O autor dispensa apresentação. Só que os Estados Unidos estão muito longe do declínio que ele espera. E ele fala do Japão, que perdeu o gás. A bola da vez China parece estar entrando em crise. São ciclos longos que ultrapassam a capacidade da análise histórica de quem observa muito de perto os fenômenos.
O esquema político-eleitoral por meio do qual as oligarquias exerceram sua dominação durante a Primeira República foi arquitetado no governo do presidente Campos Sales (1898-1902) e funcionava da seguinte maneira: os chefes políticos locais, chamados na época de coronéis, coagiam os eleitores a votarem nos candidatos indicados por eles. Sua influencia foi fortíssima no interior do Nordeste, onde o poder era exercido por meio de sua influência social e de suas milícias particulares composta por jagunços e cangaceiros.
O esquema político-eleitoral por meio do qual as oligarquias exerceram sua dominação durante a Primeira República foi arquitetado no governo do presidente Campos Sales (1898-1902) e funcionava da seguinte maneira: os chefes políticos locais, chamados na época de coronéis, coagiam os eleitores a votarem nos candidatos indicados por eles. Sua influencia foi fortíssima no interior do Nordeste, onde o poder era exercido por meio de sua influência social e de suas milícias particulares composta por jagunços e cangaceiros.
Liberais (neo e de longa data) costumam caracterizar as idéias que animaram os
anos do desenvolvimentismo pós-Segunda Guerra, como “muito antigas”. O livro Estados
e moedas no desenvolvimento das nações fornece todo um conjunto de argumentos
teóricos e descrições históricas que confirmam esse ponto de vista. Não se deve esquecer,
e o livro aponta isso com clareza, que as próprias idéias liberais também não são tão novas
assim, datando do século passado: seja na sua forma primeira, através das recomendações
de políticas específicas por autores clássicos, seja na sua forma “canônica”, que deriva
diretamente da teoria marginalista, a partir de 1870.
Na verdade o “muito” das “idéias antigas” é de certa forma tomado ao pé da letra
pelo livro. Já no seu ensaio introdutório, José Luís Fiori retrocede a um distante tempo
histórico/teórico, buscando no confronto das idéias dos mercantilistas com seus críticos as
raízes da expulsão dos Estados (e de seus sistemas interestatais) do papel de elemento
crítico para a compreensão dos processos de desenvolvimento desigual das diferentes
nações. Essa perspectiva de análise é, aliás, resumida por Arrighi na apresentação do livro,
como uma “visão braudeliana, nada convencional, da existência de uma relação ligando a
criação e a reprodução ampliada do capitalismo histórico, como sistema mundial, aos
processos de formação de mercados de outro... (de forma que todas) as expansões e
reestruturações da economia capitalista mundial ocorrem sempre sob a liderança de
determinadas comunidades e blocos de agentes governamentais e empresariais”.2
Nesse sentido o título Estados e moedas no desenvolvimento das nações é quase
um resumo do que o leitor vai encontrar nas cerca de 500 páginas que o esperam. Mas
atenção, o sentido das palavras do título é bastante específico e reflete a abordagem
radicalmente antiortodoxa dos ensaios ali reunidos. A forma plural como “moeda” aparece
no título não é gratuita, e revela uma visão que interpreta os diversos arranjos monetários
histórico-internacionais como reflexo das relações de poder entre os principais Estados do
núcleo capitalista, bem como a forma como esses arranjos condicionam as perspectivas de
desenvolvimento das diversas nações. Nada mais longe, pois, de abordagens monetaristas,
explícitas ou não, que costumam estudar os fenômenos monetários segundo uma
perspectiva neutra e cuja administração e suposto controle nacionais refletiriam o grau de
“responsabilidade” dos diferentes governos.
A revolução industrial desenvolve novas estruturas políticas – a colonização extensiva a todo o planeta, o domínio diversificado das burguesias através do parlamentarismo ou de ditaduras, sempre com a vulgarizada utilização da guerra, da violência contra os trabalhadores e os povos colonizados.
Do ponto de vista económico, o capitalismo liberal, produz os cartéis, o imperialismo e desenvolve fórmulas de fusão das funções económicas e políticas através do capitalismo de estado e do fascismo.
