O documento discute princípios fundamentais da farmacoterapia psiquiátrica, incluindo farmacocinética, farmacodinâmica e fatores que afetam a disponibilidade de drogas. Também aborda particularidades do tratamento de crianças e adolescentes, enfatizando a necessidade de doses maiores nestas faixas etárias.
1. Noções básicas
• Farmacocinética:
–Processo biológico que leva a alterações –
no decorrer do tempo – na concentração
das drogas nos fluidos cerebrais e tecidos
corporais.
• Variáveis:
– Tempo para alcançar a concentração efetiva
– Duração do tempo em que essa concentração é
mantida
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2. Noções básicas
• Farmacodinâmica:
– Efeitos fisiológicos e bioquímicos das drogas:
• Efeitos específicos de cada droga
• Mecanismos de ação
• Relação entre concentração e efeitos
• Meia vida: o tempo necessário para a concentração
de uma droga diminuir pela metade. Isso é
importante para se definirem os intervalos de
administração.
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3. Noções básicas
• Fatores que afetam a disponibilidade de uma droga:
– Absorção: 1a. passagem pelo fígado.
– Distribuição: líquidos; sistema cardiovascular, membros,
equilíbrio ácido-base, proporção.
– Metabolismo: a maioria das drogas é lipossolúvel,
condição necessária para absorção, distribuição e
disponibilidade nos receptores.
– Excreção: devem ser metabolizadas até que se tornem
hidrofílicas, pois o rim é o órgão mais importante na
tarefa de excretar as drogas.
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4. Noções básicas
• Particularidades de alguns psicofármacos:
– Neurolépticos: eliminação dependente do fígado.
– ADT: metabolização extensa no fígado (por isso,
em crianças, as doses devem ser
proporcionalmente maiores do que em adultos).
– Psicoestimulantes (metilfenidato): meia vida
curta – doses plasmáticas menores quando o
intervalo for menor do que 4 horas.
– Benzodiazepínicos: meia vida maior em adultos.
– Lítio - íon hidrófilo: eliminação via renal.
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5. Noções básicas
• Crianças e adolescentes requerem doses por
quilo maiores que adultos para alcançarem
níveis plasmáticos e efeitos terapêuticos
comparáveis.
• Entretanto, de acordo com a idade, há
diferenças na distribuição corporal das drogas
(alterações hormonais da adolescência, por
exemplo).
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6. Princípios gerais
1. O ideal científico da farmacoterapia é
“sempre usar o medicamento como
decorrente de um plano racional de
tratamento, em função de um dado
diagnóstico, após avaliação adequada.
2. De acordo com este ideal, o tratamento
deveria ser etiológico, o que nos coloca de
frente com a grande questão da Psiquiatria:
quais as causas últimas de grande parte das
doenças psiquiátricas?
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7. Princípios gerais
3. Às vezes, drogas semelhantes agem em doenças
diferentes:
• Os sintomas são semelhantes
• Os neurotransmissores são mais ou menos os mesmos
• A localização dos eventos cerebrais pode ser próxima
• As vias de transmissão confluem parcialmente
4. Muitas vezes, as mesmas drogas podem provocar
efeitos diferentes por mecanismos diferentes em
diferentes patologias. Ex.: imipramina, indicada
para depressão, enurese, TDAH, TOC.
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8. Princípios gerais
5. Algumas drogas podem ser utilizadas para
sintomas-alvo em outras patologias, tais
como o Lítio:
– Mania (transtorno bipolar)
– Auto-agressividade em Transtorno de Conduta,
Retardo Mental e Transtorno Autístico.
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9. Princípios para escolha da medicação:
1. Diagnóstico correto: o que nem sempre se
consegue, seja por imperícia, seja por semelhança
de sintomatologia, seja por critérios diagnósticos
pouco consistentes.
2. Sintomas-alvo: muitas vezes os sintomas são a
principal justificativa para uso da medicação, pois
interferem na vida do paciente, na sua relação
com o mundo e no seu desenvolvimento. Verificar
se os benefícios justificam os riscos.
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10. Princípios para escolha da medicação:
3. Outras vezes, o fármaco está indicado em função
do diagnóstico e dos sintomas ao mesmo tempo
(ex.: antipsicóticos para Esquizofrenia e, ao
mesmo tempo, para alguns de seus sintomas:
alucinações, distúrbios do pensamento, etc).
4. Entretanto, deve-se ter cuidado em medicar
sintomas comuns a transtornos totalmente
diferentes (ex.: agitação em TDAH # agitação em
ansiedade.)
