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ROGER E. OLSON
EOLOGIA ARMINIANA
MITOS E REALIDADES
TEOLOGIA ARMINIANA
MÍTOS E REALIDADES
ROGER E . Ol s o n
TEOLOGIA ARMINIANA
MITOS E REALIDADES
Digitalizado por: jolosa
Sumário
Prefácio.................................................................................................................................07
Introdução:Um panoramado arminianismo
MITO 1:..................................................................................................................................56
A TeologiaArminianaéoOpostodaTeologiaCalvinista/Reformada
JacóArmínio ea maioria de seus seguidores fiéisestão inseridos dentro do amplo
entendimento da tradição reformada; os pontos comuns entreo arminianismo e o
calvinismosãosignificantes.
MITO 2:.................................................................................................................................. 77
Uma MescladeCalvinismoeArminianismoéPossível
Apesardos pontoscomuns, o calvinismoeo arminianismosãosistemasdeteologia
cristãincompatíveis;nãohá um meio termoestávelentreelesnasquestõesdetermi­
nantesparaambos.
MITO 3:...............................................................................................................................100
O Arminianismo NãoéUma Opção EvangélicaOrtodoxa
A teologia arminiana clássicaafirmaenfaticamente os pilaresda ortodoxia cristãe
promoveossímbolosdafécristã;não éariananem liberal.
MITO 4:........................ 124
O CernedoArminianismoéaCrençano Livre-arbítrio
O verdadeiroâmago da teologiaarminianaéocaráterjustoeamáveldeDeus;oprin­
cípioessencialdoarminianismoéavontadeuniversaldeDeusparaasalvação.
MITO 5:.............................................................................................................................. 148
A TeologiaArminianaNegaaSoberaniadeDeus
O arminianismo clássicointerpretaasoberaniaeaprovidênciade Deus de maneira
diferentedocalvinismo,mas sem negá-lasdemaneiraalguma; Deusestánocontrole
detudosem controlartudo.
MITO 6:................................................................................................................................175
O Arminianismoéuma TeologiaCentradano Homem
Uma antropologiaotimistaécontráriaaoverdadeiroarminianismo,queéplenamente
centradoem Deus.A teologiaarminianaconfessaadepravaçãohumana, incluindoa
escravidãodavontade.
MITO 7:............................................................................................................................... 204
O ArminianismoNãoéUma TeologiadaGraça
O fundamento essencialdo pensamento do arminianismo clássicoéa graça preve-
niente.TodaasalvaçãoéabsolutaeinteiramentedagraçadeDeus.
MITO 8:............................................................................................................................... 232
O ArminianismoNão acreditana Predestinação '
APredestinaçãoéum conceitobíblico;oarminianismoclássicoainterpretademanei­
radiferentedoscalvinistas,mas semnegá-la.ÉodecretosoberanodeDeusem eleger
crentesem JesusCristoeincluiapresciênciadeDeus dafédestescrentes.
MITO 9 :............................................................................................................................... 259
ATeologiaArminianaNegaaJustificaçãopelaGraçaSomenteAtravésda FéSomente
A teologiaarminianaclássicaéuma teologiareformada. Elaabraçaaimputaçãodivi­
nadejustiçapelagraçade Deus pormeio da fésomente emantém adistinçãoentre
justificaçãoesantificação.
MITO 10:....................................................................................................................286
TodososArminianosAcreditamnaTeoriaGovernamental daExpiação
Nãoexisteuma doutrinaarminianadaexpiaçãodeCristo.Muitosarminianosaceitam
ateoriada substituiçãopenalde maneira enérgica, ao passo que outrospreferem a
teoriagovernamental.
CONCLUSÃO: ....................................................................................................................315
RegrasdeEngajamento entreCalvinistaseArminianosEvangélicos
ÍNDICE DE N O M E ..............................................................................................................321
ÍNDICE DE ASSUNTO 325
Prefácio
SEMPRE FUI ARMINIANO. Fui criadoem um larde um pregador pentecostal
eminha famíliaeradecididaeorgulhosamente arminiana. Não me recordo quando
ouvio termo pelaprimeiravez.Mas eleprimeiramentepenetrouem meu consciente
quando um lídercarismático bastante conhecido de origem armênia alcançou des­
taque. Meus pais e algumas de minhas tiase tios (missionários, pastores e líderes
denomínacionais) fizeramadistinçãoentreArmênio e Arminiano}. Entretanto,épro­
vávelqueeu tenhaouvidootermo mesmo antesdisso,uma vezque algunsdemeus
parentes eram membros fiéisdas Igrejas Cristãs Reformadas e meus pais e outros
parentes, na ausência dos meus tios, discutiam o calvinismo deles e o contrasta­
vam com nosso arminianismo. Lembro de estar na sala de uma aula de teologia
na faculdade e o professor nos lembrar que éramos arminianos, ao qual um aluno
resmungou em voz alta:"Quem gostaria de serda Armênia?" Em uma aulanós le-
mos os livrosLife in the Son (Vidano Filho) eElect in the Son (Eleitosno Filho)do
teólogo arminiano Robert Shank (ambos da EditoraBethany House, 1989). Eu tive
dificuldadeem entendê-los, eacredito que isso se deu, em partes, porque a teolo­
giado autor era da igrejade Cristo. Então adquirioutros livrosacerca da teologia
arminianana tentativadedescobrir"nossa" teologia. Um livrofoioFouudatious o f
Wesleyan Arminian Theology (Fundamentos da Teologia Arminiana Wesleyana) do
1 Em inglêsas palavras armênio e arminiano são muito parecidas, tendo apenas
uma vogaldediferençaentreelas,eporessemotivo muitosconfundem seussignificados.
(N.T.)
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
teólogonazareno MildredBangs-Wynkoop (Beacon HillPress,2000).Outro foio In­
troduçãoáTeologiaCristãresumodeum volume doteólogonazarenoH.OrtonWiley
(Casa Nazarena de Publicações, 1990). Por fim, senti que havia adquirido uma boa
compreensão do assunto eo deixei de lado. Afinal de contas, todos ao meu redor
eram arminianos (querelessoubessem ou não) e não havia nenhuma necessidade
específicapara defenderestepontodevista.
As coisas mudaram quando eu me matriculei em um seminário evangélico
batista e comecei a ouvir o termo Arminiano sendo usado de maneira pejorativa.
Em meus estudosno seminário,minha própriateologiaeraequiparadaàheresiade
semipelagianismo. Agoraeuprecisavadescobriro queerasemipelagianismo.Um de
meus professoreserao ilustrecalvinistaevangélicoJames Montgomerry Boice, que
na época erao pastor da Décima IgrejaPresbiteriana de Filadélfia. Discutimos um
pouco sobrecalvinismoearminianismo, mas percebi que elejáestava decididoque
ateologiademinha igrejaeraherética.Boiceme encorajou aaprofundar no estudo
da questão e também a assinar a revistaEternity (Eternidade), que era a principal
alternativaevangélicaà revistaChristianity Today (CristianismoHoje) na década de
setenta.Eu eraum ávidoleitordasduaspublicações.Descobriuma ironiafascinante
nestas duas revistasevangélicas. Suas políticaseditoriaisextraoficiais, eram clara­
mente orientadaspelateologiareformada, amaioriados teólogosque escreviapara
elasera calvinista.Mas, poroutrolado, elastambém incluíamvozes arminianas de
vez em quando etentavam serconciliadorasacerca das diferençasteológicasentre
osevangélicos. Eu me sentiaafirmado-e,dealguma forma, marginalizado.
Algum tempo depois, Clark Pinnock, um de meus mentores teológicos àdis­
tância (posteriormente nós nos tornamos amigos), mudou de maneirabastante pú­
blica da teologia calvinista para o arminianismo e fez dentro do meio evangélico
uma nova sériede discussões acaloradas no velho debate calvinismoversus armi-
nianismo. Na época eu almejava serum teólogoevangélicoeme deiconta que mi­
nhas opçõesestavam, decertaforma, limitadaspormeu arminianismo.A reaçãodos
calvinistasevangélicosà mudança de mentalidade de Pinnock foirápidaeincisivae
aumentou àmedida que eleeditou doisvolumes de ensaios defendendo a teologia
do arminianismo clássico. Lios doisvolumes com grande interesse, sem encontrar
10
Prefácio
nestes ensaios ou em qualquer outro lugaruma exposição diretade um volume da
teologia do arminianismo clássico em todas as suas dimensões. Durante todas as
décadas de 1980 e 1990, ao passo que minha própriacarreiraevoluía, descobrique
meu mundo evangélico estava sendo afetado por aquilo que um amigo reformado
chamou de "vingança dos calvinistas''. Diversos autores evangélicos e publicações
começaram a atacarmuito causticamente a teologiaarminiana, ecom informações
incorretaseinterpretaçõeserrôneas.Ouvieliminha própriaformade evangelicalis-
mo serchamada de "humanista" e "mais católicado que protestante". Nós, minha
famíliaeigrejasempre nosconsideramos protestantes!
A ideiapara este livrofoidesenvolvida quando lia edição de Maio-Junho de
1992 de uma empolgante nova revistachamada Modern Reformatiort (Reforma Mo­
derna).Elaeratotalmentededicadaàcríticado arminianismoapartirdaperspectiva
reformada. Nelaeu encontreio que considereiserem sériasrepresentaçõesequivo­
cadas eosretratosmais mesquinhos de minha própriaherança teológica.
Aproximadamente nesta mesma época um aluno marcou uma reunião para
conversar comigo. Em meu escritórioeleanunciou da maneira mais sincera: "Pro­
fessor Olson, sinto em lhe dizer, mas o senhor não é cristão". Isto aconteceu no
contextodeuma faculdadeevangélicadeartesliberaisquenãopossuíauma posição
confessional em relação ao arminianismo ou calvinismo. Na verdade, adenomina­
ção que controlava a faculdade e seminário sempre havia incluídocalvinistase ar­
minianos em seu meio. Pergunteiao aluno o porquê, e eleme respondeu: "Porque
o meu pastordizque arminianos não são cristãos”.O pastordeleeraum calvinista
bastante conhecido que mais tarde distanciou-se desta declaração. Eventos seme­
lhantes dentro de meu próprio mundo evangélico deixaram claros para mim que
algoestavaem marcha; oque meu amigo reformadosarcasticamentechamou de"a
vingança dos calvinistas"estavalevandoauma difundidaimpressãoentreevangéli­
cos que oarminianismo,no seumelhor,erauma classeinferiordeevangélicose,no
seupior,uma claraheresia.Decidinão esmorecersobapressão,mas levantaravoz
em prolde uma herançaevangélicaquase tãoantigaquanto o própriocalvinismoe
tãoparticipantedomovimento históricoevangélicoquanto ocalvinismo.Escrevium
artigoparaaChrístianity Today (CristianismoHoje)que recebeuo infeliztítulo"Não
11
Me Odeie Porque Sou Arminiano". Senti que o títuioretratavafalsamente o artigo
e a mim mesmo como excessivamente defensivos.Jamais pensei que os críticosdo
arminianismonosodiassem!Mas estavadescobrindoquealgunslíderesevangélicos
estavam cadavezmais interpretandomal o arminianismo clássico.Um rotulou-sea
simesmo como "arminiano em recuperação”,enquanto deixava seu próprio histó­
ricode [movimento de] Santidade (Wesleyano) emudava para a teologiareformada
sob a influênciade um importante teólogocalvinista. Um dos autores que eu havia
lido com grande apreço na revistaEíernity (Eternidade) classificouos arminianos
como "minimamente cristãos" em um de seus livros na década de 90. Um pastor
em minha denominação batista começou a ensinar que o arminianismo estava "à
beiradaheresia"e"profundamenteequivocado". Um colegaque freqüentavaaigre­
jadaquelepastorme perguntou se eu jáhavia, em algum momento, considerado a
possibilidadedequeomeu arminianismoeraaprovadehumanismolatenteem meu
raciocínio. Noteique muitos dos meus amigos arminianos estavam abandonando a
nomenclatura em favorde "calminiano" ou "moderadamente reformado" no intuito
deevitarconflitosesuspeitasque pudessem serobstáculosàssuascarreirasna do­
cênciaena áreaeditorial.
Estelivronasceu deum ardentedesejode limparobom nome arminiano das
falsasacusações e denúncias de heresiaou heterodoxia. Muito do que é ditoacer­
ca do arminianismo dentro dos círculosevangélicos, incluindocongregações locais
com fortesvozes calvinistas,ésimplesmente falso.Issovale apena serenfatizado.
Espero que estelivronão chegue aos leitorescomo excessivamente defensivo; pois
não desejoserdefensivo;muito menos agressivo.Quero esclareceraconfusãoacer­
cadateologiaarminianaeresponderaosprincipaismitoseequívocosem relaçãoao
arminianismoqueestãodisseminadosno evangelicalismohoje.Creioque,aindaque
a maioria das pessoas que se intitulam arminianas sejam, de fato, semipelagianas
(queseráexplicadona introdução), talfatonão tornao arminianismoem semipela-
giano. (Oscalvinistasgostariamque ocalvinismofossedefinidoeentendidoapartir
dascrençasmalinformadasdealgunsleigosreformados?)Acreditoque devemosnos
voltarpara ahistóriapara corrigiras definiçõesenão permitirautilizaçãopopular
para redefiniros bons termos teológicos. Ireime voltarpara os principaisteólogos
Teologia Arminiana j Mitos E Realidades
12
Prefácio
arminianos do passado e presente para definiro verdadeiro arminianismo. Minha
esperançqeoração éque os leitoresabordem esteprojetocom uma mente abertae
quepossamguiarsuasopiniõesacercadoarminianismopelasprovas.Anseioqueaté
mesmo oscalvinistasmais conservadoresoponentesdateologiaarminianaestejam,
no mínimo, maispropensos areconsideraro que osverdadeirosarminianos acredi­
tam àluzdasprovasreunidasaqui.
A Natureza Deste Livro
Algunscapítulosdestelivrorepetem algumas informaçõeseargumentos en­
contradosnos capítulosanteriores,poisacreditoque nem todo leitorirálero livro
do inícioao fimde forma contínua. Se estarepetiçãoocasional irritaraqueles que
lerem o livrointeiro, a estes eu peço desculpas por antecedência. Meu objetivo é
fazerdestelivroomaisacessívelefácildelerpossível,apesardoassunto, àsvezes,
apresentar-se de forma muito complexa. Alguns críticoseruditospodem se sentir
repelidosporisto.Meu objetivo,entretanto,éalcançaro máximo deleitorespossí­
vel,demaneira queolivronão éescrito,em primeirolugar,paraespecialistas(em­
boraeuespereque estessebeneficiemegostem da leitura).Opteipropositalmente
por não seguir assuntos paralelos que se distanciem por demais das principais
discussões deste livro.Os leitores que esperam mais discussão de conhecimento
médio ou teísmo aberto (vercap. 8),por exemplo, ficarãoindubitavelmente desa­
pontados, mas estelivrotem um propósitoprincipal:explicarateologiaarminiana
clássica como ela, de fato, é. E eu intencionalmente mantive o assunto relativa­
mente sucintono intuitode torná-loacessívelaum públicomaior.
Este projeto foirealizado com a ajuda de meus amigos econhecidos. Quero
agradecer a meus muitos amigos calvinistaspor suas contribuiçõesatravésde dis­
cussões pore-maileporconversas faceaface.Também agradeço aos meus amigos
arminianos por sua ajuda. Durante aúltima década eu participeide muitas discus­
sões e debates enérgicos e,por vezes, acalorados com proponentes de ambos os
campos dentro do movimento teológico. Eles me indicaram boas fontes e me for­
neceram seusinsights e opiniõeseruditas. Eu agradeço especialmente aWílliamG.
13
Teologia Arminiana | Mitos E Reaiídades
Witt, que graciosamente correspondeu-se comigo acerca de sua pesquisa de PhD.
na Universidade deNotre Dame; sua dissertaçãome foium recursoinestimável. Ele
éinocente de quaisquererrosque cometi. Também agradeço àadministração eaos
membros do conselho da Universidade Baylor, ao reitorPaul Powell eao pró-reitor
DavidGarlanddo SeminárioTeológicoGeorgeW Tfuett[SemináriodaBaylor]porme
proporcionaremverõessabáticoseuma licençadepesquisa.Além domais,agradeço
aKeithJohnson eaKyleSteinhauserporcriaremosíndicesdenome edeassunto.
Estelivroédedicado atrêsteólogosque faleceramenquanto eu pesquisavae
escreviaestelivro.Cadaum contribuiucom estaobradeuma maneirabastantesubs­
tancialoferecendoinsights ecríticas.Elessãoosmeus colegasdeteologiaA.J.(Chip)
Conyers;meu primeiroprofessordeteologia,RonaldG.Krantz;emeu queridoamigo
ecolaboradorStanleyJ.Grenz. Elesfaleceram com alguns meses de diferençaeme
deixaramempobrecidos porsuasausências.Mas apresençadelesme enriqueceuem
vidaeaeleseumaisque reconhecidamente dedicoestetomo.
14
___________________________________________________ M
IntroduçãoUm Panorama do Arminianismo
ESTE LIVRO É PARADOIS TIPOS DE PESSOAS: (1)aquelesque não conhecem
a teologiaarminiana, mas que gostariam de conhecê-la, e (2)aqueles que pensam
que sabem acerca do arminianismo, mas que, de fato,não sabem. Muitas pessoas
estãoincluídasnestasduascategorias.Todosestudantesdeteologia-leiga,pastoral
eprofissional-deveriamconheceracercadateologiaarminiana,poiselaexerceuma
tremenda influência na teologia de muitas denominações protestantes. Alguns de
vocês que estãodecidindoseirãoleresselivrosãoarminianos, mas não o sabem. O
termoarminiano não étãocomumente utilizadono séculoXXL
A recenteonda deinteresseno calvinismotem produzidobastanteconfusão
acerca do arminianismo; muitos mitos eequívocos orbitam o arminianismo, pois
tantoos seuscríticos (sobretudocristãosreformados) quanto muitos de seus de­
fensoresoentendem mal. Em virtudeda onda deinteresseno calvinismoena teo­
logiareformada, cristãosdeambos osladosdaquestãoquerem sabermaisacerca
da controvérsia entre aqueles que abraçam acrença na predestinação absoluta e
incondicionaleaquelesque não aabraçam. Os arminianosafirmam apredestina­
ção de outra sorte;afirmam o livre-arbítrioeapredestinaçãocondicional.
Este livroanseiapreencher um hiatona literaturateológica.Até onde sei,não
existenenhum livroimpressoem inglêsque sejadedicadoexclusivamente paraexpli­
caro arminianismo como um sistema de teologia.Alguns dos críticosmais severos
do arminianismo (que são numerosos entre os calvinistasevangélicos) com certeza
consideram este hiato como algo bom. Entretanto, após meu artigo "Não Me Odeie
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
PorqueSouArminiano"aparecernaChrístianity Today (CristianismoHoje)em 1999,re­
cebiinúmerasmensagens pedindoinformaçõesacercado arminianismoeda teologia
arminiana1.Muitosinteressadosqueriamlerum livrointeiroacercado assunto.Infeliz- -
mentenãohánenhumpublicado,eaquelesqueexistemnasbibliotecassãogeralmente
antigosvolumesqueseaprofundammuitomaisno tema do queamédiado estudante
de teologiadeseja.Arminianos, ou os que suspeitam que sejam arminianos, querem
queestalacunasejapreenchida.Muitoscalvinistastambém queremsabermaissobreo
arminianismodiretamentedafonte.Claroqueestesleramcapítulosisoladosacercado
arminianismo em livrosdeteologiacalvinista(queéaúnicafontequemuitoscalvinis­
tastêm sobreoassunto),mas que,prezandoajustiçaeaimparcialidade,gostariamde
leruma autodescriçãoarminianacompleta.Só temosaganharcom isso.Todoalunode
teologiadeveria,preferivelmente,lerlivrosescritospelosproponentesdasváriasteolo-
giasem vezdesimplesmentelersobretaisteologiasatravésdaslentesdeseuscríticos.
Um Breve Resumo Deste Livro
Primeiramente precisamos esclarecerum ponto importante. O arminianismo
não tem nenhuma relação com o país da Armênia. Muitas pessoas pronunciam a
palavraerroneamente como seelaestivessede alguma forma associadaàArmênia,
o país da Ásia Central.A confusão é compreensível em virtude da pura semelhan­
ça acidental entre o termo teológico e a definição geográfica.Arminianos não são
pessoas que nasceram na Armênia. O arminianismo é oriundo do nome Jacó (ou
Tiago)Armínio (1560-1609).Armínio (cujonome de nascimentoeraJacob Harmensz
ou Jacob Harmenenszoon) foium teólogo holandês que não possuía ascendência
armênia.Armínio é simplesmente a forma latinizadade Harmensz; muitos eruditos
daquelaépocalatinizavamseusnomes, eosmembros dafamíliaHarmensz, com ad­
miração, homenagearam o lídertribalgermânico que resistiuaos romanos quando
estesinvadiramaEuropa Central.
1 OLSON, RogerE."Don’tHateMe BecausePm An Arminian”,Chrístianity Today,
6desetembrode 1999, p. 87-94. O tituloinfelizfoidesignadoparaoartigopeloseditores
darevistaenão foiescolhaminha.
18
introdução
Segundo, Jacó Armínio é lembrado nos anais da história da igreja como o
controverso pastoreteólogoholandês que escreveu inúmeras obras, acumulando
três grandes volumes, defendendo uma forma evangélica de sinergismo (crença
na cooperação divino-humana na salvação) contra o monergismo (crença de que
Deus éarealidadetotalmentedeterminante na salvação, que excluiaparticipação
humana). Armínio certamente não foio primeiro sinergistana históriado cristia­
nismo; todos ospaisda igreja,gregos dos primeirosséculoscristãosemuitos dos
teólogos medievais católicos eram sinergistas de algum tipo. Além do mais, ao
passo que Armínio e seus primeiros seguidores, conhecidos como os "Remons-
trantes'',adoravam enfatizar, que muitosprotestantesantesdeleforam sinergistas
em certo sentido da palavra. (Como a maioria dos termos teológicos, sinergismo
tem múltiplas nuanças de significado, sendo que nem todas são positivas; aqui
elasimplesmente significaqualquer crença na responsabilidade humana e na ha­
bilidade de livremente aceitarou rejeitara graça da salvação). Philip Melanchton
(1497-1560),o representantedeMartinho LuteronaReformaAlemã, erasinergista,
mas Lutero não era. Em virtude da influênciade Melanchton no luteranismo pós-
-Lutero,muitosluteranosem todaaEuropaadotaram uma perspectivasinergística
acercadasalvação, absíendo-se dapredestinaçãoincondicionaleafirmandoquea
graçaéresistível.A teologiaarminiana foi,em princípio,suprimida nas Províncias
Unidas (conhecidas atualmente como PaísesBaixos), mas foientendida posterior­
mente e disseminada para a Inglaterra e às colônias americanas, principalmente
atravésda influênciadeJoãoWesleyedos Metodistas. Muitos dos primeirosbatis­
tas(batistasgerais)eram arminianos, assim como muitoso são atualmente.Várias
denominações são dedicadas à teologia arminiana, mesmo onde a terminologia
não éutilizada.Dentre estasdenominações estão todos ospentecostais, restaura-
cionistas (Igrejasde Cristoeoutrasdenominações originadas nos avivamentos de
AlexanderCampbell), metodistas (etodasasramificaçõesdo metodismo, incluindo
ograndemovimento deSantidade)emuitos, senão todos,osbatistas.A influência
de Armínio e da teologia arminiana é profunda e ampla na teologia protestante.
Este livro não é intrinsecamente acerca de Armínio, mas sobre a teologia que é
oriundade sua obra teológicana Holanda.
19
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
Porfim,o contextodestefivroéacontrovérsiaentreo calvinismoeoarminia­
nismo. Enquanto ambos são formasdeprotestantismo(aindaquealgunscalvinistas
neguem que o arminianismo sejaautenticamente protestante), elespossuem abor­
dagens bem diferentes em relação às doutrinas da salvação (soteriologia). Ambos
acreditam na salvação pela graça somente por meio da fésomente (sola gratiaet
fides)em oposiçãoàsalvaçãopelagraçapormeio da féeboas obras.Ambos negam
que qualquer parte da salvação possa estar embasada no mérito humano. Ambos
afirmamaúnicaesupremaautoridadedaEscritura(solascriptura)eo sacerdóciode
todos os santos. Armínio etodos os seus seguidores eram esão protestantesatéa
alma. Entretanto,osarminianossempre seopuseram àcrençanareprovaçãoincon­
dicional -a seleção de algumas pessoas, por Deus, para passarem aeternidade no
inferno. Pelofatode seoporem aisso,elestambém seopõem àeleiçãoincondicio­
nal-aseleçãode algumas pessoas dentreamassa de pecadores paraserem salvos
independentedequalquercoisaque Deus vejaneles.De acordocom osarminianos,
as duas coisasestão intrinsecamenteligadas;éimpossível afirmaraseleçãoincon­
dicionalde algunspara a salvaçãosem, ao mesmo tempo, afirmaraseleção incon­
dicionaldealgunsparaareprovação, pois,deacordo com acrençados arminianos,
impugna ocaráterde Deus.
A controvérsiaque eclodiusobreArmínioem suaépoca continuaatéo século
XXI,principalmenteentrecristãosprotestantesevangélicosem todoomundo.A tese
deste livroé que o arminianismo está em desvantagem nesta controvérsiaporque
eleraramente éentendido eécomumente mal representado, tantoporseuscríticos
quantoporseussupostosdefensores.
As deturpaçõesmuito difundidasacercado arminianismono contextodo con­
tínuo debate evangélico sobre a predestinação e livre-arbítrioé uma caricatura. As
pessoas de bem envolvidas no debate devem buscar entender corretamente os dois
lados. Equívocos são o que mais comumente acontecem nos debates intensose,às
vezes, cáusticos acerca do arminianismo que acontecem na Internet, em pequenos
gruposeem publicaçõesevangélicas.O arminianismoétratadocomo um argumento
fraco e falho que é facilmente refutado e destruído pelo fatode não ser descrito de
formajusta. Estelivroconcentra-se nos mitos mais comuns que o circundam e nas
20
Introdução
verdades correspondentes da teologia arminiana. Os amantes da verdade desejarão
estarcorretamente informados sobre o arminianismo antes de se engajarem ou de
serempersuadidosporargumentospolêmicoscontraou afavordele.