Os Ocidentais apresentam-se como os construtores da História, os únicos com capacidade para definir o futuro e, portanto, os portadores da universalidade.
B – O imperialismo e os seus limites
8- Revolução Industrial
9 – A construção do imperialismo
10 – O imperialismo maduro
11 - As duas Grandes Guerras e os alvores do keynesianismo
12 - O capitalismo de estado e o fascismo
Giovanni Arrighi desenvolveu o modelo dos “ciclos sistêmicos de acumulação” associando as transições hegemônicas e as mudanças nos “regimes de acumulação” para estudar as origens e as transformações do sistema mundial. De acordo com essa teoria, Arrighi considera que a expansão financeira que se deu a partir dos anos 70 é o sinal claro que a hegemonia norte-americana já entrou numa “crise terminal”. Arrighi defende a idéia que os Estados Unidos estão presos numa espiral negativa do ponto de vista econômico que associa os desgastes orçamentários da Guerra no Iraque, o crescente aumento de seu endividamento, a perda de credibilidade do dólar como moeda internacional e a ascensão da China.
Este artigo se propõe a criticar a tese da decadência dos Estados Unidos elaborada por Giovanni Arrighi mostrando que a potência econômica norte-americana continua se mantendo numa posição hegemônica. Assim, a visão do endividamento dos Estados-Unidos como fonte de ameaça à sua estabilidade econômica e da suposta perda de centralidade do dólar a nível mundial é combatida. Da mesma forma, é rejeitado o argumento do peso das despesas militares como elemento de enfraquecimento econômico estadunidense. É, também, criticada a tese de Arrighi segundo a qual a taxa de retorno do estoque de capital investido no comércio e na produção deveria cair durante a fase de expansão financeira do hegemon. Enfim, é mostrado que a idéia de um deslocamento do poder econômico dos Estados Unidos para a China, que estaria se tornando um novo hegemon, parece, também, não corresponder à realidade.
Semelhante a O longo século xx arrighi - resenha (20)
Uma análise econômica crítica da tese da decadência hegemônica dos Estados Un...
O longo século xx arrighi - resenha
1. RESENHA
ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: dinheiro, poder e
as origens de nosso tempo. UNESP, Rio de Janeiro, 1995.
Adelino Lorenzoni1
O texto vai além das leis dos níveis das economias de
mercado mundiais e das civilizações materiais do mundo
propiciando assim identificar onde estão escondidos os segredos
da Lombue Duree do capitalismo histórico.
A noção de desenvolvimento do capitalismo moderno
desenvolvida por Arrighi é parte de uma abordagem teórica e de
uma interpretação da economia capitalista alicerçada em ciclos
de acumulação, o autor começa por uma análise das três
hegemonias do capitalismo histórico (hegemonia, capitalismo e
territorialismo). A hegemonia estaria ligada a competência de um
estado de exercer funções de liderança e governo, em um
segundo momento o autor analisa o capitalismo como uma
tendência de grupos capitalistas mobilizarem seus respectivos
estados para propiciar um maior universo de atuação para suas
empresas capitalistas favorecendo assim suas posições
competitivas. Em relação ao territorialismo, Arrighi aborda que
os governantes capitalistas identificam o poder como a extensão
de seu controle sobre os recursos escassos, e que os mesmos
consideram as aquisições territorialistas um meio e um
subproduto da acumulação de capital.
Ainda no primeiro capítulo são discutidas as origens do
moderno sistema interestatal através de uma analise das cidades-
estados mostrando que até pequenos territórios poderiam
transformar-se em imensos continentes pois a busca de riquezas
propiciava a acumulação de capital, para as cidades-estados do
norte da Itália.
1
Licenciado em Ciências Econômicas Empresariais e Pesquisador do Escritório
de Desenvolvimento Regional (UCPEL).
