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1ª Edição
Agosto de 2014
ISBN: 978-85-8273-969-3
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem
prévia autorização do autor e da Editora Multifoco.
Dedicado ao meu pai que sempre me incentivou.
Seu apoio foi importante.
Índice
Coração de Herói 07
O mago do caos 61
Aquário da mente 117
O único relato sobrevivente 132
O conto do pescador 139
A Fábula Urbana de Nino 145
Caminho entre estrelas 155
Sobre o Autor 191
Q ü i l l K a o s
7
Coração de herói
A coragem é a força criadora de heróis e de vilões, o
que os diferencia são as circunstâncias da vida.
Após o amarelo o farol passou para o vermelho, então
o homem vestido de sobretudo azul e chapéu, atravessou a
faixa de pedestre apressadamente. Os sapatos brilhavam de
tanta graxa. Seus olhos escuros davam atenção a tudo ao redor
como se temesse ser seguido. Apertava irmemente a alça
da mala enquanto desviava das pessoas na tarde cinzenta e
agitada. Ele dobrou a esquina e consultou seu relógio digital.
Olhando para trás notou um homem alto com a mão dentro
do paletó. Apertou o passo, o outro também o fez, começou
a correr, e o desconhecido tirou um revólver de dentro do
paletó. Em um trecho da calçada em que o perseguidor não
podia vê-lo, o agente do governo escondeu a mala em uma
fresta entre a parede de tijolos vermelhos e a lixeira de metal
pintada de verde. Pulou o muro do beco enquanto os tiros
cortavam o ar e assustavam a população local.
Anoiteceu. Um morador de rua com mais de 40 anos
e acompanhado de um cachorro tão encardido quanto
ele, começou a revirar o lixo. Instantes depois, desandou
a resmungar com uma voz paranoica e perdida. – Será
impossível encontrar comida descente nesta cidade Luli?
Ele coçou os cabelos ensebados e grisalhos por debaixo
da touca gasta e tirou um saco do bolso da jaqueta velha;
começou a recolher latinhas de refrigerante, uma delas
caiu e ao se abaixar para pegá-la, o mendigo encontrou
uma mala preta. Deu uma bela fungada no catarro que
castigava seus pulmões há meses e tirou o objeto de trás da
lixeira. Levantou-o contra a luz oscilante do poste da rua e
S a g a F a n t a s y
8
o mordeu. – Ai! – Gritou ao sentir doerem as suas gengivas
quase roxas, abraçadas aos dentes amarelados. O cachorro o
observava ixamente como se fosse uma estátua viva e peluda,
originalmente branca, mas agora cinza por causa da sujeira.
O maltrapilho apalpou a mala por todos os cantos
e quando bateu nela como se bate em uma porta disse: –
Macio.
Colocou-a no chão e voltou a mexer no lixo. – Isso vai
dar uma boa cama Luli. Hoje dormirei tão bem quanto uma
prostituta que trabalhou a noite toda.
Encontrou um grosso saco de batatas, deitou no chão e
entrou no saco, cobriu todo o corpo, inclusive a cabeça que
apoiou na mala sólida como pedra. – Boa noite Luli!
Quando estava prestes a pegar no sono, levantou
bruscamente.
– Quase me esqueço!
Arrebentou a lâmpada do poste atirando nela um
pedaço de tijolo. – Não podemos dormir com a luz acesa,
não é mesmo? Todos devem poupar energia.
Voltou a deitar e a se cobrir por inteiro. Seu ronco era
alto como descarga desarranjada. Luli acordou, cheirou o
dono e fez xixi em sua barriga, em seguida começou a correr
atrás de um catador de papelão, que empurrava um carrinho
de mão. A madrugada era fria, a música ambiente era a fusão
dos sons produzidos por motores de carros e casais brigando.
Lá estava o agente de sobretudo azul, esgueirando-
se silenciosamente. Enxugou o suor da testa e respirou
fundo, passara maus bocados fugindo do homem armado,
provavelmente um mercenário trabalhando para alguém,
mas para quem? Como sabia da mala? Isso não importava no
momento, pois a maleta tinha de ser recuperada a qualquer
custo. Jogou a luz de uma lanterna sobre o canto atrás da
lixeira e nada encontrou.
Q ü i l l K a o s
9
Foi neste momento que viu o morador de rua deitado
sobre o que procurava, precisava recuperá-la de modo
silencioso e discreto, ainda estavam o perseguindo, disso ele
tinha certeza.
A aproximação foi lenta para não acordar o maltrapilho,
cada passo era calculado, não poderia sequer pensar em
fazer barulho. Interrompeu-se ao ouvir um caminhão se
aproximando, desligou a lanterna e se escondeu, o sol
nasceria em poucas horas. O caminhão parou, soltava um
cheiro desagradável. Um homem desceu da parte traseira
e rapidamente jogou o mendigo às costas e o depositou no
caminhão, em seguida coletou os sacos de lixo da lixeira de
metal e também a mala. Subiu de volta e o veículo partiu,
Luli reapareceu latindo e correndo atrás do caminhão de
lixo. O agente levou as mãos à cabeça num grito mudo e
depois sussurrou: – Como podem confundir uma mala
daquelas com lixo?! Não acredito!
Luli ganiu até o agente, que afagou sua cabeça e disse
palavras carinhosas. – Calma. Calma, não se preocupe icará
tudo bem, recuperaremos a mala, não ique triste.
A mostarda respingava do cachorro quente para o
balcão da lanchonete, criando um lago amarelo no mármore.
– Hum! Que gostoso! – Exclamou de boca cheia o
rapaz magro e desajeitado. Trajava roupas largas demais
para o seu ino corpo parecido com bambu. Usava óculos de
armação grande cujas lentes eram grossas como as de uma
lupa.
– Viu o novo jogo de tiro? – Perguntou seu amigo
gorducho e baixo, sentado ao seu lado.
– Ah! Vi sim! – Respondeu Zack em seu natural tom
nasalado. – O Earth Invaders é demais!
Ele deu uma forte mordida no lanche, em seguida
levou a mão à boca de onde tirou uma barata, ergueu o
S a g a F a n t a s y
1 0
inseto e chamou: – Balconista! Balconista! Homem do
lanche! Venha cá!
O funcionário apareceu, tomou um susto ao ver o
bicho e icou mudo.
– Olhe o que encontrei aqui! – Exclamou Zack
segurando a barata. – Dentro do meu lanche! Sabe o que eu
deveria fazer?!
A pele do homem perdeu a cor natural. – Senhor…
Por favor… Deve haver alguma forma de resolvermos isto…
Não nos denuncie…
– Mas é exatamente o que farei! Irei denunciá-lo por
maus tratos aos animais, não pode largar os seus bichinhos
por aí.
Zack colocou a barata dentro do bolso do avental do
funcionário.
– Agora sim! E por favor! Traga-me um refrigerante e
um pouco de catchup para tirar o gosto ruim da boca.
O semblante do homem bigodudo esculpiu-se em
perplexidade, dentro de sua cabeça se passaram duas
possibilidades: “Só pode ser piada, ou então esse é o garoto
mais imbecil do mundo!”.
Retirou-se para atender ao pedido.
O menino gordo chamado João elogiou o amigo. –
Procedeu muito bem! Devemos ensinar bons modos a essa
gente!
O atendente voltou com uma garrafa de Dorgacola,
dois copos de vidro e também o catchup, serviu-os e disse
que era por conta da casa. – Ah! Ele não é uma pessoa tão
ruim! – Amenizou João.
Zack encheu o lanche com o molho e comeu
vorazmente enquanto o balconista assistia espantado.
Os dois jovens foram alegremente ao lixão da cidade,
eram duas da tarde e o calor do sol multiplicava o aroma
podre.
Q ü i l l K a o s
1 1
Zack respirou fundo. – Sinto cheiro de novidade!
– Eu também. – Respondeu João – Tomara que
encontremos bastantes coisas úteis hoje.
Entre as montanhas de lixo havia os mais variados
objetos descartados pela sociedade: Pneus, móveis, ratos,
urubus, chorume, baratas, bichos de pelúcia rasgados,
calcinhas e até um mendigo. Mendigo? Sim, o homem que
havia sido jogado na caçamba do caminhão de lixo estava
ali esquentando “comida” com alto potencial laxante e se
lamentando. – Luli! Onde estará? Meu único amigo…
Nunca deveria ter tentado assá-lo no natal… Mas não tinha
peru… E foi um crime ter usado seu corpinho como pano de
chão para enxugar a calçada…
Os dois jovens continuavam a minuciosa busca. João
encontrou um spray de tinta branca e pintou as axilas por
confundi-lo com desodorante.
– Eu queria encontrar uma mala cheia de dinheiro! –
Sonhou
Zack. – Poderia comprar até mesmo uma banheira.
– Com sabão e tudo. – completou João.
Passaram-se meia hora. A dupla já somava aos seus
pertences o spray quase vazio, uma bola de tênis cinza, uma
coleira de cão para arrastar em uma corrente e dizer que
tinham um cachorro invisível, quatro isqueiros vazios a im
de jogá-los no fogo e vê-los explodirem, e algumas presilhas
de cabelo.
– Olhe quantas coisas valiosas! – Exclamou João.
– Sim. Em meus quinze anos neste mundo, foram
poucas as vezes em que vi tantos tesouros juntos.
O gordinho de cabelo liso e lustroso icou boquiaberto
de repente e apontou para um monte de lixo. – Olhe! Uma
mala cheia de dinheiro!
Os dois correram até o achado e o abriram rapidamente,
S a g a F a n t a s y
1 2
logo se decepcionaram ao verem apenas um tubo de ensaio
envolto em espuma no centro da mala. – Que azar! –
Reclamou João. – Pobres outra vez!
–Pelomenosencontramosessesuco.–Zackdestampou
o tubo e começou a beber o líquido negro. – Quer um pouco?
– Não sei se é uma boa ideia tomar isso…
– Está gostoso! – Zack sorveu até a última gota. – Agora
podemos guardar nossas coisas nesta maleta. Vamos!
Eles saíram correndo.
O mendigo os viu quando já estavam um pouco
distantes e queixou-se. – Levaram o meu travesseiro…
– Oi! – Cumprimentou o agente de sobretudo azul,
acompanhado por Luli.
– Quem é você! – Indagou o mendigo. – De onde
saiu?!
– Sou o agente 39242X, mas pode me chamar de X, de
onde saí? Do útero de minha mãe é claro.
O homem sem casa observou o quadrúpede canino. –
Eu já vi isto antes… É um coelho?
– É um cão!
O mendigo esfregou os olhos. – Luli! É você!
O cãozinho saltou para o colo do dono.
– Gostaria de saber se o senhor viu uma mala negra.
– O meu travesseiro? – O maltrapilho colocou Luli no
chão. – Uns moleques endiabrados o levaram, foram naquela
direção.
– Obrigado. – X eniou a mão por baixo do sobretudo.
– Tome uma recompensa. – Tirou um cantil prateado
de whisky, o entregou e se retirou tentando fazer pose de
descolado, entretanto, foi atacado por um urubu e saiu em
disparada.
O morador de rua (naquele momento de lixão) usou
toda a bebida para lavar as mãos, já que o álcool é bom para
tirar a sujeira.
Q ü i l l K a o s
1 3
Luli urinou em seu dono e correu atrás do agente.
– Volte aqui desgraçado! – Protestou o homem deixado
de lado pela sociedade. – Filho duma cadela!
A noite de Zack não foi nada agradável, uma implacável
diarreia queimava seu intestino.
A moléstia largou o rapaz apenas duas horas da
madrugada, foi quando ele se afundou em pesadelos, suor
e tontura.
Dentro de seus sombrios sonhos, palhaços soltavam
chamas pela boca e perseguiam-no, depois desapareceram
e deram lugar à sua tia velha e pelancuda, ela apertava suas
bochechas e o chamava de “meu bebezinho”.
Zack revirava-se assustado com aquele inferno mental
que perdurou até o despertador salvá-lo e mandá-lo em
seguida para o sofrimento da escola.
Ele se achava privilegiado por poder ver o fundo da lata
do lixo, ajudado pelos alunos mais velhos, os quais o jogavam
lá. E gostava de ser trancaiado nos armários pelos valentões
para poder acompanhar o movimento dos corredores
sem ser visto, entretanto, odiava as aulas. Estava sentado,
mortalmente entediado na aula de matemática ouvindo o
blá blá blá passivamente, mas começou a rir ao imaginar a
professora usando roupas íntimas verdes com desenhos de
patinhos amarelos.
Era hora da saída do colégio, um grupo de estudantes
avistou João e Zack.
– Vamos dizer um “oi” para aqueles dois otários! –
Falou o líder.
Derrubaram João, arrancaram seus tênis e jogaram no
telhado, depois começaram a empurrar Zack até ele cair no
meio da rua. Vinha um carro, o motorista não teria tempo de
desviar, Zack fechou os olhos, já contava com a morte vindo
buscá-lo e levá-lo ao mundo dos pôneis, unicórnios, fadas
S a g a F a n t a s y
1 4
e outros seres malvados, entretanto, uma pequena ponte se
materializou em cima dele e desapareceu assim que o carro
a atravessou.
O rapaz passou a mão pelo próprio corpo, não entendia
por que estava intacto. Viu garrafas de cerveja sendo jogadas
para fora do veículo e ouviu o motorista gritar algo sobre
nunca mais beber.
O agente X andava pelas ruas segurando uma enorme
lupa, Luli o acompanhava. Usou a lente para examinar um
pombo.
– Você por acaso viu a minha maleta?
João e Zack voltavam para as suas casas, localizadas na
mesma rua e separadas por cinco moradias.
– Eu falei. – Insistia o gordo. – Apareceu uma ponte do
nada, acho que você tem superpoderes!
– Não acredito nisso, escapei por sorte!
– Como você é teimoso! Você estava de olhos fechados
e por isso não viu!
Zack icou reletindo sobre o assunto apesar de não
ter admitido. As possibilidades faziam um furacão em sua
mente. Chegou em casa e deitou em sua cama, olhava para
o teto e imaginava como sua vida seria diferente se tivesse
superpoderes.
Se pudesse voar, faria um voo pelado entre as nuvens
para descobrir qual seria a sensação, poderia também salvar
gatinhos presos em árvores e pombos nos ios. Se possuísse
visão de raios desintegradores… Estragaria os seus óculos…
Talvez fosse dono de superforça, assim poderia impressionar
as pessoas em academias e amassar ferro velho com as mãos
antes de vendê-lo.
Em meio a estas geniais relexões, sentiu grande
vontade de jogar videogame, talvez um jogo novo, pois estava
enjoado dos antigos. Ao levantar-se da cama, se deparou com
Q ü i l l K a o s
1 5
um console, o qual nunca havia visto em outro lugar que
não fosse dentro de sua imaginação. O videogame estava no
chão, possuía o formato de uma fogueira e o controle parecia
uma gota de água.
Ele icou deslumbrado e o instalou na TV de seu
quarto tão rápido quanto um espirro.
Jogou por horas o jogo da escada rolante cujo
objetivo era fazer o personagem subir uma escada rolante
de um shopping enquanto ela descia. Depois começou a
sentir-se cansado e o game desapareceu completamente,
desmaterializou-se.
– Sumiu?! – Exclamou Zack estupefato. – Será que
minha mãe não pagou a conta de luz?!
No dia seguinte, contou o ocorrido a João e os dois se
encontraram no lixão da cidade após a enfadonha aula.
– Eu avisei! Gabou-se o gordo. – Você realmente tem
superpoderes! Agora precisa treinar bastante para desenvolvê-
los.
O desajeitado e magro rapaz ajeitou os óculos. – Se
isso for mesmo verdade, poderei ser um super herói!
– Não seja estúpido. – Reprimiu o amigo. – Os super-
heróis trabalham de graça, é melhor você ser um supervilão.
– Tem razão… Mas minha mãe me mataria…
João se calou por um momento e depois disse: – Acho
que não há opção… Neste caso terá de usar suas habilidades
para praticar o bem… Não é tão ruim assim… Apenas
continuará pobre.
Zack sorriu. – Mas e se as pessoas me derem
recompensas pelos meus atos heroicos?
– É uma possibilidade, mas os heróis não podem
aceitar todos os prêmios, apenas alguns. Assim dizem os
quadrinhos…
Zack começou o seu treinamento, guiado pelo amigo,
S a g a F a n t a s y
1 6
este o mandava materializar certos objetos com a força da
mente, porém, os resultados não eram muito bons.
João pediu que izesse uma vela, então surgiu um
fósforo queimado, falou para o rapaz criar um trono,
entretanto, uma privada apareceu.
– Sua habilidade de materializar está bem confusa. –
Falou João.
– Dê uma olhada em volta! – Pediu Zack. – Aquele
mendigo chato ou outra pessoa pode estar nos observando.
E ninguém pode saber dos meus poderes… É assim nas
histórias em quadrinhos!
O gordinho saiu à procura de curiosos.
Zack esfregou as mãos e lambeu os lábios. – Agora
criarei uma mulher muito linda e nua, e ela tocará o meu
corpo!
O garoto fechou os olhos e concentrou-se, quando os
abriu, viu uma boneca inlável estirada no chão.
