SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
58
Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo
*Este artigo deve ser referido
como segue: 		
Bertolini W. Z., Carvalho V.
L. M. 2010. Abordagem da
escala espacial no ensino-
aprendizagem do relevo.
Terræ Didatica, 6(2):58-
66<http://www.ige.unicamp.
br/terraedidatica/>
ARTIGO
Abordagem da escala espacial no ensino-
aprendizagem do relevo
William Zanete Bertolini
Departamento de Geografia, Instituto de Geociências,
Universidade Federal de Minas Gerais, IGC/UFMG. geozaneti@
hotmail.com
Vilma Lúcia Macagnan Carvalho
Departamento de Geografia, Instituto de Geociências,
Universidade Federal de Minas Gerais, IGC/UFMG. vlmc@ufmg.br
Abstract This paper presents some possibilities to teach relief at the level
of Junior High Schools, from the perspective of typical landforms. The landforms can be
presented in different scales. Taking the relief of Belo Horizonte as example, we start from
a local landform analysis to a regional one, hitting a more abstract level to understand the
concept of relief. The proposal explores geomorphological concepts involving visual language
by the use of oblique photographs for local scale, elevation terrain models and maps for
regional scale, for teaching and learning of geomorphology.
Keywords Relief, teaching, spatial scale
RESUMO O objetivo principal deste artigo é o de apresentar proposta de
abordagem do relevo na escola básica sob a perspectiva de suas formas típicas e apresentadas
em diferentes escalas. Tomando como referência o relevo de Belo Horizonte, inicia-se pela
escala local das formas (ou seja, do concreto), para a escala regional, atingindo assim os
níveis mais abstratos de compreensão do relevo. A proposta explora conceitos geomorfológicos
e envolve a linguagem visual mediante o uso de fotografias oblíquas para a escala local e
modelos digitais de terreno e mapas para representar a escala regional no processo de ensino
e aprendizagem da geomorfologia.
Palavras-chave Relevo, ensino, escala espacial
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
59
W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho
essencialmente didático-pedagógico e estão relacio-
nadas ao domínio de modelos teórico-conceituais
por parte de alunos e professores e a como esses
modelos teóricos são ensinados e aprendidos.
A construção de recursos didáticos que facilitem
a compreensão das geociências é uma necessidade
que tem sido apontada por diversos pesquisadores
(Pedrinaci e Berjillos 1994, Carvalho 2004, San-
chez Prieur e Devallois 2004, Gonçalves e Sicca
2005, Orion e Trend 2009). A necessidade de uma
didática voltada às especificidades do conteúdo é
uma tarefa imposta, em certa medida, pelo caráter
abstrato implícito ao conteúdo geomorfológico e
vinculado, entre outros fatores, às relações especí-
ficas desse campo de conhecimento com o tempo
e o espaço. Torna-se, portanto, um desafio à prática
de ensino, a construção de meios que permitam
aos professores ultrapassarem as superficialidades
do conteúdo, sejam estas baseadas em conceitu-
ação sem contextualização ou memorização sem
compreensão.
Nesse sentido, o objetivo principal deste traba-
lho é mostrar como o professor do ensino básico
pode utilizar a escala espacial na representação e
compreensão das formas do relevo. A proposta de
abordagem aqui apresentada tem seu foco voltado
à compreensão e interpretação do relevo de Belo
Horizonte(Figs. 1 e 2) considerando as dimensões
local, meso e macro regional. Trata-se de uma pro-
posta de abordagem metodologicamente baseada
nas relações entre a linguagem gráfica e conceitu-
al aplicadas à compreensão da multiescalaridade
espacial do relevo.
A abordagem escalar no ensino do relevo
O relevo constitui fenômeno natural de expres-
são geográfica cujo entendimento requer adequada
compreensão da noção escalar e de suas implicações
em termos da concepção de formas e processos
envolvidos em sua estruturação. Nesse sentido,
tempo e espaço constituem duas grandes esferas
conceituais que permeiam a análise geomorfológica
sob a perspectiva escalar. As escalas espacial e tem-
poral são recursos metodológicos indispensáveis
aos estudos geomorfológicos e das geociências, de
maneira geral. Segundo Souza (2009) a compreen-
são da noção escalar e de seu trânsito nos estudos
do relevo passam pela compreensão de que existem
formas dentro de formas.
Ensino-aprendizagemdorelevonaescolabásica
O ensino do relevo na escola básica encontra-se
vinculado ao objetivo geral de conhecer o funcio-
namento da natureza em suas múltiplas relações,
conforme colocado pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais (1998). A despeito da amplitude desse
objetivo, o sistema geomorfológico possibilita uma
visão integrada da natureza, viabilizando o ensino
dos conteúdos do Sistema Terra. Este se configura
na interface entre as esferas do planeta: geosfera,
hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera, o que
torna o relevo um conteúdo de convergência das
chamadas ciências ambientais.
Ensinar o relevo, na perspectiva de um ensi-
no de ciências comprometido com a formação de
cidadãos, significa fornecer meios para a compre-
ensão dos processos, agentes, formas e materiais
geomorfológicos que influenciam em maior ou
menor medida as atividades humanas e a organi-
zação socioambiental do espaço.
No contexto da geografia escolar, o relevo apa-
rece como um dos conteúdos que permite melhor
compreensão dos ritmos e dinâmicas espaço-
temporais do Sistema Terra. De acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil
1998; 2006) não é difícil compreender como o rele-
vo perpassa as diretrizes da geografia. O conteúdo
do relevo vai ao encontro dos seguintes objetivos
defendidos pelos PCNs, tanto nas séries finais do
ensino fundamental quanto no ensino médio:
• Compreender a espacialidade e temporalidade
dos fenômenos geográficos estudados em suas
dinâmicas e interações (Brasil 1998).
• Orientá-los [os alunos] a compreender a impor-
tância das diferentes linguagens na leitura da
paisagem, desde as imagens, música e literatura
de dados e de documentos de diferentes fontes
de informação, de modo que interprete, analise
e relacione informações sobre o espaço (Brasil
1998).
• Saber utilizar a linguagem gráfica para obter
informações e representar a espacialidade dos
fenômenos geográficos (Brasil 1998).
Contudo, o ensino do relevo na prática escolar,
bem como o das Geociências de maneira geral,
esbarra em dificuldades de muitas naturezas. A
despeito das falhas que perpassam o sistema edu-
cacional como um todo, algumas das dificuldades
inerentes ao ensino de Geociências são de caráter
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
60
Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo
Figura 2a – Processo erosivo instalado em uma encosta. Trata-se
de uma voçoroca parcialmente estabilizada. Possivelmente
esta feição erosiva é anterior à rua que seccionou a encosta
e deve ter barrado a velocidade do processo
Figura 2b – Detalhe do tamanho da forma erosiva em relação
a uma pessoa de estatura média (destacada na foto)
Compreender o relevo implica ter consciência
da abrangência dessas formas, bem como dos pro-
cessos e de outros fatores ambientais responsáveis
pela sua origem. Esta compreensão não é simples,
visto que agentes, processos, materiais e formas
compõem as mais diversas combinações que regu-
lam a dinâmica geomorfológica. De acordo com
sua natureza, os fatores produtores do relevo se
conjugam segundo diferentes ordens de grandeza
espacial e temporal e quando nos reportamos a
determinada escala espacial e temporal nos repor-