Algumas Palavras Importantes Acerca das Palavras
A causa mais comum de confusão na teologiaéo entendimento equivocado
em relaçãoaos termos. O discursoteológicoestárepletodetalconfusão.Paraevitar
acrescentar ainda mais confusão, alguns esclarecimentos de terminologias se fa­
zem necessários. Pelofatode algumas discussões de pontos devistaemovimentos
teológicos diferentesdo arminianismo serem inevitáveis, eporque a autodescrição
geralmente é preferidaem relação a descrições de adeptos de outras teologias, eu
deixareiclarocomo os termos teológicossão utilizadosao descrevertantoa teolo­
gia arminiana quanto a não arminiana. Espero que os partidários destas teologias
encontrem seuspontos devistarepresentadosdemaneirajusta.
O Calvinismo é utilizadopara indicaras crenças soteriológicas compartilha­
das entre pessoas que consideram João Calvino (1509-1564), de Genebra, o maior
organizadorefornecedordeverdadesbíblicasduranteaReformaProtestante.O cal­
vinismo é a teologia que enfatiza a soberania absoluta de Deus como a realidade
totalmente determinante, principalmente no que dizrespeitoà salvação.A maioria
dos calvinistasclássicosou calvinistasrígidos2concorda que ossereshumanos são
totalmente depravados (incapazes de fazerqualquer coisaespiritualmente boa, in­
cluindoo exercíciodeboavontadeparacom Deus), que são eleitos(predestinados)
incondicionalmente tanto para a salvação como para a condenação (embora mui­
toscalvinistasrejeitemo "horríveldecreto" de Calvino da reprovação), que amorte
expiatóriade Cristona cruzfoidestinadaapenas paraos eleitos(algunscalvinistas
discordam), que agraça salvíficade Deus éirresistível(muitoscalvinistaspreferem
otermoeficaz),eque aspessoassalvasperseverarãoatéasalvaçãofinal(segurança
eterna).O calvinismoéosistemasoteriológicooriundodeCalvino,queégeralmente
2 O termo calvinistarígido,traduçãode hígh calvinism, aplica-seao calvinismosu-
pralapsariano(N.T.).
21
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
conhecido pelo acrósticoTULIP (Depravação total,Eleição incondicional, Expiação
limitada,Graça irresistível,Perseverança dos santos)3.Teologia reformada seráutili­
zadaparadesignaralgomaisamplo que ocalvinismo,aindaqueasduassejamequi­
valentes.A teologiareformada origina-se não unicamente de Calvino, mas também
de inúmeros de seus contemporâneos, incluindoUlricoZuínglio eMartin Bucer. Foi
ampliadaparaincluirmuitospensadores edenominações representadaspelaAlian­
ça Mundial de IgrejasReformadas, sendo que nem todas são calvinistasno sentido
rígidoou clássico4.
Portodo estelivroo arminianismo seráutilizadocomo sinônimo da teologia
arminiana.Eladefinenão tantoum movimento, mas uma perspectivaacercadasal­
vação (eoutrosassuntos teológicos)compartilhadapor pessoas que diferementre
siem outros assuntos. O arminianismo não possui sede; ele não está, sobretudo,
associado a nenhuma organização. Neste sentido eleé muito parecido com o cal­
vinismo.Ambos são pontos devistateológicosou mesmo sistemasorigináriosdos
escritosde um pensador seminal. Não se tratade um movimento ou organização.
Quando o arminianismo forutilizado, elesignificaráaquela forma de teolo­
giaprotestante que rejeitaa eleição incondicional (e,principalmente a reprovação
incondicional), expiação limitada e graça irresistível, pois ele afirma o caráter de
Deus como compassível, possuindo amor universal por todo o mundo e todos no
3 Deve semencionar que équestionávelseo próprioCalvinoensinou aexpiação
[imitada. Parauma declaração atuaido calvinismo, ver Edwin H. Palmer, The Five Points
of Calvinism. Grand Rapids: Baker, 1972. Claro,inúmeras outrase talvezdescrições mais
detalhadasacadêmicas do calvinismoestejamdisponíveis.Dentrealgunsimportantesau- ^
torescalvinistas evangélicos modernos que descrevem e defendem o calvinismo rigído
estãoAnthony Hoekema eR.C.Sproul. Paraum relatomais recenteepormenorizado do
calvinismorígidoedos cincopontosdo calvinismo,ver David Steele,CurtisThomas and
S.Lance Quinn, The Five Points of Calvinism, 2nd Ed.Phiiiipsburg,Penn.:Presbyterianand
Reformed, 2004.
4 Uma dasgrandesironiasdestecontextodedisputaentrecalvinistasearminianos
équeadenominaçãoholandesacontemporânea,conhecidacomo IrmandadeRemonstran-
te,que éoriundadaobrade Armínio eseusseguidores,émembro plenodaAliançaMun­
dialde igrejasReformadas!Aspessoasque equiparamo cahrfrrrsrtrt?àteologia reformada
podem estarem terrenomovediço, àluzdaamplaextensãodopensamentoreformado no
mundo moderno.
22
Introdução
mundo econcedendo livre-arbítriorestaurado pela graça para aceitarou rejeitara
graça de Deus, o que conduz àsalvação eternaou destruiçãoeterna.O arminianis­
mo sob consideração é o arminianismo de coração em oposição ao arminianismo
decabeça-uma diferençaintroduzidapeloteólogoreformadoAlanSellno livroThe
Great Debate: Calvinism, Arminianism and Salvation (O Grande Debate: Calvinismo,
Arminianismo e Salvação)5.O arminianismo de cabeça possuiuma ênfase no livre-
-arbítrio que está alicerçada no lluminismo e é mais comumente encontrado nos
círculos protestantes liberais (atémesmo entre pessoas reformadas liberalizadas)6.
Sua marca característicaéuma antropologiaotimistaque nega adepravação totale
a absoluta necessidade de graçasobrenaturalpara a salvação. É otimistaacercada
habilidadedesereshumanos autônomos em exerceremuma boavontade paracom
Deus eseussemelhantessem agraçapreveniente (capacitadora,auxiliadora)sobre­
natural,ou seja,épelagianoou no mínimo semipelagiano.
O arminianismo de coração - objeto de estudo deste livro- é o arminianis­
mo originaldeArmínio,Wesleyeseusherdeirosevangélicos.Arminianos decoração
enfaticamente não negam a depravação total(ainda que prefiramoutro termo para
indicar a incapacidade espiritualhumana) ou a absoluta necessidade de graça so­
brenatural paraatémesmo o primeiroexercíciodeuma boavontadeparacom Deus.
Arminianosdecoraçãosãoosverdadeirosarminianos,poissãofiéisaosímpetosfun­
damentais deArmínio eseus primeiros seguidores em oposição aos remonstrantes
posteriores(quesedistanciaramdosensinosdeArmínioentrandonateologialiberal)
earminianosmodernos decabeça,queglorificamarazãoealiberdadeem detrimen­
todarevelaçãodivinaeda graçasobrenatural.
5 SELL, Alan P.F.The Great Debate: Calvinism, Arminianism, and Salvation. Grand
Rapids:Baker, 1983.
6 A teologialiberalé notoriamente difícilde serdefinida, mas aqui elasignifica
qualquer teologia que permita reconhecimento máximo das alegações de modernidade
dentrodateologiacristã,principalmenteaoafirmaruma visãopositivadacondiçãodahu­
manidade eporuma tendência em negarou seriamenteenfraquecero sobrenaturalismo
tradicionaldopensamentocristão.Paraum relatodetalhadodateologialiberal,vercapitulo
doisem StanleyJ.Grenz and Roger E.Olson,20th-Century Theology. Downers Grove, 111.:
IntervarsityPress,1992.
23
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
Sinergismo emonergismo sãotermoscom muitasnuançasdesignificado.Am­
bos são conceitos teológicos essenciais nesta discussão, mas ambos se aplicam a
esferasmais amplas do que o arminianismo eo calvinismo. Sinergismo é qualquer
crença teológica na livreparticipação humana na salvação. Suas formas heréticas
na teologia cristãsão pelagianismo esemipelagianismo. A primeira nega o pecado
originaleelevaashabilidadeshumanas moraise naturaisparavivervidasespiritu­
almentecompletas.A últimaabraçauma versãomodificadado pecado original,mas
acreditaqueoshumanos têmahabilidade,mesmo em seuestadocaído,deiniciara
salvação ao exerceruma boa vontade para com Deus7.Quando teólogos conserva­
doresdeclaram que o sinergismoéuma heresia, elesfrequentemente estãoserefe­
rindoaestasduasformaspelagianasdesinergismo.Contrárioaoscríticosconfusos,
o arminianismo clássico não épelagiano e nem semipelagianoTMas é sinergístico.
O arminianismo é o sinergismo evangélico em oposição ao sinergismo herético e
humanista. O termosinergismo seráutilizadoem todoestelivroeo contextodeixa­
ráclaroque tipode sinergismo ele quer dizer. Quando o sinergismo arminiano for
referido,estoume referindoao sinergismoevangélicoque afirmaapreveniênciada
graça para que todo humano exerçauma boa vontade para com Deus, incluindo a
simplesnão resistênciaàobrasalvadorade Cristo.
Monergismo também éum termo amploe,àsvezes,confuso.Seu sentidomais
amplo apontaparaDeus como arealidadetotalmentedeterminante,quesignificaque
todasascoisasnanaturezaehistóriaestãosobocontrolediretodeDeus. Não neces­
sariamenteimplicaqueDeuscausatodasascoisasdiretamente,mas necessariamente
implicaquenadapodeacontecerquesejacontrárioàvontadedeDeusequeDeusestá
intimamente envolvido (aindaque trabalhando por meio de causas secundárias) em
tudo,entãotudonanaturezaehistóriarefleteavontadeprimáriadeDeus.Portanto,o
monergismo écomumente levadoasignificarquemesmo aQueda dahumanidade no
7 Todaahistóriadopelagianismoesemipelagianismoérecontadaem RebeccaHqr-
den Weaver,Divine Grace and Human Agency. Macon, Ga_:Mercer University Press, 1996.
AceitootratamentodeWeaverdestesconceitosporqueelaéheiàsfontesoriginaisecon­
sistentecom amaioriadasoutrasfontescontemporâneasautoritativassobreahistóriaeo
desenvolvimentodestesmovimentos.
24
Introdução
jardimprimitivofoiplanejadaedirigidaporDeus8(sinergismode todasasvariedades
geralmenterejeitatalvisãoetraçaaQueda como um riscoque Deus sesubmeteu na
criação,queresultounousoimprópriodolivre-arbítriodahumanidade).O monergis­
mo significaprincipalmentequeDeuséaúnicaagênciadeterminantenasalvação.Não
há cooperação entreDeus ea pessoa sendo salvaque jánão estejadeterminada por
Deus atuando napessoaatravésdagraçaregeneradora, porexemplo. O monergismo
émaior que o calvinismo,-Martinho Luterofoium monergista (aindaque de maneira
inconsistente).Agostinho também, em seus escritosposteriores.Alguns pensadores
católicosforam monergistas,embora ateologiacatólicatendaafavoreceruma forma
de sinergismo. Neste livroeu utilizomonergismo para descrever a vontade e poder
totalmentedeterminantesem exclusãodalivrecooperaçãoou resistênciahumana.
8 Confessadamente, alguns teólogos que reivindicam o termo monergista diferen­
ciamaalegaçãodequeaQuedafoipreordenadaporDeus.O teólogocalvinistaR.C.Sproul
frisaistoem (entreoutroslivros)Chosen by God,Wheaton, III.;TyndaleHouse, 1988. Que
Sproulémonergista,poucosnegariam.De acordocom eleealgunsoutroscalvinistas,Deus
preordenou a Queda “no sentido de que eleescolheu permiti-la, mas não no sentido de
queeleescolheucoagi-la”(p.97).Muitoscalvinistas(senãoamaioria),entretanto,seguem
Calvinoaodizerque Deus preordenouaQueda em um sentido maiordo que meramente
permitindoou consentindo-a. (VerCaivin’sInstitutes oftheChristian Religion 3.23.8). Não
énecessárioquealguém digaque Deus coagiuaQueda paradizerque Deusapreordenou.
Como serávistoposteriormentenestelivro,muitoscalvinistasacreditamqueDeusdetermi­
nouaQuedaeatornoucerta,mas nãoacausou.O grandeteólogocalvinistaestadunidense
CharlesHodge afirmouanaturezaeficazdetodososdecretosdeDeus (incluindoodecreto
de Deus de permitiraQueda) no primeirovolume de suaSystematic Theology, Grand Ra-
pids;Eerdmans, 1973.Alieleenfatizouque embora odecretoeternode Deus,depermitir
a Queda, não torneDeus o autordo mal,de fatoatornacerta.Os arminianos imaginam
como isso funciona; se Deus determinou a Queda, decretou-a e a tornou certa (mesmo
por“permissão eficaz”)como éque Deus não éoautordo pecado? Da Queda etodosos
eventosHodge escreveu: “Todososeventosadotadosno propósitode Deus sãoigualmen­
tecertos,quer Eletenhadeterminado realizá-losporseu própriopoder ou simplesmente
permitiraocorrênciapormeio daagênciade suascriaturas...Algumas coisasEleobjetiva
fazer,outrasEledecretapermitir que sejam feitas”(p.541). Em qualquer caso, se Deus
preordenaaQueda em um sentidomaior do queapermissão (como em Calvino)ou pre-
ordenapermitiraQueda com permissãoeficaz,paraosmonergistasDeus planejaetorna
aQueda certa. O efeitopareceserque Adão eEvaforam predestinadosporDeus apecar
etodaahumanidadecom eles.Os arminianostemem queuma conseqüênciaadequadae
necessáriadestavisãoéqueDeussejaoautordo mal.
25
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
Diz-se frequentemente que o debate entre calvinismo e arminianismo é em-
basado na discórdiaacerca da predestinação e livre-arbítrio.Esteé o mito comum
e quase popularem relação a toda a questão. Em um nívelmais polêmico, alguns
dizem que o desentendimento émais em relação àgraça (calvinismo) eboas obras
(arminianismo).Os arminianosseofendem com isso!Elesafirmamagraçatãoenfa­
ticamentequantoqualqueroutroramo docristianismo,emuitomaisdo quealguns.
Mas os arminianos também afirmam a predestinação, tanto quanto muitos calvi­
nistasafirmam o livre-arbítrioem algum sentido. Em todo estelivrouma tentativa
será feitano sentido de corrigiralguns usos impróprios de conceitos e termos que
contaminam osdiálogosentrecalvinistasearminianos.Aspessoas que dizemque o
calvinismoensinaapredestinaçãoenegaolivre-arbítrioequeosarminianosnegam
apredestinaçãoeensinamo livre-arbítrioestãototalmenteequivocadas.Ambos en­
sinam ambos! Elesosinterpretamdemaneira diferente.Os arminianosacreditamna
eleiçãoepredestinação-porqueaBíbliaasensina.Estassãoboasverdadesbíblicas
que não podem serdescartadas.E oscalvinistasgeralmenteensinam o livre-arbítrio
(emboraalgunssesintam menos confortáveiscom o termo do que outros).
O que os arminianos negam não é apredestinação, mas apredestinaçãoin­
condicional; eles abraçam a predestinação condicional embasada na presciência de
Deus daqueles que livrementeresponderão de maneira positivaàgraciosaofertade
salvação de Deus e a capacitação preveniente para aceitá-la. Os calvinistas negam
que o livre-arbítrioenvolva a habilidade de uma pessoa de fazeralém daquilo que
ele ou ela, de fato, o fazem. Na medida em que utilizam o termo livre-arbítrio,os
calvinistasquerem dizero que os filósofoschamam de livre-arbítriocompatibilista
- livre-arbítrioque é compatível com o determinismo. Livre-arbítrioésimplesmente
fazeroquealguém querfazer,mesmo seaquiloestiverdeterminadoporalgumaforçâ^
internaou externaàvontadedapessoa. Claro,oscalvinistasnão acham que aexpli­
caçãoarminiana da predestinação sejaadequada, eosarminianos não acham que a
explicaçãodoscalvinistasdo livre-arbítriosejaadequada. Mas ésimplesmenteerrado
dizerque qualquer um dos grupos nega qualquerum dos conceitos!Portanto, neste
livro, quando livre-arbítrioforutilizado, eleserá modificado ou para compatibilista
ou não compatibiiista (ouincompatibilista), dependendo do contexto. (Livre-arbítrio
Introdução
não compatibilistaéalivreagênciaque permiteàspessoas fazero contráriodo que
fazem; ela também pode serchamada de livre-arbítriolibertário.Por exemplo, uma
pessoa pode escolher livrementeentrepizzae macarrão para o jantar [presumindo
que ambos estejam disponíveis], Se a pessoa escolher macarrão, a escolha é livre
no sentido não compatibilista de que a pizza também poderia tersido escolhida.
Nada determinou aescolhado macarrão, excetoadecisãodapessoa.Osarminianos
acreditamque tallivre-arbítriolibertárioem assuntosespirituaiséum dom deDeus
por meio da graçapreveniente- graçaque precede ecapacitaos primeirosindícios
de uma boa vontade paracom Deus). Quando predestinação forutilizada,serámo­
dificadaou para condicional (forma arminiana) ou incondicional (forma calvinista),
dependendo docontexto.
A História da Teologia Arminiana
Começarei ahistóriada teologiaarminianacom Armínioeseusprimeirosse­
guidores, conhecidos como os remonstrantes, e continuarei com João Wesley e os
principais teólogos evangélicos metodistas do século xix, eentão examinarei uma
variedadedeprotestantesarminianos clássicosconservadoresdosséculosXX eXXI.
Primeiro, um lembrete e uma explicação. Peto fatode o arminianismo terse
tornado um termo de reprovação nos círculos teológicos evangélicos, muitos ar­
minianos não utilizam esta nomenclatura. Certa vez informei a um preeminente
teólogo evangélico que a sua recente publicação de teologia sistemática era intei­
ramente arminiana, ainda que elenão fizesse menção do termo. Sua resposta foi:
"Sim, mas não digaissoaninguém!”Vários (possivelmentemuitos) livrosteológicos
dos séculos XX eXXI são completamente compatíveis com o arminianismo clássi­
co,ealgunsatémesmo sãoinstruídospelaprópriateologia deArmíniosem jamais
mencionar o arminianismo. Dois teólogos evangélicos metodistas muito influentes
negam de maneira muito veemente que são arminianos, ainda que historicamente
sejaamplamenteditoquetodososmetodistassãoarminianos!Porquê? Porqueeles
não querem serconsiderados, de alguma forma, menos do que totalmente bíblicos
eevangélicos.Alguns críticosconseguiram convencer alguns arminianos de que o
27
Teologia Arminiana j Mitos E Realidades
arminianismo é heterodoxo - menos do que totalmente ortodoxo ou bíblico. Eles
também, com sucesso, equipararam o arminianismo ao semipelagianismo (senão
totalmentepelagianismo) de modo que atémesmo muitosmetodistas, pentecostais
epertencentesaosmovimentos desantidadenão querem usaro rótulo.
A questãoéque,principalmentenametade do séculopassado, desdeaascen­
sãodo evangelicalismopós-fundamentalista (cujateologiaéamplamente dominada
por calvinistas),os arminianos têm se esforçado para conseguirrespeitodentro do
meio teológicoeacadêmicoevangélicomais amplo, ealgunssimplesmente abriram
mão do termo. Não éincomum ouvirosarminianosdescreveremasimesmos como
"moderadamente reformados" no intuito de agradarem os influentes e poderosos
do movimento evangélico. Declarar-se arminiano é atrairpara siuma miríade de
perguntas (ou simplesmente uma suspeita reservada) quanto à heresia. Muitos lí­
deres evangélicos desinformados simplesmente presumem que os arminianos não
acreditam na absoluta necessidade da graça sobrenatural para a salvação. Alguns
evangélicosdeclararam abertamente que seosarminianosevangélicosjánão estão
em heresia, elesestão caminhando para lá.Um apologista evangélico preeminente
declarou publicamente que os arminianos são cristãos, mas "minimamente". Um
teólogo evangélico influentesugeriuque aenganação satânicapode seracausa do
arminianismo. Portanto,aindaque algumas de minhas fontesnão utilizemo termo
de forma explícita,todaselassão,de fato,arminianas.
Arm ínio. A fonteprimária de toda a teologiaarminiana é o próprioJacóAr­
mínio. Os trêsvolumes de sua coletânea, em inglês, têm sido editados quase que
ininterruptamentepormaisdeum século9.Elescontémdiscursoseventuais,comen­
táriosecartas.Estesescritosnão são uma teologiasistemática, embora algunsdos
tratadosmais longos deArmínio abranjam uma grande porção de assuntos teológi­
cos.Quasetodososseusescritosforamconcebidosnocalordacontrovérsia;elefre­
9 ARMINIUS,James. The Works ofJames Armíníus. London Ed.,trad.James Nichols
and William Nichols,3 v.Grand Rapids: Baker, 1996. Estaediçãoda EditoraBakeréuma
republicação, com uma introdução de Carl Bangs, erudito em Armínio, da tradução de
Londres eedição publicada em 1825, 1828 e 1875. Todas as citações de Armínio neste
livrosãodestaediçãoeserãoindicadassimplesmente como Works (Obras) com volume e
numeração dapágina.
28
Introdução
quentemente estavasob ataque doscríticoselíderesdo estadoeigrejada Holanda,
que exigiamque eleseexplicasse.Seu famoso debatecom o colegacalvinistaFran­
ciscoGomaro, na Universidade de Leiden, foia causa de muita desta controvérsia.
Armíniofoiacusadodetodosostiposdeheresia,mas asacusaçõesdeheresianunca
sesustentaram em nenhum inquéritooficial.Acusações ridículasde que eleeraum
agentesecretodo papa edosjesuítasespanhóis, eatémesmo do governo espanhol
(asProvínciasUnidashaviamrecentementeselibertadodadominação católicaespa­
nhola),pairavamsobreele.Nenhuma dasacusaçõeseraverdadeira. Armíniofaleceu
no auge da controvérsiaem 1609, eseus seguidores, os remonstrantes, assumiram
acausa apartirde onde eleparou, tentandoampliarasnormas teológicasdaigreja-
-estadodas ProvínciasUnidasparapermitirosinergismoevangélico10.
Armínio não acreditava que estivesse acrescentando nada novo à teologia
cristã.Se ele,de fato,acrescentoualgo, édiscutível.Eleexplicitamenteapelou para
os primeiros pais da igreja, fezuso de métodos e conclusões teológicas medievais
e apontou para sinergistas protestantes que lhe antecederam. Seus seguidores
deixaram claro que Melanchton, um líderluteranoconservador, e outros luteranos
mantinham visões similares, se não idênticas. Embora ele não tenha mencionado
nominalmente o reformador católico Erasmo, ficaclaroque a teologia de Armínio
era semelhante à dele. Balthasar Hubmaier e Menno Simons, líderes anabatistas
do séculoXVI, também apresentaram teologiassinergísticasqueprenunciaram ade
Armínio.As obras teológicasmais importantesdeArmínio incluem sua "Declaração
de Sentimentos", "Exame do Panfleto do Dr. Perkins”,"Exame das Teses do Dr. F.
Gomaro Concernente àPredestinação”,"CartaEndereçada a HipólitoA.Collibus" e
'Artigosque Devem SerDiligentementeExaminados ePonderados”.
O relacionamentodeArmíniocom oarminianismodevesertratadocom ames­
ma intensidade que o relacionamento de Calvino com o calvinismo. Nem todo cal­
vinistaconcorda totalmente com tudo encontrado em Calvino, e os calvinistascom
10 A históriada vidaecarreirade Armínio, incluindoo debate com Gomaro, pode
serencontradaem CarlBangs,Arminius: A Study in the Dutch Reformation.Grand Rapids:
Zondervan, !985.A históriadoconflitoRemonstrantepõs-ArmínioatéosefeitosdoSinodo
de Dort(1619)érecontadaem A.W. Harrison, The Beginnings of Arminianism to the Synod
o/Dort. London: UniversityofLondon Press, 1926.
29
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
frequência debatem o significadode Calvino.Após amorte de Calvino, o calvinismo
foialargado e agora inclui,verdadeiramente, uma diversidade. Entre os seguidores
deCalvinonós encontramossupralapsarianoseinfralapsarianos(debatendoaordem
dos decretosdivinosem relaçãoàpredestinação), edivergênciasacercada expiação
edeoutrosassuntosimportantesrelacionadosàsalvação.Apesardisso,todosconsi­
deram Calvinocomo suaorigemem comum elutam paraserfiéisaeleno espírito,se
não em cadadetalhe.Eleéaraizeelessãoosgalhos.
Os Remonstrantes. Após amorte precoce deArmínioem 1609, quando tinha
49anoseno auge dacarreira,aproximadamente45ministroseteólogosdas Provín­
ciasUnidas formaram uma frenteque veioaserchamado "osRemonstrantes”.Eles
receberam estenome em virtude do títuloda exposição teológica apresentada por
eles, conhecida como a Remonstrância, que resumiu em poucos pontos essenciais
o queArmínioeelesacreditavamacercada salvação,incluindoaeleiçãoeapredes­
tinação.Entreoslíderesdestemovimento estavaSimão Episcópio (1583-1643), que
setornouo conhecido líderdosArminianosantesedepoisque estesforamexilados
das ProvínciasUnidas, de 1619 a 1625.Episcópioéprovavelmente o autordos prin­
cipaisdocumentos dos remonstrantes e,por fim,setomou o primeiro professorde
teologiado seminárioremonstrante fundado após receberem apermissão de retor­
no do exílio(esteseminário, conhecidocomo o SeminárioRemonstrante, existeaté
hojena Holanda). Outro líderremonstrante importante foiHugo Grócio, estadistae
cientistapolíticomais influenteda Europa (1583-1645), que foipresopelo governo
holandês após o Sínodo de Dort, que condenou o arminianismo, mas escapou. Um
remonstranteposteriorchamado PhilipLimborch (1633-1712)levouo arminianismo
para mais perto do liberalismo, com o subsequente “arminianismo de cabeça". In­
felizmente,muitos críticosdo arminianismo do séculoXVIIIconheciam unicamente
oarminianismo deLimborch, que eramaispróximo do semipelagianismodo queos
ensinosdo próprioArmínio.
