O documento discute como investidores podem se proteger da volatilidade dos mercados financeiros durante o período de eleições no Brasil e aumento de juros nos EUA. Ele recomenda a diversificação de investimentos em diferentes classes de ativos e gestores para reduzir riscos. Também sugere que a escolha de ativos deve considerar os objetivos e perfil de risco de cada investidor.
Informativo da secretaria de comércio e serviço 224
Mudanças nos planos de pensão de benefício definido
1. C8 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 14, 15 e 16 de julho de 2018
Finanças
Comoseprotegerdavolatilidadecomatensãoeleitoral?
Consultório
financeiro
M
eus amigos
dizem que os
mercados
poderão ficar
agitados por
conta das eleições no Brasil e
pela alta de juros nos Estados
Unidos. Existe alguma forma de
me proteger ou aproveitar
oportunidades deste cenário?
Guilherme Moraes, CFP, responde:
Caro leitor,
Os seus amigos estão corretos
em dizer que os mercados
ficarão agitados em virtude das
eleições no Brasil e do aumento
de juros nos EUA. O aumento
recente de volatilidade,
oscilação no preço dos ativos, e
a recente depreciação do real
são reflexo direto destes fatores.
A enorme incerteza eleitoral
que caracteriza o cenário
político atual fará com que o
mercado financeiro apresente
grandes oscilações. Pesquisas
eleitorais indicando a liderança
de candidatos considerados
menos ortodoxos pelo mercado
trarão mais volatilidade.
O Fed (banco central
americano) tem aumentado os
juros desde 2016, e a cada nova
alta das taxas torna-se menos
atrativo investir em países
emergentes, como o Brasil.
Investidores globais vendem
ativos locais e investem em
títulos dos EUA. O mercado
espera mais altas nas taxas de
juros dos EUA ainda neste ano.
Antes de investir é
fundamental definir os
objetivos do investimento, tais
como viagem, compra de
imóvel ou aposentadoria, além
da tolerância e perfil de risco, a
necessidade de liquidez e o
momento de vida do investidor.
Essas variáveis determinarão
as principais características
dos ativos que serão
parte de um portfólio.
Uma das maneiras mais
indicadas para reduzir risco
e proteger uma carteira
de investimentos é a
diversificação, que é a
distribuição dos investimentos
em diferentes classes de ativos
(renda fixa, multimercados,
ações, cambial e imobiliário),
estratégias (ativa ou passiva),
região (Brasil ou exterior),
gestores, setores e prazos.
A diversificação, além de
mitigar riscos, busca aumentar
a eficiência da relação entre
risco e retorno de um portfólio.
Se o objetivo do investimento
for uma viagem no final do
ano dentro do país, o dinheiro
não deve ser colocado em
risco, e ativos como Tesouro
Selic, CDB com liquidez ou
fundos de renda fixa cumprem
o papel de remunerar e
proteger o capital investido.
Por outro lado, se o objetivo
for criar uma reserva
financeira para a
aposentadoria é até apropriado
investir em ativos com mais
risco na expectativa de retorno
maior. Títulos do Tesouro
indexados à inflação, fundos
multimercados ou de
previdência, além de ações,
podem contribuir para esse
fim. Mesmo que no curto
prazo esses ativos apresentem
retornos negativos por
alguns meses, no longo prazo
os resultados são suavizados
por momentos positivos.
Eleição no Brasil e aumento
de juro nos EUA são sinônimos
de volatilidade e, por isso,
cautela torna-se fundamental
e evita dores de cabeça.
Tirar proveito desses
movimentos exige
conhecimento e, acima de
tudo, perfil para assumir
riscos e aceitar volatilidade
no curto prazo. A escolha de
bons gestores de fundos
multimercados e de ações é
determinante para aproveitar
as oportunidades, mas com a
certeza de grandes emoções.
Gestores de investimentos
agem com muita prudência e
ponderação nesses períodos,
identificam e avaliam a
exposição a risco de cada ativo
na carteira e decidem
investir apenas quando existe
certo grau de convicção.
Tenha claro os seus objetivos
de investimentos, conheça
seu perfil, entenda as principais
características das classes
de ativos, diversifique
seu portfólio e faça avaliações
periódicas com o seu
planejador financeiro.
Sendo necessário, altere
os investimentos, mas
sempre com o foco nos seus
objetivos e respeitando
o seu apetite de risco.
