SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
ACERVO A. TITO FILHO:
                                     propostas para uma pesquisa na internet
                                                                                  Jordan Bruno Oliveira Ferreira 1


1 INTRODUÇÃO
         A pesquisa sobre a obra de A. Tito Filho 2 começou como projeto do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Piauí (PIBIC/UESPI) elaborado pela
professora Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim3 no segundo semestre de 2006 e prosseguiu ao
longo do ano de 2007. O programa possibilita ao professor ter como pesquisadores-bolsistas alunos
da graduação, daí minha participação. O projeto, então intitulado História e Literatura: pesquisa,
catalogação, digitalização e revisão da obra de Arimathéia Tito Filho, buscava contribuir para a
ampliação de questões pertinentes no cenário atual da historiografia piauiense como, por exemplo,
perceber como a imagem da cidade de Teresina foi moldada pelo discurso que partiu da Academia
Piauiense de Letras na figura do seu presidente Arimathéa Tito Filho formulando e alicerçando
bases que se estabeleceram como referências para a forma como nos relacionamos com a cidade de
Teresina e com algumas de nossas práticas. No projeto também foi estabelecido que não era do
nosso interesse fazer uma biografia do autor, mas utilizar sua produção textual como base para um
estudo que nos ajudasse a entender o presente e o passado da cidade.
         O objetivo principal do trabalho era demonstrar como Teresina, enquanto espaço de pesquisa,
foi criada e recriada continuamente devido à circulação e projeção de inúmeras imagens que tinham
como finalidade estabelecer um “real”. Esse “real” pode ser visualizado ou detectado através dos
devidos discursos e olhares que procuram justapor e contrapor dizeres, oferecendo cadeias de
significados para aqueles que participam e assimilam formas diferenciadas desses discursos.
Percebemos que a Teresina existente em nossa memória é uma projeção vivida, enquanto
construção ou como multiplicidade de percepções que irá depender da forma como assimilamos
cada fase ou cada momento de nossa existência.
         Essas percepções são continuamente registradas pelos mais diferentes sujeitos, responsáveis
pelo processo de apropriação de imagens sobre nossa construção identitária, como os romancistas,
cronistas, poetas, arquitetos, urbanistas, chargistas, historiadores e outros que formulam imagens,

1
  Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Aluno do Programa de
Pós-Graduação Mestrado em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí (UFPI) onde desenvolvo pesquisa
intitulada “A. Tito Filho: o cronista e o historiador”, orientado pela Profª Drª Teresinha Queiroz (UFPI).
2
 José de Arimathéia Tito Filho (Barras, 1924 – Teresina, 1992) foi presidente da Academia Piauiense de Letras (APL)
de 1971 a 1992. Além de jornalista, foi também professor e diretor do Liceu Piauiense, escritor e editor. Foi Secretário
de Educação e Cultura do Estado do Piauí na década de 1970 na administração de João Clímaco d’Almeida.
3
    Professora Dr.ª do curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).
lembranças, vivências, sentimentos, códigos de postura, formas de ver e viver, além de outras
sensibilidades que fazem parte da forma como experimentamos a cidade.
     Assim, a produção jornalística de A. Tito Filho, principalmente suas crônicas e suas obras
bibliográficas ganharam atenção especial por permitirem visualizarmos uma multiplicidade de fatos
que marcaram a cidade de Teresina, ao longo de boa parte do século XX. As crônicas se destacam,
também, por representarem a maior parte do material pesquisado e catalogado, através do processo
de fotografia digital. A pesquisa nos possibilitou perceber que a crônica enquanto linguagem
literária possibilita uma leitura sensível do tempo (PESAVENTO, 2004, p. 63), permitindo o acesso
a outras possibilidades de entendimento de uma dada “realidade”. Ela também imprime a pesquisa
que passado e presente sejam cruzados, em uma perspectiva inovadora, no intuito de tornar possível
o conhecimento dos sujeitos e dos objetos diante da fluidez, dos “usos”, que vão se estabelecendo
durante o curso do processo histórico. As crônicas nos remetem à sua capacidade de registro do
cotidiano e das sensibilidades, fazendo-as assim fontes de muita riqueza para os historiadores. Elas
possibilitam o acesso as formas pelas quais os sujeitos, em outro tempo, construíram suas
representações sobre si e o mundo.
      Neste sentido, buscou-se analisar as obras produzidas por A. Tito Filho, transpô-las,
registrando os vários sentidos que circulam entre o escrito e as formas de pensamento, e,
principalmente, procurando mostrar o que elas revelam, apontam, manifestam, enquanto imaginário
de uma época, buscando um entendimento plural e cultural da cidade. A produção do autor fixa
posições, constrói conteúdos e sentidos, faz aparecer um arranjo cultural, vivências, pensamentos e
sensibilidades; operam com estratégias, tentando aproximar-se de um imaginário coletivo de uma
época. Essa produção possibilita “ler” a cidade de Teresina como uma das possibilidades de
entendê-la enquanto construção de significados que operam, a rigor, na construção do pensamento
social e cultural. No aspecto teórico, a proposta era articular um diálogo permanente com linhas de
pesquisa inseridas no campo da História Cultural, sobretudo aquelas que relacionam história e
literatura (QUEIROZ, 2008; NASCIMENTO, 2008), bem como as propostas de Carlo Ginzburg
para a pesquisa em História (GINZBURG, 1989),


