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William Mulready, 1786-1863, O Soneto, 1839.



© Yuriko Takata, Antique Bookcase.
O Eco

Tão tarde. Adão não vem? Aonde iria Adão?!
Talvez que fosse à caça;
quer fazer surpresas com alguma corça branca lá da floresta.
Era p'lo entardecer,
e Eva já sentia cuidados por tantas demoras.
Foi chamar ao cimo dos rochedos,
e uma voz de mulher também,
também chamou Adão.
Teve medo.
Mas julgando fantasia chamou de novo:
Adão? E uma voz de mulher também,
também chamou Adão.
Foi-se triste para a tenda.
Adão já tinha vindo e trouxera as setas todas, e a caça era
nenhuma!
E ele a saudá-la ameaçou-lhe um beijo e ela fugiu-lhe.
- Outra que não Ela chamara também por Ele.
Almada Negreiros, in Frisos - Revista Orpheu nº1



                                                                                                                      © Ellen de Groot
                                                                  Nostalgia do Presente
                                                                  Naquele preciso momento o homem disse:
                                                                  «O que eu daria pela felicidade
                                                                  de estar ao teu lado na Islândia
                                                                  sob o grande dia imóvel
                                                                  e de repartir o agora
                                                                  como se reparte a música
                                                                  ou o sabor de um fruto.»
                                                                  Naquele preciso momento
                                                                  o homem estava junto dela na Islândia.
                                                   Fonte: Dover   Jorge Luís Borges, in A Cifra. Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Abraham Bloemaert, 1566-1651, Alegoria do Inverno, 1625-30.




© Yuriko Taka, Literature-II.
APONTAMENTO

                                                            O que os homens querem mais ainda
  O mais importante na vida                                 Além da sua vil mediocridade?
  É ser-se criador — criar beleza.                          Incêndios, sangue, — ó cegos visionários
  Para isso,                                                Sem alma e sem noção da realidade!
  É necessário pressenti-la                                 Tambores e metralhas e clarins
  Aonde os nossos olhos não a virem                         Num cântico sinistro, sem beleza,
  Eu creio que sonhar o impossível                          — Embora a vida seja o hálito da morte,
  É como que ouvir a voz de alguma coisa                    Uma ilusão de límpida saudade, —
  Que pede existência e que nos chama de longe.             Deixai supor, deixai-vos iludir
  Sim, o mais importante na vida                            De que para viver
  É ser-se criador.                                         Não é preciso matar
  In As Canções de António Botto, Obras Completas, Vol. I   Não é preciso mentir!
                                                            Pequenas Canções de Cabaret
                                                            In As Canções de António Botto, Obras Completas, Vol. I




                     Alguns poetas portugueses
Em cima: João de Deus, Guerra Junqueiro, Camões e Bocage.
       Em baixo: Florbela Espanca, Fernando Pessoa,                                       © Cie Shin, Indonesia, Morning Strike.
                 José Régio e António Aleixo.
Sophie Gengembre Anderson, 1823-1903, Take the Fair Face of Woman, n.d.

               «Primeiro, dá aos teus filhos raízes.                      Sophie Gengembre Anderson, 1823-1903, The Turtle Dove, n.d.
                   Mais tarde, dá-lhes asas.»
                                   Provérbio judaico
© Jennifer, United States, U- Turn.
                                                                         OLHANDO AS CATARATAS NO MONTE LU
                    Panoramio, Like a Painting - Via www.arcapediacom.   A luz do sol queima o Pico do Incenso
                                                                         e faz surgir uma fumaça violeta.
O TEMPLO DO CUME                                                         De um ponto distante observo a catarata
                                                                         mergulhar no rio imenso.
Passo esta noite no Templo do Cume.
                                                                         Vejo as águas em voo descendo mil metros em linha recta
Aqui eu poderia apanhar as estrelas com a minha mão.
                                                                         e pergunto-me se não é a Via Láctea que se precipita
Não ouso elevar a voz no meio do silêncio,
                                                                         da nona esfera do céu.
com medo de perturbar os habitantes do céu.

                       Li Po (ou Li Bai), 701-762.                                       Li Po (ou Li Bai), 701-762.
© José Roosevelt, La Bibliothèque Essentielle, 1999.
                    CIÊNCIA POSITIVISTA

Ciência, deixa-me só como um menino
de alma atónita e pupilas assombradas
na Dimensão Ultra dos Contos de Fadas!
                 José Roosevelt, La Bibliothèque Essentielle, 1999.
Oh, Ciência que te arrastas num plano
unidimensional, como um verme!...
Deixa-me no meio de meu mundo astral,                                     Jean-Honoré Fragonard, 1732-1806, Jeune fille à la lecture, 1776.
entre os arco-íris da sua esfera de cristal:
Meu arco-íris, escada de Jacob
que une este mundo com a Quarta Dimensão!
                                            Li Po (ou Li Bai), 701-762.
FAMILIAR
A mãe faz tricô
O filho vai à guerra
Tudo muito natural acha a mãe
E o pai que faz o pai?
Negoceia
A mulher faz tricô
O filho luta na guerra
Ele negoceia
Tudo muito natural acha o pai
E o filho e o filho
o que é que o filho acha?
Nada absolutamente nada acha o filho
O filho sua mãe faz tricô seu pai negoceia ele luta na guerra
                                                                                                  © David Orias, U. S.A., Little Explorer.
Quando tiver terminado a guerra
Negociará com o pai
                                                                     PALAVRAS DUM AVESTRUZ TODO GRIS
A guerra continua a mãe continua, ela tricota
                                                                     Arrancam-me as penas
O pai continua, ele negoceia
                                                                     E eu sofro sem dizer nada:
O filho foi morto, ele não continua mais
                                                                     — Sou ave
O pai e a mãe vão ao cemitério
                                                                     Bem educada.
Tudo muito natural acham o pai e a mãe
                                                                     E, se quisesse,
A vida continua, a vida com o tricô, a guerra, os negócios
                                                                     Podia
Os negócios, a guerra, o tricô, a guerra
                                                                     Morder-lhes as mãos morenas,
Os negócios, os negócios e os negócios
                                                                     A esses
A vida com o cemitério.
                               Jacques Prévert in Poemas, 1985.
                                                                     Que sem piedade
                                                                     Me roubam estas penas que me cobrem;
                                                                     E, no entanto,
                                                                     Sem o mais breve gemido,
                                                                     O meu corpo
                                                                     Vai ficando
                                                                     Desguarnecido...
                                                                     Aves de um Parque Real
                                © Braldt Bralds, Evolution of Man.   In As Canções de António Botto, Obras Completas, Vol. I
Miklós Barabás, 1810-1898, pintor húngaro, Pombo-correio, 1843.
Nunca Busquei Viver a Minha Vida
Nunca busquei viver a minha vida                                  Mary L. Gow, Fairy Tales, 1880.
A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse.
Só quis ver como se não tivesse alma
Só quis ver como se fosse eterno.
Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, in Fragmentos
José Ferraz de Almeida Júnior, 1850-1899, Jovem lendo, 1879.
           Querem uma Luz Melhor que a do Sol!                                           A Criança que Pensa em Fadas
Ah! Querem uma luz melhor que
a do Sol!                                                                    A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Querem prados mais verdes do que estes!                                      Age como um deus doente, mas como um deus.
Querem flores mais belas do que estas                                        Porque embora afirme que existe o que não existe
que vejo!                                                                    Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me.                     Sabe que existir existe e não se explica,
Mas, se acaso me descontentam,                                               Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
O que quero é um sol mais sol                                                Sabe que ser é estar em algum ponto
que o Sol,                                                                   Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
O que quero é prados mais prados
                                                                             Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa
que estes prados,
                                                                             in Poemas Inconjuntos.
O que quero é flores mais estas flores
que estas flores -
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma
maneira!
Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa in Poemas Inconjuntos.
OS TÍTULOS E O DEVIR
          Parte I (excerto)

A síntese fenomenal
Já foi escrita
Será escrita de novo
E parecerá sempre nova
Sempre outra
Sendo sempre a mesma
Só a equação das palavras muda
A essência é sempre a mesma
É reconfortante
É inquietante este contínuo eco
E o cíclico reencontrar
Da cadeia infinita de analogias
A matriz do ser
A infinidade dos dias
A repentina compreensão dos enigmas
Que movem o homem                                © Amy Hill, Reader, 2008.
O caos e a ordem do universo
Suy / São Ludovino, Porto, 19/8/1998




                                     «Muitos não sabem quanto
                                   tempo e fadiga custa aprender
                                   a ler. Trabalhei nisso 80 anos e
                                    não posso dizer que o tenha
                                             conseguido.»
                                       Johann Wolfgang von Goethe, 1749-1832
                                                                               Piero di Cosimo, 1462-1521, Sainte Marie Madeleine, 1490.
Ondas do mar de Vigo,                                            Ai flores, ai flores do verde pino,
se vistes meu amigo!                                             se sabedes novas do meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!                                        ai Deus, e u é?

Ondas do mar levado,                                             Ai flores, ai flores do verde ramo,
se vistes meu amado!                                             se sabedes novas do meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!                                        ai Deus, e u é?

Se vistes meu amigo,                                             Se sabedes novas do meu amigo,
o por que eu sospiro!                                            aquel que mentiu do que pôs comigo!
E ai Deus, se verrá cedo!                                        ai Deus, e u é?

Se vistes meu amado,               Trovadores medievais          Se sabedes novas do meu amado,
por que hei gran cuidado!                                        aquel que mentiu do que mi há jurado!
E ai Deus, se verrá cedo! Martin Codax, Ondas do Mar de Vigo,    ai Deus, e u é?
                            Cantiga de Amigo, CV 884, CBN 1227                        D. Dinis, Flores do Verde Pino, Cantiga de Amigo
Afirmam que a vida é breve,
        Engano, — a vida é comprida:
        Cabe nela amor eterno
        E ainda sobeja vida.
        In As Canções de António Botto, Obras Completas, vol. I




                                                           © Rachell Bess.
«Tiveste a audácia de assumir uma forma humana e
estás deliciado. Mas a forma humana passa por dez
   mil transformações que nunca chegam ao fim.                               © Lisa G., Les jolis mots.
      Assim sendo, as tuas alegrias devem ser
                   incontáveis.»
                                                            Chuang Tsu
© Ellen de Groot
                        O Cúmplice                                                   Os Meus Livros
Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos.                   Os meus livros (que não sabem que existo)
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.                        São uma parte de mim, como este rosto
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.                               De têmporas e olhos já cinzentos
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.                            Que em vão vou procurando nos espelhos
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo.                E que percorro com a minha mão côncava.
O meu alimento é todas as coisas.                                     Não sem alguma lógica amargura
O peso exacto do universo, a humilhação, o júbilo.                    Entendo que as palavras essenciais,
Tenho de justificar o que me fere.                                    As que me exprimem, estarão nessas folhas
Não importa a minha felicidade ou infelicidade.                       Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Sou o poeta.                                                          Mais vale assim. As vozes desses mortos
                                                                      Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luis Borges, in A Cifra. Tradução de Fernando Pinto do Amaral   Jorge Luís Borges, in A Rosa Profunda
© Absel Fattah Hallah, Geba's Dance, 2000.

             QUE ASSIM TE AFAGUE...
             Que assim te afague, ó meu Amor, e te ouça
             A voz divina — como é possível?!
             Impossível parece sempre a rosa,
             O rouxinol inconcebível.            Johann Wolfgang von
                                                      Goethe, 1749-1832




                                                                                  © Yuri Studinikin, During Intermission, 2003.




© William Whitaker, Trio.
Séraphine de Senlis,
                                                                                                                                               1864-1942.




         Joseph Karl Stieler, 1781–1858, Portrait of Ludwig van Beethoven
                  When Composing The Missa Solemnis, 1820.                                                                                  Séraphine, 2008
                                                                               Séraphine de Senlis, 1864-1942, Le Bouquet de Feuilles.   real. Martin Prevost.
    «Ó homens que me tendes em conta de rancoroso, insociável e
misantropo, como vos enganais. Não conheceis as secretas razões que            Séraphine Louis, conhecida como Séraphine de Senlis, foi uma pintora
me forçam a parecer deste modo. Meu coração e meu ânimo sentiam-            autodidacta francesa, associada ao Neo-Primitivismo (pintura naïf), hoje
se desde a infância inclinados para o terno sentimento de carinho e         considerada como uma influência determinante na pintura naïve francesa,
sempre estive disposto a realizar generosas acções; porém considerai        logo seguida por Henri Rousseau. Começou por ser pastora, o que lhe
que, de seis anos a esta parte, vivo sujeito a triste enfermidade,          permitiu observar demoradamente a Natureza que mais tarde recriaria nas
agravada pela ignorância dos médicos. Iludido constantemente, na            suas telas onde imperam as folhas, as flores e os frutos. Foi também
esperança de uma melhora, fui forçado a enfrentar a realidade da            empregada doméstica.
rebeldia desse mal, cuja cura, se não for de todo impossível, durará           O acaso fez com que um comerciante de arte, Wilhelm Uhde, se tenha
talvez anos! Nascido com um temperamento vivo e ardente, sensível           instalado em Senlis em 1912 e tenha descoberto a pintura de Séraphine ao
mesmo às diversões da sociedade, vi-me obrigado a isolar-me numa            contratá-la como empregada doméstica, tinha ela 48 anos. Apesar disso,
vida solitária. Por vezes, quis colocar-me acima de tudo, mas fui então     viveu pobremente toda a vida e nunca viajou. Os quadros de Séraphine
duramente repelido, ao renovar a triste experiência da minha surdez!»       comprados por Uhde foram confiscados e vendidos no início da I Guerra
                                                                            Mundial. Só muito mais tarde foram recuperados e apresentados ao público
Ludwig van Beethoven, 1770 — 1827, excerto do Testamento de                 em museus e galerias.
Heilingenstadt, feito em 06-10-1802, na localidade austríaca de                Séraphine morreu pobre e meia louca num asilo. Martin Provost tirou-a
Heilingenstadt.                                                             do anonimato em 2008, quando realizou o filme biográfico Séraphine.
© Maria Battaglia, The Bird Catcher Papageno Tamino.

