1) A deficiência não torna a vida inferior, mas as pessoas com deficiência geralmente buscam tratamento médico para superá-la quando possível.
2) Afirmações de que as condições sociais, e não a condição física ou intelectual, tornam alguém deficiente distorcem a verdade. Ser capaz de andar, ver, ouvir e comunicar-se bem traz benefícios independentemente das condições sociais.
3) O princípio da igual consideração de interesses, que fundamenta a igualdade entre os seres humanos,
Este documento apresenta um resumo do livro "Ética Prática" de Peter Singer. O livro discute temas éticos importantes como aborto, eutanásia, direitos dos animais, fome no mundo, refugiados e meio ambiente utilizando uma abordagem filosófica baseada na consequencialismo. Apesar de controverso, o livro contribui para debates éticos complexos comparando o valor de vidas humanas e não humanas.
peter singer - a filosofia e as questões ambientaisBecreStuart
Peter Singer é um filósofo australiano conhecido por defender os direitos dos animais e a sustentabilidade ambiental. Suas principais obras abordam a ética na relação do homem com animais e o meio ambiente, defendendo um princípio de igual consideração dos interesses de todos os seres sencientes. Singer argumenta que devemos considerar os interesses das futuras gerações e valorizar a preservação dos ecossistemas.
1) O documento discute a evolução histórica do pensamento sobre os direitos dos animais, desde as tradições hindus e budistas até o Iluminismo. A maioria das tradições ocidentais viam os animais apenas como propriedade e não tinham preocupação com seu sofrimento.
2) O documento defende o princípio da igual consideração dos interesses de todos os seres sencientes, independente de raça, sexo ou espécie. Segundo Jeremy Bentham, a capacidade de sofrer é o que dá a um ser o direito a ter seus interesses
O documento discute o conceito de ética e como a justiça está no centro de discussões éticas. A ética busca superar conflitos humanos e guiar comportamentos para a construção de uma sociedade justa. Grandes teorias éticas como as de Aristóteles, Tomás de Aquino e Kant convergem na ideia de que a ética significa praticar a justiça.
1) O documento discute o sentido da existência humana segundo vários filósofos existencialistas como Kierkegaard, Sartre e Vergílio Ferreira.
2) Analisa as visões de Kierkegaard de que o existencialismo não pode ser definido por uma teoria, de Sartre sobre a anterioridade da existência sobre a essência, e de Vergílio Ferreira sobre enfatizar o indivíduo.
3) Conclui que os autores refletiram sobre o porquê da existência humana e as teorias a esse respeito
Bioética, vulnerabilidade e dignidade humanaFamília Cristã
O documento discute a dignidade humana, a vulnerabilidade e a justiça social. Em particular, destaca que todos os seres humanos são vulneráveis e merecem proteção de suas necessidades básicas, e que a dignidade humana requer respeito mútuo e solidariedade entre as pessoas.
Existencialismo é uma filosofia contemporânea segundo a existência precede a essência.
Acredita que desde o nosso nascimento somos lançados no mundo, e somos nós que devemos criar nossos valores através de nossa própria liberdade e sob nossa própria responsabilidade.
Por Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial.
www.ex-isto.com
www.fb.com/existocom
www.youtube.com/existo
www.instagram.com/existocom
2017
O documento discute a filosofia da morte através de vários filósofos como Sócrates e Epicuro. Aborda temas como a aceitação da morte, a busca pela felicidade, o significado da vida e da morte, e questões éticas relacionadas ao fim da vida como a eutanásia.
Este documento apresenta um resumo do livro "Ética Prática" de Peter Singer. O livro discute temas éticos importantes como aborto, eutanásia, direitos dos animais, fome no mundo, refugiados e meio ambiente utilizando uma abordagem filosófica baseada na consequencialismo. Apesar de controverso, o livro contribui para debates éticos complexos comparando o valor de vidas humanas e não humanas.
peter singer - a filosofia e as questões ambientaisBecreStuart
Peter Singer é um filósofo australiano conhecido por defender os direitos dos animais e a sustentabilidade ambiental. Suas principais obras abordam a ética na relação do homem com animais e o meio ambiente, defendendo um princípio de igual consideração dos interesses de todos os seres sencientes. Singer argumenta que devemos considerar os interesses das futuras gerações e valorizar a preservação dos ecossistemas.
1) O documento discute a evolução histórica do pensamento sobre os direitos dos animais, desde as tradições hindus e budistas até o Iluminismo. A maioria das tradições ocidentais viam os animais apenas como propriedade e não tinham preocupação com seu sofrimento.
2) O documento defende o princípio da igual consideração dos interesses de todos os seres sencientes, independente de raça, sexo ou espécie. Segundo Jeremy Bentham, a capacidade de sofrer é o que dá a um ser o direito a ter seus interesses
O documento discute o conceito de ética e como a justiça está no centro de discussões éticas. A ética busca superar conflitos humanos e guiar comportamentos para a construção de uma sociedade justa. Grandes teorias éticas como as de Aristóteles, Tomás de Aquino e Kant convergem na ideia de que a ética significa praticar a justiça.
1) O documento discute o sentido da existência humana segundo vários filósofos existencialistas como Kierkegaard, Sartre e Vergílio Ferreira.
2) Analisa as visões de Kierkegaard de que o existencialismo não pode ser definido por uma teoria, de Sartre sobre a anterioridade da existência sobre a essência, e de Vergílio Ferreira sobre enfatizar o indivíduo.
3) Conclui que os autores refletiram sobre o porquê da existência humana e as teorias a esse respeito
Bioética, vulnerabilidade e dignidade humanaFamília Cristã
O documento discute a dignidade humana, a vulnerabilidade e a justiça social. Em particular, destaca que todos os seres humanos são vulneráveis e merecem proteção de suas necessidades básicas, e que a dignidade humana requer respeito mútuo e solidariedade entre as pessoas.
Existencialismo é uma filosofia contemporânea segundo a existência precede a essência.
Acredita que desde o nosso nascimento somos lançados no mundo, e somos nós que devemos criar nossos valores através de nossa própria liberdade e sob nossa própria responsabilidade.
Por Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial.
www.ex-isto.com
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www.youtube.com/existo
www.instagram.com/existocom
2017
O documento discute a filosofia da morte através de vários filósofos como Sócrates e Epicuro. Aborda temas como a aceitação da morte, a busca pela felicidade, o significado da vida e da morte, e questões éticas relacionadas ao fim da vida como a eutanásia.
O documento é um resumo da palestra "Ética" de Dalmo de Abreu Dallari em dezembro de 2003. Ele discute três pontos principais: 1) a ética deve ser praticada e não é uma questão teórica; 2) a ética está faltando em questões como a guerra no Iraque e casos de violência no Brasil; 3) a ética não deve ser imposta e depende da interiorização de valores e da compreensão da pessoa humana e sua necessidade de convivência social.
As novas tecnologias reprodutivas: o estatuto do embrião e a noção de pessoaDouglas Evangelista
1) O documento discute o debate em torno do estatuto moral do embrião, especialmente o embrião extracorporal criado em laboratório através da fertilização in vitro.
2) Existem três principais posições nesse debate: aqueles que veem o embrião como um ser moral desde a concepção, aqueles que não veem diferença entre o embrião e outros tecidos, e aqueles que defendem que o embrião merece respeito como uma "pessoa humana potencial".
3) O debate realmente gira em torno da noção oc
O documento discute como a verdade é absoluta e imutável, enquanto as crenças podem mudar. Afirma que verdades contrárias não podem existir e usa exemplos como a ressurreição de Cristo versus as crenças muçulmanas para ilustrar isso. Também discute como as idéias do darwinismo levam a conclusões como racismo, infanticídio e estupro se levadas às suas conclusões lógicas.
éTica um ensaio sobre a consciencia do mal alain badoiuKarol Souza
Este resumo descreve o livro "Ética. Um Ensaio sobre a Consciência do Mal" de Alain Badiou. O autor critica a "ideologia ética" contemporânea e propõe uma "ética das verdades". Ele argumenta que o mal não é um conceito absoluto, mas sim uma virtualidade aberta pelo processo de busca pela verdade. A ética deve se concentrar na fidelidade aos acontecimentos e não ceder ao dogmatismo ou interesses.
O documento discute ética, ciência e tecnologia. Aborda temas como bioética, estudos de caso envolvendo ética e ciência, diferentes abordagens éticas como utilitarismo e principialismo, além de conceitos como autonomia, beneficência e não-maleficência. Também apresenta casos clássicos de bioética e discute a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos.
O documento discute as origens e complexidade da bioética. A bioética surgiu no século 20 para integrar os seres humanos à natureza, e se expandiu para refletir sobre novas situações complexas decorrentes de intervenções científicas, especialmente na área da saúde. A bioética ampliou seu escopo para discutir questões de forma proativa, utilizando diversas teorias para apoiar seus debates.
O documento discute a bioética, definida como o estudo transdisciplinar entre ciências biológicas, ciências da saúde, filosofia e direito que investiga questões éticas relacionadas à vida humana e ambiental. O termo foi criado em 1927 e consolidado na década de 1970 para lidar com novos desafios éticos trazidos pelos avanços tecnológicos. A bioética abrange temas como aborto, clonagem e eutanásia.
A bioética e sua relação com os direitos humanos pdfricardogeo11
1) O documento discute a relação entre bioética e direitos humanos segundo o pensamento de Hannah Arendt.
2) Arendt acreditava que os direitos humanos surgem da necessidade de proteger a dignidade humana e o direito de pertencer a uma comunidade política.
3) O totalitarismo representou a negação total dos direitos humanos através da violência e desumanização nos campos de concentração.
O documento discute as implicações morais do darwinismo. Em 3 frases:
1) A visão darwinista de que os humanos não têm um lugar especial na ordem natural levou alguns a argumentar que os humanos não têm dignidade inerente ou direitos.
2) Isso contradiz a Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma a dignidade e direitos iguais de todos os seres humanos.
3) Abandonar a visão bíblica de que a vida humana é sagrada pode levar a consequências perigosas como racismo, inf
Bioética e pesquisa em seres humanos - Luiz Antonio BentoFamília Cristã
1) A pesquisa biomédica em seres humanos só passou a ter implicações éticas consideradas após a Segunda Guerra Mundial, quando experimentos nazistas foram julgados em Nuremberg.
2) Experimentos nazistas nos campos de concentração violaram princípios éticos ao serem realizados sem consentimento e causarem sofrimento desnecessário.
3) Em 1947, médicos nazistas foram julgados e introduziu-se o Código de Nuremberg, primeiro documento sobre experimentos em humanos.
O documento discute o senso comum e o conhecimento sociológico. Apresenta definições de senso comum como um saber baseado na experiência cotidiana, em contraste com a abordagem sociológica, que se baseia em métodos objetivos e distanciados. Também discute como Durkheim e Weber analisaram temas como suicídio e capitalismo de uma perspectiva sociológica.
O documento discute os conceitos fundamentais da bioética, incluindo: (1) A bioética emerge no contexto científico como uma reflexão sobre o respeito à vida e dignidade humana; (2) A bioética equilibra a competência científica com a sabedoria humanista para humanizar o progresso; (3) A bioética analisa questões éticas complexas geradas pelos avanços científicos como manipulação genética e eutanásia.
Este documento discute a abordagem do corpo na teoria antropológica. Aponta que autores como Michael Jackson argumentam que a subjectividade está localizada no corpo, contrariando a ideia de cultura como algo superorgânico. Também discute como Mauss e Douglas viam o corpo como inscrito pela sociedade, enquanto outras perspectivas enfatizam a agência do corpo. Por fim, mapeia as principais áreas de estudo do corpo na antropologia contemporânea, incluindo incorporação, construção do self, corpos d
1) O artigo analisa a proposta de Martha Nussbaum de usar o desenvolvimento de capacidades como critério para ampliar a comunidade moral e jurídica para incluir animais não-humanos.
2) Nussbaum argumenta que o desenvolvimento de capacidades pode fundamentar o reconhecimento de dever de respeito e direitos para animais não-humanos.
3) O artigo critica decisões judiciais que negam direitos a animais com base em conceitos antropocêntricos de pessoa e ser humano.
O documento discute os principais caminhos da bioética, incluindo: 1) as três fases da vida humana e os temas associados a cada uma; 2) os três tipos de indivíduos que estudam a bioética - acadêmicos, cientistas e moralistas; e 3) as quatro abordagens principais para a justificação moral - essencialista, pragmática, liberal e vitalista.
Este documento discute a evolução da ciência ao longo do tempo, desde os primeiros tempos em que a religião dominava até a era moderna da experimentação. Também aborda os limites éticos da ciência e a necessidade de uma "ciência com consciência".
O documento discute os conceitos de riscos e benefícios nas pesquisas com seres humanos. Aborda a importância de ponderar cuidadosamente os riscos e benefícios de uma pesquisa, tanto individuais quanto coletivos, para garantir a integridade física e psicológica dos participantes. Também destaca a necessidade de evitar conflitos de interesse que possam comprometer a isenção da pesquisa.
