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Resumo:

O presente artigo visa analisar como os vlogs podem ser considerados como crônicas
contemporâneas digitais. Aqui também será analisado o vlog “Mas poxa vida” de PC
Siqueira, procurando identificar como a televisão se apropria de seu discurso
construindo novas identidades e resignificando seu conteúdo.

Abstract:

The following article shows how the vlogs can be considered as digital contemporary
chronicles. Here we‟ll analyze also how the vlog “Mas poxa vida”, presented by PC
Siqueira, identifying how the television appropriates of its speech by building new
identities and changing its content.

Palavras-chave/keywords:

Cibercultura, vlog, televisão, crônica, opinião




Vlog Mas Poxa Vida como crônica contemporânea na Internet e
na Televisão
Introdução: Convergência, Credibilidade e Opinião
A televisão, por ser uma mídia popular, tem uma personalidade caleidoscópica. Ela
inspira e expira os ânseios do seu tempo, mantendo-se distante da inflexibilidade de
programação, sendo está baseada em número de audiência.

       Refletindo os pensamentos das massas ao mesmo ritmo em que os moldava, a
televisão teve seu apogeu do século XXI, e hoje está passando por um lento, porém
inevitável, enfraquecimento. A internet vem mostrando-se como uma forte concorrente
no sentido de construção de ideologias e práticas civis. Se a televisão criou uma
cultura de massa e uma cultura midiática (Kellner, 2001), a internet e os computadores
criaram a cibercultura (Lévy, 2005). Essa é uma análise bastante sintética, entretanto.
O que todos os pensadores estão de acordo, é que, embora os meios tenham
participado de maneira determinante nos rumos da cultura contemporânea, não é este
o único fator para as mudanças de nossa época.

       Os meios de comunicação de massas tendem a tratar a todos como iguais no
sentido de distribuição da mensagem. Ao contrário, a internet é uma construção de
várias comunidades virtuais e, com a possibilidade de personalização que ela emite, a
informação é apresentada em vários formatos diferentes.
Quando Henry Jenkins propõe em 2008 uma cultura da convergência, fica claro
que estamos passando por uma época de turbulências e mudanças nos cenários das
culturas acima listadas. Essa convergência apontada registra o momento em que os
meios começam a compartilhar informações de maneira que, para compreender o
todo, os fruidores das obras em jogo devem percorrer diversos meios diferentes.

       É o caso das obras baseadas no filme Matrix (1999). Embora para
compreender a trama, baste ao espectador assistir aos filmes da trilogia, a experiência
fica incompleta. Para entender como se constroem todos os detalhes do “universo
Matrix”, o espectador deve virar jogador no game “Enter the Matrix” além de assistir
animes da série Animatrix, caracterizando a obra como multimídia não no sentido de
várias mídias incorporadas numa só, mas no sentido de várias mídias diferentes
convergindo para uma experiência única.

       Note-se que isso não significa transformar romances em filmes, teatro em
telenovela ou cds em dvds. Cada meio contribui de forma diferente para a concepção
de um universo multimídia.

       Experiências semelhantes em diversas mídias vêem apontando um período em
que para atingir a compreensão completa do ambiente contemporâneo, o ser humano
é forçado a mergulhar em diversas mídias fragmentadas, coletando seus pedaços e
unindo-as para formar significado.

       Desde o final do século passado, as grandes empresas de Televisão do Brasil
vêem fazendo um esforço para integrar seus serviços com o ambiente virtual da
internet. Os primeiros contatos aconteceram através da disponibilização de arquivos
para os portais de conteúdo que construiram.        Entretanto, para que os portais
ganhassem vida própria e começassem a influenciar na programação televisiva,
demorou um pouco mais. De forma cautelosa, digna das instituições conservadoras,
aos poucos a internet começou a adentrar na programação televisiva, permitindo, por
exemplo, que o Big Brother Brasil fosse votado através do site da Globo, que imagens
da internet fossem incorporadas aos noticiários e perfis oficiais de redes sociais na
internet fossem divulgados em horário nobre.

       Mas como afirmamos anteriormente, a cultura da convergência não é apenas
transformar um conteúdo de um meio para a implementação em outro meio diferente.
Já na década de 60, Marshall McLuhan (1995) havia descontruído essa ideia, ao
afirmar que o meio é a própria mensagem. Mesmo quando o conteúdo que se
apresenta seja o mesmo, o próprio ambiente modifica a mensagem:
Por outro lado, temos a questão do “mesmo conteúdo” em meios
              diferentes. Mas essa não é uma discussão recente: o filme já
              demonstrou que o meio é a mensagem. Ao assisti-lo no cinema, com
              som Surround, uma tela gigantesca, um conjunto de poltronas no estilo
              platéia e o simples fato de você ter de se deslocar de sua casa já criam
              um ambiente completamente diferente do filme em casa, onde a tela é
              pequena, o som carece de qualidade, vários ruídos (tanto da televisão
              como do ambiente) modificam a experiência do usuário.

              O mesmo ocorre ao assistir um filme no smartphone ou no tablet: são
              experiências diferentes. O conteúdo é, ao mesmo tempo, igual e
              diferente: o meio o modifica. (Nogueira, 2010)

       Qualquer conteúdo produzido no ambiente virtual, ganha “credibilidade” no
ambiente offline ao ser reproduzido por uma mídia tradicional, como o Rádio, o Jornal
e a própria televisão. Portanto, a experiência de assistir a um vídeo no Youtubeé muito
diferente de assistí-lo num canal de TV. As pessoas ainda acreditam veementemente
que se uma informação foi produzida por um meio tradicional, é porque houve uma
“seleção” por parte dos editores, que checaram a informação e a confirmaram antes
de publicá-la. De fato, sabe-se que essa preocupação existe. Entretanto, a critério de
exemplificação, uma pesquisa realizada pela revista científica britânica Nature
comparou verbetes da Wikipedia com a Enciclopedia Britannica procurou apontar qual
das duas teria mais erros. O resultado revelou um empate técnico entre as
enciclopédias, provando que um conteúdo livre colaborativo online poderia ter o
mesmo grau de confiabilidade de outras fontes mais tradicionais.

       Embora boa parte da população ainda acredite cegamente nas informações
apresentadas pela televisão, a internet vem produzindo um efeito de ceticismo
conforme os usuários se integram cada vez mais nas comunidades online. Parte disso
pode ser comprovada durante as eleições de 2010 no Brasil, especialmente em
Alagoas, onde o candidato a reeleição teve que enfrentar os dois maiores grupos de
comunicação do estado e mesmo assim saiu vitorioso. Boa parte de sua campanha
destinada às classes mais elevadas do estado foi direcionada através da internet.

       A credibilidade e a confiança são os pilares para a construção da opinião
através dos meios de comunicação. Quanto maior o nível de confiança de um
determinado meio com relação ao seu público, maiores são as chances de influenciar
decisões. Independentemente de como as informações são construídas, elas contém
uma carga mínima de opinião. Em seu livro “Jornalismo Opiniativo”, José Marques de
Marques De Melo afirma:

              Entendemos os meios de comunicação coletiva, através dos quais as
              mensagens jornlísticas penetram na sociedade, bem como os demais
              meios    de      reprodução     simbólica,    são   “aparatos    ideológicos”,
              funcionando, se não monoliticamente atrelados ao Estado, como dá
              entender Althusser, pelo menos atuando como uma “indústria da
              consciência”,     de   acordo    com   a     perspectiva   que   lhes   atribui
              Enzensberger, influenciando pessoas, comovendo grupos, mobilizando
              comunidades, dentro das contradições que marcam as sociedades.
              (Marques De Melo, 2003: pg. 73)

       Portanto, até um simples blog na web, com pouco mais de uma dezena de
leitores, é capaz de exercer influência sobre a opinião dos mesmos. E o potencial
dessa influência é medido através do grau de confiabilidade, credibilidade e intimidade
que o escritor tem sobre seus leitores.