 Hollywood
 A cada manhã, para ganhar o meu pão
                                                             © Hanjo Schnug, Transformation, 2002.
 Vou ao mercado onde mentiras são compradas.
 Esperançoso,
 Tomo lugar entre os vendedores.
                        Bertold Brecht in Poemas 1913-1956
Aborrecido, passeio
Pelas ruas da cidade.                                              A maré vasa. No céu,
Deixei agora o Rossio                                              Vão-se apagando as estrelas.
                                  Devagar vou-me chegando          Um guarda-fiscal dormita
E atravesso o Borratém.           Xaile, uma blusa, uma saia...
Deu meia-noite pausada                                             Na guarita, mas de pé.
                                  E oiço a fala dos dois.          Um velhote com um cesto
No Carmo. Um amigo meu            Ele parece uma onda,
Passa e tira-me o chapéu.                                          E uma lata vem dizer-me
                                  Impetuoso, alagante.             Se eu quero beber café.
Paro a uma esquina. Esmoreço      Ela é um breve bandó
Numa saudade que surge                                             Num banco de pedra. Cismo.
                                  Num corpito provocante.          E ali me fico a cismar
Dentro de mim não sei como:       E seguem... Ele, encostado,
Uma saudade infinita,                                              Em coisa nenhuma... O dia
                                  Muito encostado e aquecido       Principia a querer ser
Misto de choro e revolta.         Lá vai como se encontrasse
Alguém me chama no escuro:                                         Mais um passo na incerteza
                                  Um objecto perdido               Das nossas aspirações...
Volto a cabeça. A uma porta       Que foi milagre encontrá-lo...                                           Fonte: Dover
Um vulto mexe. - Sou eu!,                                          As águas do rio a escutar
                                  Cortaram além!... E param?       Parecem adormecidas...
Não fuja, sou eu... - Mas quem?   Oiço o rebate de um estalo
Retrocedo, não conheço                                             E o dia nasce! Vem triste,
                                  E um grito subtil de prece       Nublado, fosco, cinzento,
A mulher que me chamou.           Amedrontada na fuga...
Na verdade ninguém ouve,                                           Enquanto pela cidade
                                  Desço ao Marquês do Alegrete.    A vida acorda e desata
Ninguém distingue o apelo         Um candeeiro sinistro
Do amor que anda perdido                                           O matinal movimento...
                                  Numa casa que se aluga...
No mistério de mentir:            Vejo um polícia. Arrefece.
Deixo-a ficar onde estava;                                         Antonio Botto, Reportagem
                                  Um grupo de três sujeitos
Dou-lhe um cigarro e um sorriso   Discute o vinho de Torres.
Dizendo que vou dormir.           Varrem as ruas. Um gato
Atira-me boa-noite                Bebe água numa sarjeta;
Num frio olhar de ofendida.       Uma carroça parou
Meto à rua do Amparo              Carregada de hortaliça
A perguntar se esta vida          Junto à Praça da Figueira.
Não terá finalidade               Corto a rua dos Fanqueiros
Menos sórdida e banal?            Já um pouco estropiado...
Atafonas. Uma Igreja.             Acendo um cigarro. A noite
Mais acima o Hospital.            Lembra um fantasma
Um marinheiro propõe              assustado...
A esta que atravessou             Chego ao Terreiro do Paço.
A rua do Benformoso               O arco da rua Augusta
Irem tomar qualquer coisa         Parece mais imponente
Na Leitaria da Guia.              Na minha desolação...
Ela pára. É uma catraia           Vou até ao cais. Em baixo
Que talvez não tenha ainda        O rio bate sem reacção...
Dezasseis anos. Bonita.                                                                           Torre de Belém, Lisboa.
A Ciência, a ciência, a ciência…

                                   A ciência, a ciência, a ciência...
                                   Ah, como tudo é nulo e vão!
                                   A pobreza da inteligência
                                   Ante a riqueza da emoção!

                                   Aquela mulher que trabalha
                                   Como uma santa em sacrifício,
                                   Com tanto esforço dado a ralha!
                                   Contra o pensar, que é o meu vício!
                                   A ciência! Como é pobre e nada!
                                   Rico é o que alma dá e tem.


                                  Fernando Pessoa, A Ciência, a ciência, a
                                      ciência… in Poesia 1931-1935.
 © Rowena Morril, Isaac Asimov.

                 AS TRÊS LEIS DA ROBÓTICA
1.   Um robot não pode ferir um ser humano ou, por omissão,
     permitir que um ser humano sofra algum mal.
2.   Um robot deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por
     seres humanos, excepto nos casos em que tais ordens
     contrariem a Primeira Lei.
3.   Um robot deve proteger a sua própria existência desde que tal
     protecção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda
     Lei.
Formuladas por Isaac Asimov. Fonte: www.wikipedia.org
                         LEIS DE CLARKE
1.    Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é
      possível, quase de certeza que tem razão. Quando ele diz que
      algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.
2.    O único caminho para desvendar os limites do possível é
      aventurar-se além dele, através do impossível.
3.    Qualquer     tecnologia      suficientemente   avançada    é
      indistinguível de magia.
                                                                             Pablo Picasso, Woman with Book.
Formuladas por Arthur C. Clarke. Fonte: www.wikipedia.org
Tomámos a Vila depois de um Intenso Bombardeamento

                                                                                A criança loura
                                                                                Jaz no meio da rua.
                                                                                Tem as tripas de fora
                                                                                E por uma corda sua
                                                                                Um comboio que ignora.

                                                                                A cara está um feixe
                                                                                De sangue e de nada.
                                                                                Luz um pequeno peixe
                                                                                — Dos que bóiam nas banheiras —
                                                                                À beira da estrada.

                                                                                Cai sobre a estrada o escuro.
                                                                                Longe, ainda uma luz doura
                                                                                A criação do futuro...

                                                                                E o da criança loura?            Fernando Pessoa, in Cancioneiro

                                                                                                                   A Guerra
                                                                                                        E tropeçavam todos nalgum vulto,
                                                                                                        quantos iam, febris, para morrer:
                                                                                                        era o passado, o seu passado — um vulto
                                                                                                        de esfinge ou de mulher.

                                                                                                        Caíam como heróis os que não o eram,
                                                                                                        pesados de infortúnio e solidão.
                         © W. T. Benda, Woman's Home Companion, January 1936.                           (Arma secreta em cada coração:
Propriedade
                                                                                                        a tortura de tudo o que perderam.)
Sei que nada me é pertencente
Além do livre pensamento                                                                                Inimigos não tinham a não ser
                                                                                                        aquela nostalgia que era deles.
Que da alma me quer brotar,                                                                             Mas lutavam!, sonâmbulos, imbeles,
E cada amigável momento                                                                                 só na esp'rança de ver, de ver e ter
Que um destino bem-querente                                                                             de novo aquele vulto
A fundo me deixa gozar.                                                                                 — imponderável e oculto —
                                                                                                        de esfinge, ou de mulher.
Johann Wolfgang von Goethe,
in Canções. Tradução de Paulo Quintela                                                                  David Mourão-Ferreira, in Tempestade de Verão
BARCA BELA

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
                                  John William Waterhouse,
Que perdido é remo e vela             A Mermaid, 1901.
Só de vê-la,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!
Almeida Garrett, Folhas Caídas.




                                                             Edmund Blair Leighton, Stitching the Standard.
Ulisses
                                                                    O mito é o nada que é tudo.
                                                                    O mesmo sol que abre os céus
                                                                    É um mito brilhante e mudo —
                                                                    O corpo morto de Deus,
                                                                    Vivo e desnudo.

                                                                    Este, que aqui aportou,
                                                                    Foi por não ser existindo.
                                                                    Sem existir nos bastou.
                                                                    Por não ter vindo foi vindo
                                                                    E nos criou.

                                                                    Assim a lenda se escorre
             Zeus e Apolo                                           A entrar na realidade,
   Os deuses Zeus e Apolo estavam a                                 E a fecundá-la decorre.
disputar a sua perícia com o arco e a                               Em baixo, a vida, metade
flecha. Apolo, esticando quanto pôde a                              De nada, morre.
corda de seu arco, lançou uma flecha.                                      Fernando Pessoa, Ulisses in Mensagem, 1934.
Zeus deu um só passo chegando com a
sua perna tão longe quanto a flecha
lançada por Apolo.                        Esopo, Fábulas, edição
                                          manuscrita de finais do
   Isto é o que acontece àqueles que         séc. XIV com 147
lutam contra adversários mais fortes:     miniaturas. Biblioteca
além de não atingi-los, ainda se expõem      Universitária de
                                              Bolonha, Itália.
ao riso dos outros.
    Esopo, Fábulas, Século VI a.C.
Albert Gustaf Aristides Edelfelt, 1854-1905, Good Friends –
       Portrait of Bertha Edelfelt, artist's sister, 1881.


            A BELEZA É UM OCEANO

            A beleza é um oceano
            Aonde o olhar se perde
            E regressa
            Transfigurado.
            Alberto de Lacerda in Horizonte.
                                                              Henrique Pousão, 1859 - 1884, Cecília.
As Linhas do Tempo

                                                                                Do meu rosto ao teu vão caminhos
                                                                                Viagens e gestos,
                                                                                Lugares e passos que cada um deu a sós.

                                                                                Entre o teu olhar e o meu
                                                                                Corre um rio que nos une e separa.
                                                                                Navegamos e caminhamos,
                                                                                Contidos pelas mesmas margens
                                                                                Rumo ao mesmo ignoto horizonte.

                                                                                Entre as minhas mãos e as tuas
                                                                                Vivem memórias
                                                                                Tão vivas e tão transcendentes
                                                                                Como se tudo o que já foi
                                                                                Fosse ainda mais real agora.

                                                                                Não há fronteiras nesta viagem,
                                                                                Todos os países pertencem ao mesmo universo.

                                                                                Entre a minha voz e o teu silêncio
                                                                                Vives tão eterno como sempre foste,
                                                                                Gota perdida na teia do tempo.

                                                                                Quebrou-se a linha.
                                                                                Ficas para sempre
                                                                                Ilha cintilante
                                                                                No fugidio mapa do tempo…
     Madeira, fotografia de Kim / Joaquim M. E. Ludovino, 3/1/1960-30/1/2011.

Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.                                             Suy / São Ludovino, 16/3/2011
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

                     Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos (excerto)
DEDUÇÃO

                                   Não acabarão nunca com o amor,
                                   nem as rusgas,
                                   nem a distância.
                                   Está provado,
                                   pensado,
                                   verificado.
                                   Aqui levanto solene
                                   minha estrofe de mil dedos
                                   e faço o juramento:
                                   Amo
                                   firme,
                                   fiel
                                   e verdadeiramente.

                                   Vladimir Maiakóvski, 1893-1930.
            ANATOMIA
Nos demais,
todos o sabem,
o coração tem moradia certa,
exactamente aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração.

 Vladimir Maiakóvski, 1893-1930.




                                                                                © Trisha Lambi, Biding Time, 2009.


                              © Cassandra Christensen Barney, The Engagement.
A CAMINHADA MAIS LONGA
                       © Alfredo Sanchez, Mexico, The Link.
                                                              A caminhada mais longa
                                                              É a despedida
DESPERTAR É PRECISO                                           Muito breve que seja

Na primeira noite eles aproximam-se                           A caminhada mais longa
e colhem uma Flor do nosso jardim                             É a despedida
e não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;                         Partiste
pisam as flores, matam o nosso cão,                           Ficou tudo
e não dizemos nada.                                           Por dizer
Até que um dia o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,                                  Quase tudo
rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.                                Partiste
E porque não dissemos nada,                                   Como é possível
Já não podemos dizer nada.                                    Interromper
                                                              A eternidade?
                      Vladimir Maiakovski, 1893-1930.         New York, 8 de Junho 98
                                                              Alberto de Lacerda in Horizonte.
Oak – www.etsy.com

              JUSTIÇA
                 (1907)
Segundo eu suponho, houve um país
Onde todos tinham torto o nariz.