A tarde do dia seguinte carregava um ar taciturno, as
nuvens se coloriam de cinza. Zack e João estavam voltando
do lixão, ouviram uma voz. – Parem aí mesmo!
Olharam ao redor, mas não encontraram ninguém.
– Estou aqui! – Disse o homem vestido com um
sobretudo azul e um chapéu, sentado em cima de um muro
de tijolos vermelhos. Era o agente X.
João examinou o desconhecido. – Desculpe moço,
mas não queremos comprar nada.
O vento acariciou o sobretudo do homem, sua
expressão era séria e o plano de fundo era marcado pelo céu
escuro, folhas secas esvoaçaram. – Não sou vendedor.
– O que quer de nós? – Perguntou Zack.
– Todas as pistas apontaram para vocês. Eu quero a
fórmula hexa!
João já desconiava do que se tratava, mesmo assim
indagou. – O que é isso?
Q ü i l l K a o s
1 7
O agente começou a falar em sussurros. – É o elixir de
todas as vidas, a fonte dentro da fonte, o enigma indecifrável,
o poder dos deuses em um frasco, o suco dos titãs…
Zack animou-se. – Suco? Eu bebi um suco…
Foi imediatamente interrompido por João, o qual pisou
em seu pé com força.
– Ai! Por que fez isso? – Reclamou o magro.
O agente estendeu a mão. – Entreguem-me a fórmula
hexa! Eu sei que estão com a maleta.
– Temos a maleta sim. – Confessou João. – Mas…
– Eu bebi todo o suco. – Admitiu Zack.
O agente examinou Zack; aquela magreza; os óculos
enormes; as roupas largas; a expressão de peixe morto; o jeito
desengonçado… – O quê?! Um idiota como você bebeu a
fórmula?! – Gritou X levando as mãos à cabeça.
– Tenha calma senhor. – Pediu o gordinho. – Não
sabíamos o que era…
– A fórmula hexa é capaz de dar poderes inimagináveis
a qualquer ser vivo… Farei uma demonstração. Luli!
O cãozinho pulou em cima do muro. X o agarrou de
modo bruto, abriu sua mandíbula e o fez engolir um líquido
cinza. O cão desmaiou.
– Você o matou! – Exclamou o magro.
O homem levantou um dedo. – Observe.
O cão acordou, caiu do muro e começou a se revirar
na calçada.
– Dei a ele o elixir beta. – Explicou X. Não é nada
comparado ao hexa.
A pele do animal começou a rasgar-se enquanto ele
quadruplicavadetamanho,seusdentesicaramextremamente
aiados e pontiagudos o pelo eriçou-se, as unhas das patas se
tornaram grandes garras, os olhos tornaram-se vermelhos e
para completar: Ossos pontudos saíram fora da pele.
S a g a F a n t a s y
1 8
Os dois garotos se afastaram ante a visão da sinistra e
bestial criatura.
– Já que você bebeu a fórmula. – disse o agente. – Terei
de extraí-la de seu corpo em uma autópsia! Pegue-os Luli!
Os dois jovens correram por impulso, desceram a
ladeira, seguidos pela fera.
– Faça alguma coisa! – Gritou João.
– Mas o quê?! – Perguntou Zack.
– Qualquer coisa! Ou morreremos!
– Não quero morrer… – Sussurrou Zack.
Um brilho amarelo iluminou seus olhos, então ele
materializou uma moto de cores berrantes, os dois subiram
e rapidamente deixaram a medonha criatura para trás. Zack
manobrou mais devagar em um trecho quase entupido por
carros. O cão estava prestes a alcançá-los.
– Crie um revólver. – Sugeriu João na garupa.
– Estou cansado…
– Mas precisamos…
– Está bem!
João abriu a mão direita, nela surgiu uma Magnum
44. Começou a atirar, mas errava todos os tiros, tinha certeza
de ter acertado alguns, entretanto, não sabia que o cachorro
podia icar intangível, assim as balas atravessavam seu corpo
sem causar nenhum dano. Esta era uma apenas uma pequena
amostra do verdadeiro poder da fórmula.
Depois de várias voltas pela cidade, conseguiram
despistar a criatura e reizeram o percurso a pé, pois todos os
objetos materializados desaparecem depois de certo tempo.
Zack estava exausto, João o ajudava a caminhar.
O magro mantinha uma expressão triste. – Não sei se
conseguirei ser um super herói João… Senti muito medo…
Ocachorrobrancovoltouaoseudono,esteoexaminou.
– Sem sinais de sangue… Você falhou… Precisamos matá-lo
Q ü i l l K a o s
1 9
antes que ele atinja a fase dois de desenvolvimento, se atingir
será mais difícil Luli.
X lembrou-se da antiga aparência do cão. – Precisamos
de um novo nome para você…
Ele saltou do muro. – Será Garras Albinas.
Os dias seguintes foram cansativos para Zack,
submetido a rigorosos treinos comandados por João. Eles
ainda não haviam decidido um nome de herói e nem como
seria a fantasia para proteger a identidade. Foram em um
brechó procurar a roupa. Zack colocou uma cueca na cabeça
e estendeu os braços para o alto. – Sou o Materian!
– Esse nome não é ruim. Falou João. – Mas a fantasia…
Precisa melhorar.
– Que tal uma capa? – Sugeriu o magro.
– Acho que só os heróis voadores usam isso. – Opinou
João.
Reviraram as vestimentas da loja e encontraram uma
camisa azul estampada com a letra M peito. – Perfeito! –
Disse João.
Zack encontrou uma máscara negra de plástico,
desenhada para cobrir apenas a região dos olhos. O que acha
disto?
– Muito bom! Nós podemos colocar lentes de óculos
nela. – Exclamou João.
Zack olhou para os itens escolhidos. – Ainda falta
algo…
Um entusiasmo mexeu-lhe o corpo. – Já sei! Eu vi uma
mulher usando uma luva em um comercial que só passa de
madrugada… Vendem em umas lojas chamadas sex shop!
O gordo consentiu com a cabeça. – Então vamos lá!
A placa da loja dizia: “Messalina´s Tudo para o seu
prazer”.
João sorriu. – Que legal!
S a g a F a n t a s y
2 0
Os dois adentraram o recinto, lado a lado.
A vendedora arregalou os olhos e levantou-se para
atendê-los. – Nossa! São tão novinhos e já querem apimentar
a relação!
Ela era alta e ruiva, sua personalidade tinha grande
dose de energia e ao mesmo tempo um ar artístico, falava
mansa como uma poetiza e movia-se a passos felinos.
Elacolocouamãodireitanoqueixo.–Ficoimaginando
vocês dois. Hum… – Segurou os ombros de Zack. – Você
icaria ótimo vestido de médico para tratar as enfermidades
do coração. – Alisou o rosto do gordinho. – E você poderia
ser o paciente…
– Precisamos de uma luva negra de vinil. – Informou
Zack.
Ela levou a mão à própria testa. – Oh! Minha deusa
Afrodite! Como nascem pervertidos! Querem acessórios de
sadomasoquismo! – Abanou as mãos. – Não saiam daqui.
Vou buscar e já volto.
Os dois icaram impressionados com os objetos à
mostra, olharam as fantasias de enfermeira, bombeiro, gata,
policial, os acessórios como chicote, mordaça, algema,
coleira e outros.
Zack limpou as grossas lentes de seus óculos na camisa.
– Aqui tem de tudo para super-heróis! E até mesmo para
vilões, olhe essas vendas e essas cordas!
João apontou para a fantasia de gata. – As roupas são
bem curtas para dar mais liberdade de movimento, do jeito
que os heróis precisam.
Eles observaram a seção de lingeries. Zack apalpou um
dos tecidos. – Acho que estão nascendo muitas heroínas, a
maioria das fantasias é para mulheres.
– Sim! – Concordou o amigo. – É a revolução feminina
dos tempos modernos.
Q ü i l l K a o s
2 1
O magro assustou-se e icou corado ao ver bonecas
inláveis, pois se lembrou de quando tentara materializar uma
mulher. – Essas bonecas devem ser de vilões. – Teorizou. –
Eles as usam como reféns para enganar a polícia.
– Vejo muita sabedoria em suas palavras.
Os dois dirigiam-se para a parte de ilmes eróticos, no
entanto, a vendedora os interrompeu. – Venham aqui!
Ela ajeitou seus cabelos vermelhos. – Formam um
lindo casal! Há quanto tempo estão juntos?
João mostrou-se confuso. – Casal?
Ela riu. – Esses relacionamentos abertos… Estou
icando velha… Há quanto tempo são… “Parceiros”?
– Ah! Desde que me conheço por gente. – Respondeu
Zack.
Os olhos verdes da mulher se iluminaram. – Que
romântico! Aqui estão as luvas!
Zack as experimentou, chegavam até a metade do
antebraço e brilhavam. – Perfeito! Moça… Você pode fazer
o favor de guardar segredo… Não estamos acostumados…
Ela os interrompeu. – Claro! Somos discretos, nunca
falamos dos nossos clientes!
– Obrigado! – Agradeceu João. – Essa coisa de herói é
nova para nós…
– A mulher soltou um suspiro. – Incrível! Fantasiar
com heróis… Que belo fetiche! – Façam bom proveito!
Os dois rapazes saíram da loja muito satisfeitos com
o ótimo atendimento e com as luvas numa sacola rosa
desenhada com uma mulher de lingerie à frente de um
coração rubro.
Eles decidiram montar um Q.G (Quartel general)
na garagem semiabandonada da casa de João, ali fariam as
reuniões secretas e planejariam os atos heroicos.
Zack vestiu o disfarce e foi à procura de crimes junto
S a g a F a n t a s y
2 2
com João. Materian andava de cabeça erguida e peito
estufado, falava grosso.
Não demorou muito para encontrarem um crime em
andamento. Aconteceu em um beco. Um homem alto de
barba por fazer, apontava uma faca para um idoso. – Passe a
bengala, caso contrário lhe abro a pele!
– Mas sem ela não consigo andar… – Protestou o
velhinho.
Zack interpelou: – Parado aí fora da lei! Largue a faca e
me diga por que quer roubar algo como uma bengala.
O ladrão riu ao ver a fantasia do garoto e depois disse. –
Por que eu quero ser manco! Assim poderei andar de ônibus
sem pagar nada e ganharei uma pensão do governo por
invalidez, mas primeiro preciso de uma bengala.
João assistia de longe, sentia-se orgulhoso com o
desempenho do amigo.
Zack apontou para si com o polegar. – Sou o Materian!
E este caso será resolvido sem uso da violência!
Ele estendeu a mão deixando-a um pouco aberta
como se segurasse algo, uma bengala bastante parecida com
a do idoso se materializou entre seus dedos, ele entregou o
bordão ao bandido. – Tome! Agora todos sairão felizes!
O ladrão aceitou o presente com muito entusiasmo e
deixou o velhinho em paz.
Usando binóculos materializados Zack e João
observavam o bandido de longe, para se certiicarem de que
ele faria bom uso de seu novo objeto.
Eles viram o ladrão apoiando grande parte de seu peso
na bengala e mancando de modo convincente, mas o item
se desmaterializou quando o mau elemento pisava em frente
a um bueiro destampado, ele caiu lá dentro.
João tirou o binóculo dos olhos. – Bom trabalho Zack!
Q ü i l l K a o s
2 3
Agora ele icará manco como sempre quis! Você ajudou duas
pessoas de uma vez!
Ao pôr do sol, a dupla se encontrava sentada na calçada
do Q.G, bolavam planos heroicos, Zack já usava suas roupas
tradicionais, ou trajes civis como diria o amigo.
Três adolescentes montados em bicicletas caras
formaram um semicírculo em volta dos dois.
Zack levantou-se imediatamente, pois reconheceu o
colega que o empurrara para o meio da rua.
– Olhem a dupla de babacas! – Zombou um dos
garotos recém-chegados.
Zack colocou as duas mãos atrás das costas e
materializou entre os dedos, um porrete azul adornado com
iguras de estrelas amarelas. – Você tentou me matar!
O herói deu um golpe tão forte no ombro do folgado
rapaz que os outros estremeceram.
Em seguida Zack acertou a coxa de outro jovem e
gritou: – Sumam daqui!
Os três saíram em disparada com suas bicicletas cheias
de ostentação.
– Você foi muito corajoso! – Elogiou João. – Está no
verdadeiro caminho dos heróis!
Garras albinas farejava o ar, seu nariz captava cada
partícula, identiicava e separava qualquer odor entre a
imensidão de cheiros. Conhecia a localização de Zack, no
entanto, X o mandou em busca de outro super-humano. O
objetivo do agente era recuperar todas as fórmulas mesmo
que precisasse destruir vidas.
Os olhos do cão eram capazes de enxergar em diversas
frequências, uma delas era o raio x, também o infravermelho,
era um caçador perfeito. Não matara os dois garotos apenas
por que X o chamara de volta usando um apito para cães, o
agente não poderia deixar a criatura andar solta por muito
S a g a F a n t a s y
2 4
tempo, pois muitas pessoas iriam vê-la e o conhecimento das
fórmulas deveria continuar em segredo.
Zack amassava latinhas em seu quintal para vendê-las
ao ferro velho. Parou de repente, pois sentiu um repuxão em
seu corpo acompanhado de uma câimbra terrível. – O que
ha de errado com essas latas? Só amassei quatro e já estou
exausto…
Foi para seu quarto ignorando o pudim feito pela mãe
e desabou na cama. Desfrutou de um sono turbulento, como
se cochilasse em cima de um cavalo a galope sobre cacos de
vidro.
Acordou de madrugada, ouvia o barulho de pedrinhas
sendo atiradas contra o vidro de sua janela. Quem as jogava
era o iel amigo João. O magro se revirou na cama, não se
sentia bem e decidiu não atendê-lo. Zack não fazia ideia,
estava mudando para a segunda fase de desenvolvimento
desencadeado pela fórmula hexa, seus poderes se ampliavam.
Segundos depois, a janela se quebrou em estrondosos
pedaços, um lindo tijolo laranja atingiu a nuca de Zack, este
levantou-se muito assustado e foi até o resto de janela.
– Psiu! – Assoviou o gordo. – Ligue a T.V no canal
vinte e quatro.
Zack o fez, viu uma mulher se despindo vagarosamente
na tela.
João se aproximou da janela. – Errei o canal! É o trinta
e quatro!
O magro projeto de herói esperou um pouco para
observar se a mulher iria mesmo tirar as roupas, ela usava
uma luva igual a que ele comprara.
– Mude logo! – Exclamou João.
O outro obedeceu. Tratava-se de um telejornal ao vivo,
mostrava vários guardas de uma empresa, caídos no chão,
enquanto dois caminhões queimavam ao fundo.
Q ü i l l K a o s
2 5
A repórter loira entrevistava um dos vigias. – O que
aconteceu aqui?
– A sombra… Ela… Bateu em nós… – O segurança
começou a chupar o dedão, rolar de um lado para o outro. –
Eu quero a minha mãe!
Zack vestiu suas roupas de herói, colocou as mãos nos
quadris e soltou uma voz extremamente máscula. – Materian
em ação! Sentiu novamente o repuxar nos músculos e caiu
no chão gritando feito garotinha.
A dupla chegou ao local usando suas bicicletas. Havia
um grande tumulto de repórteres oportunistas, policiais
comendo rosquinhas, chamas, alguns funcionários e
explosões.
Os dois rapazes entraram pelos fundos, pularam o
muro com o auxílio de uma escada materializada.
Zack tremia por dentro e por fora, sentia mudanças em
seu organismo.
Entraram na cozinha da empresa, se surpreenderam
ao verem um jovem na faixa dos dezessete anos, vestido todo
de negro com uma longa capa de mesma cor. Seu cabelo
era jogado para vários lados, arrepiado, liso e com franjas,
assemelhado a personagens de desenhos japoneses, possuía
pele muito branca e os olhos eram cinzas.
Ele comia uma barra de chocolate e armava uma
bomba relógio.
– É você quem está por trás de tudo isso?! – Indagou
Materian.
– Não.
João tomou a palavra. – Como não? Você está todo
calmo colocando esta bomba.
A silenciosa igura olhou os garotos nos olhos, abriu a
geladeira e ofereceu: – Podem pegar o que quiserem.
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2 6
Os dois icaram com água na boca.
– Será que tem torta de maçã? – Entusiasmou-se João.
Precipitaram-se para a geladeira. O jovem de negro
ativou a contagem regressiva e saiu sem fazer barulho.
João e Materian sentaram-se a uma pequena mesa e
devoraram diversas guloseimas. Zack inalmente lembrou-se
da bomba.
– Precisamos desativá-la!
– Não vai dar tempo! – Havia pânico na voz de João.
A contagem regressiva estava em quinze segundos,
então o herói materializou uma redoma de ferro ao redor do
explosivo.
– Crie uma barreira feita de diamante! – Sugeriu João.
– É o material mais forte!
Zack desfez o invólucro metálico e seguiu o conselho
do amigo.
A explosão foi muda, parecia uma estrela em supernova
dentro daquela defesa brilhante. Zack tombou em seguida,
seu nariz sangrava.
Orapazvestidodenegroestavasentadoemumbarranco
gramado. Tirou um relógio prateado do bolso, o consultou e
olhou para a empresa lá em baixo. – Desativaram? Acho que
não foi a polícia… Subestimei aqueles dois…
Ele se interrompeu quando viu Zack surgir correndo
em sua direção, o magro segurava um porrete materializado.
