Este documento apresenta e avalia uma metodologia alternativa de educação ambiental marinha chamada EcoTurisMar, testada no Parque Estadual da Ilha Anchieta. A metodologia foi comparada com o projeto "Trilha Sub-Aquática", que já havia demonstrado eficácia. Os resultados indicaram que ambas as metodologias melhoraram a compreensão dos ecoturistas sobre as interrelações ambientais, porém o EcoTurisMar foi mais eficaz em promover a visão de convivência harmoniosa entre natureza e humanos.
1. XXI SEMANA NACIONAL DE OCEANOGRAFIA XXI SNO (Resumos) Belém ISSN
Projeto EcoTurisMar: Uma Proposta de Educação/Interpretação
Ambiental para o Ecoturismo Marinho em Áreas Protegidas. Estudo de
Caso Preliminar no Parque Estadual da Ilha Anchieta, São Paulo,
Brasil.
A. G. Pedrini1; E. S. de Andrade-Costa2; V. G.
da Silva2; R. Pina1; M. G. Saba1; F. Berchez3.
1
Departamento de Biologia Vegetal, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, CEP:
20550900, email:alexanbio@gmail.com
2
Faculdade de Oceanografia, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, CEP: 20550-900;
3
Departamento de Botânica, Universidade de São Paulo,
São Paulo, CEP: 05508-030
RESUMO
A Educação Ambiental Marinha (EAM), a despeito do enorme litoral brasileiro, é ainda incipiente no país.
Nesse contexto, o presente trabalho apresenta resumidamente uma metodologia alternativa de EAM para
ecoturistas e sua respectiva avaliação durante teste piloto no Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA),
Ubatuba, São Paulo. Esta Unidade de Conservação terrestre possui uma área de amortecimento marinha, em
que, no mês de janeiro quando ocorre o pico máximo de visitação é realizado o projeto "Trilha Sub-Aquática:
Educação Ambiental para Ecossistemas Marinhos" da Universidade de São Paulo. Essa atividade é a única
oferecida regularmente e sua eficácia foi comprovada por recente avaliação independente. Tendo esta como
referencial foi testada a eficácia da metodologia do projeto, aqui descrito. Para a avaliação das duas
metodologias de EAM foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, onde foram adotados como indicadores
de desempenho: a) o conceito de Meio Ambiente do ecoturista; b) número de interrelações essenciais medidas
pelo número de conexões, feitas pelo ecoturista, entre compartimentos sociambientais na estratégia
pedagógica denominada Teia da Vida. Observou-se que tanto o TrilhaSub como o EcoTurisMar
proporcionaram aos ecoturistas um importante acréscimo quantitativo, cerca de 172% e 119%
respectivamente, em relação as interrelações essenciais dos compartimentos socioambientais do meio. A
proposta metodológica do EcoTurisMar apresentou eficácia para uma Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis no ambiente marinho.
PALAVRAS-CHAVES: Ecoturismo, Unidade de Conservação.
INTRODUÇÃO Recentemente, autores brasileiros vêm se debruçando nesse
tema no contexto marinho, destacando-se os trabalhos de
BERCHEZ et al. (2005, 2007) e PEDRINI et al. (2008 a, c).
Os ecossistemas marinhos são fonte de riquezas tanto como Dentro desse contexto, o presente trabalho apresenta
recurso a ser explorado racionalmente, como bem natural para ser resumidamente uma metodologia alternativa de EAM para
intocado. O gerenciamento adequado destes ecossistemas ecoturistas, projeto denominado ”EcoTurisMar -Educação/
possibilita a conservação da sua geobiodiversidade e é realizado Interpretação Ambiental para o Ecoturismo Marinho em Áreas
atualmente através da fiscalização com emissão de multas e prisão Protegidas”, e sua respectiva avaliação durante teste piloto no
de criminosos ambientais e através da Educação Ambiental para Parque Estadual da Ilha Anchieta. Com isso, temos o intuito de
Sociedades Sustentáveis (EASS). É importante considerar que, disponibilizar mais uma metodologia de avaliação de desempenho
dentre estes, a primeira alternativa pode ser avaliada apenas em da EASS para o contexto marinho e receber uma leitura
curto prazo, já a segunda em médio e longo prazo. Contudo, tanto especializada e crítica.
no exterior como no Brasil, a Educação Ambiental Marinha
(EAM) é bem pouco citada em periódicos especializados.
