1. Muito entusiasmo e muito rigor para 2010 (Felipe Miranda)
Começo 2010 com grande entusiasmo, inclusive para a escrita deste texto. É desafiador
reunir em poucas páginas seu prognóstico para um ano completo. Ainda assim, o medo de
esquecer pontos importantes fica em segundo plano diante da memória fresca deixada por
um 2009 formidável para os apaixonados por Bolsa.
Ciente da impossibilidade de falar de tudo, preferi focar em pontos específicos relevantes.
ANALISTA RESPONSÁVEL Mais do que isso, como vários focos de preocupação já foram exauridos em discussões
Felipe Miranda - CNPI anteriores, seja pela própria Empiricus ou por outros analistas, tento transformar os limões
em limonada, buscando oportunidades de trade naquilo que seria, a priori, ruim para os
investimentos, como as eleições e a política fiscal ruim.
ASSISTENTES DE ANÁLISE
Renato Laudorio Todo o preâmbulo metalinguístico foi apenas para situar por onde caminhará o texto,
Rodolfo Amstalden deixando claro aos leitores que muita coisa ficará mesmo de fora. C´est la vie. A discussão
propriamente começa por uma confissão. Como há governança corporativa na Empiricus, a
necessidade de transparência me empurra a dizer que boa parte de minha empolgação apoia-
CONSELHO EDITORIAL se numa perspectiva fundamentalmente egoísta. Não poderia haver ano melhor para uma
Caio Mesquita casa de research independente focada em ações do que o de 2010. Depois da bonança de
João Carlos Prandini 2009, auferir bons retornos absolutos exigirá o verdadeiro garimpo de ações. O investimento
Marcos Elias lucrativo será coisa para profissionais e qualquer brincadeira poderá resultar em prejuízos
expressivos. Quando não há mais a euforia e nem tudo está tão barato, o mercado não
www.empiricus.com.br admite negligência, leviandade e falta de critérios. A punição vem e é dolorosa - fica inclusive
research@empiricus.com.br o testemunho pessoal de quem guarda cicatrizes profundas na face.
www.twitter.com/empiricus_ind Não subestimem a advertência somente porque 2009 deixou a falsa sensação de que é muito
(55) (11) 2362.3765 fácil ganhar dinheiro em Bolsa. Aliás, é engraçada esta capacidade de alternar euforia e
depressão em tão pouco tempo. Lembro-me ainda da certeza de apenas um ano antes,
quando Bolsa era mico até em capa de revista.
Sobre o prognóstico para 2010, não vou me definir como otimista ou pessimista. Aliás, quem
2010 > entusiasmo e rigor o faz ignora qualquer possibilidade de racionalidade na formação das expectativas. Ser um
Pg 1 otimista implica achar que as coisas serão melhores do que o efetivamente observado. Logo,
2010 > o ano da marmota se o sujeito se autodenomina otimista, não seria conveniente revisar para baixo suas próprias
Pg 3 projeções? Se insistirem na pergunta, diria que, no geral, estou otimista quanto à evolução do
2010 > ele que se diga preço dos ativos, mas pessimista em termos de valuation.
Pg 5
Diante da farta liquidez internacional e da manutenção de um bom fluxo de investimentos
call > gshp3
para ativos de risco por conta dos juros excepcionalmente baixos lá fora, fica difícil apostar
Pg 7
em forte queda da Bolsa no curto prazo. Não há como lutar contra o fluxo e acho sim que
fractais > longe de gauss ainda devemos aproveitar a festa. No entanto, acerca do apreçamento de ativos, não há mais,
Pg 8 em termos agregados, muita folga e a margem de confiança para posições hoje é bem menor.
Existem algumas distorções importantes em ações ligadas a commodities, por exemplo.
Incorporou-se de forma muito rápida ao preço dos ativos uma perspectiva de crescimento
econômico e dos lucros corporativos bastante vigorosa. No momento em que os estímulos
começarem a ser retirados lá fora e houver sinais de que a economia mundial ainda deve
crescer em um ritmo lento por alguns anos, em que pese o impulso da locomotiva chinesa,
todo este apreçamento benevolente pode ser desfeito. Ou seja, dá para se aproveitar do
fluxo ainda, mas isso deve virar talvez a partir do segundo trimestre do ano (apenas um
feeling pessoal, sem maior embasamento científico, pois a identificação do timing exato da
inflexão infelizmente ainda não pertence ao Homem).