O século XVIII. A partirda época de Limborch, muitos arminianos, em espe­
cialaqueles na Igrejada Inglaterra e nas igrejascongregacionais, mesclaram o ar­
minianismocom anovareligiãonatural do íluminismo; elessetornaram osprimei­
rosliberaisdentrodo protestantismo. Na Nova Inglaterra,JohnTaylor (1694-1761) e
Introdução
CharlesChauncy (1705-1787), de Boston, representavam o arminianismo decabeça
que, com frequência e perigosamente, inclinava-se bem próximo ao pelagianismo,
universalismoeatémesmo arianismo (negaçãodaplenadeídadedeCristo).O gran­
depregadorpuritanoeteólogocalvinistaJonathan Edwards (1703-1758) seopôs de
maneiraveementeaesteshomens econtribuiuparao costume doscalvinistasesta­
dunidenses de equipararoarminianismoaestetipode teologialiberalizante. Indu­
bitavelmente muitos arminianos estadunidenses eingleses (principalmentecongre-
gacionistasebatistas)seconverteramà teologialiberaleatémesmo ao unitarismo.
Se o arminianismo clássico foio responsável por isso, talcoisa é duvidosa; estas
pessoas abandonaram radicalmente Armínio e os primeiros remonstrantes, assim
como FriedrichSchleiermacher, o paida teologialiberalalemã, abandonou Calvino
sem jamais terestado sob a influência do arminianismo. Schleiermacher, reputado
por liberalizarateologiaprotestanteno continente europeu, permaneceu um calvi­
nistadeuma ordem diferenteatéodiadesuamorte.ÉtãoinjustoacusarArmínioou
o arminianismo peladeserçãodosremonstrantes posterioresquantoacusarCalvino
ou o calvinismopeladeserçãode Schleiermacherdaortodoxia.
Uma claraprovade que nem todososarminianos setornaram liberaiséJoão
Wesley(1703-1791),queseintitulavaarminianoedefendeuoarminianismodasacu­
sações de que elelevavaàheterodoxia ese não, àtotalheresia. Foivítimado tra­
tamento dos calvinistasem relaçãoao arminianismo e sua resposta ao calvinismo
foigeralmente muito dura. Por sentirque a maioria dos críticos do arminianismo
possuíapouco conhecimento do tema, eleescreveuem 1778: "Que nenhum homem
esbraveje contra o arminianismo a menos que saiba o que ele significa1'11.Em “A
Pergunta: 'O que é um arminiano?’Respondida por Um Amante da Graça Livre",
Wesleyobservou que: "dizer'estehomem éum arminiano' tem o mesmo efeito,em
muitos ouvintes,que dizer'estehomem éum cão raivoso"12.Elecontinuou aexpor
osprincípiosbásicosdo arminianismo edesmentiuanoção popularque o arminia-
nlsmo eqüivaleaoarianismoou outrasheresias. Nesseeem outrosescritos,Wesley
11 WESLEY,John. The Works ofJohn Wesley. Ed.ThomasJackson, 14v.Grand Rap­
ids:Baker, 1978.v.10,p.360.
12 Ibid.p.358.
l
31
Teologia Arminiana i Mitos E Realidades
defendeu o sinergismo evangélico ao enfatizar que a graça preveniente de Deus é
absolutamentenecessáriaparaasalvação. Wesleyéamaior fontedo arminianismo
de coração; elejamais seapartou da crença protestanteclássicae ortodoxa; a des­
peito de rejeitaro calvinismo, ele afirmava apaixonada e seriamente ajustificação
pelagraça somente atravésda fésomente por causa daquilo que Cristorealizouna
cruz. Os calvinistascom frequência acusam Wesley de desertar do protestantismo
pelo fato dele salientar a santificação, mas mesmo isso, de acordo com Wesley, é
uma obra de Deus dentrodeuma pessoa queérecebidapelafésomente'3.
Após amortedeWesley,amaioriadosteólogosarminianospreeminentestor­
naram-se seus seguidores.Todo o movimento metodista esuas ramificações (ex.o
multiformemovimento desantidade) adotaramaversãodeWesleydateologiaarmi­
niana, quemal sediferenciavado próprioArmínio14.O primeiroteólogo sistemático
do metodismo foi,de fato,John Fletcher (1729- 1785),contemporâneo maisjovem
de Wesley, cujas obras escritas preenchem nove tomos. Ele produziu cuidadosa e
habilmente argumentos contra o calvinismo e a favor do arminianismo. Um dos
teólogosarminianos maisinfluentesdo séculoXIXfoiometodistabritânicoRichard
Watson (1781-1833), cujas Institutas Cristãs (1823) forneceram ao metodismo seu
13 O comprometimento de Wesley com a ortodoxiaprotestantehã muito tem sido
questãodedisputa;oscalvinistas,em especial(talvezapenaseles),têm,àsvezes,oacusa­
do de ensinarasalvação pelasobras.Issoaconteceem virtudede uma leituraerrôneade
Wesley, cujossermões: “GraçaLivre”,“Operando Nossa PrópriaSalvação”.“Salvaçãopela
Pé”e“JustificaçãopelaPé”nãopodem tersidolidosporeles.Taissermõessãoencontrados
em vãriasediçõesdacoletâneadeWesley,talcomo The Works ofjohn Wesley, Ed.AlbertC.
Outler.Nashville:Abingdon, 1996.Os maisimportantespodem serencontradosem muitas
coleções de um volume, talcomo John Wesley: The Bestfrom Alt His Works, Ed. Stephen
Rost.Nashville:Thomas Nelson, 1989.
14 Deve serenfatizadoaquiqueGeorgeWhitefield,evangelistaamigo deWesley,foi
importantíssimo naliderançadeuma conexão (rede)metodistacalvinistano séculoXVIil;
elasobreviveu atéo séculoXX eainda pode teralgumas pouquíssimas pequenas igrejas
espalhadas na Grã-Bretanha eAmérica do Norte. No geral,entretanto, o metodismo está
marcadocom oarminianismodeWesley.Wesleyensinouapossibilidadedaplenasantifica­
ção,quenão étípicadetodososarminianos,mas queéconsistentecom osensinamentos
(dopróprioArmínio, que interpretavaRomanos 7como refletindoaexperiênciadeguerra
entreacarneeoespíritoantesdaconversãodePaulo.
32
Introdução
primeirotextoautoritativode teologiasistemática.Watson citouArmínio livremente
e claramente considerava a simesmo e a todos os metodistas wesleyanos como
arminianos: Ele demonstrou cuidadosamente a deserção dos remonstrantes poste­
riores,talcomo ade Limborch, da verdadeira herança arminiana. O arminianismo
deWatson forneceuma espéciedemodelo deexcelênciaparaosarminianosevangé­
licosaindaque,em grandeparte,não sejaaplicávelaos diasdehoje.
O século XIX. Outrosmetodistasimportanteseteólogosarminianosdo sécu­
loXIX incluem Thomas Summers (1812-1882) e William Burton Pope (1822-1903).
Summers produziu a Systematic Theoíogy: A Complete Body o f Weslean Arminian
Díviniiy (TeologiaSistemática:Um GuiaCompletodaTeologiaArminianaWesleyana),
que se tornouum compêndio padrão para osarminianos na últimapartedo século
XIX; elerepresentou nesta época o que Watson representou na primeirametade do
século. Como Watson, elemostra o abandono de Limborch eoutrosremonstrantes
posteriores de Armínio (edos primeiros remonstrantes) para o semipelagianismo
eà teologialiberal. Elesesentiaextremamente afrontado com teólogos calvinistas
evangélicosde sua época, que deturpavam o arminianismo como seelefosseheré­
tico:"Que ignorância ou descaramento tem esteshomens que acusam Armínio de
pelagianismoou de qualquerinclinaçãoparatal"'5.Pope contribuiucom um sistema
de teologia de trêsvolumes, A Compendium o f Chrístian Theoíogy [Um Compêndio
daTeologiaCristã] (1874).Eleapresentauma descriçãodetalhadamenteprotestante
da teologiaarminianaque não deixadúvidasacercade seu compromisso com ate­
ologiareformada, incluindoasalvaçãopelagraçasomente pormeio dafésomente.
Ele explora a natureza da graça preveniente mais plena e profundamente do que
qualqueroutroteólogoarminianoantesdeleou duranteoperíododesuavida.
Um dos teólogos arminianosmais controversos do séculoXIX foio sistema-
ticistametodistaJohn Miley (1813-1895), cujaSystematic Theoíogy (Teologia Siste­
mática) levou B. B.Warfield, teólogo calvinistade Princeton, apublicarum extenso
ataque.Mileyapresentouuma tendêncialigeiramenteliberalizantena teologiaarmi­
nianawesleyana, embora sejaextremamente branda secomparada aos arminianos
15 SUMMERS, ThomasO.Systematic Theoíogy: A Complete Body of Wesleyan Arminian
Divinity. Nashville:PublishíngHouse oftheMethodistEpiscopalChurch, 1888.v.2,p.34.
33
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
de cabeça que, com frequência, caíram impetuosamente no deísmo, unitarismo e
claramentena teologialiberal. Embora tenhaalteradoalgumasposiçõesarminianas
tradicionaisem uma direçãomaismoderna, Mileypermaneceu um arminiano evan­
gélico. De algumas formas elerepresentauma ponte entreo arminianismo evangé­
licoeortodoxo (Armínio,Wesley,Watson, PopeeSummers) easubsequente teologia
metodista liberalizadaconvencional no séculoXX (L.Harold DeWoif). Mas Mileyse
apegou fortemente à supremacia das Escrituras e sempre arguiu a partirda Bíblia,
ao reivindicarsuas posições teológicas. Eleafirmavao pecado original,incluindoa
"depravação natural" (incapacidadeem assuntosespirituais),aopasso que rejeitava
o "deméritonatural”(culpaherdada).Eledefendiaateoriagovernamental daexpia­
ção,voltando para Hugo Grócio (nem todos os arminianos adotaram estavisão). E
Miley definia ajustificaçãosimplesmente como perdão, em vez de uma imputação
da obediência (retidão) passiva e ativade Deus. Algumas das críticasde Warfield a
Miley foram válidas, mas elas foram afirmadas de um modo extremo, de forma a
levantardúvidas acerca da própria generosidade de interpretação e tratamento de
seussemelhantescristãos.Muitoscalvinistasdo séculoXX conhecem pouco sobreo
arminianismo, excetuandoaquiloque leram deCharlesHodge eB. B.Warfield, teó­
logoscalvinistasdoséculoXIX.Estesdoisteólogosforamcríticoscáusticos,quenão
conseguiam seconvenceraenxergarqualquercoisaboa no arminianismo. E eleso
acusaram de todaconseqüência má possívelque conseguiam verque o arminianis­
mo possivelmentetivesse.
Antes de deixaro séculoXIXpara trásna narração da históriado arminianis­
mo, éimportantíssimo pararediscutirbrevemente ateologiado avivalista,teólogo
e presidente de faculdade Charles Finney (1792-1875).A carreirade Finney é uma
das mais fascinantes em toda a história da igreja moderna. Ele foi um advogado
que se converteu ao cristianismoevangélicounicamente para setornaro avivalista
do então chamado Segundo Grande Despertamento^. Finney se tornou presidente
16 Istodepende muito de como definimos o Segundo Grande Despertamento. Uma
definiçãomais restritalimita-oao séculoXIX eovê como centradounicamente nos avíva-
mentos na Faculdade Yaleeao longo das fronteirasde Virgíniae Kentucky (ex.o famoso
AvivamentodeCaneRidgeem Kentucky,em 1801).Uma definiçãomaisamplaoestendeaté
osavivamentosdeFinneynaNovaInglaterraeem NovaYorknasdécadasde 1820e 1830.
34
Introdução
da Oberlin College (Faculdade Oberlin) em Ohio, em 1835, epublicouuma sériede
palestras influentes sobre avivamento e sobre teologia sistemática. Suas Lectures
on Systematic Theoíogy (PalestrasSobreTeologiaSistemática) foram primeiramente
publicadas em 1846 com ediçõesposteriormenteampliadas. Finneyrejeitavao cal­
vinismo rígidoem favorde uma versãovulgarizada do arminianismo que estámais
próxima do semipelagianismo. Seu legadona religiãopopularestadunidense épro­
fundo. Elenegava o pegado original, exceto como uma infelicidade que veiosobre
a maioria dos seres humanos e que épassado adiante por meio de maus exemplos
("tentaçãoagravada").Acreditava que toda pessoa possui habilidade e responsabi­
lidade, independente de qualquer ajuda ou graça divina (graça preveniente) a não
sera iluminação e persuasão, para livremente aceitara graça perdoadora de Deus
atravésdo arrependimentoeobediênciaaogovernomoralreveladodeDeus. Elees­
creveu: "Nãohá nenhum graude realizaçãomoral denossa parteque não possa ser
alcançada diretaou indiretamente pelavontade certa"e "O governo moral de Deus
em todososlugarespresume eimplicaaliberdadedavontadehumana, eahabilida­
denaturaldos homens de obedeceraDeus"17.
Finneyvulgarizou a teologiaarminiana ao negar algo que Armínio, Wesley e
todososarminianos fiéisantesdelehaviam afirmado eprotegidocomo preciosoao
próprio evangelho -a inabilidademoral humana em assuntos espirituaisea abso­
lutanecessidade de graçapreveniente sobrenatural para qualquer resposta correta
a Deus, incluindoasprimeirasinclinaçõesde uma boa vontade para com Deus. De
acordo com Finney, diferentemente do arminianismo clássico (mas semelhante ao
remonstrantismo posterior de Limborch), a única obra de Deus necessária para o
exercíciodeuma boavontadeparacom DeuseobediênciaàvontadedeDeuséo Es­
píritoSantoiluminando arazãohumana, que estáenevoada porinteressespróprios
e em um estado de misériadevido ao egoísmo comum da humanidade: "O Espírito
pegaascoisasde Cristoeasrevelaàmente.A verdadeéempregada, ou éaverdade
que deve ser empregada como um instrumento ainduzira mudança de escolha"1®.
17 FINNEY, Charles.Systematic Theoíogy. Ed,J.H.Fairchild,abrev.Minneapolis: Be-
thanyFellowship, 1976,p.299,261.
18 lbid.p.224.
35
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
Armínio, Wesleyeo arminianismo clássico, em geral,afirmaram a depravação total
herdada como atotalincapacidadeindependente deum despertamento sobrenatu­
ral,despertamentoestechamado degraçapreveniente.Mas Finneynegava aneces­
sidade da graça preveniente. Para ele, razão, desenvolvida pelo Espírito Santo, faz
com que ocoração sevoltepara Deus. Elechamou adoutrinaarminianaclássicada
habilidadegraciosa(habilidadedeexerceruma boavontadeparacom Deusoutorga­
dapelo EspíritoSanto atravésdagraçapreveniente)de um "absurdo"19.
Os calvinistas, infelizmente, tendem aolharpara Finneyou como modelo de
um verdadeiroarminiano ou como aestaçãofinalda trajetóriateológicaarminiana.
Ambas asvisõessãoerrôneas.Os arminianos clássicosadoram Finneyporsua pai­
xãoavivalista,aopassoqueo abominam porsuamá teologia.O próprioFinneydisse
acerca de jonathan Edwards: "Edwards eu reverencio; seus erros eu abomino"20.
Um arminiano clássico evangélico pode dizer: "Finneyeu reverencio; seus erroseu
abomino"21.
O século XX. O séculoXX testemunhou o fim do sinergismo evangélicoentre
as principais denominações, incluindo o Metodismo, na medida em que caíram na
teologialiberal.O arminianismo implacavelmente não conduz ao liberalismo, eisso
estáprovado pelo crescimento das formas conservadoras do arminianismo entre os
Nazarenos(uma ramificaçãoevangélicadometodismo), pentecostais,batistas,Igrejas
de Cristo e outros grupos evangélicos. Todavia, muitos destes arminianos do sécu­
loXX negligenciam ou mesmo rejeitamo rótulode arminiano poruma variedade de
razões, não sendo uma das menos importantes o sucesso dos calvinistasem pintar
o arminianismo com ascoresde Finneyedosarminianos decabeça, talcomo osre-
19 Ibid.p.278.
20 Ibid.p.269.
21 Indubitavelmente, alguns admiradores de Finney considerarão muito duro este
relatodesuateologiaenquantomuitoscríticosreformadosoconsiderarãomuitogeneroso.
O problemaéqueFinneynãoeratotalmenteconsistenteem suasexplicaçõesdepecadoe
salvação;em algumasocasiõeselependiamaisparaosemipelagianismoeem outrasocasi­
õeselepareciamaisdispostoaafirmarainiciaçãodivinadasalvação.No geraleem geral,
entretanto,pensoqueorelatodeFinneyacercadopecadoesalvaçãoestámaispróximodo
semipelagianismodo quedoarminianismoclássico,pelasrazõesapresentadasaqui.
36
Inirodução
monstrantesposteriores. Um teólogodo séculoXX que manteveorótulofoiH.Orton
Wiley(1877-1961),líderdaIgrejadoNazareno,queproduziuaobraChristian Theoíogy
(TeologiaCristã)detrêsvolumes eum resumo deum volumeda doutrinacristã.O ar­
minianismodeWileyéuma formaparticularmentepuradoarminianismoclássicocom
o acréscimo do perfeccionismo wesleyano (que nem todos os arminianos aceitam).
Todabondade, incluindoasprimeirasinclinaçõesdo coraçãoparacom Deus,éatribu­
ídaunicamente àgraçade Deus. Como Watson, Summers, Pope eMiley,Wileyinsiste
em uma diferençaentresemipelagianismoeoverdadeiroarminianismo, edemonstra
a diferença em suas própriasafirmações doutrinárias.A teologiade Wileyse tornou
o modelo deexcelênciaparaaeducação teológicana Igrejado Nazarenoeem outras
denominações do [movimento] deSantidadeduranteoséculoXX.
Outro teólogoarminianodo séculoXX cujaobrademonstra poderosamente a
ortodoxia do arminianismo clássico é o metodista evangélico Thomas Oden. Oden
não aceitao rótulo de arminiano para siou sua teologia, pois prefereseu próprio
termo,paleo-ortodoxia. Eleapelaparao consenso dos primeirospaisdaigreja.Mas
omesmo fizeramArmínioeWesley!AobraThe TTansforming Power o f Grace (OPoder
Transformadorda Graça), de 1993,éuma pedrapreciosada soteriologiaarminiana;
elaé o primeirolivroque eu recomendo àquelesque buscam um relatosistemático
da verdadeira teologia arminiana. Infelizmente o Oden não a considera como tal!
Entretanto, o arminianismo clássicode Oden estámanifesto em seu endosso entu­
siasmado da teologiadeArmíniocomo uma restauraçãodo consensodosprimeiros
cristãos(primitivos)acercadasalvação,conforme aafirmaçãoabaixo;
Se Deus, de maneira absoluta e pré-temporal, decreta que
certaspessoas sejam salvaseoutras condenadas, independente de
qualquer cooperação da liberdade humana, então Deus não pode,
em nenhum sentido,quererque todossejam salvos,conforme 1Ti­
móteo 4.10declara.A promessa de glóriatem porcondiçãoa graça
sendorecebidapelaféativaem amor22.Oden também produziuuma
Teologia Sistemática maciça, de trêsvolumes, que reconstróio con­
22 ODEN,ThomasC.The Transforming Power ofGrace. Nashville:Abingdon,1993.p.135.
37
Tsologia Arminiana j Mitos E Realidades
senso doutrinário cristão primitivo e é completamente consistente
com aprópriateologiadeArmínio. O débitode Oden aArmínio ea
Wesleyéinquestionável.
Outros teólogos arminianos do séculoXX (alguns dos quais não querem ser
chamados de arminianos) são os batistasDale Moody, StanleyGrenz, Clark Pinno­
ck e H. Leroy Forlines; o teólogo da Igrejade CristoJackCotrelleos metodistas l.
Howard Marshall eJerryWalls. Considero issouma grande tragédiae absurdo, que
uma herançahistóricacomo ado arminianismosejarepetidamentenegadaporseus
adeptos em razãode necessidadepolítica. Não tenho dúvidas de que algunsadmi­
nistradores de organizações evangélicas não especificamente comprometidos com
o calvinismo tendem a menosprezar o arminianismo e de enxergar os arminianos
como "teologicamente rasos" ecaminhando paraaheresia.Sob ainfluênciadeum
preeminente estadistacalvinistaevangélico, um presidentede faculdadeevangélica
de herança de [movimento] de santidade declarou-se um "arminiano em recupera­
ção”!Uma influentepublicaçãocalvinistaevangélicanegou aexistênciadearminia­
nos "evangélicos"echamou issode contradição. Sob estetipode calúniasseveras,
se não ignorantes, não é de se surpreender que o arminianismo não sejautilizado
mesmo porseusproponentesmaisapaixonados.Mas, apesardasadversidades,oar­
minianismopermanece eateologiaarminianacontinuaaserfeitaem uma variedade
decírculosdenominacionais.
Uma Sinopse da Teologia Arminiana
Um dos mitos mais predominantes disseminado pelos calvinistasacerca do
arminianismoéqueeleéotipode teologiamaispopularnospúlpitosebancosevan­
gélicos. Minha experiência contradiz esta opinião. Muito disso depende de como
entendemos a teologia arminiana. Os críticoscalvinistas estariam corretos caso o
arminianismo fosse semipelagianismo. Mas ele não o é,como espero demonstrar.
O evangelho pregado e asoteriologiaensinada atrásde muitos púlpitose tribunas
evangélicos e que é acreditada na maioria dos bancos evangélicos, não são o ar-
38
Introdução
minianismo clássico, mas o semipelagianismo, se não um completo pelagianismo.
Qual é a diferença? Wiley, teólogo da Igreja do Nazareno, corretamente define o
semipelagianismoao dizer:"Opelagianismodeclaravaque haviaforçaremanescen­
tenavontade depravada o suficientepara iniciarou colocarem andamento o início
dasalvação,mas que não erasuficienteparalevá-laàconclusão. Issodeveserfeito
pelagraçadivina"23.Estaantigaheresiaéoriundados ensinamentos dosentãocha­
mados Massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (m. 433 d.C), que
tentou construiruma ponte entreo pelagianismo, que negava o pecado original, e
Agostinho, que defendiaaeleiçãoincondicional tendo por base o fatode que todos
os descendentes de Adão nascem espiritualmente mortos e culpados da culpa de
Adão. Cassianoacreditavaque aspessoaseram capazes deexerceruma boavonta­
deparacom Deus mesmo independente dequalquerinfusãodegraçasobrenatural.
Tálcrença foicondenadapeloSegundo ConciliodeOrange em 529 (semendosso da
fortedoutrinade predestinaçãodeAgostinho).
O semipelagianismo se tornou a teologiapopular da IgrejaCatólicaRomana
nosséculosqueprecederam aReforma Protestante;mas foicompletamenterejeitado
portodososreformadores,excetoosentãochamadosracionalistasou antitrinitários,
talcomo FaustoSocino. Algunscalvinistasadotaramapráticadechamardesemipe-
lagianatoda teologiaque não atendesse àsexigênciasdo calvinismorígido (TÜLIP).
Talnoção,entretanto,éincorreta.Atualmenteosemipelagianismoéateologiapadrão
damaioriadoscristãosevangélicosestadunidenses24.Istoéreveladonapopularidade
dosclichês,taiscomo: "Dêum passoparaDeus eledarádoisparavocê"e"Deusvota
em você, Satanás vota contra você evocê tem o voto de minerva", aliadosà quase
totalnegligênciadadepravaçãomoraleincapacidadesem questõesespirituais.
O arminianismo é,no cristianismo evangélicopopular, quase que totalmente
desconhecidoemuitomenos crido.Uma dasfinalidadesdestelivroéadesuperareste
déficit.Um mitopredominantesobreo arminianismoéo de queateologiaarminiana
equipara-seao semipelagianismo. Istoserádesmentido no processo de refutaçãode
23 WILEY,H.Orton.Christian Theoíogy.KansasCity,Mo.;BeaconHill,1941.v.2,p.103
24 Não possodizeromesmo doscristãosevangélicosem outrospaíses,poisnãosei
osuficienteacercadelesparafazertalalegação.
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
váriosoutros mitos que tratam da condição humana e da salvação.Apresentaremos
aquiapenasum prelúdiodo pontodevistaarminianoqueseráexpostomaisadiante.
Primeiro, é importante compreender que o arminianismo não detém uma
doutrina ou ponto de vistacaracterísticosobre tudo no cristianismo. Não há ne­
nhuma doutrinaarminiana especialdasEscrituras.Os arminianos decoração-ar­
minianosevangélicos-acreditamnas Escriturasetem amesma gama deopiniões
sobre os detalhes bíblicos, assim como os calvinistas. Alguns arminianos acre­
ditam na inerrância bíblica, outros não. Todos os arminianos evangélicos estão
comprometidoscom aautoridadeeainspiraçãosobrenaturaldaBíbliasobretodos
os assuntos de féeprática.De mesmo modo que também não há uma eclesiologia
ou escatologiaarminianacaracterística;osarminianosexprimem o mesmo escopo
de interpretações que os outros cristãos. Um mito popular promovido por alguns
calvinistas éo de que todos os teólogos arminianos são adeptos da teoriagover­
namentaldaexpiação eque rejeitamateoriada substituiçãopenal.Talafirmaçãoé
simplesmente falsa.Os arminianosacreditam naTrindade,na divindadeehumani­
dade deJesusCristo,na depravação da humanidade em virtudeda queda primeva,
na salvaçãopelagraçasomente atravésda fésomente, eem todasas outrascren­
çasprotestantesimprescindíveis.A retidãocomo justiçaimputadaéafirmadapelos
arminianos clássicosseguindo o próprioArmínio. As doutrinas característicasdo
arminianismo têm aver com a soberania de Deus sobre ahistóriaea salvação; a
providência e apredestinação são as duas doutrinas essenciais onde os arminia­
nos discordam dos calvinistasclássicos.
