SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 18
Noções básicas
• Farmacocinética:
–Processo biológico que leva a alterações –
no decorrer do tempo – na concentração
das drogas nos fluidos cerebrais e tecidos
corporais.
• Variáveis:
– Tempo para alcançar a concentração efetiva
– Duração do tempo em que essa concentração é
mantida
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Noções básicas
• Farmacodinâmica:
– Efeitos fisiológicos e bioquímicos das drogas:
• Efeitos específicos de cada droga
• Mecanismos de ação
• Relação entre concentração e efeitos
• Meia vida: o tempo necessário para a concentração
de uma droga diminuir pela metade. Isso é
importante para se definirem os intervalos de
administração.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Noções básicas
• Fatores que afetam a disponibilidade de uma droga:
– Absorção: 1a. passagem pelo fígado.
– Distribuição: líquidos; sistema cardiovascular, membros,
equilíbrio ácido-base, proporção.
– Metabolismo: a maioria das drogas é lipossolúvel,
condição necessária para absorção, distribuição e
disponibilidade nos receptores.
– Excreção: devem ser metabolizadas até que se tornem
hidrofílicas, pois o rim é o órgão mais importante na
tarefa de excretar as drogas.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Noções básicas
• Particularidades de alguns psicofármacos:
– Neurolépticos: eliminação dependente do fígado.
– ADT: metabolização extensa no fígado (por isso,
em crianças, as doses devem ser
proporcionalmente maiores do que em adultos).
– Psicoestimulantes (metilfenidato): meia vida
curta – doses plasmáticas menores quando o
intervalo for menor do que 4 horas.
– Benzodiazepínicos: meia vida maior em adultos.
– Lítio - íon hidrófilo: eliminação via renal.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Noções básicas
• Crianças e adolescentes requerem doses por
quilo maiores que adultos para alcançarem
níveis plasmáticos e efeitos terapêuticos
comparáveis.
• Entretanto, de acordo com a idade, há
diferenças na distribuição corporal das drogas
(alterações hormonais da adolescência, por
exemplo).
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Princípios gerais
1. O ideal científico da farmacoterapia é
“sempre usar o medicamento como
decorrente de um plano racional de
tratamento, em função de um dado
diagnóstico, após avaliação adequada.
2. De acordo com este ideal, o tratamento
deveria ser etiológico, o que nos coloca de
frente com a grande questão da Psiquiatria:
quais as causas últimas de grande parte das
doenças psiquiátricas?
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Princípios gerais
3. Às vezes, drogas semelhantes agem em doenças
diferentes:
• Os sintomas são semelhantes
• Os neurotransmissores são mais ou menos os mesmos
• A localização dos eventos cerebrais pode ser próxima
• As vias de transmissão confluem parcialmente
4. Muitas vezes, as mesmas drogas podem provocar
efeitos diferentes por mecanismos diferentes em
diferentes patologias. Ex.: imipramina, indicada
para depressão, enurese, TDAH, TOC.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Princípios gerais
5. Algumas drogas podem ser utilizadas para
sintomas-alvo em outras patologias, tais
como o Lítio:
– Mania (transtorno bipolar)
– Auto-agressividade em Transtorno de Conduta,
Retardo Mental e Transtorno Autístico.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Princípios para escolha da medicação:
1. Diagnóstico correto: o que nem sempre se
consegue, seja por imperícia, seja por semelhança
de sintomatologia, seja por critérios diagnósticos
pouco consistentes.
2. Sintomas-alvo: muitas vezes os sintomas são a
principal justificativa para uso da medicação, pois
interferem na vida do paciente, na sua relação
com o mundo e no seu desenvolvimento. Verificar
se os benefícios justificam os riscos.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Princípios para escolha da medicação:
3. Outras vezes, o fármaco está indicado em função
do diagnóstico e dos sintomas ao mesmo tempo
(ex.: antipsicóticos para Esquizofrenia e, ao
mesmo tempo, para alguns de seus sintomas:
alucinações, distúrbios do pensamento, etc).
4. Entretanto, deve-se ter cuidado em medicar
sintomas comuns a transtornos totalmente
diferentes (ex.: agitação em TDAH # agitação em
ansiedade.)
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Cuidados especiais ao medicar crianças e
adolescentes:
1. Fatores fisiológicos: crianças e adolescentes geralmente
