária e, para que isso aconteça, Woolf insiste na educação das mulheres e dos homens” (BONNICI, 2007, p.269). A escritora Virginia Woolf lamentara o fato de não ter cursado uma faculdade. Por sua vez, fez críticas severas ao tratamento dado à educação de mulheres nas universidades
  • 34. 34 britânicas, e mesmo apontou o fato de uma universidade masculina como Oxbridge ser de alto padrão, enquanto Fernham, uma faculdade essencialmente para mulheres, ser tão carente. O descaso com que era vista a educação feminina e até o tratamento dado às mulheres em uma universidade como Oxbridge, fez a autora inglesa indignar-se, pois, dentre outras razões apontadas, estava o fato de uma senhorita somente ser admitida ali com uma carta de apresentação ou na companhia de um fellow32 se, como fez a autora, desejasse visitar a biblioteca. Não poderiam inclusive, como observou Woolf, pisar no gramado onde somente os rapazes que lá estudavam possuíam acesso. Em momentos em que a autora britânica fala diretamente às estudantes e aspirantes escritoras, ela procura adverti-las de colocações misóginas tais quais a do Sr. Browning que admitia a inferioridade intelectual das mulheres como algo fatídico, e ressalva a colocação do Sr. John Langdon Davies quanto ao fato de as mulheres em um dado instante serem “desnecessárias” 33 . Com temperada liderança, exortou a respeito da condição das mulheres e os privilégios que se lhe apresentavam a partir de então, os quais muitas ainda não acordavam ou despretensiosamente atentavam. Woolf revelou que já em 1866 algumas universidades estavam abertas para as mulheres na Inglaterra. May I also remind you that most of the professions have been open to you for close on ten years now? When you reflect upon these immense privileges and the length of time during which they have been enjoyed, and the fact that there must be at this moment some two thousand women capable of earning over five hundred a year in one way or another, you will agree that the excuse of lack of opportunity, training, encouragement, leisure and money no longer holds good (WOOLF, 1928). 34 Além de também alertar as jovens no discurso de seu tempo até mesmo sobre a condição de terem filhos — cuja incidência não deveria superar o número três — Woolf refletira intelectualmente sobre a condição social e educacional da Inglaterra através de sua conjuntura histórica. Ela trouxe uma consistente arguição na qual dizia que os povos foram compelidos pelo destino de forma que não seriam responsáveis por falhas construídas na 32 Fellows são estudantes de cursos de pós-graduação admitidos pela Fellowships, fundação que os ancoram à universidade onde estes, por vezes, costumam residir. 33 John Langdon Davies, que era um repórter, escrevera: "(...) quando as crianças deixam de ser inteiramente desejáveis, as mulheres deixam de ser inteiramente necessárias (...)” (p.136) 34 “Será que posso também lembrar-lhes que a maioria das profissões está aberta a vocês há quase dez anos? Quando refletirem sobre esses imensos privilégios, a extensão de tempo em que eles vêm sendo desfrutados e o fato de que deve haver, neste momento, umas duas mil mulheres capazes de ganhar mais de quinhentas libras por ano de um modo ou de outro, vocês hão de concordar em que a desculpa da falta de oportunidade, formação, incentivo, lazer e dinheiro já não se aplica” (p.137).