Guilherme Moraes é planejador
financeiro pessoal e possui a certificação
CFP (Certified Financial Planner),
concedida pela Planejar - Associação
Brasileira de Planejadores Financeiros
E-mail: grmoraes@gmail.com
As respostas refletem as opiniões do
autor, e não do jornal Valor Econômico ou
da Planejar. O jornal e a Planejar não se
responsabilizam pelas informações
acima ou por prejuízos de qualquer
natureza em decorrência do uso destas
informações. Perguntas devem ser
encaminhadas para:
consultóriofinanceiro@planejar.org.br
Cielo busca novo presidente após saída de Gouveia
Talita Moreira e Álvaro Campos
De São Paulo
A credenciadora de cartões
Cielo procura um novo diretor-
presidente — que provavelmente
sairá dos quadros da própria em-
presa ou dos acionistas Bradesco
eBancodoBrasil—,apósarenún-
ciadeEduardoGouveiaaocargo.
“Dificilmente será alguém de
fora desse conjunto”, afirmou ao
Valor o presidente do conselho
de administração da Cielo, Mar-
celo Noronha, que também é vi-
ce-presidente do Bradesco. O
executivo disse que já há “alguns
nomes na mesa”, mas não quis
adiantar quais. Clovis Poggetti
Junior, atual vice-presidente de
finanças, vai ocupar a presidên-
cia da Cielo interinamente e é
um dos potenciais candidatos,
segundo fontes que acompa-
nham a empresa.
Depois de apenas um ano e
meio à frente da companhia, Gou-
veia pediu demissão alegando ra-
zões pessoais. O executivo vai tirar
um período sabático para se dedi-
car a questões familiares.
Logo após o anúncio, na manhã
de sexta-feira, as ações da empresa
despencaram. No entanto, os pa-
péis se recuperaram com a sinali-
zação dada por acionistas e execu-
tivos da Cielo de que os planos e a
estratégia da companhia serão
mantidos. No fechamento, as
açõessubiram3,05%,aR$16,90.
“A Cielo continuará atuando
de forma arrojada, competindo
com toda força. Disputaremos
cada jogo como se fosse o últi-
mo, defendendo nossa liderança
de mercado em todos os recan-
tos”, afirmou Noronha, em tele-
conferência com analistas.
Com 45,2% de participação de
mercado, a Cielo é a maior cre-
denciadora de cartões do país.
Nos últimos anos, a companhia
perdeu participação para con-
correntes como PagSeguro, Get-
net (empresa do Santander) e
Stone, o que a levou diversificar
sua oferta de produtos e serviços.
“Nós acreditamos que essa re-
núncia também pode levantar
receios sobre o quão bem-suce-
dida tem sido a nova estratégia
da companhia de ser mais agres-
siva comercialmente”, afirma-
ram analistas do Banco Safra em
relatório a clientes. Para o Credit
Suisse, uma mudança no coman-
do da empresa em um momento
de decisões estratégicas “é um
importante ponto de atenção”.
A analistas, Noronha afirmou
serrazoávelesperarqueosucessor
de Gouveia seja escolhido em 60
dias. Entretanto, não quis se com-
prometer com um prazo. O execu-
tivo também disse que terá reu-
niões diárias com Poggetti e con-
versas semanais com a diretoria-
executiva da Cielo para auxiliar a
credenciadoranesseperíodo.
Gouveia assumiu a Cielo em
janeiro do ano passado para
substituir Rômulo Dias, que na
época foi para a diretoria-execu-
tiva do Bradesco e hoje é presi-
dente do UOL, controlador da
credenciadora PagSeguro.
Em carta, Gouveia destacou
que os esforços feitos pela Cielo
“serão recompensados no futu-
ro” diante do compromisso da
companhia com a geração de va-
lor para os acionistas. Ele assi-
nou um acordo de não competi-
ção com a companhia.
A Cielo afirmou, em comunica-
do,queagestãodeGouveiatrouxe
mais modernidade e proximidade
com os clientes, uma estrutura de
tomada de decisão mais ágil e
maior capacidade de execução de
projetos. “Em um ambiente cres-
centemente competitivo, a Cielo
não apenas preservou a sua posi-
ção de liderança, como também
garantiu a oferta mais completa
domercadodeprodutoseserviços
para seus clientes”, disse a nota.