necessitam de dosagens proporcionalmente maiores, em
comparação com adultos, para alcançarem níveis
sanguíneos e eficácia terapêutica:
– Metabolismo hepático mais rápido
– Velocidade de filtração glomerular mais rápida
– Alterações da famarcodinâmica dependentes da
idade:
– Hipótese: nível elevado dos hormônios sexuais.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Cuidados especiais ao medicar crianças e
adolescentes:
É necessário levar em conta os fatores cognitivos, psicológicos e
as experiências de vida de cada paciente:
– Avaliação psiquiátrica deve ser acurada, mas depende
da maturação neuro-psicológica do paciente. Muitas
informações dependem da capacidade do sujeito.
– Crianças menores ou adolescentes deprimidos, por
exemplo, têm dificuldade para referir-se a noções de
tempo, para descrever o humor basal ou a severidade
dos próprios sintomas. (Podemos recorrer a artifícios
como: imagens, referências a datas festivas,
acontecimentos marcantes da vida, etc.).
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
1. Avaliação psiquiátrica completa e, muitas vezes, avaliação
neuro-psicológica (testes).
2. Exames:
– Físico: temperatura, pressão arterial, freqüência
cardíaca e respiratória, peso, altura, teste de gravidez
em adolescentes que poderiam estar grávidas (alguns
medicamentos são contra-indicados ou oferecem risco
durante a gestação).
– Laboratoriais: hemograma, rotina de urina, dosagem de
eletrólitos, função hepática (dependendo da substância
a ser prescrita).
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
3. Exames especiais:
– Função tireoidiana: a função anormal da tireóide pode
agravar arritmias cardíacas causadas pelos ADT’s. O
Lítio pode causar hipotireoidismo com baixa de T3 e T4 e
aumento da recaptação do I131.
– Função renal: por exemplo, quando medicar com Lítio.
– ECG: antes de ADT e Lítio
– EEG: antes de ADT e Lítio, principalmente em pacientes
com história prévia de crises convulsivas e que estejam
em uso de anticonvulsivantes, bem como pacientes
submetidos a neurocirurgia ou que sofreram
traumatismo craniano.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
4. Conhecimento do comportamento habitual
(basal) da criança. Anamnese cuidadosa.
5. Discussão do tratamento com os pais ou
responsáveis, bem como com o paciente,
respeitando seus limites (idade, capacidade
cognitiva, etc.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Orientações sobre “plano de tratamento”
• Discutir com pais e crianças:
– Qual o medicamento e seus efeitos benéficos
– Quais os efeitos colaterais mais comuns
– Qual a duração do tratamento
– Obter consentimento informado
– Fazer boa aliança com o paciente e com o responsável
pela administração do medicamento
– Instruir sobre cuidados no manuseio e estocagem (p.ex.:
cuidados com pacientes em risco de suicídio)
– Relativizar a importância dos aspectos biológicos,
salientando as causalidades psicológicas, as
interferências do ambiente e dos relacionamentos.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Problemas de adesão ao tratamento na clínica
com crianças e adolescentes
1. Adesão mais complexa que nos adultos
2. Cuidar para que o remédio seja administrado
corretamente (os benefícios dependem da continuidade)
3. Considerar a possibilidade de resistência por parte dos
pais (muitas vezes, estes levam o filho à consulta por
pressão de parentes e professores)
4. Avaliar a interferência de fatores financeiros na aquisição
de medicamentos
5. Considerar os medos dos pacientes e suas fantasias de que
“se tomam remédios isso configura que são loucos”
6. Prevenir efeitos adversos (ex.: impregnação, náuseas, etc.)
7. Fornecer explicações compreensíveis sobre mecanismo de
ação, efeitos esperados, tempo de utilização, etc.
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
Explicando a medicação para crianças e
adolescentes
• Respeitar a idade mental e capacidade de compreensão do
paciente
• Dar oportunidade ao paciente de participar ativamente do
próprio tratamento: responsabilização
• Reforçar as tendências à autonomia (adolescentes)
• Prever possíveis efeitos colaterais e garantir a pronta
intervenção (p.ex.: impregnação neuroléptica)
• Orientar sobre atividades a serem evitadas (dirigir veículos,
usar bebidas alcoólicas) e quais são liberadas (tomar
“refrigerantes”, jogar bola, estudar, etc.).
• Estar atento à possibilidade de gravidez, nas adolescentes
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Noções básicas sobre farmacoterapia psiquiátrica

Síndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicos
Síndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicosSíndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicos
Síndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicosAroldo Gavioli
 
Guilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUS
Guilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUSGuilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUS
Guilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUSAutismo & Realidade
 
Competnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseus
Competnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseusCompetnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseus
Competnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseusAnilton Cerqueira
 
Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...
Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...
Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...Van Der Häägen Brazil
 
Método Clínico para os Cuidados Farmacêuticos
Método Clínico para os Cuidados FarmacêuticosMétodo Clínico para os Cuidados Farmacêuticos
Método Clínico para os Cuidados FarmacêuticosCassyano Correr
 
Toxicodep..
Toxicodep..Toxicodep..
Toxicodep..R C
 
Profissão
ProfissãoProfissão
ProfissãoUNIME
 
Farmacoterapia em pediatria
Farmacoterapia em pediatriaFarmacoterapia em pediatria
Farmacoterapia em pediatriaCristina Nassis
 
Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...
Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...
Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...paulosa14
 
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.ANTONIO INACIO FERRAZ
 
Aspectos psiquiátricos do tratamento da obesidade
Aspectos psiquiátricos do tratamento da obesidadeAspectos psiquiátricos do tratamento da obesidade
Aspectos psiquiátricos do tratamento da obesidadeAna Lucia Consolim Azevedo
 
Trabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdf
Trabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdfTrabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdf
Trabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdfAlexandreTrigueirosS
 
1 - Introdução à Homeopatia.pptx
1 - Introdução à Homeopatia.pptx1 - Introdução à Homeopatia.pptx
1 - Introdução à Homeopatia.pptxLciaPaulaSchelbauerB
 
Neurobiologia do abuso de drogas
Neurobiologia do abuso de drogas Neurobiologia do abuso de drogas
Neurobiologia do abuso de drogas Henrique Gomide
 

Semelhante a Noções básicas sobre farmacoterapia psiquiátrica (20)

Drogas
DrogasDrogas
Drogas
 
Síndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicos
Síndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicosSíndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicos
Síndrome de dependência de substâncias – aspectos neurobiológicos
 
Farmacologia geral
Farmacologia geralFarmacologia geral
Farmacologia geral
 
Drogas e Seus Efeitos.pdf
Drogas e Seus Efeitos.pdfDrogas e Seus Efeitos.pdf
Drogas e Seus Efeitos.pdf
 
Guilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUS
Guilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUSGuilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUS
Guilherme Polanczyk - 30mai14 1º Congresso A&R SUS
 
Competnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseus
Competnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseusCompetnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseus
Competnciados pacientesemtomadasdedecisesquantoaseus
 
Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...
Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...
Obesidade um comprometimento orgânico muito mais complexo do que sempre se pe...
 
Método Clínico para os Cuidados Farmacêuticos
Método Clínico para os Cuidados FarmacêuticosMétodo Clínico para os Cuidados Farmacêuticos
Método Clínico para os Cuidados Farmacêuticos
 
Toxicodep..
Toxicodep..Toxicodep..
Toxicodep..
 
Profissão
ProfissãoProfissão
Profissão
 
Farmacoterapia em pediatria
Farmacoterapia em pediatriaFarmacoterapia em pediatria
Farmacoterapia em pediatria
 
Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...
Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...
Farmacologia: tópicos iniciais. Absorção Distribuição Metabolismo e Excreção,...
 
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
ANTONIO INACIO FERRAZ-ESTUDANTE DE FARMÁCIA EM CAMPINAS SP.
 
Farmacologia aula-1
Farmacologia aula-1Farmacologia aula-1
Farmacologia aula-1
 
Aspectos psiquiátricos do tratamento da obesidade
Aspectos psiquiátricos do tratamento da obesidadeAspectos psiquiátricos do tratamento da obesidade
Aspectos psiquiátricos do tratamento da obesidade
 
Aula 01
Aula 01Aula 01
Aula 01
 
Trabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdf
Trabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdfTrabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdf
Trabalho_Avaliacao_Psicologica_II.pdf
 
24382137 principios-da-homeopatia
24382137 principios-da-homeopatia24382137 principios-da-homeopatia
24382137 principios-da-homeopatia
 
1 - Introdução à Homeopatia.pptx
1 - Introdução à Homeopatia.pptx1 - Introdução à Homeopatia.pptx
1 - Introdução à Homeopatia.pptx
 