  • 35. 35 arregimentação dos líderes, e defende a estes dizendo: “They too, the patriarchs, the professors, had endless difficulties, terrible drawbacks to contend with” 35 justificando o próprio ensino e o de muitos como consequência de uma carência pré-existente. 3.2 A EMANCIPAÇÃO FEMININA O discurso é um ato enunciativo que tem na fala do locutor a finalidade de impactar um público específico, embora não tendo a primazia de elucidar constatações em seu direito de apresentar-se como tal 36 . O livro de Virginia Woolf se baseia em duas aulas proferidas pela autora em Newham e em Girton College (duas faculdades para mulheres na Universidade de Cambridge). Trata-se de um longo ensaio escrito dois dias antes de sua audição. A escritora e crítica literária, através de seu “discurso feminista” em A Room of a One´s Own (1929), direcionava-se às leitoras, escritoras e ouvintes senhoras da Universidade de Cambridge, posicionando-se, dessa forma, como porta voz das mulheres ocidentais. A construção da categoria “mulher” inclui discursos de diferentes origens sociais, como o literário, o científico, o religioso, os diversos discursos de senso comum e também discursos de diferentes orientações ideológicas, desde os mais conservadores aos mais progressistas, incluídos aqueles produzidos pelo feminismo (TEXEIRA, 2009, p.90). A ensaísta ressaltara que, em se tratando do tema mulher e literatura não chegaria um consenso, pois ao exaltar que a própria condição do gênero é um assunto “altamente desenvolvido” e “infinitamente intrincado”, dada a complexidade e ao tratamento necessário aos assuntos do sexo, contraria a própria verbalização a não chegar a exposições resolutas. Virginia Woolf, usando de certa ironia com a sutil constatação “The history of men’s opposition to women’s emancipation is more interesting perhaps than the story of that emancipation itself” 37 , referia-se à faceta de alguns homens que tentaram estrategicamente estagnar a emancipação feminina. E, desse modo, sugeria que as alunas das faculdades em Cambridge pudessem comprovar essa teoria. There would always have been that assertion — you cannot do this, you are incapable of doing that — to protest against, to overcome. Probably for a novelist this germ is no longer of much effect; for there have been women novelists of merit. But for painters it must still have some sting in it; and for 35 “Também eles, os patriarcas, os professores, tiveram dificuldades infindáveis, terríveis obstáculos contra o que lutar” (p.48). 36 MAINGUENEAU, Dominique. Discurso Literário. São Paulo: Contexto, 2006, p.35-45. 37 “A história da oposição dos homens à emancipação das mulheres talvez seja mais interessante do que a história da própria emancipação” (p.69).
  • 36. 36 musicians, I imagine, is even now active and poisonous in the extreme (WOOLF, 1928) 38 . Ao passo que discute a condição feminina, já em 1928, a autora observa que em amplos setores da sociedade: educação, política, comércio, dentre outros, as mulheres não se encontravam. Poucas alcançaram como status uma graduação na universidade. Para Virginia Woolf, por sua vez, as mulheres haviam chegado a um impasse para a sua categoria: necessitavam dar um salto decisivo e estabelecer o seu espaço na sociedade, em outras palavras, estavam direcionadas ao sucesso. For women have sat indoors all these millions of years, so that by this time the very walls are permeated by their creative force, which has, indeed, so overcharged the capacity of bricks and mortar that it must needs harness itself to pens and brushes and business and politics (WOOLF,1928). 39 A escritora britânica avaliou que a luta pelo sufrágio fez nascer nos homens um instinto de autodefesa implacável que os fizera atentar para uma investida ainda mais acirrada em contraponto às mulheres, cujos romances as descreviam sempre através de estereótipos. Ao afirmar que “No age can ever have been as stridently sex-conscious as our own; those innumerable books by men about women in the British Museum are a proof of it” 40 , demonstrara clareza em sua convicção de que as mulheres romperam barreiras e se posicionaram em uma linha de confronto na qual a constituição de sua alteridade passou a exercer domínios e prerrogativas. Politicamente as mulheres eram consideradas cidadãs de segunda categoria. Elas não podiam votar, assumir cargos administrativos (exceção feita à rainha Vitória, a qual era antifeminista), trabalhar como advogadas ou médicas, nem sequer como secretárias nos escritórios. Desde a década de 1840 o parlamento britânico era assediado por pedidos de sufrágio feminino considerado “uma tolice louca” pela rainha Vitória (BONNICI, 2007, p.219). Virginia Woolf, ao longo de seu ensaio, demonstrou com veemência a crença em um descortinamento e ascensão da mulher na sociedade, e, como prova, sequer subestimou ou 38 “Haveria sempre aquela afirmativa — você não pode fazer isto, você é incapaz de fazer aquilo — contra a qual protestar e a ser superada. Provavelmente, para uma romancista, esse germe já não surte grande efeito, pois tem havido mulheres romancistas de mérito. Mas, para as pintoras, isso deve trazer ainda algum tormento; e para as musicistas, imagino, é ainda hoje ativo e venenoso ao extremo” (p.67-68). 39 “Pois as mulheres têm permanecido dentro de casa por todos esses milhões de anos, de modo que a essa altura as próprias paredes estão impregnadas por sua força criadora, que, de fato, sobrecarregou de tal maneira a capacidade dos tijolos e da argamassa que deve precisar atrelar-se a caneta e pincéis e negócios e política” (p. 108). 40 “Nenhuma era jamais conseguirá ser tão ruidosamente consciente do sexo quanto a nossa; esses incontáveis livros escritos por homens acerca de mulheres no Museu Britânico são prova disso” (p.121).