tamos a agentes, processos, materiais e formas
específicos. Trata-se de um reducionismo, em certa
medida, inevitável ao fazer científico: o de simpli-
ficar para compreender as partes que compõem o
todo e a partir daí poder compreendê-lo em suas
propriedades e dinâmica.
A noção de escala espacial aplicada ao ensino
do relevo
No tocante à noção de escala espacial emprega-
da no ensino de geomorfologia é necessário dizer
que não se trata simplesmente da noção de escala
cartográfica, ou seja, aquela referente à relação entre
distâncias. Para além desta perspectiva matemática-
proporcional de uma redução para a representação,
existe também um sentido geográfico da noção de
escala, que se refere à abrangência de um fenô-
meno. Nesse sentido, a noção de escala geográfica
reporta-se aos “contornos para expressar a repre-
sentação dos diferentes modos de percepção e de
concepção do real (Castro 2006, p.118)”.
Reside na distinção entre essas duas concepções
de escala (geográfica e cartográfica) um importante
elemento sobre o qual os professores devem ter
Figura 1 – Os topos de morros podem ter muitas
formas ou geometrias. Formas curvas salientes
(convexas), formas curvas ocadas (côncavas),
planas ou retilíneas, etc. Nesta foto, vemos um
topo de morro em forma oca chamado também
de anfiteatro. Esse topo de morro pode também
ser chamado de cabeceira de drenagem, uma
vez que tem a função de conduzir o escoamento
das chuvas em direção a sua base e daí para
o fundo do vale onde se encontra o canal de
drenagem que será alimentado pelas águas
vindas das partes mais altas. Observa-se que
o conjunto de prédios construído na base da
cabeceira tende a dificultar o livre escoamento
da água da chuva gerando assim o risco de
inundações nessa área
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
61
W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho
vistos no dia-a-dia. Embora na realidade vejamos
o relevo como um continuum de formas, na lógica
do pensamento científico elas são isoladas e catego-
rizadas, como um recurso facilitador da construção
do conhecimento. Assim, sob o artifício da escala, as
formas não obedecem a essa lógica de conjunto em
virtude da visibilidade que lhes é conferida através
do recorte escalar.
A linguagem visual no ensino de geomorfologia
A comunicação visual tem importância funda-
mental no processo de ensino aprendizagem. No
caso do ensino de geociências, a linguagem visual
tem papel importante na representação de modelos
do Sistema Terra e na percepção de como funcio-
nam esses modelos (Gonçalves 2001). Todavia, o
trabalho com esse tipo de recurso nem sempre é
feito de forma adequada junto aos alunos porque
falta uma compreensão adequada do que esses
recursos podem demonstrar e de como eles podem
ser explorados (Silva et al. 2006). Torna-se neces-
sário, portanto, saber integrar a linguagem concei-
tual à linguagem gráfica a fim de proporcionar aos
estudantes a ampliação dos modos de compreensão
dos sistemas naturais. Assim, é preciso focalizar
não somente os conceitos através das imagens mas
também como estas nos permitem perceber esses
conceitos.
Para compreender melhor esta questão é fun-
damental que se tenha consciência de que a inter-
pretação e aprendizagem através de recursos visuais
sofrem influências da percepção dos alunos. Além
disso, deve-se saber que as formas de representa-
ção visual tem efeitos diferenciados sobre a per-
cepção (Graves 1985). Tais constatações revelam a
importância de se conhecer a natureza do material
visual com que se trabalha, a fim de se alcançar os
melhores e possíveis resultados. De modo geral,
as imagens tendem a ser pouco exploradas em sala
de aula. Segundo Silva et al. (2006) talvez haja por
detrás disso a concepção por parte dos professores
de que as imagens falam por si próprias ou trans-
mitam um único sentido.
É frequente, no ensino de geografia interme-
diado por recursos visuais, o professor não orientar
o aluno sobre o que se pode enxergar a partir de
determinada imagem. E, como observa Graves
(1985), há uma tendência perceptiva-conceitual
característica nas crianças pela qual eles tendem a
se concentrar em aspectos limitados da informação
clareza ao tratar o relevo sob a perspectiva escalar.
Le Sann (1989, p.6) afirma que uma grande
proporção de estudantes encontra na aprendi-
zagem da noção de escala um obstáculo quase
intransponível. Em parte isto acontece porque os
professores transitam, na linguagem corrente, entre
as perspectivas da escala cartográfica e geográfica
sem deixar muito claro aos alunos, por exemplo,
quando estão se referindo à grandeza escalar em
sentido cartográfico ou no sentido de abrangência
da área de um fenômeno. Tal situação se torna ainda
mais confusa quando os mapas se fazem presentes
como representação do relevo. Existe aí uma con-
fusão entre os raciocínios espacial e matemático
conforme atenta Castro (2006). Essa autora afirma
que, ao referir-se ao local como grande escala e ao
mundo como pequena escala o professor utiliza a
fração como base descritiva e analítica, quando ela
é apenas instrumental (Castro 2006).
A primeira coisa que se deve ter em mente
quando se pensa nas escalas de representação de
um fenômeno é que escalas diferentes mostram
coisas diferentes (Lacoste 1997). Este é um aspec-
to importante ao qual deve ser chamada a atenção
dos estudantes. De acordo com a grandeza escalar
adotada na construção do mapa, que acontece em
função daquilo que se quer representar no papel,
alguns elementos presentes na realidade não apare-
cem no papel. Isto parece óbvio mas nem sempre é
de fácil entendimento por parte dos alunos. Exige-
se deles, nesse ponto, certo nível de abstração para
entender que a impossibilidade de cartografar todos
os detalhes da realidade acarreta a escolha de uma
determinada gama de fenômenos a ser mostrada de
acordo com os objetivos do mapa e as possibilida-
des de representação. Essa dificuldade, que pode se
tornar um obstáculo para a compreensão das noções
cartográficas posteriores, pode ser facilmente sana-
da através da forma como se apresenta o conceito
ao aluno. Na verdade, não se trata simplesmente
de uma representação do real no papel mas, essen-
cialmente, de uma simplificação e de uma escolha
do que se quer mostrar, conforme determinados
objetivos. Nesse sentido, vale ressaltar que o con-
ceito é uma forma de entender a realidade. Ele não
é a realidade em si.
Quando se trata da abordagem escalar espacial
no ensino do relevo, é preciso mostrar aos alunos
como as formas mudam com a mudança da escala
de representação. Isto implica a visualização das
formas sob arranjos espaciais diferentes daqueles
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
62
Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo
à realidade, já que oferecem a percepção de pro-
fundidade, ângulo e perspectiva. Segundo Vieira
(2001) a representação tridimensional do terreno,
característica dos chamados modelos digitais do
terreno (MDT’s) facilita a visualização e o enten-
dimento da transposição da forma tridimensional
‘da realidade’ para a forma bidimensional do papel
(Figs. 4, 5 e 6). Segundo esta mesma autora (2001,
p.26) “o modelo digital de terreno é uma técnica
potencialmente aplicável ao ensino na medida em
que permite ao aluno visualizar o relevo, o que não
ocorre com a representação em curvas de nível. A
interpretação sob a forma de curva de nível requer
determinado grau de abstração e percepção que os
alunos do nível primário não detem”.
A seguir é apresentada a proposta de trabalho
propriamente dita, envolvendo a relação entre a lin-