Para quem quer se expor a commodities, gosto de CSN, mas por aspectos particulares. Vi
como exagerada a preocupação com a eventual compra da Cimpor. A CSN apresenta
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2. vantagens competitivas importantes por ser praticamente toda integrada e a empresa deve
destravar valor importante com a separação dos ativos de logística e mineração.
Sobre bens de consumo e varejo, os plays mais óbvios já estão caros. Acho que o mercado
superestimou as sinergias a serem capturadas pelo Pão de Açúcar através da compra do
Ponto Frio, negligenciou eventuais dificuldades no novo ramo e diminuição de margens. B2W
deve enfrentar uma competição cada vez mais forte e, mesmo que as perspectivas para o e-
commerce sejam excepcionais, será difícil expandir margens de forma consistente em meio à
pressão da concorrência. Lojas Americanas tem melhorado os resultados, mas a perspectiva
mais favorável já está no preço há algum tempo. No setor, gosto bastante de Le Lis Blanc
(conforme amplamente discutido em relatórios anteriores) e de Marisol, com a ressalva
sobre a liquidez nesta última. Grendene também atrai, com um bom payout previsto para
2010 e contratação de assessores financeiros para estudar a destinação dos lucros retidos de
R$ 1 bilhão (advindos de incentivos fiscais e que, portanto, não podem ser distribuídos, mas
apenas reinvestidos).
Para bancos e real estate, tenho basicamente a percepção de que os grandes estão caros e
que os pequenos ainda guardam um potencial de valorização bem atrativo. Entre as grandes
instituições financeiras, Bradesco ainda me parece o mais interessante. Nas pequenas, gosto
muito de Indusval, Paraná Banco, Sofisa e Banrisul (nesta ordem). A respeito das
incorporadoras, Brookfield, Tecnisa e EzTec são as preferências. Ainda no setor imobiliário,
mas num segmento um pouco diferente, Brasil Brokers guarda um potencial de valorização
grande, sendo um caso clássico de alavancagem operacional.
Ainda sobre a dinâmica setorial, tenho fascínio pela engenharia de infraestrutura.
Primeiramente porque estamos falando de um ramo ligado a ciclos mais longos de
crescimento e menos sensíveis a flutuação transitórias. Depois, a necessidade de
desenvolvimento da base brasileira é eminente, exigindo um crescimento acelerado da
indústria de bens de capital. Não só há demanda para isso como os incentivos do governo
devem se voltar ao setor. Inepar se beneficia diretamente da dinâmica. Bardella também seria
uma opção, caso a empresa quisesse fazer negócio - infelizmente perdeu o bonde (voltarei ao
assunto no relatório de amanhã).
Depois de expor rapidamente minha visão sobre os principais setores, queria pontuar
eventos específicos do ano e formas de aproveitá-los.
Copa do Mundo e consumo de cerveja estão intimamente ligados, mesmo no inverno. A
estimativa de consenso para as receitas da AmBev pode estar subavaliada.
Historicamente, eleições sempre geraram muito ruído no Brasil. Não devemos presenciar
algo semelhante a 2002, mas a volatilidade tende a aumentar conforme o debate alcance
eventuais medidas de controle de capitais e austeridade fiscal. Mesmo assim, vejo os dois
principais candidatos com perfil mais gerencial do que o atual presidente, de forma que um
novo governo representaria uma melhora no comando das estatais e, por conseguinte,
redução do desconto dessas frente a seus pares. Copel é uma boa aposta diante da
possibilidade de troca no governo estadual e consequente adoção de uma política tarifária
menos populista. Cesp também deve ganhar momentum à medida que avancem as discussões
sobre a renovação das concessões e, posteriormente, volte a possibilidade de privatização da
empresa. Até mesmo Eletrobrás, uma espécie de reduto Sarney, pode ter uma percepção de
risco mais favorável caso o novo governo estabeleça diretrizes mais claras a respeito da
intenção de transformá-la na Petrobras do setor elétrico.
Outro tema de preocupação recorrente para o ano é a deterioração das contas públicas. O
governo já tem um viés excessivamente expansionista e a situação não deve mudar em pleno
ano eleitoral. Como a política fiscal é muito ruim, o jeito é tentar se aproveitar dos gastos
públicos altos. Toda a indústria de bens de capital conta com incentivos bastante fortes.