O documento discute o livro "A Liberdade Evolui" de Daniel C. Dennett, que defende que o livre-arbítrio e o determinismo são compatíveis. Dennett argumenta que o livre-arbítrio surgiu através da evolução, assim como outros traços biológicos. Contudo, críticos alegam que Dennett é na verdade um determinista radical disfarçado e que ele não explica como o determinismo físico é compatível com o verdadeiro livre-arbítrio.
O documento discute a introdução à sociologia. Em três frases ou menos, resume:
A sociologia estuda fenômenos sociais que afetam a vida diária das pessoas e como a sociedade é organizada. Ela ajuda a refletir sobre nossas certezas e percepções sobre o mundo, revelando aspectos familiares da realidade sob nova luz. Apesar de tratar do óbvio, a sociologia desvenda a realidade para mostrar a complexidade por trás do cotidiano.
A alquimia surgiu entre os séculos 300 a.C. e 1500 d.C. como uma arte filosófica que buscava a perfeição espiritual por meio da transformação da matéria e tinha como pilares a transmutação de metais em ouro, a busca da pedra filosofal e da longa vida. Ao longo dos séculos, contribuiu para o desenvolvimento de técnicas usadas na química moderna, como a destilação.
Este documento discute as experiências e desafios das pessoas trans em uma sociedade cisnormativa e transfóbica. Defende a ideia de "poder trans" como uma atitude de recusar o martírio pacifista e exigir respeito aos direitos trans de forma absoluta. Também enfatiza a importância da raiva como força para a luta e sobrevivência das pessoas trans.
Folhetim do Estudante - Ano IX - Número 67Valter Gomes
O documento discute o racismo e desigualdades raciais no Brasil. Em três frases ou menos:
O texto analisa como o racismo vem ocorrendo desde a escravidão, levando a privilégios para brancos e desvantagens para negros, como menores salários e dificuldade de acesso ao ensino superior. Também reflete sobre a necessidade de combater o racismo e promover a igualdade de oportunidades independentemente da raça.
O documento é um resumo da palestra "Ética" de Dalmo de Abreu Dallari em dezembro de 2003. Ele discute três pontos principais: 1) a ética deve ser praticada e não é uma questão teórica; 2) a ética está faltando em questões como a guerra no Iraque e casos de violência no Brasil; 3) a ética não deve ser imposta e depende da interiorização de valores e da compreensão da pessoa humana e sua necessidade de convivência social.
As novas tecnologias reprodutivas: o estatuto do embrião e a noção de pessoaDouglas Evangelista
1) O documento discute o debate em torno do estatuto moral do embrião, especialmente o embrião extracorporal criado em laboratório através da fertilização in vitro.
2) Existem três principais posições nesse debate: aqueles que veem o embrião como um ser moral desde a concepção, aqueles que não veem diferença entre o embrião e outros tecidos, e aqueles que defendem que o embrião merece respeito como uma "pessoa humana potencial".
3) O debate realmente gira em torno da noção oc
O documento discute como a verdade é absoluta e imutável, enquanto as crenças podem mudar. Afirma que verdades contrárias não podem existir e usa exemplos como a ressurreição de Cristo versus as crenças muçulmanas para ilustrar isso. Também discute como as idéias do darwinismo levam a conclusões como racismo, infanticídio e estupro se levadas às suas conclusões lógicas.
éTica um ensaio sobre a consciencia do mal alain badoiuKarol Souza
Este resumo descreve o livro "Ética. Um Ensaio sobre a Consciência do Mal" de Alain Badiou. O autor critica a "ideologia ética" contemporânea e propõe uma "ética das verdades". Ele argumenta que o mal não é um conceito absoluto, mas sim uma virtualidade aberta pelo processo de busca pela verdade. A ética deve se concentrar na fidelidade aos acontecimentos e não ceder ao dogmatismo ou interesses.
O documento discute ética, ciência e tecnologia. Aborda temas como bioética, estudos de caso envolvendo ética e ciência, diferentes abordagens éticas como utilitarismo e principialismo, além de conceitos como autonomia, beneficência e não-maleficência. Também apresenta casos clássicos de bioética e discute a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos.
O documento discute as origens e complexidade da bioética. A bioética surgiu no século 20 para integrar os seres humanos à natureza, e se expandiu para refletir sobre novas situações complexas decorrentes de intervenções científicas, especialmente na área da saúde. A bioética ampliou seu escopo para discutir questões de forma proativa, utilizando diversas teorias para apoiar seus debates.
O documento discute a bioética, definida como o estudo transdisciplinar entre ciências biológicas, ciências da saúde, filosofia e direito que investiga questões éticas relacionadas à vida humana e ambiental. O termo foi criado em 1927 e consolidado na década de 1970 para lidar com novos desafios éticos trazidos pelos avanços tecnológicos. A bioética abrange temas como aborto, clonagem e eutanásia.
A bioética e sua relação com os direitos humanos pdfricardogeo11
1) O documento discute a relação entre bioética e direitos humanos segundo o pensamento de Hannah Arendt.
2) Arendt acreditava que os direitos humanos surgem da necessidade de proteger a dignidade humana e o direito de pertencer a uma comunidade política.
3) O totalitarismo representou a negação total dos direitos humanos através da violência e desumanização nos campos de concentração.
O documento discute as implicações morais do darwinismo. Em 3 frases:
1) A visão darwinista de que os humanos não têm um lugar especial na ordem natural levou alguns a argumentar que os humanos não têm dignidade inerente ou direitos.
2) Isso contradiz a Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma a dignidade e direitos iguais de todos os seres humanos.
3) Abandonar a visão bíblica de que a vida humana é sagrada pode levar a consequências perigosas como racismo, inf
Bioética e pesquisa em seres humanos - Luiz Antonio BentoFamília Cristã
1) A pesquisa biomédica em seres humanos só passou a ter implicações éticas consideradas após a Segunda Guerra Mundial, quando experimentos nazistas foram julgados em Nuremberg.
2) Experimentos nazistas nos campos de concentração violaram princípios éticos ao serem realizados sem consentimento e causarem sofrimento desnecessário.
3) Em 1947, médicos nazistas foram julgados e introduziu-se o Código de Nuremberg, primeiro documento sobre experimentos em humanos.
O documento discute o senso comum e o conhecimento sociológico. Apresenta definições de senso comum como um saber baseado na experiência cotidiana, em contraste com a abordagem sociológica, que se baseia em métodos objetivos e distanciados. Também discute como Durkheim e Weber analisaram temas como suicídio e capitalismo de uma perspectiva sociológica.
O documento discute os conceitos fundamentais da bioética, incluindo: (1) A bioética emerge no contexto científico como uma reflexão sobre o respeito à vida e dignidade humana; (2) A bioética equilibra a competência científica com a sabedoria humanista para humanizar o progresso; (3) A bioética analisa questões éticas complexas geradas pelos avanços científicos como manipulação genética e eutanásia.
Este documento discute a abordagem do corpo na teoria antropológica. Aponta que autores como Michael Jackson argumentam que a subjectividade está localizada no corpo, contrariando a ideia de cultura como algo superorgânico. Também discute como Mauss e Douglas viam o corpo como inscrito pela sociedade, enquanto outras perspectivas enfatizam a agência do corpo. Por fim, mapeia as principais áreas de estudo do corpo na antropologia contemporânea, incluindo incorporação, construção do self, corpos d
1) O artigo analisa a proposta de Martha Nussbaum de usar o desenvolvimento de capacidades como critério para ampliar a comunidade moral e jurídica para incluir animais não-humanos.
2) Nussbaum argumenta que o desenvolvimento de capacidades pode fundamentar o reconhecimento de dever de respeito e direitos para animais não-humanos.
3) O artigo critica decisões judiciais que negam direitos a animais com base em conceitos antropocêntricos de pessoa e ser humano.
O documento discute os principais caminhos da bioética, incluindo: 1) as três fases da vida humana e os temas associados a cada uma; 2) os três tipos de indivíduos que estudam a bioética - acadêmicos, cientistas e moralistas; e 3) as quatro abordagens principais para a justificação moral - essencialista, pragmática, liberal e vitalista.
Este documento discute a evolução da ciência ao longo do tempo, desde os primeiros tempos em que a religião dominava até a era moderna da experimentação. Também aborda os limites éticos da ciência e a necessidade de uma "ciência com consciência".
O documento discute os conceitos de riscos e benefícios nas pesquisas com seres humanos. Aborda a importância de ponderar cuidadosamente os riscos e benefícios de uma pesquisa, tanto individuais quanto coletivos, para garantir a integridade física e psicológica dos participantes. Também destaca a necessidade de evitar conflitos de interesse que possam comprometer a isenção da pesquisa.
O documento discute o livro "A Liberdade Evolui" de Daniel C. Dennett, que defende que o livre-arbítrio e o determinismo são compatíveis. Dennett argumenta que o livre-arbítrio surgiu através da evolução, assim como outros traços biológicos. Contudo, críticos alegam que Dennett é na verdade um determinista radical disfarçado e que ele não explica como o determinismo físico é compatível com o verdadeiro livre-arbítrio.
O documento discute a introdução à sociologia. Em três frases ou menos, resume:
A sociologia estuda fenômenos sociais que afetam a vida diária das pessoas e como a sociedade é organizada. Ela ajuda a refletir sobre nossas certezas e percepções sobre o mundo, revelando aspectos familiares da realidade sob nova luz. Apesar de tratar do óbvio, a sociologia desvenda a realidade para mostrar a complexidade por trás do cotidiano.
A alquimia surgiu entre os séculos 300 a.C. e 1500 d.C. como uma arte filosófica que buscava a perfeição espiritual por meio da transformação da matéria e tinha como pilares a transmutação de metais em ouro, a busca da pedra filosofal e da longa vida. Ao longo dos séculos, contribuiu para o desenvolvimento de técnicas usadas na química moderna, como a destilação.
Este documento discute as experiências e desafios das pessoas trans em uma sociedade cisnormativa e transfóbica. Defende a ideia de "poder trans" como uma atitude de recusar o martírio pacifista e exigir respeito aos direitos trans de forma absoluta. Também enfatiza a importância da raiva como força para a luta e sobrevivência das pessoas trans.
Folhetim do Estudante - Ano IX - Número 67Valter Gomes
O documento discute o racismo e desigualdades raciais no Brasil. Em três frases ou menos:
O texto analisa como o racismo vem ocorrendo desde a escravidão, levando a privilégios para brancos e desvantagens para negros, como menores salários e dificuldade de acesso ao ensino superior. Também reflete sobre a necessidade de combater o racismo e promover a igualdade de oportunidades independentemente da raça.
1) Nísia Floresta foi uma escritora e educadora brasileira do século XIX, nascida no Rio Grande do Norte, que defendeu os direitos das mulheres à educação e participação política. 2) Sua obra mais famosa foi "Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens", uma tradução de um livro inglês sobre emancipação feminina. 3) Nísia fundou escolas no Rio de Janeiro reconhecidas pela qualidade do ensino e defendeu causas abolicionistas e republicanas.
1) O documento discute as contradições humanas, como falar em paz mas viver na violência e gastar em armas ao invés de acabar com a fome.
2) Argumenta que as contradições se devem a falta de autoconhecimento e domínio próprio, levando a ações perturbadas e imaturas.
3) Defende que o autoconhecimento, como ensinado por Sócrates e Buda, é essencial para resolver as contradições internas e trazer harmonia.
Os sentimentos e emoções humanas evoluíram para promover a sobrevivência da espécie, indo além da mera reprodução e incluindo o bem-estar físico e mental. Eles nos motivam a buscar prazer, felicidade e satisfação através de atividades como sexo, lazer e trabalho. Embora alguns sentimentos como medo e agressividade sejam compartilhados com outros animais, os seres humanos experienciam uma variedade maior de emoções, como amor, esperança e fé, que são essenciais para nossa consciência
Este documento discute as virtudes da generosidade e da solidariedade. A generosidade é definida como o ato de oferecer o que não é seu por motivos além da justiça ou dos próprios interesses. A solidariedade é descrita como um estado de interdependência baseado em interesses comuns, mas não necessariamente uma virtude moral. A generosidade é considerada superior pois envolve ajudar os outros sem esperar nada em troca.
1) O texto discute os direitos humanos e a literatura. Antonio Candido argumenta que a literatura é uma necessidade humana universal e fundamental para o equilíbrio psíquico e social.
2) Candido diferencia entre "bens compressíveis" e "bens incompressíveis", sendo este último indispensável para a sobrevivência física e espiritual das pessoas.
3) Ele sustenta que assim como alimentação e moradia, a literatura também deve ser considerada um "bem incompressível", um direito humano fundamental.
Este documento apresenta um resumo do livro "Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social" de Roberto DaMatta. O autor discute como a antropologia social se diferencia das ciências naturais ao estudar fenômenos sociais complexos em vez de fatos isoláveis. Ele também argumenta que a antropologia deve adotar uma perspectiva humilde ao estudar outras culturas, reconhecendo que podemos aprender com elas. A antropologia nos ensina a relativizar nossas certezas e a entender o mundo a partir da perspectiva do "
Este documento discute a importância da fraternidade para a realização da igualdade e da liberdade na sociedade. A fraternidade é a base para uma ordem social justa, mas o egoísmo e o orgulho atualmente impedem seu reinado. Somente quando esses sentimentos forem eliminados das leis, instituições e educação é que a fraternidade, igualdade e liberdade poderão ser plenamente estabelecidas.