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11. Cuidados especiais ao medicar crianças e
adolescentes:
1. Fatores fisiológicos: crianças e adolescentes geralmente
necessitam de dosagens proporcionalmente maiores, em
comparação com adultos, para alcançarem níveis
sanguíneos e eficácia terapêutica:
– Metabolismo hepático mais rápido
– Velocidade de filtração glomerular mais rápida
– Alterações da famarcodinâmica dependentes da
idade:
– Hipótese: nível elevado dos hormônios sexuais.
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12. Cuidados especiais ao medicar crianças e
adolescentes:
É necessário levar em conta os fatores cognitivos, psicológicos e
as experiências de vida de cada paciente:
– Avaliação psiquiátrica deve ser acurada, mas depende
da maturação neuro-psicológica do paciente. Muitas
informações dependem da capacidade do sujeito.
– Crianças menores ou adolescentes deprimidos, por
exemplo, têm dificuldade para referir-se a noções de
tempo, para descrever o humor basal ou a severidade
dos próprios sintomas. (Podemos recorrer a artifícios
como: imagens, referências a datas festivas,
acontecimentos marcantes da vida, etc.).
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13. Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
1. Avaliação psiquiátrica completa e, muitas vezes, avaliação
neuro-psicológica (testes).
2. Exames:
– Físico: temperatura, pressão arterial, freqüência
cardíaca e respiratória, peso, altura, teste de gravidez
em adolescentes que poderiam estar grávidas (alguns
medicamentos são contra-indicados ou oferecem risco
durante a gestação).
– Laboratoriais: hemograma, rotina de urina, dosagem de
eletrólitos, função hepática (dependendo da substância
a ser prescrita).
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14. Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
3. Exames especiais:
– Função tireoidiana: a função anormal da tireóide pode
agravar arritmias cardíacas causadas pelos ADT’s. O
Lítio pode causar hipotireoidismo com baixa de T3 e T4 e
aumento da recaptação do I131.
– Função renal: por exemplo, quando medicar com Lítio.
– ECG: antes de ADT e Lítio
– EEG: antes de ADT e Lítio, principalmente em pacientes
com história prévia de crises convulsivas e que estejam
em uso de anticonvulsivantes, bem como pacientes
submetidos a neurocirurgia ou que sofreram
traumatismo craniano.
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15. Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
4. Conhecimento do comportamento habitual
(basal) da criança. Anamnese cuidadosa.
5. Discussão do tratamento com os pais ou
responsáveis, bem como com o paciente,
respeitando seus limites (idade, capacidade
cognitiva, etc.
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16. Orientações sobre “plano de tratamento”
• Discutir com pais e crianças:
– Qual o medicamento e seus efeitos benéficos
– Quais os efeitos colaterais mais comuns
– Qual a duração do tratamento
– Obter consentimento informado
– Fazer boa aliança com o paciente e com o responsável
pela administração do medicamento
– Instruir sobre cuidados no manuseio e estocagem (p.ex.:
cuidados com pacientes em risco de suicídio)
– Relativizar a importância dos aspectos biológicos,
salientando as causalidades psicológicas, as
interferências do ambiente e dos relacionamentos.
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17. Problemas de adesão ao tratamento na clínica
com crianças e adolescentes
1. Adesão mais complexa que nos adultos
2. Cuidar para que o remédio seja administrado
corretamente (os benefícios dependem da continuidade)
3. Considerar a possibilidade de resistência por parte dos
pais (muitas vezes, estes levam o filho à consulta por
pressão de parentes e professores)
4. Avaliar a interferência de fatores financeiros na aquisição
de medicamentos
5. Considerar os medos dos pacientes e suas fantasias de que
“se tomam remédios isso configura que são loucos”
6. Prevenir efeitos adversos (ex.: impregnação, náuseas, etc.)
7. Fornecer explicações compreensíveis sobre mecanismo de
ação, efeitos esperados, tempo de utilização, etc.
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18. Explicando a medicação para crianças e
adolescentes
• Respeitar a idade mental e capacidade de compreensão do
paciente
• Dar oportunidade ao paciente de participar ativamente do
próprio tratamento: responsabilização
• Reforçar as tendências à autonomia (adolescentes)
• Prever possíveis efeitos colaterais e garantir a pronta
intervenção (p.ex.: impregnação neuroléptica)
• Orientar sobre atividades a serem evitadas (dirigir veículos,
usar bebidas alcoólicas) e quais são liberadas (tomar
“refrigerantes”, jogar bola, estudar, etc.).
• Estar atento à possibilidade de gravidez, nas adolescentes
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