Outro ramo com bons incentivos é a produção de computadores. Gosto de Positivo e ainda
vejo uma chance boa de venda da empresa em 2010. O nicho de caminhões também está
com subsídios vultosos e Randon é uma opção a se considerar - ainda que não esteja mais
uma barganha, conta com perspectivas de crescimento que justificam os múltiplos um pouco
altos. No setor de logística, e também se beneficiando dos incentivos à indústria
automobilística, Tegma oferece uma resiliência de lucros elevada, com custos fixos baixos, o
que permite a preservação de margens mesmo em cenários adversos.
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3. 2010, o ano da marmota (Consigliere Marcos Elias)
Groundhog Time! Eu sou um Bill Murray das finanças preso em um Dia da Marmota,
tentando vivê-lo da forma correta como única saída para superá-lo. A Faria Lima é a minha
Punxsutawney na Pensilvânia e eu detesto este lugar! Com quantos Ned Ryerson eu ainda
terei que topar no meio da rua? Quantos anos serão necessários para me ensinar o que
dizer e o que fazer? 2010, 2011, 2012, 2013 talvez? Quantas chances ainda me serão dadas?
“But to get what his heart wants most, means leaving this year over again, till he gets it
right!”, assim narrariam o trailer do filme da minha vida, a de um Phil Connors, egocêntrico,
que não aceita nada e que quer mudar tudo.
Mas, desta vez eu vou aprender: para 2010, do mundo eu não desejo e eu não espero nada.
De mim, espero muito. Quero finalmente compreender que:
+ Eu não preciso bater o Ibovespa para ser um bom gestor. Para ser bom, é preciso
desempenhar bem por 30 anos, para depois apurarmos o resultado e chegarmos a alguma
conclusão.
+ Eu não preciso prever o Ibovespa; isso é coisa de idiota.
+ Eu não preciso atender a todas as ideias dos jornalistas, e nem vou me dar a fazer uma
carteira Dilma e uma carteira Serra.
+ Também não vou tentar “desvendar o impacto econômico desta ou da próxima Copa do
Mundo para o Brasil”.
+ Não vou arriscar previsões macro, porque elas acabam no momento em que um moleque
de 20 anos consegue embarcar em um avião com explosivos na cueca.
+ Vou focar meu relacionamento profissional nos jovens, que ainda querem fazer história e
sabem reconhecer quem os ajudou, e nos intelectuais, junto aos eruditos, artistas e filósofos.
+ Vou gastar mais do meu tempo acordado em frente às pessoas do que encarando uma tela
da Bloomberg; a inteligência está na rua!
+ Vou visitar quem eu nunca visitei, incluindo aí as empresas listadas.
+ Vou continuar concentrando esforços em Inepar, que me recebeu de braços abertos e que
entregou mais do que havia prometido: sem medo de ser chamado de Ineparista, porque isso
é elogio, embora saiba que me tornarei um Iesista.
+ Vou continuar insistindo em Ecodiesel. O pessoal da Galleas deu uma segunda vida à
empresa em 2009, e 2010 será o ano de ECOD3.
+ Vou almoçar em bairros distantes, e longamente; no final, vou pedir dois cafezinhos; aliás,
para 2010, pretendo beber mais, fumar mais e tomar mais café: tudo isso me faz bem!
+ Não vou me exercitar, vou me divertir fazendo esportes.
+ Quero ser encontrado às 4 da tarde no Ibirapuera com o Enzo e com o Aldo, e às 4 da
manhã em meu escritório terminando uma discussão incrivelmente interessante com meus
sócios.
+ Vou dizer o que eu penso: um gestor, um bom analista não tem “amigos”; mas também vou
aprender a olhar para onde aponta o dedo e não para o dedo que aponta.
+ Vou tomar banho de água fria, sair de casa sem pentear o cabelo e tomar coragem de usar
aquela gravata cor de abacate que minha mulher me deu.
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4. + Vou me preocupar mais com o pneumonia dupla do filho do meu vigia do que com o
double deficit da economia americana.
+ Vou escrever outro romance e filmar o Jus Sanguinis.
+ Vou voltar para casa a pé, e no meio do caminho de um dia de sol, abafado, vou comprar
um picolé de limão em uma padoca, tirar a camisa, metê-la pendurada no ombro e terminar
o percurso caminhado lentamente, sem medo de ser feliz.
A Andie MacDowell, no Groundhog Day, não brindaria a um ano de recuperação econômica
e nem “à consolidação dos negócios”. E foi por isso que, quando o ano novo chegou, eu
levantei a minha taça de champanhe e brindei assim: to the World Peace!