2 ASPECTOS DA PESQUISA E ESTÁGIO ATUAL
     A proposta de pesquisar, catalogar, digitalizar e por último publicar o material coletado
buscava realçar a linha de pesquisa referente às relações entre História e Literatura, sobretudo por
conta do grande volume de crônicas produzidas pelo autor. Realizou-se um levantamento da
produção de A. Tito Filho em vários meios de comunicação como jornais, revistas, artigos, livros e
aquela produção que se encontra em poder dos familiares e amigos, desconhecidos do público e que
necessitavam ser reunidas no intuito de conhecermos a história de Teresina e do Piauí do ponto de
vista do literato em questão, além de problematizarmos que implicações essas fontes trazem para a
historiografia piauiense.
         A necessidade de fazermos uma busca e sistematização desse material é fundamental na
contribuição de uma leitura historiográfica que gere novas abordagens e uma necessidade de
(re)examinarmos nossas construções referentes a pesquisa em história. A pesquisa, assim, partiu de
três objetivos principais: ampliar os debates em torno da nossa identidade cultural; realizar uma
pesquisa e catalogação que oriente possibilite novas pesquisas e fomente novos estudos; e
digitalizar e divulgar o material coletado ao público.
         Durante a pesquisa, buscou-se o acesso às mais diversas fontes: a) crônicas publicadas em
revistas especializadas como Cadernos de Teresina, Revista da Academia Piauiense de Letras,
Presença; b) jornais das décadas de 1940 a 1992 do século XX, disponibilizados no Arquivo
Público do Piauí que cobrem boa parte da trajetória jornalística do autor, tais como O Dia, Jornal
do Piauí, O Pirralho, dentre outros; e c) a produção bibliográfica do autor, representada por obras
como Teresina meu amor, Sermões aos Peixes, Teresinando em Cordel, Gente e Humor, dentre
outros. É preciso deixar registrado também que boa destes livros não foram fotografados e sim
fotocopiados.
         O trabalho de pesquisa destes textos se deu majoritariamente no Arquivo Público do Piauí, e
esse material foi registrado por meio de câmera fotográfica digital. Havíamos proposto também
realizar a catalogação e registro de acervos particulares bem como a realização de entrevistas com
pessoas que conviveram com o autor. Mas essa parte do processo ainda não foi realizada e nem
existe previsão acerca de sua realização. De qualquer forma é importante deixar claro que a reunião
desses dois acervos (o público e o de particulares) servirá como registro e mapeamento da produção
de A. Tito Filho. Existem também alguns jornais em que A. Tito Filho escreveu durante as décadas
de 1970 e 1980, como O Estado e Jornal do Comércio que ainda não tive tempo nem condições de
pesquisar, por motivos que não vem ao caso comentar aqui.
         Atualmente, a pesquisa e catalogação da obra de A. Tito Filho não possui vínculo
institucional e desenvolve-se no trabalho realizado no blog Acervo A. Tito Filho4, iniciado em
fevereiro de 2010, onde é publicada diariamente a produção jornalística do autor. Hoje o trabalho na
internet já se dividiu em 12 blogs, onde são postados textos referentes aos jornais O Dia e Jornal do
Piauí. Esse trabalho na internet também é complementado com atividades que dizem respeito a
divulgação de informações referentes a disponibilidade e estado de conservação da obras do autor
existentes em bibliotecas publicas municipais e estaduais, bem como a divulgação de pesquisas que
já se utilizam do material disponibilizado nos blogs.



4
    http://acervoatitofilho.blogspot.com
3 ENCAMINHAMENTOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
      Enfim, é necessário registrar que ao longo dessa pesquisa percebemos que divulgar a obra de
A. Tito Filho tem um significado mais profundo: ela é afetada pelas mutações geradas à história por
conta de seu ingresso na era da textualidade eletrônica (CHARTIER, 2009). Assim, a textualidade
eletrônica (ou seja, a divulgação da produção nos blogs) transforma a maneira de organizar as
argumentações, históricas ou não, e os critérios que podem mobilizar um leitor para aceitá-las ou
rejeitá-las. Quanto ao historiador, permite desenvolver demonstrações segundo uma lógica que já
não é necessariamente linear e dedutiva, como é a que impõe a inscrição, seja qual for a técnica, de
um texto em uma página. Ela permite uma articulação aberta, fragmentada, relacional do raciocínio,
tornada possível pelos blogs.
      Ao trabalharmos com os textos dos blogs, a validação ou a rejeição de um argumento pode se
apoiar na consulta de textos que são o próprio objeto de estudo, com a condição de que,
obviamente, sejam acessíveis na internet ou em outro meio digital (um cd ou pen drive, por
exemplo). No texto impresso isso geralmente não é possível. Por exemplo, caso o pesquisador
desenvolva uma pesquisa que tenha os textos de A. Tito Filho como uma das fontes ou mesmo o
próprio autor (entendido aqui como sua produção) como objeto da pesquisa, seria interessante, por
exemplo, criar links no texto para que o leitor possa ter acesso à fonte na íntegra. É possível até
divulgar a versão impressa do texto de sua pesquisa em conjunto com o mesmo texto gravado em
um CD-R. Assim, com um PC com acesso a internet o leitor poderia ter acesso aos links que você
criou. A pesquisa em história que tem como base acervos digitais possui como aspecto dos mais
interessantes e cativantes justamente essas possibilidades.
      Outro ponto importante diz respeito ao contexto da pesquisa que estamos propondo aqui, já
que não se pode perder de vista alguns aspectos importantes que diferenciam o texto tradicional (no
caso aqui, os jornais) e o texto digital (aquele dos blogs). É preciso perceber que:

                        O texto analógico tem uma dimensão física, podendo ser tocada e contemplada sem
                        auxílios externos. O material de que são feitos não é estável. Luz, agentes
                        químicos, umidade e calor afetam e podem até mesmo destruir uma coleção inteira.
                        Em muitos casos, o acesso ao jornal torna-se tecnicamente desaconselhável. Os
                        textos digitais são constituídos por bits. Para serem contemplados, exigem a
                        utilização de equipamentos complexos. É de grande importância, porém, a rapidez
                        e facilidade com que podem ser copiados e inseridos em bases de dados com rápido
                        e fácil acesso. Poderão ainda ser criados produtos, como os CD-ROMs, DVDs,
                        habilitando a distribuição dos textos a um amplo público, ao mesmo tempo em que
                        promovem sua preservação. Premissa fundamental: mesmo a melhor cópia digital
                        não substituirá um original, no sentido de seu descarte. (SILVA, 2006, p. 196).

