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sem depender de infindáveis doações e apoios, e a
disciplina do mercado assegura que os erros sejam
corrigidos de forma rápida.
Isso pode até ser considerado óbvio, mas não
é, pois, se fosse, o papel dos negócios seria visto
de maneira muito mais favorável. Como afirmou C.
K. Prahalad, “senso comum não é tão comum!”
(comentário feito ao autor numa conferência da
Universidade de Michigan, em Ann Arbor).
Antes de avançarmos, vejamos alguns dados
sobre a China e a Coréia do Sul.
Na Figura 1, vemos que o crescimento eco-
nômico da China provocou a maior redução da
pobreza humana na história, tirando perto de 600
milhões de pessoas da pobreza absoluta em 26
anos. Destaca-se, sobretudo, a queda a partir de
2001, quando a China foi admitida na Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Vejamos agora os dados da Coréia do Sul, de
1970 a 2008 (Figura 2), para compararmos com
Coréia do Norte e Gana, no mesmo período.
Novamente, os dados apresentam um forte
argumento de que a industrialização é fundamen-
tal para o crescimento de produtividade/renda e
Raramente, a palavra “negócios” é mencio-
nada no debate sobre pobreza e desenvolvimento
econômico. De certa forma, isso não nos surpre-
ende, pois os comerciantes e os negócios sempre
foram tratados com indiferença, desde os tempos
das frotas mercantis fenícias até a Índia de Nehru
(embora isso não tenha impedido o Partido do
Congresso, no poder, de solicitar benefícios das
empresas). Os negócios sempre foram tolerados
como um mal necessário, em vez de encorajados.
Mas, qual seria a realidade de hoje? Mesmo
quem assume ser a favor da redistribuição (e eu
sou), o que realmente está sendo redistribuído?
Afinal, não podemos redistribuir a pobreza – ape-
nas a riqueza –, e, para isso, primeiro é preciso
criá-la. E o único agente social que pode criar
riqueza são os negócios.
Podemos discutir se são os negócios priva-
dos ou os conduzidos pelo Estado que fazem um
melhor trabalho de geração de riqueza. Minha
tendência é favorecer os negócios privados, pois
acredito que eles têm sistemas de incentivos cons-
truídos para a melhor alocação de recursos. E ain-
da mais importante – os negócios são sustentáveis
Oportunidades na base da pirâmide
por Reuben Abraham
42 DOM
634
375
212
52
0
100
200
300
400
500
600
700
1981 1990 2001 2007
figura 1 | Pobreza na China (em milhões de pessoas)
Percentual de pessoas vivendo com menos de US$ 1.08 por dia (PPP)
0
5000
10000
15000
20000
388 244 291 555 709
20000
Coréia do Norte Coréia do Sul
1970 2008
Gana
figura 2 | PIB per Capita (1970-2008) na Coréia do Norte,
Gana e Coréia do Sul (em US$)
Fonte: National Accounts Estimates of Main Aggregates.
United Nations Statistics Division: http://data.un.org
DOM 43
diminuição da pobreza. Observamos, nas duas
figuras, que os países que conseguiram criar um
ambiente favorável aos negócios e ao mercado
foram muito bem-sucedidos na redução drástica
da pobreza. Portanto, é quase inacreditável que
ainda haja dúvidas sobre o papel central dos negó-
cios e do empreendedorismo no desenvolvimento
econômico.
Outro fator que contribuiu para que as solu-
ções de negócios para diminuição da pobreza
ganhassem força nos últimos anos foi a fenomenal
penetração da telefonia móvel em todo o mundo.
Ainda que as condições iniciais tenham sido par-
cialmente subsidiadas, o crescimento da telefonia
móvel vem sendo liderado pelo mercado, na medi-
da em que os mercados competitivos em tele-
comunicações baixaram fortemente o preço dos
aparelhos telefônicos e das tarifas. O número de
assinantes de telefonia móvel disparou, de cerca
de 1 bilhão (quase todos em países desenvolvidos)
para mais de 5 bilhões no momento, a maioria pes-
soas pobres ou de classe média baixa, localizadas
em países em desenvolvimento. Apenas na Índia,
o número de assinantes subiu de três milhões, em
2000, para mais de 850 milhões este ano. Nos
últimos dois anos, o país registrou de 15 a 20
milhões de novos assinantes por mês. A adoção da
telefonia móvel provocou um aumento de produti-
vidade e renda em vários mercados de baixa renda.
O modelo da Base da Pirâmide Stuart Hart
e C. K. Prahalad desenvolveram um modelo
conceitual para pensar em mercados de baixa
renda (The Fortune at the Bottom of the Pyramid,
Strategy+Business, número 26, 2002), com a
divisão da pirâmide econômica em camadas,
incluindo uma base substancial. Eles argumentam
que existe uma oportunidade gigantesca na oferta
de produtos de alta qualidade a preços acessíveis
para a base da pirâmide econômica.
Para simplificar, calculo a última camada da
pirâmide em aproximadamente um bilhão de pes-
soas que vivem com menos de US$ 1,50 por dia
e, provavelmente, estão fora do alcance dos mer-
cados atuais. No topo da pirâmide há pelo menos
um bilhão de pessoas com alta renda, a maioria
vivendo em países desenvolvidos, apesar de que
as elites dos países em desenvolvimento talvez
também pertençam a essa mesma a categoria. No
meio, estão algo em torno de 4 a 4,5 bilhões de
pessoas, que provavelmente recebem de US$ 1,50
a US$ 15,00 por dia. Esse segmento representa
um grande mercado inexplorado. Mas é preciso
cuidado para não sermos teocráticos com essas
definições, já que elas não são exatas e utilizadas
apenas para criar um modelo conceitual.
Indo além do modelo da Base da Pirâmide
Ainda que as premissas de Hart e Prahalad for-
neçam um aparato extremamente útil para pensar
em oportunidades nos mercados de baixa renda,
seria importante ir além do modelo apresentado,
abordando também as principais críticas feitas a
esse modelo (um de seus críticos mais ferozes foi
Aneel Karnani, colega de Prahalad na Ross School
of Business) – foco excessivo em multinacionais
estrangeiras e no consumo (que os pobres mal
podem custear), ao invés da produção.
É fundamental manter o foco não no seg-
mento mais pobre do mercado, mas nos estratos
medianos, que formam um mercado real (e muito
grande). Nesse segmento, é menos relevante o
questionamento se as pessoas estão consumindo
produtos que não precisam, já que aí o custo de
oportunidade de cada dólar é menor do que para
aqueles que são absolutamente pobres.