O documento discute os preconceitos, como eles surgem e como podemos superá-los. Aprender a aceitar nossas próprias imperfeições é essencial para não julgarmos os outros. As leis espíritas da igualdade, reencarnação e evolução nos ensinam que todos somos iguais perante Deus, independente de raça ou condição social.
O documento discute a diferença entre tolerância e reconhecimento. A tolerância é a aceitação superficial de diferenças, enquanto o reconhecimento envolve atribuir valor e respeito às diferenças. Reconhecer as particularidades de cada um leva a um convívio mais igualitário, ao contrário da tolerância que impõe uma visão sobre o outro.
1) O documento discute as tensões teórico-metodológicas entre pesquisadores que estudam gênero e sexualidade, apesar das afinidades políticas.
2) Embora compartilhem o objetivo de combater a discriminação, esses pesquisadores adotam abordagens teóricas e estratégias diferentes para lidar com essas questões.
3) Essa diversidade é vista como indicativo da vitalidade desses campos de estudo, em vez de algo problemático.
Este documento discute a importância do apoio mútuo entre as pessoas e como a solidariedade pode salvar vidas. O autor argumenta que nenhuma espécie, incluindo os seres humanos, sobreviveria sem o apoio dos iguais e que a competição não é o principal fator de sucesso da sociedade. A solidariedade é o que há de mais nobre na história da humanidade.
1) O documento discute os conceitos sociológicos do Espiritismo de acordo com as obras de Allan Kardec.
2) Kardec acredita que a desigualdade social não é uma lei natural, mas sim obra do homem, e que um dia desaparecerá com o declínio do egoísmo e do orgulho.
3) Ele também acredita que a igualdade absoluta de riquezas não é possível, mas que a igualdade de deveres e direitos para satisfazer as necessidades básicas de todos é um objetivo a ser perseguido.
Este documento discute se existem valores morais universais ou se estes dependem do ponto de vista de cada sociedade. Apresenta argumentos a favor e contra o relativismo moral, analisando se as diferenças culturais implicam a inexistência de verdades morais objetivas ou se pode haver consenso em certos valores.
1) A cultura brasileira apresenta atitudes contraditórias em relação ao corpo, refletindo uma colonização católica e o desejo de dominação sobre corpos indígenas e negros. 2) A questão do corpo feminino é percebida de forma diferente dependendo da classe social, sendo as mulheres de camadas populares mais à vontade com o próprio corpo. 3) Episódios de expulsão de mulheres que amamentam em público representam um retrocesso e discriminação.
- Cantinflas discursa em uma reunião das Nações Unidas interpretando o papel de embaixador de um país pequeno e fraco.
- Ele critica tanto os "Colorados" (países comunistas) quanto os "Verdes" (EUA e aliados) por tentarem impor seus sistemas políticos e econômicos de forma autoritária.
- Cantinflas defende a tolerância, o respeito mútuo e a cooperação pacífica entre os países, em vez da confrontação ideológica.
O documento discute os princípios de justiça e as contradições entre eles. Apresenta um estudo sobre percepções de injustiça no trabalho, onde trabalhadores citam três princípios: igualdade, mérito e autonomia. No entanto, opõem esses princípios em vez de tentar harmonizá-los, mostrando a complexidade do tema.
O documento discute os princípios de justiça e as contradições entre eles. Apresenta um estudo sobre percepções de injustiça no trabalho, onde trabalhadores citam três princípios: igualdade, mérito e autonomia. No entanto, opõem esses princípios em vez de tentar harmonizá-los, mostrando a complexidade do tema.
O documento discute as perspectivas de Aristóteles, Locke e Rawls sobre a justiça social e o papel do Estado. Segundo Aristóteles, o homem é um "animal político" e a vida em sociedade é essencial para a realização humana. Locke defendia um "contrato social" onde os indivíduos abdicam de liberdade para o Estado garantir direitos. Já Rawls propunha que a justiça social deve distribuir bens de forma igualitária, beneficiando os mais desfavorecidos.
Semelhante a Singer igualdade para os animais (20)
O documento discute a construção de uma represa em um vale com florestas, animais e plantas raras. Há argumentos a favor da represa para gerar empregos versus preservação ambiental. Valores como desenvolvimento econômico x preservação da natureza precisam ser considerados nessa decisão.
La Constitución ecuatoriana de 2008 introduce dos innovaciones importantes: el reconocimiento de los derechos de la Naturaleza y la propuesta del Buen Vivir como alternativa al desarrollo actual. El documento analiza estas innovaciones y cómo representan un avance hacia la "sostenibilidad súper-fuerte", la cual reconoce valores intrínsecos en la Naturaleza y la convierte en sujeto de derechos. Asimismo, articula los derechos de la Naturaleza con los derechos ciudadanos a un ambiente sano, y equipara
FELIPE, Sônia T. Antropocentrismo, sencientismo e biocentrismoLuciano Florit
FELIPE, Sônia T. Antropocentrismo, sencientismo e biocentrismo: Perspectivas éticas abolicionistas, bem-estaristas e conservadoras e o estatuto de animais não-humanos. Revista Páginas de Filosofia, v. 1, n. 1, jan-jul/2009.
PALMEIRO FERREIRO, Maria de Fátima. Paisagens Invisíveis: a Ética da Terra segundo Aldo Leopold. Revista Portuguesa de Estudos Regionais N.º 20 (ano?) http://www.apdr.pt/siterper/numeros/RPER20/20.8.pdf. Acesso em 7/8/2014
O documento discute as principais tradições teóricas nas ciências sociais e suas derivações para o meio ambiente, incluindo o paradigma materialista/do conflito (eco-marxismo), funcionalista/da modernização (modernização ecológica) e pós-estruturalista/fenomenológico (construtivismo social ambiental). Também aborda possíveis convergências entre essas abordagens e a noção de um "construtivismo estrutural" ambiental.
FOLADORI, Guillermo e TOMMASINO, Humberto. (2010), “Controversias sobre sustentabilidad”, in Antônio Fernando Silveira Guerra e Mara Lucia Figueiredo (Orgs.) As sustentabilidades em diálogos. Editora da Univali, Joinville.
A União Europeia está considerando novas regras para regular as grandes empresas de tecnologia. As novas regras visam limitar o poder de mercado dessas empresas e garantir uma concorrência justa. As empresas afetadas incluiriam gigantes como Google, Amazon, Facebook e Apple.
A União Europeia está considerando novas regras para veículos autônomos. As regras propostas exigiriam que os fabricantes de veículos autônomos assumam mais responsabilidade por acidentes e forneçam mais dados sobre o desempenho do veículo para reguladores. Os fabricantes teriam que mostrar que sistemas autônomos são seguros antes de colocá-los à venda.
Ecologismo, ambientalismo e ecologia políticaLuciano Florit
O documento discute três perspectivas diferentes sobre sustentabilidade e território: 1) a ecologia radical enfatiza a proteção da natureza separada do desenvolvimento econômico; 2) o ambientalismo moderado defende o desenvolvimento sustentável que equilibra crescimento econômico e conservação ambiental; 3) a ecologia política analisa problemas ambientais considerando contextos socioeconômicos e visões de justiça social.
HANNIGAN, John A. Sociologia ambiental: a formação de uma perspectiva social.Lisboa : Instituto Piaget, c1995. 271p. (Perspectivas ecológicas, v.31). Tradução de: Environmental sociology. [Cap. 2 A construção social dos problemas ambientais]
HANNIGAN, John A. Sociologia ambiental: a formação de uma perspectiva social.Lisboa : Instituto Piaget, c1995. 271p. (Perspectivas ecológicas, v.31). Tradução de: Environmental sociology. [Cap. 1]
Natureza e Política:
MATTEDI, Marcos Antônio. Notas sobre as visões de natureza em Blumenau: mais um capítulo da trágica história do sucesso humano. Revista de estudos ambientais, Blumenau, v. 3, n. 1, p. [29]-39, jan./abr. 2001.
1. dacom uma deficiencia nao e, de modo algum, inferior a vida
semuma deficiencia? Ao procurarem assistencia medica para
superar e eliminar a deficiencia, quando tal assistencia se acha
disponivel, os proprios deficientes mostram que a preferencia
por uma vida sem deficiencia nao e urn mero preconceito. Al-gunsdeficientes
poderiam dizer que so fazem essa escolha por-quea
sociedade coloca tantos obstaculos no seu caminho. Afir-
IJ1amque 0 que os torna deficientes saD as condiyoes sociais,
e nao a sua condiyao fisica ou intelectual. Essa afirmayao dis-torce
a verdade mais limitada, segundo a qual as condiyoes so-dais
tornam a vida dos deficientes muito mais dificil do que
precisaria ser, e a transforma numa total falsidade. Ser capaz
deandar, de ver, de ouvir, de estar relativamente livre da dor
e do mal-estar, conseguir comunicar-se bern, saD coisas que,
!ob virtualmente quaisquer condiyoes sociais, constituem be-neficiosinquestionaveis.
Dizer isto nao significa negar que as
pessoas as quais faltam essas aptidoes possam triunfar sobre
as suas deficiencias e viver vidas de uma riqueza e diversidade
mrpreendentes. Nao obstante, nao demonstramos preconcei-to
contra os deficientes se preferimos, seja para nos mesmos
ou para os nossos filhos, nao nos deparar com obstaculos tao
grandes que 0 simples fato de supera-Ios ja constitui em si
urn triunfo. ' ,
Igualdade para os animais?
No capitulo anterior, ofereci motivos para se acreditar que
o principio fundamental da igualdade, no qual se fundamenta
a igualdade de todos os seres humanos, e 0 principio da igual
considerayao de interesses. So urn principio moral basico des-se
tipo pode permitir que defendamos uma forma de igualda-de
que inclua todos os seres humanos, com todas as diferenyas
que existem entre eles. Afirmarei agora que, ao mesmo tempo
que esse principio proporciona uma base adequada para a igual-dade
humana, essa base nao pode ficar restrita aos seres huma-nos.
Em outras palavras, you sugerir que, tendo aceito 0 prin-cipio
de igualdade como uma s6lida base moral para as rela-yoes
com outros seres de nossa pr6pria especie, tambem somos
obrigados a aceita-Ia como uma s6lida base moral para as re-layoes
com aqueles que nao pertencem a nossa especie: os ani-mais
nao-humanos. .
A primeira vista, a sugestao pode parecer bizarra. Esta-mos
habituados a ver a discriminayao contra membros de mi-norias
raciais, ou contra mulheres, como fatos que se encon-tram
entre as mais importantes questoes morais e polfticas com
as quais se defronta 0 mundo em que vivemos. Sao problemas
serios, merecedores do tempo e das energias de qualquer pes-soa
que nao seja alienada. Mas que dizer dos animais? 0 bem-estar
dos animais nao se insere numa categoria totalmente di-versa,
uma hist6ria para pessoas loucas por caes e gatos? Co-mo
e possive! que alguem perca 0 seu tempo tratando da igual-dade
dos animais, quando a verdadeira igualdade e negada a
tantos seres humanos?
2. Essa atitude reflete urn preconceito popular contra 0 fato
d_es~ levarem a serio os interesses dos animais - urn preconceito
tao mfundado quanto aquele que leva os brancos proprietarios
de escravos a nao considerarem com a devida seriedade os inte-resses.
de seus escravos africanos. Para nos, e facil criticar os pre-c;
onceltos de nossos avos, dos quais os nossos pais se libertaram.
E mais dificil nos distanciarmos de nossos proprios pontos de vista,
de tal modo que possamos, imparcialmente, procurar preconcei-tos
entre as cren<;:ase os valores que defendemos. a que se preci-sa,
agora, e de boa vontade para seguir os argumentos por onde
~le~nos levam, sem a ideia preconcebida de que 0 problema nao
e dlgno de nossa aten<;:ao.
a argumento para estender 0 principio de igualdade alem da
nossa propria especie e simples, tao simples que nao requer mais
do q~e um~ clar~ compreensao da natureza do principio da igual
consldera<;:ao de mteresses. Como ja vimos, esse principio implica
que a nossa preocupa<;:ao com os outros nao deve depender de co-mo
sao, ou das aptid6es que possuem (muito embora 0 que essa
preocupa<;:ao exige precisamente que fa<;:amospossa variar con-
~orme as caracteristicas dos que SaDafetados por nossas a~6es).
E com ~ase nisso que podemos afirmar que 0 fato de algumas pes-soas
nao serem membros de nossa ra<;:anao nos da 0 direito de
explora-Ias e, da mesma forma, que 0 fato de algumas pessoas se-rem
menos inteligentes que outras nao significa que os seus inte-resses
possam ser colocados em segundo plano. a principio con-tudo,
tambem implica 0 fato de que os seres nao pertence;em a
nossa especie nao nos da 0 direito de explora-Ios, nem significa
que, por serem os outros animais menos inteligentes do que nos
possamos deixar de levar em conta os seus interesses. '
No capitulo anterior, vimos que, de uma forma ou de ou-
~ra, muitos filosofos tern defendido a igual considera<;:ao de
mteresses como urn principio moral basico. Poucos admitiram
que 0 principio tern aplica<;:6es alem de nossa propria especie.