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5. Por um ano que se diga (Rodolfo Amstalden)
Se eu mesmo vejo a dita história real, em minha e sua ânsia de responsabilizar fatos
imaturos, dar ponto ao que se dilui e exigir sisudez de pequenas amostras, não serei eu a
pretensão de narrar as falácias do ano. Pois todo ele tem direito sobre o que é seu, e sobre o
que ainda não é seu.
Portanto, questionemos tão somente: o que não surpreenderia em 2010? Assim, deixamos o
que importa fora do alcance da arrogância.
+ Voltaremos, aos poucos, a viver pregão por pregão
Condicionado ao trauma precedente, um dia de alta perdeu entusiasmo, mesmo que 3%, 4%,
5%. Era preciso algo mais para retomar o que foi. Depois de cada mínimo evento levado ao
ponto crítico, a lógica se inverteu, sem que pudéssemos notar a relevância dos não eventos.
Penso que, aos poucos, amenizaremos esse vício de mercado, mesmo sem liquidá-lo.
Andaremos passo a passo, como alguém que acabou de se erguer. Por exemplo: assistiremos
à guinada parcimoniosa do Federal Reserve rumo à contração monetária, de forma a
entender como se dão processos complexos de ajuste. Bom sinal disso está na atitude de
adotar medidas tenras, tal qual a TDF (Term Deposity Facility), remunerando instituições
financeiras por empréstimos de longo prazo para o Banco Central. O próprio Bernanke
pediu que o mercado dê feedbacks à TDF, ajudando a formar noção sobre a sensibilidade da
curva a termo de juros.
+ Estimaremos a distância entre o geral e o específico
Muito embora o mainstream em finanças enxergue precisa a distância entre risco sistêmico e
risco intrínseco, nós, feitos da carne cega, não conseguimos. Tomamos um pelo outro com a
mesma naturalidade de quem confunde o ingênuo e o sonso. Enquanto a leitura do geral
como específico esteve no despertar da crise (ex. apenas pequenos problemas relegados a
hipotecas subprime nos EUA), o caminho inverso ajudou a potencializá-la (ex. prejuízos de
Aracruz e Sadia com derivativos cambiais são consequência da Grande Depressão que nos
assola; ninguém sobreviverá). Tal desvio, porém, será aliviado em 2010, na medida em que
começamos a discernir o que é culpa de Dubai do que cabe a todo mundo.
+ Aprenderemos com o mercado
Entre 2003 e 2007, benesses irrestritas em nossa renda variável premiaram piores e
melhores práticas. Dava para ser feliz com o “buy first, ask later”. Já na crise, experimentamos
mazelas irrestritas, também sem distinguirem piores e melhores. Não dava para ser feliz com
nada. Agora, é provável a moderação. Com seus devidos esforços recompensados, analistas,
gestores e investidores terão incentivos para se dedicar ao estudo do dinheiro. Assumirão
postura ativa nessa aula, pois a avaliação será diária. E, com isso, serão menos enganados pela
aleatoriedade.
+ Dormiremos melhor
Se a economia é mesmo uma ciência social, feita de pessoas que dormem e acordam,
imaginem quantas horas de sono foram privadas pelos meses de turbulência, resistentes a
tantas doses de lexotan. Sem bônus, sem emprego e sem poupança, muitos profissionais do
mercado perderam o descanso e a concentração. Parte parou de trabalhar por aí (mesmo
que fosse corpo, não era espírito). Parte dobrou a jornada para tentar compensar a
produtividade oito vezes menor. Em 2010, porém, os despertadores retomarão sua utilidade,
e poderemos trabalhar lúcidos. Parece detalhe, mas quem deita e levanta na hora certa regula
o metabolismo financeiro. Como diz Richard Thaler, certamente acordará rico um Rip Van
Winkle que, sabendo-se prestes a dormir por 20 anos, liga para o corretor e monta a
carteira intocável.
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6. + Continuaremos evoluindo sujeitos a contradições
Deixando ficção e realidade cada vez mais próximas, assistiremos a Avatar nos cinemas e aos
piratas na Somália. Entenderemos os motivos para suspender leilões de energia, muito
embora haja risco de lapso. Seremos soberanos ao investir na poupança enquanto devemos
no cheque especial. Encontraremos informações financeiras nítidas e acessíveis na internet,
sem questionar se são bem-remuneradas. Desprezaremos o fato de que ninguém é pré-
operacional para sempre. Repetiremos que Petro e Vale são as maneiras mais óbvias de
ganhar dinheiro na Bolsa brasileira, quando o ganho óbvio está justamente nas surpresas que
não surpreenderiam.