Acredito também que o foco em empresas
multinacionais erra o alvo em relação às pequenas
e médias empresas (PMEs), que são o coração de
qualquer economia, especialmente na criação de
empregos. As grandes empresas, em sua persegui-
ção implacável por maior produtividade, não criam
tantos empregos. De fato, observando os números, o
segmento das PMEs é responsável por algo em torno
de 85% dos empregos nos Estados Unidos e acima
de 90% na Europa. Na verdade, a queda na criação
de empregos nesse setor é a maior responsável pela
atual taxa de desemprego nos Estados Unidos.
A maioria dos empregos em países da OCDE
é criada no segmento das PMEs. No entanto, em
países como a Índia, essas empresas empregam
menos de 10% da população. Na medida em que
esses países vivem a transição de uma economia
primariamente agrícola, precisam que as PMEs
cresçam rapidamente e absorvam a força de
trabalho liberada pelos ganhos de produtividade
na agricultura. Portanto, uma questão relevante
é: se essas empresas são tão importantes como
44 DOM
parecem, o que retarda seu crescimento em países
em desenvolvimento? Creio que alguns custos de
transação têm papel importante nesse contexto:
• Governos e políticas regulatórias: apesar de
suas boas intenções, os governos acabam sendo
um imenso empecilho para o segmento das PMEs,
sobretudo porque criam um ambiente de negócios
hostil, apesar de toda a evidência de que os países
amigáveis aos negócios tendem a ser mais ricos do
que os menos amistosos. Um exemplo disso são as
restrições de muitos deles para a entrada e saída
de negócios, além de leis trabalhistas onerosas na
contratação e desligamento de pessoal.
• Acesso a financiamento: junto com as
questões de políticas públicas, o acesso ao finan-
ciamento é outro dificultador do desenvolvimento
das PMEs. Pequenos empreendimentos, especial-
mente em negócios simples (em contraponto aos
de tecnologia), têm sérias dificuldades em levantar
capital, seja por empréstimos ou capital acionário.
Isso leva a um custo de capital mais alto do que
o necessário e as fontes de recursos continuam
sendo os amigos e a família. Outro problema
das empresas é a obsessão pela propriedade (os
empreendedores parecem preferir ter 100% de
uma empresa de US$ 1 milhão, do que 20% de
uma empresa de US$ 1 bilhão), o que torna o
acesso ao capital acionário muito mais difícil.
• Acesso a mercados: mesmo no cenário mais
favorável, quando as PMEs estão indo bem, elas
têm problemas em acessar os mercados, principal-
mente os mais distantes (tipicamente de margens
mais altas).
• Acesso a melhores práticas, tecnologia e
redes de conhecimento: este é um ponto óbvio,
mas a falta de acesso leva à constante “reinven-
ção da roda” e ao uso de tecnologias e processos
“subótimos” e ineficientes.
• Acesso a talentos: as PMEs tem um sério
problema para acessar os talentos, tanto na faixa
mais alta quanto na mais baixa do mercado. As
poucas empresas que conseguem ter esse acesso
enfrentam pedidos de demissão e alta rotatividade
O problema é agravado por questões de proprie-
dade e controle: dificilmente os proprietários con-
cordam em transferir decisões e responsabilidades
para gestores profissionais.
Tipos de empreendedores Antes de discutir-
mos como enfrentar esses desafios, é importante ter
mais clareza sobre o empreendedorismo, que, infe-
lizmente, se tornou bastante confuso desde o sur-
gimento de “estórias” em torno das microfinanças.
Considero a existência de três tipos de empre-
endedores: aquele que vende um produto numa
barraca de beira de estrada, o proprietário de
uma PME e outros do tipo Steve Jobs/Bill Gates,
que constroem negócios imensos, criam enorme
riqueza para os acionistas e empregam centenas
de milhares de pessoas. Qualquer sociedade com
um bom funcionamento tentará eliminar o primeiro
tipo de empreendedor, por ser um meio de subsis-
tência disfarçado de empreendedorismo, embora
ainda seja frequentemente assim reconhecido.
Um efeito colateral do boom de microfinanças
na última década foi a celebração desse tipo de
empreendedor.
O empreendedorismo é um conjunto de habi-
lidades muito especializadas, que apenas uma
pequena fatia da população possui. Obviamente,
traz uma grande recompensa para os que têm
essas habilidades e são bem-sucedidos.
É fundamental manter o foco
não no segmento mais pobre
do mercado, mas nos estratos
medianos, que formam um
mercado real (e muito grande)
DOM 45
Observando a média das turmas de MBA na
Indian School of Business (ISB), onde sou pro-
fessor, constatamos que menos de 5% dos alunos
se tornam empreendedores, enquanto o restante
apenas está buscando melhores oportunidades de
emprego. Por que devemos assumir que as popula-
ções de baixa renda são, de alguma forma, diferen-
tes? E, mais importante: por que devemos assumir
que elas têm maior talento para o empreendedoris-
mo? De fato, o que um empreendedor no nível de
subsistência mais deseja é um emprego formal de
tempo integral que lhe garanta renda e benefícios
fixos. E não o jogo variável e arriscado no qual o
empreendedorismo às vezes se transforma.
O pior é que numa equivocada tentativa de
transformar empreendedores de subsistência em
empreendedores reais, podemos perder boas opor-
tunidades de criar negócios. A experiência me
leva a crer que o vendedor de chá em frente à ISB
não tem interesse em expandir e se tornar uma
Starbucks do Chá. Realmente, ele preferiria ser um
motorista na minha escola, com emprego formal,
renda fixa e alguns benefícios.
É muito importante perceber essa diferença,
especialmente numa época em que a noção de
microempreendedorismo está na moda. O cres-
cimento do setor formal é bom não apenas para
as autoridades tributárias, mas também para os
empregados que atualmente definham na sombra
do setor informal.
Má avaliação de risco e acesso ao finan-
ciamento Estando claro o tipo de empreendedo-
rismo que queremos endossar, podemos analisar
46 DOM
os custos de transação, especialmente o acesso ao
financiamento. Acredito realmente que há muitas
oportunidades de investimentos na oferta de bens
e serviços de alta qualidade para os mercados de
baixa renda. Em minha opinião, os mercados dos
países em desenvolvimento, especialmente os da
base da pirâmide, se caracterizam por avaliações
incorretas dos riscos e assimetrias de informação.