      Portanto, são fundamentais para a pesquisa, mesmo aquelas que buscam digitalizar as fontes
para disponibilização na internet, dar-lhes algum tratamento arquivístico, ou seja, identificá-las,
autenticá-las e preservá-las. Além disso, a representação digital da informação traz a tona questões
éticas, legais e sociais, além das difíceis questões que envolvem a propriedade intelectual, a
proteção da confidencialidade e o direito a privacidade. Por isso, é importante também que o
pesquisador estabeleça critérios para a seleção das fontes que serão pesquisadas e (possivelmente)
digitalizadas. Critérios relacionados, por exemplo, a questionamentos tais como:
     a) a pesquisa busca a formação de coleções/séries documentais?
     b) busca a preservação de um acervo?
     c) busca o arquivamento?
     d) ou objetiva o aperfeiçoamento do acesso às fontes?
     Esses critérios são importantes porque eles serão os norteadores das situações e problemas
que envolvem a pesquisa em ambientes digitais (SILVA, 2006, p. 197). E vale deixar claro que a
reformatação digital de um acervo e sua conseqüente disponibilização para acesso irá, certamente,
ao encontro das expectativas de um novo público, muito mais habituado a lidar com a internet e o
avanço das redes sociais parece ser prova disso.
     Dois caminhos surgem neste contexto de mudanças tecnológicas: adquirir uma tecnologia
visando à solução de um problema específico (aperfeiçoamento, por exemplo, do acesso a
conteúdos informacionais) ou adotá-la como uma opção de preservação, sendo necessário, neste
caso, um profundo e prolongado compromisso institucional. Há ainda a necessidade de permanente
atenção às questões relacionadas a recursos e fundos para a realização de ajustes institucionais, uma
vez que as bibliotecas e arquivos públicos terão, ainda, por um bom tempo, que disponibilizar os
dois sistemas, o tradicional e o digital, cujas necessidades (que podem ser conflitantes) envolvendo
custos e aperfeiçoamentos poderão de fato ser difíceis de conduzir. Quanto à pesquisa em história,
será cada vez mais afetada pelo ciberespaço e isso implica numa reflexão acerca da metodologia, já
que textos digitalizados transmitem uma sensação enganosa de controle sobre o tempo e o espaço
(DARNTON, 2010, p. 77).


REFERÊNCIAS

CHARTIER, Roger. A história ou leitura do tempo. Tradução de Cristina Antunes – Belo
Horizonte: Autêntica, 2009.

DARNTON, Robert. Achados e perdidos na internet. In: ______. A questão dos livros: passado,
presente, futuro. Tradução Daniel Pellizari – São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 76-82

GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas,
sinais. Tradução de Federico Carotti – São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 143-179

QUEIROZ, Teresinha. História e Literatura. In: ADAD, Sarah Jane Holanda Costa; BRANDIM,
Ana Cristina Meneses de Sousa; RANGEL, Maria do Socorro (Orgs). Entre Línguas: movimento e
mistura de saberes. Fortaleza: UFC, 2008. p. 200-214.
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. História e Literatura: revisitando fronteiras. In: ADAD,
Shara Jane Holanda Costa et. al. (Org.). Entre línguas: movimento e mistura de saberes. Fortaleza:
Edições UFC, 2008.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Crônicas: fronteiras da narrativa histórica. HISTÓRIA UNISINOS,
vol. 8, nº 10, jul/dez, 2004, p. 61-80. Disponível em: < http://bit.ly/LeNdR7 >. Acesso em: 27 maio
2012.

SILVA, Rubens. Acervos fotográficos públicos: uma introdução sobre digitalização no contexto
político da disseminação de conteúdos. In: Ciência da Informação, v. 35, n. 3, p. 194-200, set/dez,
2006. Disponível em: http://bit.ly/b2Hq5Z

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

As fontes e a problemática da pesquisa em história da educação
As fontes e a problemática da pesquisa em história da educaçãoAs fontes e a problemática da pesquisa em história da educação
As fontes e a problemática da pesquisa em história da educaçãoGleisiane Souza
 
Programação XVII SAH FURB
Programação XVII SAH FURBProgramação XVII SAH FURB
Programação XVII SAH FURBCahclio
 
O que é história 6 ano
O que é história  6 anoO que é história  6 ano
O que é história 6 anoCamile Lessa
 
Conceitos de história 1 ano
Conceitos de história 1 anoConceitos de história 1 ano
Conceitos de história 1 anoVictor Melo
 
Iniciação à história
Iniciação à históriaIniciação à história
Iniciação à históriaLiz Prates
 
O ensino de história e a relação com o presente
O ensino de história e a relação com o presenteO ensino de história e a relação com o presente
O ensino de história e a relação com o presenteeunamahcado
 
História,sujeito e fato histórico
História,sujeito e fato históricoHistória,sujeito e fato histórico
História,sujeito e fato históricoUecson Santos
 
Ppt 11º b regencias 7 e 8 corrigido
Ppt 11º b regencias 7 e 8 corrigidoPpt 11º b regencias 7 e 8 corrigido
Ppt 11º b regencias 7 e 8 corrigidoj_sdias
 
Introdução ao Estudo da História
Introdução ao Estudo da HistóriaIntrodução ao Estudo da História
Introdução ao Estudo da HistóriaHenrique Tobal Jr.
 