guagem visual e a linguagem conceitual por meio de
fotografias, modelos digitais de terreno (MDTs) e
mapas. A proposta tem como foco o relevo de Belo
Horizonte no contexto do Quadrilátero Ferrífero e
seu entorno. Segue-se um quadro com objetivos,
orientações de trabalho e habilidades envolvidas
com as figuras apresentadas.
O processo de ensino-aprendizagem de qual-
quer conteúdo vai além do seu domínio didático-
pedagógico. A apropriação do conhecimento
contida em um mapa. Por isso, tornam-se impor-
tantes as instruções claras do professor no sentido
de orientar o que pode ser visto e depreendido
dos recursos de imagem utilizados. Caso contrá-
rio, professor e aluno observarão coisas diferentes
(Graves 1985).
As fotografias oblíquas são recursos muito inte-
ressantes no ensino do relevo porque mostram, no
papel, as formas da superfície do modo como são
vistas cotidianamente, por qualquer pessoa (Fig.
3). Em princípio, isso parece pouco relevante mas
demonstra que as fotografias oblíquas guardam for-
te correlação com o aspecto visível da realidade, que
é prontamente reconhecido por qualquer um.
Reynolds e Peacock (1998) afirmam que as
observações através de fotografias ensinam aos
alunos a observar melhor e refletir sobre o meio
ambiente no qual eles se inserem, a estabelecer
as diferenças entre observação e interpretação e
também ajudam a desenvolver habilidades de visu-
alização espacial. No que se refere à ilustração do
relevo, as fotografias, tomadas de pontos de visada
elevados e estratégicos, permitem a visualização da
extensão e da situação relacional entre comparti-
mentos geomorfológicos diferentes.
Por sua vez, os modelos em três dimensões
do terreno permitem a visualização mais próxima
Figura 3 – O relevo da maior parte do município de Belo Horizonte é caracterizado por colinas amplas e alongadas que
fazem parte da Depressão do São Francisco, localmente denominada de Depressão de Belo Horizonte (1º plano da
foto). Como se trata de uma área intensamente urbanizada, o relevo original já foi bastante alterado por meio de
escavações, aterros, construção de ruas e casas. O relevo de maior altitude encontra-se na região sul do município
e é representado pela Serra do Curral (vista ao fundo, no 2º plano da foto)
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
63
W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho
Figura 5 – Representação plana/altimétrica (esquerda) e em 3D (direita) do relevo do Quadrilátero Ferrífero e seu
entorno. As maiores altitudes dessa região correspondem às serras que marcam os seus limites e lhe dão o formato
grosseiramente quadrado. O interior do Quadrilátero Ferrífero é composto por um relevo colinoso, altimetricamente
mais baixo em relação às serras que o circundam
acontece mediante relações inter-pessoais entre
professor e alunos e entre os conhecimentos pré-
vios trazidos por eles. Não existem receitas ideais
para se alcançar um conhecimento. As pessoas
aprendem de formas diferentes e gradualmente.
Diferentes fatores internos e externos interagem
nesse processo conduzindo à substituição de ideias
antigas por novas compreensões dessas mesmas
ideias, à aparição de insights que nos fazem perceber
coisas que antes não havíamos percebido, etc.
A proposta de abordagem aqui discutida (Tab.
1) não garante a compreensão efetiva do conte-
údo se não forem levados em consideração os
conhecimentos prévios dos alunos. Considerá-los
é importante no sentido de que são essas ideias,
que os alunos trazem consigo, que irão guiar o seu
raciocínio em torno do que é ensinado. É com base
nas ideias já aprendidas que os alunos estabelecem
Figura 4 – Representação altimétrica (direita) e em 3D (esquerda) do relevo de Belo Horizonte. A Depressão de Belo
Horizonte está contida dentro de uma área deprimida maior que é a Depressão do Rio São Francisco. O trabalho
erosivo do Rio das Velhas (afluente do São Francisco) e seus tributários foi responsável pela origem dessa depressão,
onde se encontra a maior parte do sítio urbano de Belo Horizonte. Na porção sul do município encontra-se a Serra
do Curral que marca o limite entre a depressão e o macrocompartimento do Quadrilátero Ferrífero. É possível
perceber ainda que o relevo mais elevado encontra-se na porção centro-sul do município. E quanto mais ao norte
mais plano tende a ser o relevo. Fonte: Miranda, E. E. de; (coord). Brasil em relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005. Shuttle
Radar Topography Mission - SRTM. Base do limite municipal: Geominas (2008). Elaboração: William Zanete Bertolini, 2009.
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
64
Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo
Figura 6 – Mapa dos macrocompartimentos geomorfológicos de Minas Gerais e localização de Belo Horizonte nesse
contexto. A porção sul do município encontra-se junto à borda norte do Quadrilátero Ferrífero, enquanto a maior
parte do relevo do município é parte integrante da Depressão do São Francisco
relações com os novos conhecimentos e conceitos
que lhes são apresentados. Conforme aponta Le
Sann (1989), é importante que o professor tenha
consciência da qualidade das representações men-
tais dos seus alunos a fim de poder ajudá-los no
processo de aprendizagem e sobretudo, reconhecer
o caráter positivo do erro em seu curso.
Embora não existam garantias para a apropria-
ção de um conhecimento ideal, existem cuidados
didáticos a serem tomados com relação aos conte-
údos, em função de sua natureza epistemológica
e conceitual.
Assim como nas dificuldades inerentes à carto-
grafia, a geomorfologia também esbarra nos limi-
tes entre a percepção do mundo cotidiano e sua
representação, que é um dos principais meios pelos
quais se ensina o relevo. A ideia que se faz de algo
não é exatamente correspondente à representação
dessa ideia na forma de bloco-diagrama, mapa ou
qualquer outro recurso de imagem. Isso acontece
porque além do conhecimento representado exis-
tem outros conhecimentos que devem ser decodifi-
cados antes, para o entendimento do que realmente
interessa. Ou seja, é preciso compreender as for-
mas de representação para compreender o que se
encontra representado. Por isso, e de acordo com as
peculiaridades envolvidas no ensino/aprendizagem
do relevo, alguns pontos precisam ser explicitados
pelo professor na condução do processo através das
representações imagéticas:
• Apontar a relação entre as formas do relevo e suas
diferentes possibilidades de representação.
• Apontar as relações de profundidade e espaciali-
dade das formas nas fotografias.
• Levar em consideração que o ângulo, a altura
do ponto de tomada das fotos e a iluminação
natural são fatores que influenciam na forma
como o relevo aparece nas fotografias.
• Chamar a atenção para a tridimensionalidade do
relevo, especialmente quando aplicar o conhe-
cimento geomorfológico ao planejamento
ambiental.
• Prestar atenção ao tamanho de elementos-padrão
presentes em fotos, tais como casas, pessoas,
animais, e compará-los com as dimensões da
área representada. Esse exercício ajuda a con-
solidar a noção de escala espacial.
• O relevo que se vê, que se pode perceber ao nosso
entorno, é apenas uma parte muito pequena de
um sistema bem maior em termos de formas,
processos e fluxos de energia.
Outro aspecto que não pode ser dissociado do
ensino do relevo diz respeito à questão temporal
e espacial. Portanto, quando se ensina o relevo
ensinam-se também as categorias de tempo e espaço
na perspectiva ambiental. O relevo é o conteúdo
do currículo escolar que, mais de perto, permite
lidar com as noções e conceitos relativos à história
geológica do planeta e de regiões específicas. Trata-
