2. DADOS DA OBRA
AUTORA: Conceição Evaristo.
ESCOLA LITERÁRIA: Literatura Contemporânea.
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2014.
GÊNERO: Conto.
DIVISÃO DA OBRA: 15 contos.
LOCAL: Periferia de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.
TEMAS: Desigualdade social, preconceito racial, violência, miséria, vida em
favelas, cotidiano de mulheres negras e pobres, homossexualismo, infância,
erotismo.
3. CONTEXTO
SOBRE A AUTORA
A Autora Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em uma
favela de Belo Horizonte em 29 de novembro de 1946. É graduada
em Letras pela UFRJ, mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio
de Janeiro, quando defendeu a dissertação: “Literatura negra: uma
poética da nossa afro-brasilidade” e doutora em Literatura
Comparada na Universidade Federal Fluminense, desde 2011, após a
defesa e aprovação da tese que procurou “investigar a produção de
autores africanos de língua portuguesa em diálogo com a literatura
afro-brasileira”.
4. SOBRE A AUTORA
OBRA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
ROMANCE:
:: Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza.Edições, 2003.
:: Becos da memória. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006, 168p.
POESIA:
:: Poemas da recordação e outros movimentos. (antologia poética). Belo Horizonte: Nandyala, 2008.
CONTO:
:: Insubmissas lágrimas de mulheres. Belo Horizonte: Nandyala, 2011.
:: Olhos d'água. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2015, 116p. Prêmio Jabuti na categoria Contos em
2015.
:: Histórias de leves enganos e parecenças. Conceição Evaristo. [ilustrações Ainá Evaristo]. Rio de
Janeiro: Editora Malê, 2016.
6. TÍTULO
O título, bem como a capa, remetem tanto ao primeiro dos contos (a
personagem adulta acorda intrigada por não lembrar a cor dos olhos
da mãe), quanto às lágrimas derramadas por quase todas as
personagens em situações de crise, de luta pela sobrevivência, de
medo e de desesperança.
As personagens demandam “rios caudalosos”, “águas correntezas”,
“choro-gozo”, “gozo-dor”, “lacrimevaginava”, rio-mar que justificam
os “Olhos d’dágua”.
7. LINGUAGEM
ACESSÍVEL;
CULTA PARA O NARRADOR DE TERCEIRA PESSOA;
BRUTALISMO POÉTICO;
SUTIL EM MUITOS CONTOS (Luamanda, Maria);
CRIAÇÃO DE PALAVRAS POR COMPOSIÇÃO (HIFENIZAÇÃO- CORPO-CORAÇÃO, FLOR-
CRIANÇA) INCLUSIVE NO NOME DAS PERSONAGENS: SALINDA (SINHA LINDA), DORVI (VI
DOR), LUAMANDA (A LUA MANDA),
8. O livro “OLHOS D’ÁGUA” é composto
por 15 contos:
CONTOS EM 1ª PESSOA
“OLHOS D’ÁGUA.”
•ALCANCE: EM UMA NARRAÇÃO EM
1ª PESSOA, NARRADOR:
Dimensão dos sentimentos;
Voz feminina, possivelmente negra (dada a
percepção da experiência vivida).
9. O livro OLHOS D’ÁGUA é composto
por 15 contos:
CONTOS EM 3ª PESSOA: ONISCIÊNCIA
Ana Davenga;
Duzu-Querença;
Maria;
Quantos filhos Natalina teve?;
Beijo na face;
Luamanda;
O cooper de Cida;
CONTOS EM 3ª PESSOA: ONISCÊNCIA
Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos;
Di lixão;
Lumbiá;
Os amores de Kimbá;
Ei, Ardoca; e
Ayoluwa, a alegria do nosso povo.
10. POLIFONIA:
variação entre
1ª e 3ª pessoa
OLHOS D’ÁGUA
“A gente combinamos de não morrer:”
Narradores: fluxo de consciência
Dorvi: personagem envolvida com
narcotráfico
Bica: Tem um filho com Dorvi, é sua
companheira.
Estrelina: mãe de Bica e de Idago,
morto pelo tráfico
Oito segmentos
iniciados com
expressões em
negrito:Várias
vozes falam no
conto.
