2. No Memorial do Convento há poucas referências temporais explícitas, no
entanto, através de diversas informações, podemos situar a ação no
período que decorre entre 1711 e 1739, século XVIII, durante, então, 28
anos.
A passagem do tempo faz-se sentir não apenas pelo desenvolvimento da
intriga, mas sobretudo através do crescimento e envelhecimento das
personagens.
3. TEMPO HISTÓRICO
• O tempo histórico consiste na época ou período da História de Portugal em que se
desenrolam as sequências narrativas.
“D. João, quinto do nome da tabela real (…) Maria Ana Josefa, que chegou há mais de
dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa”;
4. TEMPO DA HISTÓRIA OU DIEGÉTICO
• O tempo da história ou diegético consiste no tempo durante o qual a ação se
desenrola, segundo uma ordenação cronológica.
• 1711 - inicia-se a narrativa "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao
quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria
para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou“ (p.11); "um
homem que ainda não fez vinte e dois anos" (p. 12); "S. Francisco andava pelo mundo,
precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze" (p. 21); "Em mil setecentos
e quarenta terei cinquenta e um anos, e acrescentou lugubremente, Se ainda for vivo"
(p. 301).
5. • 1717 – A bênção da primeira pedra do convento é datada de "dezassete de novembro
deste ano da graça de mil setecentos e dezassete" (p. 140);
1729 – Celebra-se o casamento de D. José com Mariana Vitória e de Maria Bárbara com
o príncipe D. Fernando (VI de Espanha);
• 1730 – A sagração da basílica de Mafra "segundo o Ritual, e então el-rei mandou apurar
quando cairia o dia do seu aniversário, vinte e dois de outubro, a um domingo, tendo os
secretários respondido, após cuidadosa verificação do calendário, que tal coincidência
se daria daí a dois anos, em mil setecentos e trinta" (p. 300);
• 1739 – Última data implicada na obra, “durante nove anos, Blimunda procurou
Baltasar”.
6. TEMPO DO DISCURSO
O tempo do discurso é revelado através da forma como o narrador relata e manipula os
acontecimentos.
O discurso ou a voz deste narrador omnisciente segue o fluir cronológico da ação,
registando-se, no entanto, alguns desvios ou anacronias, analepses e prolepses. Estas
últimas têm como principal objetivo aproximar a época de D. João V ao presente.
Analepses:
• A vontade dos franciscanos terem um convento em Mafra (cap.II)(pág. 14)
• A língua portuguesa ser familiar a Scarlatti há já alguns anos (XIV)
• O que aconteceu ao cravo de Scarlatti que se encontrava na quinta do duque de Aveiro
(XVI)
7. Prolepses:
• Alusão ao 25 de abril ("os capelães de varas levantadas e molhos de cravos nas
pontas delas, ai o destino das flores, um dia as meterão nos canos das
espingardas" ) - p. 156
• Alusão a Fernando Pessoa (cap. XVIII);
• Alusão à extinção dos Autos de Fé (cap. V);
• A indicação do número de frades instalados no convento por altura das invasões
francesas (XVII).
8. • No último capítulo há um salto de 9 anos no tempo da diegese em que o narrador
sumaria em poucas páginas o que aconteceu durante este período de tempo.
Nesta elipse temporal, o narrador cinge-se praticamente à peregrinação
incessante de Blimunda e ao (re)encontro de Baltasar, 1739, desde o seu
desaparecimento em 1730, omitindo o que de supérfluo para a ação se passou
durante estes anos.