E o nariz torto de cada um
Não entristecia, de modo nenhum

Mas neste país um homem nasceu
Com nariz direito e assim cresceu;

Os homens, por ódio, nesse país
Mataram o homem do belo nariz.
                                                              François-Joseph Navez, 1787-1869, The Embrace.
Alexander Search, heterónimo de Fernando Pessoa in Poesias
ACORDA DO SONO, ACORDA
                                                                                                   (1908)
                                                                                          Acorda do sono, acorda
                                                                                          E ouve a minha canção;
                                                                                          Eu canto as coisas que choro
                                                                                          E as que um desejo são.
                                                                                          Este é o fim do meu fundo cantar
                                                                                          Este e o ódio de errar.

                                                                                          Acorda, acorda a ouvir
                                                                                          Minh'alma em ais derramada;
                                                                                          Como o medo, a humana dor
                                                                                          Em meu coração é negada,
                                                                                          Com pena a pulsar e fraterno sentir
                                                                                          Que o choro aos olhos faz vir.

                                                                                          Acorda, acorda que a noite
                                                                                          É pura e de todo sai
                                                                                          Das coisas comuns à vista.
                                                                                          Acorda, que a lua cai
                                                                                          Qual sonho por sobre o lago. Onde há luar
                                                                                          Algo forte me faz lembrar.

                                                                                          Acorda, acorda, que a lua
                                                                                          Quer trazer-me uma canção
                                                                                          Profunda, que guarde em si
                                                                                          O rasto do seu clarão.
                                                                                          Mas se essa canção profunda eu não canto
                                                                                          Ah, dorme, dorme entretanto!

                                                                                             Alexander Search, heterónimo de Fernando Pessoa in Poesias.

                                                                                                                             EPIGRAMA
© Alvin Ailey Dance Teatre.                                                                                 «Eu amo os meus sonhos», disse eu para alguém
                                                                                                            Prosaico, em manhã de inverno, que com desdém
                 MADRIGAL                               BALANÇA                                             Replicou: «Não sou escravo de Ideal
                                                                                                            E, como gente sensata, amo o Real.»
 Tu já tinhas um nome, e eu não sei          No prato da balança um verso basta                             Pobre tolo, o ser e o parecer trocando —
 se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.      para pesar no outro a minha vida.                              É que eu amo o Real meus sonhos amando.
 Nos meus versos chamar-te-ei amor.
                                                                                                            Alexander Search, heterónimo de Fernando Pessoa
 Eugénio de Andrade in As Mãos e os Frutos. Eugénio de Andrade in Ofício de Paciência.                      in Poesia Inglesa.
© Davidagall, Webshots, Deer, 2009


                        O PAPÃO

As crianças têm medo à noite, às horas mortas,
Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,
Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias da infância, ó velha humanidade,
Que tu também tens medo ao bárbaro papão,
Que ruge pela boca enorme do trovão,
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que não faz a barba há seis mil anos,
E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima, detrás da porta do infinito!                           Fedinand Georg Waldmüller, 1793-1865, Austrian painter,
                                                                  Young Peasant Woman with Three Children at the Window, 1840.
Guerra Junqueiro, O Papão.
BALADA DA NEVE
                                                                                           E descalcinhos, doridos...
                                                         Batem leve, levemente,            a neve deixa inda vê-los,
                                                         como quem chama por mim.          primeiro, bem definidos,
                                                         Será chuva? Será gente?           depois, em sulcos compridos,
                                                         Gente não é, certamente           porque não podia erguê-los!...
                                                         e a chuva não bate assim.
                                                                                           Que quem já é pecador
                                                         É talvez a ventania:              sofra tormentos, enfim!
                                                         mas há pouco, há poucochinho,     Mas as crianças, Senhor,
                                                         nem uma agulha bulia              porque lhes dais tanta dor?!...
                                                         na quieta melancolia              Porque padecem assim?!...
                                                         dos pinheiros do caminho...
                                                                                           E uma infinita tristeza,
                                                         Quem bate, assim, levemente,      uma funda turbação
                                                         com tão estranha leveza,          entra em mim, fica em mim presa.
                                                         que mal se ouve, mal se sente?    Cai neve na Natureza
                                                         Não é chuva, nem é gente,         e cai no meu coração.
© Gianni Strino                                          nem é vento com certeza.
                                                                                           Augusto Gil, Balada da Neve
                                                         Fui ver. A neve caía
                                  HÁ DIAS                do azul cinzento do céu,
                                                         branca e leve, branca e fria...
                  Há dias em que julgamos                Há quanto tempo a não via!
                  que todo o lixo do mundo nos cai       E que saudades, Deus meu!
                  em cima. Depois
                  ao chegarmos à varanda avistamos       Olho-a através da vidraça.
                  as crianças correndo no molhe          Pôs tudo da cor do linho.
                  enquanto cantam.                       Passa gente e, quando passa,
                                                         os passos imprime e traça
                  Não lhes sei o nome. Uma
                                                         na brancura do caminho...
                  ou outra parece-se comigo.
                  Quero eu dizer: com o que fui          Fico olhando esses sinais
                  quando cheguei a ser                   da pobre gente que avança,
                  luminosa presença da graça             e noto, por entre os mais,
                  ou da alegria.                         os traços miniaturais
                                                         duns pezitos de criança...
                  Jorge de Sena in Os Lugares do Lume.
Albrecht Frans Lieven Vriendt, 1843-1900, His Move, n.d.
   INDIFERENÇA

Ora diz-me a verdade:
Tu já sentiste por mim
Uma sombra de saudade,
De amor. de ciúme; enfim,
Uma impressão que indicasse
Haver em teu coração
Fibra, corda que vibrasse,
A minha recordação?
Parece, mas o contrário;
Sim o que devo supor
É deserto e solitário
O teu coração de amor!
Não digo por outro; invejo
Talvez a sorte de alguém...
Mas o que eu sei, o que eu vejo,                                Jules Josephe Lefebvre, 1836-1911, Clemence Isaure, n.d.

É que me não queres bem!
João de Deus in Odes e Canções.
Edward Robert Hughes, The Princess out of School.
               A VIDA
                  (excerto)
          A vida é o dia de hoje,
          A vida é ai que mal soa,
          A vida é sombra que foge,
          A vida é nuvem que voa;
          A vida é sonho tão leve
          Que se desfaz como a neve
          E como o fumo se esvai:                                                Edmund Blair Leighton, Tristan and Isolde.
          A vida dura um momento,                   QUANDO FORES VELHA
          Mais leve que o pensamento,
          A vida leva-a o vento,                    Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
          A vida é folha que cai!                   Dormitando junto à lareira, toma este livro,
                                                    Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
          A vida é flor na corrente,                Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
          A vida é sopro suave,
          A vida é estrela cadente,                 Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
          Voa mais leve que a ave;                  Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
          Onda que o vento nos mares.               Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
          Uma após outra lançou,                    E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
          A vida — pena caída
          Da asa de ave ferida —                    Inclinada sobre o ferro incandescente,
          De vale em vale impelida                  Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
          A vida o vento a levou!                   E em largos passos galgou as montanhas
                                                    Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
          João de Deus in Elegias
                                                    William Butler Yeats, 1865-1939
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Lamego
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                 RUMO A BIZÂNCIO - Parte III
Oh, sábios que estais no sagrado fogo de Deus
Qual dourado mosaico sobre um muro,
Vinde desse fogo sagrado, roda que gira,
E sede os mestres do meu canto, da minha alma.
Devorai este meu coração; doente de desejo
E atado a um animal agonizante                                       Agnolo Bronzino, 1503-1572, Lucrezia di Cosimo, 1555-65.
Ele não sabe o que é; juntai-me
Ao artifício da eternidade.        William Butler Yeats, 1865-1939
Charles Edward Perugini, 1839-1918, In the Orangery, n.d.
                                                                                AEDH DESEJA OS TECIDOS DOS CÉUS

                                                                      Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
                      Charles Spencelayh, 1865-1958, The Collector.   Ornamentados com luz dourada e prateada,
               COM O TEMPO A SABEDORIA                                Os azuis e negros e pálidos tecidos
                                                                      Da noite, da luz e da meia-luz,
Embora muitas sejam as folhas, a raiz é só uma;
                                                                      Os estenderia sob os teus pés.
Ao longo dos enganadores dias da mocidade,
                                                                      Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Oscilaram ao sol minhas folhas, minhas flores;
                                                                      Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Agora posso murchar no coração da verdade.
                                                                      Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.
                                  William Butler Yeats, 1865-1939
                                                                                                             William Butler Yeats, 1865-1939
Pierre van Boucle, c1610- 1673, Still-Life, n.d.


               RUMO A BIZÂNCIO – Parte I

Este país não é para velhos. Jovens
Abraçados, pássaros que nas árvores cantam
- essas gerações moribundas -
Cascatas de salmões, mares de cavalas,
Peixe, carne, ave, celebrando ao longo do Verão
Tudo quanto se engendra, nasce e morre.
Prisioneiros de tão sensual música todos abandonam
Os monumentos de intemporal saber.

             William Butler Yeats, 1865-1939

                                                                        Ambrosius Bosschaert, the Elder, 1573-1621, Bouquet in an Arched Window, c. 1618.
© Evan Wilson, Lilacs in a White Vase.      © Evan Wilson, Mending the Kimono, 2006.
                                                                                             UMA CAPA
               RUMO A BIZÂNCIO – Parte IV
                                                                            Uma capa fiz do meu canto
Da natureza liberto jamais de natural coisa                                 Debaixo a cima
Retomarei minha forma, meu corpo,                                           Bordada
Mas formas outras como as que o ourives grego                               De antigas mitologias;
Em ouro forja e esmalta em ouro                                             Mas tomaram-na os tolos
                                                                            Para exibi-la ao mundo
Para que o sonolento Imperador não adormeça;
                                                                            Como se por eles fora lavrada.
Ou em dourado ramo pousado, cantarei                                        Deixa, canto, que a tomem
Para damas e senhores de Bizâncio                                           Pois maior feito existe
Cantarei o que passou, o que passa, ou o que virá                           Em andar nu.
                                 William Butler Yeats, 1865-1939                                      William Butler Yeats, 1865-1939
© Wil Wilson, Hardwired, 2008.

O VIANDANTE

Trago notícias da fome
que corre nos campos tristes:
soltou-se a fúria do vento
e tu, miséria, persistes.
Tristes notícias vos dou:
caíram espigas da haste,
foi-se o galope do vento
e tu, miséria, ficaste.
Foi-se a noite, foi-se o dia,
fugiu a cor às estrelas:                                           © Wade Schuman, Bird on Egg, 2006.
e, estrela nos campos tristes,
só tu, miséria, nos velas.
                                 Carlos de Oliveira in Mãe Pobre
© Chad Davis, The Conspicuous Roller - www.fineartamerica.com

A conspicuous flower by © Azaya - www.azaya.deviantart.com                   ENTRA PELA JANELA

                                                                             Entra pela janela
 INTERMEZZO                                                                  o anjo camponês;
                                                                             com a terceira luz na mão;
 Hoje não posso ver ninguém:                                                 minucioso, habituado
 sofro pela Humanidade.                                                      aos interiores de cereal,
 Não é por ti.                                                               aos utensílios
 Nem por ti.                                                                 que dormem na fuligem;
 Nem por ti.                                                                 os seus olhos rurais
 Nem por ninguém.                                                            não compreendem bem os símbolos
 É por alguém.                                                               desta colheita: hélices,
 Alguém que não é ninguém                                                    motores furiosos;
 mas que é toda a humanidade.
                                                                             e estende mais o braço; planta
                                                                             no ar, como uma árvore,
                                                                             a chama do candeeiro.
           António Gedeão in Movimento Perpétuo, 1956.
                                                                                     Carlos de Oliveira in Entre Duas Memórias
© Wil Wilson, Pansies, 2005.


                  TUDO PODE TENTAR-ME
Tudo pode tentar-me a que me afaste deste ofício do verso:
Outrora foi o rosto de uma mulher, ou pior —
As aparentes exigências do meu país regido por tolos;
Agora nada melhor vem à minha mão
Do que este trabalho habitual. Quando jovem,
Não daria um centavo por uma canção
Que o poeta não cantasse de tal maneira
Que parecesse ter uma espada nos seus aposentos;
Mas hoje seria, cumprido fosse o meu desejo,
Mais frio e mudo e surdo que um peixe.
                                                                    © Wil Wilson, Entr'acte, 1998.
                                William Butler Yeats, 1865-1939
© Wil Wilson, Broken Home, 2000.
FORMA DE INOCÊNCIA

Hei-de morrer inocente
exactamente
como nasci.
Sem nunca ter descoberto
o que há de falso ou de certo
no que vi.