11. DESCRIÇÃO
Em “Olhos D’água” Conceição Evaristo constrói uma série de narrativas,
composta por 15 diferentes contos, que se entrelaçam ao relatarem a
história de mulheres e homens negros que sofreram e sofrem os mais
diferentes tipos de violência e depreciação na sociedade.
No entanto, desde o primeiro conto que leva o mesmo título do livro,
percebemos que a autora vai além de uma construção vinculada apenas
ao sofrimento, ela conduz o leitor a um aspecto da ancestralidade e
identidade afro-brasileira que perpassa e em alguns momentos até
acalenta a dura realidade de seus personagens.
12. DESCRIÇÃO
Alguns dos TÍTULOS DOS CONTOS que compõe a publicação são construídos pelo nome e
sobrenome de seus protagonistas, entre esses, podemos destacar:
1- Ana Davenga;
2-Duzu-Querença;
3- Maria;
4- Luamanda;
5- Di Lixão; e
6-Lumbiá.
13. DESCRIÇÃO
O PREFÁCIO que abre o livro sinaliza para a grande marca da autora: a noção de
escrevivência. Isto é, a escrita a partir de um lugar de enunciação que é também ̶̶ e
sobretudo ̶̶ o da vivência da experiência narrada e o quanto essas escritas negras e
femininas encontram-se embaralhadas na tênue linha que tenta separar, sem muito
sucesso, a realidade vivida, da ficção sonhada.
Desta forma, tudo isso acaba provocando nos leitores, uma identificação imediata com as
narrativas lidas e compartilhadas. Como já descrito, as narrativas do livro são costuradas
e umedecidas pelo choro dos personagens, que desabrocham e suplicam, mesmo que
em silêncio, do lugar de opressão e submissão que ao longo da história foi designado a
eles.
14. IMPORTÂNCIA DO LIVRO
“Olhos D’água” produz um lindo entrelaçar entre a
temática e a poética, isso porque a construção linguística
utilizada pela autora é de um acabamento preciso assim
como o amarrar das histórias. As narrativas são permeadas
de lágrimas, violência, ancestralidade, fé e sentimentos.
A voz não se cala perante os acontecimentos narrados e
nem a essência subjetiva da criação literária. Talvez por isso
o livro comova e conduza todos os leitores pelo caminho da
dor poética.
15. Período Histórico
Publicada em 2014, pela editora PALLAS, a obra de
Conceição Evaristo reúne narrativas que abordam
conflitos sociais, históricos e contemporâneos,
representando o grito dos escritores negros e de toda uma
sociedade que não deveria silenciar nunca. Esse livro é
um dos atalhos por onde a voz negra pretende ecoar.
16. TEMÁTICA
São muitas e se repetem.
O cotidiano de negros e pobres, em vidas marcadas pela
desigualdade social, preconceito racial, violência, miséria,
vida em favelas, cotidiano de mulheres negras e pobres,
homossexualismo, infância, erotismo.
17. TEMPO E ESPAÇO
As histórias se passam em um tempo psicológico, ou
seja, não existem datas nem cronologia.
As personagens estão em um momento emocional
marcante.
Os espaços são as favelas (Rio de Janeiro e Belo
Horizonte) e a realidade que as rodeia (lixões, estações
de trem, ônibus)
18. CONTO: OLHOS D’ÁGUA
NARRAÇÃO: PRIMEIRA PESSOA
PRESONAGEM PRINCIPAL: A NARRADORA, UMA MULHER NEGRA E POBRE.
A narradora não tem nome;
Mulher, negra , pobre, mãe e filha;
Filha mais velha entre sete;
Não há menção a personagem masculino na história;
Recorda mulheres ancestrais;
Lembra-se das brincadeiras da mãe para enganar a fome das filhas;
Preocupa-se com o fato de não se lembrar da cor dos olhos da mãe;
Volta à cidade natal e vê na mãe olhos de lágrimas; e
Sua filhinha pergunta qual a ‘cor tão úmida’ de seus olhos.
19. ANA DAVENGA
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA
PRESONAGEM PRINCIPAL: ANA DAVENGA,UMA MOÇA DE 26 ANOS, NEGRA E POBRE.
Assume o nome de seu homem (Davenga);
Negra, pobre e amante;
Com 26 anos (festa surpresa de 27);
Gravidez não comunicada;
Seu homem é violento (matara Maria Agonia), líder da favela;
Não se incomoda pelos riscos que corre, por que viver é um risco; e...