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
65
W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho
Tabela 1 – Quadro descritivo das ilustrações que acompanham a proposta para estudo do relevo de Belo Horizonte,
objetivos, observações e habilidades
OBJETIVOS
POSSIBILIDADES DE
TRABALHO
OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS
Figura 1 - Entender o con-
ceito de topo de morro e suas
funções ambientais.
- Entender como a ocupação
urbana pode alterar o com-
portamento do escoamento
pluvial.
- Interpretação de foto-
grafia.
- Listar os elementos visí-
veis na foto.
- Indicar a linha de cumea-
da, a encosta e a direção de
drenagem.
- O topo de morro, neste
caso, é entendido como a
linha de cumeada ou divisor
de águas + a parte superior da
encosta, aquela onde a decli-
vidade é mais acentuada.
- Identificar as tipologias de for-
mas e conhecer as suas nomencla-
turas (Souza 2009).
- Comparar formas e diferenciar
nomenclaturas (Souza 2009).
- Analisar a relação forma – escala
espacial (Souza 2009).
- Reconhecer os diferentes
tipos de formas em ilustrações e
modelos tridimensionais (Souza
2009).
- Visualizar as formas de relevo, a
partir das representações e do real
(Souza 2009).
- Compreender e interpretar
os fenômenos considerando as
dimensões local e regional (Bra-
sil 2006).
- Analisar os espaços consideran-
do a influência dos eventos da
natureza e da sociedade (Brasil
2006).
Figura 2 - Trabalhar a noção
de escala a partir de elemen-
tos presentes na foto.
- Mostrar que existem for-
mas diferentes de topos de
morro.
- Comparação dos ele-
mentos da paisagem com
as formas do relevo.
- Comparar o topo de
morro mostrado nesta
foto com aquele mostrado
na foto 1.
- Chamar a atenção para o
tamanho das casas em rela-
ção à encosta; da antena em
relação à encosta; do homem
em relação à cicatriz erosiva
instalada na encosta.
- Na primeira foto o topo de
morro é côncavo; na foto nº
2 é convexo.
Figura 3 - Caracterizar o
relevo de Belo Horizonte.
- Interpretação de foto-
grafia.
- Esclarecer aos alunos
que as formas mostradas
nas primeiras fotos estão
contidas na terceira e que
não são vistas como foram
vistas nas fotos 1 e 2 por
uma questão de escala.
- Nem tudo pode ser visto
na fotografia e alguns ele-
mentos da paisagem, como
a ocupação urbana do solo,
interferem na visualização das
formas do relevo.
Figura 4 a 6 - Localizar Belo
Horizonte no contexto da
Depressão Sanfranciscana e
do Quadrilátero Ferrífero.
- Diferenciar altimetrica-
mente compartimentos de
relevo diferentes.
- Correlacionar as diferentes
escalas de representação à
predominância de processos
endógenos ou exógenos.
- Destacar os comparti-
mentos do relevo através
da visualização de cores no
padrão altimétrico.
- Esclarecer que as mes-
mas formas de relevo são
comuns tanto em compar-
timentos planálticos quan-
to nos deprimidos.
- Tanto o relevo do planalto
do Quadrilátero Ferrífero
quanto o da Depressão de
Belo Horizonte são coli-
nosos.
- Quanto menor a escala
espacial cartográfica de um
fenômeno geomorfológi-
co, maior a influência dos
processos exógenos porque
se trata da estruturação de
grandes regiões de relevo
que sofreram a influência de
fatores endógenos de grande
magnitude.
TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010
66
Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo
se de conteúdo que permite abordagem integrada
de saberes, na perspectiva temporal e espacial das
ciências ambientais.
Considerações Finais
No que concerne às escalas de tempo e espaço
aplicadas ao ensino do relevo na escola básica, é
preciso ir além do perceptível, do visível ao entor-
no. Não é possível esgotar a abordagem do relevo
nessa escala temporal/espacial. É interessante que
o professor parta dos níveis mais concretos das
formas, como pressupõe a ordenação das figuras
apresentadas nesta proposta de trabalho; que parta
também de algo familiar aos estudantes como, por
exemplo, o entorno da escola. Contudo, é preciso
ampliar as escalas de compreensão. É preciso che-
gar ao que a vista não alcança, ampliando-se assim
a complexidade inerente aos fenômenos e formas
geomorfológicas existentes e a capacidade de racio-
cínio abstrato. Para tanto, é preciso ter domínio dos
conceitos geomorfológicos e geográficos – ferra-
mentas fundamentais à construção do raciocínio
científico em Geomorfologia.
Referências Bibliográficas
Brasil. Ministério da Educação. 1998. Secretaria da
Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacio-
nais.: Ensino Fundamental. Brasília: MEC.
Brasil. Ministério da Educação. 2006. Secretaria da
Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacio-
nais: Ensino Médio. v.3. Brasília: MEC.
Carvalho A.L.P. 2004. Necessidades na produ-
ção acadêmica em Geomorfologia Escolar. In:
Simpósio Nacional de Geomorfologia, 4, São
Luís, MA, 2004. Anais IV Simpósio Nacional de
Geomorfologia., São Luís, Universidade Federal
do Maranhão, v.2.
Castro I.E.de. 2006. O problema da escala. In:
Castro I.E.de, Gomes P.C.C., Corrêa R.L. or-
gs. Geografia: conceitos e temas. 8ª ed. Rio de
Janeiro, Bertrand Brasil. p.117-140.
Gonçalves P
.W. 2001. Saberes pedagógicos: ativida-
de docente em Geografia. In: Reunião Anual da
ANPED, 24 Caxambu, 2001. Anais... Caxambu,
ANPED. p. 1-16. (CD-ROM).
Gonçalves P.W., Sicca N.A.L. 2005. O que os
professores pensam sobre geociências e edu-
cação ambiental? (Levantamento explorató-
rio de concepções de professores de Ribeirão
Preto (SP). São Paulo, Geologia USP, 3(Publ.
Esp.):97-106.
Graves N.J. 1985. La enseñanza de la geografia. Ma-
drid: Visor Libros.
Lacoste Y. 1997. A geografia: isso serve, em primei-
ro lugar, para fazer a guerra. 4 ed.São Paulo,
Ed. Papirus.
Le Sann J.G. 1989. Elaboration d’un materiel pe-
dagogique pour l’apprentissage de notions ge-
ographiques de base, dans les classes primaires,
au Bresil: une proposition à partir des apports
théoriques de la géographie, de la pédagogie,
de la psychologie et de la graphique. École des
Hautes Etudes en Sciences Sociales. (Thèse de
Doctorat – vol. 1).
Orion N., Trend R. 2009. Thinking and learning in
the Geosciences (editorial). Journal of Geoscience
Education, 57(4): 222-223.
Pedrinaci E., Berjillos P
. 1994. El concepto de tiem-
po geológico: orientaciones para su tratamiento
en la educación secundaria. Rev. Enseñanza de
las Ciencias de la Tierra. 2(1): 240-251.
Reynolds S.J., Peacock S.M. 1998. Slide observa-
tions – promoting active learning, landscape
appreciation, and critical thinking in intro-
ductory geology courses. Journal of Geoscience
Education, 46: 421-426.
Sanchez E., Prieur M., Devallois D. 2004.
L’enseignement des sciences de la Terre en clas-
se de seconde: pratiques de classes, difficultés,
perspectives pour la formation. Institut Natio-
nal de Recherche Pédagogique – Rapport de
Recherche. France 48 p. URL: <http://www.
inrp.fr/Acces/biotic/enqueteST/Textes/Rap-
port_de_recherche_enquete_enseignement_
geologie0504.pdf> Acesso: 01.06.2009.
Silva H.C.da., Zimmermann E., Carneiro
M.H.da.S., Gastal M.L., Cassiano W.S. 2006.
Cautela ao usar imagens em aulas de ciências.
Rev. Ciência e Educação. 12(2): 219-233.
Souza C. J.de.O. 2009. Geomorfologia no ensino
superior: interessante, mas difícil! Por quê?
Uma discussão a partir dos conhecimentos e
das dificuldades entre alunos de geografia. Uni-
versidade Federal de Minas Gerais – Instituto
de Geociências, Belo Horizonte. 228 f. (Tese
de Doutorado).
Vieira E.F.C. 2001. Produção de material didático uti-
lizando ferramentas de Geoprocessamento. Belo
Horizonte: Univ. Fed. Minas Gerais, Depto.
Cartografia. (Monogr. Espec.).