Não há melhor ponto de partidapara examinar asquestões da providência e
predestinação que a própriaRemonstrância. Elaéo documento de origem do armi­
nianismoclássico(alémdosescritosdeArmínio).A Remonstrânciafoipreparadapor
aproximadamente 43 (onúmero exato é debatido) pastores e teólogos reformados
holandeses após a morte de Armínio, em 1609. O documento foiapresentado em
1610parauma conferênciadelíderesdaigrejaedo estadoem Gouda, Holanda, para
explicara doutrina arminiana. Seu foco principal está nas questões da salvação e,
em especial,napredestinação.Existemváriasversõesda Remonstrância (daqualos
remonstrantes receberam oseu nome). Faremos uso de uma tradução paraoinglês
40
Introdução
feitaa partirdo originalem iatimapresentada de forma um tantocondensada pelo
especialistainglêsem arminianismoA.W Harrison:
1.Que Deus, por um decreto eterno e imutável em Cristoantes que o mun­
do existisse, determinou eleger, dentre araçacaída epecadora, para avida eterna,
aquelesque, atravésde Sua graça, creem em JesusCristoeperseveram na féeobe­
diência;eque,opostamente, resolveurejeitaros inconversoseos descrentesparaa
condenação eterna (Jo3.36).
2.Que, em decorrênciadisto,Cristo,o Salvadordo mundo, morreu portodos
ecadaum dos homens, de modo que Eleobteve, pela morte na cruz,reconciliação
e perdão pelo pecado para todos os homens; de talmaneira, porém, que ninguém
senão osfiéis,defato,desfrutamdestasbênçãos 0o 3-16; 1Jo2.2).
3.Que o homem não podia obtera fésalvificade simesmo ou pela forçade
seu própriolivre-arbítrio,mas seencontravadestituídodagraçade Deus, atravésde
Cristo,paraserrenovadono pensamento enavontade (Jo15.5).
4.Que estagraçafoiacausado início,desenvolvimentoeconclusãodasalva­
ção do homem; de forma que ninguém poderiacrernem perseverarna fésem esta
graça cooperante, e consequentemente todas as boas obras devem ser atribuídas
à graça de Deus em Cristo.Todavia, quanto ao modus operandi desta graça, não é
irresistível(At7.51).
5.Que osverdadeiroscristãostinhamforçasuficiente,atravésdagraçadivina,
paraenfrentar Satanás, o pecado, o mundo, sua própriacarne, ea todosvencê-los;
mas quesepornegligênciaelespudessemseapostatardaverdadeirafé,perderafeli­
cidadedeuma boaconsciênciaedeixardeteressagraça,talassuntodeveriasermais
profundamenteinvestigadode acordocom asSagradasEscrituras25.
Observe que os remonstrantes, assim como Armínio antes deles,não seposi­
cionaramem relaçãoàquestãodasegurançaeternadossantos.Ou seja,elesdeixaram
em abertoaquestãoseuma pessoaverdadeiramentesalvapoderiaou nãocairdagra­
ça.Elestambém nãoseguiramopadrãodaTULIP Emboraaformadeexpressaracren­
çacalvinistapeloacrósticodecincopontostenhasidodesenvolvidaposteriormente,a
25 TheRemonstrance, inHARRISON, Beginnings ofArminianism. p. 150-51.
41
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
negação dos trêspontos do centro [doacróstico] ébastanteclarana Remonstrância.
No entanto, contrariando a ideiapopular sobre o arminianismo (sobretudo entre os
calvinistas), nem Armínio e nem os remonstrantes negaram adepravação total;mas
afirmaram-na.ClaroqueaRemonstrâncianãoéuma declaraçãocompletadadoutrina
arminiana, mas elaaborda bem o seu cerne.Além do que eladiz,há um campo de
interpretaçãoonde osarminianos, àsvezes,discordam entresi.Entretanto,existeum
consenso arminianogeral,eéissoo que estasinopseiráexplicar,recorrendoampla­
mente ao teólogonazarenoWiley, que recorreuamplamente aArmínio,Wesleyeaos
principaisteólogosmetodistasdo séculoXIXmencionadosanteriormente.
O arminianismo ensina que todosos sereshumanos nascem moral eespiri­
tualmente depravadose incapazes de fazerqualquer coisaboa ou digna aos olhos
de Deus, sem uma infusãoespecial da graça divinapara superar asinclinaçõesdo
pecado original. "Todos os homens não apenas nascem debaixo da penalidade da
morte como conseqüênciadopecado, como também nascem com uma naturezade­
pravada, que em contrastecom o aspectolegalda pena écomumente denominado
depecadoinatoou depravaçãoherdada'’26.Em geral,oarminianismoclássicocon­
corda com aortodoxiaprotestanteque aunião da raçahumana no pecado fazcom
que todos nasçam "filhosde ira".Todavia, osarminianosacreditam que amorte de
Cristo na cruz fornece uma solução universal para a culpa do pecado herdado, de
maneira que elenão é imputado aos infantespor causa de Cristo. É assim que os
arminianos, em concordância com os anabatistas, taiscomo os menonitas, inter­
pretam aspassagensuniversalistasdo Novo Testamento, talcomo Romanos 5,que
afirmaque todosestãoincluídosdebaixo do pecado assimcomo todosestãoinclu­
ídosna redenção atravésde Cristo. Estatambém é a interpretaçãoarminiana de 1
Tm 4.10, que indica duas salvações por intermédio de Cristo: uma universal para
todasaspessoaseuma especialmenteparatodososquecreem.A crençaarminiana
na redenção geral não é salvação universal; mas a redenção universal do pecado
adâmico. Na teologiaarminiana, portanto, todas as criançasque morrem antes de
alcançarem a idade do despertamento da consciência e de pecarem efetivamente
26 WÍLEY,H.Orton.Christian Theoíogy. KansasCity,Mo.:BeaconHill,1941,v.2,p.98.
42
Introdução
(em oposição ao pecado inato) são consideradas inocentes por Deus e levadas ao
paraíso.Dentreasqueefetivamentepecam, somente asquesearrependem ecreem
têm Cristocomo Salvador.
O arminianismo considera o pecado original,em primeiro lugar,como uma
depravação moral oriunda da privação da imagem de Deus; é a perda do poder
de evitaro pecado efetivo. "Adepravação é totalna medida em que afetatodo o
ser do homem."27Isso quer dizerque todas as pessoas nascem com inclinações
alienadas, intelectoobscurecido evontade corrompida28.Há tanto uma cura uni­
versalquanto uma solução mais específicapara estacondição; amorte expiatória
de Cristo na cruz removeu a penalidade do pecado original e liberou um novo
impulso na humanidade que começa a reverter a depravação com a qual todos
vem ao mundo. Cristo é o novo Adão (Rm 5) que é o novo líderda raça; elenão
veio unicamente para salvaralguns, mas para fornecerum recomeço para todos.
Uma medida de graça preveniente se estende por meio de Cristo a toda pessoa
que nasce (Jo 1).
Deste modo, a verdadeira posição arminiana admite a plena
penalidadedopecado, econsequentementenão minimizaaexcessi­
va pecaminosidade do pecado enem menospreza aobra expiatória
denosso SenhorJesusCristo.Ela,todavia,aadmite,não ao negara
plena força da penalidade, como fazem os semipelagianos, mas ao
magnificarasuficiênciadaexpiaçãoeaconseqüentetransmissãoda
graçapreveniente a todosos homens por intermédioda autoridade
do últimoAdão29.
A autoridadede Cristotem amesma extensão que a deAdão, mas aspessoas
devem aceitar(aonãoresistir)estagraçadeCristono intuitodesebeneficiaremplena­
mente dela.
27 Ibid.p.128.
28 Ibid.p.129.Nestacrença, WileyseguiuJohnFletcher.
29 Ibid.p.132-3.
43
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
O homem é condenado unicamente por suas próprias trans­
gressões. O dom gratuitoremoveu a condenação originaleabunda
para muitas ofensas. O homem setorna responsável peladeprava­
ção de seu próprio coração somente quando rejeitaa solução para
ela, e conscientemente ratifica-a como sua própria, com todas as
suasconseqüênciaspenais30.
A depravação herdada inclui a escravidão da vontade ao pecado, que só é
superada pelagraçaprevenientesobrenatural. Estagraça começa a atuarem todos
por intermédio do sacrifício de Cristo (eo Espírito Santo enviado ao mundo por
Cristo),mas que ganha poder especialatravésda pregação do evangelho. Wiley,se­
guindo Pope eoutrosteólogosarminianos, chama a condiçãohumana -em virtude
dopecadoherdado-de"impotênciaparaobem", erejeitaqualquerpossibilidadede
bondade espiritualindependentedagraçaespecialprovenientedeCristo.
PorqueDeuséamor (Jo3.16; 1Jo4.8),enãoquerqueninguémpereça,mas que
todos cheguem ao arrependimento (1Tm 2.4;2 Pe3.9),amorte expiatóriade Cristo
é universal; alguns de seus benefíciossão automaticamente estendidos a todos (ex.
a libertaçãoda condenação do pecado adâmico) e todos os seusbenefíciossão para
todosqueosaceitem (ex.operdãodospecadosefetivoseaimputaçãoderetidão).
A expiação éuniversal.Istonão quer dizerque todaahuma­
nidadeserásalvaincondicionalmente,mas queaofertasacrificialde
Cristo,atécertaextensão,atendeuàsreivindicaçõesda leidivina,de
modo a tornara salvação possível a todos.A redenção, portanto, é
universalou geralno sentidoprovisional,mas especialou condicio­
nalem suaaplicaçãoao indivíduo31.
Só serãosalvos,entretanto,osqueforempredestinadosporDeusparaasalvação
eterna.Estessãooseleitos.Quem estáincluídonoseleitos?TodososqueDeusanteviuque
30 Ibid.p.135.
31 Ibid.p.295.
44
Introdução
aceitarãosuaofertadesalvaçãoporintermédiodeCristoaonãoresistiremàgraçaquelhes
foiestendidamedianteacruzeoevangelho.Destemodo,apredestinaçãoécondicionalem
vezdeincondicional;apresciênciaeletivadeDeusécausadapelafédoseleitos.
Em oposição a isto [o esquema calvinista], o arminianismo
sustentaqueapredestinaçãoéo propósitograciosodeDeus desal­
vartodaahumanidade daruínacompleta. Não éum atoarbitrárioe
indiscriminadode Deus quevisagarantirasalvaçãoacertonúmero
de pessoas ea ninguém mais. Incluiprovisionalmente todos osho­
mens eestácondicionadasomente pelaféem Cristo32.
O EspíritoSanto opera nos corações e mentes de todas as pessoas atécerto
ponto, dá-lhesalguma consciênciadas expectativaseprovisãode Deus, easchama
aoarrependimentoeàfé.Destemodo, "aPalavradeDeus é,em certosentido,prega­
da universalmente, mesmo quando não registradaem uma linguagem escrita". "Os
queouvem aproclamaçãoeaceitamochamado sãoconhecidosnasEscriturascomo
oseleitos."33Os réprobossãoos queresistemaochamado deDeus.
A graça preveniente é uma doutrina arminiana essencial, que os calvinistas
também acreditam, mas osarminianosinterpretam-nadiferentemente.A graçapre­
veniente é simplesmente a graça de Deus convincente, convidativa, iluminadora e
capacitadora, que antecede a conversão e torna o arrependimento e afépossíveis.
Os calvinistasinterpretam-nacomo irresistíveleeficaz;apessoa na qualestagraça
opera iráse arrepender e crer para salvação. Os arminianos interpretam-na como
resistível; as pessoas sempre são capazes de resistirà graça de Deus, conforme a
Escrituranosadverte (At7.51).Mas sem agraçaprevenienteeiasinevitáveleimpla­
cavelmente resistirãoàvontade de Deus em virtudede sua escravidãoao pecado.
A graçapreveniente,conformeotermoimplica,éaquelagraça
que "antecede" ou prepara a alma para a entradano estado inicial
32 Ibid.p.337.
33 Ibid.pp.341,343.
45
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
de salvação. É a graça preparatória do Espírito Santo exercida no
homem abandonado em pecado. No que dizrespeitoàculpa, pode
ser considerada misericórdia; em relação à impotência, é o poder
capacitador. Pode ser definida, portanto, como a manifestação da
influênciadivinaque precedeavidaregeneradaplena34.
Então, em certo sentido, os arminianos, como os calvinistas, creem que a
regeneração precede a conversão; o arrependimento e a fésão somente possíveis
em razãodo EspíritodeDeus exercerdomínio sobreavelhanatureza.A pessoaque
recebeaplena intensidadeda graçapreveniente (ex.atravésda pregaçãoda Palavra
eachamada internacorrespondente de Deus) não mais estámortaem delitosepe­
cados. Entretanto, talpessoa aindanão estáplenamente regenerada. A ponte entre
a regeneração parcial pela graça preveniente e a plena regeneração pelo Espírito
Santo éa conversão, que incluiarrependimento e fé.Estes são possibilitadospela
graçadivina,mas são livresrespostas da partedo indivíduo. "O Espíritooperacom
o concurso humano e por meio dele. "As Escrituras representam o Espírito como
operando [naconversão] mediante eem cooperaçãocom o homem. A graçadivina,
todavia,sempre recebeaprimazia"35.
A ênfasena antecedência eprimazia da graça forma o ponto pacíficoentreo
arminianismoeo calvinismo.É istoquetornaosinergismoarminiano"evangélico."
Os arminianos levam extremamente a sérioa ênfase neotestamentária na salvação
como um dom dagraçaquenão pode sermerecido (Ef2.8).Entretanto,asteologias
arminianas e calvinistas - como todos os sinergismos e monergismos - divergem
acerca do papel que os humanos desempenham na salvação. Conforme Wiley ob­
serva, a graça preveniente não interfere na liberdade da vontade. Ela não verga a
vontade ou torna certaaresposta da vontade. Apenas capacitaavontade a fazera
escolha livrequer sejapara cooperar quer sejapara resistiràgraça.A cooperação
não contribuiparaasalvação, como se Deus fizesseuma parteeos humanos aou­
tra.Antes, a cooperação com a graça na teologiaarminiana é simplesmente a não
34 Ibid.p.346.
35 Ibid.p.355.
46
Introdução
resistênciaàgraça. É simplesmente adecisãodepermitirque agraçafaçasua obra
ao renunciara todasas tentativasde autojustificaçãoeautopurificaçãoeadmitindo
quesomente Cristopodesalvar.Todavia, Deus não toma estadecisãopeloindivíduo;
éuma decisãoque osindivíduos, sob o impulso da graçapreveniente, devem tomar
porsimesmos.
O arminianismo defende que asalvaçãoéinteiramenteda graça-todo movi­
mento da alma em direçãoaDeus éiniciadopelagraçadivina- mas osarminianos
também reconhecem que a cooperação da vontade humana é indispensável, pois,
em últimainstância,o agentelivredecideseagraçapropostaéaceitaou rejeitada36.
O arminianismo clássico ensina que a predestinação é simplesmente a de­
terminação (decreto) de Deus para salvar por intermédio de Cristo todos os que
livremente respondem à oferta divina da graça livreao se arrependerem do peca­
do e crerem (confiarem) em Cristo. A predestinação inclui a presciência de Deus
daqueles que assim o farão. Ela não incluiuma seleção de certas pessoas para a
salvação, muito menos paraacondenação. Muitos arminianosfazem uma distinção
entreeleiçãoepredestinação.A eleiçãoécorporativa- Deus determinou que Cristo
fosseoSalvadordo grupo de pessoas que searrepende ecrê (Ef1);apredestinação
éindividual- apresciênciade Deus dos que searrependerão ecrerâo (Rm 8.29).O
arminianismoclássicotambém ensinaqueaspessoasque respondempositivamente
à graça de Deus ao não resistira ela (que envolve arrependimento e confiança em
Cristo)sãonascidasde novo peloEspíritodeDeus (queéaregeneraçãoplena),per­
doadas de todos os seus pecados e consideradas por Deus como retasem virtude
da morte expiatóriade Cristopor elas.Nada distoestáfundamentado em qualquer
mérito humano; é uma dádiva perfeita, não imposta, mas livremente recebida. "O
únicofundamento dajustificação...éaobrapropiciatóriadeCristorecebidapelafé"
e"o único atodejustificação,quandovistonegativamente, éoperdão dos pecados;
quandovistopositivamente, éaaceitaçãodo crentecomo justo[porDeus]"37.A úni­
cadiferençasubstancialentreo arminianismo clássicoeo calvinismonestadoutri­
na, então, éo papel do indivíduoem receber a.graçada regeneração ejustificação.
36 Ibid.p.356.
37 Ibid.p.395,393.
47
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
Conforme Wileyafirma,asalvação "éum trabalhorealizadonas almas dos homens
pela operação eficazdo EspíritoSanto. O Espírito Santo exerce seu poder regene-
radorapenas em determinadas condições, ou seja,sob as condições de arrependi­
mento e íé"ia. Portanto, asalvação é condicional e não incondicional; os humanos
desempenham um papel enão sãopassivos ou controladosporalguma força,quer
sejainternaou externa.
É neste ponto que muitos críticos monergistas do arminianismo colocam o
dedo em risteedeclaram que a teologiaarminiana éum sistemade salvaçãopelas
obras, ou, no mínimo, algo inferiorà fortedoutrina pauíina da salvação como um
dom gratuito.Seo dom deveserlivrementeaceito,elesasseveram,entãoeleémere­
cido.Porseralivreaceitaçãouma condiçãosine qua non, entãoodom não égratui­
to.Os arminianos simplesmente não conseguem entenderessaalegaçãoesua acu­
saçãoimplícita.Como veremosem váriospontosao longodestelivro,osarminianos
sempre afirmaram enfaticamente que a salvação é um dom gratuito; até mesmo o
arrependimento eafésão apenas causas instrumentaisda salvaçãoeimpossíveisà
partedeuma operaçãointernadagraça!A únicacausaeficientedasalvaçãoéagraça
de Deus por intermédio deJesusCristoe do EspíritoSanto.A lógicado argumento
queum dom livrementerecebido (nosentidodeque poderiaserrejeitado)não pode
ser um dom gratuito deixa a mente arminiana perplexa. Mas a principal razão de
os arminianos rejeitarem o entendimento calvinista da salvação monergística, na
qual Deus incondicionalmente elege alguns para salvação e inclinasuas vontades
irresistivelmente,équeeladenigretantoo caráterde Deus quantoanaturezadeum
relacionamentopessoal.Se Deus salvaincondicionaleirresistivelmente,porque Ele
nãosalvaatodos?Apelarparamistérionestaalturanão satisfazamente arminiana,
pois o caráterde Deus como amor que revelaa simesmo em misericórdiaestá em
jogo.Se oshomens escolhidospor Deus não podem resistiràofertade um relacio­
namento corretocom Deus,que tipoderelacionamentoéesse?Uma relaçãopessoal
podeserirresistível?Tãispredestinadossão,defato,pessoasem um relacionamento
assim?Estassãoquestõesfundamentaisquelevamosarminianos-assimcomo ou­
trossinergistas-aquestionaremtodaformademonergismo, incluindoocalvinismo
38 Ibid.p.419.
48
introdução
rígido.Não setrata,de maneira nenhuma, de uma visãohumanistado livre-arbítrio
autônomo, como seos arminianosestivessemapaixonadospelalivreagênciaporsi
só.QualquerleituraimparcialdeArmínio,Wesley,ou qualqueroutroarminianoclás­
sico,revelaráque não setratadisso.Pelocontrário, aquestãoéo caráterde Deus e
anaturezado relacionamentopessoal.
Eu pontuei anteriormente que não apenas a predestinação, mas também a
providênciaforneceum pontodediferençaentreoarminianismoeocalvinismo.Em
suma, osarminianoscreemna soberaniaenaprovidênciadivinas,mas interpretam-
-nas diferentemente dos calvinistas rígidos. Os arminianos consideram que Deus
limita-sea simesmo em relação à históriahumana. Portanto, muito do que acon­
tecena históriaécontrárioàperfeitavontade antecedente de Deus. Os arminianos
afirmam que Deus estáno controleda naturezae da história,mas negam que Deus
controlatodo acontecimento.Osarminianosnegam queDeus "escondeuma expres­
são de contentamento" por trásdos horroresdahistória.O diabo não éo "diabode
Deus",ou mesmo um instrumentodaautoglorificaçãoprovidencialdeDeus.A Queda
não foipreordenada por Deus para algum propósito secreto. Os arminianos clássi­
cosacreditamque Deus conhece todasascoisasdeantemão, incluindotodoevento
do mal, mas rejeitamqualquernoção de que Deus fornece"impulsos secretos" que
controlam até mesmo as ações de criaturasmalignas (angélicas ou humanas)39.O
governodeDeus éabrangente,mas porqueDeusselimitaparapermitiralivreagên­
cia humana (em prol de relacionamentos genuínos que não são manipulados ou
controlados),eleéexercidoem diferentesmodos.TUdo oqueaconteceé,nomínimo,
39 Calvino,demaneirabastanteconhecida,atribuiuatémesmo osatosmalévolose
pecaminososdosímpiosaosimpulsossecretosdeDeus.Uma leituracuidadosadolivro1,
cap. 18-“Deus detalmodo usaasobrasdosímpioseadisposiçãolhesvergaaexecutar
seusjuízos,queEleprópriopermanecelimpodetodaamácula”-dasInstitutas da Religião
Cristã revelaisso.Nela,dentreoutrascoisas, Calvino dizque “uma vez sedizque avon­
tadedeDeus éacausade todasascoisas,aprovidênciaéestatuídacomo moderatrizem
todososplanoseaçõesdoshomens, desortequenãoapenascomprovesuaeficiêncianos
eleitos,que são regidospeloEspíritoSanto,mas aindaobrigueosréprobosàobediência”
(Calvino,João.AsInstitutas - edição clássica. 2aed.4vols.Trad,WaldyrCarvalho Luz.São
Paulo:EditoraCulturaCristã,2006,p.232-3).Osarminianosacreditamqueocalvinismorí­
gidonãoconseguedesvencilhar-sedetornarDeusoautordopecadoedomal,e,portanto,
contrariandooseucaráter.
49
permitidopor Deus, mas nem tudoo que acontece épositivamentedesejado ou até
mesmo tornadocertoporDeus. Portanto,o sinergismoentrana doutrinaarminiana
daprovidênciaassimcomo nadapredestinação.Deusconhecedeantemão,mas não
agesozinhonahistória.A históriaéresultantetantodaagênciadivinaquantodahu­
mana. (Também não devemosnosesquecerdasagênciasangélicasedemoníacas!)O
pecado, em particular,não édesejadoenem governadoporDeus, excetono sentido
que Deus opermiteeolimita.Maisimportanteainda, Deus não predestinaou torna
certoo pecado. Nenhuma expressão concisa do entendimento arminiano da provi­
dênciaémelhordoqueafornecidapeloteólogoreformadorevisionistaAdrioKõnig:
Lamentavelmente existem muitas coisas que acontecem na
terra que não são a vontade de Deus (Lc 7.30 e todos os demais
pecados mencionados na Bíblia), que são contra a sua vontade, e
que são oriundos do pecado incompreensível esem sentidoem que
nascemos, no qual vivem a maior parte dos homens, e no qual Is­
rael persistiu, e contra o qual até "os mais consagrados" (Catecis­
mo de Heidelbergp. 114) lutaram todos os seus dias (Davi, Pedro).
Deus tem apenas um curso deação parao pecado, que éproversua
expiação, por tê-lo crucificado e sepultado totalmente com Cristo.
Tentar interpretartodas estas coisaspor intermédio do conceito de
um plano divino criadificuldades intoleráveis, gerando mais exce­
ções do que regras.Mas amais importanteobjeção équeaídeiade
um plano é contrária à mensagem bíblica, uma vez que o próprio
Deus setornadespropositado,poisseaquilocontrao qualelelutou
, com poder, e pelo qual ele sacrificou seu unigênito, foi, contudo,
de alguma forma parteintegrantedo seu conselho eterno. Então, é
melhor partirda premissa que Deus tinhacertoobjetivoem mente
(aaliança, ou o reino de Deus, ou a nova Terra- que são a mesma
coisavistadeângulos diferentes),que eleiráalcançarconosco, sem
nós, ou mesmo contranós40.
40 KÓNIG, Adrio.HereAm HA Believer’s Reflection on God. GrandRapids:Eerdmans,
Teologia Arminiana | Mitos E Realidades
50
Introdução
Mitos e Equívocos Em Relação ao Arminianismo
O concisoesboçodateologiaarminianaapresentadanestaintroduçãoéapenas
o começo. Bastacontrastaroverdadeiroarminiano evangélicocom ascaricaturasde
seuscríticos.E asdistorçõeseinformações incorretasque sãoditassobreo arminia­
nismo naliteraturateológicanão são nada menos que apavorantes.Os críticosrefor­
mados reiteradamente descrevem enganosamente Armínio e o arminianismo como
semipelagianos. Por exemplo, a primeira edição de Chrístian Doctrine de ShirleyC.
Guthrie,um livrodidáticoamplamenteutilizadopelateologiareformada,apresentava
Armíniocomo um exemplo desemipelagianismo.Após assígnificantesdiferençasen­
treateologiadeArmínioeosemipelagianismoteremsidoenfatizadasporpelomenos
um arminiano, uma revisãodo texto de Guthrie, no ano de 1994, retirouo nome de
Armínio.Mas mesmo naediçãorevista,ocontextoeanotaderodapé tratandodo Sí-
nodo deDortindicamoarminianismocomo omodelo históricodesemipelagianismo.
Vintecincoanos de danos àreputaçãodeArmínio não foram completamente desfei­
tospelarevisão.O livroThe Five Points o f Calvinism também apresentamuitosexem­
plosdeimagensdistorcidasdateologiaarminiana. Edwin H.Palmer,pastoreteólogo
calvinista, explicitamente equipara o arminianismo ao semipelagianismo, ignorando
por completo a doutrina arminiana da graça preveniente. Eleaté mesmo chegou ao
cúmulo de declarar que "o arminiano nega a soberania de Deus". Ele acrescentou
insultoà injúriaao sugerir,do inícioao fim,que o arminianismo tem suas bases no
racionalismoem vezde na humildesubmissão àPalavrade Deus41.Qualquerum que
tivercontatocom uma literaturaarminianaevangélicaimediatamentevêqueosarmi­
nianossãotãocomprometidoscom aautoridadedasEscriturasquantoqualqueroutro
protestante42.Outrosexemplosdedeturpaçõesdoarminianismoabundamnaliteratu-
1982.p.198^9.