Morre fuzilada dentro de seu barraco com a invasão da polícia para prender Davenga.
20. DUZU-QUERENÇA
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA
PRESONAGEM PRINCIPAL: DUZU, UMA SENHORA MENDIGA, NEGRA E LOUCA.
Duzu é mulher, negra, pobre, fora prostituta (antes mesmo de saber o que era
prostituição);
Senil, deseja voar (depois de observar as roupas no varal) e deseja que a vida seja
um carnaval (com papel planeja confeccionar sua fantasia.);
Mãe e avó: teve nove filhos, no momento do texto, espalhados pelos morros
21. MARIA
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA
PRESONAGEM CENTRAL: MARIA, UMA DOMÉSTICA NEGRA E POBRE.
É mulher, negra, pobre, domestica, separada e mãe de três filhos.
Vindo do trabalho, com as sobras de uma festa na casa da patroa e R $35,00 e um corte na mão feito por
uma faca laser.
Encontra o pai de seu primeiro filho no ônibus, entre conversas sussurradas, renasce a ternura entre eles.
O homem pede que faça um carinho no filho e a seguir anunciam (ele e um comparsa) um assalto ao
ônibus;
Ela não é assaltada;
Após o assalto, Maria é acusada como cúmplice (atacada moral, racial e fisicamente) e linchada.
Pobres roubando pobres, negros ofendendo negros, vitimados vitimando.
22. QUANTOS FILHOS NATALINA TEVE?
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: NATALINA, UMA JOVEM NEGRA E POBRE.
Natalina é mulher, negra, pobre, domestica, solteira(não queria marido) e mãe de quatro filhos.
A primeira gravidez fruto da inexperiência(13 anos) não quis o filho, tentou o aborto(Sá Praxedes) e acabou
por deixa-lo na maternidade com uma enfermeira.
A segunda gravidez foi fruto de um relacionamento com um peão de obra, ele queria casar, queria o filho.
Não se quis casar, ele levou o filho para a cidade natal dele.
A terceira gravidez ocorreu a pedido da patroa, estéril, ela pede a Natalina que engravide de seu marido. Foi
muito bem cuidada. Doou o filho aos patrões.
A última gravidez é resultado de uma violência sexual. Homens invadiram seu barraco à procura de um
irmão (ela é uma de sete irmãs). Nega ter irmão, é sequestrada e violentada. Após o ato, num descuido do
agressor, tomou sua arma e o matou.
Aquele filho seria dela (fruto da violência, dos frágeis limites entre a vida e a morte)
23. BEIJO NA FACE
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: SALINDA, UMA MULHER NEGRA E INFELIZ NO CASAMENTO.
Salinda (Sinha Linda) é mulher, negra, casada, infeliz (marido inseguro) e mãe de dois filhos.
Descobre-se como homossexual.
O marido e ela foram namorados quando jovens, mas se separaram, ela teve uma filha de outro
homem, reencontraram-se, porém ele tornou-se inseguro e desconfia da traição com um amigo do
casal.
A tia é sua cúmplice na traição ao marido, todavia com uma mulher.
Diante do espelho ela, ela recorda o beijo da parceira, sua imagem e lembra o telefone ameaçador do
marido dizendo que sabia de tudo (entretanto, o ‘tudo’ não era a sua desconfiança).
24. LUAMANDA
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: LUAMANDA, MULHER NEGRA DE QUASE 50 ANOS, MAS COM APARÊNCIA
DE 35.
Luamanda é mulher, negra, bem resolvida sexualmente, com 50 anos (aparência
extremamente jovem) é mãe e avó.
Superficialmente ela parece narcisista, mas é apenas uma mulher que pretende
aproveitar a vida em plenitude.
Aprecia a sexualidade em suas variadas formas;
Recorda os vários amores (as várias definições que o amor pode ter aliadas às
suas experiências: homens jovens, mulheres, velhos)
25. O COOPER DE CIDA
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: CIDA, UMA MULHER DE 29 ANOS.
Cida é solteira, tem 29 anos e vivia correndo para dar conta da vida.
Um dia resolve desacelerar em seu ‘cooper’ e vê o mar, vê também um nadador, pensa que
para estar no mar aquela hora - ele deveria ser rico.
Quase sem perceber desacelera e atrasa seu companheiro de trabalho que lhe daria uma
carona.