Aulas história 6_ano
Aulas história 6_anoAulas história 6_ano
Aulas história 6_anotyromello
 
Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.
Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.
Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.Natália Barros
 
A história e fonte histórica
A história e fonte históricaA história e fonte histórica
A história e fonte históricarobson30
 
Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920
Práticas artísticas,crítica  e educação do gosto na década 1920Práticas artísticas,crítica  e educação do gosto na década 1920
Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920Natália Barros
 
TEMPO E HISTÓRIA
TEMPO E HISTÓRIATEMPO E HISTÓRIA
TEMPO E HISTÓRIAamiltonp
 
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamentoJosé d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamentoJorge Freitas
 
Contação de Histórias e a Identidade Feminina
Contação de Histórias e a Identidade FemininaContação de Histórias e a Identidade Feminina
Contação de Histórias e a Identidade FemininaMônica Santana
 

Mais procurados (18)

As fontes e a problemática da pesquisa em história da educação
As fontes e a problemática da pesquisa em história da educaçãoAs fontes e a problemática da pesquisa em história da educação
As fontes e a problemática da pesquisa em história da educação
 
Programação XVII SAH FURB
Programação XVII SAH FURBProgramação XVII SAH FURB
Programação XVII SAH FURB
 
O que é história 6 ano
O que é história  6 anoO que é história  6 ano
O que é história 6 ano
 
Conceitos de história 1 ano
Conceitos de história 1 anoConceitos de história 1 ano
Conceitos de história 1 ano
 
Iniciação à história
Iniciação à históriaIniciação à história
Iniciação à história
 
Original artigo 5 _borges
Original artigo 5 _borgesOriginal artigo 5 _borges
Original artigo 5 _borges
 
O ensino de história e a relação com o presente
O ensino de história e a relação com o presenteO ensino de história e a relação com o presente
O ensino de história e a relação com o presente
 
História,sujeito e fato histórico
História,sujeito e fato históricoHistória,sujeito e fato histórico
História,sujeito e fato histórico
 
Ppt 11º b regencias 7 e 8 corrigido
Ppt 11º b regencias 7 e 8 corrigidoPpt 11º b regencias 7 e 8 corrigido
Ppt 11º b regencias 7 e 8 corrigido
 
Introdução ao Estudo da História
Introdução ao Estudo da HistóriaIntrodução ao Estudo da História
Introdução ao Estudo da História
 
Aula 1 o que é história
Aula 1   o que é históriaAula 1   o que é história
Aula 1 o que é história
 
Aulas história 6_ano
Aulas história 6_anoAulas história 6_ano
Aulas história 6_ano
 
Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.
Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.
Micro-História: narrativa, indivíduo e contexto em foco.
 
A história e fonte histórica
A história e fonte históricaA história e fonte histórica
A história e fonte histórica
 
Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920
Práticas artísticas,crítica  e educação do gosto na década 1920Práticas artísticas,crítica  e educação do gosto na década 1920
Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920
 
TEMPO E HISTÓRIA
TEMPO E HISTÓRIATEMPO E HISTÓRIA
TEMPO E HISTÓRIA
 
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamentoJosé d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamento
 
Contação de Histórias e a Identidade Feminina
Contação de Histórias e a Identidade FemininaContação de Histórias e a Identidade Feminina
Contação de Histórias e a Identidade Feminina
 

Destaque

Interatividade no ciberespaço
Interatividade no ciberespaçoInteratividade no ciberespaço
Interatividade no ciberespaçoLucila Pesce
 
Literatura, história e memória nas crônicas de A. Tito Filho
Literatura, história e memória nas crônicas de A. Tito  FilhoLiteratura, história e memória nas crônicas de A. Tito  Filho
Literatura, história e memória nas crônicas de A. Tito FilhoJordan Bruno
 
Navegar no ciberespaço
Navegar no ciberespaçoNavegar no ciberespaço
Navegar no ciberespaçotucaferreira
 

Destaque (6)

Interatividade no ciberespaço
Interatividade no ciberespaçoInteratividade no ciberespaço
Interatividade no ciberespaço
 
Eagleton
EagletonEagleton
Eagleton
 
Tipos de leitor
Tipos de leitorTipos de leitor
Tipos de leitor
 
Literatura, história e memória nas crônicas de A. Tito Filho
Literatura, história e memória nas crônicas de A. Tito  FilhoLiteratura, história e memória nas crônicas de A. Tito  Filho
Literatura, história e memória nas crônicas de A. Tito Filho
 
Navegar no ciberespaço
Navegar no ciberespaçoNavegar no ciberespaço
Navegar no ciberespaço
 
terry-eagleton
terry-eagletonterry-eagleton
terry-eagleton
 

Semelhante a VI Encontro de História Cultural (UFPI, Julho/2012)

O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...
O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...
O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...JONASFERNANDESDELIMA1
 
África: o berço da humanidade
África: o berço da humanidadeÁfrica: o berço da humanidade
África: o berço da humanidadeTyrone Mello
 
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
Novos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arteNovos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arte
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arteGabriel
 
A encenação (intelectual) de si
A encenação (intelectual) de siA encenação (intelectual) de si
A encenação (intelectual) de siJordan Bruno
 
Desafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdf
Desafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdfDesafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdf
Desafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdfwilliannogueiracosta
 
Notas sobre a escrita de si
Notas sobre a escrita de siNotas sobre a escrita de si
Notas sobre a escrita de siJordan Bruno
 