       A influência exercida por uma pessoa varia de acordo com o ambiente em que
ela está presente. Alguns ambientes aumentam a influência e outros a reduzem.
Podemos afirmar que a televisão é, por si própria, um meio que aumenta a influencia
das pessoas que estão sendo transmitidas. Mesmo nos dias de hoje, aparecer num
jornal ou num programa televisivo ainda é sinônimo de status, para não dizer orgulho,
por parte dos participantes.

       A televisão vem se apropriando com relativo sucesso das ferramentas e
personagens da nova web. Durante o 11 de Setembro, vários vídeos produzidos por
amadores foram vendidos a preços astronômicos para jornais. Atualmente, uma rápida
busca em sites de compartilhamento de vídeos permite um número incrível de
materiais para serem utilizados na indústria jornalística televisiva. Nesse sentido, este
artigo visa analisar como a televisão está se apropriando desses discursos, tendo
como estudo de caso principal o vlogueiro PC Siqueira e seu vlog “Mas poxa vida”.
Procuraremos ressaltar as principais diferenças entre o consumo via internet vs. via
televisão, bem como compreender como ocorre a formação de opinião dos
consumidores nestes ambientes.
Blogs, Fotologs e Vlogs
Já há um bom tempo que os Blogs começaram a ser aceitos como formadores de
opinão na esfera pública. Políticos, professores e pesquisadores adotam blogs para
expor seus pensamentos e falar sobre a sociedade. Mesmo pessoas sem ensino
superior ou comprovadamente especialistas em alguma área conseguem manter seu
público e gerar conversação entre as partes envolvidas nos processos. Os leitores
assumem uma pequena parte da produção de conteúdo ao comentarem.

          Embora a internet já dispusesse, ainda na década de 90, de meios para
publicação de textos próprios, foi somente no início do século XXI que os blogs
dispararam, graças à criação de tecnologias que permitiam uma publicação fácil e
simples de textos na web. Hoje, praticamente todos os portais de conteúdo atuais
possuem uma seção de blogueiros selecionados (muitos deles pagos para manterem
os blogs). Grandes redes de comunicação mantém colocaram seus jornalistas para
atuarem como blogueiros no portais que administram. É o caso, por exemplo, do jornal
“O Globo” que mantém uma seção com dezenas de blogueiros alimentando o site1.

          Com o surgimento das câmeras fotográficas digitais e o barataeamento dos
componentes eletrônicos, logo surgiram os fotologs, uma espécie de blogs onde os
conteúdos são majoritariamente compostos por fotografias. Da mesma forma que os
blogs, os fotologs abriram muitas portas para os profissionais nas mídias tradicionais,
revelando novos fotográfos e criando um senso de comunidade na área. Alguns
jornais já estão experimentando o uso de seu acervo fotográfico nos fotologs, como é
o caso do Grupo Estado que recentemente abriu uma conta no fotolog Flickr onde
publica com periodicidade as melhores fotos de suas matérias2.

          O caso mais famoso no Brail, entretanto, é o da Fotologger Mariana Souza
Alves Lima, mais conhecida pelo seu nickname Marimoon. Quando a MTV a contratou
ainda em 2008 para apresentar o programa scrap MTV, ela carregou todos os seus fãs
virtuais que acompanhavam seu fotolog e inclusive compravam roupas que ela mesma
criava em sua loja virtual para a televisão. O programa foi ao ar já com uma
quantidade certa de telespectadores que aguardavam ansiosos pela estréia da web
celebridade.



1
    http://oglobo.globo.com/blogs/
2
    http://www.flickr.com/photos/estadaocombr/
De fato, a MTV tem se mostrado a emissora a melhor incorporar a cibecultura à
cultura de massas. Seu público majoritariamente formado por adolescentes e adultos
jovens favorece a inserção da emissora na Rede. Isso pode ser evidenciado tanto em
seu portal de internet como na programação da emissora. Retornaremos a esse ponto
mais à frente no texto.

        O boom da banda larga permitiu que vídeos fossem compartilhados em
ambiente virtual. A tecnologia para upload3 e download de vídeos em browsers4 é
antiga, entretanto foi necessário que os usuários tivessem uma velocidade de internet
suficiente para experimentarem a visualização de vídeos online sem que o tempo de
carregamento demorasse horas.

        Embora a prática de vlogging se remeta aos primódios da internet – pouco
depois do surgimento dos blogs e fotologs, foi somente ao final desta década que os
vlogs se tornaram populares no Brasil a ponto de atingirem centenas de milhares de
views5. Esses vlogs extremamente populares adotam uma postura de crônica moderna
digital, conceito que explanaremos mais à frente. O primeiro vlog nesse estilo, de
autoria de Ronald Rios, que mistura humor com opinião. Isso se tornou a estrutura
dominante nos vlogs de sucesso no Brasil. A capacidade de falar de determinados
assuntos de forma ácida e crítica – mesmo que não fundamentada – é um ponto
importante e necessário também.




Crônica: jornal, televisão e internet
De qualquer forma, esses três formatos de produção de conteúdo (blogs, fotologs e
vlogs) são tão metamórficos quanto a própria televisão. Embora o que mude seja o
suporte, ambos tratam dos mais diversos assuntos. Sustentaremos aqui que em
alguns casos, podem ser colocados no patamar de crônica enquanto formato digital.
Esta afirmação é baseada no que Marques De Melo afirma serem as características
de uma crônica. Para ele, a crônica brasileira é um estilo literário/jornalístico único,
“não encontrando equivalente na produção jornalística de outros países” (Marques De
Melo, 2003: p. 148). Também, mais uma vez, recorremos à McLuhan através do
conceito de que o “o meio é a mensagem” e de que, portanto, o simples fato de
tirarmos a crônica do jornal já produz profundas modificações na produção de



3
  Ato de colocar uma arquivo na internet
4
  Software usado para navegar na web
5
  Métrica usada na informática para contar uma visualização de uma página na web
conteúdo, afinal “[...] toda tecnologia gradualmente cria um ambiente humano
totalmente novo” (McLuhan, 1995: p. 10).

           A crônica teve inicio juntamente com o jornalismo impresso. Segundo Martin
Vivaldi “a crônica jornalística é, em essência, uma informação interpretativa e
valorativa de fatos noticiosos, atuais ou atualizados, onde narra e ao mesmo tempo se
julga o narrado” (Vivaldi apud Marques De Melo, 2003: p. 151). As crônicas brasileiras
cheiram à cidade, o cronista é aquele que consegue entender os sentimentos da
população e falar sobre os mesmos.

           Embora a crônica seja um gênero derivante dos jornais e da literatura, é
comum encontrá-la em outros suportes. O rádio e a TV se apropriaram das crônicas,
embora este último tenha tido mais sucesso. Em sua configuração, colocam o cronista
em frente à uma câmera e, além de ler e interpretar sua crônica – cujo texto deve
sofrer adaptação para o contexto televisivo – tem suas feições modificadas a cada
palavra, completando o conteúdo de seus períodos falados com pausas e
exclamações devidamente colocadas. Em sua tese de doutorado “Estudo semântico-
enunciativo da modalidade em artigos de opinião”, Janete Neves se apoia em Ali
Magid Bouacha. Para os autores, a crônica televisiva “é uma crítica a posteriori, pois é
análise do evento, do fato” (Neves, 2006: p. 30).