2. Resenha
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002186
Dando seqüência ao texto, Arrighi descreve que os
retardatários tiveram que reestruturar radicalmente a geografia
política do comercio mundial através de uma nova síntese de
capitalismo e territorialismo criada pelos mercantilistas franceses
e britânicos no século XVIII, alicerçada em três componentes
principais: a colonização direta, a escravatura capitalista e o
nacionalismo econômico. Logo a seguir o autor enfatiza que o
imperialismo de livre comércio estabeleceu o princípio de que as
leis que vigoram dentro e entre as nações estavam sujeitas a um
mercado mundial, regido por suas próprias “leis” que combinada
com a expansão territorial ultramarina e com o desenvolvimento
de uma indústria de bens de capital tornaram-se poderosos
instrumentos para os governantes britânicos criarem redes
mundiais de riqueza e poder, propiciando domínio sobre o
equilíbrio global através de um estreito relacionamento com a
haute finance o que por sua vez gerou capacidade hegemônica
sem precedentes ao Reino Unido.
Em suma, o autor relata que a criação no século XIX de
uma estrutura imperial parcialmente capitalista e parcialmente
territorialista, propiciou a formação e a expansão da economia
capitalista mundial, refletindo assim uma continuação, através de
meios diferentes e mais eficazes das buscas imperiais dos tempos
pré-modernos.
Quanto aos EUA, Arrighi descreve que o processo de
desenvolvimento deveu-se a sua economia domestica
caracterizada por um forte mercado interno, assim como sua
política de manter as portas do mercado interno fechadas aos
produtos estrangeiros, mas abertas ao capital, a mão-de-obra e a
iniciativa do exterior, contribuindo para tornar o país o maior
beneficiário do imperialismo britânico do livre comércio, com
isso, o Reino Unido perdeu o controle sobre o equilíbrio global.
Em relação ao primeiro capitulo e a hegemonia norte-
americana não podemos deixar de mencionar as observações do
autor a respeito dos instrumentos de poder que foram sendo
dispostos para proteção e reorganização do “mundo livre”; as
organizações de Bretton Woods e a ONU transformaram-se em
instrumentos suplementares, administrados pelo governo do
3. Adelino Lorenzoni
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002 187
EUA no exercício de suas funções hegemônicas mundiais
beneficiando assim os produtos e as empresas norte-americanas
principalmente quando da formação do acordo geral sobre tarifas
e comércio (GATT) deixando nas mãos do governo dos EUA o
controle sobre o ritmo e a direção da liberalização comercial,
para o autor, os EUA instituiu não um regime de livre comercio e
sim um arranjo improvisado de comercio mundial.
Em seguida o capitulo do livro faz uma descrição do
primeiro ciclo de acumulação genovês enfatizando que o mesmo
desenvolveu-se a medida que intensificaram-se as pressões
competitivas e que o capital excedente gerado foi utilizado para
financiar a crescente dívida pública das cidades-estados,
propiciando assim alienação futura do patrimônio e da receita por
parte das classes capitalistas, movendo-se em direção à formação
do mercado e a estratégias e estruturas de acumulação cada vez
mais flexíveis o capitalismo milanês veneziano florentino por sua
vez, desenvolveu o sentido da gestão do estado e de estratégias
compostas por estruturas mais rígidas de acumulação de capital.
Logo a seguir em um segundo momento Arrighi analisa
“O Segundo Ciclo Sistêmico de Acumulação Holandês”, no qual
descreve que os Holandeses, no século XVI, tornaram-se
beneficiários de um fluxo volumoso e regular de excedentes
monetários o que por sua vez resultou na expansão de seu
sistema comercial do âmbito regional para o global.
Seguindo o texto o autor acrescenta que a economia
capitalista mundial passou a caracterizar-se por um sistema em
que as redes de acumulação estavam inteiramente inseridas nas
redes de poder, e subordinadas a elas, e que essa transformação
passou por uma série de ciclos sistêmicos de acumulação, cada
um consistindo de uma fase de expansão material e esta seguida
por uma fase de expansão financeira resultante das atividades de
um complexo particular de agentes governamentais e
empresariais dotados de capacidade de levar a expansão um
passo além do que podiam ou queriam fazer os promotores e
organizadores da expansão precedente.
Arrighi cita o enclave capitalista do norte da Itália, como
principal ponto da expansão financeira reflexo da expansão
comercial precedente, no entanto, o autor enfatiza que as relações
4. Resenha
Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002188
entre os centros de acumulação desse enclave e suas cidades-
estados caracterizavam-se fundamentalmente por relações
cooperativas.