Existe, portanto, oportunidade real de aplicar
capital social e filantrópico ao se reavaliar esses
riscos. Além disso, há um papel destinado à
pesquisa acadêmica: desvendar algumas dessas
oportunidades de investimentos. Estudos e insi-
ghts dessa natureza podem ser comercializados
internamente ou disponibilizados para agentes
externos, que possam construir novos negócios
com base neles (veja o papel importante que
universidades como Stanford desempenharam na
catalisação do cluster de alta tecnologia em torno
do Vale do Silício, nos EUA).
Exemplos de investimentos por investido-
res comerciais Vejamos agora alguns exemplos
de investimentos ocorridos na Índia. Em 2005,
poucas pessoas estavam atentas às oportunidades
no treinamento de habilidades profissionais, apesar
dos cenários macroeconômicos sinalizarem um
grande desafio para a educação nos 20 anos seguin-
tes, especialmente nos negócios. A Índia precisaria
educar 700 milhões de estudantes até 2025, 200
milhões deles com educação universitária e 500
milhões com ensino técnico-profissional. A linha
divisória entre um bônus demográfico e um pesade-
lo demográfico pode ser quase imperceptível.
Uma quantidade razoável de pesquisas indicou
como poderia ser a evolução desses grandes núme-
ros, e um fundo de hedge adquiriu parte de uma
empresa de treinamento no ensino básico de eletrô-
nica (manutenção de computadores, iPods, rádios,
aparelhos de TV, etc.) para classes de baixa renda.
Menos de dois anos depois, quando se retirou do
negócio, o fundo tinha conseguido 350% de retor-
no nesse investimento, enquanto a empresa estava
criando 20.000 empregos de baixa renda por ano.
Em 2007, outro fundo de hedge investiu numa
oportunidade “inviável” – a coleta e gestão de
resíduos sólidos. Hoje, essa companhia é a maior
empresa individual desse serviço na Índia, com
receita de US$ 75 milhões e margens de EBITDA
de cerca de 40% (existem empresas maiores no
setor de tratamento de resíduos, em geral conglo-
merados que atuam em diversos outros setores).
Do lado social, a companhia dá emprego direto
para milhares de trabalhadores de baixa renda,
enquanto a sua “pegada” ambiental (esse é um
ponto crucial, pois os resíduos não coletados cau-
sam diversas doenças, como dengue e malária)
afeta a vida de mais de 15 milhões de pessoas,
numa estimativa conservadora.
Certamente não havia nada de errado com
esses investimentos e hoje podemos observar um
grande número de investidores e empreendedores,
tanto na gestão de resíduos como no treinamen-
to vocacional. Podemos, então, concluir que foi
a percepção do risco e a falta de compreensão
que afastaram os investidores em 2005 e 2007.
Analisando esses investimentos mais de perto, tirei
algumas conclusões:
DOM 47
essas empresas (uma empresa financeira não ban-
cária, a NBFC, é o mais provável veículo para esse
tipo de empréstimos).
O Fundo SONG O Fundo SONG foi estabelecido
em 2009, na Índia, para cuidar do financia-
mento de negócios em estágio inicial, voltados
para mercados da base da pirâmide. A premissa
fundamental desse fundo era a de que se fosse-
mos focar nos mercados da base da pirâmide, o
impacto social viria em seguida. Por exemplo, se
financiássemos a educação para faixas de baixa
renda, não precisaríamos de medidas complexas
para perceber que tínhamos tido um impacto na
vida dos mais pobres.
Como o Fundo SONG tem em primeiro lugar
a ambição de um retorno dos investimentos, o
impacto social não pode ser desculpa para o não
retorno do capital dos investidores. O fundo foi for-
mado com a crença de que a visão social pertence
ao investidor e não ao empreendedor.
Isso merece uma explicação. Algumas vezes,
os investidores erram ao sustentar pessoas orien-
tadas a uma missão, que se tornam empreende-
doras como um caminho para executar aquela
missão. Entretanto, ao manter a nossa crença
de que o empreendedorismo é uma habilidade
altamente especializada, apoiamos empresários
que trabalham em mercados da base da pirâmide.
Isso garante um impacto social, independente
do empreendedor estar buscando, ou não, esse
resultado. Nossa experiência mostra que a escala
e o sucesso estão intimamente relacionados com a
capacidade de apostar no tipo certo de empresário,
e não na causa certa.
• A demonstração tem um papel primordial na
abertura dos mercados de baixa renda. Um inves-
timento de sucesso pode atrair outros.
• A má avaliação do risco pode ser corrigida
com uma combinação de pesquisa de alta qualida-
de e capital de longo prazo inteligente.
• Os empreendedores, apesar de terem criado
benefícios sociais e ambientais enormes, não foram
empreendedores sociais, mas simplesmente os que
criaram esses benefícios, ao gerir bem um negócio.
• Ambos os investimentos exigiram grandes
somas de recursos e parece óbvio que o acesso ao
capital foi um considerável empecilho nos estágios
iniciais do crescimento das empresas.
Baseados nesse entendimento e nas pesquisas
sobre os mercados da base da pirâmide, atuamos
de maneira ativa no estágio inicial de constituição
de um fundo de capital de risco em PMEs, tendo
o Soros Economic Development Fund, a Omidyar
Network e a Google como investidores. O fundo
teve recursos de US$ 17 milhões e foi criado
para realizar aportes de US$ 1 milhão a US$ 1.5
milhões em negócios atraentes voltados para a
base da pirâmide.
É preciso aqui fazer um esclarecimento.
Acredito que existam dois tipos de PMEs – um
com imenso potencial de crescimento e outro que
sempre será uma PME. O fundo SONG (acrônimo
para Soros, Omidyar Network e Google), como veí-
culo de participação na propriedade de empresas,
foi criado tendo como alvo o primeiro tipo, embora
exista uma oportunidade de fornecer empréstimos
a o outro tipo de PMEs, principalmente conside-
rando que os bancos não querem emprestar para
Nossa experiência mostra
que a escala e o sucesso estão
intimamente relacionados
com a capacidade de apostar
no tipo certo de empresário,
e não na causa certa
48 DOM
Habitação para população de baixa renda
Esta é outra oportunidade não aproveitada na
maioria dos países em desenvolvimento, especial-
mente quando eles crescem rápido e acabam se
urbanizando em velocidade ainda maior (a urba-
nização é causa e consequência do crescimento
econômico). Somente na Índia, a estimativa é de
um déficit de 30 milhões de habitações, mais de
95% no segmento de baixa renda. Nossa pesquisa
sobre o mercado imobiliário identificou apenas
dois projetos focados nesse segmento, o que
representa um imenso desajuste entre a demanda
e oferta. Em 12 meses de pesquisas, identificamos
os seguintes insights-chave:
• A maioria das empresas imobiliárias comete
um erro fundamental quando segmentam o mer-
cado pela renda – um habitante de uma favela
em Mumbai tem provavelmente uma renda mais
elevada do que uma pessoa de classe média numa
cidade de nível 3. Descobrimos que a segmentação
seria mais adequada se fosse feita com base na
geografia e cada uma exigiria uma solução habita-
cional diferente.