           A crônica presente no Vlog se aproxima bastante da crônica televisiva,
entretanto, enquanto esta se baseia nas crônicas presentes em jornais e revistas
impressos, o Vlog se baseia nos próprios Blogs – que não deixam de ser, em última
análise, crônicas digitais.




Vlog “Mas Poxa Vida” como crônica digital
O vlog que examinaremos a seguir é o “Mas Poxa Vida”6, apresentado por Paulo
Cezar Goulart Siqueira, mais conhecido na internet pelo seu apelido PC Siqueira. O
vlog é apresentado de uma à três vezes por semana em seu canal do Youtube7, tem
fortes traços da crônica contemporânea. Recentemente a MTV adiquiriu direitos para
exibir trechos do vlog com exclusividade na televisão brasileira – e desta apropriação
falaremos mais à frente.

           Entendemos que o Vlog apresentado por PC Siqueira constitui-se enquanto
crônica, e para isso fundamentaremos a problemática através de uma análise empírica

6
    http://www.youtube.com/user/maspoxavida
7
    Popular site de distribuição e reprodução vídeos online
de seus posts8 e dos conceitos de crônica esplanados por diversos jornalistas e
teóricos da área de comunicação. O Vlog Mas Poxa Vida trata dos mais diversos
assuntos, vezes aleatórios, vezes em voga nos grandes meios de comunicação. O
primeiro Vlog de PC Siqueira, por exemplo, tratava do filme avatar e da super-lotação
dos cinemas 3D para o filme. Como destaque pessoal, PC fala sobre o fato de ser
vesgo e que, por isso, é incapaz de perceber as cenas 3D dos filmes com este efeito.
Vemos aqui um retrato da realidade comentado de forma crítica e, de certa forma,
despretenciosa. Muito se assemelha à uma “conversa fiada”.

           No seu segundo vídeo, fala sobre sua infância ao comentar sobre o jogo Sonic
e contextualiza com um jogo que acabou de adquirir. Observamos aqui a “pausa”, um
momento em que o cronista “reflete a trégua necessária à vida social” (Marques De
Melo, 2003: p. 155). PC consegue juntar elementos que dão significado aos seus
pensamentos, ainda que o assunto aparentemente não tenha conexão alguma com a
realidade social.

                   Carlos Drummond de Andrade, em carta a um dos seus leitores que
                   reclamava da “frivolidade” do cronista, faz a reivindicação do “espaço
                   descompromissado”, argumentando que o jornal já está cheio de
                   assuntos gravas. “O inútil tem sua forma particular de utilidade. É a
                   pausa, o descanso, o refrigério, no desmedido afã de racionalizar todos
                   os atos de nossa vida (e a do próximo) sob critério exclusivo de
                   eficiência, produtividade, rentabilidade e tal e coisa. Tão compensatória
                   é essa pauda que o inútil acaba por se tornar da maior utilidade,
                   exagero que não hesito em combater, como nocivo ao equilíbrio moral.
                   Nós devemos cultivar o ócio ou a frivolidade como valores utilitários de
                   contrapeso, mas pelo simples e puro deleite de fruí-los também como
                   expressões da vida.” (Marques De Melo, 2003: pgs. 155-156)

           Os títulos de suas postagens frequentemente trazem os assuntos que serão
abordados de forma simples e direta, como o caso de um dos seus vídeos mais
famosos: “Nerds e o Sexo, Shakespeare e Cerveja”. Aqui observamos o autor tratar de
temas pouco falados pelo público, pouco visto em crônicas, mas que é uma
característica forte dos vlogs: a cultura de nichos. PC Siqueira fala para um público
claro: nerds, jovens, de classe média, que usam bastante internet, gostam de rock e
estão acima da média nacional em estudos. O fator idade é extremamente importante,
e pode ser evidenciado ao examinar o conteúdo de suas postagens, que

8
    Formato de publicação em blogs, fotologs e vlogs. Equivalente em alguns casos à “artigo”
frequentemente falam sobre suas experiências na infância. Pessoas fora dos seus
valores     ético-morais   (playboys,   pré-adolescentes,   homofóbicos,     etc.)   são
frequentemente xingados pelo autor. Mas mesmo assim, acaba também executando
função de cronista: “Lourenço Diaféria [...] diz que as pessoas lêem crônicas no jornal
diário “porque a crônica nada mais é que as palavras que elas gostariam de ter
escrito” (Marques De Melo, 2003: pag. 162).

          De certa forma, PC Siqueira age também como um mediador entre os fatos
que estão acontecendo (ou que já aconteceram) e uma psicologia coletiva criada pelos
seus assinantes. As pessoas que assistem à PC Siqueira se identificam com o
conteúdo postado. São pessoas que geralmente foram excluídas socialmente durante
a infância/adolescência e que encontraram na internet e no seu vlog uma pessoa que
compartilha de seus pensamentos sem pudores. Para Marques De Melo (2003), ainda,
uma das características fundamentais da crônica é a:

                [...] Crítica social, que corresponde a “entrar fundo no significado dos
                atos e sentimentos do homem”. Diz Antônio Cândido que essa tarefa o
                cronista realiza de modo dissimulado, pois ele mantém o “ar
                despreocupado, de quem está falando coisas sem maior consequência”.
                Esse é um traço essencial da crônica moderna, que assume o ar de
                “conversa fiada”, de apreciação irônica dos acontecimentos, deixando
                de ser o “comentário mais ou menos argumentativo e expositivo” que se
                praticava nos fins do século XIX. (Marques De Melo, 2003: p. 156)

          O vlogueiro soube utilizar, além das estruturas do Youtube, de várias outras
ferramentas, em especial à redes sociais, para divulgar sua presença na internet,
caracterizando-se como uma web celebridade. Os conteúdos do vlog Mas Poxa Vida
vão muito além dos vídeos produzidos no Youtube: são parte da própria presença de
PC Siqueira na internet. Como os usuários podem comentar os vídeos e conversar
diretamente com o autor através de redes sociais como o Twitter, emerge uma cultura
participativa muito mais do que à dos cronistas impressos. A crônica digital é
composta diretamente pelos participantes. Os comentários são extensões das
crônicas digitais.

          A evolução de seus vídeos em quesitos técnicos e argumentativos é evidente.
PC Siqueira é, hoje, aos moldes de Jean Burgess e Joshua Green, “letrado” no
Youtube: “Se „letrado‟ no contexto do Youtube, portanto, significa não apenas ser
capaz de criar e consumir o conteúdo em vídeo, mas também ser capaz de
compreender o modo como o Youtube funciona como conjunto de tecnologias e como
rede social” (Burgess e Green, 2009: p. 101).

       Embora estejamos trabalhando aqui o conceito do Mas Poxa Vida como uma
crônica digital, não podemos deixar de esquecer que, antes de tudo, ele trata-se de
um vlog. Portanto, deve-se ter em mente que o vlog não é uma crônica digital, mas
age como se o fosse em diversos momentos. Portanto a crônica faz parte do Vlog,
mas não é necessariamente o vlog inteiro, nem parte obrigatória. O Youtube está
repleto de vlogs musicais, cômicos, roteirizados, etc., que não se caracterizam
enquanto crônica. Em certos momentos, o vlog Mas Poxa Vida assume características
de programas televisivos, concedendo entrevistas, respondendo perguntas dos fãs,
quebrando a rotina de apenas “falar sobre assuntos” e produzir conteúdos diferentes
dos anteriores.