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Abordagem_da_escala_espacial_no_ensinoaprendizagem.pdf

Projeto Aguas Rio Bacalhau
Projeto Aguas Rio BacalhauProjeto Aguas Rio Bacalhau
Projeto Aguas Rio BacalhauMatheus Bueno
 
Metodologia do ensino de geografia nas séries iniciais
Metodologia do ensino de geografia nas séries iniciaisMetodologia do ensino de geografia nas séries iniciais
Metodologia do ensino de geografia nas séries iniciaisKarla Lopes
 
Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)
Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)
Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)professora de geografia
 
A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...
A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...
A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...pibidgeo
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia físicapaulo580
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia físicapaulo580
 
Produção inicial proposta eja 2012
Produção inicial    proposta eja 2012Produção inicial    proposta eja 2012
Produção inicial proposta eja 2012josivaldopassos
 
Pc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geo
Pc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geoPc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geo
Pc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geoJuscelino C Felipe
 
CONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSE
CONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSECONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSE
CONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSEConheça Luz
 
Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...
Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...
Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...Jandresson Soares de Araújo
 
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternarioGeomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternarioPaulo Orlando
 
Cbc 6º ao 9º ano geografia
Cbc 6º ao 9º ano geografiaCbc 6º ao 9º ano geografia
Cbc 6º ao 9º ano geografiagtallitag
 

Semelhante a Abordagem_da_escala_espacial_no_ensinoaprendizagem.pdf (20)

Sem título 1
Sem título 1Sem título 1
Sem título 1
 
Projeto Aguas Rio Bacalhau
Projeto Aguas Rio BacalhauProjeto Aguas Rio Bacalhau
Projeto Aguas Rio Bacalhau
 
Slide Conceitual 01.pdf
Slide Conceitual 01.pdfSlide Conceitual 01.pdf
Slide Conceitual 01.pdf
 
Metodologia do ensino de geografia nas séries iniciais
Metodologia do ensino de geografia nas séries iniciaisMetodologia do ensino de geografia nas séries iniciais
Metodologia do ensino de geografia nas séries iniciais
 
VII Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares: imaginação e inovação ...
VII Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares: imaginação e inovação ...VII Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares: imaginação e inovação ...
VII Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares: imaginação e inovação ...
 
Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)
Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)
Caderno do professor 2014_vol1_baixa_ch_geografia_ef_5s_6a (1)
 
Poster projeçoes
Poster projeçoesPoster projeçoes
Poster projeçoes
 
Didaticgeoaula3
Didaticgeoaula3Didaticgeoaula3
Didaticgeoaula3
 
Vol2 geografia
Vol2 geografiaVol2 geografia
Vol2 geografia
 
A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...
A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...
A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ENS...
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia física
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia física
 
Produção inicial proposta eja 2012
Produção inicial    proposta eja 2012Produção inicial    proposta eja 2012
Produção inicial proposta eja 2012
 
Pc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geo
Pc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geoPc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geo
Pc sc fundamentos-teoricos_metodologicos_ensino_geo
 
M1a
M1aM1a
M1a
 
CONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSE
CONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSECONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSE
CONTEÚDOS DO LIVRO DE GEOGRAFIA DA 9ª CLASSE
 
Geogafia relevo
Geogafia relevoGeogafia relevo
Geogafia relevo
 
Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...
Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...
Estudo sobre os conteúdos de Geografia Física no livro Didático - AO USAR COM...
 
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternarioGeomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
Geomorfologia Um Conceito de Geomorfologia quaternario
 
Cbc 6º ao 9º ano geografia
Cbc 6º ao 9º ano geografiaCbc 6º ao 9º ano geografia
Cbc 6º ao 9º ano geografia
 

Último

Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇJaineCarolaineLima
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecniCleidianeCarvalhoPer
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 

Último (20)

Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 

Abordagem_da_escala_espacial_no_ensinoaprendizagem.pdf

  • 1. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 58 Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo *Este artigo deve ser referido como segue: Bertolini W. Z., Carvalho V. L. M. 2010. Abordagem da escala espacial no ensino- aprendizagem do relevo. Terræ Didatica, 6(2):58- 66<http://www.ige.unicamp. br/terraedidatica/> ARTIGO Abordagem da escala espacial no ensino- aprendizagem do relevo William Zanete Bertolini Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, IGC/UFMG. geozaneti@ hotmail.com Vilma Lúcia Macagnan Carvalho Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, IGC/UFMG. vlmc@ufmg.br Abstract This paper presents some possibilities to teach relief at the level of Junior High Schools, from the perspective of typical landforms. The landforms can be presented in different scales. Taking the relief of Belo Horizonte as example, we start from a local landform analysis to a regional one, hitting a more abstract level to understand the concept of relief. The proposal explores geomorphological concepts involving visual language by the use of oblique photographs for local scale, elevation terrain models and maps for regional scale, for teaching and learning of geomorphology. Keywords Relief, teaching, spatial scale RESUMO O objetivo principal deste artigo é o de apresentar proposta de abordagem do relevo na escola básica sob a perspectiva de suas formas típicas e apresentadas em diferentes escalas. Tomando como referência o relevo de Belo Horizonte, inicia-se pela escala local das formas (ou seja, do concreto), para a escala regional, atingindo assim os níveis mais abstratos de compreensão do relevo. A proposta explora conceitos geomorfológicos e envolve a linguagem visual mediante o uso de fotografias oblíquas para a escala local e modelos digitais de terreno e mapas para representar a escala regional no processo de ensino e aprendizagem da geomorfologia. Palavras-chave Relevo, ensino, escala espacial
  • 2. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 59 W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho essencialmente didático-pedagógico e estão relacio- nadas ao domínio de modelos teórico-conceituais por parte de alunos e professores e a como esses modelos teóricos são ensinados e aprendidos. A construção de recursos didáticos que facilitem a compreensão das geociências é uma necessidade que tem sido apontada por diversos pesquisadores (Pedrinaci e Berjillos 1994, Carvalho 2004, San- chez Prieur e Devallois 2004, Gonçalves e Sicca 2005, Orion e Trend 2009). A necessidade de uma didática voltada às especificidades do conteúdo é uma tarefa imposta, em certa medida, pelo caráter abstrato implícito ao conteúdo geomorfológico e vinculado, entre outros fatores, às relações especí- ficas desse campo de conhecimento com o tempo e o espaço. Torna-se, portanto, um desafio à prática de ensino, a construção de meios que permitam aos professores ultrapassarem as superficialidades do conteúdo, sejam estas baseadas em conceitu- ação sem contextualização ou memorização sem compreensão. Nesse sentido, o objetivo principal deste traba- lho é mostrar como o professor do ensino básico pode utilizar a escala espacial na representação e compreensão das formas do relevo. A proposta de abordagem aqui apresentada tem seu foco voltado à compreensão e interpretação do relevo de Belo Horizonte(Figs. 1 e 2) considerando as dimensões local, meso e macro regional. Trata-se de uma pro- posta de abordagem metodologicamente baseada nas relações entre a linguagem gráfica e conceitu- al aplicadas à compreensão da multiescalaridade espacial do relevo. A abordagem escalar no ensino do relevo O relevo constitui fenômeno natural de expres- são geográfica cujo entendimento requer adequada compreensão da noção escalar e de suas implicações em termos da concepção de formas e processos envolvidos em sua estruturação. Nesse sentido, tempo e espaço constituem duas grandes esferas conceituais que permeiam a análise geomorfológica sob a perspectiva escalar. As escalas espacial e tem- poral são recursos metodológicos indispensáveis aos estudos geomorfológicos e das geociências, de maneira geral. Segundo Souza (2009) a compreen- são da noção escalar e de seu trânsito nos estudos do relevo passam pela compreensão de que existem formas dentro de formas. Ensino-aprendizagemdorelevonaescolabásica O ensino do relevo na escola básica encontra-se vinculado ao objetivo geral de conhecer o funcio- namento da natureza em suas múltiplas relações, conforme colocado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998). A despeito da amplitude desse objetivo, o sistema geomorfológico possibilita uma visão integrada da natureza, viabilizando o ensino dos conteúdos do Sistema Terra. Este se configura na interface entre as esferas do planeta: geosfera, hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera, o que torna o relevo um conteúdo de convergência das chamadas ciências ambientais. Ensinar o relevo, na perspectiva de um ensi- no de ciências comprometido com a formação de cidadãos, significa fornecer meios para a compre- ensão dos processos, agentes, formas e materiais geomorfológicos que influenciam em maior ou menor medida as atividades humanas e a organi- zação socioambiental do espaço. No contexto da geografia escolar, o relevo apa- rece como um dos conteúdos que permite melhor compreensão dos ritmos e dinâmicas espaço- temporais do Sistema Terra. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil 1998; 2006) não é difícil compreender como o rele- vo perpassa as diretrizes da geografia. O conteúdo do relevo vai ao encontro dos seguintes objetivos defendidos pelos PCNs, tanto nas séries finais do ensino fundamental quanto no ensino médio: • Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações (Brasil 1998). • Orientá-los [os alunos] a compreender a impor- tância das diferentes linguagens na leitura da paisagem, desde as imagens, música e literatura de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo que interprete, analise e relacione informações sobre o espaço (Brasil 1998). • Saber utilizar a linguagem gráfica para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos (Brasil 1998). Contudo, o ensino do relevo na prática escolar, bem como o das Geociências de maneira geral, esbarra em dificuldades de muitas naturezas. A despeito das falhas que perpassam o sistema edu- cacional como um todo, algumas das dificuldades inerentes ao ensino de Geociências são de caráter
  • 3. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 60 Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo Figura 2a – Processo erosivo instalado em uma encosta. Trata-se de uma voçoroca parcialmente estabilizada. Possivelmente esta feição erosiva é anterior à rua que seccionou a encosta e deve ter barrado a velocidade do processo Figura 2b – Detalhe do tamanho da forma erosiva em relação a uma pessoa de estatura média (destacada na foto) Compreender o relevo implica ter consciência da abrangência dessas formas, bem como dos pro- cessos e de outros fatores ambientais responsáveis pela sua origem. Esta compreensão não é simples, visto que agentes, processos, materiais e formas compõem as mais diversas combinações que regu- lam a dinâmica geomorfológica. De acordo com sua natureza, os fatores produtores do relevo se conjugam segundo diferentes ordens de grandeza espacial e temporal e quando nos reportamos a determinada escala espacial e temporal nos repor- tamos a agentes, processos, materiais e formas específicos. Trata-se de um reducionismo, em certa medida, inevitável ao fazer científico: o de simpli- ficar para compreender as partes que compõem o todo e a partir daí poder compreendê-lo em suas propriedades e dinâmica. A noção de escala espacial aplicada ao ensino do relevo No tocante à noção de escala espacial emprega- da no ensino de geomorfologia é necessário dizer que não se trata simplesmente da noção de escala cartográfica, ou seja, aquela referente à relação entre distâncias. Para além desta perspectiva matemática- proporcional de uma redução para a representação, existe também um sentido geográfico da noção de escala, que se refere à abrangência de um fenô- meno. Nesse sentido, a noção de escala geográfica reporta-se aos “contornos para expressar a repre- sentação dos diferentes modos de percepção e de concepção do real (Castro 2006, p.118)”. Reside na distinção entre essas duas concepções de escala (geográfica e cartográfica) um importante elemento sobre o qual os professores devem ter Figura 1 – Os topos de morros podem ter muitas formas ou geometrias. Formas curvas salientes (convexas), formas curvas ocadas (côncavas), planas ou retilíneas, etc. Nesta foto, vemos um topo de morro em forma oca chamado também de anfiteatro. Esse topo de morro pode também ser chamado de cabeceira de drenagem, uma vez que tem a função de conduzir o escoamento das chuvas em direção a sua base e daí para o fundo do vale onde se encontra o canal de drenagem que será alimentado pelas águas vindas das partes mais altas. Observa-se que o conjunto de prédios construído na base da cabeceira tende a dificultar o livre escoamento da água da chuva gerando assim o risco de inundações nessa área
  • 4. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 61 W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho vistos no dia-a-dia. Embora na realidade vejamos o relevo como um continuum de formas, na lógica do pensamento científico elas são isoladas e catego- rizadas, como um recurso facilitador da construção do conhecimento. Assim, sob o artifício da escala, as formas não obedecem a essa lógica de conjunto em virtude da visibilidade que lhes é conferida através do recorte escalar. A linguagem visual no ensino de geomorfologia A comunicação visual tem importância funda- mental no processo de ensino aprendizagem. No caso do ensino de geociências, a linguagem visual tem papel importante na representação de modelos do Sistema Terra e na percepção de como funcio- nam esses modelos (Gonçalves 2001). Todavia, o trabalho com esse tipo de recurso nem sempre é feito de forma adequada junto aos alunos porque falta uma compreensão adequada do que esses recursos podem demonstrar e de como eles podem ser explorados (Silva et al. 2006). Torna-se neces- sário, portanto, saber integrar a linguagem concei- tual à linguagem gráfica a fim de proporcionar aos estudantes a ampliação dos modos de compreensão dos sistemas naturais. Assim, é preciso focalizar não somente os conceitos através das imagens mas também como estas nos permitem perceber esses conceitos. Para compreender melhor esta questão é fun- damental que se tenha consciência de que a inter- pretação e aprendizagem através de recursos visuais sofrem influências da percepção dos alunos. Além disso, deve-se saber que as formas de representa- ção visual tem efeitos diferenciados sobre a per- cepção (Graves 1985). Tais constatações revelam a importância de se conhecer a natureza do material visual com que se trabalha, a fim de se alcançar os melhores e possíveis resultados. De modo geral, as imagens tendem a ser pouco exploradas em sala de aula. Segundo Silva et al. (2006) talvez haja por detrás disso a concepção por parte dos professores de que as imagens falam por si próprias ou trans- mitam um único sentido. É frequente, no ensino de geografia interme- diado por recursos visuais, o professor não orientar o aluno sobre o que se pode enxergar a partir de determinada imagem. E, como observa Graves (1985), há uma tendência perceptiva-conceitual característica nas crianças pela qual eles tendem a se concentrar em aspectos limitados da informação clareza ao tratar o relevo sob a perspectiva escalar. Le Sann (1989, p.6) afirma que uma grande proporção de estudantes encontra na aprendi- zagem da noção de escala um obstáculo quase intransponível. Em parte isto acontece porque os professores transitam, na linguagem corrente, entre as perspectivas da escala cartográfica e geográfica sem deixar muito claro aos alunos, por exemplo, quando estão se referindo à grandeza escalar em sentido cartográfico ou no sentido de abrangência da área de um fenômeno. Tal situação se torna ainda mais confusa quando os mapas se fazem presentes como representação do relevo. Existe aí uma con- fusão entre os raciocínios espacial e matemático conforme atenta Castro (2006). Essa autora afirma que, ao referir-se ao local como grande escala e ao mundo como pequena escala o professor utiliza a fração como base descritiva e analítica, quando ela é apenas instrumental (Castro 2006). A primeira coisa que se deve ter em mente quando se pensa nas escalas de representação de um fenômeno é que escalas diferentes mostram coisas diferentes (Lacoste 1997). Este é um aspec- to importante ao qual deve ser chamada a atenção dos estudantes. De acordo com a grandeza escalar adotada na construção do mapa, que acontece em função daquilo que se quer representar no papel, alguns elementos presentes na realidade não apare- cem no papel. Isto parece óbvio mas nem sempre é de fácil entendimento por parte dos alunos. Exige- se deles, nesse ponto, certo nível de abstração para entender que a impossibilidade de cartografar todos os detalhes da realidade acarreta a escolha de uma determinada gama de fenômenos a ser mostrada de acordo com os objetivos do mapa e as possibilida- des de representação. Essa dificuldade, que pode se tornar um obstáculo para a compreensão das noções cartográficas posteriores, pode ser facilmente sana- da através da forma como se apresenta o conceito ao aluno. Na verdade, não se trata simplesmente de uma representação do real no papel mas, essen- cialmente, de uma simplificação e de uma escolha do que se quer mostrar, conforme determinados objetivos. Nesse sentido, vale ressaltar que o con- ceito é uma forma de entender a realidade. Ele não é a realidade em si. Quando se trata da abordagem escalar espacial no ensino do relevo, é preciso mostrar aos alunos como as formas mudam com a mudança da escala de representação. Isto implica a visualização das formas sob arranjos espaciais diferentes daqueles
  • 5. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 62 Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo à realidade, já que oferecem a percepção de pro- fundidade, ângulo e perspectiva. Segundo Vieira (2001) a representação tridimensional do terreno, característica dos chamados modelos digitais do terreno (MDT’s) facilita a visualização e o enten- dimento da transposição da forma tridimensional ‘da realidade’ para a forma bidimensional do papel (Figs. 4, 5 e 6). Segundo esta mesma autora (2001, p.26) “o modelo digital de terreno é uma técnica potencialmente aplicável ao ensino na medida em que permite ao aluno visualizar o relevo, o que não ocorre com a representação em curvas de nível. A interpretação sob a forma de curva de nível requer determinado grau de abstração e percepção que os alunos do nível primário não detem”. A seguir é apresentada a proposta de trabalho propriamente dita, envolvendo a relação entre a lin- guagem visual e a linguagem conceitual por meio de fotografias, modelos digitais de terreno (MDTs) e mapas. A proposta tem como foco o relevo de Belo Horizonte no contexto do Quadrilátero Ferrífero e seu entorno. Segue-se um quadro com objetivos, orientações de trabalho e habilidades envolvidas com as figuras apresentadas. O processo de ensino-aprendizagem de qual- quer conteúdo vai além do seu domínio didático- pedagógico. A apropriação do conhecimento contida em um mapa. Por isso, tornam-se impor- tantes as instruções claras do professor no sentido de orientar o que pode ser visto e depreendido dos recursos de imagem utilizados. Caso contrá- rio, professor e aluno observarão coisas diferentes (Graves 1985). As fotografias oblíquas são recursos muito inte- ressantes no ensino do relevo porque mostram, no papel, as formas da superfície do modo como são vistas cotidianamente, por qualquer pessoa (Fig. 3). Em princípio, isso parece pouco relevante mas demonstra que as fotografias oblíquas guardam for- te correlação com o aspecto visível da realidade, que é prontamente reconhecido por qualquer um. Reynolds e Peacock (1998) afirmam que as observações através de fotografias ensinam aos alunos a observar melhor e refletir sobre o meio ambiente no qual eles se inserem, a estabelecer as diferenças entre observação e interpretação e também ajudam a desenvolver habilidades de visu- alização espacial. No que se refere à ilustração do relevo, as fotografias, tomadas de pontos de visada elevados e estratégicos, permitem a visualização da extensão e da situação relacional entre comparti- mentos geomorfológicos diferentes. Por sua vez, os modelos em três dimensões do terreno permitem a visualização mais próxima Figura 3 – O relevo da maior parte do município de Belo Horizonte é caracterizado por colinas amplas e alongadas que fazem parte da Depressão do São Francisco, localmente denominada de Depressão de Belo Horizonte (1º plano da foto). Como se trata de uma área intensamente urbanizada, o relevo original já foi bastante alterado por meio de escavações, aterros, construção de ruas e casas. O relevo de maior altitude encontra-se na região sul do município e é representado pela Serra do Curral (vista ao fundo, no 2º plano da foto)
  • 6. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 63 W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho Figura 5 – Representação plana/altimétrica (esquerda) e em 3D (direita) do relevo do Quadrilátero Ferrífero e seu entorno. As maiores altitudes dessa região correspondem às serras que marcam os seus limites e lhe dão o formato grosseiramente quadrado. O interior do Quadrilátero Ferrífero é composto por um relevo colinoso, altimetricamente mais baixo em relação às serras que o circundam acontece mediante relações inter-pessoais entre professor e alunos e entre os conhecimentos pré- vios trazidos por eles. Não existem receitas ideais para se alcançar um conhecimento. As pessoas aprendem de formas diferentes e gradualmente. Diferentes fatores internos e externos interagem nesse processo conduzindo à substituição de ideias antigas por novas compreensões dessas mesmas ideias, à aparição de insights que nos fazem perceber coisas que antes não havíamos percebido, etc. A proposta de abordagem aqui discutida (Tab. 1) não garante a compreensão efetiva do conte- údo se não forem levados em consideração os conhecimentos prévios dos alunos. Considerá-los é importante no sentido de que são essas ideias, que os alunos trazem consigo, que irão guiar o seu raciocínio em torno do que é ensinado. É com base nas ideias já aprendidas que os alunos estabelecem Figura 4 – Representação altimétrica (direita) e em 3D (esquerda) do relevo de Belo Horizonte. A Depressão de Belo Horizonte está contida dentro de uma área deprimida maior que é a Depressão do Rio São Francisco. O trabalho erosivo do Rio das Velhas (afluente do São Francisco) e seus tributários foi responsável pela origem dessa depressão, onde se encontra a maior parte do sítio urbano de Belo Horizonte. Na porção sul do município encontra-se a Serra do Curral que marca o limite entre a depressão e o macrocompartimento do Quadrilátero Ferrífero. É possível perceber ainda que o relevo mais elevado encontra-se na porção centro-sul do município. E quanto mais ao norte mais plano tende a ser o relevo. Fonte: Miranda, E. E. de; (coord). Brasil em relevo. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005. Shuttle Radar Topography Mission - SRTM. Base do limite municipal: Geominas (2008). Elaboração: William Zanete Bertolini, 2009.