Urn dos poucos a faze-Io foi Jeremy Bentham 0 criador do
utilitarismo moderno. Num trecho premonitorio escrito nu-ma
epoca em que os escravos africanos das poss~ss6es ingle-sas
alllda eram tratados quase do mesmo modo como hoje tra-tamos
os animais, Bentham escreveu:
Talvez chegue 0 dia em que 0 restante da cria9ao animal venha
a adquirir os direitos dos quais jamais poderiam ter sido privados,
a nao ser pela mao da tirania. Os franceses ja descobriram que
o escuro da pele nao e motivo para que urn ser humano seja aban:
donado, irreparavelmente, aos caprichos de urn torturador. E
possivel que algum dia se reconhel;a que 0 numero depernas,
a vilosidade da pele ou a termina9ao do os sacrum SaGmotivos
igualmente insuficientes para se abandonar urn ser sensivel ao
mesmo destino. 0 que mais deveria tra9ar a linha insuperavel?
A faculdade da razao, ou, talvez, a capacidade de falar? Mas,
para la de toda compara9ao possivel, urn cavalo ou urn cao adul-tos
SaGmuito mais racionais, alem de bem mais sociaveis, do
que urn bebe de urn dia, uma semana, ou ate mes~o urn ~es.
Imaginemos, porem, que as coisas nao fossem aSSlm; que lm-porHincia
teria tal fato? A questao nao e saber se SaGcapazes
de raciocinar, ou se conseguemjalar, mas, sim, se sao pass{veis
de sojrimento.
Neste trecho, Bentham chama a aten<;:ao para a capacida-de
de sofrimento como a caracteristica vital que confere, a urn
ser, 0 direito a igual considera<;:ao. A capacidade de sofrimen-to
- ou, mais estritamente, de sofrimento e/ou frui<;:ao ou fe-licidade
- nao e apenas mais uma caracteristica, como a ca-pacidade
de falar ou para a matemMica pura. Bentham nao
esta dizendo que os que tentam marcar a "linha insuperavel",
que determina se os interesses de urn determinado ser devem
ser levados em conta, tenham por acaso escolhido a caracte-ristica
errada. A capacidade de sofrer e de desfrutar as coisas
e uma condi<;:ao previa para se ter quaisquer interesses, condi-
<;:aoque e preciso satisfazer antes de se poder falar de interes-ses
e falar de urn modo significativo. Seria absurdo dizer que
na~ fazia parte dos interesses de uma pedra 0 fato de ter sido
chutada por urn garoto a c(l.minho da escola. Uma pedra nao
tern interesses, pois nao e capaz de sofrer. Nada que venha-mos
a fazer-Ihe podera significar uma diferen<;:apara 0 seu bem-estar.
Por outro lado, urn rata tern, inegavelmente, urn inte-resse
em nao ser atormentado, pois os ratos sofrerao se vie-rem
a ser tratados assim.
Se urn ser sofre, nao po de haver nenhuma justificativa de
ordem moral para nos recusarmos a levar esse sofrimento em
considera<;:ao. Seja qual for a natureza do ser, 0 principio de
igualdade exige que 0 sofrimento seja levado em conta em ter-mos
de igualdade com 0 sofrimento semelhante - ate onde
possamos fazer compara<;:6es aproximadas - de qualquer ou-
3. J!TICA PRATICA
t~o S~r.Quan?~ urn ser nao for capaz de sofrer, nem de sentir
~ egn~ ou, felIcldade, n~o haveni nada a ser levado em consi-erac,;
ao.E por esse motivo ~ue 0 limite de sensibilidade (para
usarmos 0 termo com 0 sentldo aprapriado, quando nao ri 0-
~ol~a~e~te ~xat.o,.da ~a~acidade de sofrer ou sentir alegria gou
. e ICI a e) e o.umco lImIte defensavel da preocupac,;ao com os
lllt~r:sses alhelOs. Demarcar esse limite atraves de uma carac
tenstIca, como a inteligencia ou a racionalidade equ' I .-
ad' emarca- I d ' Iva ena 0 e modo arbitnirio. Por que nao escolher algu-ma
ooutra ca'r.acteristica, como ' por exemplo , a cor dape Ie?.
. ~ racistas vlOlam 0 principio de igualdade ao d
malOr Importa.n~iaaos interesses dos membras de sua rac,;a~::
pre que se venfica urn choque entre os seus interesses e os in-teress:
s dos que pertencem a outra rac,;a.Sintomaticamente
os racistas de descendencia europeia nao admitiram que '
exemplo, a do~ imp?rta tanto quando e sentida por afric~~~~
como quando e se~tIda por europeus. Da mesma forma, aque-
~esque eu chamana de "especistas" atribuem maior peso aos
lllteresses de membros de sua propria especie quando ha urn
choque entre os ~~usinteresses e os interesses dos que perten-cern
a .o~tras ~species. Os especistas humanos nao admitem que
~ d01~e tao ma quando sentida por porcos ou ratos como quan-o
sac os seres humanos que a sentem
. l~i esta, poi~, o. afl~umento para es~ender 0 principio de
Ig~~ ade aos ammms nao-humanos; mas pode haver algumas
dU;l.das a respeit.o daquilo a que essa igualdade equivale na
pratIca. Em partIcular, a ultima frase do paragrafo anterior
pode levar algumas pessoas a darem a seguinte resposta: "Com
toda a certeza a dor sentida por ratos nao e tao ma quanto
a que .:ent.eurn ser humano. Os seres humanos tern muito mais
consclencl~ do que l?es esta acontecendo, 0 que faz com que
o seu sofn:nento seJa maior. Para ficarmos apenas em urn
exemplo, nao se pode comparar 0 sofrimento de uma pessoa
q~: morre len~amente de cancer Com0 de urn rato de labora-tone
qu~ esteJa suportanto 0 mesmo destino."
AceIt~ plenamente 0 ponto de vista segundo 0 qual no
cas? descnto, a vitima humana do cancer normalmente s~fre
I~SmSs do qru'e a vitima nao-humana. De modo algum,pore.m o cons Itm urn obstaculo a extensao da igual considerac,;a~
de interesses aos nao-humanos. Significa, pelo contrario, que
precisamos ter cuidado, sempre que compararmos os interes-ses
de diferentes especies. Em algumas situac,;6es,urn membra
de uma especie sofreni mais do que urn membra de outra. Neste
caso, devemos ainda aplicar 0 principio da igual considerac,;ao
de interesses, mas a consequencia de faze-Io sera, e claro, dar
prioridade ao aHvio do sofrimento maior. Urn caso mais sim-ples
pode ajudar a esclarecer essa questao.
Se der urn tapa com a mao aberta na anca de urn cavalo,
ele pode sobressaltar-se, mas provavelmente nao sentira gran-de
dor. Sua pele e grossa 0 suficiente para protege-lo contra
urn simples tapa. Contudo, se eu der 0 mesmo tapa num bebe,
ele vai chorar e e quase certo que sinta uma grande dor, pois
tern a pele mais sensivel. Portanto, e pior dar urn tapa num
bebe do que num cavalo, desde que os dois tapas sejam dados
com a mesma forc,;a.Mas deve existir algum tipo de golpe -
nao sei exatamente qual seria, mas, digamos, urn golpe com
urn pedac,;ode pau - que fara 0 cavalo sentir tanta dor quan-to
sentiu a crianc,;aao receber urn simples tapa. E isso 0 que
quera dizer com "igual quantidade de dor"; e, se achamos er-rado
infligir tanta dor a urn bebe sem nenhum motivo, entao,
a menos que sejamos especistas, devemos achar igualmente er-rado
infligir, sem motivo algum, a mesma quantidade de dor
a urn cavalo.
Entre os seres humanos e os animais, existem outras dife-renc,;
asque levam a outras complicac,;6es.Os adultos normais
tern aptid6es mentais que, em determinadas circunstancias,
levam-nos a sofrer mais do que sofreriam os animais nas mes-mas
circunstancias. Se, por exemplo, decidfssemos realizar ex-periencias
cientificas extremamente dolorosas ou letais com
adultos normais, levados a forc,;ados parques publicos com essa
finalidade, os adultos que entrassem nos parques ficariam com
medo de ser agarrados. 0 terror resultante seria uma forma
adicional de sofrimentp, vindo somar-se a dor provocada pela
experiencia. Quando feitas com animais, as mesmas experien-cias
provocariam menos sofrimento, visto que eles nao sofre-riam,
por antecipac,;ao, 0 medo de serem raptados e submeti-dos
a uma experiencia. Isso nao significa, evidentemente, que
seria correto fazer a experiencia comanimais, mas apenas que
existe uma razao - uma razao que nao e especista - para que,
4. sempre que se va fazer a experiencia, se de preferencia a ani-mais,
e nao a seres humanos. Considere-se, porem, que esse
mesmo argumento nos da uma razao para preferirmos usar
recem-nascidos humanos - ormos, talvez - ou seres hum a-nos
com graves deficiencias mentais, em vez de adultos, para
a realiza<;ao da experiencia, uma vez que os recem-nascidos e
os seres humanos com graves deficiencias mentais tambem nao
fariam ideia alguma do que lhes iria acontecer. No que diz res-peito
a esse argumento, animais, recem-nascidos e seres hu-manos
com graves deficiencias mentais pertencem a mesma ca-tegoria;
e, se 0 usarmos para justificar as experiencias com ani-mais,
temos de nos perguntar se estamos preparados para ad-mitir
que sejam feitas as mesmas experiencias com recem-nascidos
humanos e adultos com graves deficiencias mentais.
Se fizermos uma distin<;ao entre os animais e esses seres hu-manos,
cabera tambem a pergunta: de que modo poderemos
faze-la, a nao ser com base numa preferencia moralmente in-defensavel
por membros de nossa propria especie?
Ha muitas areas nas quais as aptidoes mentais superiores
de adultos humanos normais fazem uma diferen<;a: previsao,
memoria mais detalhada, maior conhecimento do que esta
acontecendo, etc. Essas diferen<;as explicam por que urn ser
humano que esta morrendo de cancer provavelmente sofre mais
do que urn rato. A angustia mental e 0 que torna a situa<;ao
humana tao mais dificil de suportar. Contudo, essas diferen-
<;asnao sugerem urn maior sofrimento por parte do ser huma-no
normal. As vezes, os animais podem sofrer mais em decor-rencia
de sua compreensao mais limitada. Se, por exemplo, es-tamos
fazendo prisioneiros em tempo de guerra, podemos
explicar-Ihes que, desde que se submetam a captura, ao inter-rogatorio
e a prisao, nenhum outro mallhes sera feito, e serao
libertados assim que cessarem as hostilidades. Se capturarmos
animais selvagens, porem, nao teremos como explicar-Ihes que
nao estamos amea<;ando as suas vidas. Urn animal selvagem
nao e capaz de distinguir uma tentativa de subjugar e prender
de uma tentativa de matar; ambas iraQ provocar-Ihe 0 mesmo
terror.
Pode-se objetar que e impossivelfazer compara<;6es en-tre
os sofrimentos de especies diferentes e que, por esse moti-vo,
quando os interesses de animais e seres humanos entram
IGUALDADE PARA OS ANIMAlS?
, " d ' ualdade nao oferece orienta<;ao
em choque, 0 prlllclPlO e 19 ra<;oesdo sofrimento entre
alguma. E verdade que as comp~ dem ser feitas com exa-membros
de especi~s diferen~es ~~~ POodeser feita com exati-tidao;
a esse respelto, tambe~ 0 soirimento de diferentes se-dao
qualquer compar,a~ao e.n r~ fundamental. Como veremos
res humanos. A preclsao n:od~vessemos impedir a imposi<;ao
dentro em pouco, mes~o ~ nas quando os interesses dos
de sofrimentos a9s alllmalS ~P: dos tanto quanta os animais
seres hum~nos nao fo~sem ~ e ~ transforma<;6es radicais em
o sao, senamos for<;a o~ a .aztransforma<;oes que diriam res-nosso
tratament~ dos an:mals, 'todos de cultivo da terra,
peito a nossa ahmenta<;a.o, aos .me mu'ltos campos da cien-aoS
proce d·Imentos exp. enmentals emda ca<;a a captura de alll.-
cia, a abordagem da VIdasel~ag~~e:soes co~o circos, rodeios
mais e "ao uso dEe suas pelqeisie, nacsl.a a quan t'1dade total de sofri-e
ZOOIOglCOS.m co.nse dem~nte reduzida, tao grandemente
mento provocado. sena gran d a de atitude moral que pro-que
e dificil imaglll~r o~tra mudai oma total do sofrimento
vocasse uma redu<;aotao gran e a s
existente no universo.