Entre mim e a Evidência
                                                                                         © Wil Wilson, Bouquet for Beverly, 2008.
paira uma névoa cinzenta.
Uma forma de inocência,
que apoquenta.                                                                         A ESPORA
                                                                      Parece-te horrível que luxúria e ira
Mais que apoquenta:                                                   Cortejem a minha velhice;
enregela                                                              Quando jovem não me flagelavam assim;
como um gume                                                          Que mais tenho eu que me esporeie até cantar?
vertical.
E uma espécie de ciúme                                                                          William Butler Yeats, 1865-1939
de não poder ser igual. António Gedeão in Movimento Perpétuo, 1956.
CÂNTICO DA SEDE
                   IV
Sabemos bem de mais o que sentimos,
Sabemos, todos sem excepção,
Que somos seres eleitos.
Somos senhores de um só reino,
Imperadores de uma só vontade.
Sabemos, sem equívocos,
O que queremos em cada momento.
Sabemos quem amamos e quem odiamos,
Sabemos que somos heróis e cobardes.
Somos, todos sem excepção,
Exímios fingidores.
Sabemos inventar deixas
Acutilantes, irresistíveis de veludo,
Compor diálogos como sinfonias
Com contrapontos e fugas exactas,
Solilóquios de amor e silêncio.
Sabemos pedir, exigir, implorar,
Dar, entregar.
                                                     Simon Williams, Bird.
Criamos mundos infinitos
Que não sabemos decifrar nem domar.
Damos a vida, tiramos a vida
Com toda a perícia,
Sem uma única gota de sangue.
Rasgamos o peito amado
Só para conhecer um novo vértice do prisma do amor.
Entregamos tudo o que julgamos ser
Para ver o que seríamos se fôssemos o outro ou nada.
Num ou noutro instante,
Todos somos os seres mais felizes do universo.
Só não sabemos amar como deuses
E morrer como as plantas...
                                                                             © Evan Wilson, The Recorder Player.
                                     Suy / São Ludovino, 12/6/1993
© Evan Wilson, Amaryllis.                                                                    © Evan Wilson, Bigleaf Magnolias.
                A ESCRITA É UMA VIAGEM
                                                                               ECOS DO INFINITO PESSOA
                                                                   Não que eu procure o fim ou os confins de alguma esfera
    Como numa longa caminhada que se faz por acaso do
                                                               ou a fronteira entre dois oceanos que partilham as mesmas
gosto, saio de mim para o mundo como a borboleta para o
                                                               águas, não que esteja cansado de descobrir ilhas que se
efémero dia. Eu que invento ou descubro dias dentro do dia
                                                               assemelham a universos infinitos e continentes que cabem na
mais trivial, e em cada dia dou voltas em torno de mim, e em
                                                               palma da mão. Nenhum rumo definido ou mapa límpido e
cada volta circum-navego o mundo sem lhe achar princípio
                                                               circunscrito basta ao meu viajar. Quero somente prosseguir
nem fim; pois que não o há em viagem circular nem em
                                                               caminho na companhia de tudo o que cabe e sempre houve
errante demanda.
                                                               dentro de mim.
                              Suy / São Ludovino, 12/4/2008                                    Suy / São Ludovino, 12/4/2008
Fanny Brennan, 1921-2001, The Visitor.


          OS TÍTULOS E O DEVIR
              Parte I (excerto)

Que te falta
Senão tu mesmo
Para seres
Segismundo, o mundo.
O mundo, Segismundo!
Quem te negou esse colosso de mistérios?
Quem esquartejou a tranquila escadaria
Da capela da tua infância?
O mundo, Segismundo!
Que lábios tocaram os teus olhos
E cravaram grades em todas as tuas janelas?
O mundo, Segismundo!
O mundo é um deus ateu.
                                                           Kate Perugini, 1839-1929, Portrait of Agnes Pheobe Burra, n.d.
Não creias nele
Que ele não crê em ti…
                        Suy / São Ludovino, 19/8/1993
© Han-Wu Shen, 1950-..., Autumn Harvest, n.d.
OS TÍTULOS E O DEVIR
    Parte I (excerto)
Cada verdadeiro poema
É a verdadeira sombra                                               © Han-Wu Shen, 1950-..., Waiting for Someone, n.d.
Seiva
Silhueta
Alma                                                                                     OS TÍTULOS E O DEVIR
Raiz                                                                                         Parte I (excerto)
De cada um
E da humanidade                                                                Amo todos os poetas que se parecem comigo
São árvores                                                                    Mas amo igualmente os que escreveram
Com velhos por baixo                                                           O que eu nunca escreveria
À espera de Godot                                                              Completam-me
São mãos complexas
Amassando o pão
                                                                               Como o tempo completa a eternidade
Nos parapeitos do tempo
São cores completas                                                                                       Suy / São Ludovino, 19/8/1993
Pintando a vida
Em infindáveis murais de vento    Suy / São Ludovino, 19/8/1993
© Malcolm Brown, Reading, 2005.
PRIVATIZADO
Privatizaram a tua vida, o teu trabalho,
a tua hora de amar e o teu direito de pensar.
É da empresa privada o teu passo em frente,
o teu pão e o teu salário.
E agora não contentes querem privatizar o conhecimento,
a sabedoria, o pensamento,                                      © Peter Ferguson.
que só à humanidade pertence.
                           Bertold Brecht in Poemas 1913-1956
A BENÇÃO DA LOCOMOTIVA                  JOGO DO LENÇO

A obra está completa. A máquina flameja,           Trago no bolso do peito
                                                   Um lenço de seda fina,
Desenrolando o fumo em ondas pelo ar.
                                                   Dobrado de certo jeito.
Mas, antes de partir mandem chamar a Igreja,
                                                   Não sei quem tanto lhe ensina
Que é preciso que um bispo a venha baptizar.       Que quanto faz é bem feito.
Como ela é com certeza o fruto de Caim,            Acena nas despedidas,
A filha da razão, da independência humana,         Quando a voz já lá não chega
Botem-lhe na fornalha uns trechos em latim,        Por distâncias desmedidas.
E convertam-na à fé Católica Romana.               Depois, no bolso aconchega
                                                   As saudades permitidas.
Devem nela existir diabólicos pecados,
Porque é feita de cobre e ferro; e estes metais    Também o suor salgado,
Saem da natureza, ímpios, excomungados,            Às vezes, enxugo a medo,
Como saímos nós dos ventres maternais!             Que o lenço é mal empregado.
                                                   E quando me feri um dedo,
Vamos, esconjurai-lhes o demo que ela encerra,     Com ele o trouxe ligado.
Extraí a heresia ao aço lampejante!
                                                   Nunca mais chegava ao fim
Ela acaba de vir das forjas d'Inglaterra,          Se as graças todas dissesse
E há-de ser com certeza um pouco protestante.      Deste meu lenço e de mim,
                                                   Mas uma coisa acontece
Para que o monstro corra em férvido galope,
                                                   De que não sei porque sim:
Como um sonho febril, num doido turbilhão,
Além do maquinista é necessário o hissope,         Quando os meus olhos molhados
E muita teologia... além de algum carvão.          Pedem auxílio do lenço,
                                                   São pedidos escusados.
Atirem-lhe uma hóstia à boca fumarenta,            E é bem por isso que penso
Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar,   Que os meus olhos, se molhados,
E lancem na caldeira um jorro d'água benta,        Só se enxugam no teu lenço.
                                                                                       José Saramago
Que com água do céu talvez não possa andar.                                        in Os Poemas Possíveis
Guerra Junqueiro, A Bênção da Locomotiva.
© Louise Camille Fenne
AVE OCULTA
A ave que voa ante o teu olhar
Não é tua
Não são tuas as asas
Que pensas conquistar
Não é teu o dom
De olhar o horizonte
De onde as montanhas vislumbram
A profunda caverna
E o extenso mar.
A ave que pousa nas tuas mãos
É apenas o espelho que não ousas olhar.
Olha além sobre as bétulas
Um pedaço de ti esvoaça no poente
E tu não sabes quem é
Essa ave que não pousa nas tuas mãos
Nem te revela o segredo do seu voar.                                           © Louise Camille Fenne
Quem serias afinal — ave oculta —
Se não tivesses medo de voar?           Suy / São Ludovino , 9/4/2011 – 2:43
© Arian, Earth.
BALADA DAS COISAS E NÃO

Há coisas na vida mais belas que a vida
coisas terríveis tão belas ocultas
que coisas não são                                                            © James C. Christensen, The Tie That Binds.
sabemos acaso os nomes o gesto                                         VITA BREVIS
de incerta presença
sorriso mais vago                                            A vida é breve mas que a faz mais breve
perfume sonhado                                              não é morrer-se nem morrer quem foi
sombras solenes                                              connosco nela espaço forma e tempo.
luzeiros tremendo                                            Que mais que a morte a humanidade encurta
ah não                                                       e torna mais estreita a nossa vida.
sentir não sentimos                                          Só brevemente e por um breve instante
pensar não pensamos                                          seu corpo nos concede. E brevemente
nem mesmo que é nada                                         é que pensar deseja que existimos.
se é belo ou não belo                                        Antes de mortos, antes de sozinhos
se parte se fica                                             e apenas visitados de memórias,
se é excesso ou se é rosto                                   já todos somos um jornal antigo
há coisas terríveis                                          deitado fora sem sequer ser lido,
estranhas não são                                            ou somos uma imagem desenhada
alheias dispersas                                            na borda do passeio em que se exibem
talvez também não                                            pisando-a com os pés com que desenham
mais belas que a vida                                        seus mesmos rostos que outros pés já pisam
que a vida perdida                                           A vida é breve, breve, mas mais breve
ansiosa ou maldita                                           quanto a quer breve a estupidez humana
diremos acaso que nomes que gesto                            fiel ao tempo ainda em que de espaço
mas quais e por quê?...                                      o tempo se fazia e o pouco espaço
Ah não                                                       na terra imensa a todos não chegava
                          Jorge de Sena in Pedra Filosofal                                       Jorge de Sena in Exorcismos
© Cassandra Christensen Barney

  BREVE HISTÓRIA DE UM REINO SEM PRÍNCIPE

No quarto ao lado
Dorme o príncipe de outras terras
Senhor de um reino
Onde as casas têm um sol
Em cada janela
É amado pelos seus súbditos
Não porque tenha aprendido a reinar
Nalgum compêndio de autoridade
Mas porque os seus sonhos
São sempre os mesmos
Enquanto dorme e ao acordar.
Desde criança tem apenas um desejo:
O de ser transparente como o cristal.
No quarto ao lado
Desperta um príncipe
Que já encontrei nos campos e nas aldeias.
Tão perto dorme e mora
Quão longe deste país a naufragar.
                                                                     © Mark Thompson
                       Suy / São Ludovino , 9/4/2011 – 3:26
© Wil Wilson, Pollination, 2007.
                      INSTANTÂNEO COM POSE

                      Sou um velho e uma criança
                      A quem todos fazem mal
                      (Eu próprio, como vós todos...)                                 © Wil Wilson, Sisters, 2000.
                      E é cobarde!,
                      E é desleal!:                                                                                DECLARAÇÃO
                      Criança, ainda me não defendo;
                      E velho, ai! não me defendo já!                                                    Teorias são brinquedos
                      São mentiras, são momentos,                                                        Que, por mim, não tomo a sério.
                      O muito mais que em mim há:                                                        Tomo a sério os meus enredos.
                      Cobardes consentimentos                                                            Crer... só sei crer no Mistério.
                      No que não sou, mas pareço,                                                        De doutrinas não me importo!
                      E finjo só parecer,                                                                Sinto-me bem no mar alto.
                      São essas lutas que tento,                                                         Só me recolho ao meu porto.
                      E em que tão logo esmoreço,                                                        Convidam-me, e sempre eu falto.
                      Ridículo combatente                                                                De escolas, não sou aluno.
                      Profundamente
                                                                                                         Se comunico, é em verso.
                      Indiferente
                      A vencer ou a não vencer.                                                          Sou muito diverso,
                                                                                                         E uno.
  José Régio in Poesia II - Obra completa , Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001
                                                                                       José Régio in Poesia II - Obra completa , Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001
Suy / São Ludovino, Lady Butterfly, 9/4/2011

                  A SUPERFÍCIE DA VIDA

Mede os passos que te levam aonde vais.
Mede a distância entre a casa de onde sais
E os muros onde entras.
Calcula a extensão das ruas que já palmilhaste
E das que hás-de palmilhar.
Anota tudo muito bem no teu bloco de notas.
Não te esqueças de nenhum milímetro.
Algures, hás-de encontrar a medida certa,
Aquela que te faz amar a vida acima de todas as coisas,
Sabendo que nela
O sentido íntimo das coisas
Se esconde, indistintamente,
No ponto em que te encontras
E no ponto em que te perdes.

Suy / São Ludovino, 10/4/2011 – 0:58



                                                                          © Cohen Fusé


                       Suy / São Ludovino, Looking & Seeking, 9/4/2011
© Evan Wilson, The Peacock Kimono.
                                                                            APRENDAMOS O RITO

                                                                     Põe na mesa a toalha adamascada,
                                                                     Traz as rosas mais frescas do jardim,
                                                                     Deita o vinho no copo, corta o pão,
                                                                     Com a faca de prata e de marfim.