Desviou-se facilmente do golpe do herói e o derrubou
com uma rasteira.
Virou-se para o lado oposto na intenção de fugir,
entretanto, Garras Albinas Apareceu em sua frente e o
encarou com seus olhos vermelhos e acesos.
– Você outra vez!
O cão avançou contra o jovem, mas este era
extremamente rápido e deixava rastros de sombra ou talvez
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2 7
luz negra atrás de si. Os dois pareciam dançar em sua luta
pontuada por ataque e defesa.
O rapaz agarrou o ser canino pelo pescoço e o chutou
para longe o fazendo sentir toda a força e peso do coturno de
cinco ivelas e bico de ferro.
A única luz presente era proporcionada pela lua cheia.
João viu Materian se contorcendo no chão e foi socorrê-
lo. – Você está bem?
– Meu corpo está queimando! – Gritou o magro.
Vários objetos se materializaram e desapareceram ao
redor do herói contra sua vontade, ele estava descontrolado.
A luta entre o rapaz vestido de negro e o cão continuava.
Zack parou de se mover sem nenhum tipo de aviso
prévio, isto fez crescer a preocupação no gordinho. – Fale
comigo! Vamos! Pare com esta brincadeira…
O herói abriu os olhos; através das lentes de sua máscara
era possível ver uma luz amarela originada de suas íris.
Ele ergueu-se feito um colosso humano, sentia-se
muito mais forte, a fase dois de desenvolvimento estava
completa, materializou um longo bastão de metal cuja ponta
era munida de lâminas. Usou esta arma para tentar acertar
os inimigos; o cachorro desviou icando intangível e o outro
escapou tão rápido que não foi possível saber como fez.
– Por que eles são tão velozes? – Perguntou-se Materian.
Zack desferiu uma chuva torrencial de golpes, no
entanto, esta atitude apenas incomodou seus adversários, os
quais deixaram de brigar entre si e foram para cima dele.
Materian desfez o bastão e envolveu o próprio corpo
com uma armadura de samurai acompanhada por uma
espada.
Lutou bravamente, mas pensava ser impossível acertar
aqueles dois, e o cansaço começava a tomar o espaço
destinado ao ânimo. “Preciso sair daqui”. Pensou Materian.
“Não aguentarei por muito tempo”.
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Garras albinas mordeu o joelho de Zack em uma parte
desprotegida pela armadura. O gosto de sangue ampliou
imensamente a ferocidade da criatura, esta derrubou o
herói e cravou os dentes em seu cotovelo. A dor chegou de
forma aguda e criou distração na mente de Zack ao ponto da
armadura se desmaterializar completamente, sobrou apenas
a espada.
O rapaz vestido conforme as trevas aproveitou a
ocasião; deu um salto e um chute com a planta do pé direito
em Garras Albinas.
Zack levantou-se e executou a fera caída incando-lhe
a espada na garganta.
– Agora somos apenas nós dois! – Exclamou Materian.
– Por que tentou explodir aquela fábrica?
O antagonista fechou os olhos e suspirou. –
Simplesmente por que dinheiro não é a coisa mais
importante de todas. Aquilo que você chama de fábrica,
produz produtos químicos e lança diariamente, toneladas de
resíduos tóxicos no rio Figueira, este desemboca em um rio
maior e consequentemente no mar, nessas águas quase não
existem mais peixes. Diga-me se isto é direito.
Zack se sentiu envergonhado por ser um herói e não
conseguir distinguir o certo do errado. Era uma questão
complexa. A lei defendia a rica empresa, estava correta?
Quem protegeria a natureza?
– Mas você feriu os funcionários! – Retrucou Materian.
– E explodindo tudo, eles não teriam mais emprego.
– Não seja ingênuo garoto. O trabalho deles fere a
natureza. Acaba com a água que nós mesmos consumimos.
Aquela irma já foi muitas vezes aos tribunais e sempre
venceu usando dinheiro, simples suborno.
Os pensamentos de Materian se desmontavam em
peças confusas, o mundo era complicado demais, se sentiu
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2 9
pequeno, igual um grão de areia soprado pelo vento.
– Não pense nestas coisas! – Gritou João. – Apenas
faça o seu trabalho de herói. Alguém que causa explosões é
obviamente perigoso. Pegue-o!
Zack manejou a espada de um gume. – Está certo!
Mal pode ver o inimigo se aproximar, tomou um forte
soco na nuca e desmaiou.
O despertador fez sua irritante tarefa de arrancar Zack
da cama para ir à escola. Levantou-se contra a vontade e
postou-se frente ao espelho. Dormira sem camisa, reparou
que seus músculos estavam bem deinidos, antes eram apenas
pele magra. Percebeu outras mudanças, não precisava mais
de óculos para enxergar, sentia o corpo mais leve, respirava
melhor e seus ferimentos já estavam quase curados.
João e Zack estudavam em salas diferentes na
escola, encontraram-se na hora da saída, o rosto do magro
estava marcado por profundas olheiras, ele bocejava
constantemente.
João informou o amigo: – Depois do seu desmaio
aquele rapaz se auto intitulou Sombra Noturna. E me pediu
para dizer isso pra você: “Se quiser ser um verdadeiro herói,
não hesite nunca, e aprenda a se defender melhor, eu teria
lhe matado se quisesse”.
Zack apertou os punhos e rangeu os dentes. – Ah!
Aquele exibido!
A cor branca predominava nas paredes e teto da sala
de autópsia, Garras Albinas jazia sem vida sobre uma maca
metálica ao lado de um homem-morto. O doutor vestiu as
luvas e a máscara, o agente X assistia de braços cruzados. –
Agora faltam apenas três super-humanos.
Eva descobriu ter uma espécie de dom recentemente e
usou esta nova habilidade como proissão. Vendia artesanato
em uma feira de rua, esculturas de barro cozido e iguras
S a g a F a n t a s y
3 0
vidro. A moça estava com dezenove anos, um de seus hábitos
era manter um belo sorriso. Os cabelos e os olhos antes
castanhos icaram azuis desde que recebera o dom e isto
trouxe um charme bem característico a ela.
Aquela tarde ela não foi à feira, estava fazendo
esculturas. Possuía a habilidade de controlar os quatro
elementos: Fogo, água, terra e vento. Moldava o barro com o
poder do pensamento e depois o endurecia com chamas. O
trabalho foi interrompido, pois o agente X apareceu em seu
quintal portando uma arma de fogo. Eva agiu rapidamente;
desarmou o desconhecido jogando uma pequena bola
lamejante no revólver e destruiu a arma esmagando-a com
uma onda de terra. O agente fugiu.
X esperava uma oportunidade para matar os super-
humanos restantes e recuperar as fórmulas, não poderia ser
na frente de testemunhas. Contava com a ajuda do cientista
Arquicheles para concluir a tarefa. Este gênio foi o primeiro
a descobrir os segredos da fórmula.
Na tarde seguinte, João e Zack rumavam em direção
ao lixão para mais um treino. O gordo parou de andar. –
Sombra noturna falou que se quiséssemos saber mais sobre a
origem desses poderes, deveríamos pesquisar… Uns arquivos
sobre a queda de… Alguns… Como era mesmo? Aerólito!
Eles caíram na terra ha três anos.
– Vamos à biblioteca municipal! – Sugeriu Zack. –
Podemos acessar os computadores de lá.
Dito e feito. Começaram a pesquisa e passaram por
vários sites, Zack fez uma pausa para beber água e sua
atenção foi atraída por uma garota sentada a uma mesa, ela
lia um livro de biologia seus cabelos era azuis. Dirigiu-se a
ela. – Oi! O seu cabelo é legal!
– Obrigada.
Conversaram por alguns minutos, Zack descobriu que
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3 1
ela se chamava Eva e era artesã. Ele sentia algo diferente nela,
a mesma sensação de quando enfrentou Sombra Noturna.
– Moça… Você por acaso tem superpoderes? – Perguntou
inocentemente.
O susto obrigou Eva a largar o livro, icou boquiaberta,
sua voz saiu entrecortada. – Eu… Poderes? Não… Não…
De onde tirou essa ideia?
Zack não podia revelar sua identidade de herói, então
disse. – Ah! Vi uma mulher parecida com você nas revistas
em quadrinhos! Mas se eu tivesse superpoderes, pesquisaria
a queda de aerólitos, que aconteceu ha três anos.
João devorava os artigos nos sites. O magro sentou ao
seu lado e os dois não perceberam Eva atrás deles, olhando
a tela. Chegaram em uma reportagem bem detalhada,
a mesma informava as datas das quedas de cada um dos
meteoritos, os locais onde despencaram e os nomes dos
cientistas envolvidos nas pesquisas acerca da composição
das pedras cadentes. Apenas dois especialistas puderam ter a
honra de estudar os aerólitos. Um deles era Arquicheles Nier
Freudemberg, trabalhava para o governo em diversos tipos
de experimento. O outro era um japonês chamado Kenji
Massato, fora colega de Arquicheles, mas se demitira sem
dar motivos.
– Precisamos ir atrás desse Kenji. – Falou João. – É o
único modo de descobrirmos mais sobre os seus poderes…
Eva não conseguiu segurar a surpresa ante a revelação
e soltou um gemido. Os dois olharam para trás.
– Eva?! – Espantou-se Zack. – Por que veio nos espiar?
Ela tentou gesticular enquanto gaguejava. – Eu…
Eu… Você… Disse para mim pesquisar…
– O quê está acontecendo aqui?! – Inquiriu João.
Zack sorriu e murmurou. – Ela também tem
superpoderes.
S a g a F a n t a s y
3 2
A moça olhou em volta, queria se certiicar que sua
voz não chegaria a ouvidos estranhos e falou: – Por favor,
deixem-me acompanhá-los até esse cientista, quero descobrir
como iquei assim!
João coçou o queixo. – Está bem… – Ela pode ser útil.
Eles procuraram o endereço de Kenji na internet,
porém, nada encontraram. Eva achou o número de telefone
de Arquicheles e ligou para ele passando-se por funcionária
de um banco, pediu o endereço do japonês com a desculpa
de que ele izera um empréstimo e precisava pagar a dívida,
caso contrário o banco lhe tomaria até mesmo as cuecas.
O homem do outro lado da linha passou o endereço sem
hesitar.
Arquicheles desligou o celular.
– Quem era? – Perguntou o agente X.
– Era o banco pedindo o endereço de Kenji, queriam
cobrá-lo. – Ele riu. – Aquele farrapo humano está cheio de
dívidas.
Os dois homens estavam em um imenso laboratório
de paredes escuras. Havia um tubo de vidro enorme, cujo
interior abrigava uma pequena criatura assemelhada a um
lagarto com asas.
X postou-se em frente ao vidro. – Você poderia usar
esse processo de crescimento acelerado para ganhar dinheiro
vendendo churrasco.
Arquicheles Nier Freudemberg riu, parecia mais baixo
que sua altura real, pois suas costas eram curvadas; a pele
muito manchada e enrugada apontava setenta anos de idade,
embora fosse um pouco mais jovem; os olhos fundos tinham
uma centelha maliciosa e os cabelos existiam apenas dos
lados da cabeça.
Zack, João e Eva decidiram ir à casa de Kenji no
sábado. Os dois rapazes icaram felizes por ter a garota para
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3 3
guiá-los, pois quando tentavam andar de ônibus sozinhos,
acabavam passando do ponto e icavam perdidos por vários
dias, só conseguiam voltar para a casa com a ajuda da polícia.
Era sexta feira, o trio se reuniu em um parque fresco
e arborizado. – Ela precisa de uma fantasia e um nome de
heroína. – Exclamou Zack, este materializou uma venda e
amarrou sobre os olhos da moça. – Por que isso? – Perguntou
ela um pouco desconiada.
– Faremos uma surpresa. – Explicou João. – Tenho
certeza que você gostará!
Após quinze minutos de caminhada, tiraram a venda
de Eva, ela se viu dentro do sex shop Messalina´s, icou
vermelha, em seguida pálida e desfaleceu.
– Ela desmaiou de tanta alegria. – Concluiu Zack.
João concordou com a cabeça. – Mulheres são
sensíveis.
Deixaram o susto de Eva dentro do estabelecimento e
foram para uma loja de fantasias tradicional.
A moça adquiriu um maiô de tecido resistente com
um zíper que descia do pescoço e parava antes de chegar
ao umbigo, a parte da frente era de um azul bem escuro, já
os lancos e as costas eram mais claros. Comprou também
uma saia curta e uma bota de salto baixo com cano alto na
altura das panturrilhas; luvas negras de látex e, por im, uma
máscara, a qual cobria as sobrancelhas e parte das maçãs do
rosto, lembrava vagamente asas de insetos.
Eva também comprou uma capa negra do lado de trás
e amarela na frente, deu de presente a Zack.
Ele mal conseguia exprimir sua alegria. – Obrigado! É
tão legal! Mas essas coisas não são caras?
– Sim, mas graças aos meus poderes consigo uma boa
renda fazendo e vendendo artesanato.
João cutucou o amigo. – Peça umas lições a ela!
S a g a F a n t a s y
3 4
O tão esperado sábado chegou, o trio chamou muita
atenção no ônibus graças as suas roupas. João usava uma
máscara de hokey, caso contrário descobririam facilmente a
identidade dos outros.
Os olhares mais penetrantes vinham de homens e
se dirigiam a Eva em seu traje sensual. Ela icou corada. –
Tenho que me acostumar com isso… – Cochichou para si
mesma.
A viajem durou cerca de uma hora e meia, desceram
em um bairro de aspecto simples e tranquilo, árvores altas
dispersavam a monotonia da calçada, quebravam um pouco
da artiicialidade do cimento.
Pediram algumas informações e chegaram a casa. –
Quem vai chamá-lo? – Perguntou Zack.
– Não conheço ele. – Disseram João e Eva em uníssono.
Materian apertou a campainha. A porta se abriu
revelando o morador japonês, este sorriu. – Ainda não
estamos no dia das bruxas e não tenho doces.
– Não viemos por isso! – Explicou Zack. – Somos
super-heróis. – Balançou a própria capa. – E viemos pedir
informações…
O oriental o interrompeu. – Desculpem crianças, mas
estou muito ocupado.
Kenji era alto e magro, usava um jaleco verde cheio
de manchas. Estava prestes a fechar a porta, entretanto,
Materian materializou um livro dourado e o exibiu.
O homem arregalou os olhos. – Como fez isto?!
– É o poder que ganhei depois de beber a fórmula hexa!
A boca do japonês abriu-se, mas demorou a emitir sons.
– Você… Você… Tomou… Entrem por favor! Precisamos
conversar!
Diversos objetos ocupavam a mesa da cozinha em uma
ordem bagunçada, o oriental limpou o cômodo rapidamente
e serviu chá com biscoitos aos visitantes.
Q ü i l l K a o s
3 5
Materian relatou como havia encontrado a fórmula
na maleta e os efeitos dela em seu organismo, porém, sem
revelar sua identidade ou endereço.
O cientista icou fascinado, fechou as janelas da casa,
acendeu as luzes e conidenciou: – Tudo começou com a
queda de meteoritos ha três anos. Grande parte caiu em uma
região árida da Bahia, um em São Paulo e dois em Minas
Gerais. Até agora foram encontrados sete aerólitos, mas
acredita-se que existam mais, pelo menos dez. O governo
rapidamente comprou as amostras das pessoas que haviam
encontrado…
Kenji olhou para Eva e João. – Vocês sabem com qual
das fórmulas tiveram contato?
Ela icou pensativa. – Não tenho certeza… Um pouco
antes de ganhar minhas habilidades, ingeri um líquido
vermelho que um comerciante da feira chamava de remédio
milagroso… Disse que curaria minhas enxaquecas… E
realmente curou!
João balançou a cabeça, sua voz soou abafada por
causa da máscara de hokey. – Eu não tenho superpoderes,
sou o assistente.
Kenji botou a mão no queixo. – Essas fórmulas foram
feitas com a extração de um produto mineral/biológico
dos aerólitos. Eles tinham cores diferentes e também
propriedades distintas. Eu era um bioquímico bem sucedido
e fui convocado pelo governo para pesquisar as pedras junto
com um cientista chamado Arquicheles.
Fizemos descobertas fascinantes, estávamos cada
vez mais concentrados nas pesquisas. O material é capaz
de se ligar ao DNA de seres pluricelulares e aperfeiçoá-los
mudando a estrutura genética. Não sabíamos ao certo os
limites dessas substâncias, então izemos vários testes com
animais. A maioria morreu no início, mas conseguimos tirar
S a g a F a n t a s y
3 6
as impurezas dos materiais até eles se tornarem líquidos, os
chamamos de fórmulas. Cada fórmula possui um nome.
Você disse que bebeu a hexa, a batizamos assim por que foi
a sexta a ser estudada, porém, nomeamos as outras quase
aleatoriamente. – O nipônico coçou a cabeça. – Ainda não
sei o nome de vocês.
Eva adiantou-se. – Meu nome é…
João tapou a boca dela rapidamente e disse: – Ela é a
garota elemento! Pode me chamar de assistente.
– E eu sou o Materian!