       Apesar dessas conjunturas diferenciais, é inegável que na maior parte do
tempo, PC Siqueira atue como um cronista contemporâneo, capaz de reproduzir a
ânsia de seus espectadores. Lígia Averbuck traduz com eficácia o porquê do Mas
Poxa Vida ser considerado como crônica:

              [A crônica é] O texto sutil ou o que provoca o riso fácil, o que conduz à
              risada aberta ou leva à irônia é também o meio de expressão do
              cronista gaúcho que alcança, quase sempre, a medida de uma
              naturalidade surpreendente e de uma economia expressiva em nível de
              genuína criação artística (Averbuck apud Marques De Melo, 2003:
              Pgs.159-160).

Apropriação do Vlog pela Televisão
Como falamos anteriormente, a MTV tem mostrado-se como o canal da televisão
brasileira que mais eficazmente está utilizando a internet para compor sua
programação. Além de manter um portal de conteúdo com diversos assuntos de
interesse juvenil (Música, Humor, Games, Geek, Lifestyle, Cidadania, Mundo e
Programas), conseguiu com relativo sucesso exportar o conteúdo online para a
televisão.

       Depois do sucesso ao trazer a fotologger Marimoon à programação da MTV, o
comediante e vlogger Ronald Rios e seu produtor Erik Gustavo levaram o site
humorístico, o Badalhoca, para a emissora em 2009. O blogueiro Didi, do blog Te Dou
Um Dado, virou repórter da emissora e hoje apresenta o programa Didiabólico. Jana
Rosa, do blog Agora Que Sou Rica, apresenta atualmente o IT MTV.

      O blog Colírios, da Revista Capricho, virou um reality show no canal, buscando
um quarto blogueiro para o blog Vida de Garoto. E o Twitter do perfil @MussumAlive,
uma parodia oa ex-Trapalhão, ganhou quadro no programa Furo MTV. Mais
recentemente, a web celebridade Katylene virou uma animação adaptada para a
televisão.

       Embora cada uma dessas apropriações mereça uma análise sobre as
modificações entre a versão virtual e a versão televisiva, focaremos no Vlog Mas Poxa
vida, que tem seus vídeos exibidos durante os comerciais do programa Comédia MTV,
num quadro chamado Comédia Extra.

        Diferentemente das outras apropriações da MTV, no caso do Vlogger PC
Siqueira, não existe uma criação nova. Seus posts são recortados e então
simplesmente reproduzidos na televisão. É uma apropriação próxima daquela que a
televisão faz sobre o cinema. Entretanto, mesmo que seus posts fossem reproduzidos
na íntegra, a mensagem seria diferente. Mais uma vez, voltemos à McLuhan para
compreender que o meio representa a própria mensagem: “„O meio é a mensagem‟,
porque é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e
associações humanas” (Mcluhan, 1995: p. 23)

        Além de um meio diferente, convém também considerar o contexto das
apresentações. Ao apresentar o seu Vlog, PC Siqueira expõe que se trata [o vlog]
apenas de considerações aleatórias sobre diversos assuntos. Portanto, não se trata,
em última análise, de um vlog cômico, mas de um vlog opinativo.

        Ao ser executado em um player do Youtube, o contexto do vlog são as
aparições anteriores, os comentários e os recados deixados pelo autor em suas redes
sociais. Ao ser colocado na MTV, durante um programa de humor, o significado de
suas palavras pode ter um efeito diferente. Sam Gregory expressa uma preocupação
sobre o conteúdo do youtube que é editado e retirado do seu contexto que é
fundamental para entendermos as apropriações da televisão sobre o vlog Mas Poxa
Vida. A preocupação de Gregory é com relação aos vídeos de ativistas, mas pode ser
tranquilamente traduzida para qualquer situação:

              Quando os vídeos de direitos humanos circulam cada vez mais
              distantes de seus lugares de origem – ou seja, incorporados,
              compartilhados, remixados – torna-se essencial inserir o contexto e os
              modos de ação dentro do vídeo e de sua imagística em vez de colocá-
              los fora do vídeo [...] ele se torna desconectado das opções de ação a
              não ser que essas opções sejam inseridas no próprio vídeo e a menos
              que sua mensagem seja claramente transmitida (Gregory apud Burgess
              e Green, 2009: p. 160)

       Portanto, posicionamentos feitos pelo autor que teriam uma conotação de
repreensão, opinião ou seriedade, são distorcidos pelo meio em que ele se encontra e
pelo conteúdo em inserção. Além disso, seus vídeos são editados para ficarem mais
curtos, cortando partes que poderiam complementar o que está em exibição. Assistir à
PC Siqueira na televisão é uma experiência totalmente diferente à assitir seu canal no
Youtube. A distância do monitor da televisão para o espectador, o sofá que conforta, o
controle remoto na mão, os comerciais, etc., tudo isso modifica a experiência do
telespectador, que é muito mais completa no computador. Existe também a questão
do zapping na televisão. Pode-se argumentar que também existe um zapping no
computador: as pessoas conversam em redes sociais, lêem texto, entre outras ações,
enquanto vêem o canal do Youtube. Mas o zapping no computador permite que o
usuário dê pause no vídeo e retorne no momento que desejar da onde parou. PC
Siqueira, enquanto cronista digital, somente no seu canal do Youtube.

        Não existe aqui também, uma convergência midiática. O produto apresentado
na televisão não diáloga com a versão online, nem indica caminhos para se
estabelecer um contato além da televisão. A televisão apresenta o final de uma
discussão, enquanto na internet, os posts de PC Siqueira são apenas o começo de
uma série de comentários, tweets e recados em diversas mídias sociais na internet.




Considerações Finais
Neste artigo sustentei a hipótese de que certos blogs, fotologs e vlogs podem ser
considerados crônicas contemporâneas em formato digital. Examinei conceitos sobre
convergência, credibilidade e opnião nos meios empregados nesses meios, bem como
o fato de que cada meio representa um ambiente diferente para a compreensão da
mensagem, pois, fundamentados em McLuhan (1995), o meio é a própria mensagem.
Discorri também sobre uma breve história dos blogs, fotologs e vlogs na internet
brasileira, e como a Televisão brasileira se apropriou desses meios, ora convergindo,
ora simplesmente convertendo. Tais práticas vêem se tornando comum no meio digital
brasileiro.

        Usamos aqui o vlog do PC Siqueiro, o Mas Poxa Vida, como exemplo das
apropriações da televisão dos meios de comunicação digital. O seu vlog pode ser
considerado como uma crônica conteporânea digital em certos momentos do vlog,
quando visualizado no Youtube. Entretanto, ao partir para a televisão, o vlog passa a
ter uma conotação humorísitica, descaracterizando-o como crônica.

        É importante observamos como o ambiente e o meio podem influenciar a
construção de significados. Por mais que a televisão apele para efeitos visuais, táticas
persuasivas e roteiros programados, se não for utilizada uma metodologia de
convergência entre os meios utilizados, a internet sempre será mais completa que a
televisão.

        A apropriação dos conteúdos digitais por parte das mídias tradicionais deve
crescer de forma exponencial nos próximos anos. Ora eles irão convergir criando
interação entre as diferentes mídias, ora irão simplesmente copiar e editar, como
fazem com os filmes de cinema na televisão.
Referências Bibliográficas
BOUACHA, Ali Magid. Le discours médiatique et ses vérités. Analyse linguistique
d’une chronique du journal: Le Monde. In: M. H. A. Carreira (dir.), Faits et effets
linguistiques dans la presse actuelle, Paris, Université Paris 8, 1999

BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital: como o maior
fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. São Paulo:
editora ALEPH, 2009.

JENKINS, Henry. A cultura da convergência. São Paulo: editora ALEPH, 2008.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: Estudos Culturais: identidade e política
entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: editora EDUSC, 2001.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: editora 34, 2005

MARQUES DE MELO, José. Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no
jornalismo brasileiro. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São
Paulo: editora Cultrix, 1995.