Ela dispensa o rapaz e resolve tirar o dia para si mesma.
26. ZAÍTA ESQUECEU DE GUARDAR OS BRINQUEDOS
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGENS PRINCIPAIS: AS GÊMEAS ZAÍTA E NAÍTA.
TRABALHA COM A TEMÁTICA DA INFÂNCIA
ZAÍTA é vítima de violência do Morro – (morre em um tiroteio na favela).
São duas gêmeas, Naíta e Zaíta, que moravam na favela e viviam constantemente ameaçadas pela raiva
da mãe que surtava quando as meninas não guardavam seus brinquedos.
Um dia, Naíta e Zaíta disputavam uma figurinha que continha um desenho aromatizado de uma flor.
Naíta pega a figurinha sem que Zaíta perceba e se esconde na casa da vizinha.
Zaíta sai nas ruas a procura de sua irmã e morre em meio a um tiroteio.
Naíta encontra o corpo da irmã quando ainda se lamentava por não ter guardado os brinquedos.
27. DI LIXÃO
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: DI LIXÃO, UM GAROTO DE 15 ANOS.
TRABALHA COM A TEMÁTICA DA INFÂNCIA
Um menino de rua de mesmo nome do conto – (gostava de revirar latas de lixo, especialmente quando
estava bravo), tem 15 anos, é órfão e não vive com a família.
Um dia amanhece com dor de dente; tudo estava infeccionado.
Ele acorda com uma cusparada de uma outra criança que divide o barraco com ele, o menino revida com
um chute entre as pernas e a dor se generaliza.
Di lixão lembra da mãe que lhe aconselhava a estudar, mas ele não seguiu o conselho e parece odiar a
mãe a quem viu matarem. Diz saber quem a assassinou, mas ódio a ela não denunciou.
A ferida se transforma em infecção que ele a estoura. O menino é encontrado morto, em posição fetal,
com a boca entreaberta correndo sangue.
28. LUMBIÁ
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: LUMBIÁ, UM MENINO NEGRO.
TRABALHA COM A TEMÁTICA DA INFÂNCIA
Menino negro, de nome LUMBIÁ, que é obrigado a trabalhar na rua. (vendia amendoins, chicletes,
flores, etc.) Lumbiá trabalhava junto com a irmã e um amigo, mas o que ele gostava mesmo era de
vender flores; ficava fascinado com aquele colorido em seus braços.
LUMBIÁ sempre tinha uma estratégia infalível para vender seus produtos e alcançava grande
sucesso, debruçava-se sobre uma mesa e às vezes, fingia que chorava muito, e muitas outras vezes
não era fingimento!
O menino era encantado pelo Natal, pelo presépio; mais especificamente pela imagem do menino
Jesus. Sentia-se parecido com ele em toda a sua pobreza, só faltava ser negro como ele.
Sua paixão era tanta que o menino tenta roubar a imagem do menino-Jesus e morre atropelado
enquanto fugia com a imagem nos braços.
29. OS AMORES DE KIMBÁ
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: KIMBÁ, UM ADOLESCENTE NEGRO E POBRE.
Kimbá (Zezinho) é um belo jovem negro e pobre das favelas cariocas;
KIMBÁ - estava descontente com a vida que vivia e a compara com a de Gustavo seu amigo rico da Zona Sul (foi ele
quem o apelidou de Kimbá –que era o nome de um rapaz nigeriano amigo de Gustavo);
Não gostava da vida que levava; não gostava do morro, nem de seus habitantes. Vivia em condições de extrema
pobreza.
Kimbá gostava mesmo era de Beth, uma garota rica, que fora apresentada a ele por de Gustavo. A situação se
desenrolava: Beth estava estava apaixonada por Kimbá, e ele por ela, mas Gustavo também era apaixonado por
Kimbá, porém nunca teve coragem de se declarar... Isso acabou gerando certo incômodo, ciúmes que não poderiam
ocorrer, afinal eram amigos.
A situação chegou a tal ponto, que Kimbá teria de se decidir entre um e outro; fizeram um pacto de amor entre
eles. A morte pelo amor dos três. Decidiram suicidar-se juntos, ingerindo veneno e esperar a morte chegar.
30. EI, ARDOCA
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA , POR UM NARRADOR ONISCIENTE.