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7. Não programe C++ em shopping de playboy
José Isaac Peres, presidente da Multiplan, contou em podcast à Rio Bravo(*) que começou a
trabalhar muito cedo, pois precisava ajudar em casa. José é um cara vivido. Com mais de
quatro decadas de profissão, ele domina a arte imobiliária, principalmente no ramo de
shoppings. Transformou canaviais em chãos de mármore e espantalhos em consumidores
veementes. Por isso, respeitamos sua expertise ao dizer que “melhor é aquele mais
abrangente, é aquele mais democrático”.
Em termos menos demagógicos, Peres quer informar que a Multiplan não se restringe a um
conjunto elitista, pois preocupam-na também as demandas das classes B e C. “Nossos
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shoppings pegam públicos de todo tipo, e tem que ser assim, pois o estrato da população é
esse”. E não só o extrato é esse, como é aí que estão os jumps.Vejam só as estatísticas:
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!"#$%&'!()
*+,-".,/0"&'(12
!
Somos adeptos dessa linha de programação C++. Na verdade, concordamos tanto que, já há
algum tempo, indicamos o melhor player para se aproveitar dela: General Shopping, nosso
primeiro volante! A empresa que chega em todas as divididas afirmando, logo de cara, que
enxerga as “classes de consumidores B e C como alvo”. E não me venha com a retórica de
que shoppings são versáteis a ponto de soletrar o alfabeto todo.
Alessandro Veronezi, presidente e diretor de RI do General, não compra ingresso para as
numeradas. Até o Outlet Premium deles (que fica em Itupeva, e não na Vila Olímpia) oferta o
bom e barato. E olhem só: "as vendas estão 60% acima do que projetamos", revelou Veronezi.
Enquanto isso, ouçam mais uma vez José Isaac Peres, explicando no podcast que “nós vamos
fazer uma coisa para a classe C, mas com dignidade”. Ou que “a Multiplan tem treze
shoppings que equivalem a quarenta de seus concorrentes”, incluindo os varejões populares
BH Shopping, Barra Shopping, Morumbi Shopping, e agora um na Vila Olímpia.
Reconhecemos méritos na evolução fancy da Multiplan. But don’t try to tell that you are
poor and hungry with a banquet by your side. Além disso, são muito comportadinhos, com
essa história de dívida negativa. Não tem capital para reestruturar, não tem emoção.
Fechamos com mais uma frase sábia de Peres. “Muita gente pensa que é conhecimento. Não
é. Esse é um negócio profundamente intuitivo. Você tem que olhar para um terreno e dizer:
ali vai dar certo”. Olhamos para GSHP3 e dizemos: vai dar certo.
(*) Temos inveja dos podcasts legais da Rio Bravo. Por isso, em breve lançaremos no site da
Empiricus alguns podcasts of our own.
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8. VII - Avançando na questão dos fractais
Limitações à aplicação de distribuições não gaussianas
Pode ser fascinante a discussão sobre qual modelo de distribuição é o mais adequado ao
tratarmos séries temporais financeiras, mas isso - de determinarmos que são as distribuições
sob as leis da potência aquelas que melhor as retratam, e que Lévy pode nos dar ótimos
insights sobre a dinâmica de mercado - não resolve nosso problema prático, apenas o inicia.
Como veremos, ainda há muito o que se fazer a respeito, até estarmos na posição de
implementar um algoritmo que nos leve a viver o trading diário de forma inteligente.
Mas vamos chegar lá!
Mesmo que ainda possamos considerar o status quo da teoria financeira bastante silencioso
a respeito das distribuições sob as leis da potência, já poderemos encontrar inúmeros papers
que buscam tratar a questão de forma “correta”. Basta ir ao Google e realizar uma busca
com as palavras “power law” e “stock price” ou “Lévy distribution” e “financial markets” que
encontraremos uma boa quantidade de pdfs sobre a questão. Há bastante material publicado
a respeito, mas todos são precoces, para falarmos o mínimo. Se dependermos dessas
publicações para desenvolver uma implementação real, que lhe dê dinheiro, você estará
roubado.
Note que, até o momento, a única coisa que conseguimos descartar é o uso de distribuições
gaussianas, lognormais, processos de jump-diffusion (que são gaussianos) e modelos de
volatilidade estocástica, como Hull & White, Heston e Wilmott.