• Apenas os clusters industriais têm um déficit
de seis milhões de residências, apesar dos empre-
gos formais e o potencial de descontos nas folhas
de pagamento, conforme pesquisa realizada por
Roopali Raghavan e Reshma Apte, pesquisadores
do Centro para Soluções em Mercados Emergentes
(CEMS) da ISB.
• Fora das grandes cidades, os proprietários de
baixa renda preferem viver em casas de um único
andar, com estruturas simples.
• Se fosse adotado um modelo de capital de
giro com rápidas saídas, em vez do tradicional
modelo de empréstimos bancários, haveria poten-
cial para a geração de lucros significativos. Nesses
casos, a valorização da terra é fonte de grandes
lucros e, em consequência, os proprietários promo-
vem os empreendimentos lentamente, na medida
em que o valor da terra aumenta.
Baseados nesses insights e no levantamento
de cerca de US$ 500.000,00 de capital, deci-
dimos testar a hipótese com um projeto piloto
comercial de cerca de 220 residências, vendidas
por US$ 6.000,00 a US$ 11.000,00 (casas de 20
a 28 metros quadrados, não incluindo um jardim e
um quintal, que existem em todas as residências).
Esse preço tornaria possível a propriedade de
residências para famílias com renda entre US$
150,00 e US$ 300,00 por mês (tipicamente
com duas pessoas gerando renda por família). Os
proprietários teriam que dar um sinal de 20% e
depois pedir um financiamento. O emprego no
setor formal torna o processo mais fácil para os
bancos, especialmente aqueles que focam priori-
tariamente em alguns segmentos da sociedade.
Considerando a demanda não atendida do
mercado, 75% das residências foram vendidas
no primeiro dia da pré-venda. Somando os baixos
custos de construção e os 20% de sinal, garantiu-
-se que o projeto ficasse livre de dívidas (sem
necessidade de um project finance) e o fluxo de
caixa positivo, desde o primeiro dia. Ao final, o
projeto gerou uma taxa interna de retorno de mais
de 100%. Agora, os investidores privados estão
investindo na empresa, permitindo que ela aumen-
te sua escala de operações.
Baseados em nossa pesquisa e na experiência
de comercialização, identificamos três oportunida-
des comerciais no segmento de habitação para a
população de baixa renda:
1. Compradores potenciais em diferentes
segmentos geográficos (como mencionado ante-
riormente).
2. Residências para aluguel – há um imenso
déficit no estoque de residências para aluguel no
mercado, em todos os segmentos, mas especial-
mente para a população de baixa renda. Abaixo
de certo nível de renda, a propriedade não é uma
alternativa viável e o aluguel se torna uma opção
mais atraente. Um trabalhador migrante recém-
-chegado a uma cidade não tem necessidade
nem capacidade de manter uma casa, até que
sua família se junte a ele e a necessidade de
espaço aumente.
3. Financiamento habitacional – atualmente,
os bancos fornecem financiamento aos nossos
clientes porque eles têm um emprego formal.
Entretanto, deve haver uma oportunidade signifi-
cativa em oferecer financiamento imobiliário para
trabalhadores informais a um custo mais baixo do
que o dos bancos. Deve haver também maneiras de
oferecer seguros que protejam contra o não paga-
mento causado por flutuações bruscas na renda
dos trabalhadores.
DOM 49
figura 3 | Contornos de uma sociedade que funcione bem
INFRAESTRUTURA
FÍSICA
INFRAESTRUTURA
SOCIAL
INFRAESTRUTURA
FACILITADORA
Imóveis / Terras Emprego /
Empregabilidade
Governança
Água / Esgoto Saúde Políticas Públicas
Energia / Clima Educação Planejamento
Habitação Financiamento
Alimentos / Agricultura Sustentabilidade
Transportes / Logística Infraestrutura Soft
Infraestrutura Digital
50 DOM
Como pensar em oportunidades nesse seg-
mento A Figura 3 poderia ser concebida como os
elementos de uma sociedade que funciona bem,
como os pilares da urbanização ou crescimento
urbano e ainda em termos de inovações e investi-
mento potenciais no segmento da base da pirâmi-
de, com a exceção das três primeiras caixas cinza.
É impossível ter sociedades saudáveis ou cidades
funcionando bem sem que cada um desses pontos
seja adequadamente tratado. Mais ainda – eles
precisam ser tratados simultaneamente e não
incrementalmente.
Pressupostos básicos Cada uma dessas cai-
xas representa um mercado de US$ 100 bilhões
apenas na Índia, portanto não há um risco de
mercado real se for encontrada uma solução de
alta qualidade e baixo preço. Sempre haverá um
mercado para água tratada, por exemplo. Além
disso, todos esses setores podem comportar um
alto nível de competição. Por exemplo, em habi-
tação, dez empresas adicionais não afetariam
os negócios existentes, ainda que beneficiassem
imensamente os consumidores. Mesmo assumido
o melhor cenário, seremos pressionados a construir
100.000 residências no período de cinco anos.
Considerando o déficit de 30 milhões de residên-
cias (ou de seis milhões apenas nas áreas indus-
triais), a competição é a menor das preocupações.
A execução é um problema.
Portanto, estamos considerando oportunida-
des com baixo risco tecnológico ou de mercado,
e o risco da execução é muito mais fácil de ser
controlado pelo investidor. Se o foco for inovação,
fundamentos de negócios, execução e um fluxo de
caixa positivo o mais rápido possível, haverá imen-
sas oportunidades em cada um desses setores.
Papéis para as multinacionais? Considerando
tudo o que foi comentado neste artigo, haveria um
papel para as empresas multinacionais nos seg-
mentos da base da pirâmide? Acredito que sim.
Em alguns casos, isso vai envolver oportunidades
para lidar diretamente com os consumidores (como
vender xampus para os pobres), mas deve haver
possibilidades muito maiores (e de menor custo)
ao lidar com os custos de transação encontrados
por empresas menores, mais inovadoras e empre-
endedoras. Finanças é um bom começo, já que
os empreendedores usualmente são mais bem
atendidos por investidores estratégicos (grandes
empresas que atuam nos mesmos segmentos)
do que por investidores financeiros. Além disso,
as multinacionais costumam ter acesso a merca-
dos, novas tecnologias e talentos em gestão, que
poderiam ser fortemente utilizados por empresas
iniciantes (startups). Finalmente, em relação às
políticas públicas, uma grande empresa provavel-
mente será mais capaz de lutar por mudanças do
que pequenas empresas desconhecidas.