41 PALMER, EdwinH.The Five Points of Calvinism. GrandRapids:Baker,1972.p.59,
85, 107.
42 Algunscalvinistasacusaram Wesleydedesertardo principiosolascriptura - “so­
menteaEscritura”-como anormaparatodadoutrina.Talacusaçãoéoriundadadescrição
deAlbertOutíer,teólogometodista,acercado método teológicodeWesieycomo “quadri-
lateral”,sendo o método composto de Escritura, tradição, razão e experiência. Todavia,
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  • 1. ROGER E. OLSON EOLOGIA ARMINIANA MITOS E REALIDADES
  • 3. ROGER E . Ol s o n TEOLOGIA ARMINIANA MITOS E REALIDADES Digitalizado por: jolosa
  • 4. Sumário Prefácio.................................................................................................................................07 Introdução:Um panoramado arminianismo MITO 1:..................................................................................................................................56 A TeologiaArminianaéoOpostodaTeologiaCalvinista/Reformada JacóArmínio ea maioria de seus seguidores fiéisestão inseridos dentro do amplo entendimento da tradição reformada; os pontos comuns entreo arminianismo e o calvinismosãosignificantes. MITO 2:.................................................................................................................................. 77 Uma MescladeCalvinismoeArminianismoéPossível Apesardos pontoscomuns, o calvinismoeo arminianismosãosistemasdeteologia cristãincompatíveis;nãohá um meio termoestávelentreelesnasquestõesdetermi­ nantesparaambos. MITO 3:...............................................................................................................................100 O Arminianismo NãoéUma Opção EvangélicaOrtodoxa A teologia arminiana clássicaafirmaenfaticamente os pilaresda ortodoxia cristãe promoveossímbolosdafécristã;não éariananem liberal. MITO 4:........................ 124 O CernedoArminianismoéaCrençano Livre-arbítrio O verdadeiroâmago da teologiaarminianaéocaráterjustoeamáveldeDeus;oprin­ cípioessencialdoarminianismoéavontadeuniversaldeDeusparaasalvação. MITO 5:.............................................................................................................................. 148 A TeologiaArminianaNegaaSoberaniadeDeus O arminianismo clássicointerpretaasoberaniaeaprovidênciade Deus de maneira diferentedocalvinismo,mas sem negá-lasdemaneiraalguma; Deusestánocontrole detudosem controlartudo.
  • 5. MITO 6:................................................................................................................................175 O Arminianismoéuma TeologiaCentradano Homem Uma antropologiaotimistaécontráriaaoverdadeiroarminianismo,queéplenamente centradoem Deus.A teologiaarminianaconfessaadepravaçãohumana, incluindoa escravidãodavontade. MITO 7:............................................................................................................................... 204 O ArminianismoNãoéUma TeologiadaGraça O fundamento essencialdo pensamento do arminianismo clássicoéa graça preve- niente.TodaasalvaçãoéabsolutaeinteiramentedagraçadeDeus. MITO 8:............................................................................................................................... 232 O ArminianismoNão acreditana Predestinação ' APredestinaçãoéum conceitobíblico;oarminianismoclássicoainterpretademanei­ radiferentedoscalvinistas,mas semnegá-la.ÉodecretosoberanodeDeusem eleger crentesem JesusCristoeincluiapresciênciadeDeus dafédestescrentes. MITO 9 :............................................................................................................................... 259 ATeologiaArminianaNegaaJustificaçãopelaGraçaSomenteAtravésda FéSomente A teologiaarminianaclássicaéuma teologiareformada. Elaabraçaaimputaçãodivi­ nadejustiçapelagraçade Deus pormeio da fésomente emantém adistinçãoentre justificaçãoesantificação. MITO 10:....................................................................................................................286 TodososArminianosAcreditamnaTeoriaGovernamental daExpiação Nãoexisteuma doutrinaarminianadaexpiaçãodeCristo.Muitosarminianosaceitam ateoriada substituiçãopenalde maneira enérgica, ao passo que outrospreferem a teoriagovernamental. CONCLUSÃO: ....................................................................................................................315 RegrasdeEngajamento entreCalvinistaseArminianosEvangélicos ÍNDICE DE N O M E ..............................................................................................................321 ÍNDICE DE ASSUNTO 325
  • 7. SEMPRE FUI ARMINIANO. Fui criadoem um larde um pregador pentecostal eminha famíliaeradecididaeorgulhosamente arminiana. Não me recordo quando ouvio termo pelaprimeiravez.Mas eleprimeiramentepenetrouem meu consciente quando um lídercarismático bastante conhecido de origem armênia alcançou des­ taque. Meus pais e algumas de minhas tiase tios (missionários, pastores e líderes denomínacionais) fizeramadistinçãoentreArmênio e Arminiano}. Entretanto,épro­ vávelqueeu tenhaouvidootermo mesmo antesdisso,uma vezque algunsdemeus parentes eram membros fiéisdas Igrejas Cristãs Reformadas e meus pais e outros parentes, na ausência dos meus tios, discutiam o calvinismo deles e o contrasta­ vam com nosso arminianismo. Lembro de estar na sala de uma aula de teologia na faculdade e o professor nos lembrar que éramos arminianos, ao qual um aluno resmungou em voz alta:"Quem gostaria de serda Armênia?" Em uma aulanós le- mos os livrosLife in the Son (Vidano Filho) eElect in the Son (Eleitosno Filho)do teólogo arminiano Robert Shank (ambos da EditoraBethany House, 1989). Eu tive dificuldadeem entendê-los, eacredito que isso se deu, em partes, porque a teolo­ giado autor era da igrejade Cristo. Então adquirioutros livrosacerca da teologia arminianana tentativadedescobrir"nossa" teologia. Um livrofoioFouudatious o f Wesleyan Arminian Theology (Fundamentos da Teologia Arminiana Wesleyana) do 1 Em inglêsas palavras armênio e arminiano são muito parecidas, tendo apenas uma vogaldediferençaentreelas,eporessemotivo muitosconfundem seussignificados. (N.T.)
  • 8. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades teólogonazareno MildredBangs-Wynkoop (Beacon HillPress,2000).Outro foio In­ troduçãoáTeologiaCristãresumodeum volume doteólogonazarenoH.OrtonWiley (Casa Nazarena de Publicações, 1990). Por fim, senti que havia adquirido uma boa compreensão do assunto eo deixei de lado. Afinal de contas, todos ao meu redor eram arminianos (querelessoubessem ou não) e não havia nenhuma necessidade específicapara defenderestepontodevista. As coisas mudaram quando eu me matriculei em um seminário evangélico batista e comecei a ouvir o termo Arminiano sendo usado de maneira pejorativa. Em meus estudosno seminário,minha própriateologiaeraequiparadaàheresiade semipelagianismo. Agoraeuprecisavadescobriro queerasemipelagianismo.Um de meus professoreserao ilustrecalvinistaevangélicoJames Montgomerry Boice, que na época erao pastor da Décima IgrejaPresbiteriana de Filadélfia. Discutimos um pouco sobrecalvinismoearminianismo, mas percebi que elejáestava decididoque ateologiademinha igrejaeraherética.Boiceme encorajou aaprofundar no estudo da questão e também a assinar a revistaEternity (Eternidade), que era a principal alternativaevangélicaà revistaChristianity Today (CristianismoHoje) na década de setenta.Eu eraum ávidoleitordasduaspublicações.Descobriuma ironiafascinante nestas duas revistasevangélicas. Suas políticaseditoriaisextraoficiais, eram clara­ mente orientadaspelateologiareformada, amaioriados teólogosque escreviapara elasera calvinista.Mas, poroutrolado, elastambém incluíamvozes arminianas de vez em quando etentavam serconciliadorasacerca das diferençasteológicasentre osevangélicos. Eu me sentiaafirmado-e,dealguma forma, marginalizado. Algum tempo depois, Clark Pinnock, um de meus mentores teológicos àdis­ tância (posteriormente nós nos tornamos amigos), mudou de maneirabastante pú­ blica da teologia calvinista para o arminianismo e fez dentro do meio evangélico uma nova sériede discussões acaloradas no velho debate calvinismoversus armi- nianismo. Na época eu almejava serum teólogoevangélicoeme deiconta que mi­ nhas opçõesestavam, decertaforma, limitadaspormeu arminianismo.A reaçãodos calvinistasevangélicosà mudança de mentalidade de Pinnock foirápidaeincisivae aumentou àmedida que eleeditou doisvolumes de ensaios defendendo a teologia do arminianismo clássico. Lios doisvolumes com grande interesse, sem encontrar 10
  • 9. Prefácio nestes ensaios ou em qualquer outro lugaruma exposição diretade um volume da teologia do arminianismo clássico em todas as suas dimensões. Durante todas as décadas de 1980 e 1990, ao passo que minha própriacarreiraevoluía, descobrique meu mundo evangélico estava sendo afetado por aquilo que um amigo reformado chamou de "vingança dos calvinistas''. Diversos autores evangélicos e publicações começaram a atacarmuito causticamente a teologiaarminiana, ecom informações incorretaseinterpretaçõeserrôneas.Ouvieliminha própriaformade evangelicalis- mo serchamada de "humanista" e "mais católicado que protestante". Nós, minha famíliaeigrejasempre nosconsideramos protestantes! A ideiapara este livrofoidesenvolvida quando lia edição de Maio-Junho de 1992 de uma empolgante nova revistachamada Modern Reformatiort (Reforma Mo­ derna).Elaeratotalmentededicadaàcríticado arminianismoapartirdaperspectiva reformada. Nelaeu encontreio que considereiserem sériasrepresentaçõesequivo­ cadas eosretratosmais mesquinhos de minha própriaherança teológica. Aproximadamente nesta mesma época um aluno marcou uma reunião para conversar comigo. Em meu escritórioeleanunciou da maneira mais sincera: "Pro­ fessor Olson, sinto em lhe dizer, mas o senhor não é cristão". Isto aconteceu no contextodeuma faculdadeevangélicadeartesliberaisquenãopossuíauma posição confessional em relação ao arminianismo ou calvinismo. Na verdade, adenomina­ ção que controlava a faculdade e seminário sempre havia incluídocalvinistase ar­ minianos em seu meio. Pergunteiao aluno o porquê, e eleme respondeu: "Porque o meu pastordizque arminianos não são cristãos”.O pastordeleeraum calvinista bastante conhecido que mais tarde distanciou-se desta declaração. Eventos seme­ lhantes dentro de meu próprio mundo evangélico deixaram claros para mim que algoestavaem marcha; oque meu amigo reformadosarcasticamentechamou de"a vingança dos calvinistas"estavalevandoauma difundidaimpressãoentreevangéli­ cos que oarminianismo,no seumelhor,erauma classeinferiordeevangélicose,no seupior,uma claraheresia.Decidinão esmorecersobapressão,mas levantaravoz em prolde uma herançaevangélicaquase tãoantigaquanto o própriocalvinismoe tãoparticipantedomovimento históricoevangélicoquanto ocalvinismo.Escrevium artigoparaaChrístianity Today (CristianismoHoje)que recebeuo infeliztítulo"Não 11
  • 10. Me Odeie Porque Sou Arminiano". Senti que o títuioretratavafalsamente o artigo e a mim mesmo como excessivamente defensivos.Jamais pensei que os críticosdo arminianismonosodiassem!Mas estavadescobrindoquealgunslíderesevangélicos estavam cadavezmais interpretandomal o arminianismo clássico.Um rotulou-sea simesmo como "arminiano em recuperação”,enquanto deixava seu próprio histó­ ricode [movimento de] Santidade (Wesleyano) emudava para a teologiareformada sob a influênciade um importante teólogocalvinista. Um dos autores que eu havia lido com grande apreço na revistaEíernity (Eternidade) classificouos arminianos como "minimamente cristãos" em um de seus livros na década de 90. Um pastor em minha denominação batista começou a ensinar que o arminianismo estava "à beiradaheresia"e"profundamenteequivocado". Um colegaque freqüentavaaigre­ jadaquelepastorme perguntou se eu jáhavia, em algum momento, considerado a possibilidadedequeomeu arminianismoeraaprovadehumanismolatenteem meu raciocínio. Noteique muitos dos meus amigos arminianos estavam abandonando a nomenclatura em favorde "calminiano" ou "moderadamente reformado" no intuito deevitarconflitosesuspeitasque pudessem serobstáculosàssuascarreirasna do­ cênciaena áreaeditorial. Estelivronasceu deum ardentedesejode limparobom nome arminiano das falsasacusações e denúncias de heresiaou heterodoxia. Muito do que é ditoacer­ ca do arminianismo dentro dos círculosevangélicos, incluindocongregações locais com fortesvozes calvinistas,ésimplesmente falso.Issovale apena serenfatizado. Espero que estelivronão chegue aos leitorescomo excessivamente defensivo; pois não desejoserdefensivo;muito menos agressivo.Quero esclareceraconfusãoacer­ cadateologiaarminianaeresponderaosprincipaismitoseequívocosem relaçãoao arminianismoqueestãodisseminadosno evangelicalismohoje.Creioque,aindaque a maioria das pessoas que se intitulam arminianas sejam, de fato, semipelagianas (queseráexplicadona introdução), talfatonão tornao arminianismoem semipela- giano. (Oscalvinistasgostariamque ocalvinismofossedefinidoeentendidoapartir dascrençasmalinformadasdealgunsleigosreformados?)Acreditoque devemosnos voltarpara ahistóriapara corrigiras definiçõesenão permitirautilizaçãopopular para redefiniros bons termos teológicos. Ireime voltarpara os principaisteólogos Teologia Arminiana j Mitos E Realidades 12
  • 11. Prefácio arminianos do passado e presente para definiro verdadeiro arminianismo. Minha esperançqeoração éque os leitoresabordem esteprojetocom uma mente abertae quepossamguiarsuasopiniõesacercadoarminianismopelasprovas.Anseioqueaté mesmo oscalvinistasmais conservadoresoponentesdateologiaarminianaestejam, no mínimo, maispropensos areconsideraro que osverdadeirosarminianos acredi­ tam àluzdasprovasreunidasaqui. A Natureza Deste Livro Algunscapítulosdestelivrorepetem algumas informaçõeseargumentos en­ contradosnos capítulosanteriores,poisacreditoque nem todo leitorirálero livro do inícioao fimde forma contínua. Se estarepetiçãoocasional irritaraqueles que lerem o livrointeiro, a estes eu peço desculpas por antecedência. Meu objetivo é fazerdestelivroomaisacessívelefácildelerpossível,apesardoassunto, àsvezes, apresentar-se de forma muito complexa. Alguns críticoseruditospodem se sentir repelidosporisto.Meu objetivo,entretanto,éalcançaro máximo deleitorespossí­ vel,demaneira queolivronão éescrito,em primeirolugar,paraespecialistas(em­ boraeuespereque estessebeneficiemegostem da leitura).Opteipropositalmente por não seguir assuntos paralelos que se distanciem por demais das principais discussões deste livro.Os leitores que esperam mais discussão de conhecimento médio ou teísmo aberto (vercap. 8),por exemplo, ficarãoindubitavelmente desa­ pontados, mas estelivrotem um propósitoprincipal:explicarateologiaarminiana clássica como ela, de fato, é. E eu intencionalmente mantive o assunto relativa­ mente sucintono intuitode torná-loacessívelaum públicomaior. Este projeto foirealizado com a ajuda de meus amigos econhecidos. Quero agradecer a meus muitos amigos calvinistaspor suas contribuiçõesatravésde dis­ cussões pore-maileporconversas faceaface.Também agradeço aos meus amigos arminianos por sua ajuda. Durante aúltima década eu participeide muitas discus­ sões e debates enérgicos e,por vezes, acalorados com proponentes de ambos os campos dentro do movimento teológico. Eles me indicaram boas fontes e me for­ neceram seusinsights e opiniõeseruditas. Eu agradeço especialmente aWílliamG. 13
  • 12. Teologia Arminiana | Mitos E Reaiídades Witt, que graciosamente correspondeu-se comigo acerca de sua pesquisa de PhD. na Universidade deNotre Dame; sua dissertaçãome foium recursoinestimável. Ele éinocente de quaisquererrosque cometi. Também agradeço àadministração eaos membros do conselho da Universidade Baylor, ao reitorPaul Powell eao pró-reitor DavidGarlanddo SeminárioTeológicoGeorgeW Tfuett[SemináriodaBaylor]porme proporcionaremverõessabáticoseuma licençadepesquisa.Além domais,agradeço aKeithJohnson eaKyleSteinhauserporcriaremosíndicesdenome edeassunto. Estelivroédedicado atrêsteólogosque faleceramenquanto eu pesquisavae escreviaestelivro.Cadaum contribuiucom estaobradeuma maneirabastantesubs­ tancialoferecendoinsights ecríticas.Elessãoosmeus colegasdeteologiaA.J.(Chip) Conyers;meu primeiroprofessordeteologia,RonaldG.Krantz;emeu queridoamigo ecolaboradorStanleyJ.Grenz. Elesfaleceram com alguns meses de diferençaeme deixaramempobrecidos porsuasausências.Mas apresençadelesme enriqueceuem vidaeaeleseumaisque reconhecidamente dedicoestetomo. 14
  • 14. ESTE LIVRO É PARADOIS TIPOS DE PESSOAS: (1)aquelesque não conhecem a teologiaarminiana, mas que gostariam de conhecê-la, e (2)aqueles que pensam que sabem acerca do arminianismo, mas que, de fato,não sabem. Muitas pessoas estãoincluídasnestasduascategorias.Todosestudantesdeteologia-leiga,pastoral eprofissional-deveriamconheceracercadateologiaarminiana,poiselaexerceuma tremenda influência na teologia de muitas denominações protestantes. Alguns de vocês que estãodecidindoseirãoleresselivrosãoarminianos, mas não o sabem. O termoarminiano não étãocomumente utilizadono séculoXXL A recenteonda deinteresseno calvinismotem produzidobastanteconfusão acerca do arminianismo; muitos mitos eequívocos orbitam o arminianismo, pois tantoos seuscríticos (sobretudocristãosreformados) quanto muitos de seus de­ fensoresoentendem mal. Em virtudeda onda deinteresseno calvinismoena teo­ logiareformada, cristãosdeambos osladosdaquestãoquerem sabermaisacerca da controvérsia entre aqueles que abraçam acrença na predestinação absoluta e incondicionaleaquelesque não aabraçam. Os arminianosafirmam apredestina­ ção de outra sorte;afirmam o livre-arbítrioeapredestinaçãocondicional. Este livroanseiapreencher um hiatona literaturateológica.Até onde sei,não existenenhum livroimpressoem inglêsque sejadedicadoexclusivamente paraexpli­ caro arminianismo como um sistema de teologia.Alguns dos críticosmais severos do arminianismo (que são numerosos entre os calvinistasevangélicos) com certeza consideram este hiato como algo bom. Entretanto, após meu artigo "Não Me Odeie
  • 15. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades PorqueSouArminiano"aparecernaChrístianity Today (CristianismoHoje)em 1999,re­ cebiinúmerasmensagens pedindoinformaçõesacercado arminianismoeda teologia arminiana1.Muitosinteressadosqueriamlerum livrointeiroacercado assunto.Infeliz- - mentenãohánenhumpublicado,eaquelesqueexistemnasbibliotecassãogeralmente antigosvolumesqueseaprofundammuitomaisno tema do queamédiado estudante de teologiadeseja.Arminianos, ou os que suspeitam que sejam arminianos, querem queestalacunasejapreenchida.Muitoscalvinistastambém queremsabermaissobreo arminianismodiretamentedafonte.Claroqueestesleramcapítulosisoladosacercado arminianismo em livrosdeteologiacalvinista(queéaúnicafontequemuitoscalvinis­ tastêm sobreoassunto),mas que,prezandoajustiçaeaimparcialidade,gostariamde leruma autodescriçãoarminianacompleta.Só temosaganharcom isso.Todoalunode teologiadeveria,preferivelmente,lerlivrosescritospelosproponentesdasváriasteolo- giasem vezdesimplesmentelersobretaisteologiasatravésdaslentesdeseuscríticos. Um Breve Resumo Deste Livro Primeiramente precisamos esclarecerum ponto importante. O arminianismo não tem nenhuma relação com o país da Armênia. Muitas pessoas pronunciam a palavraerroneamente como seelaestivessede alguma forma associadaàArmênia, o país da Ásia Central.A confusão é compreensível em virtude da pura semelhan­ ça acidental entre o termo teológico e a definição geográfica.Arminianos não são pessoas que nasceram na Armênia. O arminianismo é oriundo do nome Jacó (ou Tiago)Armínio (1560-1609).Armínio (cujonome de nascimentoeraJacob Harmensz ou Jacob Harmenenszoon) foium teólogo holandês que não possuía ascendência armênia.Armínio é simplesmente a forma latinizadade Harmensz; muitos eruditos daquelaépocalatinizavamseusnomes, eosmembros dafamíliaHarmensz, com ad­ miração, homenagearam o lídertribalgermânico que resistiuaos romanos quando estesinvadiramaEuropa Central. 1 OLSON, RogerE."Don’tHateMe BecausePm An Arminian”,Chrístianity Today, 6desetembrode 1999, p. 87-94. O tituloinfelizfoidesignadoparaoartigopeloseditores darevistaenão foiescolhaminha. 18
  • 16. introdução Segundo, Jacó Armínio é lembrado nos anais da história da igreja como o controverso pastoreteólogoholandês que escreveu inúmeras obras, acumulando três grandes volumes, defendendo uma forma evangélica de sinergismo (crença na cooperação divino-humana na salvação) contra o monergismo (crença de que Deus éarealidadetotalmentedeterminante na salvação, que excluiaparticipação humana). Armínio certamente não foio primeiro sinergistana históriado cristia­ nismo; todos ospaisda igreja,gregos dos primeirosséculoscristãosemuitos dos teólogos medievais católicos eram sinergistas de algum tipo. Além do mais, ao passo que Armínio e seus primeiros seguidores, conhecidos como os "Remons- trantes'',adoravam enfatizar, que muitosprotestantesantesdeleforam sinergistas em certo sentido da palavra. (Como a maioria dos termos teológicos, sinergismo tem múltiplas nuanças de significado, sendo que nem todas são positivas; aqui elasimplesmente significaqualquer crença na responsabilidade humana e na ha­ bilidade de livremente aceitarou rejeitara graça da salvação). Philip Melanchton (1497-1560),o representantedeMartinho LuteronaReformaAlemã, erasinergista, mas Lutero não era. Em virtude da influênciade Melanchton no luteranismo pós- -Lutero,muitosluteranosem todaaEuropaadotaram uma perspectivasinergística acercadasalvação, absíendo-se dapredestinaçãoincondicionaleafirmandoquea graçaéresistível.A teologiaarminiana foi,em princípio,suprimida nas Províncias Unidas (conhecidas atualmente como PaísesBaixos), mas foientendida posterior­ mente e disseminada para a Inglaterra e às colônias americanas, principalmente atravésda influênciadeJoãoWesleyedos Metodistas. Muitos dos primeirosbatis­ tas(batistasgerais)eram arminianos, assim como muitoso são atualmente.Várias denominações são dedicadas à teologia arminiana, mesmo onde a terminologia não éutilizada.Dentre estasdenominações estão todos ospentecostais, restaura- cionistas (Igrejasde Cristoeoutrasdenominações originadas nos avivamentos de AlexanderCampbell), metodistas (etodasasramificaçõesdo metodismo, incluindo ograndemovimento deSantidade)emuitos, senão todos,osbatistas.A influência de Armínio e da teologia arminiana é profunda e ampla na teologia protestante. Este livro não é intrinsecamente acerca de Armínio, mas sobre a teologia que é oriundade sua obra teológicana Holanda. 19
