2. 392. Por que perde o Espírito
encarnado a lembrança do seu
passado?
•“Não pode o homem, nem
deve, saber tudo. Deus assim
o quer em sua sabedoria. Sem
o véu que lhe oculta certas
coisas, ficaria ofuscado, como
quem, sem transição, saísse
do escuro para o claro.
Esquecido de seu passado, ele
é mais ele mesmo.”
3. 393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não lembra? Como
pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu? Concebe-se que as tribulações da
existência lhe servissem de lição, se se recordasse do que as tenha podido ocasionar. Desde que,
porém, disso não se recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então
está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a justiça de Deus?
• Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança
exata do que fomos, nem do bem ou do mal que fizemos,
em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição,
sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do
passado. E a nossa consciência, que é o desejo que
experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, nos
concita a resistir àqueles pendores.
4. Questão 394
• No esquecimento das existências anteriormente transcorridas, sobretudo quando foram
amarguradas, não há qualquer coisa de providencial e que revela a sabedoria divina?
• Nos mundos inferiores, a lembrança de todas as que se tenham sofrido não agravaria as
infelicidades presentes? Concluamos, pois, daí que tudo o que Deus fez é perfeito e que não
nos toca criticar lhe as obras, nem lhe ensinar como deveria ter regulado o universo.
• Gravíssimos inconvenientes teria de nos lembrarmos das nossas individualidades anteriores.
Em certos casos, humilhar-nos-ia sobremaneira. Em outros nos exaltaria o orgulho, peando-
nos, em consequência, o livre-arbítrio. Para nos melhorarmos, dá-nos Deus exatamente o
que nos é necessário e basta: a voz da consciência e os pendores instintivos. Priva-nos do
que nos prejudicaria. Acrescentemos que, se nos recordássemos dos nossos precedentes
atos pessoais, igualmente nos recordaríamos dos relativos aos outros homens, do que
resultariam talvez os mais desastrosos efeitos para as relações sociais. Nem sempre podendo
honrar-nos do nosso passado, melhor é que sobre ele um véu seja lançado.
5. 395. Podemos ter algumas revelações a
respeito de nossas vidas anteriores?
•“Nem sempre. Contudo, muitos sabem o que foram e o
que faziam.
•Se se lhes permitisse dizê-lo abertamente,
extraordinárias revelações fariam sobre o passado.”
A resposta deixa claro: mesmo que exista o pesado véu do esquecimento
em todos nós, e que recordar o passado traria problemas para a vida
atual, há claramente exceções e, sim, existem pessoas que se recordam
de suas reencarnações.
6. 399. Sendo as vicissitudes da vida corporal expiação das faltas do passado e, ao
mesmo tempo, provas com vistas ao futuro, seguir-se-á que da natureza de tais
vicissitudes se possa inferir de que gênero foi a existência anterior?
“Muito amiúde é isso possível, pois que cada um é punido naquilo por onde pecou.
Entretanto, não há que tirar daí uma regra absoluta. As tendências instintivas
constituem indício mais seguro, visto que as provas por que passa o Espírito são
determinadas tanto pelo que respeita ao passado, quanto pelo que toca ao futuro.”
Mergulhando na vida corpórea, perde o Espírito, momentaneamente, a lembrança de
suas existências anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva algumas
vezes vaga consciência dessas vidas, que, em certas circunstâncias, lhe podem mesmo
ser reveladas. Esta revelação, porém, só os Espíritos superiores lhe a fazem,
espontaneamente, com um fim útil, nunca para satisfazer a vã curiosidade.
7. Lembranças?
•Já na questão 399 da mesma obra, Kardec nos mostra
que, mesmo que o Espírito perdesse momentaneamente
as lembranças de suas vidas anteriores, ele conserva
algumas vezes uma vaga consciência delas, e que em
certas circunstâncias estas podem ser reveladas, sempre
com um fim útil.
8. Lembranças?
• Yvonne Pereira, na obra Recordações da Mediunidade, nos diz que
sáo numerosas as personalidades que se recordam ou recordavam
de seu passado, que sáo indivíduos idóneos apresentando
lembranças de suas encarnações anteriores, muitas delas
verificadas por investigações criteriosas, que se revelam com tanta
lópica e firmeza nas narrativas, que impossível seria descrer-se
deles sem demonstrar desprezo pela honestidade do próximo.
9. Aquisições jamais se perdem
Emmanuel também nos diz que as aquisições do Espírito jamais se perdem
e que recordações podem emergir no exercício da mediunidade, nas
hipnoses profundas, ou em outras circunstâncias que facilitam o
desprendimento temporário dos elementos psíquicos.