O oriental sorriu. – Prazer! Sou o Kenji! Estou muito
impressionado com a visita de vocês…
A pedido do cientista, Zack e Eva izeram uma curta
demonstração dos seus poderes, depois voltaram à mesa.
Eva havia gostado de seu nome de heroína criado no
improviso e prometeu a si tomar mais cuidado na hora de se
apresentar. Ela mordeu um pedaço de sua torrada e tomou
um gole de chá de hibisco. – Como essas fórmulas foram
parar nas ruas?
– Provavelmente foram roubadas. – Respondeu
Kenji. – Alguém deve ter descoberto sobre elas e contratado
mercenários para subtraí-las. A jovem formulou uma nova
pergunta. – E porque se demitiu?
Kenji colocou os cotovelos na mesa, entrelaçou os
dedos das duas mãos e apoiou o queixo nelas. – Arquicheles…
A ambição dele é imensa… Abandonou a ética e testou a
fórmula em seu primo que desenvolveu poderes assombrosos.
Fomos obrigados a matar o parente dele, pois estava
cometendo crimes. O governo descobriu tudo e nos mandou
testar as fórmulas em outros humanos no intuito de criar um
superexército, também queriam que descobríssemos algum
modo de duplicar as fórmulas.
Zack perguntou: – Por que querem um exército de
super-humanos? É para proteger a população?
Q ü i l l K a o s
3 7
O japonês suspirou. – Provavelmente não. Para que
serve um exército?
– Para fazer guerra? – João jogou um palpite.
Kenji consentiu com a cabeça.
Materian bateu com força na mesa. – Eu não entendo!
Guerra traz apenas destruição!
– Por isso me demiti. – Explicou o nipônico. – A esta
hora Arquicheles deve estar eniando agulhas e abrindo
corpos de prisioneiros em todo o tipo de experiência bizarra.
Zack sentia raiva, não sabia lidar com essas questões,
mas tinha certeza de que havia algo muito errado. – Se
ninguém protege as pessoas, eu mesmo protegerei! – Bradou.
O trio deixou a casa e pegou um atalho por um
beco. Naquele chão imundo havia um adolescente jogado,
fumando um cachimbo de crack.
Eva icou comovida e disse: – Vamos levá-lo a algum
centro de reabilitação.
Materian andou até o garoto e o olhou no fundo dos
olhos. O jovem absorto na droga abanou as mãos em resposta.
– O quê cê quer otário?! Qué tomá o meu bagulho?! Some
daqui antes que eu te arrebente!
Zack materializou uma pistola e apontou para a cabeça
do rapaz.
– Prefere morrer agora com uma bala ou lentamente
se drogando?
A Garota Elemento moveu-se com a intenção de
intervir, João a segurou. – Deixe-o.
A tensão crescia, o silêncio reinava. O zumbi do crack
largou seu cachimbo e se rendeu aos prantos.
Materian abaixou-se ao lado dele. – Talvez você não se
importe com sua vida, mas alguém, com certeza, se importa.
O trio internou o rapaz numa casa de reabilitação. João
e Eva elogiaram a atitude de Zack. Este último desabafou:
S a g a F a n t a s y
3 8
– O nosso trabalho como super-heróis é ajudar a polícia e
o estado a combater o crime e não icar com toda a tarefa
deles…
João colocou a mão no ombro do amigo. – Essas drogas
não deveriam nem entrar no país, pelo menos as pessoas
ainda tem você.
Kenji abriu as janelas, o vento fresco soprou seu rosto.
Sentia-se culpado por ter ajudado em uma pesquisa que seria
útil apenas para criar um exército altamente destrutivo.
Ouviu um barulho atrás de si e virou-se. Seus olhos
puxados encontraram um tenebroso cão, idêntico a Garras
Albinas, porém o que estava alí era todo negro. O cientista
icou paralisado.
A criatura medonha derreteu-se numa treva maciça e
foi tomando forma até se transformar em Sombra Noturna.
Kenji respirou aliviado. – Você quase me matou de
susto garoto gótico.
O outro olhou para as próprias unhas pintadas de
negro. – Não sou gótico, apenas gosto desse estilo. Segui o
seu conselho.
– Que conselho?
– Você disse que uma das características do meu poder
é assimilar outras habilidades, então bebi o sangue de um
cão mutante e agora posso me transformar em algo parecido
com ele.
O japonês riu. – Não foi um conselho, foi uma
conclusão baseada em um exame de sangue.
O outro deu de ombro. – Que seja! – Andou até uma
parede onde havia uma espada de punho negro pendurada,
a tirou do lugar e ofereceu ao dono. – Precisa aprender a se
defender, mais cedo ou mais tarde, virão atrás de você.
Kenji recusou o objeto. – Não tenho nada a perder.
– Então me ajude! – Pediu Sombra Noturna. – Você
possui as provas do que o governo está planejando.
Q ü i l l K a o s
3 9
– Diga-me. Você viu aqueles três aqui, não viu? Você
tem alguma relação com a visita deles?
– Não.
O domingo foi marcado por um sol radiante, Zack e
João convidaram Eva para treinar no lixão, ela só conseguiu
suportar o cheiro durante vinte minutos, então saiu com a
desculpa de um compromisso.
– Acho que ela vai fazer artesanato. – Calculou o
gordinho. – Ei… Ela usa os poderes para trabalhar, então
ganha dinheiro e treina ao mesmo tempo.
Zack se surpreendeu com inteligente revelação. –
Então usarei meus poderes para pegar material reciclável
hoje.
Ele materializou um carrinho de mão, uma pá e dois
paresdeluvas.Entãoosdoiscomeçaramasepararolixo.Meia
hora depois, havia uma pilha de latas de alumínio reunidas,
Zack materializou uma bigorna em pleno ar, acima delas, a
gravidade se encarregou de fazê-la cair e bagunçar tudo.
– Acho que assim não conseguiremos amassar. – Disse
João. – Vamos deixar essa parte para depois. Aqui tem muitos
animais mortos, podemos fazer um enterro para eles, depois
pegamos as latinhas!
Zack sorriu. – Ótima ideia.
O carrinho de mão desapareceu e deu lugar a mais
uma pá. A dupla se apressou em esburacar o chão e jogar os
ratos e urubus mortos nas covas, enquanto eles se distraiam,
o mendigo (antigo dono do falecido Luli) encheu dois sacos
com as latas dos garotos. – Que sorte a minha! – Disse. – Os
lixeiros jogaram todas as latinhas no mesmo lugar!
Os rapazes enterraram os bichos, pretendiam fazer
cruzes para incar na terra que servia de cobertor ao sono dos
mortos, mas desistiram, pois teriam que fazer muitas.
Procuraram as latas por mais de quarenta minutos,
S a g a F a n t a s y
4 0
como não encontraram, João deu uma explicação digna de
um psicólogo.
– Acho que você materializou as latinhas
inconscientemente e agora sumiram.
Ambos icaram satisfeitos com esta ideia.
João colocou a mão no queixo e olhou para o céu. –
Por que será que aqui ha tantos depósitos de lixo podre e em
Brasília existem tantos políticos?
Zack desmaterializou os objetos. – Deve ser por que
São Paulo escolheu primeiro.
A feira se encontrava congestionada de pessoas. A
atenção da maioria delas era desviada para a igura vestida
de negro: coturno, uma capa, unhas negras, pele pálida,
olhos cinza, cabelo jogado para diversos lados e com franja.
Sombra Noturna.
Ele varreu a rua com o olhar. Fitou toda a área feito um
caçador, fechou as pálpebras e as descortinou em seguida,
agora suas íris estavam pigmentadas de vermelho.
Emprestava os poderes de Garras Albinas e enxergava
o mundo em raios-X.
Encontrou a presa. Seus olhos voltaram à cor de
nuvens tempestuosas e a visão tornou-se humana novamente.
Moveu-se a passos determinados e sérios de encontro a
garota dos cabelos azuis. Os olhos dos dois se encontraram
e reletiram-se com chispas invisíveis. Segurou a cintura de
Eva e a beijou ardorosamente, a bela evadiu-se corada e
protestou: – O que é isso?!
A sombra alisou-lhe o rosto e investiu novamente
deixando-a atordoada, vencendo-lhe a resistência e
mordendo os lábios carnudos até rasgarem e soltarem o
doce sangue escarlate, os braços dele a estreitaram para si,
prendendo igual a um instrumento de tortura capaz de dar
prazer masoquista e sorver sangue.
Q ü i l l K a o s
4 1
Soltou a moça serenamente, deu as costas e partiu.
Ela icou ali parada com o coração às pancadas, a boca
ferida, rosto rubicundo e corpo desejoso. Ele largou a rua da
feira e sorriu de jeito sombrio. – Será que com essa pequena
quantidade de DNA conseguirei os poderes dela?
A semana escoou-se num ilete para o ralo virtual do
tempo. Era sexta feira, Zack e João estavam no Q.G, jogavam
um videogame materializado. O cenário montado por eles
era composto pelos objetos encontrados no lixão e alguns
outros. Havia uma coleção de potes transparentes postados
em ileira numa grande prateleira, o conteúdo deles era
colorido e variado, um era comprido e estava cheio de bolas
de tênis, outro era preenchido com pequeninos bonecos e o
próximo guardava bolas de gude, o seguinte exibia dados em
seu interior…
Um quadro pintado com as cores de uma praia
agarrava-se à parede amarela, e logo abaixo, a TV sobre a
cômoda de superfície lotada de adesivos, passava o jogo
das escadas rolantes. Uma estante vermelha servia de base
a outros brinquedos resgatados do meio do lixo. A parte de
baixo deste mesmo móvel guardava revistas em quadrinhos;
estes sessenta e dois gibis haviam sido encontrados dentro
de um saco preto. Um tapete parecido com um tabuleiro
de xadrez estendia-se abaixo dos pés dos rapazes sentados no
sofá verde.
Excluindo a TV, estante, cômoda e sofá, todos os outros
objetos haviam sido descartados pela sociedade consumista e
reaproveitados pelos rapazes.
Os dois visitaram o lixão da cidade pela primeira vez
aos doze anos de idade, acompanhavam Celic, o pai de Zack,
este quisera pedaços de madeira para construir uma casinha
para o cachorro da família. O pai de Materian possuía longos
cabelos lisos e brilhantes, mantinha um cavanhaque e um
olhar longínquo.
S a g a F a n t a s y
4 2
– Por que você não compra uma casinha igual àquelas
que passam na TV? – Perguntara João. – Não tem dinheiro?
Celic lançara os olhos castanhos ao horizonte. – Se
você puder fazer algo com as próprias mãos, então faça. O
verdadeiro valor não está no preço, mas na personalidade
posta naquilo que se constrói. As fábricas fazem milhares de
casinhas de cachorro iguais todos os dias, depois criam um
comercial chamativo e convencem as pessoas a comprar.
Mais tarde lançam novos produtos ao mercado e dizem
que são modernos e bonitos, apenas iludem as pessoas, elas
compram outra vez e descartam as coisas antigas mesmo se
estiverem em ótimo estado, e esses objetos vem parar aqui.
Os garotos icaram fascinados com essas palavras
pronunciadas com ar de sabedoria.
Celic sorrira e afagara a cabeça dos dois. – A vida
humana é feita de ilusões, quando não souberem as respostas
procurem enxergar de todos os ângulos e coniem nos bons
amigos.
Celic separara-se da mãe de Zack um ano depois e
mudara-se para o litoral deixando ensinamentos e saudades.
Visita o ilho todos os anos.
De volta ao Q.G.
Zack conseguia manter o game materializado por
bastante tempo sem gastar grandes quantidades de energia de
seu corpo, isso foi o resultado dos treinamentos e a evolução
de seu organismo para a fase dois de desenvolvimento. A
dupla jogava com gosto e nem se deram conta do passar das
horas. Anoiteceu.
Três batidas metálicas soaram no portão da garagem e
um bilhete foi jogado para dentro através de uma fresta.
João saiu, mas não encontrou ninguém. Então leu
o recado em voz alta: “Sequestramos Kenji. Venham
imediatamente para a rua Bonifácio júnior no bairro Jardim
Q ü i l l K a o s
4 3
Maciel. Entrem no galpão abandonado número 13, ica
perto da mercearia. Não chamem a polícia ou mataremos
ele”.
– Está na hora de entrar em ação. – Exclamou Zack. –
Quem é Kenji mesmo?
– Não lembro. – João coçou a cabeça. – Mas está em
apuros.
Zack balançou a cabeça negativamente. – Coitado!
Fizeram alguns preparativos para saírem sem serem
importunados por suas famílias. O gordinho cobriu o rosto
com a máscara de Hokey e o outro vestiu a fantasia. Ligaram
para Eva e informaram o endereço, ela disse que estava
tomando conta da sobrinha, mas logo daria um jeito de ir.
Chegaram ao local usando uma moto materializada.
O manto da escuridão embalava a rua apertadamente,
deixando uma pequena falha perto de seu nó com laço, onde
a luz de um poste piscava, temendo ceder sua vida ao encanto
noturno, enquanto um inseto alado chocava-se no vidro da
lâmpada. Os sons se propagam através do ar, mas ele não se
movia e nem trazia ruídos. Materian e João se entreolharam,
a moto se desmanchou como uma mancha, a qual se limpa
com pano. A voz de um gato soprou a vela do silêncio. Os
dois garotos saltaram de susto e depois riram.
José Bonifácio Júnior o coronel cujo nome fora
transferido a esta rua onde os garotos pisavam, seu sangue
escorrera pelo lençol há noventa anos, obra de sua amante
munida de faca.
– Dizem que esse lugar é mal assombrado. – Sussurrou
João.
Materian deu um soco no ar. – Um herói não tem
medo de fantasmas! E você precisa de um codinome oicial,
algo além de “Assistente”.
Depois de reletir um pouco (até soltar fumaça da
cabeça) João disse com ênfase. – Sou o Assistente Mascarado!
Q ü i l l K a o s
4 5
Desculpe. Não posso disponibilizar o livro completo
gratuitamente, preciso ser pago pela minha arte, espero
que entenda.
Se deseja ler o livro completo, compre a versão física de
Saga Fantasy através do link:
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Você também pode acompanhar o meu trabalho seguindo
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E-mail para contato: quillkaos@gmail.com
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Qüill Kaos
Mais informações sobre o livro:
Saga Fantasy traz uma coleção de histórias do gênero fantasia com um leve toque de
filosofia. As histórias apresentam personagens carismáticos e surpreendentes.
A obra tem o poder de transportar o leitor aos belos quadros da ficção fantástica, sem
deixar de mostrar uma visão crítica sobre o mundo. O real e o fantástico se
encontram e se mesclam com os elementos da cultura pop.
Usando a escrita como um pincel o autor Qüill Kaos pinta o retrato humano
(e também inumano) de forma única, cada história é repleta de camadas,
cada sentimento se aprofunda até o clímax...
Coração de herói:
O atrapalhado Zack tem sua vida mudada após beber a fórmula hexa.
Para descobrir o verdadeiro caminho dos heróis ele conta com a ajuda de seu amigo
João. É uma história cheia de humor ácido, ação e visão crítica.
A fábula urbana de Nino:
É uma emocionante história sobre um gato e sua dona.
Uma mistura de fábula e literatura moderna.
O mago do caos:
O poderoso mago Larel tenta mudar o mundo com um grandioso feitiço.
Mas como mudar a mentalidade das pessoas?
A narrativa mostra lutas épicas entre os magos Larel e Nael, também quebra tabus, e
contesta costumes da sociedade.
Aquário da mente:
A narrativa acontece no ano de 4004 num cenário pós-guerra dominado pela elite. A
história gira em volta de um jogo sombrio onde os personagens são os seres
humanos pobres. Esta história filosófica é capaz de tirar lágrimas do leitor.
O conto do pescador:
Um pescador se depara com um dragão no lago e também uma voluptuosa sereia.
Este conto é sobre os possíveis pontos de vista diante de um problema.
Mostra que não existe apenas um caminho ou uma única verdade.
O único relato sobrevivente:
Começa com óvnis, prossegue com invasão alienígena, escrita em estilo moderno e
único, é uma história de arrepiar e fazer pensar.
Caminho entre estrelas:
A poética saga narrada pelo próprio tempo mostra um ser redondo e peludo que viaja
entre dimensões.
Mistura fantasia e ficção científica de forma profunda e tocante,
é uma história de amor e amizade, e de transcendência.
Q ü i l l K a o s
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Sobre o Autor
Aos dezesseis anos de idade larguei a escola, foi uma
das melhores coisas que iz em minha vida. Estava cansado
de tudo aquilo, queria dar um tempo, e neste tempo con-
heci a magia dos livros. Eu havia me libertado das obrigações
acadêmicas, no entanto, precisava de uma proissão. Ingenu-
amente decidi ser um escritor proissional, havia um prob-
lema: Eu era péssimo escrevendo. A solução que encontrei
foi ler tudo o que visse pela frente, assim melhoraria minhas
habilidades com a escrita, realmente melhorei, mas não é
nada fácil icar sentado de oito a noves horas por dia escrev-
endo, dedicação é a palavra-chave de qualquer proissional.