  • 17. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades Porfim,o contextodestefivroéacontrovérsiaentreo calvinismoeoarminia­ nismo. Enquanto ambos são formasdeprotestantismo(aindaquealgunscalvinistas neguem que o arminianismo sejaautenticamente protestante), elespossuem abor­ dagens bem diferentes em relação às doutrinas da salvação (soteriologia). Ambos acreditam na salvação pela graça somente por meio da fésomente (sola gratiaet fides)em oposiçãoàsalvaçãopelagraçapormeio da féeboas obras.Ambos negam que qualquer parte da salvação possa estar embasada no mérito humano. Ambos afirmamaúnicaesupremaautoridadedaEscritura(solascriptura)eo sacerdóciode todos os santos. Armínio etodos os seus seguidores eram esão protestantesatéa alma. Entretanto,osarminianossempre seopuseram àcrençanareprovaçãoincon­ dicional -a seleção de algumas pessoas, por Deus, para passarem aeternidade no inferno. Pelofatode seoporem aisso,elestambém seopõem àeleiçãoincondicio­ nal-aseleçãode algumas pessoas dentreamassa de pecadores paraserem salvos independentedequalquercoisaque Deus vejaneles.De acordocom osarminianos, as duas coisasestão intrinsecamenteligadas;éimpossível afirmaraseleçãoincon­ dicionalde algunspara a salvaçãosem, ao mesmo tempo, afirmaraseleção incon­ dicionaldealgunsparaareprovação, pois,deacordo com acrençados arminianos, impugna ocaráterde Deus. A controvérsiaque eclodiusobreArmínioem suaépoca continuaatéo século XXI,principalmenteentrecristãosprotestantesevangélicosem todoomundo.A tese deste livroé que o arminianismo está em desvantagem nesta controvérsiaporque eleraramente éentendido eécomumente mal representado, tantoporseuscríticos quantoporseussupostosdefensores. As deturpaçõesmuito difundidasacercado arminianismono contextodo con­ tínuo debate evangélico sobre a predestinação e livre-arbítrioé uma caricatura. As pessoas de bem envolvidas no debate devem buscar entender corretamente os dois lados. Equívocos são o que mais comumente acontecem nos debates intensose,às vezes, cáusticos acerca do arminianismo que acontecem na Internet, em pequenos gruposeem publicaçõesevangélicas.O arminianismoétratadocomo um argumento fraco e falho que é facilmente refutado e destruído pelo fatode não ser descrito de formajusta. Estelivroconcentra-se nos mitos mais comuns que o circundam e nas 20
  • 18. Introdução verdades correspondentes da teologia arminiana. Os amantes da verdade desejarão estarcorretamente informados sobre o arminianismo antes de se engajarem ou de serempersuadidosporargumentospolêmicoscontraou afavordele. Algumas Palavras Importantes Acerca das Palavras A causa mais comum de confusão na teologiaéo entendimento equivocado em relaçãoaos termos. O discursoteológicoestárepletodetalconfusão.Paraevitar acrescentar ainda mais confusão, alguns esclarecimentos de terminologias se fa­ zem necessários. Pelofatode algumas discussões de pontos devistaemovimentos teológicos diferentesdo arminianismo serem inevitáveis, eporque a autodescrição geralmente é preferidaem relação a descrições de adeptos de outras teologias, eu deixareiclarocomo os termos teológicossão utilizadosao descrevertantoa teolo­ gia arminiana quanto a não arminiana. Espero que os partidários destas teologias encontrem seuspontos devistarepresentadosdemaneirajusta. O Calvinismo é utilizadopara indicaras crenças soteriológicas compartilha­ das entre pessoas que consideram João Calvino (1509-1564), de Genebra, o maior organizadorefornecedordeverdadesbíblicasduranteaReformaProtestante.O cal­ vinismo é a teologia que enfatiza a soberania absoluta de Deus como a realidade totalmente determinante, principalmente no que dizrespeitoà salvação.A maioria dos calvinistasclássicosou calvinistasrígidos2concorda que ossereshumanos são totalmente depravados (incapazes de fazerqualquer coisaespiritualmente boa, in­ cluindoo exercíciodeboavontadeparacom Deus), que são eleitos(predestinados) incondicionalmente tanto para a salvação como para a condenação (embora mui­ toscalvinistasrejeitemo "horríveldecreto" de Calvino da reprovação), que amorte expiatóriade Cristona cruzfoidestinadaapenas paraos eleitos(algunscalvinistas discordam), que agraça salvíficade Deus éirresistível(muitoscalvinistaspreferem otermoeficaz),eque aspessoassalvasperseverarãoatéasalvaçãofinal(segurança eterna).O calvinismoéosistemasoteriológicooriundodeCalvino,queégeralmente 2 O termo calvinistarígido,traduçãode hígh calvinism, aplica-seao calvinismosu- pralapsariano(N.T.). 21
  • 19. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades conhecido pelo acrósticoTULIP (Depravação total,Eleição incondicional, Expiação limitada,Graça irresistível,Perseverança dos santos)3.Teologia reformada seráutili­ zadaparadesignaralgomaisamplo que ocalvinismo,aindaqueasduassejamequi­ valentes.A teologiareformada origina-se não unicamente de Calvino, mas também de inúmeros de seus contemporâneos, incluindoUlricoZuínglio eMartin Bucer. Foi ampliadaparaincluirmuitospensadores edenominações representadaspelaAlian­ ça Mundial de IgrejasReformadas, sendo que nem todas são calvinistasno sentido rígidoou clássico4. Portodo estelivroo arminianismo seráutilizadocomo sinônimo da teologia arminiana.Eladefinenão tantoum movimento, mas uma perspectivaacercadasal­ vação (eoutrosassuntos teológicos)compartilhadapor pessoas que diferementre siem outros assuntos. O arminianismo não possui sede; ele não está, sobretudo, associado a nenhuma organização. Neste sentido eleé muito parecido com o cal­ vinismo.Ambos são pontos devistateológicosou mesmo sistemasorigináriosdos escritosde um pensador seminal. Não se tratade um movimento ou organização. Quando o arminianismo forutilizado, elesignificaráaquela forma de teolo­ giaprotestante que rejeitaa eleição incondicional (e,principalmente a reprovação incondicional), expiação limitada e graça irresistível, pois ele afirma o caráter de Deus como compassível, possuindo amor universal por todo o mundo e todos no 3 Deve semencionar que équestionávelseo próprioCalvinoensinou aexpiação [imitada. Parauma declaração atuaido calvinismo, ver Edwin H. Palmer, The Five Points of Calvinism. Grand Rapids: Baker, 1972. Claro,inúmeras outrase talvezdescrições mais detalhadasacadêmicas do calvinismoestejamdisponíveis.Dentrealgunsimportantesau- ^ torescalvinistas evangélicos modernos que descrevem e defendem o calvinismo rigído estãoAnthony Hoekema eR.C.Sproul. Paraum relatomais recenteepormenorizado do calvinismorígidoedos cincopontosdo calvinismo,ver David Steele,CurtisThomas and S.Lance Quinn, The Five Points of Calvinism, 2nd Ed.Phiiiipsburg,Penn.:Presbyterianand Reformed, 2004. 4 Uma dasgrandesironiasdestecontextodedisputaentrecalvinistasearminianos équeadenominaçãoholandesacontemporânea,conhecidacomo IrmandadeRemonstran- te,que éoriundadaobrade Armínio eseusseguidores,émembro plenodaAliançaMun­ dialde igrejasReformadas!Aspessoasque equiparamo cahrfrrrsrtrt?àteologia reformada podem estarem terrenomovediço, àluzdaamplaextensãodopensamentoreformado no mundo moderno. 22
  • 20. Introdução mundo econcedendo livre-arbítriorestaurado pela graça para aceitarou rejeitara graça de Deus, o que conduz àsalvação eternaou destruiçãoeterna.O arminianis­ mo sob consideração é o arminianismo de coração em oposição ao arminianismo decabeça-uma diferençaintroduzidapeloteólogoreformadoAlanSellno livroThe Great Debate: Calvinism, Arminianism and Salvation (O Grande Debate: Calvinismo, Arminianismo e Salvação)5.O arminianismo de cabeça possuiuma ênfase no livre- -arbítrio que está alicerçada no lluminismo e é mais comumente encontrado nos círculos protestantes liberais (atémesmo entre pessoas reformadas liberalizadas)6. Sua marca característicaéuma antropologiaotimistaque nega adepravação totale a absoluta necessidade de graçasobrenaturalpara a salvação. É otimistaacercada habilidadedesereshumanos autônomos em exerceremuma boavontade paracom Deus eseussemelhantessem agraçapreveniente (capacitadora,auxiliadora)sobre­ natural,ou seja,épelagianoou no mínimo semipelagiano. O arminianismo de coração - objeto de estudo deste livro- é o arminianis­ mo originaldeArmínio,Wesleyeseusherdeirosevangélicos.Arminianos decoração enfaticamente não negam a depravação total(ainda que prefiramoutro termo para indicar a incapacidade espiritualhumana) ou a absoluta necessidade de graça so­ brenatural paraatémesmo o primeiroexercíciodeuma boavontadeparacom Deus. Arminianosdecoraçãosãoosverdadeirosarminianos,poissãofiéisaosímpetosfun­ damentais deArmínio eseus primeiros seguidores em oposição aos remonstrantes posteriores(quesedistanciaramdosensinosdeArmínioentrandonateologialiberal) earminianosmodernos decabeça,queglorificamarazãoealiberdadeem detrimen­ todarevelaçãodivinaeda graçasobrenatural. 5 SELL, Alan P.F.The Great Debate: Calvinism, Arminianism, and Salvation. Grand Rapids:Baker, 1983. 6 A teologialiberalé notoriamente difícilde serdefinida, mas aqui elasignifica qualquer teologia que permita reconhecimento máximo das alegações de modernidade dentrodateologiacristã,principalmenteaoafirmaruma visãopositivadacondiçãodahu­ manidade eporuma tendência em negarou seriamenteenfraquecero sobrenaturalismo tradicionaldopensamentocristão.Paraum relatodetalhadodateologialiberal,vercapitulo doisem StanleyJ.Grenz and Roger E.Olson,20th-Century Theology. Downers Grove, 111.: IntervarsityPress,1992. 23
  • 21. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades Sinergismo emonergismo sãotermoscom muitasnuançasdesignificado.Am­ bos são conceitos teológicos essenciais nesta discussão, mas ambos se aplicam a esferasmais amplas do que o arminianismo eo calvinismo. Sinergismo é qualquer crença teológica na livreparticipação humana na salvação. Suas formas heréticas na teologia cristãsão pelagianismo esemipelagianismo. A primeira nega o pecado originaleelevaashabilidadeshumanas moraise naturaisparavivervidasespiritu­ almentecompletas.A últimaabraçauma versãomodificadado pecado original,mas acreditaqueoshumanos têmahabilidade,mesmo em seuestadocaído,deiniciara salvação ao exerceruma boa vontade para com Deus7.Quando teólogos conserva­ doresdeclaram que o sinergismoéuma heresia, elesfrequentemente estãoserefe­ rindoaestasduasformaspelagianasdesinergismo.Contrárioaoscríticosconfusos, o arminianismo clássico não épelagiano e nem semipelagianoTMas é sinergístico. O arminianismo é o sinergismo evangélico em oposição ao sinergismo herético e humanista. O termosinergismo seráutilizadoem todoestelivroeo contextodeixa­ ráclaroque tipode sinergismo ele quer dizer. Quando o sinergismo arminiano for referido,estoume referindoao sinergismoevangélicoque afirmaapreveniênciada graça para que todo humano exerçauma boa vontade para com Deus, incluindo a simplesnão resistênciaàobrasalvadorade Cristo. Monergismo também éum termo amploe,àsvezes,confuso.Seu sentidomais amplo apontaparaDeus como arealidadetotalmentedeterminante,quesignificaque todasascoisasnanaturezaehistóriaestãosobocontrolediretodeDeus. Não neces­ sariamenteimplicaqueDeuscausatodasascoisasdiretamente,mas necessariamente implicaquenadapodeacontecerquesejacontrárioàvontadedeDeusequeDeusestá intimamente envolvido (aindaque trabalhando por meio de causas secundárias) em tudo,entãotudonanaturezaehistóriarefleteavontadeprimáriadeDeus.Portanto,o monergismo écomumente levadoasignificarquemesmo aQueda dahumanidade no 7 Todaahistóriadopelagianismoesemipelagianismoérecontadaem RebeccaHqr- den Weaver,Divine Grace and Human Agency. Macon, Ga_:Mercer University Press, 1996. AceitootratamentodeWeaverdestesconceitosporqueelaéheiàsfontesoriginaisecon­ sistentecom amaioriadasoutrasfontescontemporâneasautoritativassobreahistóriaeo desenvolvimentodestesmovimentos. 24
  • 22. Introdução jardimprimitivofoiplanejadaedirigidaporDeus8(sinergismode todasasvariedades geralmenterejeitatalvisãoetraçaaQueda como um riscoque Deus sesubmeteu na criação,queresultounousoimprópriodolivre-arbítriodahumanidade).O monergis­ mo significaprincipalmentequeDeuséaúnicaagênciadeterminantenasalvação.Não há cooperação entreDeus ea pessoa sendo salvaque jánão estejadeterminada por Deus atuando napessoaatravésdagraçaregeneradora, porexemplo. O monergismo émaior que o calvinismo,-Martinho Luterofoium monergista (aindaque de maneira inconsistente).Agostinho também, em seus escritosposteriores.Alguns pensadores católicosforam monergistas,embora ateologiacatólicatendaafavoreceruma forma de sinergismo. Neste livroeu utilizomonergismo para descrever a vontade e poder totalmentedeterminantesem exclusãodalivrecooperaçãoou resistênciahumana. 8 Confessadamente, alguns teólogos que reivindicam o termo monergista diferen­ ciamaalegaçãodequeaQuedafoipreordenadaporDeus.O teólogocalvinistaR.C.Sproul frisaistoem (entreoutroslivros)Chosen by God,Wheaton, III.;TyndaleHouse, 1988. Que Sproulémonergista,poucosnegariam.De acordocom eleealgunsoutroscalvinistas,Deus preordenou a Queda “no sentido de que eleescolheu permiti-la, mas não no sentido de queeleescolheucoagi-la”(p.97).Muitoscalvinistas(senãoamaioria),entretanto,seguem Calvinoaodizerque Deus preordenouaQueda em um sentido maiordo que meramente permitindoou consentindo-a. (VerCaivin’sInstitutes oftheChristian Religion 3.23.8). Não énecessárioquealguém digaque Deus coagiuaQueda paradizerque Deusapreordenou. Como serávistoposteriormentenestelivro,muitoscalvinistasacreditamqueDeusdetermi­ nouaQuedaeatornoucerta,mas nãoacausou.O grandeteólogocalvinistaestadunidense CharlesHodge afirmouanaturezaeficazdetodososdecretosdeDeus (incluindoodecreto de Deus de permitiraQueda) no primeirovolume de suaSystematic Theology, Grand Ra- pids;Eerdmans, 1973.Alieleenfatizouque embora odecretoeternode Deus,depermitir a Queda, não torneDeus o autordo mal,de fatoatornacerta.Os arminianos imaginam como isso funciona; se Deus determinou a Queda, decretou-a e a tornou certa (mesmo por“permissão eficaz”)como éque Deus não éoautordo pecado? Da Queda etodosos eventosHodge escreveu: “Todososeventosadotadosno propósitode Deus sãoigualmen­ tecertos,quer Eletenhadeterminado realizá-losporseu própriopoder ou simplesmente permitiraocorrênciapormeio daagênciade suascriaturas...Algumas coisasEleobjetiva fazer,outrasEledecretapermitir que sejam feitas”(p.541). Em qualquer caso, se Deus preordenaaQueda em um sentidomaior do queapermissão (como em Calvino)ou pre- ordenapermitiraQueda com permissãoeficaz,paraosmonergistasDeus planejaetorna aQueda certa. O efeitopareceserque Adão eEvaforam predestinadosporDeus apecar etodaahumanidadecom eles.Os arminianostemem queuma conseqüênciaadequadae necessáriadestavisãoéqueDeussejaoautordo mal. 25
  • 23. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades Diz-se frequentemente que o debate entre calvinismo e arminianismo é em- basado na discórdiaacerca da predestinação e livre-arbítrio.Esteé o mito comum e quase popularem relação a toda a questão. Em um nívelmais polêmico, alguns dizem que o desentendimento émais em relação àgraça (calvinismo) eboas obras (arminianismo).Os arminianosseofendem com isso!Elesafirmamagraçatãoenfa­ ticamentequantoqualqueroutroramo docristianismo,emuitomaisdo quealguns. Mas os arminianos também afirmam a predestinação, tanto quanto muitos calvi­ nistasafirmam o livre-arbítrioem algum sentido. Em todo estelivrouma tentativa será feitano sentido de corrigiralguns usos impróprios de conceitos e termos que contaminam osdiálogosentrecalvinistasearminianos.Aspessoas que dizemque o calvinismoensinaapredestinaçãoenegaolivre-arbítrioequeosarminianosnegam apredestinaçãoeensinamo livre-arbítrioestãototalmenteequivocadas.Ambos en­ sinam ambos! Elesosinterpretamdemaneira diferente.Os arminianosacreditamna eleiçãoepredestinação-porqueaBíbliaasensina.Estassãoboasverdadesbíblicas que não podem serdescartadas.E oscalvinistasgeralmenteensinam o livre-arbítrio (emboraalgunssesintam menos confortáveiscom o termo do que outros). O que os arminianos negam não é apredestinação, mas apredestinaçãoin­ condicional; eles abraçam a predestinação condicional embasada na presciência de Deus daqueles que livrementeresponderão de maneira positivaàgraciosaofertade salvação de Deus e a capacitação preveniente para aceitá-la. Os calvinistas negam que o livre-arbítrioenvolva a habilidade de uma pessoa de fazeralém daquilo que ele ou ela, de fato, o fazem. Na medida em que utilizam o termo livre-arbítrio,os calvinistasquerem dizero que os filósofoschamam de livre-arbítriocompatibilista - livre-arbítrioque é compatível com o determinismo. Livre-arbítrioésimplesmente fazeroquealguém querfazer,mesmo seaquiloestiverdeterminadoporalgumaforçâ^ internaou externaàvontadedapessoa. Claro,oscalvinistasnão acham que aexpli­ caçãoarminiana da predestinação sejaadequada, eosarminianos não acham que a explicaçãodoscalvinistasdo livre-arbítriosejaadequada. Mas ésimplesmenteerrado dizerque qualquer um dos grupos nega qualquerum dos conceitos!Portanto, neste livro, quando livre-arbítrioforutilizado, eleserá modificado ou para compatibilista ou não compatibiiista (ouincompatibilista), dependendo do contexto. (Livre-arbítrio
  • 24. Introdução não compatibilistaéalivreagênciaque permiteàspessoas fazero contráriodo que fazem; ela também pode serchamada de livre-arbítriolibertário.Por exemplo, uma pessoa pode escolher livrementeentrepizzae macarrão para o jantar [presumindo que ambos estejam disponíveis], Se a pessoa escolher macarrão, a escolha é livre no sentido não compatibilista de que a pizza também poderia tersido escolhida. Nada determinou aescolhado macarrão, excetoadecisãodapessoa.Osarminianos acreditamque tallivre-arbítriolibertárioem assuntosespirituaiséum dom deDeus por meio da graçapreveniente- graçaque precede ecapacitaos primeirosindícios de uma boa vontade paracom Deus). Quando predestinação forutilizada,serámo­ dificadaou para condicional (forma arminiana) ou incondicional (forma calvinista), dependendo docontexto. A História da Teologia Arminiana Começarei ahistóriada teologiaarminianacom Armínioeseusprimeirosse­ guidores, conhecidos como os remonstrantes, e continuarei com João Wesley e os principais teólogos evangélicos metodistas do século xix, eentão examinarei uma variedadedeprotestantesarminianos clássicosconservadoresdosséculosXX eXXI. Primeiro, um lembrete e uma explicação. Peto fatode o arminianismo terse tornado um termo de reprovação nos círculos teológicos evangélicos, muitos ar­ minianos não utilizam esta nomenclatura. Certa vez informei a um preeminente teólogo evangélico que a sua recente publicação de teologia sistemática era intei­ ramente arminiana, ainda que elenão fizesse menção do termo. Sua resposta foi: "Sim, mas não digaissoaninguém!”Vários (possivelmentemuitos) livrosteológicos dos séculos XX eXXI são completamente compatíveis com o arminianismo clássi­ co,ealgunsatémesmo sãoinstruídospelaprópriateologia deArmíniosem jamais mencionar o arminianismo. Dois teólogos evangélicos metodistas muito influentes negam de maneira muito veemente que são arminianos, ainda que historicamente sejaamplamenteditoquetodososmetodistassãoarminianos!Porquê? Porqueeles não querem serconsiderados, de alguma forma, menos do que totalmente bíblicos eevangélicos.Alguns críticosconseguiram convencer alguns arminianos de que o 27
  • 25. Teologia Arminiana j Mitos E Realidades arminianismo é heterodoxo - menos do que totalmente ortodoxo ou bíblico. Eles também, com sucesso, equipararam o arminianismo ao semipelagianismo (senão totalmentepelagianismo) de modo que atémesmo muitosmetodistas, pentecostais epertencentesaosmovimentos desantidadenão querem usaro rótulo. A questãoéque,principalmentenametade do séculopassado, desdeaascen­ sãodo evangelicalismopós-fundamentalista (cujateologiaéamplamente dominada por calvinistas),os arminianos têm se esforçado para conseguirrespeitodentro do meio teológicoeacadêmicoevangélicomais amplo, ealgunssimplesmente abriram mão do termo. Não éincomum ouvirosarminianosdescreveremasimesmos como "moderadamente reformados" no intuito de agradarem os influentes e poderosos do movimento evangélico. Declarar-se arminiano é atrairpara siuma miríade de perguntas (ou simplesmente uma suspeita reservada) quanto à heresia. Muitos lí­ deres evangélicos desinformados simplesmente presumem que os arminianos não acreditam na absoluta necessidade da graça sobrenatural para a salvação. Alguns evangélicosdeclararam abertamente que seosarminianosevangélicosjánão estão em heresia, elesestão caminhando para lá.Um apologista evangélico preeminente declarou publicamente que os arminianos são cristãos, mas "minimamente". Um teólogo evangélico influentesugeriuque aenganação satânicapode seracausa do arminianismo. Portanto,aindaque algumas de minhas fontesnão utilizemo termo de forma explícita,todaselassão,de fato,arminianas. Arm ínio. A fonteprimária de toda a teologiaarminiana é o próprioJacóAr­ mínio. Os trêsvolumes de sua coletânea, em inglês, têm sido editados quase que ininterruptamentepormaisdeum século9.Elescontémdiscursoseventuais,comen­ táriosecartas.Estesescritosnão são uma teologiasistemática, embora algunsdos tratadosmais longos deArmínio abranjam uma grande porção de assuntos teológi­ cos.Quasetodososseusescritosforamconcebidosnocalordacontrovérsia;elefre­ 9 ARMINIUS,James. The Works ofJames Armíníus. London Ed.,trad.James Nichols and William Nichols,3 v.Grand Rapids: Baker, 1996. Estaediçãoda EditoraBakeréuma republicação, com uma introdução de Carl Bangs, erudito em Armínio, da tradução de Londres eedição publicada em 1825, 1828 e 1875. Todas as citações de Armínio neste livrosãodestaediçãoeserãoindicadassimplesmente como Works (Obras) com volume e numeração dapágina. 28
  • 26. Introdução quentemente estavasob ataque doscríticoselíderesdo estadoeigrejada Holanda, que exigiamque eleseexplicasse.Seu famoso debatecom o colegacalvinistaFran­ ciscoGomaro, na Universidade de Leiden, foia causa de muita desta controvérsia. Armíniofoiacusadodetodosostiposdeheresia,mas asacusaçõesdeheresianunca sesustentaram em nenhum inquéritooficial.Acusações ridículasde que eleeraum agentesecretodo papa edosjesuítasespanhóis, eatémesmo do governo espanhol (asProvínciasUnidashaviamrecentementeselibertadodadominação católicaespa­ nhola),pairavamsobreele.Nenhuma dasacusaçõeseraverdadeira. Armíniofaleceu no auge da controvérsiaem 1609, eseus seguidores, os remonstrantes, assumiram acausa apartirde onde eleparou, tentandoampliarasnormas teológicasdaigreja- -estadodas ProvínciasUnidasparapermitirosinergismoevangélico10. Armínio não acreditava que estivesse acrescentando nada novo à teologia cristã.Se ele,de fato,acrescentoualgo, édiscutível.Eleexplicitamenteapelou para os primeiros pais da igreja, fezuso de métodos e conclusões teológicas medievais e apontou para sinergistas protestantes que lhe antecederam. Seus seguidores deixaram claro que Melanchton, um líderluteranoconservador, e outros luteranos mantinham visões similares, se não idênticas. Embora ele não tenha mencionado nominalmente o reformador católico Erasmo, ficaclaroque a teologia de Armínio era semelhante à dele. Balthasar Hubmaier e Menno Simons, líderes anabatistas do séculoXVI, também apresentaram teologiassinergísticasqueprenunciaram ade Armínio.As obras teológicasmais importantesdeArmínio incluem sua "Declaração de Sentimentos", "Exame do Panfleto do Dr. Perkins”,"Exame das Teses do Dr. F. Gomaro Concernente àPredestinação”,"CartaEndereçada a HipólitoA.Collibus" e 'Artigosque Devem SerDiligentementeExaminados ePonderados”. O relacionamentodeArmíniocom oarminianismodevesertratadocom ames­ ma intensidade que o relacionamento de Calvino com o calvinismo. Nem todo cal­ vinistaconcorda totalmente com tudo encontrado em Calvino, e os calvinistascom 10 A históriada vidaecarreirade Armínio, incluindoo debate com Gomaro, pode serencontradaem CarlBangs,Arminius: A Study in the Dutch Reformation.Grand Rapids: Zondervan, !985.A históriadoconflitoRemonstrantepõs-ArmínioatéosefeitosdoSinodo de Dort(1619)érecontadaem A.W. Harrison, The Beginnings of Arminianism to the Synod o/Dort. London: UniversityofLondon Press, 1926. 29