A. tito filho, o enamorado de Teresina
A. tito filho, o enamorado de TeresinaA. tito filho, o enamorado de Teresina
A. tito filho, o enamorado de TeresinaJordan Bruno
 
Paper de dimas brasileiro veras na anpuh
Paper de dimas brasileiro veras na anpuhPaper de dimas brasileiro veras na anpuh
Paper de dimas brasileiro veras na anpuhcitacoesdosprojetos
 
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - BahiaCaderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - BahiaFrancemberg Teixeira Reis
 
Antropologia da religião 5 - antropologia no brasil
Antropologia da religião 5 - antropologia no brasilAntropologia da religião 5 - antropologia no brasil
Antropologia da religião 5 - antropologia no brasilSalomao Lucio Dos Santos
 
Rossi,luiz gustavofreitas d
Rossi,luiz gustavofreitas dRossi,luiz gustavofreitas d
Rossi,luiz gustavofreitas dNESUERJ
 
Introdução à história
Introdução à históriaIntrodução à história
Introdução à históriaZé Knust
 

Semelhante a VI Encontro de História Cultural (UFPI, Julho/2012) (20)

O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...
O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...
O tempo presente o trabalho do historiador e a relação passadopresente no est...
 
2946 8866-3-pb
2946 8866-3-pb2946 8866-3-pb
2946 8866-3-pb
 
África: o berço da humanidade
África: o berço da humanidadeÁfrica: o berço da humanidade
África: o berço da humanidade
 
15209 80988-1-pb
15209 80988-1-pb15209 80988-1-pb
15209 80988-1-pb
 
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
Novos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arteNovos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arte
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
 
A encenação (intelectual) de si
A encenação (intelectual) de siA encenação (intelectual) de si
A encenação (intelectual) de si
 
Aula de introdução aos estudos Históricos
Aula de introdução aos estudos Históricos  Aula de introdução aos estudos Históricos
Aula de introdução aos estudos Históricos
 
Desafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdf
Desafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdfDesafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdf
Desafios para a historiografia frente à Diversidade cultural.pdf
 
Inf historia 8
Inf historia 8Inf historia 8
Inf historia 8
 
Notas sobre a escrita de si
Notas sobre a escrita de siNotas sobre a escrita de si
Notas sobre a escrita de si
 
A. tito filho, o enamorado de Teresina
A. tito filho, o enamorado de TeresinaA. tito filho, o enamorado de Teresina
A. tito filho, o enamorado de Teresina
 
Paper de dimas brasileiro veras na anpuh
Paper de dimas brasileiro veras na anpuhPaper de dimas brasileiro veras na anpuh
Paper de dimas brasileiro veras na anpuh
 
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - BahiaCaderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - Bahia
 
Antropologia da religião 5 - antropologia no brasil
Antropologia da religião 5 - antropologia no brasilAntropologia da religião 5 - antropologia no brasil
Antropologia da religião 5 - antropologia no brasil
 
Artigo de dimas brasileiro veras na anpuh em 2009
Artigo de dimas brasileiro veras na anpuh em 2009Artigo de dimas brasileiro veras na anpuh em 2009
Artigo de dimas brasileiro veras na anpuh em 2009
 
Rossi,luiz gustavofreitas d
Rossi,luiz gustavofreitas dRossi,luiz gustavofreitas d
Rossi,luiz gustavofreitas d
 
O QUE É HISTÓRIA
O QUE É HISTÓRIAO QUE É HISTÓRIA
O QUE É HISTÓRIA
 
Inf historia 5
Inf historia 5Inf historia 5
Inf historia 5
 
História e crise dos paradigmas
História e crise dos paradigmasHistória e crise dos paradigmas
História e crise dos paradigmas
 
Introdução à história
Introdução à históriaIntrodução à história
Introdução à história
 

Mais de Jordan Bruno

Cinemas, tiros e bagarotes
Cinemas, tiros e bagarotesCinemas, tiros e bagarotes
Cinemas, tiros e bagarotesJordan Bruno
 
Capitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do Brasil
Capitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do BrasilCapitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do Brasil
Capitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do BrasilJordan Bruno
 
Capítulo 2 jordan bruno - a tito filho - ufpi
Capítulo 2   jordan bruno - a tito filho - ufpiCapítulo 2   jordan bruno - a tito filho - ufpi
Capítulo 2 jordan bruno - a tito filho - ufpiJordan Bruno
 
Capitulo 1 jordan bruno - ufpi
Capitulo 1   jordan bruno - ufpiCapitulo 1   jordan bruno - ufpi
Capitulo 1 jordan bruno - ufpiJordan Bruno
 
Tese a tito filho - ana brandim - 266 páginas
Tese   a tito filho - ana brandim - 266 páginasTese   a tito filho - ana brandim - 266 páginas
Tese a tito filho - ana brandim - 266 páginasJordan Bruno
 
Power point aula passeio jenipapo
Power point   aula passeio jenipapoPower point   aula passeio jenipapo
Power point aula passeio jenipapoJordan Bruno
 
Carnavais e outros carnavais de teresina
Carnavais e outros carnavais de teresinaCarnavais e outros carnavais de teresina
Carnavais e outros carnavais de teresinaJordan Bruno
 
Ir ao cinema em teresina (resumo)
Ir ao cinema em teresina (resumo)Ir ao cinema em teresina (resumo)
Ir ao cinema em teresina (resumo)Jordan Bruno
 
A crônica como escrita autobiográfica
A crônica como escrita autobiográficaA crônica como escrita autobiográfica
A crônica como escrita autobiográficaJordan Bruno
 

Mais de Jordan Bruno (11)

XXV ANPUH (2009)
XXV ANPUH (2009)XXV ANPUH (2009)
XXV ANPUH (2009)
 