PRESONAGEM PRINCIPAL: ARDOCA, UM HOMEM NEGRO E POBRE.
Trabalhador carioca, pobre e negro, chamado Ardoca, que desde sempre conviveu com os trens,
mas nunca se acostumara a eles. Mesmo aos domingos, em casa, ouvia o barulho do trem nos
trilhos, e isso o perturbava muito.
Uma tarde, fraquejou... caminhou em direção à estação, comprou um bilhete, entrou no trem,
encostou-se na parede e, lentamente, foi escorregando o corpo até chegar ao chão. Cansado de sua
vida, Ardoca havia tomado veneno e decidiu morrer no trem.
Em meio aos vagões de trem ele morre e é falsamente “socorrido” por outro homem que o tira do
vagão.
O trem em movimento ainda mostra Ardoca sendo despojado de seus pertences(relógio, sapato,
tênis). Não podia fazer mais nada.
31. A GENTE COMBINAMOS DE NÃO MORRER
NARRAÇÃO: VÁRIOS NARRADORES
PRESONAGENS PRINCIPAIS: BICA E DORVI.
A história é dividida em 8 partes, cada qual com um narrador, e separada apenas por um espaço,
como se fosse uma linha em branco.
DORVI: personagem envolvida com narcotráfico, pobre negro, sabe que é o elo mais fraco do
tráfico; gosta do perigo, sabe dos riscos e não tolera traição; mata um amigo (NEO, supostamente
por ter adulterado a droga) Quebra o juramento que combinaram, o de não morrer e some).
BICA: Tem um filho com DORVI, é sua companheira, gosta das palavras, refugia-se nelas, ouve
barulho de tiros mas consola-se na escrita. “Escrever era uma maneira de sangrar”.
MÃE de BICA e de IDAGO, morto pelo tráfico (porque falava demais) - era pobre, negra,
separada, se refugiava nas novelas...
32. AYOLUWA, A ALEGRIA DE NOSSO POVO
NARRAÇÃO: TERCEIRA PESSOA, POR UM NARRADOR ONISCIENTE
PERSONAGEM PRINCIPAL: AYLOWA
O conto narra a história de uma aldeia, ANTES e DEPOIS no NASCIMENTO de uma MENINA, a COMUNIDADE
estava em uma FASE DE TOTAL DERESSÃO; ninguém na aldeia tinha mais ânimo para nada;
HAVIA ESCASSEZ DE TUDO: (alimentos, alegria, água, sonhos, desejos, dança, etc.) ;
AS PESSOAS morriam cedo e matavam-se; pois NÃO TINHAM RAZÃO DE VIVER. Nenhuma criança nascia por ali
há muito tempo.
Até que um dia, em volta da fogueira, uma mulher jovem pronunciou: “Bamidele, a esperança, anunciou que ia
ter um filho .”
O ANÚNCIO DO NASCIMENTO de AYOLUWA transformou a aldeia, TODOS VOLTARAM A TER ESPERANÇA; a vida
renascia naquela comunidade.
33. CONTINUAÇÃO DO CONTO: AYOLUWA
MAS (...), apesar de todos terem ficado esperançosos, tinham CONSCIÊNCIA DE SUAS DIFICULDADES. A MAIOR ERA A dificuldade INTERIOR
de acreditar novamente no valor da vida.
AYOLUWA é uma MENINA que, AO NASCER, TRAZ ESPERANÇA para uma COMUNIDADE NEGRA EM CRISE (comunidade esta - que é
sutilmente descrita, mas não claramente declarada como negra);
HÁ MENÇÕES A CULTOS, CRENÇAS e SIMBOLOGIAS de origem AFRICANA, como a etimologia dos NOMES (significado dos personagens-
BAMIDELE: “esperança” e AYOLUWA: aquele que veio para trazer alegria para o nosso povo, é a criança que está para nascer e o significado do
seu nascimento é muito importante: a “ALEGRIA”), a questão de se referenciar aos ANCESTRAIS; a simbologia da questão do NASCIMENTO – (o
ciclo da vida que continua...).
AYOLUWA NÃO VEIO com a promessa da SALVAÇÃO, mas também NÃO VEIO PARA SER SACRIFICADA NA CRUZ. AYOLUWA, alegria de nosso
povo, e sua mãe BAMIDELE, a esperança, CONTINUAM FERMENTANDO... “o pão nosso de cada dia” - como simbologia maior da vida...