  • 37. 37 limitou a capacidade feminina, ao ponto de imaginar mulheres chefiando cargos de alto escalão para uma era que ela própria não alcançaria. Moreover, in a hundred years, I thought, reaching my own doorstep, women will have ceased to be the protected sex (…) all assumptions founded on the facts observed when women were the protected sex will have disappeared (...) anything may happen when womanhood has ceased to be a protected occupation (…) (WOOLF,1928).41 Atentando para o futuro da ficção, Woolf se satisfazia com a ideia de as mulheres assimilarem a arte como expressividade, ao invés de um postulado que exercesse a ideia de uma “literatura escrita por mulheres.” Até mesmo porque, como reiterou a autora, não caberia um julgamento que avaliasse o teor dos textos femininos comparado aos masculinos no contexto de seu tempo. Isto, porque julgara cedo, já que mulheres precisariam ganhar mais dinheiro e terem, assim, mais obras escritas. Além disso, justificara que “(...) even if the time had come I do not believe that gifts, whether of mind or character, can be weighed like sugar and butter (…)” 42 Virginia Woolf lembrara refletidamente das figuras de Jane Austen e Emily Brontë. Apreciadora do talento que possuíam, destacou também o fato de terem elas resistido bravamente ao sistema patriarcalista em seus liames. Woolf as aclamara como sendo as únicas mulheres de suas épocas que alcançaram sucesso “escrevendo como mulheres e não como homens”. E acrescera: “(...) they alone entirely ignored the perpetual admonitions of the eternal pedagogue — write this, think that.” 43 Elas conseguiram contrariar a máxima de Sir Egerton Brydges, que dissera em 1928: “… Female novelists should only aspire to excellence by courageously acknowledging the limitations of their sex.” 44 . A luta feminina ao longo de séculos esteve representada em muitos contextos como uma forma de resistência e submissão das mulheres — que ainda no final do século XX entoavam um brado pela liberdade intelectual. As condições para a emancipação feminina, e para as 41 “Além disso, dentro de cem anos, pensei, alcançando a porta de casa, as mulheres terão deixado de ser o sexo protegido (...) todas as suposições fundamentadas nos fatos observados quando as mulheres eram o sexo protegido terão desaparecido (...) tudo pode acontecer quando a feminilidade tiver deixado de ser uma ocupação protegida (...)” (p.50-51). 42 “(...) mesmo que fosse chegada a hora, não creio que os dons, sejam eles da mente ou do caráter, possam ser pesados como açúcar e manteiga (...)” (p.128-129). 43 “(...) somente elas ignoraram por completo as admoestações perpétuas do eterno pedagogo — escreva isto, pense aquilo.” (p.93). 44 “... As romancistas só devem aspirar a excelência reconhecendo corajosamente as limitações de seu sexo." (p.93).
  • 38. 38 mulheres não mais tolerarem ser o “sexo protegido”, como afirmou Woolf, exigia uma mudança de paradigma ousadamente por cada uma delas. A história do feminismo é a história de mulheres que só tiveram a oferecer paradoxos não porque — como queriam os críticos misóginos — a capacidade racional da mulher seja deficiente ou a essência de sua natureza seja fundamentalmente diferente, nem porque o feminismo de algum modo, não conseguiu alinhar teoria com prática, mas porque o feminismo ocidental e historicamente moderno é construído por práticas discursivas de política democrática que igualaram individualidade e masculinidade. (SCOTT, 2002, p.29) 3.3 A ANTEVISÃO CRÍTICA DE WOOLF As palavras da escritora Virginia Woolf em A Room of One´s Own marcam com evidência o posicionamento de uma intelectual que em nenhum momento deixou de situar o aspecto humano e suas incertezas, dissabores e magnitude. A autora britânica demonstra em muitos instantes a potencialidade de antever os arroubos do amanhã, considerando sutilmente sua sabedoria, inteligência e intuição. E, de tal maneira, não anuncia uma visão profética — antes, revela uma “crença ou instinto” de ordem filosófica — a confiança em um despojamento de caráter humano. For my belief is that if we live another century or so — I am talking of the common life which is the real life and not of the little separate lives which we live as individuals (…) if we have the habit of freedom and the courage to write exactly what we think; if we escape a little from the common sitting- room and see human beings not always in their relation to each other but in relation to reality;(…) ; if we face the fact, for it is a fact, that there is no arm to cling to, but that we go alone and that our relation is to the world of reality and not only to the world of men and women, then the opportunity will come (…) (WOOLF, 1928).45 As admoestações de Woolf em seu ensaio direcionadas às mulheres assumem em muitas ocasiões um caráter acidental, onde por vezes o público é cúmplice de suas deliberações. Em outros instantes a escritora assume a posição de catedrática e precursora; também aquela que advoga a causa feminina porque entende a sua função enquanto crítica, artista e mulher. 45 “Pois minha crença é de que, se vivermos aproximadamente mais um século — e estou falando na vida comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente; (...); se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, (...) se encararmos o fato, porque é um fato, de que não há nenhum braço onde nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres, então a oportunidade surgirá, (...)” (p.138).