Na época (2007) comecei um romance do gênero high
Fantasy (alta fantasia), insatisfeito com o trabalho reescrevi
vários trechos. Neste ínterim 2007 – 2012, trabalhei em algu-
mas empresas e conclui o ensino médio. Eu escrevia muito
pouco. No inal de 2012 engavetei o projeto, estava com 312
páginas. Assim comecei a escrever contos e novelas, tinha a
intenção de juntar as melhores histórias em um livro e envi-
ar às editoras.
No ano de 2013 comecei o curso de programação na
Etec de Embu das artes. Em abril de 2014 inalmente con-
clui um livro. Nele juntei minhas histórias do gênero fanta-
sia e icção cientíica. O batizei de Fantasy Saga, mas poste-
riormente iz uma busca na internet e descobri Que Fantasy
Saga era o nome de um jogo de RPG, então alterei para Saga
Fantasy, ainda assim iquei na dúvida entre Sagas Fantásticas
e Saga Fantasy, optei pelo último título.
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Saga fantasy

  • 1.
  • 3.
  • 4. EDITORA MULTIFOCO Rio de Janeiro, 2014 Saga Fantasy Q ü i l l K a o s Dimensões Ficção
  • 5. EDITORA MULTIFOCO Simmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda. Av. Mem de Sá, 126, Lapa Rio de Janeiro - RJ CEP 20230-152 CAPA & DIAGRAMAÇÃO Leonardo G. Filho Saga Fantasy KAOS, Qüill 1ª Edição Agosto de 2014 ISBN: 978-85-8273-969-3 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização do autor e da Editora Multifoco.
  • 6. Dedicado ao meu pai que sempre me incentivou. Seu apoio foi importante.
  • 7. Índice Coração de Herói 07 O mago do caos 61 Aquário da mente 117 O único relato sobrevivente 132 O conto do pescador 139 A Fábula Urbana de Nino 145 Caminho entre estrelas 155 Sobre o Autor 191
  • 8. Q ü i l l K a o s 7 Coração de herói A coragem é a força criadora de heróis e de vilões, o que os diferencia são as circunstâncias da vida. Após o amarelo o farol passou para o vermelho, então o homem vestido de sobretudo azul e chapéu, atravessou a faixa de pedestre apressadamente. Os sapatos brilhavam de tanta graxa. Seus olhos escuros davam atenção a tudo ao redor como se temesse ser seguido. Apertava irmemente a alça da mala enquanto desviava das pessoas na tarde cinzenta e agitada. Ele dobrou a esquina e consultou seu relógio digital. Olhando para trás notou um homem alto com a mão dentro do paletó. Apertou o passo, o outro também o fez, começou a correr, e o desconhecido tirou um revólver de dentro do paletó. Em um trecho da calçada em que o perseguidor não podia vê-lo, o agente do governo escondeu a mala em uma fresta entre a parede de tijolos vermelhos e a lixeira de metal pintada de verde. Pulou o muro do beco enquanto os tiros cortavam o ar e assustavam a população local. Anoiteceu. Um morador de rua com mais de 40 anos e acompanhado de um cachorro tão encardido quanto ele, começou a revirar o lixo. Instantes depois, desandou a resmungar com uma voz paranoica e perdida. – Será impossível encontrar comida descente nesta cidade Luli? Ele coçou os cabelos ensebados e grisalhos por debaixo da touca gasta e tirou um saco do bolso da jaqueta velha; começou a recolher latinhas de refrigerante, uma delas caiu e ao se abaixar para pegá-la, o mendigo encontrou uma mala preta. Deu uma bela fungada no catarro que castigava seus pulmões há meses e tirou o objeto de trás da lixeira. Levantou-o contra a luz oscilante do poste da rua e
  • 9. S a g a F a n t a s y 8 o mordeu. – Ai! – Gritou ao sentir doerem as suas gengivas quase roxas, abraçadas aos dentes amarelados. O cachorro o observava ixamente como se fosse uma estátua viva e peluda, originalmente branca, mas agora cinza por causa da sujeira. O maltrapilho apalpou a mala por todos os cantos e quando bateu nela como se bate em uma porta disse: – Macio. Colocou-a no chão e voltou a mexer no lixo. – Isso vai dar uma boa cama Luli. Hoje dormirei tão bem quanto uma prostituta que trabalhou a noite toda. Encontrou um grosso saco de batatas, deitou no chão e entrou no saco, cobriu todo o corpo, inclusive a cabeça que apoiou na mala sólida como pedra. – Boa noite Luli! Quando estava prestes a pegar no sono, levantou bruscamente. – Quase me esqueço! Arrebentou a lâmpada do poste atirando nela um pedaço de tijolo. – Não podemos dormir com a luz acesa, não é mesmo? Todos devem poupar energia. Voltou a deitar e a se cobrir por inteiro. Seu ronco era alto como descarga desarranjada. Luli acordou, cheirou o dono e fez xixi em sua barriga, em seguida começou a correr atrás de um catador de papelão, que empurrava um carrinho de mão. A madrugada era fria, a música ambiente era a fusão dos sons produzidos por motores de carros e casais brigando. Lá estava o agente de sobretudo azul, esgueirando- se silenciosamente. Enxugou o suor da testa e respirou fundo, passara maus bocados fugindo do homem armado, provavelmente um mercenário trabalhando para alguém, mas para quem? Como sabia da mala? Isso não importava no momento, pois a maleta tinha de ser recuperada a qualquer custo. Jogou a luz de uma lanterna sobre o canto atrás da lixeira e nada encontrou.
  • 10. Q ü i l l K a o s 9 Foi neste momento que viu o morador de rua deitado sobre o que procurava, precisava recuperá-la de modo silencioso e discreto, ainda estavam o perseguindo, disso ele tinha certeza. A aproximação foi lenta para não acordar o maltrapilho, cada passo era calculado, não poderia sequer pensar em fazer barulho. Interrompeu-se ao ouvir um caminhão se aproximando, desligou a lanterna e se escondeu, o sol nasceria em poucas horas. O caminhão parou, soltava um cheiro desagradável. Um homem desceu da parte traseira e rapidamente jogou o mendigo às costas e o depositou no caminhão, em seguida coletou os sacos de lixo da lixeira de metal e também a mala. Subiu de volta e o veículo partiu, Luli reapareceu latindo e correndo atrás do caminhão de lixo. O agente levou as mãos à cabeça num grito mudo e depois sussurrou: – Como podem confundir uma mala daquelas com lixo?! Não acredito! Luli ganiu até o agente, que afagou sua cabeça e disse palavras carinhosas. – Calma. Calma, não se preocupe icará tudo bem, recuperaremos a mala, não ique triste. A mostarda respingava do cachorro quente para o balcão da lanchonete, criando um lago amarelo no mármore. – Hum! Que gostoso! – Exclamou de boca cheia o rapaz magro e desajeitado. Trajava roupas largas demais para o seu ino corpo parecido com bambu. Usava óculos de armação grande cujas lentes eram grossas como as de uma lupa. – Viu o novo jogo de tiro? – Perguntou seu amigo gorducho e baixo, sentado ao seu lado. – Ah! Vi sim! – Respondeu Zack em seu natural tom nasalado. – O Earth Invaders é demais! Ele deu uma forte mordida no lanche, em seguida levou a mão à boca de onde tirou uma barata, ergueu o
  • 11. S a g a F a n t a s y 1 0 inseto e chamou: – Balconista! Balconista! Homem do lanche! Venha cá! O funcionário apareceu, tomou um susto ao ver o bicho e icou mudo. – Olhe o que encontrei aqui! – Exclamou Zack segurando a barata. – Dentro do meu lanche! Sabe o que eu deveria fazer?! A pele do homem perdeu a cor natural. – Senhor… Por favor… Deve haver alguma forma de resolvermos isto… Não nos denuncie… – Mas é exatamente o que farei! Irei denunciá-lo por maus tratos aos animais, não pode largar os seus bichinhos por aí. Zack colocou a barata dentro do bolso do avental do funcionário. – Agora sim! E por favor! Traga-me um refrigerante e um pouco de catchup para tirar o gosto ruim da boca. O semblante do homem bigodudo esculpiu-se em perplexidade, dentro de sua cabeça se passaram duas possibilidades: “Só pode ser piada, ou então esse é o garoto mais imbecil do mundo!”. Retirou-se para atender ao pedido. O menino gordo chamado João elogiou o amigo. – Procedeu muito bem! Devemos ensinar bons modos a essa gente! O atendente voltou com uma garrafa de Dorgacola, dois copos de vidro e também o catchup, serviu-os e disse que era por conta da casa. – Ah! Ele não é uma pessoa tão ruim! – Amenizou João. Zack encheu o lanche com o molho e comeu vorazmente enquanto o balconista assistia espantado. Os dois jovens foram alegremente ao lixão da cidade, eram duas da tarde e o calor do sol multiplicava o aroma podre.
  • 12. Q ü i l l K a o s 1 1 Zack respirou fundo. – Sinto cheiro de novidade! – Eu também. – Respondeu João – Tomara que encontremos bastantes coisas úteis hoje. Entre as montanhas de lixo havia os mais variados objetos descartados pela sociedade: Pneus, móveis, ratos, urubus, chorume, baratas, bichos de pelúcia rasgados, calcinhas e até um mendigo. Mendigo? Sim, o homem que havia sido jogado na caçamba do caminhão de lixo estava ali esquentando “comida” com alto potencial laxante e se lamentando. – Luli! Onde estará? Meu único amigo… Nunca deveria ter tentado assá-lo no natal… Mas não tinha peru… E foi um crime ter usado seu corpinho como pano de chão para enxugar a calçada… Os dois jovens continuavam a minuciosa busca. João encontrou um spray de tinta branca e pintou as axilas por confundi-lo com desodorante. – Eu queria encontrar uma mala cheia de dinheiro! – Sonhou Zack. – Poderia comprar até mesmo uma banheira. – Com sabão e tudo. – completou João. Passaram-se meia hora. A dupla já somava aos seus pertences o spray quase vazio, uma bola de tênis cinza, uma coleira de cão para arrastar em uma corrente e dizer que tinham um cachorro invisível, quatro isqueiros vazios a im de jogá-los no fogo e vê-los explodirem, e algumas presilhas de cabelo. – Olhe quantas coisas valiosas! – Exclamou João. – Sim. Em meus quinze anos neste mundo, foram poucas as vezes em que vi tantos tesouros juntos. O gordinho de cabelo liso e lustroso icou boquiaberto de repente e apontou para um monte de lixo. – Olhe! Uma mala cheia de dinheiro! Os dois correram até o achado e o abriram rapidamente,
  • 13. S a g a F a n t a s y 1 2 logo se decepcionaram ao verem apenas um tubo de ensaio envolto em espuma no centro da mala. – Que azar! – Reclamou João. – Pobres outra vez! –Pelomenosencontramosessesuco.–Zackdestampou o tubo e começou a beber o líquido negro. – Quer um pouco? – Não sei se é uma boa ideia tomar isso… – Está gostoso! – Zack sorveu até a última gota. – Agora podemos guardar nossas coisas nesta maleta. Vamos! Eles saíram correndo. O mendigo os viu quando já estavam um pouco distantes e queixou-se. – Levaram o meu travesseiro… – Oi! – Cumprimentou o agente de sobretudo azul, acompanhado por Luli. – Quem é você! – Indagou o mendigo. – De onde saiu?! – Sou o agente 39242X, mas pode me chamar de X, de onde saí? Do útero de minha mãe é claro. O homem sem casa observou o quadrúpede canino. – Eu já vi isto antes… É um coelho? – É um cão! O mendigo esfregou os olhos. – Luli! É você! O cãozinho saltou para o colo do dono. – Gostaria de saber se o senhor viu uma mala negra. – O meu travesseiro? – O maltrapilho colocou Luli no chão. – Uns moleques endiabrados o levaram, foram naquela direção. – Obrigado. – X eniou a mão por baixo do sobretudo. – Tome uma recompensa. – Tirou um cantil prateado de whisky, o entregou e se retirou tentando fazer pose de descolado, entretanto, foi atacado por um urubu e saiu em disparada. O morador de rua (naquele momento de lixão) usou toda a bebida para lavar as mãos, já que o álcool é bom para tirar a sujeira.
  • 14. Q ü i l l K a o s 1 3 Luli urinou em seu dono e correu atrás do agente. – Volte aqui desgraçado! – Protestou o homem deixado de lado pela sociedade. – Filho duma cadela! A noite de Zack não foi nada agradável, uma implacável diarreia queimava seu intestino. A moléstia largou o rapaz apenas duas horas da madrugada, foi quando ele se afundou em pesadelos, suor e tontura. Dentro de seus sombrios sonhos, palhaços soltavam chamas pela boca e perseguiam-no, depois desapareceram e deram lugar à sua tia velha e pelancuda, ela apertava suas bochechas e o chamava de “meu bebezinho”. Zack revirava-se assustado com aquele inferno mental que perdurou até o despertador salvá-lo e mandá-lo em seguida para o sofrimento da escola. Ele se achava privilegiado por poder ver o fundo da lata do lixo, ajudado pelos alunos mais velhos, os quais o jogavam lá. E gostava de ser trancaiado nos armários pelos valentões para poder acompanhar o movimento dos corredores sem ser visto, entretanto, odiava as aulas. Estava sentado, mortalmente entediado na aula de matemática ouvindo o blá blá blá passivamente, mas começou a rir ao imaginar a professora usando roupas íntimas verdes com desenhos de patinhos amarelos. Era hora da saída do colégio, um grupo de estudantes avistou João e Zack. – Vamos dizer um “oi” para aqueles dois otários! – Falou o líder. Derrubaram João, arrancaram seus tênis e jogaram no telhado, depois começaram a empurrar Zack até ele cair no meio da rua. Vinha um carro, o motorista não teria tempo de desviar, Zack fechou os olhos, já contava com a morte vindo buscá-lo e levá-lo ao mundo dos pôneis, unicórnios, fadas
  • 15. S a g a F a n t a s y 1 4 e outros seres malvados, entretanto, uma pequena ponte se materializou em cima dele e desapareceu assim que o carro a atravessou. O rapaz passou a mão pelo próprio corpo, não entendia por que estava intacto. Viu garrafas de cerveja sendo jogadas para fora do veículo e ouviu o motorista gritar algo sobre nunca mais beber. O agente X andava pelas ruas segurando uma enorme lupa, Luli o acompanhava. Usou a lente para examinar um pombo. – Você por acaso viu a minha maleta? João e Zack voltavam para as suas casas, localizadas na mesma rua e separadas por cinco moradias. – Eu falei. – Insistia o gordo. – Apareceu uma ponte do nada, acho que você tem superpoderes! – Não acredito nisso, escapei por sorte! – Como você é teimoso! Você estava de olhos fechados e por isso não viu! Zack icou reletindo sobre o assunto apesar de não ter admitido. As possibilidades faziam um furacão em sua mente. Chegou em casa e deitou em sua cama, olhava para o teto e imaginava como sua vida seria diferente se tivesse superpoderes. Se pudesse voar, faria um voo pelado entre as nuvens para descobrir qual seria a sensação, poderia também salvar gatinhos presos em árvores e pombos nos ios. Se possuísse visão de raios desintegradores… Estragaria os seus óculos… Talvez fosse dono de superforça, assim poderia impressionar as pessoas em academias e amassar ferro velho com as mãos antes de vendê-lo. Em meio a estas geniais relexões, sentiu grande vontade de jogar videogame, talvez um jogo novo, pois estava enjoado dos antigos. Ao levantar-se da cama, se deparou com
  • 16. Q ü i l l K a o s 1 5 um console, o qual nunca havia visto em outro lugar que não fosse dentro de sua imaginação. O videogame estava no chão, possuía o formato de uma fogueira e o controle parecia uma gota de água. Ele icou deslumbrado e o instalou na TV de seu quarto tão rápido quanto um espirro. Jogou por horas o jogo da escada rolante cujo objetivo era fazer o personagem subir uma escada rolante de um shopping enquanto ela descia. Depois começou a sentir-se cansado e o game desapareceu completamente, desmaterializou-se. – Sumiu?! – Exclamou Zack estupefato. – Será que minha mãe não pagou a conta de luz?! No dia seguinte, contou o ocorrido a João e os dois se encontraram no lixão da cidade após a enfadonha aula. – Eu avisei! Gabou-se o gordo. – Você realmente tem superpoderes! Agora precisa treinar bastante para desenvolvê- los. O desajeitado e magro rapaz ajeitou os óculos. – Se isso for mesmo verdade, poderei ser um super herói! – Não seja estúpido. – Reprimiu o amigo. – Os super- heróis trabalham de graça, é melhor você ser um supervilão. – Tem razão… Mas minha mãe me mataria… João se calou por um momento e depois disse: – Acho que não há opção… Neste caso terá de usar suas habilidades para praticar o bem… Não é tão ruim assim… Apenas continuará pobre. Zack sorriu. – Mas e se as pessoas me derem recompensas pelos meus atos heroicos? – É uma possibilidade, mas os heróis não podem aceitar todos os prêmios, apenas alguns. Assim dizem os quadrinhos… Zack começou o seu treinamento, guiado pelo amigo,
  • 17. S a g a F a n t a s y 1 6 este o mandava materializar certos objetos com a força da mente, porém, os resultados não eram muito bons. João pediu que izesse uma vela, então surgiu um fósforo queimado, falou para o rapaz criar um trono, entretanto, uma privada apareceu. – Sua habilidade de materializar está bem confusa. – Falou João. – Dê uma olhada em volta! – Pediu Zack. – Aquele mendigo chato ou outra pessoa pode estar nos observando. E ninguém pode saber dos meus poderes… É assim nas histórias em quadrinhos! O gordinho saiu à procura de curiosos. Zack esfregou as mãos e lambeu os lábios. – Agora criarei uma mulher muito linda e nua, e ela tocará o meu corpo! O garoto fechou os olhos e concentrou-se, quando os abriu, viu uma boneca inlável estirada no chão. A tarde do dia seguinte carregava um ar taciturno, as nuvens se coloriam de cinza. Zack e João estavam voltando do lixão, ouviram uma voz. – Parem aí mesmo! Olharam ao redor, mas não encontraram ninguém. – Estou aqui! – Disse o homem vestido com um sobretudo azul e um chapéu, sentado em cima de um muro de tijolos vermelhos. Era o agente X. João examinou o desconhecido. – Desculpe moço, mas não queremos comprar nada. O vento acariciou o sobretudo do homem, sua expressão era séria e o plano de fundo era marcado pelo céu escuro, folhas secas esvoaçaram. – Não sou vendedor. – O que quer de nós? – Perguntou Zack. – Todas as pistas apontaram para vocês. Eu quero a fórmula hexa! João já desconiava do que se tratava, mesmo assim indagou. – O que é isso?