No Brasil, PEDRINI (submetido) categorizou cinco abordagens MATERIAL E MÉTODOS
para a EAM: a) por espécies ícones como a conservação de
golfinhos ou baleias; b) por ecossistemas ameaçados como A aplicação e avaliação da metodologia proposta pelo Projeto
manguezais ou recifes de corais; c) por ator social como caiçaras EcoTurisMar foi feita durante o pico máximo de visitação dos
ou catadores de caranguejos; d) por simulacros como Oceanários ecoturistas (mês de janeiro de 2009) ao PEIA, município de
ou Aquários; e) aulas de biologia marinha por escolas Ubatuba, Estado de São Paulo. A metodologia testada, em caráter
fundamentais ou médias. No entanto, mesmo essas poucas piloto, foi comparada com a metodologia adotada pelo projeto
iniciativas não são alvo de avaliações nem de curto nem de longo "Trilha Sub-Aquática: Educação Ambiental para Ecossistemas
prazo, muitas vezes por desinteresse em criar metodologias com Marinhos" da Universidade de São Paulo. O TrilhaSub é
indicadores de avaliação de desempenho tanto dos facilitadores desenvolvido há alguns anos no PEIA e mostrou-se eficaz por
como dos atores recebedores dessas ações em EAM. auto-avaliação feita por BERCHEZ et al. (2005) e por avaliação
2. independente feita por PEDRINI et al. (2008c), como atividade de Podem-se perceber poucas diferenças na caracterização pessoal
Educação Ambiental Marinha em uma Unidade de Conservação. dos participantes por cada metodologia. Os ecoturistas submetidos
Dentre as atividades desenvolvidas pelo TrilhaSub daremos ênfase à metodologia do TrilhaSub apresentaram maior capacitação
a trilha de mergulho livre, sendo que as etapas detalhadas da escolar, sendo que 31,25% possuíam algum tipo de especialização
metodologia do TrilhaSub podem ser obtidas pelo trabalho de além do ensino superior. Em relação à faixa etária esse grupo
BERCHEZ et al (2007). Para a realização da atividade e teste das apresentou média de 32,5 anos, já o grupo submetido à
metodologias um conjunto de 2-4 ecoturistas foi levado a uma metodologia do EcoTurisMar possuía idade média de 29,3 anos. A
trilha interpretativa marinha com cerca de 350 metros de costão, percepção do conceito de Meio Ambiente dos ecoturistas pode ser
sendo utilizada uma balsa de apoio que se destinou tanto à observado na tabela 2.
segurança como a servir como uma plataforma de apoio para
discussões e anotações pelos ecoturistas. As metodologias Tabela 2: Percepção do conceito de Meio Ambiente, segundo a
aplicadas pelo TrilhaSub e EcoturisMar tiveram alguns pontos tipologia de REIGOTA (2007).
divergentes que devem ser ressaltados, em termos conteudísticos
houve maior exploração, dentro da água, de temas relacionados Tipologia TrilhaSub(%) EcoTurisMar(%)
aos organismos presentes no costão pela metodologia adotada pelo Pré- Pós- Pré- Pós-
TrilhaSub, que realizou paradas em seis pontos interpretativos. Já Teste Teste Teste Teste
o EcoTurisMar diminuiu o tempo na água fazendo apenas uma
Local 8 19 8,3 8
parada em um ponto interpretativo, onde eram ressaltadas as
interrelações entre os organismos presentes no costão e no meio apenas para
ambiente em geral. Contudo, o EcoTurisMar adotou uma dinâmica o Homem
mais longa com os ecoturistas fora da água. Nesse caso, havia Local 50 63 58,4 8
duas atividades prévias complementares as do TrilhaSub: a) apenas para
apresentação através de um pôster da síntese da composição e das a Natureza
interrelações dos elementos da geobiodiversidade marinha que Local para 42 18 25 67
iriam visitar; b) dinâmica de sensibilização em que o turista foi convivência
convidado a expressar como ele percebia o Meio Ambiente. harmônica
A avaliação do aprendizado dos ecoturistas que participaram de
entre o
ambas as metodologias foi feita, essencialmente, através de