  • 39. 39 Quando falava de guerra, especialmente a Primeira Guerra Mundial, psicologicamente sentia-se perturbada com o fato de mulheres perderem os seus maridos e filhos, e colocava-se à revelia da condição e do opróbrio que os “homens” constituíam com a miséria, a falta de paz e a perda de suas populações. Muitas mulheres, inclusive, precisaram em períodos de guerra substituir a mão de obra masculina. Era desse modo, uma mulher que sofrera com os horrores da guerra e seus perjuros e denotava uma preocupação perene com os rumos da civilização. A própria Virginia Woolf considera uma missão do artista abstrair da realidade além das possibilidades de qualquer outra pessoa, e torná-la visível, interpretá-la e comunicá-la ao mundo. Ajuizava que as aspirantes escrevessem sobre os mais diversos temas: “Thus when I ask you to write more books I am urging you to do what will be for your good and for the good of the world at large.” 46 As possiblidades para a ficção assim se multiplicariam, pois Woolf atribuía mérito em se estudar ciência, filosofia ou história, ou outra disciplina, contanto que se ampliassem suas visões de mundo, de criação e inventividade. Virginia Woolf, ao compreender o Museu Britânico e a cidade como “grande oficina” e um lugar de “fábricas e trabalhadores”, concebeu bases para a fundação do Pós- Estruturalismo ao situar-se numa visão integrada do mecanicismo e das transformações que advieram com o capitalismo e o sindicalismo. Ela interpenetrara a condição humana e social considerando os mais diferentes aspectos: humano, político, cultural e intelectual. A escritora também é tratada como vanguardista ao conceber, como na mente andrógina, a união entre os gêneros, não lhes atribuindo, reiteradamente, a condição de oposição ou dualismo. Antecipara nesse viés a destituição de hierarquias históricas. Quando afirma que “It is fatal to be a man or woman pure and simple; one must be woman-manly or man-womanly” 47 , prova a impossibilidade de um sexo viver sem outro. Proclama assim uma união vindoura, a dinâmica ideal entre o despertar para uma nova realidade e o essencial em cada ser: a conscientização de si e do outro. Sua antevisão acerca da compleição feminina contribuiu ainda para a fundamentação de estudos pós-modernos sobre a condição das mulheres no mundo atual. 46 “Portanto, quando lhes peço que escrevam mais livros, insisto em que façam algo que será para seu bem e para o bem do mundo em geral.” (p.133). 47 “É fatal ser um homem ou uma mulher, pura e simplesmente; é preciso ser masculinamente feminina ou femininamente masculino.” (p.127).