34. ANÁLISE
Sempre houve dentro da literatura um investimento na construção negativa da
mulher e do homem negro, entretanto nos últimos tempos um movimento em
sentido oposto está crescendo, esse vem sendo liderado pelos autores que
fazem parte desse grupo e que passaram a contar suas próprias histórias; ou
seja, de suas “escrevivências” e de seus semelhantes, na tentativa de recontar e
dar um novo sentido a suas vidas.
A escrita de conceição Evaristo e a voz que ecoa de “Olhos D’água” é uma
aposta que vai de encontro a esse novo sentido e contra as vozes e discursos
que até então imperavam no meio literário.
35. ANÁLISE
Podemos dizer que o livro de Conceição Evaristo divide-se em duas
perspectivas diferentes que não se excluem:
A PRIMEIRA: evoca questões da ancestralidade e identidade [O conto
que abre o livro (Olhos D’água) e o conto que encerra a obra (Ayoluwa, a
alegria do nosso povo)]. Os contos que se encaixam entre essas duas
narrativas (Ana Davenga, Duzu- Querença, Maria, Quantos filhos Natalina
teve? Beijo na face, Luamanda, O cooper de Cida, Zaíta esqueceu de
guardar os brinquedos, Di lixão, Lumbiá, Os amores de Kimbá, Ei, Ardoca e
Agente combinamos de não morrer) estariam imbricados por um aspecto
de violência que se multiplicariam em temáticas diversas como estupros,
assassinatos, linchamentos, fome e demais mazelas.
36. ANÁLISE
Analisando o processo de criação literária de Conceição Evaristo em Olhos D’água notamos
que existe uma característica marcante dos contos que integram o aspecto da violência, O
“BRUTALISMO POÉTICO” nesse caso compreendido como uma narrativa que apresenta
elementos linguísticos e semânticos duros, mas não menos poéticos. Por isso os leitores mesmo
diante de cenas de profundo impacto ficam surpresos pela maneira com a qual a escritora
consegue amarrar a violência urbana com tamanha leveza em suas palavras.
Outro recurso estilístico que cabe ressaltar dentro do processo de criação é o recurso de
escrita que se baseia na hifenização, o qual podemos denominar, neste caso específico,
palavras siamesas: “LAVA-LAVA” e “PASSA-PASSA” (p. 16); “PEITOS-MAÇÃS” (p. 22); “GOZO-
PRANTO” (p. 23); o nome de uma de suas mais contundentes de sua galeria de personagens,
“Duzu-Querença” (p. 31); “FLOR-CRINÇA” (p. 46); essa estrutura cria uma assinatura estética
para a autora. Cabe ainda destacar que os nomes escolhidos para seus personagens também
são criados a partir da aglutinação de palavras , “Luamanda” por exemplo seria formado pelo
substantivo lua e o verbo “mandar” (conjugado no presente do indicativo, na terceira pessoa do
singular).
37. ANÁLISE
Evaristo também utiliza outras fontes para a denominação de personagens que são inspirados nas
culturas africanas Banto e Iorubá. Essa influência se estende inclusive para as TEMÁTICAS DAS
NARRATIVAS, pois as REFERÊNCIAS às NARRATIVAS MÍTICAS AFRICANAS se apresentam ora como
poderosas metáforas, ora como alegorias que podem se referir, direta e/ou indiretamente, à
DIÁSPORA AFRICANA - no (dispersão de um povo em consequência de preconceito ou perseguição
política, religiosa ou étnica.)passado brasileiro e seus desdobramentos em nosso cotidiano atual.
Recorrente na prosa de Conceição Evaristo, a HEREDITARIEDADE que ECOA na geração seguinte
revela-se um traço forte no que diz respeito à ANCESTRALIDADE, como um ELO estabelecido ENTRE
PASSADO e FUTURO que se concretizará no desfecho do(s) conto(s). “Hoje, quando já alcancei a cor
dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os
olhos de uma são o espelho dos olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de
minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo, ela tocou suavemente o meu rosto, me
contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou baixinho, mas tão
baixinho como se fosse uma pergunta que para ela mesma, ou como estivesse buscando ou
encontrando a revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei quando, sussurrando,
minha filha falou: _Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos? (EVARISTO, 2011, p. 19).