Reuben Abraham é professor da Indian School of Business (ISB), res-
ponsável pelo Centro para Soluções em Mercados Emergentes (CEMS), e
PhD pela Universidade de Columbia (EUA).
Tradução: Aldemir Drummond
DOM 51

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Oportunidades na base da pirâmide

  • 1. sem depender de infindáveis doações e apoios, e a disciplina do mercado assegura que os erros sejam corrigidos de forma rápida. Isso pode até ser considerado óbvio, mas não é, pois, se fosse, o papel dos negócios seria visto de maneira muito mais favorável. Como afirmou C. K. Prahalad, “senso comum não é tão comum!” (comentário feito ao autor numa conferência da Universidade de Michigan, em Ann Arbor). Antes de avançarmos, vejamos alguns dados sobre a China e a Coréia do Sul. Na Figura 1, vemos que o crescimento eco- nômico da China provocou a maior redução da pobreza humana na história, tirando perto de 600 milhões de pessoas da pobreza absoluta em 26 anos. Destaca-se, sobretudo, a queda a partir de 2001, quando a China foi admitida na Organização Mundial do Comércio (OMC). Vejamos agora os dados da Coréia do Sul, de 1970 a 2008 (Figura 2), para compararmos com Coréia do Norte e Gana, no mesmo período. Novamente, os dados apresentam um forte argumento de que a industrialização é fundamen- tal para o crescimento de produtividade/renda e Raramente, a palavra “negócios” é mencio- nada no debate sobre pobreza e desenvolvimento econômico. De certa forma, isso não nos surpre- ende, pois os comerciantes e os negócios sempre foram tratados com indiferença, desde os tempos das frotas mercantis fenícias até a Índia de Nehru (embora isso não tenha impedido o Partido do Congresso, no poder, de solicitar benefícios das empresas). Os negócios sempre foram tolerados como um mal necessário, em vez de encorajados. Mas, qual seria a realidade de hoje? Mesmo quem assume ser a favor da redistribuição (e eu sou), o que realmente está sendo redistribuído? Afinal, não podemos redistribuir a pobreza – ape- nas a riqueza –, e, para isso, primeiro é preciso criá-la. E o único agente social que pode criar riqueza são os negócios. Podemos discutir se são os negócios priva- dos ou os conduzidos pelo Estado que fazem um melhor trabalho de geração de riqueza. Minha tendência é favorecer os negócios privados, pois acredito que eles têm sistemas de incentivos cons- truídos para a melhor alocação de recursos. E ain- da mais importante – os negócios são sustentáveis Oportunidades na base da pirâmide por Reuben Abraham 42 DOM
  • 2. 634 375 212 52 0 100 200 300 400 500 600 700 1981 1990 2001 2007 figura 1 | Pobreza na China (em milhões de pessoas) Percentual de pessoas vivendo com menos de US$ 1.08 por dia (PPP) 0 5000 10000 15000 20000 388 244 291 555 709 20000 Coréia do Norte Coréia do Sul 1970 2008 Gana figura 2 | PIB per Capita (1970-2008) na Coréia do Norte, Gana e Coréia do Sul (em US$) Fonte: National Accounts Estimates of Main Aggregates. United Nations Statistics Division: http://data.un.org DOM 43
  • 3. diminuição da pobreza. Observamos, nas duas figuras, que os países que conseguiram criar um ambiente favorável aos negócios e ao mercado foram muito bem-sucedidos na redução drástica da pobreza. Portanto, é quase inacreditável que ainda haja dúvidas sobre o papel central dos negó- cios e do empreendedorismo no desenvolvimento econômico. Outro fator que contribuiu para que as solu- ções de negócios para diminuição da pobreza ganhassem força nos últimos anos foi a fenomenal penetração da telefonia móvel em todo o mundo. Ainda que as condições iniciais tenham sido par- cialmente subsidiadas, o crescimento da telefonia móvel vem sendo liderado pelo mercado, na medi- da em que os mercados competitivos em tele- comunicações baixaram fortemente o preço dos aparelhos telefônicos e das tarifas. O número de assinantes de telefonia móvel disparou, de cerca de 1 bilhão (quase todos em países desenvolvidos) para mais de 5 bilhões no momento, a maioria pes- soas pobres ou de classe média baixa, localizadas em países em desenvolvimento. Apenas na Índia, o número de assinantes subiu de três milhões, em 2000, para mais de 850 milhões este ano. Nos últimos dois anos, o país registrou de 15 a 20 milhões de novos assinantes por mês. A adoção da telefonia móvel provocou um aumento de produti- vidade e renda em vários mercados de baixa renda. O modelo da Base da Pirâmide Stuart Hart e C. K. Prahalad desenvolveram um modelo conceitual para pensar em mercados de baixa renda (The Fortune at the Bottom of the Pyramid, Strategy+Business, número 26, 2002), com a divisão da pirâmide econômica em camadas, incluindo uma base substancial. Eles argumentam que existe uma oportunidade gigantesca na oferta de produtos de alta qualidade a preços acessíveis para a base da pirâmide econômica. Para simplificar, calculo a última camada da pirâmide em aproximadamente um bilhão de pes- soas que vivem com menos de US$ 1,50 por dia e, provavelmente, estão fora do alcance dos mer- cados atuais. No topo da pirâmide há pelo menos um bilhão de pessoas com alta renda, a maioria vivendo em países desenvolvidos, apesar de que as elites dos países em desenvolvimento talvez também pertençam a essa mesma a categoria. No meio, estão algo em torno de 4 a 4,5 bilhões de pessoas, que provavelmente recebem de US$ 1,50 a US$ 15,00 por dia. Esse segmento representa um grande mercado inexplorado. Mas é preciso cuidado para não sermos teocráticos com essas definições, já que elas não são exatas e utilizadas apenas para criar um modelo conceitual. Indo além do modelo da Base da Pirâmide Ainda que as premissas de Hart e Prahalad for- neçam um aparato extremamente útil para pensar em oportunidades nos mercados de baixa renda, seria importante ir além do modelo apresentado, abordando também as principais críticas feitas a esse modelo (um de seus críticos mais ferozes foi Aneel Karnani, colega de Prahalad na Ross School of Business) – foco excessivo em multinacionais estrangeiras e no consumo (que os pobres mal podem custear), ao invés da produção. É fundamental manter o foco não no seg- mento mais pobre do mercado, mas nos estratos medianos, que formam um mercado real (e muito grande). Nesse segmento, é menos relevante o questionamento se as pessoas estão consumindo produtos que não precisam, já que aí o custo de oportunidade de cada dólar é menor do que para aqueles que são absolutamente pobres. Acredito também que o foco em empresas multinacionais erra o alvo em relação às pequenas e médias empresas (PMEs), que são o coração de qualquer economia, especialmente na criação de empregos. As grandes empresas, em sua persegui- ção implacável por maior produtividade, não criam tantos empregos. De fato, observando os números, o segmento das PMEs é responsável por algo em torno de 85% dos empregos nos Estados Unidos e acima de 90% na Europa. Na verdade, a queda na criação de empregos nesse setor é a maior responsável pela atual taxa de desemprego nos Estados Unidos. A maioria dos empregos em países da OCDE é criada no segmento das PMEs. No entanto, em países como a Índia, essas empresas empregam menos de 10% da população. Na medida em que esses países vivem a transição de uma economia primariamente agrícola, precisam que as PMEs cresçam rapidamente e absorvam a força de trabalho liberada pelos ganhos de produtividade na agricultura. Portanto, uma questão relevante é: se essas empresas são tão importantes como 44 DOM