  • 27. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades frequência debatem o significadode Calvino.Após amorte de Calvino, o calvinismo foialargado e agora inclui,verdadeiramente, uma diversidade. Entre os seguidores deCalvinonós encontramossupralapsarianoseinfralapsarianos(debatendoaordem dos decretosdivinosem relaçãoàpredestinação), edivergênciasacercada expiação edeoutrosassuntosimportantesrelacionadosàsalvação.Apesardisso,todosconsi­ deram Calvinocomo suaorigemem comum elutam paraserfiéisaeleno espírito,se não em cadadetalhe.Eleéaraizeelessãoosgalhos. Os Remonstrantes. Após amorte precoce deArmínioem 1609, quando tinha 49anoseno auge dacarreira,aproximadamente45ministroseteólogosdas Provín­ ciasUnidas formaram uma frenteque veioaserchamado "osRemonstrantes”.Eles receberam estenome em virtude do títuloda exposição teológica apresentada por eles, conhecida como a Remonstrância, que resumiu em poucos pontos essenciais o queArmínioeelesacreditavamacercada salvação,incluindoaeleiçãoeapredes­ tinação.Entreoslíderesdestemovimento estavaSimão Episcópio (1583-1643), que setornouo conhecido líderdosArminianosantesedepoisque estesforamexilados das ProvínciasUnidas, de 1619 a 1625.Episcópioéprovavelmente o autordos prin­ cipaisdocumentos dos remonstrantes e,por fim,setomou o primeiro professorde teologiado seminárioremonstrante fundado após receberem apermissão de retor­ no do exílio(esteseminário, conhecidocomo o SeminárioRemonstrante, existeaté hojena Holanda). Outro líderremonstrante importante foiHugo Grócio, estadistae cientistapolíticomais influenteda Europa (1583-1645), que foipresopelo governo holandês após o Sínodo de Dort, que condenou o arminianismo, mas escapou. Um remonstranteposteriorchamado PhilipLimborch (1633-1712)levouo arminianismo para mais perto do liberalismo, com o subsequente “arminianismo de cabeça". In­ felizmente,muitos críticosdo arminianismo do séculoXVIIIconheciam unicamente oarminianismo deLimborch, que eramaispróximo do semipelagianismodo queos ensinosdo próprioArmínio. O século XVIII. A partirda época de Limborch, muitos arminianos, em espe­ cialaqueles na Igrejada Inglaterra e nas igrejascongregacionais, mesclaram o ar­ minianismocom anovareligiãonatural do íluminismo; elessetornaram osprimei­ rosliberaisdentrodo protestantismo. Na Nova Inglaterra,JohnTaylor (1694-1761) e
  • 28. Introdução CharlesChauncy (1705-1787), de Boston, representavam o arminianismo decabeça que, com frequência e perigosamente, inclinava-se bem próximo ao pelagianismo, universalismoeatémesmo arianismo (negaçãodaplenadeídadedeCristo).O gran­ depregadorpuritanoeteólogocalvinistaJonathan Edwards (1703-1758) seopôs de maneiraveementeaesteshomens econtribuiuparao costume doscalvinistasesta­ dunidenses de equipararoarminianismoaestetipode teologialiberalizante. Indu­ bitavelmente muitos arminianos estadunidenses eingleses (principalmentecongre- gacionistasebatistas)seconverteramà teologialiberaleatémesmo ao unitarismo. Se o arminianismo clássico foio responsável por isso, talcoisa é duvidosa; estas pessoas abandonaram radicalmente Armínio e os primeiros remonstrantes, assim como FriedrichSchleiermacher, o paida teologialiberalalemã, abandonou Calvino sem jamais terestado sob a influência do arminianismo. Schleiermacher, reputado por liberalizarateologiaprotestanteno continente europeu, permaneceu um calvi­ nistadeuma ordem diferenteatéodiadesuamorte.ÉtãoinjustoacusarArmínioou o arminianismo peladeserçãodosremonstrantes posterioresquantoacusarCalvino ou o calvinismopeladeserçãode Schleiermacherdaortodoxia. Uma claraprovade que nem todososarminianos setornaram liberaiséJoão Wesley(1703-1791),queseintitulavaarminianoedefendeuoarminianismodasacu­ sações de que elelevavaàheterodoxia ese não, àtotalheresia. Foivítimado tra­ tamento dos calvinistasem relaçãoao arminianismo e sua resposta ao calvinismo foigeralmente muito dura. Por sentirque a maioria dos críticos do arminianismo possuíapouco conhecimento do tema, eleescreveuem 1778: "Que nenhum homem esbraveje contra o arminianismo a menos que saiba o que ele significa1'11.Em “A Pergunta: 'O que é um arminiano?’Respondida por Um Amante da Graça Livre", Wesleyobservou que: "dizer'estehomem éum arminiano' tem o mesmo efeito,em muitos ouvintes,que dizer'estehomem éum cão raivoso"12.Elecontinuou aexpor osprincípiosbásicosdo arminianismo edesmentiuanoção popularque o arminia- nlsmo eqüivaleaoarianismoou outrasheresias. Nesseeem outrosescritos,Wesley 11 WESLEY,John. The Works ofJohn Wesley. Ed.ThomasJackson, 14v.Grand Rap­ ids:Baker, 1978.v.10,p.360. 12 Ibid.p.358. l 31
  • 29. Teologia Arminiana i Mitos E Realidades defendeu o sinergismo evangélico ao enfatizar que a graça preveniente de Deus é absolutamentenecessáriaparaasalvação. Wesleyéamaior fontedo arminianismo de coração; elejamais seapartou da crença protestanteclássicae ortodoxa; a des­ peito de rejeitaro calvinismo, ele afirmava apaixonada e seriamente ajustificação pelagraça somente atravésda fésomente por causa daquilo que Cristorealizouna cruz. Os calvinistascom frequência acusam Wesley de desertar do protestantismo pelo fato dele salientar a santificação, mas mesmo isso, de acordo com Wesley, é uma obra de Deus dentrodeuma pessoa queérecebidapelafésomente'3. Após amortedeWesley,amaioriadosteólogosarminianospreeminentestor­ naram-se seus seguidores.Todo o movimento metodista esuas ramificações (ex.o multiformemovimento desantidade) adotaramaversãodeWesleydateologiaarmi­ niana, quemal sediferenciavado próprioArmínio14.O primeiroteólogo sistemático do metodismo foi,de fato,John Fletcher (1729- 1785),contemporâneo maisjovem de Wesley, cujas obras escritas preenchem nove tomos. Ele produziu cuidadosa e habilmente argumentos contra o calvinismo e a favor do arminianismo. Um dos teólogosarminianos maisinfluentesdo séculoXIXfoiometodistabritânicoRichard Watson (1781-1833), cujas Institutas Cristãs (1823) forneceram ao metodismo seu 13 O comprometimento de Wesley com a ortodoxiaprotestantehã muito tem sido questãodedisputa;oscalvinistas,em especial(talvezapenaseles),têm,àsvezes,oacusa­ do de ensinarasalvação pelasobras.Issoaconteceem virtudede uma leituraerrôneade Wesley, cujossermões: “GraçaLivre”,“Operando Nossa PrópriaSalvação”.“Salvaçãopela Pé”e“JustificaçãopelaPé”nãopodem tersidolidosporeles.Taissermõessãoencontrados em vãriasediçõesdacoletâneadeWesley,talcomo The Works ofjohn Wesley, Ed.AlbertC. Outler.Nashville:Abingdon, 1996.Os maisimportantespodem serencontradosem muitas coleções de um volume, talcomo John Wesley: The Bestfrom Alt His Works, Ed. Stephen Rost.Nashville:Thomas Nelson, 1989. 14 Deve serenfatizadoaquiqueGeorgeWhitefield,evangelistaamigo deWesley,foi importantíssimo naliderançadeuma conexão (rede)metodistacalvinistano séculoXVIil; elasobreviveu atéo séculoXX eainda pode teralgumas pouquíssimas pequenas igrejas espalhadas na Grã-Bretanha eAmérica do Norte. No geral,entretanto, o metodismo está marcadocom oarminianismodeWesley.Wesleyensinouapossibilidadedaplenasantifica­ ção,quenão étípicadetodososarminianos,mas queéconsistentecom osensinamentos (dopróprioArmínio, que interpretavaRomanos 7como refletindoaexperiênciadeguerra entreacarneeoespíritoantesdaconversãodePaulo. 32
  • 30. Introdução primeirotextoautoritativode teologiasistemática.Watson citouArmínio livremente e claramente considerava a simesmo e a todos os metodistas wesleyanos como arminianos: Ele demonstrou cuidadosamente a deserção dos remonstrantes poste­ riores,talcomo ade Limborch, da verdadeira herança arminiana. O arminianismo deWatson forneceuma espéciedemodelo deexcelênciaparaosarminianosevangé­ licosaindaque,em grandeparte,não sejaaplicávelaos diasdehoje. O século XIX. Outrosmetodistasimportanteseteólogosarminianosdo sécu­ loXIX incluem Thomas Summers (1812-1882) e William Burton Pope (1822-1903). Summers produziu a Systematic Theoíogy: A Complete Body o f Weslean Arminian Díviniiy (TeologiaSistemática:Um GuiaCompletodaTeologiaArminianaWesleyana), que se tornouum compêndio padrão para osarminianos na últimapartedo século XIX; elerepresentou nesta época o que Watson representou na primeirametade do século. Como Watson, elemostra o abandono de Limborch eoutrosremonstrantes posteriores de Armínio (edos primeiros remonstrantes) para o semipelagianismo eà teologialiberal. Elesesentiaextremamente afrontado com teólogos calvinistas evangélicosde sua época, que deturpavam o arminianismo como seelefosseheré­ tico:"Que ignorância ou descaramento tem esteshomens que acusam Armínio de pelagianismoou de qualquerinclinaçãoparatal"'5.Pope contribuiucom um sistema de teologia de trêsvolumes, A Compendium o f Chrístian Theoíogy [Um Compêndio daTeologiaCristã] (1874).Eleapresentauma descriçãodetalhadamenteprotestante da teologiaarminianaque não deixadúvidasacercade seu compromisso com ate­ ologiareformada, incluindoasalvaçãopelagraçasomente pormeio dafésomente. Ele explora a natureza da graça preveniente mais plena e profundamente do que qualqueroutroteólogoarminianoantesdeleou duranteoperíododesuavida. Um dos teólogos arminianosmais controversos do séculoXIX foio sistema- ticistametodistaJohn Miley (1813-1895), cujaSystematic Theoíogy (Teologia Siste­ mática) levou B. B.Warfield, teólogo calvinistade Princeton, apublicarum extenso ataque.Mileyapresentouuma tendêncialigeiramenteliberalizantena teologiaarmi­ nianawesleyana, embora sejaextremamente branda secomparada aos arminianos 15 SUMMERS, ThomasO.Systematic Theoíogy: A Complete Body of Wesleyan Arminian Divinity. Nashville:PublishíngHouse oftheMethodistEpiscopalChurch, 1888.v.2,p.34. 33
  • 31. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades de cabeça que, com frequência, caíram impetuosamente no deísmo, unitarismo e claramentena teologialiberal. Embora tenhaalteradoalgumasposiçõesarminianas tradicionaisem uma direçãomaismoderna, Mileypermaneceu um arminiano evan­ gélico. De algumas formas elerepresentauma ponte entreo arminianismo evangé­ licoeortodoxo (Armínio,Wesley,Watson, PopeeSummers) easubsequente teologia metodista liberalizadaconvencional no séculoXX (L.Harold DeWoif). Mas Mileyse apegou fortemente à supremacia das Escrituras e sempre arguiu a partirda Bíblia, ao reivindicarsuas posições teológicas. Eleafirmavao pecado original,incluindoa "depravação natural" (incapacidadeem assuntosespirituais),aopasso que rejeitava o "deméritonatural”(culpaherdada).Eledefendiaateoriagovernamental daexpia­ ção,voltando para Hugo Grócio (nem todos os arminianos adotaram estavisão). E Miley definia ajustificaçãosimplesmente como perdão, em vez de uma imputação da obediência (retidão) passiva e ativade Deus. Algumas das críticasde Warfield a Miley foram válidas, mas elas foram afirmadas de um modo extremo, de forma a levantardúvidas acerca da própria generosidade de interpretação e tratamento de seussemelhantescristãos.Muitoscalvinistasdo séculoXX conhecem pouco sobreo arminianismo, excetuandoaquiloque leram deCharlesHodge eB. B.Warfield, teó­ logoscalvinistasdoséculoXIX.Estesdoisteólogosforamcríticoscáusticos,quenão conseguiam seconvenceraenxergarqualquercoisaboa no arminianismo. E eleso acusaram de todaconseqüência má possívelque conseguiam verque o arminianis­ mo possivelmentetivesse. Antes de deixaro séculoXIXpara trásna narração da históriado arminianis­ mo, éimportantíssimo pararediscutirbrevemente ateologiado avivalista,teólogo e presidente de faculdade Charles Finney (1792-1875).A carreirade Finney é uma das mais fascinantes em toda a história da igreja moderna. Ele foi um advogado que se converteu ao cristianismoevangélicounicamente para setornaro avivalista do então chamado Segundo Grande Despertamento^. Finney se tornou presidente 16 Istodepende muito de como definimos o Segundo Grande Despertamento. Uma definiçãomais restritalimita-oao séculoXIX eovê como centradounicamente nos avíva- mentos na Faculdade Yaleeao longo das fronteirasde Virgíniae Kentucky (ex.o famoso AvivamentodeCaneRidgeem Kentucky,em 1801).Uma definiçãomaisamplaoestendeaté osavivamentosdeFinneynaNovaInglaterraeem NovaYorknasdécadasde 1820e 1830. 34
  • 32. Introdução da Oberlin College (Faculdade Oberlin) em Ohio, em 1835, epublicouuma sériede palestras influentes sobre avivamento e sobre teologia sistemática. Suas Lectures on Systematic Theoíogy (PalestrasSobreTeologiaSistemática) foram primeiramente publicadas em 1846 com ediçõesposteriormenteampliadas. Finneyrejeitavao cal­ vinismo rígidoem favorde uma versãovulgarizada do arminianismo que estámais próxima do semipelagianismo. Seu legadona religiãopopularestadunidense épro­ fundo. Elenegava o pegado original, exceto como uma infelicidade que veiosobre a maioria dos seres humanos e que épassado adiante por meio de maus exemplos ("tentaçãoagravada").Acreditava que toda pessoa possui habilidade e responsabi­ lidade, independente de qualquer ajuda ou graça divina (graça preveniente) a não sera iluminação e persuasão, para livremente aceitara graça perdoadora de Deus atravésdo arrependimentoeobediênciaaogovernomoralreveladodeDeus. Elees­ creveu: "Nãohá nenhum graude realizaçãomoral denossa parteque não possa ser alcançada diretaou indiretamente pelavontade certa"e "O governo moral de Deus em todososlugarespresume eimplicaaliberdadedavontadehumana, eahabilida­ denaturaldos homens de obedeceraDeus"17. Finneyvulgarizou a teologiaarminiana ao negar algo que Armínio, Wesley e todososarminianos fiéisantesdelehaviam afirmado eprotegidocomo preciosoao próprio evangelho -a inabilidademoral humana em assuntos espirituaisea abso­ lutanecessidade de graçapreveniente sobrenatural para qualquer resposta correta a Deus, incluindoasprimeirasinclinaçõesde uma boa vontade para com Deus. De acordo com Finney, diferentemente do arminianismo clássico (mas semelhante ao remonstrantismo posterior de Limborch), a única obra de Deus necessária para o exercíciodeuma boavontadeparacom DeuseobediênciaàvontadedeDeuséo Es­ píritoSantoiluminando arazãohumana, que estáenevoada porinteressespróprios e em um estado de misériadevido ao egoísmo comum da humanidade: "O Espírito pegaascoisasde Cristoeasrevelaàmente.A verdadeéempregada, ou éaverdade que deve ser empregada como um instrumento ainduzira mudança de escolha"1®. 17 FINNEY, Charles.Systematic Theoíogy. Ed,J.H.Fairchild,abrev.Minneapolis: Be- thanyFellowship, 1976,p.299,261. 18 lbid.p.224. 35
  • 33. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades Armínio, Wesleyeo arminianismo clássico, em geral,afirmaram a depravação total herdada como atotalincapacidadeindependente deum despertamento sobrenatu­ ral,despertamentoestechamado degraçapreveniente.Mas Finneynegava aneces­ sidade da graça preveniente. Para ele, razão, desenvolvida pelo Espírito Santo, faz com que ocoração sevoltepara Deus. Elechamou adoutrinaarminianaclássicada habilidadegraciosa(habilidadedeexerceruma boavontadeparacom Deusoutorga­ dapelo EspíritoSanto atravésdagraçapreveniente)de um "absurdo"19. Os calvinistas, infelizmente, tendem aolharpara Finneyou como modelo de um verdadeiroarminiano ou como aestaçãofinalda trajetóriateológicaarminiana. Ambas asvisõessãoerrôneas.Os arminianos clássicosadoram Finneyporsua pai­ xãoavivalista,aopassoqueo abominam porsuamá teologia.O próprioFinneydisse acerca de jonathan Edwards: "Edwards eu reverencio; seus erros eu abomino"20. Um arminiano clássico evangélico pode dizer: "Finneyeu reverencio; seus erroseu abomino"21. O século XX. O séculoXX testemunhou o fim do sinergismo evangélicoentre as principais denominações, incluindo o Metodismo, na medida em que caíram na teologialiberal.O arminianismo implacavelmente não conduz ao liberalismo, eisso estáprovado pelo crescimento das formas conservadoras do arminianismo entre os Nazarenos(uma ramificaçãoevangélicadometodismo), pentecostais,batistas,Igrejas de Cristo e outros grupos evangélicos. Todavia, muitos destes arminianos do sécu­ loXX negligenciam ou mesmo rejeitamo rótulode arminiano poruma variedade de razões, não sendo uma das menos importantes o sucesso dos calvinistasem pintar o arminianismo com ascoresde Finneyedosarminianos decabeça, talcomo osre- 19 Ibid.p.278. 20 Ibid.p.269. 21 Indubitavelmente, alguns admiradores de Finney considerarão muito duro este relatodesuateologiaenquantomuitoscríticosreformadosoconsiderarãomuitogeneroso. O problemaéqueFinneynãoeratotalmenteconsistenteem suasexplicaçõesdepecadoe salvação;em algumasocasiõeselependiamaisparaosemipelagianismoeem outrasocasi­ õeselepareciamaisdispostoaafirmarainiciaçãodivinadasalvação.No geraleem geral, entretanto,pensoqueorelatodeFinneyacercadopecadoesalvaçãoestámaispróximodo semipelagianismodo quedoarminianismoclássico,pelasrazõesapresentadasaqui. 36
  • 34. Inirodução monstrantesposteriores. Um teólogodo séculoXX que manteveorótulofoiH.Orton Wiley(1877-1961),líderdaIgrejadoNazareno,queproduziuaobraChristian Theoíogy (TeologiaCristã)detrêsvolumes eum resumo deum volumeda doutrinacristã.O ar­ minianismodeWileyéuma formaparticularmentepuradoarminianismoclássicocom o acréscimo do perfeccionismo wesleyano (que nem todos os arminianos aceitam). Todabondade, incluindoasprimeirasinclinaçõesdo coraçãoparacom Deus,éatribu­ ídaunicamente àgraçade Deus. Como Watson, Summers, Pope eMiley,Wileyinsiste em uma diferençaentresemipelagianismoeoverdadeiroarminianismo, edemonstra a diferença em suas própriasafirmações doutrinárias.A teologiade Wileyse tornou o modelo deexcelênciaparaaeducação teológicana Igrejado Nazarenoeem outras denominações do [movimento] deSantidadeduranteoséculoXX. Outro teólogoarminianodo séculoXX cujaobrademonstra poderosamente a ortodoxia do arminianismo clássico é o metodista evangélico Thomas Oden. Oden não aceitao rótulo de arminiano para siou sua teologia, pois prefereseu próprio termo,paleo-ortodoxia. Eleapelaparao consenso dos primeirospaisdaigreja.Mas omesmo fizeramArmínioeWesley!AobraThe TTansforming Power o f Grace (OPoder Transformadorda Graça), de 1993,éuma pedrapreciosada soteriologiaarminiana; elaé o primeirolivroque eu recomendo àquelesque buscam um relatosistemático da verdadeira teologia arminiana. Infelizmente o Oden não a considera como tal! Entretanto, o arminianismo clássicode Oden estámanifesto em seu endosso entu­ siasmado da teologiadeArmíniocomo uma restauraçãodo consensodosprimeiros cristãos(primitivos)acercadasalvação,conforme aafirmaçãoabaixo; Se Deus, de maneira absoluta e pré-temporal, decreta que certaspessoas sejam salvaseoutras condenadas, independente de qualquer cooperação da liberdade humana, então Deus não pode, em nenhum sentido,quererque todossejam salvos,conforme 1Ti­ móteo 4.10declara.A promessa de glóriatem porcondiçãoa graça sendorecebidapelaféativaem amor22.Oden também produziuuma Teologia Sistemática maciça, de trêsvolumes, que reconstróio con­ 22 ODEN,ThomasC.The Transforming Power ofGrace. Nashville:Abingdon,1993.p.135. 37
  • 35. Tsologia Arminiana j Mitos E Realidades senso doutrinário cristão primitivo e é completamente consistente com aprópriateologiadeArmínio. O débitode Oden aArmínio ea Wesleyéinquestionável. Outros teólogos arminianos do séculoXX (alguns dos quais não querem ser chamados de arminianos) são os batistasDale Moody, StanleyGrenz, Clark Pinno­ ck e H. Leroy Forlines; o teólogo da Igrejade CristoJackCotrelleos metodistas l. Howard Marshall eJerryWalls. Considero issouma grande tragédiae absurdo, que uma herançahistóricacomo ado arminianismosejarepetidamentenegadaporseus adeptos em razãode necessidadepolítica. Não tenho dúvidas de que algunsadmi­ nistradores de organizações evangélicas não especificamente comprometidos com o calvinismo tendem a menosprezar o arminianismo e de enxergar os arminianos como "teologicamente rasos" ecaminhando paraaheresia.Sob ainfluênciadeum preeminente estadistacalvinistaevangélico, um presidentede faculdadeevangélica de herança de [movimento] de santidade declarou-se um "arminiano em recupera­ ção”!Uma influentepublicaçãocalvinistaevangélicanegou aexistênciadearminia­ nos "evangélicos"echamou issode contradição. Sob estetipode calúniasseveras, se não ignorantes, não é de se surpreender que o arminianismo não sejautilizado mesmo porseusproponentesmaisapaixonados.Mas, apesardasadversidades,oar­ minianismopermanece eateologiaarminianacontinuaaserfeitaem uma variedade decírculosdenominacionais. Uma Sinopse da Teologia Arminiana Um dos mitos mais predominantes disseminado pelos calvinistasacerca do arminianismoéqueeleéotipode teologiamaispopularnospúlpitosebancosevan­ gélicos. Minha experiência contradiz esta opinião. Muito disso depende de como entendemos a teologia arminiana. Os críticoscalvinistas estariam corretos caso o arminianismo fosse semipelagianismo. Mas ele não o é,como espero demonstrar. O evangelho pregado e asoteriologiaensinada atrásde muitos púlpitose tribunas evangélicos e que é acreditada na maioria dos bancos evangélicos, não são o ar- 38
  • 36. Introdução minianismo clássico, mas o semipelagianismo, se não um completo pelagianismo. Qual é a diferença? Wiley, teólogo da Igreja do Nazareno, corretamente define o semipelagianismoao dizer:"Opelagianismodeclaravaque haviaforçaremanescen­ tenavontade depravada o suficientepara iniciarou colocarem andamento o início dasalvação,mas que não erasuficienteparalevá-laàconclusão. Issodeveserfeito pelagraçadivina"23.Estaantigaheresiaéoriundados ensinamentos dosentãocha­ mados Massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (m. 433 d.C), que tentou construiruma ponte entreo pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, que defendiaaeleiçãoincondicional tendo por base o fatode que todos os descendentes de Adão nascem espiritualmente mortos e culpados da culpa de Adão. Cassianoacreditavaque aspessoaseram capazes deexerceruma boavonta­ deparacom Deus mesmo independente dequalquerinfusãodegraçasobrenatural. Tálcrença foicondenadapeloSegundo ConciliodeOrange em 529 (semendosso da fortedoutrinade predestinaçãodeAgostinho). O semipelagianismo se tornou a teologiapopular da IgrejaCatólicaRomana nosséculosqueprecederam aReforma Protestante;mas foicompletamenterejeitado portodososreformadores,excetoosentãochamadosracionalistasou antitrinitários, talcomo FaustoSocino. Algunscalvinistasadotaramapráticadechamardesemipe- lagianatoda teologiaque não atendesse àsexigênciasdo calvinismorígido (TÜLIP). Talnoção,entretanto,éincorreta.Atualmenteosemipelagianismoéateologiapadrão damaioriadoscristãosevangélicosestadunidenses24.Istoéreveladonapopularidade dosclichês,taiscomo: "Dêum passoparaDeus eledarádoisparavocê"e"Deusvota em você, Satanás vota contra você evocê tem o voto de minerva", aliadosà quase totalnegligênciadadepravaçãomoraleincapacidadesem questõesespirituais. O arminianismo é,no cristianismo evangélicopopular, quase que totalmente desconhecidoemuitomenos crido.Uma dasfinalidadesdestelivroéadesuperareste déficit.Um mitopredominantesobreo arminianismoéo de queateologiaarminiana equipara-seao semipelagianismo. Istoserádesmentido no processo de refutaçãode 23 WILEY,H.Orton.Christian Theoíogy.KansasCity,Mo.;BeaconHill,1941.v.2,p.103 24 Não possodizeromesmo doscristãosevangélicosem outrospaíses,poisnãosei osuficienteacercadelesparafazertalalegação.