Cinemas, tiros e bagarotes
Cinemas, tiros e bagarotesCinemas, tiros e bagarotes
Cinemas, tiros e bagarotes
 
Capitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do Brasil
Capitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do BrasilCapitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do Brasil
Capitulo 3 - Dissertação UFPI - Mestrado História do Brasil
 
Capítulo 2 jordan bruno - a tito filho - ufpi
Capítulo 2   jordan bruno - a tito filho - ufpiCapítulo 2   jordan bruno - a tito filho - ufpi
Capítulo 2 jordan bruno - a tito filho - ufpi
 
Capitulo 1 jordan bruno - ufpi
Capitulo 1   jordan bruno - ufpiCapitulo 1   jordan bruno - ufpi
Capitulo 1 jordan bruno - ufpi
 
Tese a tito filho - ana brandim - 266 páginas
Tese   a tito filho - ana brandim - 266 páginasTese   a tito filho - ana brandim - 266 páginas
Tese a tito filho - ana brandim - 266 páginas
 
Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
 
Power point aula passeio jenipapo
Power point   aula passeio jenipapoPower point   aula passeio jenipapo
Power point aula passeio jenipapo
 
Carnavais e outros carnavais de teresina
Carnavais e outros carnavais de teresinaCarnavais e outros carnavais de teresina
Carnavais e outros carnavais de teresina
 
Ir ao cinema em teresina (resumo)
Ir ao cinema em teresina (resumo)Ir ao cinema em teresina (resumo)
Ir ao cinema em teresina (resumo)
 
A crônica como escrita autobiográfica
A crônica como escrita autobiográficaA crônica como escrita autobiográfica
A crônica como escrita autobiográfica
 

VI Encontro de História Cultural (UFPI, Julho/2012)