Para Manoel Philomeno de Miranda, a recordação do passado, em especial dos erros
cometidos em outras vidas, de modo natural, tem como finalidade despertar a
consciência para o conveniente resgate, tendo esta lembrança um caráter educativo,
reparador, como um convite para nos ituminarmos, auxiliando aqueles que deixamos
tombados na retaguarda. Yvonne Pereira reforça tal afirmação, ao dizer que todas as
recordações do passado seriam motivo de instrução.
10. Fim útil?
• O que fica claro é que a recordação do passado só poderia ocorrer para um fim útil,
ou seja, auxiliar a nossa evolução, bem como nos ajudar a reconciliar com o nosso
passado. Essa reconciliação poderia ocorrer quando passamos a saber o que fizemos e
a quem fizemos, de tal modo que isso não nos perturbe mais, sempre com fim
educativo, para nos ajudar a não repetir os erros, ou mesmo auxiliar antigos
adversários identificados.
• A obra da nobre autora nos diz também que o fato de o encarnado recordar o seu
passado acaba por produzir choques morais, que variam conforme a situação moral
de cada um, pois “ao que parece, o fato de recordar existencias passadas constitui
provação para as criaturas comuns, ainda pouco evofvidas, ou concessão ao mérito,
nas de ordem mais elevada na escala moral” (PEREIRA, 2017, p. 21).
11. Choque morais
Quando pensamos nos choques morais, podemos perceber que aqueles
que se lembram dizem perfeitamente que não são mais aquelas pessoas,
que já evotuíram e que hoje não fazem mais aqueles atos vislumbrados.
No entanto, ao ver o que fomos capazes de fazer ou que ainda temos o
potencial para fazer, e que prejudicamos a tantas pessoas, seja de forma
individual ou coletiva, não é fácil para ninguém, ainda mais falando de
seres com evolução mediana como nós, que ainda têm muito o que
aprender, muito longe ainda de nobres Espíritos que conhecemos.
12. Orgulho
•Outras vezes o nosso orgulho
também é testado. Seres ainda no
início da jornada, uma vez que
Lembramos ter sido alguma
personalidade histórica,
certamente faz que nos sintamos
importantes. Bastaria um exame
rápido dos atos, que até mesmo a
História mostra, para concluir que o
fato de ter sido alguém importante,
e que em geral atos não tão nobres
fizeram, não é motivo de orgulho.
13. Orgulho
•A própria médium, ao relatar
inúmeras recordações de seu
passado, dizendo-nos que tais
revelações eram como lição
estimulante para prosseguir na luta
reabilitadora, uma vez que ela, que
tantos erros havia cometido,
passava a ter consciência de que
submeteria às consequências de
suas infrações. Porém, ao ler as
tantas obras da médium,
percebemos a dificuldade que ela
teve em lidar com o passado, como
o suicídio consumado.
14. Remédio amargo
•De fato, a recordação dos seus erros pode ser um remédio
amargo, pois O Evangelho segundo o Espiritismo vem dizer-
nos que aquele que muito sofre deve reconhecer que muito
tinha a expiar, e que é somente pela resignação que o seu
sofrimento pode tornar-se proveitoso.
•A partir disso podemos perceber o motivo da lembrança do
passado ser algo ainda raro para Espíritos inferiores como
nós, ainda habitando um mundo de provas e expiações, pois
a recordação de nossas encarnações pressupõe sabermos
lidar com tantos erros nossos, sempre com resignação, não
entrando em desespero, o que não é fácil.
15. O passado ficou no
passado
• Por fim, aquele que se lembra de suas
reencarnações, sejam recordações
pontuais e de grande quantidade e
profundidade, é preciso recordar o que
nos diz a Doutrina Espírita, que o que
fizemos no passado ficou no passado, e
não somos mais o velho ser de ontem,
mas já caminhamos bastante. Por mais
dolorido que seja, é sempre preferível
colher as consequências do ontem e
estar já a caminho de tentar reparar os
seus erros, do que ainda estar a realizar,
a plantar atos desagradáveis.
16. Referências
• O livro do Espíritos, Allan Kardec;
• Artigo “Por que Lembramos de nossas encarnações?”, de
Ailton Barcelos da Costa. In: Revista Internacional de
Espiritismo, fev/ 2023.
• Artigo “Recordando Vidas Passadas”, de Ailton Barcelos da
Costa. In: Revista Internacional de Espiritismo, jul/ 2019.