NEVES, Janete dos Santos Bessa. Estudo semântico-enunciativo da modalidade
em artigos de opinião. Tese de doutorado defendida por Janete dos Santos Bessa
Neves; Orientador: Eneida do Rego Monteiro Bomfim. Rio de Janeiro: PUC,
Departamento de Letras, 2006.

NOGUEIRA, Tiago. O meio (ainda) é a mensagem! Site Web Diálogos, Acessado em
23/Nov/2010. Disponível em: http://www.webdialogos.com/2010/cibercultura/o-meio-
ainda-e-a-mensagem-2/

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Vlog Mas Poxa Vida como crônica contemporânea na Internet e Televisão

  • 1. Resumo: O presente artigo visa analisar como os vlogs podem ser considerados como crônicas contemporâneas digitais. Aqui também será analisado o vlog “Mas poxa vida” de PC Siqueira, procurando identificar como a televisão se apropria de seu discurso construindo novas identidades e resignificando seu conteúdo. Abstract: The following article shows how the vlogs can be considered as digital contemporary chronicles. Here we‟ll analyze also how the vlog “Mas poxa vida”, presented by PC Siqueira, identifying how the television appropriates of its speech by building new identities and changing its content. Palavras-chave/keywords: Cibercultura, vlog, televisão, crônica, opinião Vlog Mas Poxa Vida como crônica contemporânea na Internet e na Televisão Introdução: Convergência, Credibilidade e Opinião A televisão, por ser uma mídia popular, tem uma personalidade caleidoscópica. Ela inspira e expira os ânseios do seu tempo, mantendo-se distante da inflexibilidade de programação, sendo está baseada em número de audiência. Refletindo os pensamentos das massas ao mesmo ritmo em que os moldava, a televisão teve seu apogeu do século XXI, e hoje está passando por um lento, porém inevitável, enfraquecimento. A internet vem mostrando-se como uma forte concorrente no sentido de construção de ideologias e práticas civis. Se a televisão criou uma cultura de massa e uma cultura midiática (Kellner, 2001), a internet e os computadores criaram a cibercultura (Lévy, 2005). Essa é uma análise bastante sintética, entretanto. O que todos os pensadores estão de acordo, é que, embora os meios tenham participado de maneira determinante nos rumos da cultura contemporânea, não é este o único fator para as mudanças de nossa época. Os meios de comunicação de massas tendem a tratar a todos como iguais no sentido de distribuição da mensagem. Ao contrário, a internet é uma construção de várias comunidades virtuais e, com a possibilidade de personalização que ela emite, a informação é apresentada em vários formatos diferentes.
  • 2. Quando Henry Jenkins propõe em 2008 uma cultura da convergência, fica claro que estamos passando por uma época de turbulências e mudanças nos cenários das culturas acima listadas. Essa convergência apontada registra o momento em que os meios começam a compartilhar informações de maneira que, para compreender o todo, os fruidores das obras em jogo devem percorrer diversos meios diferentes. É o caso das obras baseadas no filme Matrix (1999). Embora para compreender a trama, baste ao espectador assistir aos filmes da trilogia, a experiência fica incompleta. Para entender como se constroem todos os detalhes do “universo Matrix”, o espectador deve virar jogador no game “Enter the Matrix” além de assistir animes da série Animatrix, caracterizando a obra como multimídia não no sentido de várias mídias incorporadas numa só, mas no sentido de várias mídias diferentes convergindo para uma experiência única. Note-se que isso não significa transformar romances em filmes, teatro em telenovela ou cds em dvds. Cada meio contribui de forma diferente para a concepção de um universo multimídia. Experiências semelhantes em diversas mídias vêem apontando um período em que para atingir a compreensão completa do ambiente contemporâneo, o ser humano é forçado a mergulhar em diversas mídias fragmentadas, coletando seus pedaços e unindo-as para formar significado. Desde o final do século passado, as grandes empresas de Televisão do Brasil vêem fazendo um esforço para integrar seus serviços com o ambiente virtual da internet. Os primeiros contatos aconteceram através da disponibilização de arquivos para os portais de conteúdo que construiram. Entretanto, para que os portais ganhassem vida própria e começassem a influenciar na programação televisiva, demorou um pouco mais. De forma cautelosa, digna das instituições conservadoras, aos poucos a internet começou a adentrar na programação televisiva, permitindo, por exemplo, que o Big Brother Brasil fosse votado através do site da Globo, que imagens da internet fossem incorporadas aos noticiários e perfis oficiais de redes sociais na internet fossem divulgados em horário nobre. Mas como afirmamos anteriormente, a cultura da convergência não é apenas transformar um conteúdo de um meio para a implementação em outro meio diferente. Já na década de 60, Marshall McLuhan (1995) havia descontruído essa ideia, ao afirmar que o meio é a própria mensagem. Mesmo quando o conteúdo que se apresenta seja o mesmo, o próprio ambiente modifica a mensagem:
  • 3. Por outro lado, temos a questão do “mesmo conteúdo” em meios diferentes. Mas essa não é uma discussão recente: o filme já demonstrou que o meio é a mensagem. Ao assisti-lo no cinema, com som Surround, uma tela gigantesca, um conjunto de poltronas no estilo platéia e o simples fato de você ter de se deslocar de sua casa já criam um ambiente completamente diferente do filme em casa, onde a tela é pequena, o som carece de qualidade, vários ruídos (tanto da televisão como do ambiente) modificam a experiência do usuário. O mesmo ocorre ao assistir um filme no smartphone ou no tablet: são experiências diferentes. O conteúdo é, ao mesmo tempo, igual e diferente: o meio o modifica. (Nogueira, 2010) Qualquer conteúdo produzido no ambiente virtual, ganha “credibilidade” no ambiente offline ao ser reproduzido por uma mídia tradicional, como o Rádio, o Jornal e a própria televisão. Portanto, a experiência de assistir a um vídeo no Youtubeé muito diferente de assistí-lo num canal de TV. As pessoas ainda acreditam veementemente que se uma informação foi produzida por um meio tradicional, é porque houve uma “seleção” por parte dos editores, que checaram a informação e a confirmaram antes de publicá-la. De fato, sabe-se que essa preocupação existe. Entretanto, a critério de exemplificação, uma pesquisa realizada pela revista científica britânica Nature comparou verbetes da Wikipedia com a Enciclopedia Britannica procurou apontar qual das duas teria mais erros. O resultado revelou um empate técnico entre as enciclopédias, provando que um conteúdo livre colaborativo online poderia ter o mesmo grau de confiabilidade de outras fontes mais tradicionais. Embora boa parte da população ainda acredite cegamente nas informações apresentadas pela televisão, a internet vem produzindo um efeito de ceticismo conforme os usuários se integram cada vez mais nas comunidades online. Parte disso pode ser comprovada durante as eleições de 2010 no Brasil, especialmente em Alagoas, onde o candidato a reeleição teve que enfrentar os dois maiores grupos de comunicação do estado e mesmo assim saiu vitorioso. Boa parte de sua campanha destinada às classes mais elevadas do estado foi direcionada através da internet. A credibilidade e a confiança são os pilares para a construção da opinião através dos meios de comunicação. Quanto maior o nível de confiança de um determinado meio com relação ao seu público, maiores são as chances de influenciar decisões. Independentemente de como as informações são construídas, elas contém