  • 1. ACERVO A. TITO FILHO: propostas para uma pesquisa na internet Jordan Bruno Oliveira Ferreira 1 1 INTRODUÇÃO A pesquisa sobre a obra de A. Tito Filho 2 começou como projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Piauí (PIBIC/UESPI) elaborado pela professora Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim3 no segundo semestre de 2006 e prosseguiu ao longo do ano de 2007. O programa possibilita ao professor ter como pesquisadores-bolsistas alunos da graduação, daí minha participação. O projeto, então intitulado História e Literatura: pesquisa, catalogação, digitalização e revisão da obra de Arimathéia Tito Filho, buscava contribuir para a ampliação de questões pertinentes no cenário atual da historiografia piauiense como, por exemplo, perceber como a imagem da cidade de Teresina foi moldada pelo discurso que partiu da Academia Piauiense de Letras na figura do seu presidente Arimathéa Tito Filho formulando e alicerçando bases que se estabeleceram como referências para a forma como nos relacionamos com a cidade de Teresina e com algumas de nossas práticas. No projeto também foi estabelecido que não era do nosso interesse fazer uma biografia do autor, mas utilizar sua produção textual como base para um estudo que nos ajudasse a entender o presente e o passado da cidade. O objetivo principal do trabalho era demonstrar como Teresina, enquanto espaço de pesquisa, foi criada e recriada continuamente devido à circulação e projeção de inúmeras imagens que tinham como finalidade estabelecer um “real”. Esse “real” pode ser visualizado ou detectado através dos devidos discursos e olhares que procuram justapor e contrapor dizeres, oferecendo cadeias de significados para aqueles que participam e assimilam formas diferenciadas desses discursos. Percebemos que a Teresina existente em nossa memória é uma projeção vivida, enquanto construção ou como multiplicidade de percepções que irá depender da forma como assimilamos cada fase ou cada momento de nossa existência. Essas percepções são continuamente registradas pelos mais diferentes sujeitos, responsáveis pelo processo de apropriação de imagens sobre nossa construção identitária, como os romancistas, cronistas, poetas, arquitetos, urbanistas, chargistas, historiadores e outros que formulam imagens, 1 Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Aluno do Programa de Pós-Graduação Mestrado em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí (UFPI) onde desenvolvo pesquisa intitulada “A. Tito Filho: o cronista e o historiador”, orientado pela Profª Drª Teresinha Queiroz (UFPI). 2 José de Arimathéia Tito Filho (Barras, 1924 – Teresina, 1992) foi presidente da Academia Piauiense de Letras (APL) de 1971 a 1992. Além de jornalista, foi também professor e diretor do Liceu Piauiense, escritor e editor. Foi Secretário de Educação e Cultura do Estado do Piauí na década de 1970 na administração de João Clímaco d’Almeida. 3 Professora Dr.ª do curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).
  • 2. lembranças, vivências, sentimentos, códigos de postura, formas de ver e viver, além de outras sensibilidades que fazem parte da forma como experimentamos a cidade. Assim, a produção jornalística de A. Tito Filho, principalmente suas crônicas e suas obras bibliográficas ganharam atenção especial por permitirem visualizarmos uma multiplicidade de fatos que marcaram a cidade de Teresina, ao longo de boa parte do século XX. As crônicas se destacam, também, por representarem a maior parte do material pesquisado e catalogado, através do processo de fotografia digital. A pesquisa nos possibilitou perceber que a crônica enquanto linguagem literária possibilita uma leitura sensível do tempo (PESAVENTO, 2004, p. 63), permitindo o acesso a outras possibilidades de entendimento de uma dada “realidade”. Ela também imprime a pesquisa que passado e presente sejam cruzados, em uma perspectiva inovadora, no intuito de tornar possível o conhecimento dos sujeitos e dos objetos diante da fluidez, dos “usos”, que vão se estabelecendo durante o curso do processo histórico. As crônicas nos remetem à sua capacidade de registro do cotidiano e das sensibilidades, fazendo-as assim fontes de muita riqueza para os historiadores. Elas possibilitam o acesso as formas pelas quais os sujeitos, em outro tempo, construíram suas representações sobre si e o mundo. Neste sentido, buscou-se analisar as obras produzidas por A. Tito Filho, transpô-las, registrando os vários sentidos que circulam entre o escrito e as formas de pensamento, e, principalmente, procurando mostrar o que elas revelam, apontam, manifestam, enquanto imaginário de uma época, buscando um entendimento plural e cultural da cidade. A produção do autor fixa posições, constrói conteúdos e sentidos, faz aparecer um arranjo cultural, vivências, pensamentos e sensibilidades; operam com estratégias, tentando aproximar-se de um imaginário coletivo de uma época. Essa produção possibilita “ler” a cidade de Teresina como uma das possibilidades de entendê-la enquanto construção de significados que operam, a rigor, na construção do pensamento social e cultural. No aspecto teórico, a proposta era articular um diálogo permanente com linhas de pesquisa inseridas no campo da História Cultural, sobretudo aquelas que relacionam história e literatura (QUEIROZ, 2008; NASCIMENTO, 2008), bem como as propostas de Carlo Ginzburg para a pesquisa em História (GINZBURG, 1989), 2 ASPECTOS DA PESQUISA E ESTÁGIO ATUAL A proposta de pesquisar, catalogar, digitalizar e por último publicar o material coletado buscava realçar a linha de pesquisa referente às relações entre História e Literatura, sobretudo por conta do grande volume de crônicas produzidas pelo autor. Realizou-se um levantamento da produção de A. Tito Filho em vários meios de comunicação como jornais, revistas, artigos, livros e aquela produção que se encontra em poder dos familiares e amigos, desconhecidos do público e que necessitavam ser reunidas no intuito de conhecermos a história de Teresina e do Piauí do ponto de
  • 3. vista do literato em questão, além de problematizarmos que implicações essas fontes trazem para a historiografia piauiense. A necessidade de fazermos uma busca e sistematização desse material é fundamental na contribuição de uma leitura historiográfica que gere novas abordagens e uma necessidade de (re)examinarmos nossas construções referentes a pesquisa em história. A pesquisa, assim, partiu de três objetivos principais: ampliar os debates em torno da nossa identidade cultural; realizar uma pesquisa e catalogação que oriente possibilite novas pesquisas e fomente novos estudos; e digitalizar e divulgar o material coletado ao público. Durante a pesquisa, buscou-se o acesso às mais diversas fontes: a) crônicas publicadas em revistas especializadas como Cadernos de Teresina, Revista da Academia Piauiense de Letras, Presença; b) jornais das décadas de 1940 a 1992 do século XX, disponibilizados no Arquivo Público do Piauí que cobrem boa parte da trajetória jornalística do autor, tais como O Dia, Jornal do Piauí, O Pirralho, dentre outros; e c) a produção bibliográfica do autor, representada por obras como Teresina meu amor, Sermões aos Peixes, Teresinando em Cordel, Gente e Humor, dentre outros. É preciso deixar registrado também que boa destes livros não foram fotografados e sim fotocopiados. O trabalho de pesquisa destes textos se deu majoritariamente no Arquivo Público do Piauí, e esse material foi registrado por meio de câmera fotográfica digital. Havíamos proposto também realizar a catalogação e registro de acervos particulares bem como a realização de entrevistas com pessoas que conviveram com o autor. Mas essa parte do processo ainda não foi realizada e nem existe previsão acerca de sua realização. De qualquer forma é importante deixar claro que a reunião desses dois acervos (o público e o de particulares) servirá como registro e mapeamento da produção de A. Tito Filho. Existem também alguns jornais em que A. Tito Filho escreveu durante as décadas de 1970 e 1980, como O Estado e Jornal do Comércio que ainda não tive tempo nem condições de pesquisar, por motivos que não vem ao caso comentar aqui. Atualmente, a pesquisa e catalogação da obra de A. Tito Filho não possui vínculo institucional e desenvolve-se no trabalho realizado no blog Acervo A. Tito Filho4, iniciado em fevereiro de 2010, onde é publicada diariamente a produção jornalística do autor. Hoje o trabalho na internet já se dividiu em 12 blogs, onde são postados textos referentes aos jornais O Dia e Jornal do Piauí. Esse trabalho na internet também é complementado com atividades que dizem respeito a divulgação de informações referentes a disponibilidade e estado de conservação da obras do autor existentes em bibliotecas publicas municipais e estaduais, bem como a divulgação de pesquisas que já se utilizam do material disponibilizado nos blogs. 4 http://acervoatitofilho.blogspot.com