entrevistas semi-estruturadas pessoais tanto previamente (pré- Homem e a
teste) como após (pós-teste) a sua participação na modalidade. Natureza
Para a avaliação foram adotados como indicadores de Outros 0 0 8,3 17
desempenho: a) a escolha feita pelo ecoturista do conceito de
Meio Ambiente, sendo que este foi classificado em três categorias: A Tabela 2 mostra que a atividade TrilhaSub fez aumentar
local apenas para o homem, local apenas para a natureza e local (13%) nos ecoturistas a percepção de que a natureza aqui
para convivência harmônica entre o homem e a natureza, segundo exemplificada pelo mar deve ser área exclusiva para a sua
a nomenclatura de REIGOTA (2007); b) número de conexões geobiodiversidade, havendo uma importante diminuição (24%) da
feitas por cada ecoturista na estratégia pedagógica denominada noção de local de convivência harmônica entre o Homem e a
Teia da Vida, segundo PEDRINI e DE-PAULA (2008d) e natureza. Já a metodologia EcoTurisMar possibilitou um aumento
PEDRINI et al. (submetido), na qual foram listados os elementos (42%) no conceito de meio ambiente como local de interação e
essenciais à composição do meio ambiente e a partir disso os uma diminuição importante (50,4%) na idéia equivocada de local
ecoturistas foram questionados se havia conexões entre esses apenas para a natureza. A tabela 3 demonstra os resultados obtidos
compartimentos, sendo que quanto mais conexões ocorressem a partir da metodologia Teia da Vida.
mais satisfatório seria o resultado.
Tabela 3: Somatório total (Média) do Número de conexões na
Teia da Vida, por metodologia estudada, dos ecoturistas.
RESULTADOS
O perfil dos ecoturistas que foram submetidos aos testes
metodológicos do TrilhaSub e do EcoTurisMar pode ser
visualizado na Tabela 1. Metodologia No de conexões na Teia da Vida
Pré-Teste Pós-Teste
Tabela 1: Perfil dos ecoturistas que participaram das metodologias
do TrilhaSub e EcoTurisMar no PEIA em janeiro de 2009. TrilhaSub 188 (Média 11,8) 511 (Média 32)
EcoTurisMar 172 (Média 14,3) 376 (Média 31,3)
Características TrilhaSub EcoTurisMar
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino Ambas as metodologias apresentaram resultados muito
(%) 37 63 58 42 interessantes quanto a esse indicador, pois ele expressa a síntese
Idade (anos) 18-58 (Média 32,5) 12-50 (Média 29,3) de todo o trabalho. Pode-se verificar que houve um acréscimo
significativo na percepção dos ecoturistas sobre a interrelacão
Escolaridade <F M >S S E <F M >S S E entre os compartimentos socioambientais, sendo cerca de 172% e
(%) 6 31 6 25 31 8 17 58 8 0 de 119% na metodologia TrilhaSub e EcoTurisMar,
respectivamente.
Legenda: >F (menos que o fundamental); M: Médio; >S: Superior
Incompleto; S: Superior Completo; E: Especialização.
3. Anchieta, Ubatuba, São Paulo, Brasil. Revista OLAM –
DISCUSSÃO Ciência e Tecnologia, Rio Claro(SP), v. 7, n. 1, p. 678-696.
PEDRINI, A. de G.; MANESCHY, F. S. A.; SILVA, V. G.;
A avaliação da atividade do TrilhaSub demonstrou SILVA, P. H. de C.; COSTA, C.; ANDRADE-COSTA, E.;
que esta causou nos ecoturistas um aumento na noção de que o NEWTON, T., 2008ª. Projeto EduMar: Educação e
meio ambiente é local apenas para os seres animais e vegetais, Interpretação Ambiental Marinha em unidades de conservação
excluindo o Homem. Tal comportamento já havia sido suposto brasileiras. Resultados Preliminares. In: CONGRESSO
por PEDRINI et al. (2008b), estes autores ao avaliarem a BRASILEIRO DE OCEANOGRAFIA, 3., Anais.., Fortaleza:
eficácia do TrilhaSub como EAM verificaram que ele se Associação Brasileira de Oceanografia, 3 p.
identificava muito com a abordagem preservacionista. No
entanto, os resultados obtidos pelo EcoTurisMar mostraram que PEDRINI, A. de G.; COSTA, C.; SILVA, V.G.; MANESCHY, F.