  • 4. parecem, o que retarda seu crescimento em países em desenvolvimento? Creio que alguns custos de transação têm papel importante nesse contexto: • Governos e políticas regulatórias: apesar de suas boas intenções, os governos acabam sendo um imenso empecilho para o segmento das PMEs, sobretudo porque criam um ambiente de negócios hostil, apesar de toda a evidência de que os países amigáveis aos negócios tendem a ser mais ricos do que os menos amistosos. Um exemplo disso são as restrições de muitos deles para a entrada e saída de negócios, além de leis trabalhistas onerosas na contratação e desligamento de pessoal. • Acesso a financiamento: junto com as questões de políticas públicas, o acesso ao finan- ciamento é outro dificultador do desenvolvimento das PMEs. Pequenos empreendimentos, especial- mente em negócios simples (em contraponto aos de tecnologia), têm sérias dificuldades em levantar capital, seja por empréstimos ou capital acionário. Isso leva a um custo de capital mais alto do que o necessário e as fontes de recursos continuam sendo os amigos e a família. Outro problema das empresas é a obsessão pela propriedade (os empreendedores parecem preferir ter 100% de uma empresa de US$ 1 milhão, do que 20% de uma empresa de US$ 1 bilhão), o que torna o acesso ao capital acionário muito mais difícil. • Acesso a mercados: mesmo no cenário mais favorável, quando as PMEs estão indo bem, elas têm problemas em acessar os mercados, principal- mente os mais distantes (tipicamente de margens mais altas). • Acesso a melhores práticas, tecnologia e redes de conhecimento: este é um ponto óbvio, mas a falta de acesso leva à constante “reinven- ção da roda” e ao uso de tecnologias e processos “subótimos” e ineficientes. • Acesso a talentos: as PMEs tem um sério problema para acessar os talentos, tanto na faixa mais alta quanto na mais baixa do mercado. As poucas empresas que conseguem ter esse acesso enfrentam pedidos de demissão e alta rotatividade O problema é agravado por questões de proprie- dade e controle: dificilmente os proprietários con- cordam em transferir decisões e responsabilidades para gestores profissionais. Tipos de empreendedores Antes de discutir- mos como enfrentar esses desafios, é importante ter mais clareza sobre o empreendedorismo, que, infe- lizmente, se tornou bastante confuso desde o sur- gimento de “estórias” em torno das microfinanças. Considero a existência de três tipos de empre- endedores: aquele que vende um produto numa barraca de beira de estrada, o proprietário de uma PME e outros do tipo Steve Jobs/Bill Gates, que constroem negócios imensos, criam enorme riqueza para os acionistas e empregam centenas de milhares de pessoas. Qualquer sociedade com um bom funcionamento tentará eliminar o primeiro tipo de empreendedor, por ser um meio de subsis- tência disfarçado de empreendedorismo, embora ainda seja frequentemente assim reconhecido. Um efeito colateral do boom de microfinanças na última década foi a celebração desse tipo de empreendedor. O empreendedorismo é um conjunto de habi- lidades muito especializadas, que apenas uma pequena fatia da população possui. Obviamente, traz uma grande recompensa para os que têm essas habilidades e são bem-sucedidos. É fundamental manter o foco não no segmento mais pobre do mercado, mas nos estratos medianos, que formam um mercado real (e muito grande) DOM 45
  • 5. Observando a média das turmas de MBA na Indian School of Business (ISB), onde sou pro- fessor, constatamos que menos de 5% dos alunos se tornam empreendedores, enquanto o restante apenas está buscando melhores oportunidades de emprego. Por que devemos assumir que as popula- ções de baixa renda são, de alguma forma, diferen- tes? E, mais importante: por que devemos assumir que elas têm maior talento para o empreendedoris- mo? De fato, o que um empreendedor no nível de subsistência mais deseja é um emprego formal de tempo integral que lhe garanta renda e benefícios fixos. E não o jogo variável e arriscado no qual o empreendedorismo às vezes se transforma. O pior é que numa equivocada tentativa de transformar empreendedores de subsistência em empreendedores reais, podemos perder boas opor- tunidades de criar negócios. A experiência me leva a crer que o vendedor de chá em frente à ISB não tem interesse em expandir e se tornar uma Starbucks do Chá. Realmente, ele preferiria ser um motorista na minha escola, com emprego formal, renda fixa e alguns benefícios. É muito importante perceber essa diferença, especialmente numa época em que a noção de microempreendedorismo está na moda. O cres- cimento do setor formal é bom não apenas para as autoridades tributárias, mas também para os empregados que atualmente definham na sombra do setor informal. Má avaliação de risco e acesso ao finan- ciamento Estando claro o tipo de empreendedo- rismo que queremos endossar, podemos analisar 46 DOM