(ColaborouNatháliaLarghi)
Investimentos Crescentes déficits, queda de juro e
aumento da longevidade motivam patrocinadores
Fundaçõesquerem
mudançaemplanos
debenefíciodefinido
Luciana Dalcanale, diretora de previdência da Funcesp: “Precisamos de mais agilidade e simplicidade”
SILVIAZAMBONI/VALOR
Juliana Schincariol
Do Rio
Os fundos de pensão no Brasil
passam por uma segunda onda
de mudanças nos planos de be-
nefício definido — que garantem
aposentadoria vitalícia. Há dois
movimentos distintos. Um deles
élideradopelasfundaçõesquese
preparam para deixar de aceitar
novos participantes nesses pla-
nos, como fez a maioria há 20
anos. Há ainda um outro grupo
de entidades que já fechou seus
planos de benefício definido e
agora buscam convencer os par-
ticipantes a migrarem para pla-
nos de contribuição definida, as-
sumindooriscodasaplicações—
nessa modalidade, a aposenta-
doriaseráresultadodovaloracu-
mulado durante a vida.
Na Funcesp, fundo de pensão
da empresas de energia do Esta-
do de São Paulo, e na Fapes, do
Banco Nacional de Desenvolvi-
mento Econômico e Social (BN-
DES),osplanosdebenefíciodefi-
nido (BD) ainda estão abertos a
novasadesões,masoprocessode
fechamento já foi iniciado. Já na
Petros (Petrobras) e no Postalis
(Correios), os planos BD foram
fechados há algum tempo, mas
mantidos os direitos daqueles
que já participavam dos fundos.
A ideia agora é que as pessoas
mudem para novos planos. Ne-
nhuma das duas fundações, con-
tudo, apresentou propostas ao
participantes até o momento.
Segundo dados da Superin-
tendência Nacional de Previdên-
cia Complementar (Previc), ao
fim de 2017, o país tinha 323 pla-
nos de benefício definido, que
administravam R$ 536 bilhões
ou 64% dos ativos do sistema. Os
planos de e contribuição variável
eram 357 (R$ 193 bilhões) e os
de contribuição definida, 428
(R$ 113 bilhões). O rendimento
médio do sistema em 2017 foi de
11,52%. Os planos BD renderam
11,68%, um pouco abaixo dos
planos CD, com 11,90%.
Oaumentodosriscosatuariais
com os crescentes déficits, a que-
da da taxa de juros e o aumento
da longevidade da população
motivam os patrocinadores a
realizarem as mudanças. “Esse é
um tema que foi parcialmente
adiado quando o assunto foi dis-
cutido entre o fim dos anos 1990
e o início dos anos 2000. Já na-
quela época, estudos técnicos
mapearam eventuais problemas
ou questões que exigiam equa-
cionamentos adicionais. Algu-
mas fundações foram mais ativas
e outras adiaram os problemas”,
diz uma fonte do setor.
Recentes ajustes das expectati-
vas de vida, as chamadas tábuas
atuariais, que aumentam os pas-
sivos das fundações cada vez que
essas revisões são feitas, pressio-
nam as fundações, segundo es-
pecialistas ouvidos pelo Valor.
“Isso tem levado as patrocinado-
ras a pensarem num modelo
mais previsível e não sofrerem
com as oscilações do mercado”,
dizolíderdeprevidênciadaMer-
cer Brasil, Felipe Bruno.
A Funcesp, que administra dez
planos com um total de R$ 28 bi-
lhões, iniciou um processo de fe-
chamentodosplanosBD—ospar-
ticipantes atuais permanecem
com os mesmos direitos. Para no-
vos entrantes, será adotado o mo-
delo de contribuição definida.
Dois planos tiveram as mudanças
recentemente aprovadas: o da Ele-
tropaulo,comR$10bilhões,eoda
Tietê,deR$480milhões.
“Há conversas bem consisten-
tescommaistrêsplanos”,dizadi-
retora de previdência da funda-
ção, Luciana Dalcanale. Além dis-
so, as mudanças na Empresa Me-
tropolitana de Águas e Energia
(Emae), de R$ 1,1 bilhão, aguar-
dam aprovação da Previc. Antes
das mudanças, oito dos dez pla-
noseramdebenefíciodefinido.