                                                                     Alguém se veio sentar à tua mesa,
                                                                     Alguém a quem não vês, mas que pressentes.
                                                                     Cruza as mãos no regaço, não perguntes:
                           © Allen N. Lehman, A View to Blue.        Nas perguntas que fazes é que mentes.
DE VIOLETAS SE COBRE O CHÃO QUE PISAS
                                                                     Prova depois o vinho, come o pão,
De violetas se cobre o chão que pisas,                               Rasga a palma da mão no caule agudo,
De aromas de nardo o ar assombra
Nestas recurvas áleas, indecisas
                                                                     Leva as rosas à fronte, cobre os olhos, José Saramago
                                                José Saramago
Olho o céu onde passa a tua sombra.         in Os Poemas Possíveis   Cumpriste o ritual e sabes tudo.       in Os Poemas Possíveis
© Yuriko Takata, Antique Bookcase.   © Yuriko Takata, Antique Bookcase.
TÍTULO: TOMA LÁ! – Série I – 2010-2011
    IMAGENS: Yuriko Takata; William Mulready; Ellen de Groot; Abraham Bloemaert; Cie Shin;
    Sophie Gengembre Anderson; Jennifer; José Roosevelt; Jean-Honoré Fragonard; Braldt Bralds;
    David Orias; Miklós Barabás; Mary Gow; José Ferraz de Almeida Júnior; Amy Hill; Piero di
    Cosimo; Rachell Bess; Lisa G.; Absel Fattah Hallah; William Whitaker; Yuri Studinikin; Joseph Karl
    Stieler; Séraphine de Senlis; Maria Battaglia; Hanjo Schnug; Rowena Morril; Pablo Picasso; W. T.
    Benda; John William Waterhouse; Edmund Blair Leighton; Albert Gustaf Aristides Edelfelt;
    Henrique Pousão; Cassandra Christensen Barney; Trisha Lambi; Alfredo Sanchez; François-Joseph
    Navez; Alvin Ailey Dance Teatre; Davidagall - Webshots; Fedinand Georg Waldmüller; Gianni
    Strino; Albrecht Frans Lieven Vriendt; Jules Josephe Lefebvre; Edward Robert Hughes; Edmund
    Blair Leighton; Agnolo Bronzino; Charles Spencelayh; Charles Edward Perugini; Pierre van Boucle;
    Ambrosius Bosschaert, the Elder; Evan Wilson; Wil Wilson; Wade Schuman; Azaya; Chad Davis;
    Fanny Brennan; Kate Perugini; Han-Wu Shen; Malcolm Brown; Peter Ferguson; Louise Camille
    Fenne; Arian; James C. Christensen; Mark Thompson; Cohen Fusé; Simon Williams; Allen N.
    Lehman; Kim / Joaquim M. E. Ludovino; Suy / São Ludovino.
    TEXTO: Os autores identificados em cada folheto.
    MÚSICA
    Fonte: CD do arquivo pessoal.
    Slide 1 a 54: Enya, Smaointe, do álbum Shepherd Moons, 1991.
    DURAÇÃO: cerca de 6:07 minutos.
    DATA: Setembro / Outubro de 2010.
    SELECÇÃO, ORGANIZAÇÃO E EFEITOS: Suy (Conceição Ludovino).

                                                                                         Suy © 2010
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William Mulready, O Soneto, 1839