  • 18. Q ü i l l K a o s 1 7 O agente começou a falar em sussurros. – É o elixir de todas as vidas, a fonte dentro da fonte, o enigma indecifrável, o poder dos deuses em um frasco, o suco dos titãs… Zack animou-se. – Suco? Eu bebi um suco… Foi imediatamente interrompido por João, o qual pisou em seu pé com força. – Ai! Por que fez isso? – Reclamou o magro. O agente estendeu a mão. – Entreguem-me a fórmula hexa! Eu sei que estão com a maleta. – Temos a maleta sim. – Confessou João. – Mas… – Eu bebi todo o suco. – Admitiu Zack. O agente examinou Zack; aquela magreza; os óculos enormes; as roupas largas; a expressão de peixe morto; o jeito desengonçado… – O quê?! Um idiota como você bebeu a fórmula?! – Gritou X levando as mãos à cabeça. – Tenha calma senhor. – Pediu o gordinho. – Não sabíamos o que era… – A fórmula hexa é capaz de dar poderes inimagináveis a qualquer ser vivo… Farei uma demonstração. Luli! O cãozinho pulou em cima do muro. X o agarrou de modo bruto, abriu sua mandíbula e o fez engolir um líquido cinza. O cão desmaiou. – Você o matou! – Exclamou o magro. O homem levantou um dedo. – Observe. O cão acordou, caiu do muro e começou a se revirar na calçada. – Dei a ele o elixir beta. – Explicou X. Não é nada comparado ao hexa. A pele do animal começou a rasgar-se enquanto ele quadruplicavadetamanho,seusdentesicaramextremamente aiados e pontiagudos o pelo eriçou-se, as unhas das patas se tornaram grandes garras, os olhos tornaram-se vermelhos e para completar: Ossos pontudos saíram fora da pele.
  • 19. S a g a F a n t a s y 1 8 Os dois garotos se afastaram ante a visão da sinistra e bestial criatura. – Já que você bebeu a fórmula. – disse o agente. – Terei de extraí-la de seu corpo em uma autópsia! Pegue-os Luli! Os dois jovens correram por impulso, desceram a ladeira, seguidos pela fera. – Faça alguma coisa! – Gritou João. – Mas o quê?! – Perguntou Zack. – Qualquer coisa! Ou morreremos! – Não quero morrer… – Sussurrou Zack. Um brilho amarelo iluminou seus olhos, então ele materializou uma moto de cores berrantes, os dois subiram e rapidamente deixaram a medonha criatura para trás. Zack manobrou mais devagar em um trecho quase entupido por carros. O cão estava prestes a alcançá-los. – Crie um revólver. – Sugeriu João na garupa. – Estou cansado… – Mas precisamos… – Está bem! João abriu a mão direita, nela surgiu uma Magnum 44. Começou a atirar, mas errava todos os tiros, tinha certeza de ter acertado alguns, entretanto, não sabia que o cachorro podia icar intangível, assim as balas atravessavam seu corpo sem causar nenhum dano. Esta era uma apenas uma pequena amostra do verdadeiro poder da fórmula. Depois de várias voltas pela cidade, conseguiram despistar a criatura e reizeram o percurso a pé, pois todos os objetos materializados desaparecem depois de certo tempo. Zack estava exausto, João o ajudava a caminhar. O magro mantinha uma expressão triste. – Não sei se conseguirei ser um super herói João… Senti muito medo… Ocachorrobrancovoltouaoseudono,esteoexaminou. – Sem sinais de sangue… Você falhou… Precisamos matá-lo
  • 20. Q ü i l l K a o s 1 9 antes que ele atinja a fase dois de desenvolvimento, se atingir será mais difícil Luli. X lembrou-se da antiga aparência do cão. – Precisamos de um novo nome para você… Ele saltou do muro. – Será Garras Albinas. Os dias seguintes foram cansativos para Zack, submetido a rigorosos treinos comandados por João. Eles ainda não haviam decidido um nome de herói e nem como seria a fantasia para proteger a identidade. Foram em um brechó procurar a roupa. Zack colocou uma cueca na cabeça e estendeu os braços para o alto. – Sou o Materian! – Esse nome não é ruim. Falou João. – Mas a fantasia… Precisa melhorar. – Que tal uma capa? – Sugeriu o magro. – Acho que só os heróis voadores usam isso. – Opinou João. Reviraram as vestimentas da loja e encontraram uma camisa azul estampada com a letra M peito. – Perfeito! – Disse João. Zack encontrou uma máscara negra de plástico, desenhada para cobrir apenas a região dos olhos. O que acha disto? – Muito bom! Nós podemos colocar lentes de óculos nela. – Exclamou João. Zack olhou para os itens escolhidos. – Ainda falta algo… Um entusiasmo mexeu-lhe o corpo. – Já sei! Eu vi uma mulher usando uma luva em um comercial que só passa de madrugada… Vendem em umas lojas chamadas sex shop! O gordo consentiu com a cabeça. – Então vamos lá! A placa da loja dizia: “Messalina´s Tudo para o seu prazer”. João sorriu. – Que legal!
  • 21. S a g a F a n t a s y 2 0 Os dois adentraram o recinto, lado a lado. A vendedora arregalou os olhos e levantou-se para atendê-los. – Nossa! São tão novinhos e já querem apimentar a relação! Ela era alta e ruiva, sua personalidade tinha grande dose de energia e ao mesmo tempo um ar artístico, falava mansa como uma poetiza e movia-se a passos felinos. Elacolocouamãodireitanoqueixo.–Ficoimaginando vocês dois. Hum… – Segurou os ombros de Zack. – Você icaria ótimo vestido de médico para tratar as enfermidades do coração. – Alisou o rosto do gordinho. – E você poderia ser o paciente… – Precisamos de uma luva negra de vinil. – Informou Zack. Ela levou a mão à própria testa. – Oh! Minha deusa Afrodite! Como nascem pervertidos! Querem acessórios de sadomasoquismo! – Abanou as mãos. – Não saiam daqui. Vou buscar e já volto. Os dois icaram impressionados com os objetos à mostra, olharam as fantasias de enfermeira, bombeiro, gata, policial, os acessórios como chicote, mordaça, algema, coleira e outros. Zack limpou as grossas lentes de seus óculos na camisa. – Aqui tem de tudo para super-heróis! E até mesmo para vilões, olhe essas vendas e essas cordas! João apontou para a fantasia de gata. – As roupas são bem curtas para dar mais liberdade de movimento, do jeito que os heróis precisam. Eles observaram a seção de lingeries. Zack apalpou um dos tecidos. – Acho que estão nascendo muitas heroínas, a maioria das fantasias é para mulheres. – Sim! – Concordou o amigo. – É a revolução feminina dos tempos modernos.
  • 22. Q ü i l l K a o s 2 1 O magro assustou-se e icou corado ao ver bonecas inláveis, pois se lembrou de quando tentara materializar uma mulher. – Essas bonecas devem ser de vilões. – Teorizou. – Eles as usam como reféns para enganar a polícia. – Vejo muita sabedoria em suas palavras. Os dois dirigiam-se para a parte de ilmes eróticos, no entanto, a vendedora os interrompeu. – Venham aqui! Ela ajeitou seus cabelos vermelhos. – Formam um lindo casal! Há quanto tempo estão juntos? João mostrou-se confuso. – Casal? Ela riu. – Esses relacionamentos abertos… Estou icando velha… Há quanto tempo são… “Parceiros”? – Ah! Desde que me conheço por gente. – Respondeu Zack. Os olhos verdes da mulher se iluminaram. – Que romântico! Aqui estão as luvas! Zack as experimentou, chegavam até a metade do antebraço e brilhavam. – Perfeito! Moça… Você pode fazer o favor de guardar segredo… Não estamos acostumados… Ela os interrompeu. – Claro! Somos discretos, nunca falamos dos nossos clientes! – Obrigado! – Agradeceu João. – Essa coisa de herói é nova para nós… – A mulher soltou um suspiro. – Incrível! Fantasiar com heróis… Que belo fetiche! – Façam bom proveito! Os dois rapazes saíram da loja muito satisfeitos com o ótimo atendimento e com as luvas numa sacola rosa desenhada com uma mulher de lingerie à frente de um coração rubro. Eles decidiram montar um Q.G (Quartel general) na garagem semiabandonada da casa de João, ali fariam as reuniões secretas e planejariam os atos heroicos. Zack vestiu o disfarce e foi à procura de crimes junto
  • 23. S a g a F a n t a s y 2 2 com João. Materian andava de cabeça erguida e peito estufado, falava grosso. Não demorou muito para encontrarem um crime em andamento. Aconteceu em um beco. Um homem alto de barba por fazer, apontava uma faca para um idoso. – Passe a bengala, caso contrário lhe abro a pele! – Mas sem ela não consigo andar… – Protestou o velhinho. Zack interpelou: – Parado aí fora da lei! Largue a faca e me diga por que quer roubar algo como uma bengala. O ladrão riu ao ver a fantasia do garoto e depois disse. – Por que eu quero ser manco! Assim poderei andar de ônibus sem pagar nada e ganharei uma pensão do governo por invalidez, mas primeiro preciso de uma bengala. João assistia de longe, sentia-se orgulhoso com o desempenho do amigo. Zack apontou para si com o polegar. – Sou o Materian! E este caso será resolvido sem uso da violência! Ele estendeu a mão deixando-a um pouco aberta como se segurasse algo, uma bengala bastante parecida com a do idoso se materializou entre seus dedos, ele entregou o bordão ao bandido. – Tome! Agora todos sairão felizes! O ladrão aceitou o presente com muito entusiasmo e deixou o velhinho em paz. Usando binóculos materializados Zack e João observavam o bandido de longe, para se certiicarem de que ele faria bom uso de seu novo objeto. Eles viram o ladrão apoiando grande parte de seu peso na bengala e mancando de modo convincente, mas o item se desmaterializou quando o mau elemento pisava em frente a um bueiro destampado, ele caiu lá dentro. João tirou o binóculo dos olhos. – Bom trabalho Zack!
  • 24. Q ü i l l K a o s 2 3 Agora ele icará manco como sempre quis! Você ajudou duas pessoas de uma vez! Ao pôr do sol, a dupla se encontrava sentada na calçada do Q.G, bolavam planos heroicos, Zack já usava suas roupas tradicionais, ou trajes civis como diria o amigo. Três adolescentes montados em bicicletas caras formaram um semicírculo em volta dos dois. Zack levantou-se imediatamente, pois reconheceu o colega que o empurrara para o meio da rua. – Olhem a dupla de babacas! – Zombou um dos garotos recém-chegados. Zack colocou as duas mãos atrás das costas e materializou entre os dedos, um porrete azul adornado com iguras de estrelas amarelas. – Você tentou me matar! O herói deu um golpe tão forte no ombro do folgado rapaz que os outros estremeceram. Em seguida Zack acertou a coxa de outro jovem e gritou: – Sumam daqui! Os três saíram em disparada com suas bicicletas cheias de ostentação. – Você foi muito corajoso! – Elogiou João. – Está no verdadeiro caminho dos heróis! Garras albinas farejava o ar, seu nariz captava cada partícula, identiicava e separava qualquer odor entre a imensidão de cheiros. Conhecia a localização de Zack, no entanto, X o mandou em busca de outro super-humano. O objetivo do agente era recuperar todas as fórmulas mesmo que precisasse destruir vidas. Os olhos do cão eram capazes de enxergar em diversas frequências, uma delas era o raio x, também o infravermelho, era um caçador perfeito. Não matara os dois garotos apenas por que X o chamara de volta usando um apito para cães, o agente não poderia deixar a criatura andar solta por muito
  • 25. S a g a F a n t a s y 2 4 tempo, pois muitas pessoas iriam vê-la e o conhecimento das fórmulas deveria continuar em segredo. Zack amassava latinhas em seu quintal para vendê-las ao ferro velho. Parou de repente, pois sentiu um repuxão em seu corpo acompanhado de uma câimbra terrível. – O que ha de errado com essas latas? Só amassei quatro e já estou exausto… Foi para seu quarto ignorando o pudim feito pela mãe e desabou na cama. Desfrutou de um sono turbulento, como se cochilasse em cima de um cavalo a galope sobre cacos de vidro. Acordou de madrugada, ouvia o barulho de pedrinhas sendo atiradas contra o vidro de sua janela. Quem as jogava era o iel amigo João. O magro se revirou na cama, não se sentia bem e decidiu não atendê-lo. Zack não fazia ideia, estava mudando para a segunda fase de desenvolvimento desencadeado pela fórmula hexa, seus poderes se ampliavam. Segundos depois, a janela se quebrou em estrondosos pedaços, um lindo tijolo laranja atingiu a nuca de Zack, este levantou-se muito assustado e foi até o resto de janela. – Psiu! – Assoviou o gordo. – Ligue a T.V no canal vinte e quatro. Zack o fez, viu uma mulher se despindo vagarosamente na tela. João se aproximou da janela. – Errei o canal! É o trinta e quatro! O magro projeto de herói esperou um pouco para observar se a mulher iria mesmo tirar as roupas, ela usava uma luva igual a que ele comprara. – Mude logo! – Exclamou João. O outro obedeceu. Tratava-se de um telejornal ao vivo, mostrava vários guardas de uma empresa, caídos no chão, enquanto dois caminhões queimavam ao fundo.
  • 26. Q ü i l l K a o s 2 5 A repórter loira entrevistava um dos vigias. – O que aconteceu aqui? – A sombra… Ela… Bateu em nós… – O segurança começou a chupar o dedão, rolar de um lado para o outro. – Eu quero a minha mãe! Zack vestiu suas roupas de herói, colocou as mãos nos quadris e soltou uma voz extremamente máscula. – Materian em ação! Sentiu novamente o repuxar nos músculos e caiu no chão gritando feito garotinha. A dupla chegou ao local usando suas bicicletas. Havia um grande tumulto de repórteres oportunistas, policiais comendo rosquinhas, chamas, alguns funcionários e explosões. Os dois rapazes entraram pelos fundos, pularam o muro com o auxílio de uma escada materializada. Zack tremia por dentro e por fora, sentia mudanças em seu organismo. Entraram na cozinha da empresa, se surpreenderam ao verem um jovem na faixa dos dezessete anos, vestido todo de negro com uma longa capa de mesma cor. Seu cabelo era jogado para vários lados, arrepiado, liso e com franjas, assemelhado a personagens de desenhos japoneses, possuía pele muito branca e os olhos eram cinzas. Ele comia uma barra de chocolate e armava uma bomba relógio. – É você quem está por trás de tudo isso?! – Indagou Materian. – Não. João tomou a palavra. – Como não? Você está todo calmo colocando esta bomba. A silenciosa igura olhou os garotos nos olhos, abriu a geladeira e ofereceu: – Podem pegar o que quiserem.