  • 4. uma carga mínima de opinião. Em seu livro “Jornalismo Opiniativo”, José Marques de Marques De Melo afirma: Entendemos os meios de comunicação coletiva, através dos quais as mensagens jornlísticas penetram na sociedade, bem como os demais meios de reprodução simbólica, são “aparatos ideológicos”, funcionando, se não monoliticamente atrelados ao Estado, como dá entender Althusser, pelo menos atuando como uma “indústria da consciência”, de acordo com a perspectiva que lhes atribui Enzensberger, influenciando pessoas, comovendo grupos, mobilizando comunidades, dentro das contradições que marcam as sociedades. (Marques De Melo, 2003: pg. 73) Portanto, até um simples blog na web, com pouco mais de uma dezena de leitores, é capaz de exercer influência sobre a opinião dos mesmos. E o potencial dessa influência é medido através do grau de confiabilidade, credibilidade e intimidade que o escritor tem sobre seus leitores. A influência exercida por uma pessoa varia de acordo com o ambiente em que ela está presente. Alguns ambientes aumentam a influência e outros a reduzem. Podemos afirmar que a televisão é, por si própria, um meio que aumenta a influencia das pessoas que estão sendo transmitidas. Mesmo nos dias de hoje, aparecer num jornal ou num programa televisivo ainda é sinônimo de status, para não dizer orgulho, por parte dos participantes. A televisão vem se apropriando com relativo sucesso das ferramentas e personagens da nova web. Durante o 11 de Setembro, vários vídeos produzidos por amadores foram vendidos a preços astronômicos para jornais. Atualmente, uma rápida busca em sites de compartilhamento de vídeos permite um número incrível de materiais para serem utilizados na indústria jornalística televisiva. Nesse sentido, este artigo visa analisar como a televisão está se apropriando desses discursos, tendo como estudo de caso principal o vlogueiro PC Siqueira e seu vlog “Mas poxa vida”. Procuraremos ressaltar as principais diferenças entre o consumo via internet vs. via televisão, bem como compreender como ocorre a formação de opinião dos consumidores nestes ambientes.
  • 5. Blogs, Fotologs e Vlogs Já há um bom tempo que os Blogs começaram a ser aceitos como formadores de opinão na esfera pública. Políticos, professores e pesquisadores adotam blogs para expor seus pensamentos e falar sobre a sociedade. Mesmo pessoas sem ensino superior ou comprovadamente especialistas em alguma área conseguem manter seu público e gerar conversação entre as partes envolvidas nos processos. Os leitores assumem uma pequena parte da produção de conteúdo ao comentarem. Embora a internet já dispusesse, ainda na década de 90, de meios para publicação de textos próprios, foi somente no início do século XXI que os blogs dispararam, graças à criação de tecnologias que permitiam uma publicação fácil e simples de textos na web. Hoje, praticamente todos os portais de conteúdo atuais possuem uma seção de blogueiros selecionados (muitos deles pagos para manterem os blogs). Grandes redes de comunicação mantém colocaram seus jornalistas para atuarem como blogueiros no portais que administram. É o caso, por exemplo, do jornal “O Globo” que mantém uma seção com dezenas de blogueiros alimentando o site1. Com o surgimento das câmeras fotográficas digitais e o barataeamento dos componentes eletrônicos, logo surgiram os fotologs, uma espécie de blogs onde os conteúdos são majoritariamente compostos por fotografias. Da mesma forma que os blogs, os fotologs abriram muitas portas para os profissionais nas mídias tradicionais, revelando novos fotográfos e criando um senso de comunidade na área. Alguns jornais já estão experimentando o uso de seu acervo fotográfico nos fotologs, como é o caso do Grupo Estado que recentemente abriu uma conta no fotolog Flickr onde publica com periodicidade as melhores fotos de suas matérias2. O caso mais famoso no Brail, entretanto, é o da Fotologger Mariana Souza Alves Lima, mais conhecida pelo seu nickname Marimoon. Quando a MTV a contratou ainda em 2008 para apresentar o programa scrap MTV, ela carregou todos os seus fãs virtuais que acompanhavam seu fotolog e inclusive compravam roupas que ela mesma criava em sua loja virtual para a televisão. O programa foi ao ar já com uma quantidade certa de telespectadores que aguardavam ansiosos pela estréia da web celebridade. 1 http://oglobo.globo.com/blogs/ 2 http://www.flickr.com/photos/estadaocombr/
  • 6. De fato, a MTV tem se mostrado a emissora a melhor incorporar a cibecultura à cultura de massas. Seu público majoritariamente formado por adolescentes e adultos jovens favorece a inserção da emissora na Rede. Isso pode ser evidenciado tanto em seu portal de internet como na programação da emissora. Retornaremos a esse ponto mais à frente no texto. O boom da banda larga permitiu que vídeos fossem compartilhados em ambiente virtual. A tecnologia para upload3 e download de vídeos em browsers4 é antiga, entretanto foi necessário que os usuários tivessem uma velocidade de internet suficiente para experimentarem a visualização de vídeos online sem que o tempo de carregamento demorasse horas. Embora a prática de vlogging se remeta aos primódios da internet – pouco depois do surgimento dos blogs e fotologs, foi somente ao final desta década que os vlogs se tornaram populares no Brasil a ponto de atingirem centenas de milhares de views5. Esses vlogs extremamente populares adotam uma postura de crônica moderna digital, conceito que explanaremos mais à frente. O primeiro vlog nesse estilo, de autoria de Ronald Rios, que mistura humor com opinião. Isso se tornou a estrutura dominante nos vlogs de sucesso no Brasil. A capacidade de falar de determinados assuntos de forma ácida e crítica – mesmo que não fundamentada – é um ponto importante e necessário também. Crônica: jornal, televisão e internet De qualquer forma, esses três formatos de produção de conteúdo (blogs, fotologs e vlogs) são tão metamórficos quanto a própria televisão. Embora o que mude seja o suporte, ambos tratam dos mais diversos assuntos. Sustentaremos aqui que em alguns casos, podem ser colocados no patamar de crônica enquanto formato digital. Esta afirmação é baseada no que Marques De Melo afirma serem as características de uma crônica. Para ele, a crônica brasileira é um estilo literário/jornalístico único, “não encontrando equivalente na produção jornalística de outros países” (Marques De Melo, 2003: p. 148). Também, mais uma vez, recorremos à McLuhan através do conceito de que o “o meio é a mensagem” e de que, portanto, o simples fato de tirarmos a crônica do jornal já produz profundas modificações na produção de 3 Ato de colocar uma arquivo na internet 4 Software usado para navegar na web 5 Métrica usada na informática para contar uma visualização de uma página na web