  • 1. William Mulready, 1786-1863, O Soneto, 1839. © Yuriko Takata, Antique Bookcase.
  • 2. O Eco Tão tarde. Adão não vem? Aonde iria Adão?! Talvez que fosse à caça; quer fazer surpresas com alguma corça branca lá da floresta. Era p'lo entardecer, e Eva já sentia cuidados por tantas demoras. Foi chamar ao cimo dos rochedos, e uma voz de mulher também, também chamou Adão. Teve medo. Mas julgando fantasia chamou de novo: Adão? E uma voz de mulher também, também chamou Adão. Foi-se triste para a tenda. Adão já tinha vindo e trouxera as setas todas, e a caça era nenhuma! E ele a saudá-la ameaçou-lhe um beijo e ela fugiu-lhe. - Outra que não Ela chamara também por Ele. Almada Negreiros, in Frisos - Revista Orpheu nº1 © Ellen de Groot Nostalgia do Presente Naquele preciso momento o homem disse: «O que eu daria pela felicidade de estar ao teu lado na Islândia sob o grande dia imóvel e de repartir o agora como se reparte a música ou o sabor de um fruto.» Naquele preciso momento o homem estava junto dela na Islândia. Fonte: Dover Jorge Luís Borges, in A Cifra. Tradução de Fernando Pinto do Amaral
  • 3. Abraham Bloemaert, 1566-1651, Alegoria do Inverno, 1625-30. © Yuriko Taka, Literature-II.
  • 4. APONTAMENTO O que os homens querem mais ainda O mais importante na vida Além da sua vil mediocridade? É ser-se criador — criar beleza. Incêndios, sangue, — ó cegos visionários Para isso, Sem alma e sem noção da realidade! É necessário pressenti-la Tambores e metralhas e clarins Aonde os nossos olhos não a virem Num cântico sinistro, sem beleza, Eu creio que sonhar o impossível — Embora a vida seja o hálito da morte, É como que ouvir a voz de alguma coisa Uma ilusão de límpida saudade, — Que pede existência e que nos chama de longe. Deixai supor, deixai-vos iludir Sim, o mais importante na vida De que para viver É ser-se criador. Não é preciso matar In As Canções de António Botto, Obras Completas, Vol. I Não é preciso mentir! Pequenas Canções de Cabaret In As Canções de António Botto, Obras Completas, Vol. I Alguns poetas portugueses Em cima: João de Deus, Guerra Junqueiro, Camões e Bocage. Em baixo: Florbela Espanca, Fernando Pessoa, © Cie Shin, Indonesia, Morning Strike. José Régio e António Aleixo.
  • 5. Sophie Gengembre Anderson, 1823-1903, Take the Fair Face of Woman, n.d. «Primeiro, dá aos teus filhos raízes. Sophie Gengembre Anderson, 1823-1903, The Turtle Dove, n.d. Mais tarde, dá-lhes asas.» Provérbio judaico
  • 6. © Jennifer, United States, U- Turn. OLHANDO AS CATARATAS NO MONTE LU Panoramio, Like a Painting - Via www.arcapediacom. A luz do sol queima o Pico do Incenso e faz surgir uma fumaça violeta. O TEMPLO DO CUME De um ponto distante observo a catarata mergulhar no rio imenso. Passo esta noite no Templo do Cume. Vejo as águas em voo descendo mil metros em linha recta Aqui eu poderia apanhar as estrelas com a minha mão. e pergunto-me se não é a Via Láctea que se precipita Não ouso elevar a voz no meio do silêncio, da nona esfera do céu. com medo de perturbar os habitantes do céu. Li Po (ou Li Bai), 701-762. Li Po (ou Li Bai), 701-762.
  • 7. © José Roosevelt, La Bibliothèque Essentielle, 1999. CIÊNCIA POSITIVISTA Ciência, deixa-me só como um menino de alma atónita e pupilas assombradas na Dimensão Ultra dos Contos de Fadas! José Roosevelt, La Bibliothèque Essentielle, 1999. Oh, Ciência que te arrastas num plano unidimensional, como um verme!... Deixa-me no meio de meu mundo astral, Jean-Honoré Fragonard, 1732-1806, Jeune fille à la lecture, 1776. entre os arco-íris da sua esfera de cristal: Meu arco-íris, escada de Jacob que une este mundo com a Quarta Dimensão! Li Po (ou Li Bai), 701-762.
  • 8. FAMILIAR A mãe faz tricô O filho vai à guerra Tudo muito natural acha a mãe E o pai que faz o pai? Negoceia A mulher faz tricô O filho luta na guerra Ele negoceia Tudo muito natural acha o pai E o filho e o filho o que é que o filho acha? Nada absolutamente nada acha o filho O filho sua mãe faz tricô seu pai negoceia ele luta na guerra © David Orias, U. S.A., Little Explorer. Quando tiver terminado a guerra Negociará com o pai PALAVRAS DUM AVESTRUZ TODO GRIS A guerra continua a mãe continua, ela tricota Arrancam-me as penas O pai continua, ele negoceia E eu sofro sem dizer nada: O filho foi morto, ele não continua mais — Sou ave O pai e a mãe vão ao cemitério Bem educada. Tudo muito natural acham o pai e a mãe E, se quisesse, A vida continua, a vida com o tricô, a guerra, os negócios Podia Os negócios, a guerra, o tricô, a guerra Morder-lhes as mãos morenas, Os negócios, os negócios e os negócios A esses A vida com o cemitério. Jacques Prévert in Poemas, 1985. Que sem piedade Me roubam estas penas que me cobrem; E, no entanto, Sem o mais breve gemido, O meu corpo Vai ficando Desguarnecido... Aves de um Parque Real © Braldt Bralds, Evolution of Man. In As Canções de António Botto, Obras Completas, Vol. I
  • 9. Miklós Barabás, 1810-1898, pintor húngaro, Pombo-correio, 1843. Nunca Busquei Viver a Minha Vida Nunca busquei viver a minha vida Mary L. Gow, Fairy Tales, 1880. A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse. Só quis ver como se não tivesse alma Só quis ver como se fosse eterno. Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, in Fragmentos
  • 10. José Ferraz de Almeida Júnior, 1850-1899, Jovem lendo, 1879. Querem uma Luz Melhor que a do Sol! A Criança que Pensa em Fadas Ah! Querem uma luz melhor que a do Sol! A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Querem prados mais verdes do que estes! Age como um deus doente, mas como um deus. Querem flores mais belas do que estas Porque embora afirme que existe o que não existe que vejo! Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me. Sabe que existir existe e não se explica, Mas, se acaso me descontentam, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, O que quero é um sol mais sol Sabe que ser é estar em algum ponto que o Sol, Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer. O que quero é prados mais prados Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa que estes prados, in Poemas Inconjuntos. O que quero é flores mais estas flores que estas flores - Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira! Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa in Poemas Inconjuntos.
  • 11. OS TÍTULOS E O DEVIR Parte I (excerto) A síntese fenomenal Já foi escrita Será escrita de novo E parecerá sempre nova Sempre outra Sendo sempre a mesma Só a equação das palavras muda A essência é sempre a mesma É reconfortante É inquietante este contínuo eco E o cíclico reencontrar Da cadeia infinita de analogias A matriz do ser A infinidade dos dias A repentina compreensão dos enigmas Que movem o homem © Amy Hill, Reader, 2008. O caos e a ordem do universo Suy / São Ludovino, Porto, 19/8/1998 «Muitos não sabem quanto tempo e fadiga custa aprender a ler. Trabalhei nisso 80 anos e não posso dizer que o tenha conseguido.» Johann Wolfgang von Goethe, 1749-1832 Piero di Cosimo, 1462-1521, Sainte Marie Madeleine, 1490.
  • 12. Ondas do mar de Vigo, Ai flores, ai flores do verde pino, se vistes meu amigo! se sabedes novas do meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! ai Deus, e u é? Ondas do mar levado, Ai flores, ai flores do verde ramo, se vistes meu amado! se sabedes novas do meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! ai Deus, e u é? Se vistes meu amigo, Se sabedes novas do meu amigo, o por que eu sospiro! aquel que mentiu do que pôs comigo! E ai Deus, se verrá cedo! ai Deus, e u é? Se vistes meu amado, Trovadores medievais Se sabedes novas do meu amado, por que hei gran cuidado! aquel que mentiu do que mi há jurado! E ai Deus, se verrá cedo! Martin Codax, Ondas do Mar de Vigo, ai Deus, e u é? Cantiga de Amigo, CV 884, CBN 1227 D. Dinis, Flores do Verde Pino, Cantiga de Amigo
  • 13. Afirmam que a vida é breve, Engano, — a vida é comprida: Cabe nela amor eterno E ainda sobeja vida. In As Canções de António Botto, Obras Completas, vol. I © Rachell Bess. «Tiveste a audácia de assumir uma forma humana e estás deliciado. Mas a forma humana passa por dez mil transformações que nunca chegam ao fim. © Lisa G., Les jolis mots. Assim sendo, as tuas alegrias devem ser incontáveis.» Chuang Tsu
  • 14. © Ellen de Groot O Cúmplice Os Meus Livros Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos. Os meus livros (que não sabem que existo) Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta. São uma parte de mim, como este rosto Enganam-me e eu tenho de ser a mentira. De têmporas e olhos já cinzentos Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno. Que em vão vou procurando nos espelhos Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo. E que percorro com a minha mão côncava. O meu alimento é todas as coisas. Não sem alguma lógica amargura O peso exacto do universo, a humilhação, o júbilo. Entendo que as palavras essenciais, Tenho de justificar o que me fere. As que me exprimem, estarão nessas folhas Não importa a minha felicidade ou infelicidade. Que não sabem quem sou, não nas que escrevo. Sou o poeta. Mais vale assim. As vozes desses mortos Dir-me-ão para sempre. Jorge Luis Borges, in A Cifra. Tradução de Fernando Pinto do Amaral Jorge Luís Borges, in A Rosa Profunda
  • 15. © Absel Fattah Hallah, Geba's Dance, 2000. QUE ASSIM TE AFAGUE... Que assim te afague, ó meu Amor, e te ouça A voz divina — como é possível?! Impossível parece sempre a rosa, O rouxinol inconcebível. Johann Wolfgang von Goethe, 1749-1832 © Yuri Studinikin, During Intermission, 2003. © William Whitaker, Trio.
  • 16. Séraphine de Senlis, 1864-1942. Joseph Karl Stieler, 1781–1858, Portrait of Ludwig van Beethoven When Composing The Missa Solemnis, 1820. Séraphine, 2008 Séraphine de Senlis, 1864-1942, Le Bouquet de Feuilles. real. Martin Prevost. «Ó homens que me tendes em conta de rancoroso, insociável e misantropo, como vos enganais. Não conheceis as secretas razões que Séraphine Louis, conhecida como Séraphine de Senlis, foi uma pintora me forçam a parecer deste modo. Meu coração e meu ânimo sentiam- autodidacta francesa, associada ao Neo-Primitivismo (pintura naïf), hoje se desde a infância inclinados para o terno sentimento de carinho e considerada como uma influência determinante na pintura naïve francesa, sempre estive disposto a realizar generosas acções; porém considerai logo seguida por Henri Rousseau. Começou por ser pastora, o que lhe que, de seis anos a esta parte, vivo sujeito a triste enfermidade, permitiu observar demoradamente a Natureza que mais tarde recriaria nas agravada pela ignorância dos médicos. Iludido constantemente, na suas telas onde imperam as folhas, as flores e os frutos. Foi também esperança de uma melhora, fui forçado a enfrentar a realidade da empregada doméstica. rebeldia desse mal, cuja cura, se não for de todo impossível, durará O acaso fez com que um comerciante de arte, Wilhelm Uhde, se tenha talvez anos! Nascido com um temperamento vivo e ardente, sensível instalado em Senlis em 1912 e tenha descoberto a pintura de Séraphine ao mesmo às diversões da sociedade, vi-me obrigado a isolar-me numa contratá-la como empregada doméstica, tinha ela 48 anos. Apesar disso, vida solitária. Por vezes, quis colocar-me acima de tudo, mas fui então viveu pobremente toda a vida e nunca viajou. Os quadros de Séraphine duramente repelido, ao renovar a triste experiência da minha surdez!» comprados por Uhde foram confiscados e vendidos no início da I Guerra Mundial. Só muito mais tarde foram recuperados e apresentados ao público Ludwig van Beethoven, 1770 — 1827, excerto do Testamento de em museus e galerias. Heilingenstadt, feito em 06-10-1802, na localidade austríaca de Séraphine morreu pobre e meia louca num asilo. Martin Provost tirou-a Heilingenstadt. do anonimato em 2008, quando realizou o filme biográfico Séraphine.
  • 17. © Maria Battaglia, The Bird Catcher Papageno Tamino. Hollywood A cada manhã, para ganhar o meu pão © Hanjo Schnug, Transformation, 2002. Vou ao mercado onde mentiras são compradas. Esperançoso, Tomo lugar entre os vendedores. Bertold Brecht in Poemas 1913-1956
  • 18. Aborrecido, passeio Pelas ruas da cidade. A maré vasa. No céu, Deixei agora o Rossio Vão-se apagando as estrelas. Devagar vou-me chegando Um guarda-fiscal dormita E atravesso o Borratém. Xaile, uma blusa, uma saia... Deu meia-noite pausada Na guarita, mas de pé. E oiço a fala dos dois. Um velhote com um cesto No Carmo. Um amigo meu Ele parece uma onda, Passa e tira-me o chapéu. E uma lata vem dizer-me Impetuoso, alagante. Se eu quero beber café. Paro a uma esquina. Esmoreço Ela é um breve bandó Numa saudade que surge Num banco de pedra. Cismo. Num corpito provocante. E ali me fico a cismar Dentro de mim não sei como: E seguem... Ele, encostado, Uma saudade infinita, Em coisa nenhuma... O dia Muito encostado e aquecido Principia a querer ser Misto de choro e revolta. Lá vai como se encontrasse Alguém me chama no escuro: Mais um passo na incerteza Um objecto perdido Das nossas aspirações... Volto a cabeça. A uma porta Que foi milagre encontrá-lo... Fonte: Dover Um vulto mexe. - Sou eu!, As águas do rio a escutar Cortaram além!... E param? Parecem adormecidas... Não fuja, sou eu... - Mas quem? Oiço o rebate de um estalo Retrocedo, não conheço E o dia nasce! Vem triste, E um grito subtil de prece Nublado, fosco, cinzento, A mulher que me chamou. Amedrontada na fuga... Na verdade ninguém ouve, Enquanto pela cidade Desço ao Marquês do Alegrete. A vida acorda e desata Ninguém distingue o apelo Um candeeiro sinistro Do amor que anda perdido O matinal movimento... Numa casa que se aluga... No mistério de mentir: Vejo um polícia. Arrefece. Deixo-a ficar onde estava; Antonio Botto, Reportagem Um grupo de três sujeitos Dou-lhe um cigarro e um sorriso Discute o vinho de Torres. Dizendo que vou dormir. Varrem as ruas. Um gato Atira-me boa-noite Bebe água numa sarjeta; Num frio olhar de ofendida. Uma carroça parou Meto à rua do Amparo Carregada de hortaliça A perguntar se esta vida Junto à Praça da Figueira. Não terá finalidade Corto a rua dos Fanqueiros Menos sórdida e banal? Já um pouco estropiado... Atafonas. Uma Igreja. Acendo um cigarro. A noite Mais acima o Hospital. Lembra um fantasma Um marinheiro propõe assustado... A esta que atravessou Chego ao Terreiro do Paço. A rua do Benformoso O arco da rua Augusta Irem tomar qualquer coisa Parece mais imponente Na Leitaria da Guia. Na minha desolação... Ela pára. É uma catraia Vou até ao cais. Em baixo Que talvez não tenha ainda O rio bate sem reacção... Dezasseis anos. Bonita. Torre de Belém, Lisboa.