Ate aqui, fiz.mU.itasaf~r:~~o~~s~~~~eb~:~~~~~~~ ~:r~~
frimentos aos ~lll.malS,.~~iberada. A aplica<;ao do principio
mortos. A or~ll~saof?l_ ofrimentos e, teoricamente pelo
de igualdade a Imp,o~l<;aode ~nder A dor e 0 sofrimento sao
menos, basta~te facIl de ent te cia ra<;a do sexo ou da espe-coisas
mas e, llldependentemen 'tados o~ mitigados. 0 maior
cie do ser que ~ofre, devem serd~vlor uma dor depende de quao
ou menor sofnmento provo~a ps as dores de mesma intensi-intensa
ela e e de s_ua.dur~<;aO't~~as sejam elas sentidas por
dade e dura<;ao saD 19ua.me~ Qua~do refletimos sobre 0 va-seres
humanos ou Pdoralll~.a~; tao confiantemente assim, que
lor da vida, nao po, emos. lZl~ente valiosa seja ela humana
uma vida e u~a vl~a, e 19u.a f mar qu~ a vida· de urn ser
ou animal. Na~ sena es~ecls~~s~:ento abstrato, de planejar
consciente de Sl, capaz elp atos de comunica<;ao, etc., se-o
futu!O, d~ realizar comp.exo~e urn ser que nao possu~ es~~s
ja malS vaho~a do que.a vl~a esse ponto de vista e JUStlfl-aptidoes.
(Nao estou dlzen 0 que ao se pode simplesmente
cavel ou nao, mas, apenas, que n
5. r~jeita-Io como especista, pois nao esta na base da especie em
Sl0 pressuposto de que uma vida seja considerada mais valio-sa
do que outra.) 0 valor da vida e urn problema etico de no-t?
ria dificuldade, e so podemos chegar a uma conclusao ra-clOnal
sobre 0 valor comparado das vidas humana e animal
depoi.s de term os discutido 0 valor da vida em termos gerais.
E~s.ee urn tema que exige urn capitulo it parte. Enquanto isso,
ha lmportantes conclus6es a serem extraidas do fato de se en-tender
para aIem de nossa especie 0 principio da igual consi-derac;
ao de interesses, independentemente de nossas conclus6es
sobre 0 valor da vida.
Para a maior parte das pessoas que vivem nas sociedades
m~der.nas e urbanizadas, a principal forma de contato com os
a~lmalS acontece it hora das refeic;6es. 0 uso de animais como
ahmento talvez seja a mais antiga e a mais difundida forma
de uso animal. Ha tambem urn sentido em que se pode ve-Ia
como a forma mais basic a de uso animal, a pedra angular so-bre
a qual repousa a crenc;a de que os animais existem para 0
nosso prazer e a nossa conveniencia.
Se os animais sao importantes POI'si mesmos, 0 uso ali-mental'
que deles fazemos torna-se questionavel _ sobretudo
qua~do. a carne ~nimal e urn luxo, e nao uma necessidade. Os
esqUlm~S, que Vlvemnum ambiente que os coloca diante das
alternatlVas de matar os animais para come-Ios ou morrer de
fome, podem ser justificados quando afirmam que 0 seu inte-resse
em sobreviver sobrep6e-se ao dos animais que matam.
P?uCOS, dentre nos, poderiam defender nesses termos a sua
ahment~c;ao. Os cidadaos das sociedades industrializadas po-d~
m facI1?1enteconseguir uma alimentac;ao adequada sem que
seJa preClSOrecorrer it carne animal. 0 peso avassalador do
t~stemunho medico indica que a carne animal nao e necessa-r:
a par.a a boa sau~e ou a longevidade. Alem disso, a produ-c;
ao anll~al nas socledades industrializadas nao constitui uma
forma eflCazde produc;ao de alimentos, visto que a maior parte
IGUALDADE PARA OS ANIMAlS?
dos animais consumidos foi engordada com graos e outros al~-
mentos que poderiamos tel' comido diretamente. Quando ah-mentamos
esses animais com graos, somente cerca de dez por
cento do valor nutritivo permanecem em forma de ~ar~e p~ra
o consumo humano. Portanto, com excec;aodos ammals cna-dos
inteiramente em terras improprias para 0 cultivo de leg~-
mes, frutas ou graos, nao se pode afirmar que sejam consuml-dos
para melhorar a nossa saude ou para aume~t~r a noss.a
provisao de alimentos. A sua carne e urn luxo, e so e consuml-da
porque as pessoas apreciam-Ihe 0 saboL .
Ao refletirmos sobre a etica do uso de carne ammal para
a alimentac;ao humana nas sociedades indu~trializadas, esta-mos
examinando uma situac;ao na qual urn mteresse humano
relativamente menor deve ser confrontado com as vidas e ?
bem-estar dos animais envolvidos. 0 principio da igu~l conSI-derac;
ao de interesses nao permite que os interesses maJores se-jam
sacrificados em func;ao dos in~ere~sesmenores. .
o arrazoado contra 0 uso de ammalS para a nossa ahmen-tac;
ao fica mais contundente nos casos em que os animais sao
submetidos a vidas miseniveis para que a sua carne se torne
acessivel aos seres humanos ao mais baixo custo possivel. As ,
formas modernas de criac;aointensiva aplicam a ciencia e a te~-
nologia de acordo com 0 ponto de vista s~gundo 0 qual os am-mais
sao objetos a serem usados por nos. Para que a carne
chegue as mesas das pessoas a urn prec;o acessivel, a noss.a so-ciedade
tolera metodos de produc;ao de carne que confmam
animais sensiveis em condic;6es improprias e espac;os exiguos
durante toda a durac;ao de suas vidas. Os animais sao tratados
como maquinas que transformam forragem em carne, e tod~
inovac;ao que resulte numa maior "tax~ de conversao" ~era
muito provavelmente adotada. Como aflfmou uma autonda-de
no assunto, "a crueldade so e admitida q~ando ~essam os
lucros". Para evitar 0 especismo, devemos pOI'urn flm a essas
prMicas. Nosso habito e 0 apoio de que necessitam os "faze~-
deiros industriais". A decisao de deixar de dar-Ihes esse apolO
pode ser dificil, mas e menos dificil do que ter~a sido, p~ra urn
sulista branco, opor-se as tradic;6es de sua socle~a~e e h~ertar
os seus escravos; se nao mudarmos os nossos habltos ahmen-tares
como poderemos censurar os proprietarios de escravos
que ~e recusavam a mudar 0 seu modo de vida?
6. · Ess~s argu.mentos aplicam-se aos animais que tern sido
cnados mdustnalmente - 0 que significa que nao devemos
comer frango, porco ou vitela, a menos que saibamos que a
~arne q.u~estamos comendo nao foi produzida pelos metodos
mdustnms. a mesmo se aplica a carne bovina proveniente de
gado comprimido em instalac;oesde confinamento onde se cos-tuma
eng~rdar os ani.mais (como e 0 caso da maior parte da
carne .bovma consumida nos Estados Unidos). as ovos virao
d: galmhas presas em pequenas gaiolas, tao pequenas que elas
nao cor:seguem ~e.m mesmo esticar as asas, a menos que os
ovos seJam especificamente vendidos como "de galinhas cria-das
em ~i~~rdade" (ou a menos que se viva num pais relativa-
~ente cI~lhzad~ como a Suic;a, onde nao se permite que as ga-lmhas
seJam cnadas em gaiolas).
E~ses argumentos nao nos forc;am a adotar, na integra,
urr:a ahmentac;ao vegetariana, ja que alguns animais - os car-n~
lros, por exemplo, e, em alguns paises, 0 gado - ainda sao
cnados em pastagens naturais. Mas isso po de mudar. a siste-ma,
norte-americano de engordar 0 gado em confinamento ja
esta se espalhando por outros paises. Enquanto isso a vida
dos anim.ais ~ria~os em liberdade e sem duvida melho; do que
~ dos ammalS cnados em "fazendas industriais". Ainda as-s~
m,pe:mane.ce a duvida sobre se e compativel com a igual con-
~Iderac;aod~ mteresses usa-los como alimento. Urn problema,
e claro, esta em que 0 seu uso como alimento implica ter de
mata-los - mas esse e urn problema que, como afirmei, sera
retomad~ quand~ tiver~os discutido 0 valor da vida no capi-tulo
segumte. AIem de tirar as suas vidas, muitas outras coi-sas
s~o feitas aos animais para que eles cheguem a nossa mesa
a bmxo prec;o. A castrac;ao, a separac;ao de maes e filhotes
a separac;ao de rebanhos, as marcas com ferro em brasa ~
transporte e, finalmente, os momentos do abate - coisas q~e,
provavelmente, envolvem sacrificio e nao levam em conside-ra7~
0 os interesses d.os~nimais. Esses procedimentos talvez per-mltlsse~
que os ammms fossem criados em pequena escala e
sem sofnmento, mas nao parece economico ou prcitico faze-lo
na escal~ ex~gida pela alimentac;ao dos grandes contingentes
pop~la~lOnms urbanos. De qualquer modo, 0 mais import an-te.
nao e saber se a carne animalpoderia ser produzida sem so-fnmento,
mas se a carne que estamos pensando em comprar
joi produzida sem sofrimento. A menos ~ue po_ssam~sestar
certos de que foi, 0 principio da igual considerac;ao de mteres-ses
implica que foi errado sacrificar importantes interesses do
animal para a satisfac;ao de interesses menores nossos; por con-seguinte,
deveriamos boicotar 0 resultado ~in~l,d~sseprocesso.
Para os que vivem em cidades onde e dlflCIl saber como
os animais que poderiamos comer viveram e morreram, e.sta
conclusao praticamente implica a opc;ao por urn modo de vIda
vegetariano. Vou examinar algumas objec;oesque se podem le-vantar
contra este fato na ultima parte deste capitulo. ~
Experiencias com animais
Talvez 0 campo no qual 0 especismo possa ser mais cla-ramente
observado seja 0 da utilizac;ao de animais em expe-riencias.
Aqui, a questao se coloca em toda a sua pleni~ud~,
pois os que fazem tais experiencias quase sempre tent am JUStl-ficar
a sua realizac;ao com animais com a alegac;ao de que as
experiencias nos levam a descobertas sobre os seres h~man~s;
se assim for, essas pessoas devem concordar com a afirmac;ao
de que os seres humanos e os animais sao semelhantes em as-pectos
cruciais. Por exemplo: se 0 fato de forc;ar urn rat~ .a
escolher entre morrer de fome e atravessar uma grade eletnfl-cada
para conseguir comida nos diz alguma coisa ~~bre as rea-c;
oesdos seres humanos ao estresse, devemos admitir que 0 ra-to
sente estresse quando colocado nesse tipo de situac;ao. .
As pessoas as vezes pensam que as experiencias ~o~ ~m-mais
atendem a objetivos medicos vitais e podem ser JustlfIca-das
com base no fato de que aliviam mais sofrimento. do que
provocam. Essa confortavel crenc;anao pas~~de urn enga_no.as
laborat6rios testam novos xampus e cosmeticos que estao pre-tendendo
comercializar pingando soluc;oesconcentradas desses
produtos nos olhos dos coelhos, num teste con~ecido como."teste
de Draize" . (As pressoes exercidas pelos mOVlmentosde hberta-c;
aodos animais fizeram com que varias industrias aban~on~s-sem
essa prcitica. Urn teste alternativo, que nao usa ammms,
foi descoberto ha pouco. Mesmo assim, ainda sao muitas as
indus trias e dentre elas as maiores do ramo, que continuam
a fazer 0 teste de Draize.) as aditivos alimenticios, inclusive
7. corantes e conservantes artificiais, sao testados com 0 que se
conhece como LDso - urn teste que tern por finalidade encon-t~
ar ~ "dose letal", ou 0 nivel de consumo que levani a morte
cmquenta por cento de uma amostra de animais. Ao longo do
proces.so, quase todos os animais ficam doentes, ate que al-guns
fmalmente morrem, e outros se restabelecem. Esses tes-tes
nao sao necessarios para impedir 0 sofrimento humano.
mesmo que nao existisse outra alternativa ao uso de animai~
para test~r. a seguranC;ados produtos, ja dispomos de urn mi-mero
~ufIcIente de xampus e corantes para alimentos. Nao ha
necess~dadealguma de desenvolver outros, que podem mostrar-se
pengosos.
Em muitos paises, as forc;as armadas fazem experiencias
atrozes com animais, que raramente chegam ao conhecimento
do publico. Para ficarmos apenas num exemplo: no Instituto
de Radiobiologia das Forc;asArmadas dos Estados Unidos em
Be~hesda, Maryland, os macacas do genero Rhesus tern ~ido
tremados para correr dentro de uma grande roda. Se reduzi-rem
muito a velocidade, aroda faz 0 mesmo, e os macacos
levam urn choque eletrico. Quando os macacas ja foram trei-nados
para correr por longos periodos, recebem uma dose le-tal
de radiac;~o. E entao, sentindo-se mal e vomitando, sao for-c;
a~osa c0.ntmuar correndo ate cair. A suposta finalidade dis-
S? e obter mformac;6es sobre a capacidade dos soldados de con-tmuarem
a lutar depois de urn ataque nuclear.