a metodologia proposta foi capaz de promover uma mudança de S. A.; NEWTON, T.; BERCHEZ, F.A.; GHILARD, N. P.;
percepção em que pode haver a convivência harmônica entre a SPELTA, L., 2008b. Gestão de Áreas Protegidas e Efeitos da
natureza e o Homem. O número de conexões entre os Visitação Ecoturística pelo Mergulho com Snorkel: O Caso do
compartimentos socioambientais através da Teia da Vida foi Parque Estadual da Ilha Anchieta (Peia), Estado de São Paulo.
eficaz para verificar uma maior percepção de interdependência Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental
dos macrocompartimentos do meio pelos ecoturistas. Observou- (REMEA), Rio Grande, v. 20, p. 1-20.
se que as duas metodologias proporcionaram aos ecoturistas um
importante acréscimo em relação às interrelações essenciais dos PEDRINI, A. de G.; DUTRA, D. ; ROBIM, M. de J.; MARTINS,
compartimentos do meio. S. L., 2008c. Gestão de áreas protegidas e avaliação da
educação ambiental no ecoturismo: estudo de caso com o
CONCLUSÃO Projeto Trilha Subaquática – Educação Ambiental nos
Ecossistemas Marinhos no Parque Estadual da Ilha Anchieta,
As duas metodologias se parecem, diferindo, Ubatuba, São Paulo, Brasil. Revista OLAM- Ciência e
principalmente, por: a) a Ecoturismar privilegiou o tempo fora da Tecnologia, Rio Claro(SP), v. 8, n.2, p.31- 55.
água e inseriu uma atividade informativa e outra dinâmica de
sensibilização antes da atividade; b) a TrilhaSub centrou-se mais PEDRINI, A. de G.; DE-PAULA, J. C., 2008d. Educação
nas explicações nos pontos interpretativos dentro d’água. A Ambiental; Críticas e Propostas. In: PEDRINI, A de G.(Org.)
presente proposta metodológica possui características que mostra Educação Ambiental; Reflexões e Práticas Contemporâneas. 6
sua eficácia para uma Educação Ambiental para Sociedades ed. Petrópolis: Vozes, p. 90-146.
Sustentáveis para o ambiente marinho.
PEDRINI, A. de G.; ANDRADE-COSTA, E. S.; GHILARDI, N.
P. Percepção Ambiental de Crianças e Pré-Adolescentes em
AGRADECIMENTOS Vulnerabilidade Social na Cidade do Rio de Janeiro (Brasil)
para Projetos em Educação Ambiental. Ciência e Educação,
A Direção do PEIA pelas facilidades concedidas para a Bauru (submetido).
realização da pesquisa.
REIGOTA, M., 2007. Meio Ambiente e Representação Social. 7
LITERATURA CITADA ed. São Paulo: Cortez, 87 p.
BERCHEZ, F. A. S.; CARVALHAL, F.; ROBIM, M. J., 2005.
Underwater interpretative trail: guidance to improve
education and decrease ecological damage. Int. J.
Environment and Sustainable Development, Nairobi, 4 (2), p.
128-139.
BERCHEZ, F., GHILARDI, N., ROBIM, M. de J., PEDRINI, A.
de G., HADEL, V. F., FLUKIGER, G., SIMÕES, M.,
MAZZARO, R., KLAUSENER, C., SANCHES, C. e
BESPALEC, P., 2007. Projeto Trilha Subaquática – Sugestão
de diretrizes para a criação de modelos de Educação Ambiental
para ecossistemas marinhos. Revista OLAM-Ciência e
Tecnologia, Rio Claro (SP), v.7, n. 2, p. 181-208.
PEDRINI, A.de G. Educação Ambiental Marinha e Costeira no
Brasil; aportes para uma síntese. In: PEDRINI, A. de G.
(Org.)Educação Ambiental Marinha e Costeira no Brasil
(submetido).
PEDRINI, A. de G.; COSTA, C.; NEWTON, T.; MANESCHY,
F. S.; SILVA, V. G.; BERCHEZ, F.; SPELTA, L.;
GHILARDI, N. P.; ROBIM, M. J., 2007. Efeitos ambientais da
visitação turística em áreas protegidas marinhas: estudo de
caso na Piscina Natural Marinha, Parque Estadual da Ilha