O autor cita que o capitalismo nasceu como um sistema
social histórico devido à intensificação da concorrência
intercapitalista e a luta pelo poder dentro das cidades-estados e
entre elas; o controle desses estados pelos interesses capitalistas
gerou uma alienação das cidades-estados ao interesse monetário,
tornando-se aspecto fundamental da expansão financeira do norte
da Itália, pois, grupos capitalistas que já não podiam investir com
lucro no comércio passaram a investir na tomada dos mercados
dos concorrentes como um meio de se apropriarem dos bens e da
receita futura do estado dentro do qual operavam. Arrighi
acrescenta que a primazia na arte e na cultura tornaram-se o meio
para conquistar a legitimidade das cidades-estados.
No terceiro capítulo Arrighi analisa o chamado Terceiro
Ciclo Sistêmico de Acumulação Britânico no qual descreve que a
absorção por parte das organizações governamentais e
empresariais do mundo inteiro dos bens de capital britânico
assim como a crescente expansão de suas redes bancárias
propiciaram prosperidade sem precedentes para a burguesia
inglesa e que a Grã-Bretanha pode exercer as funções de
entreposto comercial e financeiro do mundo, por ser industrial e
imperialista. No mesmo capítulo o texto deixa claro que as
oscilações seculares mediante as quais materializaram-se as
alternâncias entre fases de “liberdade econômica” e fazes de
“regulação econômica”, ou seja, entre as tendências competitivas
e cooperativas correspondera em geral à sucessão de ciclos
sistêmicos de acumulação.
Seguindo o penúltimo capitulo o autor analisa o Quarto
Ciclo Sistêmico de Acumulação Norte-Americano na qual cita
que a luta interestatal pelo poder elevou os custos de proteção
para os estados europeus, inclusive para a Grã-Bretanha
obrigando a burguesia a externalizar esse ônus, através da
obtenção de divisas estrangeiras mediante a exportação de
produtos primários, o mesmo ainda descreve que tão logo
terminada a guerra norte-americana surgiram os primeiros
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Sociedade em Debate, Pelotas, 8(3)185-190, Dezembro/2002 189
indicadores de uma recessão e que a tradição protecionista norte-
americana foi retomada a pleno vapor favorecendo suas
corporações. Apartir deste momento os EUA destruío as
estruturas de acumulação do capitalismo de mercado Britânico e
centralizou a liquidez, o poder aquisitivo e a capacidade
produtiva da economia mundial, pois, propiciava de um imenso
mercado domestico.
No texto referente ao ultimo capítulo o autor comenta
sobre a dinâmica da crise global, descrevendo que as expansões
financeiras são características do capital e da intensificação das
pressões competitivas assim como das grandes expansões do
comércio e produção mundiais.
Logo a seguir Arrighi expõe que a substituição das taxas
de câmbio fixas por taxas flexíveis resultou não apenas a um
refreamento, mas a uma aceleração da tendência dos governos
das nações desenvolvidas sobre a produção e regulação do
dinheiro mundial. O autor ainda relata que em última instância,
essa competição entre os capitais privados e públicos não
beneficiou nem o governo dos E.U.A nem as empresas norte-
americanas; em suma, o texto demonstra que as tentativas do
governo dos E.U.A de preservar o controle sobre o capital
transnacionalizado, lançando mão de meios legais e de políticas
monetárias frouxas foram ineficazes.
Uma última observação do autor refere-se a posições de
autores sobre a sobrevivência do capitalismo, para Shumpeter a
substituição da competição perfeita pelas práticas monopolistas
enfraqueceria a capacidade fundamental que o capitalismo
demonstrara antes, de superar suas crises recorrentes, e gerar ao
longo do tempo grandes aumentos de renda per capita. Polany
por sua vez segue a idéia oitocentista de um mercado auto
regulador, no entanto essa idéia, afirmou ele, implicava uma
perfeita utopia e segundo Arrighi a questão mais pertinente
parecia ser a morte do capitalismo.
A respeito do livro cabe enfatizar que se trata de uma
contribuição extremamente valiosa para os estudiosos sobre o
processo de evolução e formação das economias no Século XX.