~o m~smo modo, nem todas as experiencias realizadas pe-las
umve~s~dades~odem ser defendidas com base na alegac;ao
~e que alIvI~m ~ms sofrimentos do que provocam. Tres cien-tIsta~
da Un}versId~de de Princeton deixaram 256 ratinhos sem
camIda ou agua ate r.n0rrerem. Concluiram que, em condic;6es
de sede e fome fatms, os ratinhos sao muito mais ativos do
que ratos adultos normais que recebem agua e comida. Numa
famosa serie de experiencias feitas durante mais de quinze anos,
~. F. H~rlow,.do ~entro de Pesquisas com Primatas de Ma-dIson,
WISCO?Sm, cnou macacos em condic;6esde privac;aoma-terna
e total Isolamento. Descobriu que, assim, podia reduzir
os macacos a urn estado em que, ao serem colocados entre ma-cacas
nor~ais, ficavam agachados num canto, em condic;6es
de depressao e medo continuos. Harlow tambem produziu en-tre
as macacas, maes tao neur6ticas que esmagavam 0 r~sto
de seus filhos no chao, e depois os esfregavam para a frente
e para tras. Harlow ja morreu, mas, em outras universidades
dos Estados Unidos, alguns de seus ex-alunos continuam a fa-zer
variac;6es de suas experiencias.
Nesses casos, e em muitos outros parecidos, os beneficios
para os seres humanos sao inexistentes ou muito incertos; ao
mesmo tempo, porem, as perdas para membros de outras es-pecies
sao concretas e inequivocas. Consequentemente, as ex-periencias
indicam uma falha na atribuic;ao de igual conside-rac;
ao aos interesses de todos os seres, a despeito da especie
a que pertenc;am.
No passado, 0 debate sobre as experiencias com animais
quase sempre negligenciou esse ponto, pois era colocado em
termos absolutos: 0 adversario da experiencia estaria prepara-do
para deixar que milhares morressem de uma doenc;a terri-vel,
cuja cura poderia ser encontrada mediante experiencias em
urn animal? Trata-se de uma questao meramente hipotetica,
uma vez que as experiencias nao tern resultados tao espeta-culares
assim; contudo, contanto que seja clara sua natureza
hipotetica, acredito que a pergunta deva ser respondida afir-mativamente
- em outras palavras, se urn animal, ou ate mes-mo
uma duzia deles, devesse ser submetido a experiencias pa-ra
salvar milhares de pessoas, eu acharia correto e de acordo
com a igual considerac;ao de interesses que assim fosse feito.
Pelo menos, esta e a resposta que deve ser dada por urn utili-tarista.
as que acreditam em direitos absolutos poderiam afir-mar
que e sempre urn erro sacrificar urn ser, seja ele humano
ou animal, tendo em vista 0 beneficio de outro. Neste caso,
a experiencia nao deve ser realizada, sejam quais forem as con-sequencias.
Diante da pergunta hipotetica a respeito de salvar milha-res
de pessoas atraves de uma unica experiencia com urn ani-mal,
os adversarios do especismo podem responder com outra
pergunta hipotetica: os que fazem as experiencias estariam pre-parados
para faze-Ias com seres humanos 6rfaos com les6es
cerebrais graves e irreversiveis, se esta fosse a unica maneira
de salvar milhares de outras pessoas? (Digo "6rfiios" para evi-tar
a complicac;ao dos sentimentos dos pais humanos.) Se os
cientistas nao estiverem preparados para usar 6rfiios humanos
com les6es cerebrais graves e irreversiveis, sua aceitac;aodo usa
8. de animais para os mesmos fins parece ser discriminatoria uni-camente
,com base na especie, uma vez que macacos, dies, ga-tos:
e ate ~esmo camundongos e ratos sao mais inteligentes,
malS consclente~ do que se passa com eles, mais sensiveis a dor,
etc" do que mUltos seres humanos com graves lesoes cerebrais
que mal sobrevivem em enfermarias de hospitais e outras ins~
tituil;oes. Da parte de tais seres humanos, parece nao existir
nenhu~a c.aracteristicamoralmente relevante que esteja ausente
nos ammalS. Portanto, os cientistas revelam preconceitos em
favor de sua propria especie sempre que fazem experiencias
c?m ~nimais para finalidades que, segundo pensam, nao se-nam
19ualmente justificadas se fossem feitas com seres hum a-nos
dotados de urn igual (ou menor) nivel de sensibilidade
consciencia, etc. Se esse preconceito fosse eliminado 0 lllime~
ro de experiencias realizadas com animais seria sensivelmente
reduzido.
Concentrei-me no uso de animais enquanto alimento e ob-j~
to de pesquisas, uma vez que se trata de exemplos de espe-
Cismo sistematico e praticado em grande escala. Nao consti-tue~,
sem~uvid~, as unicas areas nas quais 0 principio da igual
conslderal;ao de mteresses, levado alem da especie humana tern
i~plical;oes praticas. Ha muitas outras areas que colocam ~ues-toes
semelhantes, inclusive 0 comercio de peles, a cal;a em to-d,
as.as suas diversas modalidades, os circos, os rodeios, os zoo-
10giCOSe os negocios que envolvem animais de estimal;ao. Da-do
que as questoes filos6ficas colocadas por esses problemas
nao sao muito diferentes dascolocadas pelo usa de animais
nas esfe~as da alimental;ao e da pesquisa, deixarei que 0 leitor
lhes aphque os principios eticos apropriados.
Em 1973, apresentei pela primeira vez os pontos de vista
esboyados neste capitulo. Naquela epoca, nao existia nenhum
mOVlmentode libertal;ao ou de direitos dos animais. Desde en-tao,
surgiu urn movimento, e alguns dos mais graves abusos
cometidos contra os animais, como 0 teste de Draize e 0 LDso,
tornaram-se menos comuns - ainda que nao tenham sido to-talmente
eliminados. 0 comercio de peles vem sendo muito ata-cado
e, em conseqiiencia, as vendas de peles cafram drastic a-mente
em pafses como a Inglaterra, os Pafses Baixos, a Aus-tralia
e os Estados Unidos. Alguns pafses tambem estao co-mel;
ando a eliminar por etapas as formas de confinamento mais
extremas das fazendas industriais. Como ja foi aqui mencio-nado,
a Suil;a proibiu 0 sistema de aprisionar em gaiolas as
galinhas poedeiras. A Inglaterra tornou ilegal a crial;ao de be-zerros
em estabulos individuais, e esta eliminando por etapas
os chiqueiros individuais. Como em outros campos das refor-mas
sociais, a Suecia tambem esta na lideranl;a no que diz res-peito
a essas inoval;oes: em 1988, 0 Parlamento sueco apro-
YOUuma lei que, ao longo de urn periodo de dez anos, levara
a eliminal;ao de todos os sistemas que, nas fazendas industriais,
confinam os animais por muito tempo e nao permitem que vi-yam
conforme 0 seu comportamento natural.
A despeito dessa crescente aceital;ao de muitos aspectos
da questao da libertal;ao dos animais e do avanl;O lento, mas
tangivel, que ja se fez em nome de seu bem-estar, inumeras
objel;oes tern sido levantadas, algumas delas mais simple.se pre-visfveis
outras mais sutis e inesperadas. Nesta parte fmal do
capftul;, tentarei responder as mais importantes dessas obje-l;
oes, comel;ando pelas mais simples.
Nao podemos nunca sentir a dor de urn outro ser, seja
ele humano ou nao. Quando vejo minha filha cair e esfolar
o joelho, sei que ela sente dor pela maneira como se comporta
- chora, diz-me que 0 joelho esta doendo, esfrega 0 lugar ma-chucado,
etc. Sei que eu mesmo me comporto de urn jeito pa-recido
- urn pouco mais discreto - quando sinto dor, e en-tao
admito que minha filha esta sentindo alguma coisa que se
assemelha ao que sinto quando esfolo 0 meu joelho.
o fundamento de minha convicl;ao de que os animais po-dem
sentir dor e semelhante ao fundamento de minha convic-
9. <;aode que a minha filha pode sentir dor. Quando sentem al-guma
dor, os animais se comportam de urn jeito muito pareci-do
com 0 dos humanos, e 0 seu comportamento e suficiente
para justificar a convic<;aode que eles sentem dOL E verdade
que, com exce<;aodos macacos que aprenderam a comunicar-se
atraves de uma linguagem de sinais, eles nao tern como di-zer
que estao sentindo alguma dor - mas, quando era muito
nova, minha filha tambem nao falava. No entanto, ela encon-trava
outras formas de tornar aparentes os seus estados inte-riores,
com.0 que demo~strav~ que podemos ter certeza de que
urn determmado ser esta sentmdo dor, ainda que ele nao con-te
com 0 recurso da linguagem.
Em apoio a nossa inferencia do comportamento animal, po-demos
chamar a aten<;aopara 0 fato de que 0 sistema nervoso
de todos os vertebrados, sobretudo 0 de passaros e mamiferos
e basicamente parecido. As partes do sistema nervoso human~
que dizem respeito a sensa<;aode dor sao relativamente antigas
em termos de evolu<;ao.Ao contrario do cortex cerebral, que so
se desenvolveu plenamente depois que nossos ancestrais se dife-renciaram
dos outros mamiferos, 0 sistema nervoso basico evo-luiu
em ancestrais mais distantes, comuns a nos e nos outros ani-mais
"superiores". Esta semelhan<;aanat6mica torna provavel
que a, capacidade de sentir dos animais seja similar a nossa.
E significat.ivoque nenhu.m dos motivos em que nos apoia-mos
para acredItar que os ammais sentem dor se apliquem as
~lantas. Nao temos como observar urn comportamento suges-tIVOde
dor - as sensacionais afirma<;oes em contrario nao se
most.raram bem-fundamentadas -, e as plantas nao possuem
urn sIstema nervoso centralmente organizado, como 0 nosso.
as animais comem uns aos outros; por que,
entiio, niio dever[amos come-los?
Esta obje<;aopoderia ser chamada de "Obje<;ao Benjamin
Fran~lin". Em sua autobiografia, Franklin conta que foi ve-getanano
durante algum tempo, mas que a sua abstinencia de
carne animal chegou ao fim quando observava alguns amigos
preparando-se pa.ra frit.ar urn peixe que tinham acabado de pes-
C~LQuando 0 peIxe fO!aberto, descobriu-se que tinha urn pei-xmho
no seu est6mago. "Bern", disse Franklin de si para si,
"ja que voces se comem entre si, nao vejo por que deixaria-mos
de come-Ios." Desde entao, voltou a comer carne.
Franklin foi, pelo menos, honesto. Ao contar essa histo-ria,
confessou que so se deixou convencer da validade da ob-je<;
aodepois que 0 peixe ja estava na frigideira, com urn "cheiro
delicioso". Observou, tambem, que uma das vantagens de ser
uma "criatura racional" esta no fato de se poder encontrar
uma razao para tudo que se quer fazer. As respostas que po-dem
ser dadas a sua obje<;ao sao tao obvias que a sua aceita-
<;ao,da parte de Franklin, constitui urn testemunho mais elo-qiiente
de seu gosto por peixe frito do que de sua capacidade
de raciocinio. Em primeiro lugar, a maior parte dos animais
que mata em busca de alimento nao conseguiria sobreviver se
nao 0 fizesse, enquanto nos nao temos necessidade de comer
carne animal. Depois, e estranho que os seres humanos, que
normalmente encaram 0 comportamento animal como "sel-vagem",
venham a usar, sempre que lhes convem, urn argu-mento
do qual se po de inferir que devemos buscar orienta<;ao
moral nos animais. 0 ponto fundamental, porem, e 0 de que]
os animais nao sao capazes de refletir sobre as alternativas que
se apresentam a eles, nem de ponderar sobre a etica de sua ali-menta<;
ao. Portanto, e impossivel considerar os animais res-ponsaveis
pelo que fazem, ou concluir que, pelo fato de mata-rem
"merecem" ser tratados da mesma maneira. Por outro
lad;, os que estao lendo estas palavras devem refletir sobre
a justificabilidade de seus habitos alimentares. Nao se po de
fugir a responsabilidade atraves da imita<;ao de seres que nao
sao capazes de fazer essa op<;ao.
As vezes, as pessoas chamam a aten<;aopara 0 fato de que
os animais se comem entre si para introduzir urn ponto ligei-ramente
diferente. Esse fato, pensam eles, sugere nao que os·
animais mere<;amser comidos, mas, pelo contrario, que existe
uma lei natural segundo a qual os mais fortes devoram os mais
fracos, uma especie de "sobrevivencia dos mais aptos" dar-winiana
atraves da qual, ao comermos outros animais, esta-mos
simplesmente fazendo a nossa parte.
Essa interpreta<;ao da obje<;aocomete dois erros basicos:
urn deles, urn erro de fato, 0 outro urn erro de raciocinio. 0
erro factual esta no pressuposto de que 0 nosso consumo de
carne animal faz parte do processo evolutivo natural. Isto po-
10. liTICA PRATICA
d~ria ser verdadeiro no caso de algumas culturas primitivas que
alllda ca<;ampara obter alimento, mas nao tern nada a ver com
a produ<;ao em massa de animais nas fazendas industriais.
Suponh~mos; porem, que ca<;assemospara conseguir ali-mento
e que IStOflzesse parte de algum processo evolutivo na-tural.
Ainda haveria urn erro de raciocinio no pressupor que
por ser natural, esse processo e correto. E sem duvida "na~
tura 1" que as mulheres gerem uma crian<;aa" cada ano ou dois
da pUb~rdade ~ menopausa, mas isto nao significa que sej~
errado. lllterfenr nesse processo. Precisamos conhecer as leis
n.aturaIs que nos afetam para podermos avaliar as conseqiien-
Clas do que fazemos; mas nao temos de admitir que a forma
natural de fazer alguma coisa e incapaz de ser aperfei<;oada.
o fato de existir urn abismo insondavel entre os seres hu-manos
~ <:sa?imais.n~? foi questionado ao longo de quase to-da.
a eXlst;ncla da clvlhza<;aoocidental. A base dessa hipotese
fOl.destrUldapela descoberta darwiniana de nossas origens ani-malS
e p~la conseqiiente perda de credibilidade da historia de
nos~a Cna<;ao Divina, feitos a imagem de Deus com uma- al-ma
lmo.rtal. Alguns acharam dificil aceitar que as diferen<;as
entre nos e os outros animais sejam muito mais diferen<;as de
~rau d? ~~e.de especie. Procuraram maneiras de tra<;ar uma
Illlha dlvlsona ent:e ?S ser:s humanos e os animais. Ate a pre-sente
data, esses hmltes tem-se mostrado de vida curta. Por
exemplo: costumava-se dizer que so os humanos usavam fer-ramentas,
ate que se descobriu que 0 pica-pau das ilhas Gala-pagos
usava urn espinho de cacto para arrancar insetos de bu-ra~
os ~as arvores. Depois sugeriu-se que, mesmo que outros
ammaIS usassem ferramentas, os humanos eram os unicos se-re~
a fazer.em as suas. Jane Goodall, porem, descobriu que os
chlmpanzes das ~orestas da Tanzania mascavam folhas para
fazer uma espon]a que Ihes permitia absorver agua, e arranca-yam
as fol~as dos galhos para fazer ferramentas destinadas
a apanhar lllsetos. 0 usa da linguagem era outra linha limi-trofe
- mas a~ora temos chimpanzes, gorilas e orangotangos
aprendendo a llllguagem de sinais dos surdos, e ha indicios de
que as baleias e os golfinhos podem ter uma complex a lingua-gem
propria.
Se essas tentativas de tra<;ar uma linha divisoria entre os
seres humanos e os animais se tivessem ajustado aos fatos da
situa<;ao, ainda assim nao seriam portadoras de nenhum peso
moral. Como afirmou Bentham, 0 fato de urn ser nao usar al- i gum tipo de li?-guagem,nem faz~r suas fer:amentas dificilmente
poderia ser VlStOcomo urn motlvo para 19norarmos 0 seu so-frimento.
Alguns filosofos tern afirmado que existe uma dife-ren<;
amais profunda. Segundo eles, os animais nao sao capa-zes
de pensar ou raciocinar e, em decorrencia disso, nao tern
uma concep<;ao ou uma consciencia de si mesmos. Vivem 0
aqui e 0 agora, e nao se veem como entidades distintas, com
urn passado e urn futuro. Tambem nao tern autonomia, a ca-pacidade
de escolher 0 modo como preferem viver as suas vi-das.
Ja se sugeriu que os seres aut6nomos e autoconscientes
sao, de alguma forma, mais valiosos e moralmente importan-tes
do que os que so vivem de momenta a momento, sem ca-pacidade
de perceberem-se como seres distintos que tern urn
passado e urn futuro. Segundo esta concep<;ao, os interesses
dos seres aut6nomos e conscientes devem, normalmente, ter
prioridade sobre os interesses de outros seres.
Nao YOUdiscutir, agora, se alguns animais sao conscien-tes
e aut6nomos. 0 motivo dessa omissao esta em que nao creio
que, no presente contexto, muita coisa dependa dessa ques-tao.
No momento, estamos apenas examinando a aplica<;aodo
principio da igual considera<;ao de interesses. No capitulo se-guinte,
quando discutirmos as questoes relativas ao valor da
vida, veremos que existem raz6es para sustentar que a cons-ciencia
de si e crucial nos debates sobre 0 direito, ou nao, que
urn ser tern a vida, e entao examinaremos os indicios desse ti-po
de consciencia nos animais. Enquanto isso, a questao mais
importante e: 0 fato de urn ser ter consciencia de si habilita-o '
a algum tipo de prioridade de considera<;ao?
A alega<;aode que os seres autoconscientes tern esse tipo
de prioridade so e compatlvel com 0 principio da igual consi-dera<;
ao de interesses se nao for alem da alega<;aode que cer-tas
coisas que acontecem com os seres autoconscientes podem
ser contrarias aos seus interesses, enquanto acontecimentos se-melhantes
nao seriam contrarios aos interesses dos seres que
11. liTICA PRATICA
nilo s~o aut.oconscientes. Isso porque a criatura autoconscien-
~~ete~la malOr c0.nsciencia do que esta acontecendo, poderia
msenr 0 ~conteclmento no contexto geral de urn periodo de
temp~ mars l~~go,.teria desejos diferentes, etc. Mas esta e uma
quest~o qu.eJa del por certa ao iniciar este capitulo e, desde
que nao seJa levada a extremos absurdos - como insistir em
que, se sou autoconsciente e uma vitela nao e, 0 fato de privar-me
de s~a carne traz mais sofrimentos do que privar a vitela
~e sua hberdade q: andar, esticar-se e comer grama -, nao
: negada pelas cntlcas que fiz as experiencias com animais e
as fazendas industriais.
Seria ben: difere_ntese se alegasse que, mesmo quando urn
ser aut?COnSclentenao sofresse mais do que urn ser meramen-te
senclente, 0 sofrimento do ser autoconsciente e mais impor-tant~
pelo fato .de serem esses os mais valiosos tipos de ser.
Isso l~trodu~ aflrm~r;oes de valor nao-utilitarias - afirmar;oes
que na~ denv~m, slmplesmente, do fato de se adotar urn pon-to
de vIsta umversal, do modo como foi descrito na parte fi-nal
do C~pitulo 1. Vma vez que 0 argumento utilitarista ali
de~envolvldo era. confessamente sujeito a provas, nao posso
usa-Io para exclmr todos os valores nilo-utilitaristas. Nao obs-t~
nte, temos 0 direito de perguntar por que os seres autocons-
Clentesdevem ser cons.iderados mais valiosos e, em particular,
por que 0 suposto malOr valor de urn ser autoconsciente deve
resultar er.ndar preferencia aos interesses menores de urn ser
autoconsclente em detrimento dos interesses maiores de urn ser
me:ame:rte se~cien~e,mesmo quando a autoconsciencia do pri-melro
nao esta ~mJogo. Este ultimo ponto e importante, pois,
no momento, nao ~stamos examinando casos em que as vidas
dos seres autocons~lentes estilo em risco, mas sim casos em que
os seres ~utoconscl~ntes continuarao vivos e com as suas fa-culdad.
e l~ta.ctas, seJa qual for a nossa decisao. Nesses casos,
se a eXlstencrada autoconsciencia nao afeta a natureza dos in-te:
esses _emcotejo, nao fica claro por que deveriamos forr;ar
a l~clusao da aut~consciencia na discussao, nem por que de-v~
namos forr;ar a mclusao de especie, rar;a ou sexo em discus-soes
semelhantes. Interesses sao interesses e devem ser consi-derados
~or i~ual- sejam eles os interesses de seres humanos
ou de ammalS, com ou sem consciencia de si.
Ha outra resposta possivel a afirmar;ao de que a autocons-ciencia,
a autonomia, ou qualquer caracteristica semelhante, po-dem
servir para distinguir os seres humanos dos animais: lem-bremo-
nos de que existem seres humanos com deficiencias men-tais
que podemos considerar menos autoconscientes ou autono-mos
do que muitos animais. Se usarmos essas caracteristicas pa-ra
colocar urn abismo entre os seres humanos e outros animais,
estaremos colocando esses seres humanos menos capazes do ou-tro
lado do abismo; e, se 0 abismo for usado para marcar uma
diferenr;a de status moral, entao esses seres humanos teriam 0
status moral de animais, e nilo de seres humanos.
Esta resposta e forr;ada, pois a maior parte de nos acha
horrivel a ideia de usar seres humanos com deficiencias men-tais
em experiencias dolorosas, ou de engorda-Ios para fins gas-tronomicos.
Alguns filosofos, porem, tern afirmado que essas
conseqiiencias nilo decorreriam realmente do usa de uma ca-racteristica
como a autoconsciencia, ou a autonomia, para dis-tinguir
os humanos de outros animais. Vou examinar tres des-sas
propostas.
A primeira sugestilo e que os seres humanos com graves
deficiencias mentais, que nao possuem as aptidoes que distin-guem
0 ser humano normal dos outros animais, devem, nao
obstante, ser tratados como se as possuissem, uma vez que per-tencem
a uma especie cujos membros normalmente as possuem.
Em outras palavras, a sugestao e que tratemos os individuos
nilo de acordo com as suas verdadeiras qualidades, mas de acor-do
com as qualidades que sao normais na sua especie.
E interessante que essa sugestao seja feita para defender
o argumento de que os membros de nossa especie devem ser
mais bem-tratados que os de outras especies, ao passe que se-ria
firmemente rejeitada caso a usassemos para justificar urn
tratamento dos membros de nossa rar;a ou sexo melhor que
o dispensado aos membros de outra rar;a ou sexo. No capitulo
anterior, ao discutir 0 impacto de possiveis diferenr;as de Q.I.
entre membros de grupOS etnicos diferentes, fiz a afirmar;ao
obvia de que, seja qual for a diferenr;a entre as pontuar;oes me-dias
de grupos diferentes, alguns membros do grupo com a pon-tuar;
ilo media mais baixa vao sair-se melhor do que alguns
membros de grupos com a pontuar;ao media mais alta, e de
que, portanto, devemos tratar as pessoas como individuos, e
12. liTICA FRATICA
nao de aco~do com 0 ~ivel medio de seu grupo etnico, quais-q~
er que seJam as explrca<;oesdessa media. Se aceitamos isso
nao podemos, coerentemente, aceitar a sugestao de que, ao li~
darmos com seres humanos com graves deficiencias mentais
dev~~os as~egurar-Ihes 0 status ou os direitos normais de su~
es~ecle. POlSqual e 0 significado do fato de que, desta vez,
a lmha ~ev: ser tra<;ada.ao.r~dor da especie, e nao da ra<;aou
do sex? ~~o podemos mSlstIr em que os seres sejam tratados
como mdlvlduos no primeiro caso, e como membros de urn
~rup? no outro. A condi<;ao de membro de uma especie nao
e malS relevante, nessas circunsUincias, do que a condi<;ao de
pertencer a uma ra<;a ou a urn sexo.
Vma segunda sugestao e que, muito embora os seres hu-m_
anosco~ gra;res deficiencias mentais possam nao ter apti-does
supenores as dos outros animais, ainda assim eles saDse-r~
s.human<:s e, enquanto tais, temos com eles liga<;oesespe-clms
que ~ao temos com os outros animais. Como escreveu
urn resenhlsta de Animal Liberation: "A parcialidade para com
a nossa p:opria espec~ee, dentro dela, para com grupos bem
menores e, como 0 umverso, uma coisa que seria melhor acei-tarm,
o~. (... ~0 perig?~: uma tentativa de eliminar as afei<;oes
parCla!S_esta na posslbllrdade de se destruir a origem de todas
as afewoes."
. J?sse ~rgumento liga fortemente a moralidade as nossas
afe~<;oes.E claro que algumas pessoas podem manter, com 0
n:ms consumad.o e irr~versivel dos doentes mentais, urn rela-clOnamen~
omms estre,lto do que manteriam com qualquer ani-
~al, e sena abs~rdo dlzer-Ihes que devem abrir mao desse sen-tIme~
to. Elas slmplesmente tern esses sentimentos e, enquan-to
tms, nao ha nele~ nada de born ou de mau. A questao e sa-ber
se devemos aceltar que as nossas obriga<;oes morais para
c~m .um ser d~l?endam desse modo dos nossos sentimentos. E
publrco e notono que alguns seres humanos se relacionam me-l~
or com 0 se.ugato do que com os seus vizinhos. Os que asso-c:
am a morahdade as afei<;oesaceitariam que essas pessoas es-tao
certas quando, durante urn incendio, tentam primeiro sal-var
os seus gat~s, e so depois os vizinhos? E, acredito, mesmo
aqueles que estao preparados para dar uma resposta afirmati-va
a essa p~rgunta nao desejariam concordar com os racist as
para os qums, se as pessoas mantem rela<;oesmais naturais co~
outras de sua propria ra<;a e por elas sentem maior afei<;ao,
estao certas ao darem preferencia aos interesses de outros mem-bros
de sua propria ra<;a. A etica nao exige que eliminemos
as rela<;oespessoais e as afei<;oesparciais, mas exige que, em
nossas a<;oes,levemos em conta as reivindica<;oes morais dos
que saDafetados por elas, e que 0 fa<;amoscom urn certo grau
de independencia de nossos sentimentos por eles.