  • 27. S a g a F a n t a s y 2 6 Os dois icaram com água na boca. – Será que tem torta de maçã? – Entusiasmou-se João. Precipitaram-se para a geladeira. O jovem de negro ativou a contagem regressiva e saiu sem fazer barulho. João e Materian sentaram-se a uma pequena mesa e devoraram diversas guloseimas. Zack inalmente lembrou-se da bomba. – Precisamos desativá-la! – Não vai dar tempo! – Havia pânico na voz de João. A contagem regressiva estava em quinze segundos, então o herói materializou uma redoma de ferro ao redor do explosivo. – Crie uma barreira feita de diamante! – Sugeriu João. – É o material mais forte! Zack desfez o invólucro metálico e seguiu o conselho do amigo. A explosão foi muda, parecia uma estrela em supernova dentro daquela defesa brilhante. Zack tombou em seguida, seu nariz sangrava. Orapazvestidodenegroestavasentadoemumbarranco gramado. Tirou um relógio prateado do bolso, o consultou e olhou para a empresa lá em baixo. – Desativaram? Acho que não foi a polícia… Subestimei aqueles dois… Ele se interrompeu quando viu Zack surgir correndo em sua direção, o magro segurava um porrete materializado. Desviou-se facilmente do golpe do herói e o derrubou com uma rasteira. Virou-se para o lado oposto na intenção de fugir, entretanto, Garras Albinas Apareceu em sua frente e o encarou com seus olhos vermelhos e acesos. – Você outra vez! O cão avançou contra o jovem, mas este era extremamente rápido e deixava rastros de sombra ou talvez
  • 28. Q ü i l l K a o s 2 7 luz negra atrás de si. Os dois pareciam dançar em sua luta pontuada por ataque e defesa. O rapaz agarrou o ser canino pelo pescoço e o chutou para longe o fazendo sentir toda a força e peso do coturno de cinco ivelas e bico de ferro. A única luz presente era proporcionada pela lua cheia. João viu Materian se contorcendo no chão e foi socorrê- lo. – Você está bem? – Meu corpo está queimando! – Gritou o magro. Vários objetos se materializaram e desapareceram ao redor do herói contra sua vontade, ele estava descontrolado. A luta entre o rapaz vestido de negro e o cão continuava. Zack parou de se mover sem nenhum tipo de aviso prévio, isto fez crescer a preocupação no gordinho. – Fale comigo! Vamos! Pare com esta brincadeira… O herói abriu os olhos; através das lentes de sua máscara era possível ver uma luz amarela originada de suas íris. Ele ergueu-se feito um colosso humano, sentia-se muito mais forte, a fase dois de desenvolvimento estava completa, materializou um longo bastão de metal cuja ponta era munida de lâminas. Usou esta arma para tentar acertar os inimigos; o cachorro desviou icando intangível e o outro escapou tão rápido que não foi possível saber como fez. – Por que eles são tão velozes? – Perguntou-se Materian. Zack desferiu uma chuva torrencial de golpes, no entanto, esta atitude apenas incomodou seus adversários, os quais deixaram de brigar entre si e foram para cima dele. Materian desfez o bastão e envolveu o próprio corpo com uma armadura de samurai acompanhada por uma espada. Lutou bravamente, mas pensava ser impossível acertar aqueles dois, e o cansaço começava a tomar o espaço destinado ao ânimo. “Preciso sair daqui”. Pensou Materian. “Não aguentarei por muito tempo”.
  • 29. S a g a F a n t a s y 2 8 Garras albinas mordeu o joelho de Zack em uma parte desprotegida pela armadura. O gosto de sangue ampliou imensamente a ferocidade da criatura, esta derrubou o herói e cravou os dentes em seu cotovelo. A dor chegou de forma aguda e criou distração na mente de Zack ao ponto da armadura se desmaterializar completamente, sobrou apenas a espada. O rapaz vestido conforme as trevas aproveitou a ocasião; deu um salto e um chute com a planta do pé direito em Garras Albinas. Zack levantou-se e executou a fera caída incando-lhe a espada na garganta. – Agora somos apenas nós dois! – Exclamou Materian. – Por que tentou explodir aquela fábrica? O antagonista fechou os olhos e suspirou. – Simplesmente por que dinheiro não é a coisa mais importante de todas. Aquilo que você chama de fábrica, produz produtos químicos e lança diariamente, toneladas de resíduos tóxicos no rio Figueira, este desemboca em um rio maior e consequentemente no mar, nessas águas quase não existem mais peixes. Diga-me se isto é direito. Zack se sentiu envergonhado por ser um herói e não conseguir distinguir o certo do errado. Era uma questão complexa. A lei defendia a rica empresa, estava correta? Quem protegeria a natureza? – Mas você feriu os funcionários! – Retrucou Materian. – E explodindo tudo, eles não teriam mais emprego. – Não seja ingênuo garoto. O trabalho deles fere a natureza. Acaba com a água que nós mesmos consumimos. Aquela irma já foi muitas vezes aos tribunais e sempre venceu usando dinheiro, simples suborno. Os pensamentos de Materian se desmontavam em peças confusas, o mundo era complicado demais, se sentiu
  • 30. Q ü i l l K a o s 2 9 pequeno, igual um grão de areia soprado pelo vento. – Não pense nestas coisas! – Gritou João. – Apenas faça o seu trabalho de herói. Alguém que causa explosões é obviamente perigoso. Pegue-o! Zack manejou a espada de um gume. – Está certo! Mal pode ver o inimigo se aproximar, tomou um forte soco na nuca e desmaiou. O despertador fez sua irritante tarefa de arrancar Zack da cama para ir à escola. Levantou-se contra a vontade e postou-se frente ao espelho. Dormira sem camisa, reparou que seus músculos estavam bem deinidos, antes eram apenas pele magra. Percebeu outras mudanças, não precisava mais de óculos para enxergar, sentia o corpo mais leve, respirava melhor e seus ferimentos já estavam quase curados. João e Zack estudavam em salas diferentes na escola, encontraram-se na hora da saída, o rosto do magro estava marcado por profundas olheiras, ele bocejava constantemente. João informou o amigo: – Depois do seu desmaio aquele rapaz se auto intitulou Sombra Noturna. E me pediu para dizer isso pra você: “Se quiser ser um verdadeiro herói, não hesite nunca, e aprenda a se defender melhor, eu teria lhe matado se quisesse”. Zack apertou os punhos e rangeu os dentes. – Ah! Aquele exibido! A cor branca predominava nas paredes e teto da sala de autópsia, Garras Albinas jazia sem vida sobre uma maca metálica ao lado de um homem-morto. O doutor vestiu as luvas e a máscara, o agente X assistia de braços cruzados. – Agora faltam apenas três super-humanos. Eva descobriu ter uma espécie de dom recentemente e usou esta nova habilidade como proissão. Vendia artesanato em uma feira de rua, esculturas de barro cozido e iguras
  • 31. S a g a F a n t a s y 3 0 vidro. A moça estava com dezenove anos, um de seus hábitos era manter um belo sorriso. Os cabelos e os olhos antes castanhos icaram azuis desde que recebera o dom e isto trouxe um charme bem característico a ela. Aquela tarde ela não foi à feira, estava fazendo esculturas. Possuía a habilidade de controlar os quatro elementos: Fogo, água, terra e vento. Moldava o barro com o poder do pensamento e depois o endurecia com chamas. O trabalho foi interrompido, pois o agente X apareceu em seu quintal portando uma arma de fogo. Eva agiu rapidamente; desarmou o desconhecido jogando uma pequena bola lamejante no revólver e destruiu a arma esmagando-a com uma onda de terra. O agente fugiu. X esperava uma oportunidade para matar os super- humanos restantes e recuperar as fórmulas, não poderia ser na frente de testemunhas. Contava com a ajuda do cientista Arquicheles para concluir a tarefa. Este gênio foi o primeiro a descobrir os segredos da fórmula. Na tarde seguinte, João e Zack rumavam em direção ao lixão para mais um treino. O gordo parou de andar. – Sombra noturna falou que se quiséssemos saber mais sobre a origem desses poderes, deveríamos pesquisar… Uns arquivos sobre a queda de… Alguns… Como era mesmo? Aerólito! Eles caíram na terra ha três anos. – Vamos à biblioteca municipal! – Sugeriu Zack. – Podemos acessar os computadores de lá. Dito e feito. Começaram a pesquisa e passaram por vários sites, Zack fez uma pausa para beber água e sua atenção foi atraída por uma garota sentada a uma mesa, ela lia um livro de biologia seus cabelos era azuis. Dirigiu-se a ela. – Oi! O seu cabelo é legal! – Obrigada. Conversaram por alguns minutos, Zack descobriu que
  • 32. Q ü i l l K a o s 3 1 ela se chamava Eva e era artesã. Ele sentia algo diferente nela, a mesma sensação de quando enfrentou Sombra Noturna. – Moça… Você por acaso tem superpoderes? – Perguntou inocentemente. O susto obrigou Eva a largar o livro, icou boquiaberta, sua voz saiu entrecortada. – Eu… Poderes? Não… Não… De onde tirou essa ideia? Zack não podia revelar sua identidade de herói, então disse. – Ah! Vi uma mulher parecida com você nas revistas em quadrinhos! Mas se eu tivesse superpoderes, pesquisaria a queda de aerólitos, que aconteceu ha três anos. João devorava os artigos nos sites. O magro sentou ao seu lado e os dois não perceberam Eva atrás deles, olhando a tela. Chegaram em uma reportagem bem detalhada, a mesma informava as datas das quedas de cada um dos meteoritos, os locais onde despencaram e os nomes dos cientistas envolvidos nas pesquisas acerca da composição das pedras cadentes. Apenas dois especialistas puderam ter a honra de estudar os aerólitos. Um deles era Arquicheles Nier Freudemberg, trabalhava para o governo em diversos tipos de experimento. O outro era um japonês chamado Kenji Massato, fora colega de Arquicheles, mas se demitira sem dar motivos. – Precisamos ir atrás desse Kenji. – Falou João. – É o único modo de descobrirmos mais sobre os seus poderes… Eva não conseguiu segurar a surpresa ante a revelação e soltou um gemido. Os dois olharam para trás. – Eva?! – Espantou-se Zack. – Por que veio nos espiar? Ela tentou gesticular enquanto gaguejava. – Eu… Eu… Você… Disse para mim pesquisar… – O quê está acontecendo aqui?! – Inquiriu João. Zack sorriu e murmurou. – Ela também tem superpoderes.
  • 33. S a g a F a n t a s y 3 2 A moça olhou em volta, queria se certiicar que sua voz não chegaria a ouvidos estranhos e falou: – Por favor, deixem-me acompanhá-los até esse cientista, quero descobrir como iquei assim! João coçou o queixo. – Está bem… – Ela pode ser útil. Eles procuraram o endereço de Kenji na internet, porém, nada encontraram. Eva achou o número de telefone de Arquicheles e ligou para ele passando-se por funcionária de um banco, pediu o endereço do japonês com a desculpa de que ele izera um empréstimo e precisava pagar a dívida, caso contrário o banco lhe tomaria até mesmo as cuecas. O homem do outro lado da linha passou o endereço sem hesitar. Arquicheles desligou o celular. – Quem era? – Perguntou o agente X. – Era o banco pedindo o endereço de Kenji, queriam cobrá-lo. – Ele riu. – Aquele farrapo humano está cheio de dívidas. Os dois homens estavam em um imenso laboratório de paredes escuras. Havia um tubo de vidro enorme, cujo interior abrigava uma pequena criatura assemelhada a um lagarto com asas. X postou-se em frente ao vidro. – Você poderia usar esse processo de crescimento acelerado para ganhar dinheiro vendendo churrasco. Arquicheles Nier Freudemberg riu, parecia mais baixo que sua altura real, pois suas costas eram curvadas; a pele muito manchada e enrugada apontava setenta anos de idade, embora fosse um pouco mais jovem; os olhos fundos tinham uma centelha maliciosa e os cabelos existiam apenas dos lados da cabeça. Zack, João e Eva decidiram ir à casa de Kenji no sábado. Os dois rapazes icaram felizes por ter a garota para
  • 34. Q ü i l l K a o s 3 3 guiá-los, pois quando tentavam andar de ônibus sozinhos, acabavam passando do ponto e icavam perdidos por vários dias, só conseguiam voltar para a casa com a ajuda da polícia. Era sexta feira, o trio se reuniu em um parque fresco e arborizado. – Ela precisa de uma fantasia e um nome de heroína. – Exclamou Zack, este materializou uma venda e amarrou sobre os olhos da moça. – Por que isso? – Perguntou ela um pouco desconiada. – Faremos uma surpresa. – Explicou João. – Tenho certeza que você gostará! Após quinze minutos de caminhada, tiraram a venda de Eva, ela se viu dentro do sex shop Messalina´s, icou vermelha, em seguida pálida e desfaleceu. – Ela desmaiou de tanta alegria. – Concluiu Zack. João concordou com a cabeça. – Mulheres são sensíveis. Deixaram o susto de Eva dentro do estabelecimento e foram para uma loja de fantasias tradicional. A moça adquiriu um maiô de tecido resistente com um zíper que descia do pescoço e parava antes de chegar ao umbigo, a parte da frente era de um azul bem escuro, já os lancos e as costas eram mais claros. Comprou também uma saia curta e uma bota de salto baixo com cano alto na altura das panturrilhas; luvas negras de látex e, por im, uma máscara, a qual cobria as sobrancelhas e parte das maçãs do rosto, lembrava vagamente asas de insetos. Eva também comprou uma capa negra do lado de trás e amarela na frente, deu de presente a Zack. Ele mal conseguia exprimir sua alegria. – Obrigado! É tão legal! Mas essas coisas não são caras? – Sim, mas graças aos meus poderes consigo uma boa renda fazendo e vendendo artesanato. João cutucou o amigo. – Peça umas lições a ela!
  • 35. S a g a F a n t a s y 3 4 O tão esperado sábado chegou, o trio chamou muita atenção no ônibus graças as suas roupas. João usava uma máscara de hokey, caso contrário descobririam facilmente a identidade dos outros. Os olhares mais penetrantes vinham de homens e se dirigiam a Eva em seu traje sensual. Ela icou corada. – Tenho que me acostumar com isso… – Cochichou para si mesma. A viajem durou cerca de uma hora e meia, desceram em um bairro de aspecto simples e tranquilo, árvores altas dispersavam a monotonia da calçada, quebravam um pouco da artiicialidade do cimento. Pediram algumas informações e chegaram a casa. – Quem vai chamá-lo? – Perguntou Zack. – Não conheço ele. – Disseram João e Eva em uníssono. Materian apertou a campainha. A porta se abriu revelando o morador japonês, este sorriu. – Ainda não estamos no dia das bruxas e não tenho doces. – Não viemos por isso! – Explicou Zack. – Somos super-heróis. – Balançou a própria capa. – E viemos pedir informações… O oriental o interrompeu. – Desculpem crianças, mas estou muito ocupado. Kenji era alto e magro, usava um jaleco verde cheio de manchas. Estava prestes a fechar a porta, entretanto, Materian materializou um livro dourado e o exibiu. O homem arregalou os olhos. – Como fez isto?! – É o poder que ganhei depois de beber a fórmula hexa! A boca do japonês abriu-se, mas demorou a emitir sons. – Você… Você… Tomou… Entrem por favor! Precisamos conversar! Diversos objetos ocupavam a mesa da cozinha em uma ordem bagunçada, o oriental limpou o cômodo rapidamente e serviu chá com biscoitos aos visitantes.
  • 36. Q ü i l l K a o s 3 5 Materian relatou como havia encontrado a fórmula na maleta e os efeitos dela em seu organismo, porém, sem revelar sua identidade ou endereço. O cientista icou fascinado, fechou as janelas da casa, acendeu as luzes e conidenciou: – Tudo começou com a queda de meteoritos ha três anos. Grande parte caiu em uma região árida da Bahia, um em São Paulo e dois em Minas Gerais. Até agora foram encontrados sete aerólitos, mas acredita-se que existam mais, pelo menos dez. O governo rapidamente comprou as amostras das pessoas que haviam encontrado… Kenji olhou para Eva e João. – Vocês sabem com qual das fórmulas tiveram contato? Ela icou pensativa. – Não tenho certeza… Um pouco antes de ganhar minhas habilidades, ingeri um líquido vermelho que um comerciante da feira chamava de remédio milagroso… Disse que curaria minhas enxaquecas… E realmente curou! João balançou a cabeça, sua voz soou abafada por causa da máscara de hokey. – Eu não tenho superpoderes, sou o assistente. Kenji botou a mão no queixo. – Essas fórmulas foram feitas com a extração de um produto mineral/biológico dos aerólitos. Eles tinham cores diferentes e também propriedades distintas. Eu era um bioquímico bem sucedido e fui convocado pelo governo para pesquisar as pedras junto com um cientista chamado Arquicheles. Fizemos descobertas fascinantes, estávamos cada vez mais concentrados nas pesquisas. O material é capaz de se ligar ao DNA de seres pluricelulares e aperfeiçoá-los mudando a estrutura genética. Não sabíamos ao certo os limites dessas substâncias, então izemos vários testes com animais. A maioria morreu no início, mas conseguimos tirar
  • 37. S a g a F a n t a s y 3 6 as impurezas dos materiais até eles se tornarem líquidos, os chamamos de fórmulas. Cada fórmula possui um nome. Você disse que bebeu a hexa, a batizamos assim por que foi a sexta a ser estudada, porém, nomeamos as outras quase aleatoriamente. – O nipônico coçou a cabeça. – Ainda não sei o nome de vocês. Eva adiantou-se. – Meu nome é… João tapou a boca dela rapidamente e disse: – Ela é a garota elemento! Pode me chamar de assistente. – E eu sou o Materian! O oriental sorriu. – Prazer! Sou o Kenji! Estou muito impressionado com a visita de vocês… A pedido do cientista, Zack e Eva izeram uma curta demonstração dos seus poderes, depois voltaram à mesa. Eva havia gostado de seu nome de heroína criado no improviso e prometeu a si tomar mais cuidado na hora de se apresentar. Ela mordeu um pedaço de sua torrada e tomou um gole de chá de hibisco. – Como essas fórmulas foram parar nas ruas? – Provavelmente foram roubadas. – Respondeu Kenji. – Alguém deve ter descoberto sobre elas e contratado mercenários para subtraí-las. A jovem formulou uma nova pergunta. – E porque se demitiu? Kenji colocou os cotovelos na mesa, entrelaçou os dedos das duas mãos e apoiou o queixo nelas. – Arquicheles… A ambição dele é imensa… Abandonou a ética e testou a fórmula em seu primo que desenvolveu poderes assombrosos. Fomos obrigados a matar o parente dele, pois estava cometendo crimes. O governo descobriu tudo e nos mandou testar as fórmulas em outros humanos no intuito de criar um superexército, também queriam que descobríssemos algum modo de duplicar as fórmulas. Zack perguntou: – Por que querem um exército de super-humanos? É para proteger a população?