  • 7. conteúdo, afinal “[...] toda tecnologia gradualmente cria um ambiente humano totalmente novo” (McLuhan, 1995: p. 10). A crônica teve inicio juntamente com o jornalismo impresso. Segundo Martin Vivaldi “a crônica jornalística é, em essência, uma informação interpretativa e valorativa de fatos noticiosos, atuais ou atualizados, onde narra e ao mesmo tempo se julga o narrado” (Vivaldi apud Marques De Melo, 2003: p. 151). As crônicas brasileiras cheiram à cidade, o cronista é aquele que consegue entender os sentimentos da população e falar sobre os mesmos. Embora a crônica seja um gênero derivante dos jornais e da literatura, é comum encontrá-la em outros suportes. O rádio e a TV se apropriaram das crônicas, embora este último tenha tido mais sucesso. Em sua configuração, colocam o cronista em frente à uma câmera e, além de ler e interpretar sua crônica – cujo texto deve sofrer adaptação para o contexto televisivo – tem suas feições modificadas a cada palavra, completando o conteúdo de seus períodos falados com pausas e exclamações devidamente colocadas. Em sua tese de doutorado “Estudo semântico- enunciativo da modalidade em artigos de opinião”, Janete Neves se apoia em Ali Magid Bouacha. Para os autores, a crônica televisiva “é uma crítica a posteriori, pois é análise do evento, do fato” (Neves, 2006: p. 30). A crônica presente no Vlog se aproxima bastante da crônica televisiva, entretanto, enquanto esta se baseia nas crônicas presentes em jornais e revistas impressos, o Vlog se baseia nos próprios Blogs – que não deixam de ser, em última análise, crônicas digitais. Vlog “Mas Poxa Vida” como crônica digital O vlog que examinaremos a seguir é o “Mas Poxa Vida”6, apresentado por Paulo Cezar Goulart Siqueira, mais conhecido na internet pelo seu apelido PC Siqueira. O vlog é apresentado de uma à três vezes por semana em seu canal do Youtube7, tem fortes traços da crônica contemporânea. Recentemente a MTV adiquiriu direitos para exibir trechos do vlog com exclusividade na televisão brasileira – e desta apropriação falaremos mais à frente. Entendemos que o Vlog apresentado por PC Siqueira constitui-se enquanto crônica, e para isso fundamentaremos a problemática através de uma análise empírica 6 http://www.youtube.com/user/maspoxavida 7 Popular site de distribuição e reprodução vídeos online
  • 8. de seus posts8 e dos conceitos de crônica esplanados por diversos jornalistas e teóricos da área de comunicação. O Vlog Mas Poxa Vida trata dos mais diversos assuntos, vezes aleatórios, vezes em voga nos grandes meios de comunicação. O primeiro Vlog de PC Siqueira, por exemplo, tratava do filme avatar e da super-lotação dos cinemas 3D para o filme. Como destaque pessoal, PC fala sobre o fato de ser vesgo e que, por isso, é incapaz de perceber as cenas 3D dos filmes com este efeito. Vemos aqui um retrato da realidade comentado de forma crítica e, de certa forma, despretenciosa. Muito se assemelha à uma “conversa fiada”. No seu segundo vídeo, fala sobre sua infância ao comentar sobre o jogo Sonic e contextualiza com um jogo que acabou de adquirir. Observamos aqui a “pausa”, um momento em que o cronista “reflete a trégua necessária à vida social” (Marques De Melo, 2003: p. 155). PC consegue juntar elementos que dão significado aos seus pensamentos, ainda que o assunto aparentemente não tenha conexão alguma com a realidade social. Carlos Drummond de Andrade, em carta a um dos seus leitores que reclamava da “frivolidade” do cronista, faz a reivindicação do “espaço descompromissado”, argumentando que o jornal já está cheio de assuntos gravas. “O inútil tem sua forma particular de utilidade. É a pausa, o descanso, o refrigério, no desmedido afã de racionalizar todos os atos de nossa vida (e a do próximo) sob critério exclusivo de eficiência, produtividade, rentabilidade e tal e coisa. Tão compensatória é essa pauda que o inútil acaba por se tornar da maior utilidade, exagero que não hesito em combater, como nocivo ao equilíbrio moral. Nós devemos cultivar o ócio ou a frivolidade como valores utilitários de contrapeso, mas pelo simples e puro deleite de fruí-los também como expressões da vida.” (Marques De Melo, 2003: pgs. 155-156) Os títulos de suas postagens frequentemente trazem os assuntos que serão abordados de forma simples e direta, como o caso de um dos seus vídeos mais famosos: “Nerds e o Sexo, Shakespeare e Cerveja”. Aqui observamos o autor tratar de temas pouco falados pelo público, pouco visto em crônicas, mas que é uma característica forte dos vlogs: a cultura de nichos. PC Siqueira fala para um público claro: nerds, jovens, de classe média, que usam bastante internet, gostam de rock e estão acima da média nacional em estudos. O fator idade é extremamente importante, e pode ser evidenciado ao examinar o conteúdo de suas postagens, que 8 Formato de publicação em blogs, fotologs e vlogs. Equivalente em alguns casos à “artigo”
  • 9. frequentemente falam sobre suas experiências na infância. Pessoas fora dos seus valores ético-morais (playboys, pré-adolescentes, homofóbicos, etc.) são frequentemente xingados pelo autor. Mas mesmo assim, acaba também executando função de cronista: “Lourenço Diaféria [...] diz que as pessoas lêem crônicas no jornal diário “porque a crônica nada mais é que as palavras que elas gostariam de ter escrito” (Marques De Melo, 2003: pag. 162). De certa forma, PC Siqueira age também como um mediador entre os fatos que estão acontecendo (ou que já aconteceram) e uma psicologia coletiva criada pelos seus assinantes. As pessoas que assistem à PC Siqueira se identificam com o conteúdo postado. São pessoas que geralmente foram excluídas socialmente durante a infância/adolescência e que encontraram na internet e no seu vlog uma pessoa que compartilha de seus pensamentos sem pudores. Para Marques De Melo (2003), ainda, uma das características fundamentais da crônica é a: [...] Crítica social, que corresponde a “entrar fundo no significado dos atos e sentimentos do homem”. Diz Antônio Cândido que essa tarefa o cronista realiza de modo dissimulado, pois ele mantém o “ar despreocupado, de quem está falando coisas sem maior consequência”. Esse é um traço essencial da crônica moderna, que assume o ar de “conversa fiada”, de apreciação irônica dos acontecimentos, deixando de ser o “comentário mais ou menos argumentativo e expositivo” que se praticava nos fins do século XIX. (Marques De Melo, 2003: p. 156) O vlogueiro soube utilizar, além das estruturas do Youtube, de várias outras ferramentas, em especial à redes sociais, para divulgar sua presença na internet, caracterizando-se como uma web celebridade. Os conteúdos do vlog Mas Poxa Vida vão muito além dos vídeos produzidos no Youtube: são parte da própria presença de PC Siqueira na internet. Como os usuários podem comentar os vídeos e conversar diretamente com o autor através de redes sociais como o Twitter, emerge uma cultura participativa muito mais do que à dos cronistas impressos. A crônica digital é composta diretamente pelos participantes. Os comentários são extensões das crônicas digitais. A evolução de seus vídeos em quesitos técnicos e argumentativos é evidente. PC Siqueira é, hoje, aos moldes de Jean Burgess e Joshua Green, “letrado” no Youtube: “Se „letrado‟ no contexto do Youtube, portanto, significa não apenas ser capaz de criar e consumir o conteúdo em vídeo, mas também ser capaz de
  • 10. compreender o modo como o Youtube funciona como conjunto de tecnologias e como rede social” (Burgess e Green, 2009: p. 101). Embora estejamos trabalhando aqui o conceito do Mas Poxa Vida como uma crônica digital, não podemos deixar de esquecer que, antes de tudo, ele trata-se de um vlog. Portanto, deve-se ter em mente que o vlog não é uma crônica digital, mas age como se o fosse em diversos momentos. Portanto a crônica faz parte do Vlog, mas não é necessariamente o vlog inteiro, nem parte obrigatória. O Youtube está repleto de vlogs musicais, cômicos, roteirizados, etc., que não se caracterizam enquanto crônica. Em certos momentos, o vlog Mas Poxa Vida assume características de programas televisivos, concedendo entrevistas, respondendo perguntas dos fãs, quebrando a rotina de apenas “falar sobre assuntos” e produzir conteúdos diferentes dos anteriores. Apesar dessas conjunturas diferenciais, é inegável que na maior parte do tempo, PC Siqueira atue como um cronista contemporâneo, capaz de reproduzir a ânsia de seus espectadores. Lígia Averbuck traduz com eficácia o porquê do Mas Poxa Vida ser considerado como crônica: [A crônica é] O texto sutil ou o que provoca o riso fácil, o que conduz à risada aberta ou leva à irônia é também o meio de expressão do cronista gaúcho que alcança, quase sempre, a medida de uma naturalidade surpreendente e de uma economia expressiva em nível de genuína criação artística (Averbuck apud Marques De Melo, 2003: Pgs.159-160). Apropriação do Vlog pela Televisão Como falamos anteriormente, a MTV tem mostrado-se como o canal da televisão brasileira que mais eficazmente está utilizando a internet para compor sua programação. Além de manter um portal de conteúdo com diversos assuntos de interesse juvenil (Música, Humor, Games, Geek, Lifestyle, Cidadania, Mundo e Programas), conseguiu com relativo sucesso exportar o conteúdo online para a televisão. Depois do sucesso ao trazer a fotologger Marimoon à programação da MTV, o comediante e vlogger Ronald Rios e seu produtor Erik Gustavo levaram o site humorístico, o Badalhoca, para a emissora em 2009. O blogueiro Didi, do blog Te Dou Um Dado, virou repórter da emissora e hoje apresenta o programa Didiabólico. Jana Rosa, do blog Agora Que Sou Rica, apresenta atualmente o IT MTV. O blog Colírios, da Revista Capricho, virou um reality show no canal, buscando um quarto blogueiro para o blog Vida de Garoto. E o Twitter do perfil @MussumAlive, uma parodia oa ex-Trapalhão, ganhou quadro no programa Furo MTV. Mais