Neurobiologia do abuso de drogas
Neurobiologia do abuso de drogas Neurobiologia do abuso de drogas
Neurobiologia do abuso de drogas
 

Noções básicas sobre farmacoterapia psiquiátrica

  • 1. Noções básicas • Farmacocinética: –Processo biológico que leva a alterações – no decorrer do tempo – na concentração das drogas nos fluidos cerebrais e tecidos corporais. • Variáveis: – Tempo para alcançar a concentração efetiva – Duração do tempo em que essa concentração é mantida Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 2. Noções básicas • Farmacodinâmica: – Efeitos fisiológicos e bioquímicos das drogas: • Efeitos específicos de cada droga • Mecanismos de ação • Relação entre concentração e efeitos • Meia vida: o tempo necessário para a concentração de uma droga diminuir pela metade. Isso é importante para se definirem os intervalos de administração. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 3. Noções básicas • Fatores que afetam a disponibilidade de uma droga: – Absorção: 1a. passagem pelo fígado. – Distribuição: líquidos; sistema cardiovascular, membros, equilíbrio ácido-base, proporção. – Metabolismo: a maioria das drogas é lipossolúvel, condição necessária para absorção, distribuição e disponibilidade nos receptores. – Excreção: devem ser metabolizadas até que se tornem hidrofílicas, pois o rim é o órgão mais importante na tarefa de excretar as drogas. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 4. Noções básicas • Particularidades de alguns psicofármacos: – Neurolépticos: eliminação dependente do fígado. – ADT: metabolização extensa no fígado (por isso, em crianças, as doses devem ser proporcionalmente maiores do que em adultos). – Psicoestimulantes (metilfenidato): meia vida curta – doses plasmáticas menores quando o intervalo for menor do que 4 horas. – Benzodiazepínicos: meia vida maior em adultos. – Lítio - íon hidrófilo: eliminação via renal. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 5. Noções básicas • Crianças e adolescentes requerem doses por quilo maiores que adultos para alcançarem níveis plasmáticos e efeitos terapêuticos comparáveis. • Entretanto, de acordo com a idade, há diferenças na distribuição corporal das drogas (alterações hormonais da adolescência, por exemplo). Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 6. Princípios gerais 1. O ideal científico da farmacoterapia é “sempre usar o medicamento como decorrente de um plano racional de tratamento, em função de um dado diagnóstico, após avaliação adequada. 2. De acordo com este ideal, o tratamento deveria ser etiológico, o que nos coloca de frente com a grande questão da Psiquiatria: quais as causas últimas de grande parte das doenças psiquiátricas? Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 7. Princípios gerais 3. Às vezes, drogas semelhantes agem em doenças diferentes: • Os sintomas são semelhantes • Os neurotransmissores são mais ou menos os mesmos • A localização dos eventos cerebrais pode ser próxima • As vias de transmissão confluem parcialmente 4. Muitas vezes, as mesmas drogas podem provocar efeitos diferentes por mecanismos diferentes em diferentes patologias. Ex.: imipramina, indicada para depressão, enurese, TDAH, TOC. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 8. Princípios gerais 5. Algumas drogas podem ser utilizadas para sintomas-alvo em outras patologias, tais como o Lítio: – Mania (transtorno bipolar) – Auto-agressividade em Transtorno de Conduta, Retardo Mental e Transtorno Autístico. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 9. Princípios para escolha da medicação: 1. Diagnóstico correto: o que nem sempre se consegue, seja por imperícia, seja por semelhança de sintomatologia, seja por critérios diagnósticos pouco consistentes. 2. Sintomas-alvo: muitas vezes os sintomas são a principal justificativa para uso da medicação, pois interferem na vida do paciente, na sua relação com o mundo e no seu desenvolvimento. Verificar se os benefícios justificam os riscos. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 10. Princípios para escolha da medicação: 3. Outras vezes, o fármaco está indicado em função do diagnóstico e dos sintomas ao mesmo tempo (ex.: antipsicóticos para Esquizofrenia e, ao mesmo tempo, para alguns de seus sintomas: alucinações, distúrbios do pensamento, etc). 4. Entretanto, deve-se ter cuidado em medicar sintomas comuns a transtornos totalmente diferentes (ex.: agitação em TDAH # agitação em ansiedade.) Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 11. Cuidados especiais ao medicar crianças e adolescentes: 1. Fatores fisiológicos: crianças e adolescentes geralmente necessitam de dosagens proporcionalmente maiores, em comparação com adultos, para alcançarem níveis sanguíneos e eficácia terapêutica: – Metabolismo hepático mais rápido – Velocidade de filtração glomerular mais rápida – Alterações da famarcodinâmica dependentes da idade: – Hipótese: nível elevado dos hormônios sexuais. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 12. Cuidados especiais ao medicar crianças e adolescentes: É necessário levar em conta os fatores cognitivos, psicológicos e as experiências de vida de cada paciente: – Avaliação psiquiátrica deve ser acurada, mas depende da maturação neuro-psicológica do paciente. Muitas informações dependem da capacidade do sujeito. – Crianças menores ou adolescentes deprimidos, por exemplo, têm dificuldade para referir-se a noções de tempo, para descrever o humor basal ou a severidade dos próprios sintomas. (Podemos recorrer a artifícios como: imagens, referências a datas festivas, acontecimentos marcantes da vida, etc.). Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 13. Pré-requisitos para iniciar uma psicofarmacoterapia 1. Avaliação psiquiátrica completa e, muitas vezes, avaliação neuro-psicológica (testes). 2. Exames: – Físico: temperatura, pressão arterial, freqüência cardíaca e respiratória, peso, altura, teste de gravidez em adolescentes que poderiam estar grávidas (alguns medicamentos são contra-indicados ou oferecem risco durante a gestação). – Laboratoriais: hemograma, rotina de urina, dosagem de eletrólitos, função hepática (dependendo da substância a ser prescrita). Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 14. Pré-requisitos para iniciar uma psicofarmacoterapia 3. Exames especiais: – Função tireoidiana: a função anormal da tireóide pode agravar arritmias cardíacas causadas pelos ADT’s. O Lítio pode causar hipotireoidismo com baixa de T3 e T4 e aumento da recaptação do I131. – Função renal: por exemplo, quando medicar com Lítio. – ECG: antes de ADT e Lítio – EEG: antes de ADT e Lítio, principalmente em pacientes com história prévia de crises convulsivas e que estejam em uso de anticonvulsivantes, bem como pacientes submetidos a neurocirurgia ou que sofreram traumatismo craniano. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 15. Pré-requisitos para iniciar uma psicofarmacoterapia 4. Conhecimento do comportamento habitual (basal) da criança. Anamnese cuidadosa. 5. Discussão do tratamento com os pais ou responsáveis, bem como com o paciente, respeitando seus limites (idade, capacidade cognitiva, etc. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 16. Orientações sobre “plano de tratamento” • Discutir com pais e crianças: – Qual o medicamento e seus efeitos benéficos – Quais os efeitos colaterais mais comuns – Qual a duração do tratamento – Obter consentimento informado – Fazer boa aliança com o paciente e com o responsável pela administração do medicamento – Instruir sobre cuidados no manuseio e estocagem (p.ex.: cuidados com pacientes em risco de suicídio) – Relativizar a importância dos aspectos biológicos, salientando as causalidades psicológicas, as interferências do ambiente e dos relacionamentos. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 17. Problemas de adesão ao tratamento na clínica com crianças e adolescentes 1. Adesão mais complexa que nos adultos 2. Cuidar para que o remédio seja administrado corretamente (os benefícios dependem da continuidade) 3. Considerar a possibilidade de resistência por parte dos pais (muitas vezes, estes levam o filho à consulta por pressão de parentes e professores) 4. Avaliar a interferência de fatores financeiros na aquisição de medicamentos 5. Considerar os medos dos pacientes e suas fantasias de que “se tomam remédios isso configura que são loucos” 6. Prevenir efeitos adversos (ex.: impregnação, náuseas, etc.) 7. Fornecer explicações compreensíveis sobre mecanismo de ação, efeitos esperados, tempo de utilização, etc. Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
  • 18. Explicando a medicação para crianças e adolescentes • Respeitar a idade mental e capacidade de compreensão do paciente • Dar oportunidade ao paciente de participar ativamente do próprio tratamento: responsabilização • Reforçar as tendências à autonomia (adolescentes) • Prever possíveis efeitos colaterais e garantir a pronta intervenção (p.ex.: impregnação neuroléptica) • Orientar sobre atividades a serem evitadas (dirigir veículos, usar bebidas alcoólicas) e quais são liberadas (tomar “refrigerantes”, jogar bola, estudar, etc.). • Estar atento à possibilidade de gravidez, nas adolescentes Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria