2. O livro
• Lançamento: 1971
• Crônicas no Jornal do Brasil, para onde Clarice escrevia
semanalmente de 1967 a 1972.
• Uma reunião de textos, escritos em épocas diversas.
• Textos apresentam algo de autobiográfico (há recordações da
infância da autora em Recife, alguma personagem que marcou seu
passado, etc.)
• Através da recordação de fatos do seu passado, há uma busca de se
fazer uma investigação psicológica de autoanálise.
• Por que não são apenas contos?
4. Características da obra
• Narrativa em fluxo de consciência, que é uma
tentativa de representação dos processos
mentais das personagens. Texto sem uma
estrutura sequencial, uma vez que o pensamento
não se expressa de uma forma ordenada.
5. Características da obra
• Dentro do processo de associação de ideias e pensamentos
desconexos, em um dado momento a personagem passa por
um momento de epifania, que é uma súbita revelação ou
compreensão de algo.
• Ao passar por esse momento de epifania, a personagem
descobre a essência de algo que muda sua visão de mundo ou
sua própria vida, ou seja, a personagem será elevada a outro
nível de consciência, passando a ver o mundo a sua volta de
outra maneira.
• Através desses momentos de epifania, personagens que
poderiam ser considerados sem relevância alguma aos olhos
da sociedade ganham profundidade psicológica e existencial.
6. Importante
• Através de um mergulho no universo interior
das personagens, Clarice trazia à tona temas
existencialistas e as contradições,
dúvidas, inquietudes do ser humano.
(Dostoievsky, Machado de Assis e Graciliano
Ramos) = Geração de 45
7. Importante
• Quanto à questão existencialista, este sempre
conduz o sujeito (as personagens) para um
inevitável isolamento. Assim, em toda a obra
de Clarice Lispector teremos personagens
desconfiadas, inadaptadas ao meio em que
vivem, com temores e inquietações.
8. Importante
• Como a preocupação de Clarice é com a personagem
em si e sua viagem ao interior do ser humano, o
cenário físico ao redor é muitas vezes deixado de
lado.
• Linguagem subjetivada, abusando de adjetivos,
metáforas e comparações. Do ponto de vista formal,
Clarice utiliza um chamado estilo circular, que
consiste na repetição sistemática de palavras,
expressões ou frases, para conseguir um efeito
enfático.
9. Felicidade clandestina
• O ponto central desse texto é o conceito de
“felicidade”. Nele, a escritora parece se
questionar “afinal, o que é felicidade?”.
• Por que felicidade “clandestina”? Porque a
felicidade aparece como um sentimento
“clandestino”, já que nem ela mesma pode se
conscientizar de sua própria felicidade para que
esse sentimento não acabe.
10. Amizade sincera
• Os paradoxos das relações humanas e o
individualismo das pessoas.
• A relação entre as pessoas parece estar
fundamentada em uma “relação de troca”.
• Não ter o que trocar gera melancolia e desilusão.
• Amizade sincera = reconhecimento do fim.
11. O ovo ou a galinha
• Entre ver o ovo e fritá-lo na frigideira o conto
inteiro se desenrola. Não é, portanto, o enredo
do conto que interessa, mas as meditações que
acontecem em meio a ele.
• Frases de sintaxe simples, curtas, o discurso
pouco encadeado apresenta traços de uma fala
infantil.
12. O ovo ou a galinha
• Do ponto de vista do significante, o ovo é um
palíndromo, a simetria da palavra evoca a perfeição.
• O ovo como objeto parece ter certos atributos que se
harmonizam com a “procura pela coisa” de Clarice.
Ovos são frágeis e instáveis. Manuseá-los pede uma
delicadeza que evite que eles se quebrem ou
escapem.
• Seria o ovo a forma de se unir uma investigação
“metafísica” com a condição dos que sofrem?
13. O ovo ou a galinha
• Pensamentos aparecem de forma aleatória e em fluxo de
consciência - uma ideia, sentimento, sensação desencadeia
outro e assim sucessivamente. Dessa forma, ele vai
desconstruindo o objeto que está sendo visto e o ovo passa,
então, a ser uma representação de qualquer coisa, física ou
abstrata (liberdade, amor, vida, etc.).
• Na “desconstrução”, o ovo deixa de ser simplesmente um ovo
e torna-se a chave para a compreensão do amor, da vida e da
própria existência humana.
• A repetição extenuante parece indicar um significado
inesgotável, que não encontra termo nunca. O recurso à
repetição parece sugerir que a realidade buscada é infindável.
14. Esperança
• O conto revela uma simples situação do cotidiano encorpada de
sensações e pensamentos.
• Na aparição de uma esperança, emerge um mar de diferentes visões.
Da criança, sempre curiosa, querendo preservar e entender o
pequeno inseto. Da mãe, surge uma indagação sobre as diferentes
esperanças e suas surpreendentes semelhanças.
• Como a esperança inseto, a outra esperança pousa e por ali fica. A
autora cita a todo tempo como essa esperança é secreta e silenciosa,
muitas vezes ilusória.
• Uma nova perspectiva de coisas aparentemente insignificantes da
vida.
15. Restos de carnaval
• O último carnaval traz à memória da autora os carnavais de sua
infância. Na primeira parte do texto, ela nos fala daqueles carnavais
em geral. Na segunda parte, de "um carnaval diferente dos outros"
porque, pela primeira vez, ela poderia se fantasiar e participar da
festa.
• A afirmação "eu fora desencantada” resume o sentimento diante do
modo como tudo acabou acontecendo naquele carnaval diferente. O
incidente quebrou o encanto de ter ganhado a fantasia = Sair “meio”
fantasiada pela rua afora, significou para ela, criança, uma afronta
do destino e das circunstâncias em que se encontrava, com a mãe
acamada e severamente doente.”
• “Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a
ela é porque tanto precisava me salvar.”
16. Os obedientes
• Contraponto com “amizade sincera” = a perda, a
despedida é resultado de desafeto.
• A voz narrativa tem papel preponderante para
interpretar os “acontecimentos” sob uma ótica de ironia,
que desmascara muitos valores da sociedade patriarcal.
• Trata-se de um relato singular, que recria a rotina
desmotivadora de um casal, que vai vivendo por viver,
sem ter consciência nem de sua realidade medíocre, nem
da realidade que os cerca. São pessoas anônimas, iguais
a outras pessoas, que se submetiam ao irremediável da
vida.