  • 6. os custos de transação, especialmente o acesso ao financiamento. Acredito realmente que há muitas oportunidades de investimentos na oferta de bens e serviços de alta qualidade para os mercados de baixa renda. Em minha opinião, os mercados dos países em desenvolvimento, especialmente os da base da pirâmide, se caracterizam por avaliações incorretas dos riscos e assimetrias de informação. Existe, portanto, oportunidade real de aplicar capital social e filantrópico ao se reavaliar esses riscos. Além disso, há um papel destinado à pesquisa acadêmica: desvendar algumas dessas oportunidades de investimentos. Estudos e insi- ghts dessa natureza podem ser comercializados internamente ou disponibilizados para agentes externos, que possam construir novos negócios com base neles (veja o papel importante que universidades como Stanford desempenharam na catalisação do cluster de alta tecnologia em torno do Vale do Silício, nos EUA). Exemplos de investimentos por investido- res comerciais Vejamos agora alguns exemplos de investimentos ocorridos na Índia. Em 2005, poucas pessoas estavam atentas às oportunidades no treinamento de habilidades profissionais, apesar dos cenários macroeconômicos sinalizarem um grande desafio para a educação nos 20 anos seguin- tes, especialmente nos negócios. A Índia precisaria educar 700 milhões de estudantes até 2025, 200 milhões deles com educação universitária e 500 milhões com ensino técnico-profissional. A linha divisória entre um bônus demográfico e um pesade- lo demográfico pode ser quase imperceptível. Uma quantidade razoável de pesquisas indicou como poderia ser a evolução desses grandes núme- ros, e um fundo de hedge adquiriu parte de uma empresa de treinamento no ensino básico de eletrô- nica (manutenção de computadores, iPods, rádios, aparelhos de TV, etc.) para classes de baixa renda. Menos de dois anos depois, quando se retirou do negócio, o fundo tinha conseguido 350% de retor- no nesse investimento, enquanto a empresa estava criando 20.000 empregos de baixa renda por ano. Em 2007, outro fundo de hedge investiu numa oportunidade “inviável” – a coleta e gestão de resíduos sólidos. Hoje, essa companhia é a maior empresa individual desse serviço na Índia, com receita de US$ 75 milhões e margens de EBITDA de cerca de 40% (existem empresas maiores no setor de tratamento de resíduos, em geral conglo- merados que atuam em diversos outros setores). Do lado social, a companhia dá emprego direto para milhares de trabalhadores de baixa renda, enquanto a sua “pegada” ambiental (esse é um ponto crucial, pois os resíduos não coletados cau- sam diversas doenças, como dengue e malária) afeta a vida de mais de 15 milhões de pessoas, numa estimativa conservadora. Certamente não havia nada de errado com esses investimentos e hoje podemos observar um grande número de investidores e empreendedores, tanto na gestão de resíduos como no treinamen- to vocacional. Podemos, então, concluir que foi a percepção do risco e a falta de compreensão que afastaram os investidores em 2005 e 2007. Analisando esses investimentos mais de perto, tirei algumas conclusões: DOM 47
  • 7. essas empresas (uma empresa financeira não ban- cária, a NBFC, é o mais provável veículo para esse tipo de empréstimos). O Fundo SONG O Fundo SONG foi estabelecido em 2009, na Índia, para cuidar do financia- mento de negócios em estágio inicial, voltados para mercados da base da pirâmide. A premissa fundamental desse fundo era a de que se fosse- mos focar nos mercados da base da pirâmide, o impacto social viria em seguida. Por exemplo, se financiássemos a educação para faixas de baixa renda, não precisaríamos de medidas complexas para perceber que tínhamos tido um impacto na vida dos mais pobres. Como o Fundo SONG tem em primeiro lugar a ambição de um retorno dos investimentos, o impacto social não pode ser desculpa para o não retorno do capital dos investidores. O fundo foi for- mado com a crença de que a visão social pertence ao investidor e não ao empreendedor. Isso merece uma explicação. Algumas vezes, os investidores erram ao sustentar pessoas orien- tadas a uma missão, que se tornam empreende- doras como um caminho para executar aquela missão. Entretanto, ao manter a nossa crença de que o empreendedorismo é uma habilidade altamente especializada, apoiamos empresários que trabalham em mercados da base da pirâmide. Isso garante um impacto social, independente do empreendedor estar buscando, ou não, esse resultado. Nossa experiência mostra que a escala e o sucesso estão intimamente relacionados com a capacidade de apostar no tipo certo de empresário, e não na causa certa. • A demonstração tem um papel primordial na abertura dos mercados de baixa renda. Um inves- timento de sucesso pode atrair outros. • A má avaliação do risco pode ser corrigida com uma combinação de pesquisa de alta qualida- de e capital de longo prazo inteligente. • Os empreendedores, apesar de terem criado benefícios sociais e ambientais enormes, não foram empreendedores sociais, mas simplesmente os que criaram esses benefícios, ao gerir bem um negócio. • Ambos os investimentos exigiram grandes somas de recursos e parece óbvio que o acesso ao capital foi um considerável empecilho nos estágios iniciais do crescimento das empresas. Baseados nesse entendimento e nas pesquisas sobre os mercados da base da pirâmide, atuamos de maneira ativa no estágio inicial de constituição de um fundo de capital de risco em PMEs, tendo o Soros Economic Development Fund, a Omidyar Network e a Google como investidores. O fundo teve recursos de US$ 17 milhões e foi criado para realizar aportes de US$ 1 milhão a US$ 1.5 milhões em negócios atraentes voltados para a base da pirâmide. É preciso aqui fazer um esclarecimento. Acredito que existam dois tipos de PMEs – um com imenso potencial de crescimento e outro que sempre será uma PME. O fundo SONG (acrônimo para Soros, Omidyar Network e Google), como veí- culo de participação na propriedade de empresas, foi criado tendo como alvo o primeiro tipo, embora exista uma oportunidade de fornecer empréstimos a o outro tipo de PMEs, principalmente conside- rando que os bancos não querem emprestar para Nossa experiência mostra que a escala e o sucesso estão intimamente relacionados com a capacidade de apostar no tipo certo de empresário, e não na causa certa 48 DOM