  • 19. A Ciência, a ciência, a ciência… A ciência, a ciência, a ciência... Ah, como tudo é nulo e vão! A pobreza da inteligência Ante a riqueza da emoção! Aquela mulher que trabalha Como uma santa em sacrifício, Com tanto esforço dado a ralha! Contra o pensar, que é o meu vício! A ciência! Como é pobre e nada! Rico é o que alma dá e tem. Fernando Pessoa, A Ciência, a ciência, a ciência… in Poesia 1931-1935. © Rowena Morril, Isaac Asimov. AS TRÊS LEIS DA ROBÓTICA 1. Um robot não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2. Um robot deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, excepto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei. 3. Um robot deve proteger a sua própria existência desde que tal protecção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei. Formuladas por Isaac Asimov. Fonte: www.wikipedia.org LEIS DE CLARKE 1. Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, quase de certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado. 2. O único caminho para desvendar os limites do possível é aventurar-se além dele, através do impossível. 3. Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia. Pablo Picasso, Woman with Book. Formuladas por Arthur C. Clarke. Fonte: www.wikipedia.org
  • 20. Tomámos a Vila depois de um Intenso Bombardeamento A criança loura Jaz no meio da rua. Tem as tripas de fora E por uma corda sua Um comboio que ignora. A cara está um feixe De sangue e de nada. Luz um pequeno peixe — Dos que bóiam nas banheiras — À beira da estrada. Cai sobre a estrada o escuro. Longe, ainda uma luz doura A criação do futuro... E o da criança loura? Fernando Pessoa, in Cancioneiro A Guerra E tropeçavam todos nalgum vulto, quantos iam, febris, para morrer: era o passado, o seu passado — um vulto de esfinge ou de mulher. Caíam como heróis os que não o eram, pesados de infortúnio e solidão. © W. T. Benda, Woman's Home Companion, January 1936. (Arma secreta em cada coração: Propriedade a tortura de tudo o que perderam.) Sei que nada me é pertencente Além do livre pensamento Inimigos não tinham a não ser aquela nostalgia que era deles. Que da alma me quer brotar, Mas lutavam!, sonâmbulos, imbeles, E cada amigável momento só na esp'rança de ver, de ver e ter Que um destino bem-querente de novo aquele vulto A fundo me deixa gozar. — imponderável e oculto — de esfinge, ou de mulher. Johann Wolfgang von Goethe, in Canções. Tradução de Paulo Quintela David Mourão-Ferreira, in Tempestade de Verão
  • 21. BARCA BELA Pescador da barca bela, Onde vais pescar com ela, Que é tão bela, Ó pescador? Não vês que a última estrela No céu nublado se vela? Colhe a vela, Ó pescador! Deita o lanço com cautela, Que a sereia canta bela... Mas cautela, Ó pescador! Não se enrede a rede nela, John William Waterhouse, Que perdido é remo e vela A Mermaid, 1901. Só de vê-la, Ó pescador! Pescador da barca bela, Inda é tempo, foge dela, Foge dela, Ó pescador! Almeida Garrett, Folhas Caídas. Edmund Blair Leighton, Stitching the Standard.
  • 22. Ulisses O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo — O corpo morto de Deus, Vivo e desnudo. Este, que aqui aportou, Foi por não ser existindo. Sem existir nos bastou. Por não ter vindo foi vindo E nos criou. Assim a lenda se escorre Zeus e Apolo A entrar na realidade, Os deuses Zeus e Apolo estavam a E a fecundá-la decorre. disputar a sua perícia com o arco e a Em baixo, a vida, metade flecha. Apolo, esticando quanto pôde a De nada, morre. corda de seu arco, lançou uma flecha. Fernando Pessoa, Ulisses in Mensagem, 1934. Zeus deu um só passo chegando com a sua perna tão longe quanto a flecha lançada por Apolo. Esopo, Fábulas, edição manuscrita de finais do Isto é o que acontece àqueles que séc. XIV com 147 lutam contra adversários mais fortes: miniaturas. Biblioteca além de não atingi-los, ainda se expõem Universitária de Bolonha, Itália. ao riso dos outros. Esopo, Fábulas, Século VI a.C.
  • 23. Albert Gustaf Aristides Edelfelt, 1854-1905, Good Friends – Portrait of Bertha Edelfelt, artist's sister, 1881. A BELEZA É UM OCEANO A beleza é um oceano Aonde o olhar se perde E regressa Transfigurado. Alberto de Lacerda in Horizonte. Henrique Pousão, 1859 - 1884, Cecília.
  • 24. As Linhas do Tempo Do meu rosto ao teu vão caminhos Viagens e gestos, Lugares e passos que cada um deu a sós. Entre o teu olhar e o meu Corre um rio que nos une e separa. Navegamos e caminhamos, Contidos pelas mesmas margens Rumo ao mesmo ignoto horizonte. Entre as minhas mãos e as tuas Vivem memórias Tão vivas e tão transcendentes Como se tudo o que já foi Fosse ainda mais real agora. Não há fronteiras nesta viagem, Todos os países pertencem ao mesmo universo. Entre a minha voz e o teu silêncio Vives tão eterno como sempre foste, Gota perdida na teia do tempo. Quebrou-se a linha. Ficas para sempre Ilha cintilante No fugidio mapa do tempo… Madeira, fotografia de Kim / Joaquim M. E. Ludovino, 3/1/1960-30/1/2011. Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza. Suy / São Ludovino, 16/3/2011 Murcha a flor e o seu pó dura sempre. Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua. Passo e fico, como o Universo. Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos (excerto)
  • 25. DEDUÇÃO Não acabarão nunca com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço o juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente. Vladimir Maiakóvski, 1893-1930. ANATOMIA Nos demais, todos o sabem, o coração tem moradia certa, exactamente aqui no meio do peito, mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração. Vladimir Maiakóvski, 1893-1930. © Trisha Lambi, Biding Time, 2009. © Cassandra Christensen Barney, The Engagement.
  • 26. A CAMINHADA MAIS LONGA © Alfredo Sanchez, Mexico, The Link. A caminhada mais longa É a despedida DESPERTAR É PRECISO Muito breve que seja Na primeira noite eles aproximam-se A caminhada mais longa e colhem uma Flor do nosso jardim É a despedida e não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; Partiste pisam as flores, matam o nosso cão, Ficou tudo e não dizemos nada. Por dizer Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, Quase tudo rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. Partiste E porque não dissemos nada, Como é possível Já não podemos dizer nada. Interromper A eternidade? Vladimir Maiakovski, 1893-1930. New York, 8 de Junho 98 Alberto de Lacerda in Horizonte.
  • 27. Oak – www.etsy.com JUSTIÇA (1907) Segundo eu suponho, houve um país Onde todos tinham torto o nariz. E o nariz torto de cada um Não entristecia, de modo nenhum Mas neste país um homem nasceu Com nariz direito e assim cresceu; Os homens, por ódio, nesse país Mataram o homem do belo nariz. François-Joseph Navez, 1787-1869, The Embrace. Alexander Search, heterónimo de Fernando Pessoa in Poesias
  • 28. ACORDA DO SONO, ACORDA (1908) Acorda do sono, acorda E ouve a minha canção; Eu canto as coisas que choro E as que um desejo são. Este é o fim do meu fundo cantar Este e o ódio de errar. Acorda, acorda a ouvir Minh'alma em ais derramada; Como o medo, a humana dor Em meu coração é negada, Com pena a pulsar e fraterno sentir Que o choro aos olhos faz vir. Acorda, acorda que a noite É pura e de todo sai Das coisas comuns à vista. Acorda, que a lua cai Qual sonho por sobre o lago. Onde há luar Algo forte me faz lembrar. Acorda, acorda, que a lua Quer trazer-me uma canção Profunda, que guarde em si O rasto do seu clarão. Mas se essa canção profunda eu não canto Ah, dorme, dorme entretanto! Alexander Search, heterónimo de Fernando Pessoa in Poesias. EPIGRAMA © Alvin Ailey Dance Teatre. «Eu amo os meus sonhos», disse eu para alguém Prosaico, em manhã de inverno, que com desdém MADRIGAL BALANÇA Replicou: «Não sou escravo de Ideal E, como gente sensata, amo o Real.» Tu já tinhas um nome, e eu não sei No prato da balança um verso basta Pobre tolo, o ser e o parecer trocando — se eras fonte ou brisa ou mar ou flor. para pesar no outro a minha vida. É que eu amo o Real meus sonhos amando. Nos meus versos chamar-te-ei amor. Alexander Search, heterónimo de Fernando Pessoa Eugénio de Andrade in As Mãos e os Frutos. Eugénio de Andrade in Ofício de Paciência. in Poesia Inglesa.
  • 29. © Davidagall, Webshots, Deer, 2009 O PAPÃO As crianças têm medo à noite, às horas mortas, Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas, Para as levar no bolso ou no capuz dum frade. Não te rias da infância, ó velha humanidade, Que tu também tens medo ao bárbaro papão, Que ruge pela boca enorme do trovão, Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos, Um papão que não faz a barba há seis mil anos, E que mora, segundo os bonzos têm escrito, Lá em cima, detrás da porta do infinito! Fedinand Georg Waldmüller, 1793-1865, Austrian painter, Young Peasant Woman with Three Children at the Window, 1840. Guerra Junqueiro, O Papão.
  • 30. BALADA DA NEVE E descalcinhos, doridos... Batem leve, levemente, a neve deixa inda vê-los, como quem chama por mim. primeiro, bem definidos, Será chuva? Será gente? depois, em sulcos compridos, Gente não é, certamente porque não podia erguê-los!... e a chuva não bate assim. Que quem já é pecador É talvez a ventania: sofra tormentos, enfim! mas há pouco, há poucochinho, Mas as crianças, Senhor, nem uma agulha bulia porque lhes dais tanta dor?!... na quieta melancolia Porque padecem assim?!... dos pinheiros do caminho... E uma infinita tristeza, Quem bate, assim, levemente, uma funda turbação com tão estranha leveza, entra em mim, fica em mim presa. que mal se ouve, mal se sente? Cai neve na Natureza Não é chuva, nem é gente, e cai no meu coração. © Gianni Strino nem é vento com certeza. Augusto Gil, Balada da Neve Fui ver. A neve caía HÁ DIAS do azul cinzento do céu, branca e leve, branca e fria... Há dias em que julgamos Há quanto tempo a não via! que todo o lixo do mundo nos cai E que saudades, Deus meu! em cima. Depois ao chegarmos à varanda avistamos Olho-a através da vidraça. as crianças correndo no molhe Pôs tudo da cor do linho. enquanto cantam. Passa gente e, quando passa, os passos imprime e traça Não lhes sei o nome. Uma na brancura do caminho... ou outra parece-se comigo. Quero eu dizer: com o que fui Fico olhando esses sinais quando cheguei a ser da pobre gente que avança, luminosa presença da graça e noto, por entre os mais, ou da alegria. os traços miniaturais duns pezitos de criança... Jorge de Sena in Os Lugares do Lume.
  • 31. Albrecht Frans Lieven Vriendt, 1843-1900, His Move, n.d. INDIFERENÇA Ora diz-me a verdade: Tu já sentiste por mim Uma sombra de saudade, De amor. de ciúme; enfim, Uma impressão que indicasse Haver em teu coração Fibra, corda que vibrasse, A minha recordação? Parece, mas o contrário; Sim o que devo supor É deserto e solitário O teu coração de amor! Não digo por outro; invejo Talvez a sorte de alguém... Mas o que eu sei, o que eu vejo, Jules Josephe Lefebvre, 1836-1911, Clemence Isaure, n.d. É que me não queres bem! João de Deus in Odes e Canções.
  • 32. Edward Robert Hughes, The Princess out of School. A VIDA (excerto) A vida é o dia de hoje, A vida é ai que mal soa, A vida é sombra que foge, A vida é nuvem que voa; A vida é sonho tão leve Que se desfaz como a neve E como o fumo se esvai: Edmund Blair Leighton, Tristan and Isolde. A vida dura um momento, QUANDO FORES VELHA Mais leve que o pensamento, A vida leva-a o vento, Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono, A vida é folha que cai! Dormitando junto à lareira, toma este livro, Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar A vida é flor na corrente, Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas; A vida é sopro suave, A vida é estrela cadente, Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto, Voa mais leve que a ave; Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor, Onda que o vento nos mares. Mas apenas um homem amou tua alma peregrina, Uma após outra lançou, E amou as mágoas do teu rosto que mudava; A vida — pena caída Da asa de ave ferida — Inclinada sobre o ferro incandescente, De vale em vale impelida Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou A vida o vento a levou! E em largos passos galgou as montanhas Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas. João de Deus in Elegias William Butler Yeats, 1865-1939
  • 33. Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Lamego -www.travel-in-portugal.com RUMO A BIZÂNCIO - Parte III Oh, sábios que estais no sagrado fogo de Deus Qual dourado mosaico sobre um muro, Vinde desse fogo sagrado, roda que gira, E sede os mestres do meu canto, da minha alma. Devorai este meu coração; doente de desejo E atado a um animal agonizante Agnolo Bronzino, 1503-1572, Lucrezia di Cosimo, 1555-65. Ele não sabe o que é; juntai-me Ao artifício da eternidade. William Butler Yeats, 1865-1939
  • 34. Charles Edward Perugini, 1839-1918, In the Orangery, n.d. AEDH DESEJA OS TECIDOS DOS CÉUS Fossem meus os tecidos bordados dos céus, Charles Spencelayh, 1865-1958, The Collector. Ornamentados com luz dourada e prateada, COM O TEMPO A SABEDORIA Os azuis e negros e pálidos tecidos Da noite, da luz e da meia-luz, Embora muitas sejam as folhas, a raiz é só uma; Os estenderia sob os teus pés. Ao longo dos enganadores dias da mocidade, Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos. Oscilaram ao sol minhas folhas, minhas flores; Eu estendi meus sonhos sob os teus pés Agora posso murchar no coração da verdade. Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos. William Butler Yeats, 1865-1939 William Butler Yeats, 1865-1939
  • 35. Pierre van Boucle, c1610- 1673, Still-Life, n.d. RUMO A BIZÂNCIO – Parte I Este país não é para velhos. Jovens Abraçados, pássaros que nas árvores cantam - essas gerações moribundas - Cascatas de salmões, mares de cavalas, Peixe, carne, ave, celebrando ao longo do Verão Tudo quanto se engendra, nasce e morre. Prisioneiros de tão sensual música todos abandonam Os monumentos de intemporal saber. William Butler Yeats, 1865-1939 Ambrosius Bosschaert, the Elder, 1573-1621, Bouquet in an Arched Window, c. 1618.
  • 36. © Evan Wilson, Lilacs in a White Vase. © Evan Wilson, Mending the Kimono, 2006. UMA CAPA RUMO A BIZÂNCIO – Parte IV Uma capa fiz do meu canto Da natureza liberto jamais de natural coisa Debaixo a cima Retomarei minha forma, meu corpo, Bordada Mas formas outras como as que o ourives grego De antigas mitologias; Em ouro forja e esmalta em ouro Mas tomaram-na os tolos Para exibi-la ao mundo Para que o sonolento Imperador não adormeça; Como se por eles fora lavrada. Ou em dourado ramo pousado, cantarei Deixa, canto, que a tomem Para damas e senhores de Bizâncio Pois maior feito existe Cantarei o que passou, o que passa, ou o que virá Em andar nu. William Butler Yeats, 1865-1939 William Butler Yeats, 1865-1939