  • 11. recentemente, a web celebridade Katylene virou uma animação adaptada para a televisão. Embora cada uma dessas apropriações mereça uma análise sobre as modificações entre a versão virtual e a versão televisiva, focaremos no Vlog Mas Poxa vida, que tem seus vídeos exibidos durante os comerciais do programa Comédia MTV, num quadro chamado Comédia Extra. Diferentemente das outras apropriações da MTV, no caso do Vlogger PC Siqueira, não existe uma criação nova. Seus posts são recortados e então simplesmente reproduzidos na televisão. É uma apropriação próxima daquela que a televisão faz sobre o cinema. Entretanto, mesmo que seus posts fossem reproduzidos na íntegra, a mensagem seria diferente. Mais uma vez, voltemos à McLuhan para compreender que o meio representa a própria mensagem: “„O meio é a mensagem‟, porque é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas” (Mcluhan, 1995: p. 23) Além de um meio diferente, convém também considerar o contexto das apresentações. Ao apresentar o seu Vlog, PC Siqueira expõe que se trata [o vlog] apenas de considerações aleatórias sobre diversos assuntos. Portanto, não se trata, em última análise, de um vlog cômico, mas de um vlog opinativo. Ao ser executado em um player do Youtube, o contexto do vlog são as aparições anteriores, os comentários e os recados deixados pelo autor em suas redes sociais. Ao ser colocado na MTV, durante um programa de humor, o significado de suas palavras pode ter um efeito diferente. Sam Gregory expressa uma preocupação sobre o conteúdo do youtube que é editado e retirado do seu contexto que é fundamental para entendermos as apropriações da televisão sobre o vlog Mas Poxa Vida. A preocupação de Gregory é com relação aos vídeos de ativistas, mas pode ser tranquilamente traduzida para qualquer situação: Quando os vídeos de direitos humanos circulam cada vez mais distantes de seus lugares de origem – ou seja, incorporados, compartilhados, remixados – torna-se essencial inserir o contexto e os modos de ação dentro do vídeo e de sua imagística em vez de colocá- los fora do vídeo [...] ele se torna desconectado das opções de ação a não ser que essas opções sejam inseridas no próprio vídeo e a menos que sua mensagem seja claramente transmitida (Gregory apud Burgess e Green, 2009: p. 160) Portanto, posicionamentos feitos pelo autor que teriam uma conotação de repreensão, opinião ou seriedade, são distorcidos pelo meio em que ele se encontra e pelo conteúdo em inserção. Além disso, seus vídeos são editados para ficarem mais curtos, cortando partes que poderiam complementar o que está em exibição. Assistir à PC Siqueira na televisão é uma experiência totalmente diferente à assitir seu canal no Youtube. A distância do monitor da televisão para o espectador, o sofá que conforta, o controle remoto na mão, os comerciais, etc., tudo isso modifica a experiência do telespectador, que é muito mais completa no computador. Existe também a questão
  • 12. do zapping na televisão. Pode-se argumentar que também existe um zapping no computador: as pessoas conversam em redes sociais, lêem texto, entre outras ações, enquanto vêem o canal do Youtube. Mas o zapping no computador permite que o usuário dê pause no vídeo e retorne no momento que desejar da onde parou. PC Siqueira, enquanto cronista digital, somente no seu canal do Youtube. Não existe aqui também, uma convergência midiática. O produto apresentado na televisão não diáloga com a versão online, nem indica caminhos para se estabelecer um contato além da televisão. A televisão apresenta o final de uma discussão, enquanto na internet, os posts de PC Siqueira são apenas o começo de uma série de comentários, tweets e recados em diversas mídias sociais na internet. Considerações Finais Neste artigo sustentei a hipótese de que certos blogs, fotologs e vlogs podem ser considerados crônicas contemporâneas em formato digital. Examinei conceitos sobre convergência, credibilidade e opnião nos meios empregados nesses meios, bem como o fato de que cada meio representa um ambiente diferente para a compreensão da mensagem, pois, fundamentados em McLuhan (1995), o meio é a própria mensagem. Discorri também sobre uma breve história dos blogs, fotologs e vlogs na internet brasileira, e como a Televisão brasileira se apropriou desses meios, ora convergindo, ora simplesmente convertendo. Tais práticas vêem se tornando comum no meio digital brasileiro. Usamos aqui o vlog do PC Siqueiro, o Mas Poxa Vida, como exemplo das apropriações da televisão dos meios de comunicação digital. O seu vlog pode ser considerado como uma crônica conteporânea digital em certos momentos do vlog, quando visualizado no Youtube. Entretanto, ao partir para a televisão, o vlog passa a ter uma conotação humorísitica, descaracterizando-o como crônica. É importante observamos como o ambiente e o meio podem influenciar a construção de significados. Por mais que a televisão apele para efeitos visuais, táticas persuasivas e roteiros programados, se não for utilizada uma metodologia de convergência entre os meios utilizados, a internet sempre será mais completa que a televisão. A apropriação dos conteúdos digitais por parte das mídias tradicionais deve crescer de forma exponencial nos próximos anos. Ora eles irão convergir criando
  • 13. interação entre as diferentes mídias, ora irão simplesmente copiar e editar, como fazem com os filmes de cinema na televisão.
  • 14. Referências Bibliográficas BOUACHA, Ali Magid. Le discours médiatique et ses vérités. Analyse linguistique d’une chronique du journal: Le Monde. In: M. H. A. Carreira (dir.), Faits et effets linguistiques dans la presse actuelle, Paris, Université Paris 8, 1999 BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital: como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. São Paulo: editora ALEPH, 2009. JENKINS, Henry. A cultura da convergência. São Paulo: editora ALEPH, 2008. KELLNER, Douglas. A cultura da mídia: Estudos Culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: editora EDUSC, 2001. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: editora 34, 2005 MARQUES DE MELO, José. Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: editora Cultrix, 1995. NEVES, Janete dos Santos Bessa. Estudo semântico-enunciativo da modalidade em artigos de opinião. Tese de doutorado defendida por Janete dos Santos Bessa Neves; Orientador: Eneida do Rego Monteiro Bomfim. Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Letras, 2006. NOGUEIRA, Tiago. O meio (ainda) é a mensagem! Site Web Diálogos, Acessado em 23/Nov/2010. Disponível em: http://www.webdialogos.com/2010/cibercultura/o-meio- ainda-e-a-mensagem-2/