  • 40. 40 CONCLUSÃO A importância dos estudos sobre a mulher quer na contemporaneidade, quer em exames futuros, certamente deverá considerar as contribuições de Virginia Woolf para a compreensão do retrato da mulher em sociedade, mais especialmente da mulher ocidental. A autora britânica em seu livro ensaístico expõe ao leitor muito mais que prerrogativas estanques sobre a condição feminina e sua autenticidade enquanto símbolo. No discurso de seu tempo ela promoveu um levante, uma iniciativa para a realização de um feito inatingível para muitas mulheres: a liberdade de contemplar o futuro. Woolf, no que concerne sua visão de mundo e, ao assumir-se declaradamente provida de consciência de seu próprio sexo como elemento, faz de A Room of One´s Own uma jornada de circunstantes declarações e revelações que apresentam ao leitor e pesquisador de sua obra uma abundante argumentação para o fato feminino. Há que se considerar como afirmou Bloom (2004, p.420) que “não se pode distinguir seu feminismo de seu esteticismo; talvez devêssemos aprender a falar de seu “feminismo contemplativo”, na verdade uma posição metafórica”. A ensaísta apontou que as mulheres haviam sido pobres não somente nos últimos duzentos anos, mas desde o início dos tempos. Assim, avançou para os fatos que evidenciaram a inexistência ou a condição desassistida de escritoras em potencial, porém reverenciando aquelas que romperam o silêncio e escreveram seus nomes na história. Virginia Woolf criticamente propôs através da androginia da mente um novo paradigma para a condição do artista, também a humana. Ao longo de todo o ensaio demonstrou os seus dotes peculiares como crítica cultural, e julgou o valor estético de obras literárias femininas assim como elogiara o talento de escritores consagrados do sexo masculino. Desse modo, marcara o seu discurso com um diálogo aberto e acessível às jovens estudantes e aspirantes escritoras de seu tempo, evidenciando o seu caráter humano e intelectualmente engajado para uma causa maior: a união dos gêneros. Simone de Beauvoir, escritora francesa que pertenceu à segunda onda feminista, também defendia a união entre homens e mulheres e questionou: “Será suficiente mudar leis, instituições, costumes, opinião pública e todo o contexto social para que homens e mulheres se tornem verdadeiramente iguais?” (BEAUVOIR, 1974, p.799). Virginia Woolf acreditava que as mulheres em cem anos estariam liderando e alcançando espaços privilegiados nas sociedades.
  • 41. 41 Ainda não se completaram os proferidos anos e o episódio está se consumando, mas a autonomia feminina é ainda controvertida. O que desejam as mulheres no presente século do alto das torres de suas cidades satélites é o encorajamento dos poderes limítrofes de assumirem a importância do exercício feminino na medida de suas reais potencialidades. O patriarcalismo insistente dos dias de hoje, diferentemente do passado, está intercalado no presente em discursos tais quais o da defesa dos direitos humanos que, em 1993 instituiu os chamados crimes de “violência de gênero”, que são os preconceitos direcionados às mulheres e qualquer tipo de violência que se impõe de modo desigual. Ou seja, existem as leis que protegem e asseguram os diversos direitos, porém estes efetivamente não são contemplados em muitas circunstâncias. Quando Virginia Woolf aconselhou as estudantes a escreverem sobre qualquer tema por mais banal que fosse, julgando que poderia significar por horas ou por séculos, talvez refletidamente acreditasse que suas palavras se projetariam na vida daquelas jovens ali presentes. Seu discurso durou uma hora, duas? O que se sabe é que as “verdades” ditas pela escritora ainda hoje apontam direções e lampejos que penetram a condição feminina. Virginia Woolf, ao conclamar que distintas mulheres em seus mundos particulares saiam do acaso petrificado pela história para a conscientização de seus valores no universo, dá um passo decisivamente hercúleo para a emancipação do feminino. Numa posição atrelada a valores intrinsicamente pulsantes do eu feminino, a autora e intelectual assumiu a militância e as aspirações femininas de seu tempo eclodindo como um sol a ofuscar as nuvens sombrias do patriarcado inglês para a elevação de um novo prisma no horizonte. Existem muitos desafios no dardejante caminhar feminino rumo à liberdade igualitária. Mas cabe às mulheres hoje, como no passado, transgredirem o presente e assim inscreverem- se num futuro almejado e seguramente seu.
  • 42. 42 REFERÊNCIAS ASHCROFT, B; GRIFFITHS, G. e TIFFIN, H. The Empire Writes Back. London: Routledge, 1991. BONICCI, Thomas. Teoria e Crítica Literária Feminista: conceitos e tendências. Maringá: Eduem, 2007. ____________. Resistencia e intervenção nas literaturas pós-coloniais. Maringá: Eduem, 2009, p. 23. BLOOM, Harold. O Cânone Ocidental: os livros e a escola do tempo. Tradução: Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.p.33. BRADBURY, Malcom e Mc Farlane. Modernismo: guia geral 1890-1930. Tradução de Denise Botman. Companhia das Letras: São Paulo, 1989. COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. vol.2. 1ª edição. São Paulo: Saraiva, 2010. p.192-202. CUNHA, Paula Cristina. Da Crítica Feminista e a Escrita feminina. Revista Criação e Crítica. Disponível em:<http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/download/46837/50598> Acesso em 26 de julho de 2013. D´ONOFRIO, Salvatore. Literatura ocidental: Autores e obras fundamentais. 2ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2000. ENGELS, Frederich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Disponível em:<http://www. http://www.intersindical.inf.br/livros/A%20Origem%20da%20Familia,%20da%20Propriedad e%20Privada%20e%20do%20Estado.pdf >Acesso em 26 de julho de 2013. GAZZOLA, Ana Lúcia Almeida. O Brasil de Marianne North: lembranças de uma viajante inglesa. Revista Estudos Feministas. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2008000300020&script=sci_arttext>Acesso em 01 de maio de 2013. HOBSBAWM, Eric. A era do capital (1848-1875). Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.p.312- 313. JAPIASSU, Hilton. A dimensão “machista” da ciência. Revista Reflexão Papirus, Campinas-SP, n.28, p.09-29. jan.1984. KONDER, Leandro. Os sofrimentos do homem burguês. São Paulo, Senac, 2000.p.63-66. KRISTEVA, Julia. A Question of Subjectivity - and Interview. Women's Review, n. 12, 1986, p.19-21.