  • 37. © Wil Wilson, Hardwired, 2008. O VIANDANTE Trago notícias da fome que corre nos campos tristes: soltou-se a fúria do vento e tu, miséria, persistes. Tristes notícias vos dou: caíram espigas da haste, foi-se o galope do vento e tu, miséria, ficaste. Foi-se a noite, foi-se o dia, fugiu a cor às estrelas: © Wade Schuman, Bird on Egg, 2006. e, estrela nos campos tristes, só tu, miséria, nos velas. Carlos de Oliveira in Mãe Pobre
  • 38. © Chad Davis, The Conspicuous Roller - www.fineartamerica.com A conspicuous flower by © Azaya - www.azaya.deviantart.com ENTRA PELA JANELA Entra pela janela INTERMEZZO o anjo camponês; com a terceira luz na mão; Hoje não posso ver ninguém: minucioso, habituado sofro pela Humanidade. aos interiores de cereal, Não é por ti. aos utensílios Nem por ti. que dormem na fuligem; Nem por ti. os seus olhos rurais Nem por ninguém. não compreendem bem os símbolos É por alguém. desta colheita: hélices, Alguém que não é ninguém motores furiosos; mas que é toda a humanidade. e estende mais o braço; planta no ar, como uma árvore, a chama do candeeiro. António Gedeão in Movimento Perpétuo, 1956. Carlos de Oliveira in Entre Duas Memórias
  • 39. © Wil Wilson, Pansies, 2005. TUDO PODE TENTAR-ME Tudo pode tentar-me a que me afaste deste ofício do verso: Outrora foi o rosto de uma mulher, ou pior — As aparentes exigências do meu país regido por tolos; Agora nada melhor vem à minha mão Do que este trabalho habitual. Quando jovem, Não daria um centavo por uma canção Que o poeta não cantasse de tal maneira Que parecesse ter uma espada nos seus aposentos; Mas hoje seria, cumprido fosse o meu desejo, Mais frio e mudo e surdo que um peixe. © Wil Wilson, Entr'acte, 1998. William Butler Yeats, 1865-1939
  • 40. © Wil Wilson, Broken Home, 2000. FORMA DE INOCÊNCIA Hei-de morrer inocente exactamente como nasci. Sem nunca ter descoberto o que há de falso ou de certo no que vi. Entre mim e a Evidência © Wil Wilson, Bouquet for Beverly, 2008. paira uma névoa cinzenta. Uma forma de inocência, que apoquenta. A ESPORA Parece-te horrível que luxúria e ira Mais que apoquenta: Cortejem a minha velhice; enregela Quando jovem não me flagelavam assim; como um gume Que mais tenho eu que me esporeie até cantar? vertical. E uma espécie de ciúme William Butler Yeats, 1865-1939 de não poder ser igual. António Gedeão in Movimento Perpétuo, 1956.
  • 41. CÂNTICO DA SEDE IV Sabemos bem de mais o que sentimos, Sabemos, todos sem excepção, Que somos seres eleitos. Somos senhores de um só reino, Imperadores de uma só vontade. Sabemos, sem equívocos, O que queremos em cada momento. Sabemos quem amamos e quem odiamos, Sabemos que somos heróis e cobardes. Somos, todos sem excepção, Exímios fingidores. Sabemos inventar deixas Acutilantes, irresistíveis de veludo, Compor diálogos como sinfonias Com contrapontos e fugas exactas, Solilóquios de amor e silêncio. Sabemos pedir, exigir, implorar, Dar, entregar. Simon Williams, Bird. Criamos mundos infinitos Que não sabemos decifrar nem domar. Damos a vida, tiramos a vida Com toda a perícia, Sem uma única gota de sangue. Rasgamos o peito amado Só para conhecer um novo vértice do prisma do amor. Entregamos tudo o que julgamos ser Para ver o que seríamos se fôssemos o outro ou nada. Num ou noutro instante, Todos somos os seres mais felizes do universo. Só não sabemos amar como deuses E morrer como as plantas... © Evan Wilson, The Recorder Player. Suy / São Ludovino, 12/6/1993
  • 42. © Evan Wilson, Amaryllis. © Evan Wilson, Bigleaf Magnolias. A ESCRITA É UMA VIAGEM ECOS DO INFINITO PESSOA Não que eu procure o fim ou os confins de alguma esfera Como numa longa caminhada que se faz por acaso do ou a fronteira entre dois oceanos que partilham as mesmas gosto, saio de mim para o mundo como a borboleta para o águas, não que esteja cansado de descobrir ilhas que se efémero dia. Eu que invento ou descubro dias dentro do dia assemelham a universos infinitos e continentes que cabem na mais trivial, e em cada dia dou voltas em torno de mim, e em palma da mão. Nenhum rumo definido ou mapa límpido e cada volta circum-navego o mundo sem lhe achar princípio circunscrito basta ao meu viajar. Quero somente prosseguir nem fim; pois que não o há em viagem circular nem em caminho na companhia de tudo o que cabe e sempre houve errante demanda. dentro de mim. Suy / São Ludovino, 12/4/2008 Suy / São Ludovino, 12/4/2008
  • 43. Fanny Brennan, 1921-2001, The Visitor. OS TÍTULOS E O DEVIR Parte I (excerto) Que te falta Senão tu mesmo Para seres Segismundo, o mundo. O mundo, Segismundo! Quem te negou esse colosso de mistérios? Quem esquartejou a tranquila escadaria Da capela da tua infância? O mundo, Segismundo! Que lábios tocaram os teus olhos E cravaram grades em todas as tuas janelas? O mundo, Segismundo! O mundo é um deus ateu. Kate Perugini, 1839-1929, Portrait of Agnes Pheobe Burra, n.d. Não creias nele Que ele não crê em ti… Suy / São Ludovino, 19/8/1993
  • 44. © Han-Wu Shen, 1950-..., Autumn Harvest, n.d. OS TÍTULOS E O DEVIR Parte I (excerto) Cada verdadeiro poema É a verdadeira sombra © Han-Wu Shen, 1950-..., Waiting for Someone, n.d. Seiva Silhueta Alma OS TÍTULOS E O DEVIR Raiz Parte I (excerto) De cada um E da humanidade Amo todos os poetas que se parecem comigo São árvores Mas amo igualmente os que escreveram Com velhos por baixo O que eu nunca escreveria À espera de Godot Completam-me São mãos complexas Amassando o pão Como o tempo completa a eternidade Nos parapeitos do tempo São cores completas Suy / São Ludovino, 19/8/1993 Pintando a vida Em infindáveis murais de vento Suy / São Ludovino, 19/8/1993
  • 45. © Malcolm Brown, Reading, 2005. PRIVATIZADO Privatizaram a tua vida, o teu trabalho, a tua hora de amar e o teu direito de pensar. É da empresa privada o teu passo em frente, o teu pão e o teu salário. E agora não contentes querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, © Peter Ferguson. que só à humanidade pertence. Bertold Brecht in Poemas 1913-1956
  • 46. A BENÇÃO DA LOCOMOTIVA JOGO DO LENÇO A obra está completa. A máquina flameja, Trago no bolso do peito Um lenço de seda fina, Desenrolando o fumo em ondas pelo ar. Dobrado de certo jeito. Mas, antes de partir mandem chamar a Igreja, Não sei quem tanto lhe ensina Que é preciso que um bispo a venha baptizar. Que quanto faz é bem feito. Como ela é com certeza o fruto de Caim, Acena nas despedidas, A filha da razão, da independência humana, Quando a voz já lá não chega Botem-lhe na fornalha uns trechos em latim, Por distâncias desmedidas. E convertam-na à fé Católica Romana. Depois, no bolso aconchega As saudades permitidas. Devem nela existir diabólicos pecados, Porque é feita de cobre e ferro; e estes metais Também o suor salgado, Saem da natureza, ímpios, excomungados, Às vezes, enxugo a medo, Como saímos nós dos ventres maternais! Que o lenço é mal empregado. E quando me feri um dedo, Vamos, esconjurai-lhes o demo que ela encerra, Com ele o trouxe ligado. Extraí a heresia ao aço lampejante! Nunca mais chegava ao fim Ela acaba de vir das forjas d'Inglaterra, Se as graças todas dissesse E há-de ser com certeza um pouco protestante. Deste meu lenço e de mim, Mas uma coisa acontece Para que o monstro corra em férvido galope, De que não sei porque sim: Como um sonho febril, num doido turbilhão, Além do maquinista é necessário o hissope, Quando os meus olhos molhados E muita teologia... além de algum carvão. Pedem auxílio do lenço, São pedidos escusados. Atirem-lhe uma hóstia à boca fumarenta, E é bem por isso que penso Preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar, Que os meus olhos, se molhados, E lancem na caldeira um jorro d'água benta, Só se enxugam no teu lenço. José Saramago Que com água do céu talvez não possa andar. in Os Poemas Possíveis Guerra Junqueiro, A Bênção da Locomotiva.
  • 47. © Louise Camille Fenne AVE OCULTA A ave que voa ante o teu olhar Não é tua Não são tuas as asas Que pensas conquistar Não é teu o dom De olhar o horizonte De onde as montanhas vislumbram A profunda caverna E o extenso mar. A ave que pousa nas tuas mãos É apenas o espelho que não ousas olhar. Olha além sobre as bétulas Um pedaço de ti esvoaça no poente E tu não sabes quem é Essa ave que não pousa nas tuas mãos Nem te revela o segredo do seu voar. © Louise Camille Fenne Quem serias afinal — ave oculta — Se não tivesses medo de voar? Suy / São Ludovino , 9/4/2011 – 2:43
  • 48. © Arian, Earth. BALADA DAS COISAS E NÃO Há coisas na vida mais belas que a vida coisas terríveis tão belas ocultas que coisas não são © James C. Christensen, The Tie That Binds. sabemos acaso os nomes o gesto VITA BREVIS de incerta presença sorriso mais vago A vida é breve mas que a faz mais breve perfume sonhado não é morrer-se nem morrer quem foi sombras solenes connosco nela espaço forma e tempo. luzeiros tremendo Que mais que a morte a humanidade encurta ah não e torna mais estreita a nossa vida. sentir não sentimos Só brevemente e por um breve instante pensar não pensamos seu corpo nos concede. E brevemente nem mesmo que é nada é que pensar deseja que existimos. se é belo ou não belo Antes de mortos, antes de sozinhos se parte se fica e apenas visitados de memórias, se é excesso ou se é rosto já todos somos um jornal antigo há coisas terríveis deitado fora sem sequer ser lido, estranhas não são ou somos uma imagem desenhada alheias dispersas na borda do passeio em que se exibem talvez também não pisando-a com os pés com que desenham mais belas que a vida seus mesmos rostos que outros pés já pisam que a vida perdida A vida é breve, breve, mas mais breve ansiosa ou maldita quanto a quer breve a estupidez humana diremos acaso que nomes que gesto fiel ao tempo ainda em que de espaço mas quais e por quê?... o tempo se fazia e o pouco espaço Ah não na terra imensa a todos não chegava Jorge de Sena in Pedra Filosofal Jorge de Sena in Exorcismos
  • 49. © Cassandra Christensen Barney BREVE HISTÓRIA DE UM REINO SEM PRÍNCIPE No quarto ao lado Dorme o príncipe de outras terras Senhor de um reino Onde as casas têm um sol Em cada janela É amado pelos seus súbditos Não porque tenha aprendido a reinar Nalgum compêndio de autoridade Mas porque os seus sonhos São sempre os mesmos Enquanto dorme e ao acordar. Desde criança tem apenas um desejo: O de ser transparente como o cristal. No quarto ao lado Desperta um príncipe Que já encontrei nos campos e nas aldeias. Tão perto dorme e mora Quão longe deste país a naufragar. © Mark Thompson Suy / São Ludovino , 9/4/2011 – 3:26
  • 50. © Wil Wilson, Pollination, 2007. INSTANTÂNEO COM POSE Sou um velho e uma criança A quem todos fazem mal (Eu próprio, como vós todos...) © Wil Wilson, Sisters, 2000. E é cobarde!, E é desleal!: DECLARAÇÃO Criança, ainda me não defendo; E velho, ai! não me defendo já! Teorias são brinquedos São mentiras, são momentos, Que, por mim, não tomo a sério. O muito mais que em mim há: Tomo a sério os meus enredos. Cobardes consentimentos Crer... só sei crer no Mistério. No que não sou, mas pareço, De doutrinas não me importo! E finjo só parecer, Sinto-me bem no mar alto. São essas lutas que tento, Só me recolho ao meu porto. E em que tão logo esmoreço, Convidam-me, e sempre eu falto. Ridículo combatente De escolas, não sou aluno. Profundamente Se comunico, é em verso. Indiferente A vencer ou a não vencer. Sou muito diverso, E uno. José Régio in Poesia II - Obra completa , Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001 José Régio in Poesia II - Obra completa , Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001
  • 51. Suy / São Ludovino, Lady Butterfly, 9/4/2011 A SUPERFÍCIE DA VIDA Mede os passos que te levam aonde vais. Mede a distância entre a casa de onde sais E os muros onde entras. Calcula a extensão das ruas que já palmilhaste E das que hás-de palmilhar. Anota tudo muito bem no teu bloco de notas. Não te esqueças de nenhum milímetro. Algures, hás-de encontrar a medida certa, Aquela que te faz amar a vida acima de todas as coisas, Sabendo que nela O sentido íntimo das coisas Se esconde, indistintamente, No ponto em que te encontras E no ponto em que te perdes. Suy / São Ludovino, 10/4/2011 – 0:58 © Cohen Fusé Suy / São Ludovino, Looking & Seeking, 9/4/2011
  • 52. © Evan Wilson, The Peacock Kimono. APRENDAMOS O RITO Põe na mesa a toalha adamascada, Traz as rosas mais frescas do jardim, Deita o vinho no copo, corta o pão, Com a faca de prata e de marfim. Alguém se veio sentar à tua mesa, Alguém a quem não vês, mas que pressentes. Cruza as mãos no regaço, não perguntes: © Allen N. Lehman, A View to Blue. Nas perguntas que fazes é que mentes. DE VIOLETAS SE COBRE O CHÃO QUE PISAS Prova depois o vinho, come o pão, De violetas se cobre o chão que pisas, Rasga a palma da mão no caule agudo, De aromas de nardo o ar assombra Nestas recurvas áleas, indecisas Leva as rosas à fronte, cobre os olhos, José Saramago José Saramago Olho o céu onde passa a tua sombra. in Os Poemas Possíveis Cumpriste o ritual e sabes tudo. in Os Poemas Possíveis
  • 53. © Yuriko Takata, Antique Bookcase. © Yuriko Takata, Antique Bookcase.
  • 54. TÍTULO: TOMA LÁ! – Série I – 2010-2011 IMAGENS: Yuriko Takata; William Mulready; Ellen de Groot; Abraham Bloemaert; Cie Shin; Sophie Gengembre Anderson; Jennifer; José Roosevelt; Jean-Honoré Fragonard; Braldt Bralds; David Orias; Miklós Barabás; Mary Gow; José Ferraz de Almeida Júnior; Amy Hill; Piero di Cosimo; Rachell Bess; Lisa G.; Absel Fattah Hallah; William Whitaker; Yuri Studinikin; Joseph Karl Stieler; Séraphine de Senlis; Maria Battaglia; Hanjo Schnug; Rowena Morril; Pablo Picasso; W. T. Benda; John William Waterhouse; Edmund Blair Leighton; Albert Gustaf Aristides Edelfelt; Henrique Pousão; Cassandra Christensen Barney; Trisha Lambi; Alfredo Sanchez; François-Joseph Navez; Alvin Ailey Dance Teatre; Davidagall - Webshots; Fedinand Georg Waldmüller; Gianni Strino; Albrecht Frans Lieven Vriendt; Jules Josephe Lefebvre; Edward Robert Hughes; Edmund Blair Leighton; Agnolo Bronzino; Charles Spencelayh; Charles Edward Perugini; Pierre van Boucle; Ambrosius Bosschaert, the Elder; Evan Wilson; Wil Wilson; Wade Schuman; Azaya; Chad Davis; Fanny Brennan; Kate Perugini; Han-Wu Shen; Malcolm Brown; Peter Ferguson; Louise Camille Fenne; Arian; James C. Christensen; Mark Thompson; Cohen Fusé; Simon Williams; Allen N. Lehman; Kim / Joaquim M. E. Ludovino; Suy / São Ludovino. TEXTO: Os autores identificados em cada folheto. MÚSICA Fonte: CD do arquivo pessoal. Slide 1 a 54: Enya, Smaointe, do álbum Shepherd Moons, 1991. DURAÇÃO: cerca de 6:07 minutos. DATA: Setembro / Outubro de 2010. SELECÇÃO, ORGANIZAÇÃO E EFEITOS: Suy (Conceição Ludovino). Suy © 2010 Background - © Allen N. Lehman, My Blue Heaven.