  • 38. Q ü i l l K a o s 3 7 O japonês suspirou. – Provavelmente não. Para que serve um exército? – Para fazer guerra? – João jogou um palpite. Kenji consentiu com a cabeça. Materian bateu com força na mesa. – Eu não entendo! Guerra traz apenas destruição! – Por isso me demiti. – Explicou o nipônico. – A esta hora Arquicheles deve estar eniando agulhas e abrindo corpos de prisioneiros em todo o tipo de experiência bizarra. Zack sentia raiva, não sabia lidar com essas questões, mas tinha certeza de que havia algo muito errado. – Se ninguém protege as pessoas, eu mesmo protegerei! – Bradou. O trio deixou a casa e pegou um atalho por um beco. Naquele chão imundo havia um adolescente jogado, fumando um cachimbo de crack. Eva icou comovida e disse: – Vamos levá-lo a algum centro de reabilitação. Materian andou até o garoto e o olhou no fundo dos olhos. O jovem absorto na droga abanou as mãos em resposta. – O quê cê quer otário?! Qué tomá o meu bagulho?! Some daqui antes que eu te arrebente! Zack materializou uma pistola e apontou para a cabeça do rapaz. – Prefere morrer agora com uma bala ou lentamente se drogando? A Garota Elemento moveu-se com a intenção de intervir, João a segurou. – Deixe-o. A tensão crescia, o silêncio reinava. O zumbi do crack largou seu cachimbo e se rendeu aos prantos. Materian abaixou-se ao lado dele. – Talvez você não se importe com sua vida, mas alguém, com certeza, se importa. O trio internou o rapaz numa casa de reabilitação. João e Eva elogiaram a atitude de Zack. Este último desabafou:
  • 39. S a g a F a n t a s y 3 8 – O nosso trabalho como super-heróis é ajudar a polícia e o estado a combater o crime e não icar com toda a tarefa deles… João colocou a mão no ombro do amigo. – Essas drogas não deveriam nem entrar no país, pelo menos as pessoas ainda tem você. Kenji abriu as janelas, o vento fresco soprou seu rosto. Sentia-se culpado por ter ajudado em uma pesquisa que seria útil apenas para criar um exército altamente destrutivo. Ouviu um barulho atrás de si e virou-se. Seus olhos puxados encontraram um tenebroso cão, idêntico a Garras Albinas, porém o que estava alí era todo negro. O cientista icou paralisado. A criatura medonha derreteu-se numa treva maciça e foi tomando forma até se transformar em Sombra Noturna. Kenji respirou aliviado. – Você quase me matou de susto garoto gótico. O outro olhou para as próprias unhas pintadas de negro. – Não sou gótico, apenas gosto desse estilo. Segui o seu conselho. – Que conselho? – Você disse que uma das características do meu poder é assimilar outras habilidades, então bebi o sangue de um cão mutante e agora posso me transformar em algo parecido com ele. O japonês riu. – Não foi um conselho, foi uma conclusão baseada em um exame de sangue. O outro deu de ombro. – Que seja! – Andou até uma parede onde havia uma espada de punho negro pendurada, a tirou do lugar e ofereceu ao dono. – Precisa aprender a se defender, mais cedo ou mais tarde, virão atrás de você. Kenji recusou o objeto. – Não tenho nada a perder. – Então me ajude! – Pediu Sombra Noturna. – Você possui as provas do que o governo está planejando.
  • 40. Q ü i l l K a o s 3 9 – Diga-me. Você viu aqueles três aqui, não viu? Você tem alguma relação com a visita deles? – Não. O domingo foi marcado por um sol radiante, Zack e João convidaram Eva para treinar no lixão, ela só conseguiu suportar o cheiro durante vinte minutos, então saiu com a desculpa de um compromisso. – Acho que ela vai fazer artesanato. – Calculou o gordinho. – Ei… Ela usa os poderes para trabalhar, então ganha dinheiro e treina ao mesmo tempo. Zack se surpreendeu com inteligente revelação. – Então usarei meus poderes para pegar material reciclável hoje. Ele materializou um carrinho de mão, uma pá e dois paresdeluvas.Entãoosdoiscomeçaramasepararolixo.Meia hora depois, havia uma pilha de latas de alumínio reunidas, Zack materializou uma bigorna em pleno ar, acima delas, a gravidade se encarregou de fazê-la cair e bagunçar tudo. – Acho que assim não conseguiremos amassar. – Disse João. – Vamos deixar essa parte para depois. Aqui tem muitos animais mortos, podemos fazer um enterro para eles, depois pegamos as latinhas! Zack sorriu. – Ótima ideia. O carrinho de mão desapareceu e deu lugar a mais uma pá. A dupla se apressou em esburacar o chão e jogar os ratos e urubus mortos nas covas, enquanto eles se distraiam, o mendigo (antigo dono do falecido Luli) encheu dois sacos com as latas dos garotos. – Que sorte a minha! – Disse. – Os lixeiros jogaram todas as latinhas no mesmo lugar! Os rapazes enterraram os bichos, pretendiam fazer cruzes para incar na terra que servia de cobertor ao sono dos mortos, mas desistiram, pois teriam que fazer muitas. Procuraram as latas por mais de quarenta minutos,
  • 41. S a g a F a n t a s y 4 0 como não encontraram, João deu uma explicação digna de um psicólogo. – Acho que você materializou as latinhas inconscientemente e agora sumiram. Ambos icaram satisfeitos com esta ideia. João colocou a mão no queixo e olhou para o céu. – Por que será que aqui ha tantos depósitos de lixo podre e em Brasília existem tantos políticos? Zack desmaterializou os objetos. – Deve ser por que São Paulo escolheu primeiro. A feira se encontrava congestionada de pessoas. A atenção da maioria delas era desviada para a igura vestida de negro: coturno, uma capa, unhas negras, pele pálida, olhos cinza, cabelo jogado para diversos lados e com franja. Sombra Noturna. Ele varreu a rua com o olhar. Fitou toda a área feito um caçador, fechou as pálpebras e as descortinou em seguida, agora suas íris estavam pigmentadas de vermelho. Emprestava os poderes de Garras Albinas e enxergava o mundo em raios-X. Encontrou a presa. Seus olhos voltaram à cor de nuvens tempestuosas e a visão tornou-se humana novamente. Moveu-se a passos determinados e sérios de encontro a garota dos cabelos azuis. Os olhos dos dois se encontraram e reletiram-se com chispas invisíveis. Segurou a cintura de Eva e a beijou ardorosamente, a bela evadiu-se corada e protestou: – O que é isso?! A sombra alisou-lhe o rosto e investiu novamente deixando-a atordoada, vencendo-lhe a resistência e mordendo os lábios carnudos até rasgarem e soltarem o doce sangue escarlate, os braços dele a estreitaram para si, prendendo igual a um instrumento de tortura capaz de dar prazer masoquista e sorver sangue.
  • 42. Q ü i l l K a o s 4 1 Soltou a moça serenamente, deu as costas e partiu. Ela icou ali parada com o coração às pancadas, a boca ferida, rosto rubicundo e corpo desejoso. Ele largou a rua da feira e sorriu de jeito sombrio. – Será que com essa pequena quantidade de DNA conseguirei os poderes dela? A semana escoou-se num ilete para o ralo virtual do tempo. Era sexta feira, Zack e João estavam no Q.G, jogavam um videogame materializado. O cenário montado por eles era composto pelos objetos encontrados no lixão e alguns outros. Havia uma coleção de potes transparentes postados em ileira numa grande prateleira, o conteúdo deles era colorido e variado, um era comprido e estava cheio de bolas de tênis, outro era preenchido com pequeninos bonecos e o próximo guardava bolas de gude, o seguinte exibia dados em seu interior… Um quadro pintado com as cores de uma praia agarrava-se à parede amarela, e logo abaixo, a TV sobre a cômoda de superfície lotada de adesivos, passava o jogo das escadas rolantes. Uma estante vermelha servia de base a outros brinquedos resgatados do meio do lixo. A parte de baixo deste mesmo móvel guardava revistas em quadrinhos; estes sessenta e dois gibis haviam sido encontrados dentro de um saco preto. Um tapete parecido com um tabuleiro de xadrez estendia-se abaixo dos pés dos rapazes sentados no sofá verde. Excluindo a TV, estante, cômoda e sofá, todos os outros objetos haviam sido descartados pela sociedade consumista e reaproveitados pelos rapazes. Os dois visitaram o lixão da cidade pela primeira vez aos doze anos de idade, acompanhavam Celic, o pai de Zack, este quisera pedaços de madeira para construir uma casinha para o cachorro da família. O pai de Materian possuía longos cabelos lisos e brilhantes, mantinha um cavanhaque e um olhar longínquo.
  • 43. S a g a F a n t a s y 4 2 – Por que você não compra uma casinha igual àquelas que passam na TV? – Perguntara João. – Não tem dinheiro? Celic lançara os olhos castanhos ao horizonte. – Se você puder fazer algo com as próprias mãos, então faça. O verdadeiro valor não está no preço, mas na personalidade posta naquilo que se constrói. As fábricas fazem milhares de casinhas de cachorro iguais todos os dias, depois criam um comercial chamativo e convencem as pessoas a comprar. Mais tarde lançam novos produtos ao mercado e dizem que são modernos e bonitos, apenas iludem as pessoas, elas compram outra vez e descartam as coisas antigas mesmo se estiverem em ótimo estado, e esses objetos vem parar aqui. Os garotos icaram fascinados com essas palavras pronunciadas com ar de sabedoria. Celic sorrira e afagara a cabeça dos dois. – A vida humana é feita de ilusões, quando não souberem as respostas procurem enxergar de todos os ângulos e coniem nos bons amigos. Celic separara-se da mãe de Zack um ano depois e mudara-se para o litoral deixando ensinamentos e saudades. Visita o ilho todos os anos. De volta ao Q.G. Zack conseguia manter o game materializado por bastante tempo sem gastar grandes quantidades de energia de seu corpo, isso foi o resultado dos treinamentos e a evolução de seu organismo para a fase dois de desenvolvimento. A dupla jogava com gosto e nem se deram conta do passar das horas. Anoiteceu. Três batidas metálicas soaram no portão da garagem e um bilhete foi jogado para dentro através de uma fresta. João saiu, mas não encontrou ninguém. Então leu o recado em voz alta: “Sequestramos Kenji. Venham imediatamente para a rua Bonifácio júnior no bairro Jardim
  • 44. Q ü i l l K a o s 4 3 Maciel. Entrem no galpão abandonado número 13, ica perto da mercearia. Não chamem a polícia ou mataremos ele”. – Está na hora de entrar em ação. – Exclamou Zack. – Quem é Kenji mesmo? – Não lembro. – João coçou a cabeça. – Mas está em apuros. Zack balançou a cabeça negativamente. – Coitado! Fizeram alguns preparativos para saírem sem serem importunados por suas famílias. O gordinho cobriu o rosto com a máscara de Hokey e o outro vestiu a fantasia. Ligaram para Eva e informaram o endereço, ela disse que estava tomando conta da sobrinha, mas logo daria um jeito de ir. Chegaram ao local usando uma moto materializada. O manto da escuridão embalava a rua apertadamente, deixando uma pequena falha perto de seu nó com laço, onde a luz de um poste piscava, temendo ceder sua vida ao encanto noturno, enquanto um inseto alado chocava-se no vidro da lâmpada. Os sons se propagam através do ar, mas ele não se movia e nem trazia ruídos. Materian e João se entreolharam, a moto se desmanchou como uma mancha, a qual se limpa com pano. A voz de um gato soprou a vela do silêncio. Os dois garotos saltaram de susto e depois riram. José Bonifácio Júnior o coronel cujo nome fora transferido a esta rua onde os garotos pisavam, seu sangue escorrera pelo lençol há noventa anos, obra de sua amante munida de faca. – Dizem que esse lugar é mal assombrado. – Sussurrou João. Materian deu um soco no ar. – Um herói não tem medo de fantasmas! E você precisa de um codinome oicial, algo além de “Assistente”. Depois de reletir um pouco (até soltar fumaça da cabeça) João disse com ênfase. – Sou o Assistente Mascarado!
  • 45. Q ü i l l K a o s 4 5 Desculpe. Não posso disponibilizar o livro completo gratuitamente, preciso ser pago pela minha arte, espero que entenda. Se deseja ler o livro completo, compre a versão física de Saga Fantasy através do link: http://editoramultifoco.com.br/loja/produto/saga-fantasy Você também pode acompanhar o meu trabalho seguindo a minha página do facebook: https://www.facebook.com/quillkaosautor E-mail para contato: quillkaos@gmail.com Muito obrigado por ler até aqui! Compartilhe este E-book. Qüill Kaos
  • 46. Mais informações sobre o livro: Saga Fantasy traz uma coleção de histórias do gênero fantasia com um leve toque de filosofia. As histórias apresentam personagens carismáticos e surpreendentes. A obra tem o poder de transportar o leitor aos belos quadros da ficção fantástica, sem deixar de mostrar uma visão crítica sobre o mundo. O real e o fantástico se encontram e se mesclam com os elementos da cultura pop. Usando a escrita como um pincel o autor Qüill Kaos pinta o retrato humano (e também inumano) de forma única, cada história é repleta de camadas, cada sentimento se aprofunda até o clímax... Coração de herói: O atrapalhado Zack tem sua vida mudada após beber a fórmula hexa. Para descobrir o verdadeiro caminho dos heróis ele conta com a ajuda de seu amigo João. É uma história cheia de humor ácido, ação e visão crítica. A fábula urbana de Nino: É uma emocionante história sobre um gato e sua dona. Uma mistura de fábula e literatura moderna. O mago do caos: O poderoso mago Larel tenta mudar o mundo com um grandioso feitiço. Mas como mudar a mentalidade das pessoas? A narrativa mostra lutas épicas entre os magos Larel e Nael, também quebra tabus, e contesta costumes da sociedade. Aquário da mente: A narrativa acontece no ano de 4004 num cenário pós-guerra dominado pela elite. A história gira em volta de um jogo sombrio onde os personagens são os seres humanos pobres. Esta história filosófica é capaz de tirar lágrimas do leitor. O conto do pescador: Um pescador se depara com um dragão no lago e também uma voluptuosa sereia. Este conto é sobre os possíveis pontos de vista diante de um problema. Mostra que não existe apenas um caminho ou uma única verdade. O único relato sobrevivente: Começa com óvnis, prossegue com invasão alienígena, escrita em estilo moderno e único, é uma história de arrepiar e fazer pensar. Caminho entre estrelas: A poética saga narrada pelo próprio tempo mostra um ser redondo e peludo que viaja entre dimensões. Mistura fantasia e ficção científica de forma profunda e tocante, é uma história de amor e amizade, e de transcendência.
  • 47. Q ü i l l K a o s 1 9 1 Sobre o Autor Aos dezesseis anos de idade larguei a escola, foi uma das melhores coisas que iz em minha vida. Estava cansado de tudo aquilo, queria dar um tempo, e neste tempo con- heci a magia dos livros. Eu havia me libertado das obrigações acadêmicas, no entanto, precisava de uma proissão. Ingenu- amente decidi ser um escritor proissional, havia um prob- lema: Eu era péssimo escrevendo. A solução que encontrei foi ler tudo o que visse pela frente, assim melhoraria minhas habilidades com a escrita, realmente melhorei, mas não é nada fácil icar sentado de oito a noves horas por dia escrev- endo, dedicação é a palavra-chave de qualquer proissional. Na época (2007) comecei um romance do gênero high Fantasy (alta fantasia), insatisfeito com o trabalho reescrevi vários trechos. Neste ínterim 2007 – 2012, trabalhei em algu- mas empresas e conclui o ensino médio. Eu escrevia muito pouco. No inal de 2012 engavetei o projeto, estava com 312 páginas. Assim comecei a escrever contos e novelas, tinha a intenção de juntar as melhores histórias em um livro e envi- ar às editoras. No ano de 2013 comecei o curso de programação na Etec de Embu das artes. Em abril de 2014 inalmente con- clui um livro. Nele juntei minhas histórias do gênero fanta- sia e icção cientíica. O batizei de Fantasy Saga, mas poste- riormente iz uma busca na internet e descobri Que Fantasy Saga era o nome de um jogo de RPG, então alterei para Saga Fantasy, ainda assim iquei na dúvida entre Sagas Fantásticas e Saga Fantasy, optei pelo último título.