  • 37. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades váriosoutros mitos que tratam da condição humana e da salvação.Apresentaremos aquiapenasum prelúdiodo pontodevistaarminianoqueseráexpostomaisadiante. Primeiro, é importante compreender que o arminianismo não detém uma doutrina ou ponto de vistacaracterísticosobre tudo no cristianismo. Não há ne­ nhuma doutrinaarminiana especialdasEscrituras.Os arminianos decoração-ar­ minianosevangélicos-acreditamnas Escriturasetem amesma gama deopiniões sobre os detalhes bíblicos, assim como os calvinistas. Alguns arminianos acre­ ditam na inerrância bíblica, outros não. Todos os arminianos evangélicos estão comprometidoscom aautoridadeeainspiraçãosobrenaturaldaBíbliasobretodos os assuntos de féeprática.De mesmo modo que também não há uma eclesiologia ou escatologiaarminianacaracterística;osarminianosexprimem o mesmo escopo de interpretações que os outros cristãos. Um mito popular promovido por alguns calvinistas éo de que todos os teólogos arminianos são adeptos da teoriagover­ namentaldaexpiação eque rejeitamateoriada substituiçãopenal.Talafirmaçãoé simplesmente falsa.Os arminianosacreditam naTrindade,na divindadeehumani­ dade deJesusCristo,na depravação da humanidade em virtudeda queda primeva, na salvaçãopelagraçasomente atravésda fésomente, eem todasas outrascren­ çasprotestantesimprescindíveis.A retidãocomo justiçaimputadaéafirmadapelos arminianos clássicosseguindo o próprioArmínio. As doutrinas característicasdo arminianismo têm aver com a soberania de Deus sobre ahistóriaea salvação; a providência e apredestinação são as duas doutrinas essenciais onde os arminia­ nos discordam dos calvinistasclássicos. Não há melhor ponto de partidapara examinar asquestões da providência e predestinação que a própriaRemonstrância. Elaéo documento de origem do armi­ nianismoclássico(alémdosescritosdeArmínio).A Remonstrânciafoipreparadapor aproximadamente 43 (onúmero exato é debatido) pastores e teólogos reformados holandeses após a morte de Armínio, em 1609. O documento foiapresentado em 1610parauma conferênciadelíderesdaigrejaedo estadoem Gouda, Holanda, para explicara doutrina arminiana. Seu foco principal está nas questões da salvação e, em especial,napredestinação.Existemváriasversõesda Remonstrância (daqualos remonstrantes receberam oseu nome). Faremos uso de uma tradução paraoinglês 40
  • 38. Introdução feitaa partirdo originalem iatimapresentada de forma um tantocondensada pelo especialistainglêsem arminianismoA.W Harrison: 1.Que Deus, por um decreto eterno e imutável em Cristoantes que o mun­ do existisse, determinou eleger, dentre araçacaída epecadora, para avida eterna, aquelesque, atravésde Sua graça, creem em JesusCristoeperseveram na féeobe­ diência;eque,opostamente, resolveurejeitaros inconversoseos descrentesparaa condenação eterna (Jo3.36). 2.Que, em decorrênciadisto,Cristo,o Salvadordo mundo, morreu portodos ecadaum dos homens, de modo que Eleobteve, pela morte na cruz,reconciliação e perdão pelo pecado para todos os homens; de talmaneira, porém, que ninguém senão osfiéis,defato,desfrutamdestasbênçãos 0o 3-16; 1Jo2.2). 3.Que o homem não podia obtera fésalvificade simesmo ou pela forçade seu própriolivre-arbítrio,mas seencontravadestituídodagraçade Deus, atravésde Cristo,paraserrenovadono pensamento enavontade (Jo15.5). 4.Que estagraçafoiacausado início,desenvolvimentoeconclusãodasalva­ ção do homem; de forma que ninguém poderiacrernem perseverarna fésem esta graça cooperante, e consequentemente todas as boas obras devem ser atribuídas à graça de Deus em Cristo.Todavia, quanto ao modus operandi desta graça, não é irresistível(At7.51). 5.Que osverdadeiroscristãostinhamforçasuficiente,atravésdagraçadivina, paraenfrentar Satanás, o pecado, o mundo, sua própriacarne, ea todosvencê-los; mas quesepornegligênciaelespudessemseapostatardaverdadeirafé,perderafeli­ cidadedeuma boaconsciênciaedeixardeteressagraça,talassuntodeveriasermais profundamenteinvestigadode acordocom asSagradasEscrituras25. Observe que os remonstrantes, assim como Armínio antes deles,não seposi­ cionaramem relaçãoàquestãodasegurançaeternadossantos.Ou seja,elesdeixaram em abertoaquestãoseuma pessoaverdadeiramentesalvapoderiaou nãocairdagra­ ça.Elestambém nãoseguiramopadrãodaTULIP Emboraaformadeexpressaracren­ çacalvinistapeloacrósticodecincopontostenhasidodesenvolvidaposteriormente,a 25 TheRemonstrance, inHARRISON, Beginnings ofArminianism. p. 150-51. 41
  • 39. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades negação dos trêspontos do centro [doacróstico] ébastanteclarana Remonstrância. No entanto, contrariando a ideiapopular sobre o arminianismo (sobretudo entre os calvinistas), nem Armínio e nem os remonstrantes negaram adepravação total;mas afirmaram-na.ClaroqueaRemonstrâncianãoéuma declaraçãocompletadadoutrina arminiana, mas elaaborda bem o seu cerne.Além do que eladiz,há um campo de interpretaçãoonde osarminianos, àsvezes,discordam entresi.Entretanto,existeum consenso arminianogeral,eéissoo que estasinopseiráexplicar,recorrendoampla­ mente ao teólogonazarenoWiley, que recorreuamplamente aArmínio,Wesleyeaos principaisteólogosmetodistasdo séculoXIXmencionadosanteriormente. O arminianismo ensina que todosos sereshumanos nascem moral eespiri­ tualmente depravadose incapazes de fazerqualquer coisaboa ou digna aos olhos de Deus, sem uma infusãoespecial da graça divinapara superar asinclinaçõesdo pecado original. "Todos os homens não apenas nascem debaixo da penalidade da morte como conseqüênciadopecado, como também nascem com uma naturezade­ pravada, que em contrastecom o aspectolegalda pena écomumente denominado depecadoinatoou depravaçãoherdada'’26.Em geral,oarminianismoclássicocon­ corda com aortodoxiaprotestanteque aunião da raçahumana no pecado fazcom que todos nasçam "filhosde ira".Todavia, osarminianosacreditam que amorte de Cristo na cruz fornece uma solução universal para a culpa do pecado herdado, de maneira que elenão é imputado aos infantespor causa de Cristo. É assim que os arminianos, em concordância com os anabatistas, taiscomo os menonitas, inter­ pretam aspassagensuniversalistasdo Novo Testamento, talcomo Romanos 5,que afirmaque todosestãoincluídosdebaixo do pecado assimcomo todosestãoinclu­ ídosna redenção atravésde Cristo. Estatambém é a interpretaçãoarminiana de 1 Tm 4.10, que indica duas salvações por intermédio de Cristo: uma universal para todasaspessoaseuma especialmenteparatodososquecreem.A crençaarminiana na redenção geral não é salvação universal; mas a redenção universal do pecado adâmico. Na teologiaarminiana, portanto, todas as criançasque morrem antes de alcançarem a idade do despertamento da consciência e de pecarem efetivamente 26 WÍLEY,H.Orton.Christian Theoíogy. KansasCity,Mo.:BeaconHill,1941,v.2,p.98. 42
  • 40. Introdução (em oposição ao pecado inato) são consideradas inocentes por Deus e levadas ao paraíso.Dentreasqueefetivamentepecam, somente asquesearrependem ecreem têm Cristocomo Salvador. O arminianismo considera o pecado original,em primeiro lugar,como uma depravação moral oriunda da privação da imagem de Deus; é a perda do poder de evitaro pecado efetivo. "Adepravação é totalna medida em que afetatodo o ser do homem."27Isso quer dizerque todas as pessoas nascem com inclinações alienadas, intelectoobscurecido evontade corrompida28.Há tanto uma cura uni­ versalquanto uma solução mais específicapara estacondição; amorte expiatória de Cristo na cruz removeu a penalidade do pecado original e liberou um novo impulso na humanidade que começa a reverter a depravação com a qual todos vem ao mundo. Cristo é o novo Adão (Rm 5) que é o novo líderda raça; elenão veio unicamente para salvaralguns, mas para fornecerum recomeço para todos. Uma medida de graça preveniente se estende por meio de Cristo a toda pessoa que nasce (Jo 1). Deste modo, a verdadeira posição arminiana admite a plena penalidadedopecado, econsequentementenão minimizaaexcessi­ va pecaminosidade do pecado enem menospreza aobra expiatória denosso SenhorJesusCristo.Ela,todavia,aadmite,não ao negara plena força da penalidade, como fazem os semipelagianos, mas ao magnificarasuficiênciadaexpiaçãoeaconseqüentetransmissãoda graçapreveniente a todosos homens por intermédioda autoridade do últimoAdão29. A autoridadede Cristotem amesma extensão que a deAdão, mas aspessoas devem aceitar(aonãoresistir)estagraçadeCristono intuitodesebeneficiaremplena­ mente dela. 27 Ibid.p.128. 28 Ibid.p.129.Nestacrença, WileyseguiuJohnFletcher. 29 Ibid.p.132-3. 43
  • 41. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades O homem é condenado unicamente por suas próprias trans­ gressões. O dom gratuitoremoveu a condenação originaleabunda para muitas ofensas. O homem setorna responsável peladeprava­ ção de seu próprio coração somente quando rejeitaa solução para ela, e conscientemente ratifica-a como sua própria, com todas as suasconseqüênciaspenais30. A depravação herdada inclui a escravidão da vontade ao pecado, que só é superada pelagraçaprevenientesobrenatural. Estagraça começa a atuarem todos por intermédio do sacrifício de Cristo (eo Espírito Santo enviado ao mundo por Cristo),mas que ganha poder especialatravésda pregação do evangelho. Wiley,se­ guindo Pope eoutrosteólogosarminianos, chama a condiçãohumana -em virtude dopecadoherdado-de"impotênciaparaobem", erejeitaqualquerpossibilidadede bondade espiritualindependentedagraçaespecialprovenientedeCristo. PorqueDeuséamor (Jo3.16; 1Jo4.8),enãoquerqueninguémpereça,mas que todos cheguem ao arrependimento (1Tm 2.4;2 Pe3.9),amorte expiatóriade Cristo é universal; alguns de seus benefíciossão automaticamente estendidos a todos (ex. a libertaçãoda condenação do pecado adâmico) e todos os seusbenefíciossão para todosqueosaceitem (ex.operdãodospecadosefetivoseaimputaçãoderetidão). A expiação éuniversal.Istonão quer dizerque todaahuma­ nidadeserásalvaincondicionalmente,mas queaofertasacrificialde Cristo,atécertaextensão,atendeuàsreivindicaçõesda leidivina,de modo a tornara salvação possível a todos.A redenção, portanto, é universalou geralno sentidoprovisional,mas especialou condicio­ nalem suaaplicaçãoao indivíduo31. Só serãosalvos,entretanto,osqueforempredestinadosporDeusparaasalvação eterna.Estessãooseleitos.Quem estáincluídonoseleitos?TodososqueDeusanteviuque 30 Ibid.p.135. 31 Ibid.p.295. 44
  • 42. Introdução aceitarãosuaofertadesalvaçãoporintermédiodeCristoaonãoresistiremàgraçaquelhes foiestendidamedianteacruzeoevangelho.Destemodo,apredestinaçãoécondicionalem vezdeincondicional;apresciênciaeletivadeDeusécausadapelafédoseleitos. Em oposição a isto [o esquema calvinista], o arminianismo sustentaqueapredestinaçãoéo propósitograciosodeDeus desal­ vartodaahumanidade daruínacompleta. Não éum atoarbitrárioe indiscriminadode Deus quevisagarantirasalvaçãoacertonúmero de pessoas ea ninguém mais. Incluiprovisionalmente todos osho­ mens eestácondicionadasomente pelaféem Cristo32. O EspíritoSanto opera nos corações e mentes de todas as pessoas atécerto ponto, dá-lhesalguma consciênciadas expectativaseprovisãode Deus, easchama aoarrependimentoeàfé.Destemodo, "aPalavradeDeus é,em certosentido,prega­ da universalmente, mesmo quando não registradaem uma linguagem escrita". "Os queouvem aproclamaçãoeaceitamochamado sãoconhecidosnasEscriturascomo oseleitos."33Os réprobossãoos queresistemaochamado deDeus. A graça preveniente é uma doutrina arminiana essencial, que os calvinistas também acreditam, mas osarminianosinterpretam-nadiferentemente.A graçapre­ veniente é simplesmente a graça de Deus convincente, convidativa, iluminadora e capacitadora, que antecede a conversão e torna o arrependimento e afépossíveis. Os calvinistasinterpretam-nacomo irresistíveleeficaz;apessoa na qualestagraça opera iráse arrepender e crer para salvação. Os arminianos interpretam-na como resistível; as pessoas sempre são capazes de resistirà graça de Deus, conforme a Escrituranosadverte (At7.51).Mas sem agraçaprevenienteeiasinevitáveleimpla­ cavelmente resistirãoàvontade de Deus em virtudede sua escravidãoao pecado. A graçapreveniente,conformeotermoimplica,éaquelagraça que "antecede" ou prepara a alma para a entradano estado inicial 32 Ibid.p.337. 33 Ibid.pp.341,343. 45
  • 43. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades de salvação. É a graça preparatória do Espírito Santo exercida no homem abandonado em pecado. No que dizrespeitoàculpa, pode ser considerada misericórdia; em relação à impotência, é o poder capacitador. Pode ser definida, portanto, como a manifestação da influênciadivinaque precedeavidaregeneradaplena34. Então, em certo sentido, os arminianos, como os calvinistas, creem que a regeneração precede a conversão; o arrependimento e a fésão somente possíveis em razãodo EspíritodeDeus exercerdomínio sobreavelhanatureza.A pessoaque recebeaplena intensidadeda graçapreveniente (ex.atravésda pregaçãoda Palavra eachamada internacorrespondente de Deus) não mais estámortaem delitosepe­ cados. Entretanto, talpessoa aindanão estáplenamente regenerada. A ponte entre a regeneração parcial pela graça preveniente e a plena regeneração pelo Espírito Santo éa conversão, que incluiarrependimento e fé.Estes são possibilitadospela graçadivina,mas são livresrespostas da partedo indivíduo. "O Espíritooperacom o concurso humano e por meio dele. "As Escrituras representam o Espírito como operando [naconversão] mediante eem cooperaçãocom o homem. A graçadivina, todavia,sempre recebeaprimazia"35. A ênfasena antecedência eprimazia da graça forma o ponto pacíficoentreo arminianismoeo calvinismo.É istoquetornaosinergismoarminiano"evangélico." Os arminianos levam extremamente a sérioa ênfase neotestamentária na salvação como um dom dagraçaquenão pode sermerecido (Ef2.8).Entretanto,asteologias arminianas e calvinistas - como todos os sinergismos e monergismos - divergem acerca do papel que os humanos desempenham na salvação. Conforme Wiley ob­ serva, a graça preveniente não interfere na liberdade da vontade. Ela não verga a vontade ou torna certaaresposta da vontade. Apenas capacitaavontade a fazera escolha livrequer sejapara cooperar quer sejapara resistiràgraça.A cooperação não contribuiparaasalvação, como se Deus fizesseuma parteeos humanos aou­ tra.Antes, a cooperação com a graça na teologiaarminiana é simplesmente a não 34 Ibid.p.346. 35 Ibid.p.355. 46
  • 44. Introdução resistênciaàgraça. É simplesmente adecisãodepermitirque agraçafaçasua obra ao renunciara todasas tentativasde autojustificaçãoeautopurificaçãoeadmitindo quesomente Cristopodesalvar.Todavia, Deus não toma estadecisãopeloindivíduo; éuma decisãoque osindivíduos, sob o impulso da graçapreveniente, devem tomar porsimesmos. O arminianismo defende que asalvaçãoéinteiramenteda graça-todo movi­ mento da alma em direçãoaDeus éiniciadopelagraçadivina- mas osarminianos também reconhecem que a cooperação da vontade humana é indispensável, pois, em últimainstância,o agentelivredecideseagraçapropostaéaceitaou rejeitada36. O arminianismo clássico ensina que a predestinação é simplesmente a de­ terminação (decreto) de Deus para salvar por intermédio de Cristo todos os que livremente respondem à oferta divina da graça livreao se arrependerem do peca­ do e crerem (confiarem) em Cristo. A predestinação inclui a presciência de Deus daqueles que assim o farão. Ela não incluiuma seleção de certas pessoas para a salvação, muito menos paraacondenação. Muitos arminianosfazem uma distinção entreeleiçãoepredestinação.A eleiçãoécorporativa- Deus determinou que Cristo fosseoSalvadordo grupo de pessoas que searrepende ecrê (Ef1);apredestinação éindividual- apresciênciade Deus dos que searrependerão ecrerâo (Rm 8.29).O arminianismoclássicotambém ensinaqueaspessoasque respondempositivamente à graça de Deus ao não resistira ela (que envolve arrependimento e confiança em Cristo)sãonascidasde novo peloEspíritodeDeus (queéaregeneraçãoplena),per­ doadas de todos os seus pecados e consideradas por Deus como retasem virtude da morte expiatóriade Cristopor elas.Nada distoestáfundamentado em qualquer mérito humano; é uma dádiva perfeita, não imposta, mas livremente recebida. "O únicofundamento dajustificação...éaobrapropiciatóriadeCristorecebidapelafé" e"o único atodejustificação,quandovistonegativamente, éoperdão dos pecados; quandovistopositivamente, éaaceitaçãodo crentecomo justo[porDeus]"37.A úni­ cadiferençasubstancialentreo arminianismo clássicoeo calvinismonestadoutri­ na, então, éo papel do indivíduoem receber a.graçada regeneração ejustificação. 36 Ibid.p.356. 37 Ibid.p.395,393. 47
  • 45. Teologia Arminiana | Mitos E Realidades Conforme Wileyafirma,asalvação "éum trabalhorealizadonas almas dos homens pela operação eficazdo EspíritoSanto. O Espírito Santo exerce seu poder regene- radorapenas em determinadas condições, ou seja,sob as condições de arrependi­ mento e íé"ia. Portanto, asalvação é condicional e não incondicional; os humanos desempenham um papel enão sãopassivos ou controladosporalguma força,quer sejainternaou externa. É neste ponto que muitos críticos monergistas do arminianismo colocam o dedo em risteedeclaram que a teologiaarminiana éum sistemade salvaçãopelas obras, ou, no mínimo, algo inferiorà fortedoutrina pauíina da salvação como um dom gratuito.Seo dom deveserlivrementeaceito,elesasseveram,entãoeleémere­ cido.Porseralivreaceitaçãouma condiçãosine qua non, entãoodom não égratui­ to.Os arminianos simplesmente não conseguem entenderessaalegaçãoesua acu­ saçãoimplícita.Como veremosem váriospontosao longodestelivro,osarminianos sempre afirmaram enfaticamente que a salvação é um dom gratuito; até mesmo o arrependimento eafésão apenas causas instrumentaisda salvaçãoeimpossíveisà partedeuma operaçãointernadagraça!A únicacausaeficientedasalvaçãoéagraça de Deus por intermédio deJesusCristoe do EspíritoSanto.A lógicado argumento queum dom livrementerecebido (nosentidodeque poderiaserrejeitado)não pode ser um dom gratuito deixa a mente arminiana perplexa. Mas a principal razão de os arminianos rejeitarem o entendimento calvinista da salvação monergística, na qual Deus incondicionalmente elege alguns para salvação e inclinasuas vontades irresistivelmente,équeeladenigretantoo caráterde Deus quantoanaturezadeum relacionamentopessoal.Se Deus salvaincondicionaleirresistivelmente,porque Ele nãosalvaatodos?Apelarparamistérionestaalturanão satisfazamente arminiana, pois o caráterde Deus como amor que revelaa simesmo em misericórdiaestá em jogo.Se oshomens escolhidospor Deus não podem resistiràofertade um relacio­ namento corretocom Deus,que tipoderelacionamentoéesse?Uma relaçãopessoal podeserirresistível?Tãispredestinadossão,defato,pessoasem um relacionamento assim?Estassãoquestõesfundamentaisquelevamosarminianos-assimcomo ou­ trossinergistas-aquestionaremtodaformademonergismo, incluindoocalvinismo 38 Ibid.p.419. 48
  • 46. introdução rígido.Não setrata,de maneira nenhuma, de uma visãohumanistado livre-arbítrio autônomo, como seos arminianosestivessemapaixonadospelalivreagênciaporsi só.QualquerleituraimparcialdeArmínio,Wesley,ou qualqueroutroarminianoclás­ sico,revelaráque não setratadisso.Pelocontrário, aquestãoéo caráterde Deus e anaturezado relacionamentopessoal. Eu pontuei anteriormente que não apenas a predestinação, mas também a providênciaforneceum pontodediferençaentreoarminianismoeocalvinismo.Em suma, osarminianoscreemna soberaniaenaprovidênciadivinas,mas interpretam- -nas diferentemente dos calvinistas rígidos. Os arminianos consideram que Deus limita-sea simesmo em relação à históriahumana. Portanto, muito do que acon­ tecena históriaécontrárioàperfeitavontade antecedente de Deus. Os arminianos afirmam que Deus estáno controleda naturezae da história,mas negam que Deus controlatodo acontecimento.Osarminianosnegam queDeus "escondeuma expres­ são de contentamento" por trásdos horroresdahistória.O diabo não éo "diabode Deus",ou mesmo um instrumentodaautoglorificaçãoprovidencialdeDeus.A Queda não foipreordenada por Deus para algum propósito secreto. Os arminianos clássi­ cosacreditamque Deus conhece todasascoisasdeantemão, incluindotodoevento do mal, mas rejeitamqualquernoção de que Deus fornece"impulsos secretos" que controlam até mesmo as ações de criaturasmalignas (angélicas ou humanas)39.O governodeDeus éabrangente,mas porqueDeusselimitaparapermitiralivreagên­ cia humana (em prol de relacionamentos genuínos que não são manipulados ou controlados),eleéexercidoem diferentesmodos.TUdo oqueaconteceé,nomínimo, 39 Calvino,demaneirabastanteconhecida,atribuiuatémesmo osatosmalévolose pecaminososdosímpiosaosimpulsossecretosdeDeus.Uma leituracuidadosadolivro1, cap. 18-“Deus detalmodo usaasobrasdosímpioseadisposiçãolhesvergaaexecutar seusjuízos,queEleprópriopermanecelimpodetodaamácula”-dasInstitutas da Religião Cristã revelaisso.Nela,dentreoutrascoisas, Calvino dizque “uma vez sedizque avon­ tadedeDeus éacausade todasascoisas,aprovidênciaéestatuídacomo moderatrizem todososplanoseaçõesdoshomens, desortequenãoapenascomprovesuaeficiêncianos eleitos,que são regidospeloEspíritoSanto,mas aindaobrigueosréprobosàobediência” (Calvino,João.AsInstitutas - edição clássica. 2aed.4vols.Trad,WaldyrCarvalho Luz.São Paulo:EditoraCulturaCristã,2006,p.232-3).Osarminianosacreditamqueocalvinismorí­ gidonãoconseguedesvencilhar-sedetornarDeusoautordopecadoedomal,e,portanto, contrariandooseucaráter. 49
  • 47. permitidopor Deus, mas nem tudoo que acontece épositivamentedesejado ou até mesmo tornadocertoporDeus. Portanto,o sinergismoentrana doutrinaarminiana daprovidênciaassimcomo nadapredestinação.Deusconhecedeantemão,mas não agesozinhonahistória.A históriaéresultantetantodaagênciadivinaquantodahu­ mana. (Também não devemosnosesquecerdasagênciasangélicasedemoníacas!)O pecado, em particular,não édesejadoenem governadoporDeus, excetono sentido que Deus opermiteeolimita.Maisimportanteainda, Deus não predestinaou torna certoo pecado. Nenhuma expressão concisa do entendimento arminiano da provi­ dênciaémelhordoqueafornecidapeloteólogoreformadorevisionistaAdrioKõnig: Lamentavelmente existem muitas coisas que acontecem na terra que não são a vontade de Deus (Lc 7.30 e todos os demais pecados mencionados na Bíblia), que são contra a sua vontade, e que são oriundos do pecado incompreensível esem sentidoem que nascemos, no qual vivem a maior parte dos homens, e no qual Is­ rael persistiu, e contra o qual até "os mais consagrados" (Catecis­ mo de Heidelbergp. 114) lutaram todos os seus dias (Davi, Pedro). Deus tem apenas um curso deação parao pecado, que éproversua expiação, por tê-lo crucificado e sepultado totalmente com Cristo. Tentar interpretartodas estas coisaspor intermédio do conceito de um plano divino criadificuldades intoleráveis, gerando mais exce­ ções do que regras.Mas amais importanteobjeção équeaídeiade um plano é contrária à mensagem bíblica, uma vez que o próprio Deus setornadespropositado,poisseaquilocontrao qualelelutou , com poder, e pelo qual ele sacrificou seu unigênito, foi, contudo, de alguma forma parteintegrantedo seu conselho eterno. Então, é melhor partirda premissa que Deus tinhacertoobjetivoem mente (aaliança, ou o reino de Deus, ou a nova Terra- que são a mesma coisavistadeângulos diferentes),que eleiráalcançarconosco, sem nós, ou mesmo contranós40. 40 KÓNIG, Adrio.HereAm HA Believer’s Reflection on God. GrandRapids:Eerdmans, Teologia Arminiana | Mitos E Realidades 50
  • 48. Introdução Mitos e Equívocos Em Relação ao Arminianismo O concisoesboçodateologiaarminianaapresentadanestaintroduçãoéapenas o começo. Bastacontrastaroverdadeiroarminiano evangélicocom ascaricaturasde seuscríticos.E asdistorçõeseinformações incorretasque sãoditassobreo arminia­ nismo naliteraturateológicanão são nada menos que apavorantes.Os críticosrefor­ mados reiteradamente descrevem enganosamente Armínio e o arminianismo como semipelagianos. Por exemplo, a primeira edição de Chrístian Doctrine de ShirleyC. Guthrie,um livrodidáticoamplamenteutilizadopelateologiareformada,apresentava Armíniocomo um exemplo desemipelagianismo.Após assígnificantesdiferençasen­ treateologiadeArmínioeosemipelagianismoteremsidoenfatizadasporpelomenos um arminiano, uma revisãodo texto de Guthrie, no ano de 1994, retirouo nome de Armínio.Mas mesmo naediçãorevista,ocontextoeanotaderodapé tratandodo Sí- nodo deDortindicamoarminianismocomo omodelo históricodesemipelagianismo. Vintecincoanos de danos àreputaçãodeArmínio não foram completamente desfei­ tospelarevisão.O livroThe Five Points o f Calvinism também apresentamuitosexem­ plosdeimagensdistorcidasdateologiaarminiana. Edwin H.Palmer,pastoreteólogo calvinista, explicitamente equipara o arminianismo ao semipelagianismo, ignorando por completo a doutrina arminiana da graça preveniente. Eleaté mesmo chegou ao cúmulo de declarar que "o arminiano nega a soberania de Deus". Ele acrescentou insultoà injúriaao sugerir,do inícioao fim,que o arminianismo tem suas bases no racionalismoem vezde na humildesubmissão àPalavrade Deus41.Qualquerum que tivercontatocom uma literaturaarminianaevangélicaimediatamentevêqueosarmi­ nianossãotãocomprometidoscom aautoridadedasEscriturasquantoqualqueroutro protestante42.Outrosexemplosdedeturpaçõesdoarminianismoabundamnaliteratu- 1982.p.198^9. 41 PALMER, EdwinH.The Five Points of Calvinism. GrandRapids:Baker,1972.p.59, 85, 107. 42 Algunscalvinistasacusaram Wesleydedesertardo principiosolascriptura - “so­ menteaEscritura”-como anormaparatodadoutrina.Talacusaçãoéoriundadadescrição deAlbertOutíer,teólogometodista,acercado método teológicodeWesieycomo “quadri- lateral”,sendo o método composto de Escritura, tradição, razão e experiência. Todavia, 51