  • 7. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 64 Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo Figura 6 – Mapa dos macrocompartimentos geomorfológicos de Minas Gerais e localização de Belo Horizonte nesse contexto. A porção sul do município encontra-se junto à borda norte do Quadrilátero Ferrífero, enquanto a maior parte do relevo do município é parte integrante da Depressão do São Francisco relações com os novos conhecimentos e conceitos que lhes são apresentados. Conforme aponta Le Sann (1989), é importante que o professor tenha consciência da qualidade das representações men- tais dos seus alunos a fim de poder ajudá-los no processo de aprendizagem e sobretudo, reconhecer o caráter positivo do erro em seu curso. Embora não existam garantias para a apropria- ção de um conhecimento ideal, existem cuidados didáticos a serem tomados com relação aos conte- údos, em função de sua natureza epistemológica e conceitual. Assim como nas dificuldades inerentes à carto- grafia, a geomorfologia também esbarra nos limi- tes entre a percepção do mundo cotidiano e sua representação, que é um dos principais meios pelos quais se ensina o relevo. A ideia que se faz de algo não é exatamente correspondente à representação dessa ideia na forma de bloco-diagrama, mapa ou qualquer outro recurso de imagem. Isso acontece porque além do conhecimento representado exis- tem outros conhecimentos que devem ser decodifi- cados antes, para o entendimento do que realmente interessa. Ou seja, é preciso compreender as for- mas de representação para compreender o que se encontra representado. Por isso, e de acordo com as peculiaridades envolvidas no ensino/aprendizagem do relevo, alguns pontos precisam ser explicitados pelo professor na condução do processo através das representações imagéticas: • Apontar a relação entre as formas do relevo e suas diferentes possibilidades de representação. • Apontar as relações de profundidade e espaciali- dade das formas nas fotografias. • Levar em consideração que o ângulo, a altura do ponto de tomada das fotos e a iluminação natural são fatores que influenciam na forma como o relevo aparece nas fotografias. • Chamar a atenção para a tridimensionalidade do relevo, especialmente quando aplicar o conhe- cimento geomorfológico ao planejamento ambiental. • Prestar atenção ao tamanho de elementos-padrão presentes em fotos, tais como casas, pessoas, animais, e compará-los com as dimensões da área representada. Esse exercício ajuda a con- solidar a noção de escala espacial. • O relevo que se vê, que se pode perceber ao nosso entorno, é apenas uma parte muito pequena de um sistema bem maior em termos de formas, processos e fluxos de energia. Outro aspecto que não pode ser dissociado do ensino do relevo diz respeito à questão temporal e espacial. Portanto, quando se ensina o relevo ensinam-se também as categorias de tempo e espaço na perspectiva ambiental. O relevo é o conteúdo do currículo escolar que, mais de perto, permite lidar com as noções e conceitos relativos à história geológica do planeta e de regiões específicas. Trata-
  • 8. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 65 W. Z. Bertolini, V. L. M. Carvalho Tabela 1 – Quadro descritivo das ilustrações que acompanham a proposta para estudo do relevo de Belo Horizonte, objetivos, observações e habilidades OBJETIVOS POSSIBILIDADES DE TRABALHO OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS Figura 1 - Entender o con- ceito de topo de morro e suas funções ambientais. - Entender como a ocupação urbana pode alterar o com- portamento do escoamento pluvial. - Interpretação de foto- grafia. - Listar os elementos visí- veis na foto. - Indicar a linha de cumea- da, a encosta e a direção de drenagem. - O topo de morro, neste caso, é entendido como a linha de cumeada ou divisor de águas + a parte superior da encosta, aquela onde a decli- vidade é mais acentuada. - Identificar as tipologias de for- mas e conhecer as suas nomencla- turas (Souza 2009). - Comparar formas e diferenciar nomenclaturas (Souza 2009). - Analisar a relação forma – escala espacial (Souza 2009). - Reconhecer os diferentes tipos de formas em ilustrações e modelos tridimensionais (Souza 2009). - Visualizar as formas de relevo, a partir das representações e do real (Souza 2009). - Compreender e interpretar os fenômenos considerando as dimensões local e regional (Bra- sil 2006). - Analisar os espaços consideran- do a influência dos eventos da natureza e da sociedade (Brasil 2006). Figura 2 - Trabalhar a noção de escala a partir de elemen- tos presentes na foto. - Mostrar que existem for- mas diferentes de topos de morro. - Comparação dos ele- mentos da paisagem com as formas do relevo. - Comparar o topo de morro mostrado nesta foto com aquele mostrado na foto 1. - Chamar a atenção para o tamanho das casas em rela- ção à encosta; da antena em relação à encosta; do homem em relação à cicatriz erosiva instalada na encosta. - Na primeira foto o topo de morro é côncavo; na foto nº 2 é convexo. Figura 3 - Caracterizar o relevo de Belo Horizonte. - Interpretação de foto- grafia. - Esclarecer aos alunos que as formas mostradas nas primeiras fotos estão contidas na terceira e que não são vistas como foram vistas nas fotos 1 e 2 por uma questão de escala. - Nem tudo pode ser visto na fotografia e alguns ele- mentos da paisagem, como a ocupação urbana do solo, interferem na visualização das formas do relevo. Figura 4 a 6 - Localizar Belo Horizonte no contexto da Depressão Sanfranciscana e do Quadrilátero Ferrífero. - Diferenciar altimetrica- mente compartimentos de relevo diferentes. - Correlacionar as diferentes escalas de representação à predominância de processos endógenos ou exógenos. - Destacar os comparti- mentos do relevo através da visualização de cores no padrão altimétrico. - Esclarecer que as mes- mas formas de relevo são comuns tanto em compar- timentos planálticos quan- to nos deprimidos. - Tanto o relevo do planalto do Quadrilátero Ferrífero quanto o da Depressão de Belo Horizonte são coli- nosos. - Quanto menor a escala espacial cartográfica de um fenômeno geomorfológi- co, maior a influência dos processos exógenos porque se trata da estruturação de grandes regiões de relevo que sofreram a influência de fatores endógenos de grande magnitude.
  • 9. TERRÆ DIDATICA 6(2):58-66, 2010 66 Abordagem da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo se de conteúdo que permite abordagem integrada de saberes, na perspectiva temporal e espacial das ciências ambientais. Considerações Finais No que concerne às escalas de tempo e espaço aplicadas ao ensino do relevo na escola básica, é preciso ir além do perceptível, do visível ao entor- no. Não é possível esgotar a abordagem do relevo nessa escala temporal/espacial. É interessante que o professor parta dos níveis mais concretos das formas, como pressupõe a ordenação das figuras apresentadas nesta proposta de trabalho; que parta também de algo familiar aos estudantes como, por exemplo, o entorno da escola. Contudo, é preciso ampliar as escalas de compreensão. É preciso che- gar ao que a vista não alcança, ampliando-se assim a complexidade inerente aos fenômenos e formas geomorfológicas existentes e a capacidade de racio- cínio abstrato. Para tanto, é preciso ter domínio dos conceitos geomorfológicos e geográficos – ferra- mentas fundamentais à construção do raciocínio científico em Geomorfologia. Referências Bibliográficas Brasil. Ministério da Educação. 1998. Secretaria da Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacio- nais.: Ensino Fundamental. Brasília: MEC. Brasil. Ministério da Educação. 2006. Secretaria da Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacio- nais: Ensino Médio. v.3. Brasília: MEC. Carvalho A.L.P. 2004. Necessidades na produ- ção acadêmica em Geomorfologia Escolar. In: Simpósio Nacional de Geomorfologia, 4, São Luís, MA, 2004. Anais IV Simpósio Nacional de Geomorfologia., São Luís, Universidade Federal do Maranhão, v.2. Castro I.E.de. 2006. O problema da escala. In: Castro I.E.de, Gomes P.C.C., Corrêa R.L. or- gs. Geografia: conceitos e temas. 8ª ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. p.117-140. Gonçalves P .W. 2001. Saberes pedagógicos: ativida- de docente em Geografia. In: Reunião Anual da ANPED, 24 Caxambu, 2001. Anais... Caxambu, ANPED. p. 1-16. (CD-ROM). Gonçalves P.W., Sicca N.A.L. 2005. O que os professores pensam sobre geociências e edu- cação ambiental? (Levantamento explorató- rio de concepções de professores de Ribeirão Preto (SP). São Paulo, Geologia USP, 3(Publ. Esp.):97-106. Graves N.J. 1985. La enseñanza de la geografia. Ma- drid: Visor Libros. Lacoste Y. 1997. A geografia: isso serve, em primei- ro lugar, para fazer a guerra. 4 ed.São Paulo, Ed. Papirus. Le Sann J.G. 1989. Elaboration d’un materiel pe- dagogique pour l’apprentissage de notions ge- ographiques de base, dans les classes primaires, au Bresil: une proposition à partir des apports théoriques de la géographie, de la pédagogie, de la psychologie et de la graphique. École des Hautes Etudes en Sciences Sociales. (Thèse de Doctorat – vol. 1). Orion N., Trend R. 2009. Thinking and learning in the Geosciences (editorial). Journal of Geoscience Education, 57(4): 222-223. Pedrinaci E., Berjillos P . 1994. El concepto de tiem- po geológico: orientaciones para su tratamiento en la educación secundaria. Rev. Enseñanza de las Ciencias de la Tierra. 2(1): 240-251. Reynolds S.J., Peacock S.M. 1998. Slide observa- tions – promoting active learning, landscape appreciation, and critical thinking in intro- ductory geology courses. Journal of Geoscience Education, 46: 421-426. Sanchez E., Prieur M., Devallois D. 2004. L’enseignement des sciences de la Terre en clas- se de seconde: pratiques de classes, difficultés, perspectives pour la formation. Institut Natio- nal de Recherche Pédagogique – Rapport de Recherche. France 48 p. URL: <http://www. inrp.fr/Acces/biotic/enqueteST/Textes/Rap- port_de_recherche_enquete_enseignement_ geologie0504.pdf> Acesso: 01.06.2009. Silva H.C.da., Zimmermann E., Carneiro M.H.da.S., Gastal M.L., Cassiano W.S. 2006. Cautela ao usar imagens em aulas de ciências. Rev. Ciência e Educação. 12(2): 219-233. Souza C. J.de.O. 2009. Geomorfologia no ensino superior: interessante, mas difícil! Por quê? Uma discussão a partir dos conhecimentos e das dificuldades entre alunos de geografia. Uni- versidade Federal de Minas Gerais – Instituto de Geociências, Belo Horizonte. 228 f. (Tese de Doutorado). Vieira E.F.C. 2001. Produção de material didático uti- lizando ferramentas de Geoprocessamento. Belo Horizonte: Univ. Fed. Minas Gerais, Depto. Cartografia. (Monogr. Espec.).