  • 4. 3 ENCAMINHAMENTOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS Enfim, é necessário registrar que ao longo dessa pesquisa percebemos que divulgar a obra de A. Tito Filho tem um significado mais profundo: ela é afetada pelas mutações geradas à história por conta de seu ingresso na era da textualidade eletrônica (CHARTIER, 2009). Assim, a textualidade eletrônica (ou seja, a divulgação da produção nos blogs) transforma a maneira de organizar as argumentações, históricas ou não, e os critérios que podem mobilizar um leitor para aceitá-las ou rejeitá-las. Quanto ao historiador, permite desenvolver demonstrações segundo uma lógica que já não é necessariamente linear e dedutiva, como é a que impõe a inscrição, seja qual for a técnica, de um texto em uma página. Ela permite uma articulação aberta, fragmentada, relacional do raciocínio, tornada possível pelos blogs. Ao trabalharmos com os textos dos blogs, a validação ou a rejeição de um argumento pode se apoiar na consulta de textos que são o próprio objeto de estudo, com a condição de que, obviamente, sejam acessíveis na internet ou em outro meio digital (um cd ou pen drive, por exemplo). No texto impresso isso geralmente não é possível. Por exemplo, caso o pesquisador desenvolva uma pesquisa que tenha os textos de A. Tito Filho como uma das fontes ou mesmo o próprio autor (entendido aqui como sua produção) como objeto da pesquisa, seria interessante, por exemplo, criar links no texto para que o leitor possa ter acesso à fonte na íntegra. É possível até divulgar a versão impressa do texto de sua pesquisa em conjunto com o mesmo texto gravado em um CD-R. Assim, com um PC com acesso a internet o leitor poderia ter acesso aos links que você criou. A pesquisa em história que tem como base acervos digitais possui como aspecto dos mais interessantes e cativantes justamente essas possibilidades. Outro ponto importante diz respeito ao contexto da pesquisa que estamos propondo aqui, já que não se pode perder de vista alguns aspectos importantes que diferenciam o texto tradicional (no caso aqui, os jornais) e o texto digital (aquele dos blogs). É preciso perceber que: O texto analógico tem uma dimensão física, podendo ser tocada e contemplada sem auxílios externos. O material de que são feitos não é estável. Luz, agentes químicos, umidade e calor afetam e podem até mesmo destruir uma coleção inteira. Em muitos casos, o acesso ao jornal torna-se tecnicamente desaconselhável. Os textos digitais são constituídos por bits. Para serem contemplados, exigem a utilização de equipamentos complexos. É de grande importância, porém, a rapidez e facilidade com que podem ser copiados e inseridos em bases de dados com rápido e fácil acesso. Poderão ainda ser criados produtos, como os CD-ROMs, DVDs, habilitando a distribuição dos textos a um amplo público, ao mesmo tempo em que promovem sua preservação. Premissa fundamental: mesmo a melhor cópia digital não substituirá um original, no sentido de seu descarte. (SILVA, 2006, p. 196). Portanto, são fundamentais para a pesquisa, mesmo aquelas que buscam digitalizar as fontes para disponibilização na internet, dar-lhes algum tratamento arquivístico, ou seja, identificá-las, autenticá-las e preservá-las. Além disso, a representação digital da informação traz a tona questões
  • 5. éticas, legais e sociais, além das difíceis questões que envolvem a propriedade intelectual, a proteção da confidencialidade e o direito a privacidade. Por isso, é importante também que o pesquisador estabeleça critérios para a seleção das fontes que serão pesquisadas e (possivelmente) digitalizadas. Critérios relacionados, por exemplo, a questionamentos tais como: a) a pesquisa busca a formação de coleções/séries documentais? b) busca a preservação de um acervo? c) busca o arquivamento? d) ou objetiva o aperfeiçoamento do acesso às fontes? Esses critérios são importantes porque eles serão os norteadores das situações e problemas que envolvem a pesquisa em ambientes digitais (SILVA, 2006, p. 197). E vale deixar claro que a reformatação digital de um acervo e sua conseqüente disponibilização para acesso irá, certamente, ao encontro das expectativas de um novo público, muito mais habituado a lidar com a internet e o avanço das redes sociais parece ser prova disso. Dois caminhos surgem neste contexto de mudanças tecnológicas: adquirir uma tecnologia visando à solução de um problema específico (aperfeiçoamento, por exemplo, do acesso a conteúdos informacionais) ou adotá-la como uma opção de preservação, sendo necessário, neste caso, um profundo e prolongado compromisso institucional. Há ainda a necessidade de permanente atenção às questões relacionadas a recursos e fundos para a realização de ajustes institucionais, uma vez que as bibliotecas e arquivos públicos terão, ainda, por um bom tempo, que disponibilizar os dois sistemas, o tradicional e o digital, cujas necessidades (que podem ser conflitantes) envolvendo custos e aperfeiçoamentos poderão de fato ser difíceis de conduzir. Quanto à pesquisa em história, será cada vez mais afetada pelo ciberespaço e isso implica numa reflexão acerca da metodologia, já que textos digitalizados transmitem uma sensação enganosa de controle sobre o tempo e o espaço (DARNTON, 2010, p. 77). REFERÊNCIAS CHARTIER, Roger. A história ou leitura do tempo. Tradução de Cristina Antunes – Belo Horizonte: Autêntica, 2009. DARNTON, Robert. Achados e perdidos na internet. In: ______. A questão dos livros: passado, presente, futuro. Tradução Daniel Pellizari – São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 76-82 GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais. Tradução de Federico Carotti – São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 143-179 QUEIROZ, Teresinha. História e Literatura. In: ADAD, Sarah Jane Holanda Costa; BRANDIM, Ana Cristina Meneses de Sousa; RANGEL, Maria do Socorro (Orgs). Entre Línguas: movimento e mistura de saberes. Fortaleza: UFC, 2008. p. 200-214.
  • 6. NASCIMENTO, Francisco Alcides do. História e Literatura: revisitando fronteiras. In: ADAD, Shara Jane Holanda Costa et. al. (Org.). Entre línguas: movimento e mistura de saberes. Fortaleza: Edições UFC, 2008. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Crônicas: fronteiras da narrativa histórica. HISTÓRIA UNISINOS, vol. 8, nº 10, jul/dez, 2004, p. 61-80. Disponível em: < http://bit.ly/LeNdR7 >. Acesso em: 27 maio 2012. SILVA, Rubens. Acervos fotográficos públicos: uma introdução sobre digitalização no contexto político da disseminação de conteúdos. In: Ciência da Informação, v. 35, n. 3, p. 194-200, set/dez, 2006. Disponível em: http://bit.ly/b2Hq5Z