Mas, devagar com o andor, porque o santo é de barro e ainda temos uma cordilheira à nossa
frente, antes que possamos vislumbrar a marina em que estão apoitadas as nossas lanchas
caríssimas de traders bem-sucedidos.
Alguns pontos importantes:
Quando dizemos que uma distribuição segue uma power law, estamos assumindo que ela
obedeça a uma potência constante, até que o valor x seja infinito. Ao contrário dos
econofísicos, não estamos convencidos de que essa invariância de escala se estenda até o
infinito. Não sabemos onde - a partir de qual valor - devemos truncar a distribuição.
Há também que considerar que os modelos só funcionam nas assíntotas (ou seja, tomando-
se o comportamento dos modelos para um limite), mas nós, praticantes, vivemos nossas
vidas fora das assíntotas, com consequências nada triviais para o hedge, a formação do preço
ou a gestão do risco.
Tomemos, por exemplo, uma distribuição de retornos diários que tenha um segundo
momento finito (conforme já definimos, o segundo momento dá o grau de dispersão em
torno de uma média) e uma curtose infinita (pico bastante “estreito”, denunciando que mais
da variância é resultado de desvios extremos pouco frequentes). Digamos, uma power law
com expoente < 4, que é o tipo de distribuição que rotineiramente observamos nos
mercados. Sob agregação temporal, ou seja, se estendermos o período de dias para semanas,
meses ou anos, os retornos convergirão para uma distribuição gaussiana. Mas isso acontecerá
apenas no infinito. A distribuição se tornará cada vez mais gaussiana no centro mas não nas
caudas. Bouchard e Potters, em 2002, demonstraram que essa convergência se dá de forma
extremamente lenta, à taxa da raiz quadrada do produto de n por log de n, sendo n o
número de observações. Uma distribuição com um expoente > 2, mesmo após um milhão de
convoluções, se comportará de forma gaussiana apenas até o terceiro desvio-padrão, mas
conservará os atributos de lei de potência fora desse regime. Então, no máximo, nós teremos
uma distribuição mista.
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9. De forma mais genérica, a agregação de tempo na distribuição de probabilidade com
momentos infinitos não obedecerá o Teorema do Limite Central, obrigando-nos a
efetivamente lidar com propriedades não assintóticas.
Estenderemos um pouco mais este capítulo sobre as limitações práticas das aplicações de
distribuições não gaussianas na próxima semana. Abraço e bom início de ano!
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10. Disclosure
Elaborado por analistas independentes da Empiricus, este relatório é de uso exclusivo de seu
destinatário, não pode ser reproduzido ou distribuído, no todo ou em parte, a qualquer
terceiro sem autorização expressa. O estudo é baseado em informações disponíveis ao
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julgamentos e estimativas, estão sujeitas a mudanças. Nem a Empiricus nem os analistas
respondem pela veracidade ou qualidade do conteúdo.
Este relatório não representa oferta de negociação de valores mobiliários ou outros
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único propósito fomentar o debate entre os analistas da Empiricus e os destinatários. Os
destinatários devem, portanto, desenvolver suas próprias análises e estratégias.
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elaboradas de forma independente e autônoma;
+ não mantêm vínculo com qualquer pessoa natural que atue no âmbito das sociedades
cujos valores mobiliários foram alvo desta análise;
+ a Empiricus não possui participação acionária direta ou indireta, igual ou superior a 1% do
capital social de quaisquer das sociedades cujos valores mobiliários foram alvo desta análise,
nem está envolvida na aquisição, alienação e intermediação de tais valores mobiliários no
mercado;
+ não são titulares, direta ou indiretamente, de valores mobiliários de emissão de sociedade
objeto desta análise, que representem 5% (cinco por cento) ou mais de seu patrimônio
pessoal, e que não estão envolvidos na aquisição, alienação e intermediação de tais valores
mobiliários no mercado;
+ não recebem remuneração por serviços prestados ou apresentam relações comerciais
com qualquer das sociedades cujos valores mobiliários foram alvo desta análise, ou pessoa
natural ou pessoa jurídica, fundo ou universalidade de direitos, que atue representando o
mesmo interesse dessa sociedade;
+ sua remuneração não está atrelada à precificação de quaisquer dos valores mobiliários
emitidos por sociedades analisadas ou às receitas provenientes dos negócios e operações
financeiras realizadas pela Empiricus.
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