  • 8. Habitação para população de baixa renda Esta é outra oportunidade não aproveitada na maioria dos países em desenvolvimento, especial- mente quando eles crescem rápido e acabam se urbanizando em velocidade ainda maior (a urba- nização é causa e consequência do crescimento econômico). Somente na Índia, a estimativa é de um déficit de 30 milhões de habitações, mais de 95% no segmento de baixa renda. Nossa pesquisa sobre o mercado imobiliário identificou apenas dois projetos focados nesse segmento, o que representa um imenso desajuste entre a demanda e oferta. Em 12 meses de pesquisas, identificamos os seguintes insights-chave: • A maioria das empresas imobiliárias comete um erro fundamental quando segmentam o mer- cado pela renda – um habitante de uma favela em Mumbai tem provavelmente uma renda mais elevada do que uma pessoa de classe média numa cidade de nível 3. Descobrimos que a segmentação seria mais adequada se fosse feita com base na geografia e cada uma exigiria uma solução habita- cional diferente. • Apenas os clusters industriais têm um déficit de seis milhões de residências, apesar dos empre- gos formais e o potencial de descontos nas folhas de pagamento, conforme pesquisa realizada por Roopali Raghavan e Reshma Apte, pesquisadores do Centro para Soluções em Mercados Emergentes (CEMS) da ISB. • Fora das grandes cidades, os proprietários de baixa renda preferem viver em casas de um único andar, com estruturas simples. • Se fosse adotado um modelo de capital de giro com rápidas saídas, em vez do tradicional modelo de empréstimos bancários, haveria poten- cial para a geração de lucros significativos. Nesses casos, a valorização da terra é fonte de grandes lucros e, em consequência, os proprietários promo- vem os empreendimentos lentamente, na medida em que o valor da terra aumenta. Baseados nesses insights e no levantamento de cerca de US$ 500.000,00 de capital, deci- dimos testar a hipótese com um projeto piloto comercial de cerca de 220 residências, vendidas por US$ 6.000,00 a US$ 11.000,00 (casas de 20 a 28 metros quadrados, não incluindo um jardim e um quintal, que existem em todas as residências). Esse preço tornaria possível a propriedade de residências para famílias com renda entre US$ 150,00 e US$ 300,00 por mês (tipicamente com duas pessoas gerando renda por família). Os proprietários teriam que dar um sinal de 20% e depois pedir um financiamento. O emprego no setor formal torna o processo mais fácil para os bancos, especialmente aqueles que focam priori- tariamente em alguns segmentos da sociedade. Considerando a demanda não atendida do mercado, 75% das residências foram vendidas no primeiro dia da pré-venda. Somando os baixos custos de construção e os 20% de sinal, garantiu- -se que o projeto ficasse livre de dívidas (sem necessidade de um project finance) e o fluxo de caixa positivo, desde o primeiro dia. Ao final, o projeto gerou uma taxa interna de retorno de mais de 100%. Agora, os investidores privados estão investindo na empresa, permitindo que ela aumen- te sua escala de operações. Baseados em nossa pesquisa e na experiência de comercialização, identificamos três oportunida- des comerciais no segmento de habitação para a população de baixa renda: 1. Compradores potenciais em diferentes segmentos geográficos (como mencionado ante- riormente). 2. Residências para aluguel – há um imenso déficit no estoque de residências para aluguel no mercado, em todos os segmentos, mas especial- mente para a população de baixa renda. Abaixo de certo nível de renda, a propriedade não é uma alternativa viável e o aluguel se torna uma opção mais atraente. Um trabalhador migrante recém- -chegado a uma cidade não tem necessidade nem capacidade de manter uma casa, até que sua família se junte a ele e a necessidade de espaço aumente. 3. Financiamento habitacional – atualmente, os bancos fornecem financiamento aos nossos clientes porque eles têm um emprego formal. Entretanto, deve haver uma oportunidade signifi- cativa em oferecer financiamento imobiliário para trabalhadores informais a um custo mais baixo do que o dos bancos. Deve haver também maneiras de oferecer seguros que protejam contra o não paga- mento causado por flutuações bruscas na renda dos trabalhadores. DOM 49
  • 9. figura 3 | Contornos de uma sociedade que funcione bem INFRAESTRUTURA FÍSICA INFRAESTRUTURA SOCIAL INFRAESTRUTURA FACILITADORA Imóveis / Terras Emprego / Empregabilidade Governança Água / Esgoto Saúde Políticas Públicas Energia / Clima Educação Planejamento Habitação Financiamento Alimentos / Agricultura Sustentabilidade Transportes / Logística Infraestrutura Soft Infraestrutura Digital 50 DOM
  • 10. Como pensar em oportunidades nesse seg- mento A Figura 3 poderia ser concebida como os elementos de uma sociedade que funciona bem, como os pilares da urbanização ou crescimento urbano e ainda em termos de inovações e investi- mento potenciais no segmento da base da pirâmi- de, com a exceção das três primeiras caixas cinza. É impossível ter sociedades saudáveis ou cidades funcionando bem sem que cada um desses pontos seja adequadamente tratado. Mais ainda – eles precisam ser tratados simultaneamente e não incrementalmente. Pressupostos básicos Cada uma dessas cai- xas representa um mercado de US$ 100 bilhões apenas na Índia, portanto não há um risco de mercado real se for encontrada uma solução de alta qualidade e baixo preço. Sempre haverá um mercado para água tratada, por exemplo. Além disso, todos esses setores podem comportar um alto nível de competição. Por exemplo, em habi- tação, dez empresas adicionais não afetariam os negócios existentes, ainda que beneficiassem imensamente os consumidores. Mesmo assumido o melhor cenário, seremos pressionados a construir 100.000 residências no período de cinco anos. Considerando o déficit de 30 milhões de residên- cias (ou de seis milhões apenas nas áreas indus- triais), a competição é a menor das preocupações. A execução é um problema. Portanto, estamos considerando oportunida- des com baixo risco tecnológico ou de mercado, e o risco da execução é muito mais fácil de ser controlado pelo investidor. Se o foco for inovação, fundamentos de negócios, execução e um fluxo de caixa positivo o mais rápido possível, haverá imen- sas oportunidades em cada um desses setores. Papéis para as multinacionais? Considerando tudo o que foi comentado neste artigo, haveria um papel para as empresas multinacionais nos seg- mentos da base da pirâmide? Acredito que sim. Em alguns casos, isso vai envolver oportunidades para lidar diretamente com os consumidores (como vender xampus para os pobres), mas deve haver possibilidades muito maiores (e de menor custo) ao lidar com os custos de transação encontrados por empresas menores, mais inovadoras e empre- endedoras. Finanças é um bom começo, já que os empreendedores usualmente são mais bem atendidos por investidores estratégicos (grandes empresas que atuam nos mesmos segmentos) do que por investidores financeiros. Além disso, as multinacionais costumam ter acesso a merca- dos, novas tecnologias e talentos em gestão, que poderiam ser fortemente utilizados por empresas iniciantes (startups). Finalmente, em relação às políticas públicas, uma grande empresa provavel- mente será mais capaz de lutar por mudanças do que pequenas empresas desconhecidas. Reuben Abraham é professor da Indian School of Business (ISB), res- ponsável pelo Centro para Soluções em Mercados Emergentes (CEMS), e PhD pela Universidade de Columbia (EUA). Tradução: Aldemir Drummond DOM 51