A terceira sugestao invoca 0 argumento bastante difundi-do
da "ladeira escorregadia". Na base desse argumento esta
a ideia de que, uma vez que ja demos urn passo em certa dire-
<;ao,estaremos numa ladeira escorregadia e teremos de escor-regar
mais do que seria a nossa vontade. No presente contex-to,
0 argumento e usado para sugerir que precisamos de uma
linha nitida para separar os seres com os quais podemos fazer
experiencias, ou que podemos engordar para comer, daqueles
com os quais nao podemos fazer tais coisas. A condi<;ao de
membro de uma especie estabelece uma linha divisoria bem ni-tida,
ao mesmo tempo em que os niveis de autoconsciencia,
de autonomia ou sensibilidade nao 0 fazem. Ainda segundo
o argumento, se admitirmos que urn ser humano com deficien-cias
mentais nao tern urn status moral superior ao de urn ani-mal,
ja teremos come<;ado a deslizar por uma ladeira cujo ni-vel
seguinte e a nega<;ao dos direitos dos desajustados sociais
e cujo fundo e urn governo totalitario, que descarta os grupos
que nao the agradam classificando-os de subumanos.
o argumento da ladeira escorregadia pode ser uma valio-sa
advertencia em alguns contextos, mas nao resiste muito. Se,
como afirmei neste capitulo, acreditamos que 0 status espe-cial
que hoje atribuimos aos humanos permite que ignoremos
os interesses de bilhoes de criaturas sencientes, nao devemos
dissuadir-nos de tentar corrigir essa situa<;aopor causa da me-ra
possibilidade de que os principios em que fundamentamos
essa tentativa serao mal utilizados por governantes inescrupu-losos
em seu interesse. E nao passa de uma possibilidade. A
mudan<;a que sugeri poderia nao fazer diferenp alguma para
o tratamento que dispensamos aos seres humanos, ou pode-ria,
ate mesmo, aperfei<;oa-Io.
No fim, nenhuma linha etica arbitrariamente tra<;ada po-de
ser segura. 0 melhor sera encontrar uma linha que possa
ser defendida aberta e honestamente. Quando discutirmos a
13. cutanasia no Capitulo 7, veremos que uma linha tra<;ada no
lugar errado po de ter resultados funestos, ate mesmo para os
que se situam no lado mais alto, ou humano, desta linha. Tam-bem
e importante lembrar que 0 objetivo do meu argumento
e elevar 0 status dos animais, e nao diminuir 0 dos sereshu-manos.
Nao desejo sugerir que os deficientes mentais devam
ser for<;ados a ingerir alimentos com corantes ate que a meta-de
deles mona - ainda que, sem duvida, no que diz respeito
a saber se a substancia e ou nao segura para os seres huma-nos,
este procedimento certamente nos daria indica<;6es mais
precisas do que 0 teste feito com coelhos ou cachorros. Gosta-ria
que a nossa convic<;ao de que seria err ado tratar os defi-cientes
mentais dessa maneira fosse transferida para os ani-mais
nao-humanos em niveis semelhantes de autoconsciencia
e com uma capacidade semelhante de sofrimento. E excessi-vamente
pessimista abster-se de tentar modificar as nossas ati-tudes
com base na ideia de que poderiamos come<;ar a tratar
o~ deficientes mentais com a mesma falta de considera<;ao que
dlspensamos aos animais, em vez de tratar estes ultimos com
a maior considera<;ao que dedicamos aos seres humanos com
deficiencias mentais.
Na mais antiga obra de filosofia moral que a tradi<;ao oci-dental
nos legou, a Repziblica de Platao, encontramos a se-guinte
concep<;ao da etica:
Afirmam que, por natureza, cometer injusti<;ase born e sofrer uma
injusti<;ae mau; mas tambem se afirma que hi mais mal na ultima
do que bem na primeira. Portanto, quando os homens tiverem
feito e sofrido a injusti<;a,e tiverem a experiencia de ambas as coi-sas,
todos os que nao forem capazes de evitar uma e obter a outra
pensarao que fariam melhor em concordar que 0 melhor e nao
ter nenhuma; em decorrencia disso, come<;ama criar leis e con-
;en<;6es ~utuas; e chamam de legitimo e justo tudo aquilo que
e determmado pela lei. E essa, afirma-se, a origem e a natureza
dajusti<;a - trata-se de urn meio-termo, entre amelhor das alter-nativas,
que e cometer injusti<;a e nao ser punido, e a pior delas,
que e sofrer injusti<;a sem 0 poder de retalia<;ao.
IGUALDADE PARA OS ANIMAlS?
Nao era este 0 ponto de vista do pr6prio Platao; ele 0 co-loca
na boca de Glauco para permitir qu~ S6crates, 0 pr~ta-gonista
do seu dialogo, possa refuta-Io. E urn po~to de ~Ista
que nunca teve aceita<;ao geral, mas que nem por ISS,od~I~OU
de existir. Ecos dele podem ser encontrados nas teon~s etIcas
de fil6sofos contemporaneos como John Rawls e DavId o.au-thier
e tern sido usado, por estes e outros fil6sofos, para JUs-tific~
r a exclusao dos animais da esfera da etica, ou, pelo me-nos,
de sua parte central. Pois, se a base da etica esta em que
eu me abstenha de fazer coisas mas aos outros, desde que ta~-
bem nao me fa<;am nada de mau, nada justifica que eu p.ratI-que
esses atos contra aqueles que sao incapazes de apreCl~r a
minha absten<;ao de tais praticas e controlar, em conformIda-de
com ela sua conduta com rela<;ao a mim. De urn modo ge-ral,
os ani~ais pertencem a essa categoria. Quando :stou sur-fando
bem longe da praia e urn tubarao me ataca, mmha con-sidera<;
ao para com os animais de nada ~e valera; e provave~
que eu seja comido com a mesma voracIdade com que 0 sera
o pr6ximo surfista, ainda que ele passe todas as tardes de do-mingo
dando tiros nos tubar6es de den~ro de um barco. Co-mo
os animais sao incapazes de atos reCIprocos, eles ~e ~ncon-tram,
de acordo com esse ponto de vista, fora dos lImItes do
contrato etico.
Ao levarmos em conta essa concep<;ao da etica, devemos
fazer uma distin<;ao entre as explicar6es da origem ~os j~izos
eticos e asjustijicar6es desses mesmos juizos. A explIca<;ao da
origem da etica, em termos de urn contrato tacito entre as pes-soas
tendo em vista 0 seu beneficio mutuo, tem.u~a certa ?~au-sibilidade
(ainda que, em vista das norm as SOCIalSqu~se-etIcas
que se tern observado nas sociedades de outros mamIfer?s, na
verdade se trate de uma fantasia hist6rica). Mas podenamos
aceitar esse relata como uma explica<;ao hist6rica sem que, ao
mesmo tempo, nos comprometessemos com qu~isquer .c?ncep~
<;6es a respeito do carater justo ou injust? do sIste~a etIco ?~I
resultante. Por mais interesseiras que seJam as ongen~ da etI-ca,
e possivel que, uma vez que come<;amos a pensar etIca.men-te,
somos levados alem dessas premissas mundan.as. POlS ~o-mos
capazes de raciocinio, e a razao na~ ~ subordmada ao m-teresse
pessoal. Ao refletirmos sobre a etIca, estamos us~ndo
conceitos que, como vimos no primeiro capitulo deste lIvro,
14. nos levam alem do nosso interesse pessoal, ou mesmo do inte-r~
sse de algum grupo especifico. De acordo com 0 ponto de
vIsta contratual da etica, esse processo de universalizal;:ao de-ve
deter-se nas fronteiras da nossa comunidade· mas uma vez
iniciado 0 processo, podemos descobrir que na~ seri'a coeren-te
com as nossas outras convicl;:oesparar nesse ponto. Assim
como os primeiros matematicos, que podem ter comel;:ado a
contar. para manter-se informados do numero de pessoas de
su~s tnbos, nao faziam a menor ideia de estarem dando os pri-melros
passos num caminho que levari a ao caIculo infinitesi-mal,
a origem da etica nada nos diz a respeito de onde ela vai
terminar.
Ao nos voltarmos para a questao da justifical;:ao, pode-mos
ver que as consideral;:oes contratuais da etica tem muitos
problemas. Claramente, tais consideral;:oes excluem da esfera
etica muito mais do que os animais. Vma vez que os seres hu-manos
com deficiencias graves sao igualmente incapazes de um
comportamento reciproco, devem ser tambem excluidos. 0
mesmo se aplica aos bebes ou as crianl;:as muito novas; mas
os problemas da concepl;:ao contratual nao se limitam a esses
c~sos especiais. De acordo com essa concepl;:ao, a principal ra-zao
para se celebrar 0 contrato etico e 0 interesse pessoal. A
menos que um novo elemento universal seja introduzido, um
grupo de pessoas nao tem motivos para lidar eticamente com
outro, desde que nao seja de seu interesse faze-Io. Se levarmos
~s~oa serio, teremos de rever drasticamente os nossos juizos
etIcos. Por exemplo: os traficantes de escravos que levaram
escravos africanos para a America nao tinham nenhuma ra-zao
pessoal para tratar os africanos melhor do que tratavam.
Os africanos nao tinham como retaliar. Se fossem contratua-listas,
os traficantes de escravos poderiam ter contestado os
abolicionistas, explicando-Ihes que a etica para nas fronteiras
da comunidade e, como os africanos nao pertencem a sua co-munidade,
nao tem quaisquer obrigal;:oes para com eles.
Nao sao apenas as praticas antigas que seriam afetadas
se 0 modelo contratual fosse seriamente adotado. Ainda que
as pessoas falem tanto sobre 0 mundo de hoje como uma uni-ca
comunidade, nao ha duvida de que no Chade, por exem-plo,
0 poder do povo para retribuir tanto 0 bem quanta 0 mal
que, digamos, lhes fazem os cidadaos do Estados Vnidos , e
l11uitolimitado. Assim, nao parece que a concepl;:ao contra-lual
estabelel;:aquaisquer obrigal;:oesda parte das nal;:oesricas
para com as mais pobres.
Mais surpreendente do que tudo e 0 imp acto do modelo
contratual sobre a nossa atitude diante das geral;:oesfuturas.
"Por que devo fazer alguma coisa para a posteridade? 0 que
C que a posteridade fez para mim?" seria 0 ponto de vIsta que
deveriamos assumir se aqueles que podem exercer um compor-tamento
reciproco estivessem dentro da esfera da etica. Os que
vao estar vivos no ana 2100 nao tem como tomar as nossas
vidas melhores ou piores. Portanto, se as obrigal;:oes so exis-tem
onde pode haver reciprocidade, nao precisamos nos preo-cupar
com problemas como 0 manejo do lixo nuclear. E ver-dade
que uma parte do lixo nuclear continuara sendo mortal
durante duzentos e cinquenta mil anos, mas, desde que 0 co-loquemos
em conteineres que 0 manten~~m lo~ge de no,s por
cem anos, teremos feito tudo 0 que a etIca eXIgede nos.
Esses exemplos devem ser suficientes para mostrar que,
seja qual for a sua origem, a etica que temos hoje realmente
vai alem de um tacito entendimento entre seres capazes de re-ciprocidade.
A perspectiva de retomar a tal ?ase n~o sera, .ima-gino,
atraente. Vma vez que nenhuma consIdera~ao da onge~
da moralidade nos forl;:aa basear a nossa morahdade na reCI-procidade,
e uma vez que nenhum outro argumento em favor
dessa conclusao foi oferecido, devemos rejeitar essa concep-l;:
aoda etica. ..
A esta altura da discussao, alguns teoncos contratUaIS re-correm
a uma concepl;:ao mais flexivel da ideia de contrato,
instando conosco para que incluamos na comunidade moral
todos aqueles que tem, ou terao, a capacidade de fazer parte
de um acordo reciproco, sem levar em consideral;:ao 0 fato de
eles serem, ou nao, capazes de reciprocidade e independente-mente
tambem de saber quando terao essa capacidade. Cla-ramente
essa c~ncepl;:aonao mais se baseia em reciprocidade
alguma,' pois (a menos que tenhamos uma preocupal;:ao o~-
sessiva com a limpeza do nosso tumulo, ou com a preserval;:ao
de nossa memoria ate 0 fim dos tempos) as geral;:oesfuturas
evidentemente nao tedo como estabelecer relal;:oesreciprocas
conosco, ainda que algum dia adquiram ?- capacidade de um
comportamento reciproco. Contudo, se os teoricos do contra-
15. to abandonam desse modo a reciprocidade, 0 que sobra do mo-tivo
do contrato? Por que adota-Io? E por que restringir a mo-ralidade
aqueles que tern a capacidade de fazer acordos conos-co,
se, de fato, nao existe possibilidade alguma de que venham
urn dia a faze-Io? Em vez de nos aferrarmos as ruin as de uma
concep<;ao contratual que perdeu a sua essencia, seria melhor
abandomi-Ia de vez e, com base na universabilidade, refletir
sobre quais seres devem ser incluidos na esfera da moralidade~