“Há uma necessidade de atua-
lização e modernização dos nos-
sos produtos. Precisamos de
mais agilidade e simplicidade”,
diz a diretora. As recentes mu-
danças societárias do setor, co-
moavendadaCPFLem2016eda
Eletropaulo, em junho, são con-
sideradas as mais relevantes des-
deoprocessodeprivatizaçãonos
anos 1990 e também pesam so-
bre as modificações. “O empre-
gador quer oferecer o melhor
veículo e eu tenho que mostrar
qualidade, custo baixo e produ-
tos modernos”, completa.
O mesmo caminho seria toma-
do na Fapes. O fechamento defini-
tivodoBDfazpartedareestrutura-
ção que será aprovada até o fim do
anopeloConselhoDeliberativo.
Na Sabesprev, fundo de pen-
são dos funcionários da Sabesp,
a migração foi alvo de disputa
judicial encerrada em 2016, mas
a adesão não foi completa. Um
total de 3.572 participantes, sen-
do a maioria ativos — 42% dos
funcionários da Sabesp — aceita-
ram as mudanças. Houve um au-
mento de 62% na população do
plano CD e redução de 31% na
população do BD, que hoje en-
frenta um equacionamento de
déficit de R$ 543,2 milhões.
Fundações como a Petros bus-
cam o ressarcimento de aplica-
ções malsucedidas, mas o enten-
dimento é de que isso não vai re-
solver o problema do plano PPSP,
de benefício definido, que passa
por um equacionamento de défi-
cit atual de R$ 27,7 bilhões. O Va-
lor noticiou em junho que a Pe-
trobras vai propor a migração vo-
luntária dos participantes para a
modalidade de contribuição de-
finida. Uma das principais moti-
vações é eliminar a necessidade
de contribuições adicionais para
sanearosresultadosnegativos.
“É uma proposta boa para a ad-
ministração do fundo de pensão e
para a patrocinadora, e é ruim pa-
raoparticipante.Eleperdedeveza
chance de recuperar os investi-
mentos realizados no passado que
deram errado por causa dos mal
feitos”, diz o especialista em previ-
dência e finanças pessoais Daniel
Fuks.Elesugerequeoassociadote-
nha mais de uma opção de migra-
ção — inclusive previdência aberta
—, ou manutenção da renda vitalí-
cia, ainda que menor do que o ini-
cialmenteacordado.
Uma fonte do setor de fundos
de pensão diz que é extrema-
mente difícil ter separação entre
um investimento malsucedido
ou que foi feito de forma irregu-
lar. “Isso vai ter que ser equacio-
nado a não ser que a Justiça en-
tenda diferente. Todos os proces-
sos judicializados demoram 20
anos para ser resolvidos. Se for
esperadaumasoluçãomágicaeo
equacionamento for adiado o
plano será enterrado”, afirma.
Omaiorriscodeficarnumpla-
no BD é a possibilidade de novos
equacionamentos. Ao migrar pa-
ra um fundo de contribuição de-
finida, o associado assume o ris-
co dos investimentos. Passa a ter
acesso a uma conta individual e
precisa se organizar para obter a
renda almejada lá na frente, por
meio da escolha de perfis de in-
vestimentoedosvaloresdascon-
tribuições. “É necessária uma
atuação diferenciada em relação
aos participantes, que precisam
de mais apoio porque têm que
tomar mais decisões, acompa-
nhar o desempenho dos produ-
tos e planejar quanto investir”,
afirma Luciana, da Funcesp.
O diretor-superintendente
substituto da Previc, Fábio Coelho,
lembra que a administração dos
recursos de um plano CD exige
maior habilidade dos gestores. Is-
soocorreporcontadaimprevisibi-
lidade do pagamento dos benefí-
cios,quepodemterumadinâmica
de tempo menor diante da ten-
dênciadeosparticipantesnãoper-
manecerem em apenas uma em-
presa durante toda a carreira. Em
um plano BD, a previsibilidade de
pagamento de recursos ao longo
do tempo permite investimentos
de menor liquidez , o que em geral
confere prêmios maiores. “Mesmo
tendo essa oportunidade, muitas
fundações preferem investimen-
tosmaislíquidos”,afirma.
A Previc prepara mecanismos pa-
ra facilitar o acompanhamento dos
planos de contribuição definida e
elaboraumaespéciedeíndicedere-
ferência para o mercado. “Estamos
pensando em alguma estrutura,
uma espécie de referencial. Um dos
caminhos talvez seja fazer uma pu-
blicação de metodologia no relató-
riodeestabilidade”,afirma.