  • 43. 43 LIMA, Luciano Rodrigues. Clarice Lispector comparada: narrativas de conscientização em Clarice Lispector, Virginia Woolf, Susan Glaspell, Katherine Mansfield e A. S. Byatt. Salvador: Edufba, 2008. LORDE, Audre. The Master´s Tools Will Never Dismantle The Master´s House. Latham: Kicthen Table Press, 1983.p.93. MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Ched, 1980.p.23-24. MENDES, Iba. Feminismo: história e rebatimento nas relações sociais. Disponível em: <http://www.ibamendes.com/2011/02/uma-breve-historia-do-feminismo.html> Acesso em 26 de julho de 2013. MORAES, Maria Lygia Quartim. Dossiê: Marxismo, feminismo e "estudos de gênero". Disponível em:< http://www. Pagu .unicamp. br sites www.ifch.unicamp.br.pagu ... MLygia2.pdf > Acesso em 26 de julho de 2013. NARVAZ, Martha Giudice e KOLLER, Sílvia Helena. Famílias e patriarcado: da prescrição normativa à subversão criativa. Disponível em:<http://www. http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/fam%C3%ADlias-e-patriarcado-da- prescri%C3%A7%C3%A3o-normativa-%C3%A0-subvers%C3%A3o-criativa>Acesso em: 10 de novembro de 2013. PORTO, Bernadette, REIS. Lívia de Freitas e VIANNA. Lúcia Helena. Seminário Nacional da Mulher e Literatura. Niterói: Eduff, 1999. SANTIAGO, Pedro. CERQUEIRA, Célia e PONTES, Maria Aparecida. Por dentro da história.Vol.2.São Paulo: Edições Escala Educacional S/A, 2010.pg.210-219. SCOTT, Joan Wallach. A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem. Florianópolis: Editora Mulher, 2002. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Three Women´s Texts and Critique of Imperialism. Critical Enquiry, v.21.n.1,1985, p.243-261. Disponível em: http: www. courses. essex. ac.u lt lt354 Gayatri 20Spiva , 20...>Acesso em 20 de junho de 2013. TEIXEIRA, Nícia Cecília Ribas Borges. Entre o ser e o estar: o feminino no discurso literário. Revista Guairacá, Guarapuava-PR, v. 25, n. 1, 2009. Disponível em:< http://www.revistas.unicentro.br/index.php/guaiaraca/article/viewFile/1125/1082> Acesso em 26 de julho de 2013. THE UNIVERSITY, Adelaide of. A Room of One´s Own, by Virginia Woolf. Disponível em:< http://www.ebooks.adelaide.edu.au/w/woolf/virginia/w91r/> Acesso em 30 de maio de 2012. THOMPSON, E.P. A formação da classe operária inglesa. Vol.3. Rio Janeiro: Paz e Terra.p.33-34
  • 44. 44 WOOLF, Virginia. Um Teto Todo Seu. Tradução: Vera Ribeiro. São Paulo: Nova Fronteira S.A.,1985. Disponível em: <http://www.brasil. indymedia.org/media/2007/11//402799. pdf > Acesso em 24 de junho de 2012. ______________. A Room of One´s Own. England: Peguim Books, 2004. ______________. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Tradução: Denise Bottmann. Porto Alegre-RS: L&PM,2013. _____________. Mr. Bennett and Mrs. Brown. Reed. Collected Essays,v. 1. London,1966, p.321.