1. 02/04/2021 AVA UNINOVE
O ensino de Ciências
REFLETIR SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS.
Quando falamos em ciências, ou melhor, se pedirmos para que você desenhe um cientista, o que você
imaginaria? Muitas pessoas poderiam imaginar a figura de um homem de avental branco, usando óculos,
dentro de um laboratório, com um tubo de ensaio na mão e um comportamento anormal ou estranho, ou
seja, o estereótipo do "cientista maluco".
Para muitos, o fato de ser cientista pode conferir a pessoa uma inteligência acima dos padrões considerados
normais. Assim, muitas vezes podemos observar a valorização do conhecimento científico em detrimento
do conhecimento do senso comum.
O que é senso comum (conhecimento popular) e conhecimento científico? De acordo com Marconi e
Lakatos (2005), desde a Antiguidade até aos nossos dias, um agricultor, mesmo analfabeto ou sem formação
acadêmica, sabe o momento certo do plantio, da colheita, como adubar a terra e proteger as plantações de
ervas daninhas e pragas e qual o tipo de solo adequado para as diversas culturas. Atualmente, a agricultura
utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos químicos, de defensivos contra as pragas e controle
biológico dos insetos daninhos.
Assim, nesse exemplo, os dois tipos de conhecimento se mesclam:
Nesse sentido, o conhecimento popular não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade
nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os
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O primeiro, vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração
para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal;
portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas
do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo reprodutivo dos insetos,
etc.; o segundo, científico, é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, senso
um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos
científicos.
MARCONI; LAKATOS, 2005, P. 75
instrumentos do "conhecer", de forma que os dois saberes têm características compartilhadas quando
procuram explicar os fenômenos, as regularidades do mundo. No entanto, enquanto o conhecimento
comum é espontâneo, usado para desempenhar as nossas atividades cotidianas, o conhecimento científico
privilegia o método científico.
O que é método científico?
Método "é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido,
detectando erros e auxiliando as decisões do cientista". (MARCONI; LAKATOS, 2005, p.83).
"Ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com
o objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação" (TRUJILLO FERRARI, 1974, p.8).
Todas as Ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos, de modo que "não há ciência sem
o emprego de métodos científicos". (MARCONI; LAKATOS, 2005, p.83).
Por que estudar Ciências?
Vamos retomar a discussão da figura do cientista: é claro que aquela figura estereotipada é exagerada,
contudo, nos últimos tempos as constantes revoluções tecnológicas, a quantidade imensa de descobertas e
de informações disponíveis passaram a fazer parte da nossa vida cotidiana.
A ciência está presente nas nossas vidas: na internet, nos produtos tecnológicos, nos filmes, na literatura e
outros. Os meios de comunicação também divulgam as pesquisas e descobertas, como o aquecimento
global, os alimentos transgênicos e o uso das células tronco.
Apesar dos avanços, a Ciência também trouxe problemas como a extração indiscriminada de matéria-prima,
excesso de dejetos gerados pelas indústrias, o consumismo exacerbado, poluição, destruição do meio
ambiente, entre outros.
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[...]às influências sociais, políticas e econômicas a que estão sujeitos os cientistas e as
pesquisas científicas. O trabalho dos cientistas é financiado por grupos de poder, que
estão inseridos em comunidades sociais e sujeitos a influências econômicas. Fatores
sociais, econômicos e políticos podem determinar o que as Ciências investigam, como
essa investigação se dá, o conteúdo dos resultados das investigações e quão divulgados ou
não serão esses resultados.
MORAIS; ANDRADE, 2009, P. 12
Nesse sentido, a Ciência pode auxiliar os seres humanos enquanto participantes ativos de uma sociedade,
de modo que as pesquisas e tecnologias possam colaborar na resolução dos problemas, porém, de forma
crítica e consciente, de modo que ela seja entendida "como um processo, isto é, uma maneira de conhecer o
mundo, que não utiliza um único método e não depende de gênios individuais". (MORAIS; ANDRADE, 2009,
p. 11)
Na história da Ciência, várias descobertas, definições, teorias foram consideradas adequadas para explicar
fenômenos e processos em determinado momento. No entanto, com a realização de novos estudos e
pesquisas, as ideias anteriormente divulgadas passaram a ser modificadas ou mesmo substituídas. Podemos
citar como exemplo a teoria de que a Terra ocuparia o centro do Universo; depois que ele seria ocupado
pelo sol. Assim, as teorias científicas também sofrem modificações e estão sujeitas às revisões.
Outro aspecto que deve estar presente durante os estudos, às discussões e nas aulas de Ciências, refere-se:
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Assim, a Ciência não é neutra e pode estar em função de interesses econômicos, políticos, sociais ou em
benefícios coletivos, produzindo, por exemplo, produtos que melhorem a qualidade de vida humana ou
simplesmente atendam a interesses econômicos e contrariem as indicações de preservação
socioambientais.
Desse modo, a construção dos conhecimentos científicos pode propiciar aos alunos uma melhor qualidade
de vida, assim como uma postura crítica frente às novas tecnologias e descobertas. Para isso, é importante
conhecer um pouco da história do ensino das Ciências no Brasil, que veremos a seguir.
Breve histórico do ensino de Ciências
O ensino de Ciências nas escolas tem se orientado por diferentes tendências. Na década de 50, a disciplina
era ministrada apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial.
A Lei de Diretrizes e Bases Nº 4024/61 ampliou bastante a participação da disciplina de Ciências no
currículo escolar, que passou a ser ministrada desde o primeiro ano do curso ginasial. No curso colegial
houve aumento da carga horária de Física, Química e Biologia. Essas disciplinas passaram a ter a função de
desenvolver o espírito crítico com o exercício do método científico.
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Os alunos não serão adequadamente formados se não correlacionarem as disciplinas
escolares com a atividade científica e tecnológica e os problemas sociais contemporâneos.
Uma reforma que tenha pleno êxito depende da existência de bons materiais, incluindo
livros, manuais de laboratórios e guias de professores, docentes que sejam capazes de
usá-los, bem como condições na escola para o seu pleno desenvolvimento.
KRASILCHIK (2000, P.85)
Em 1971, com a Lei 5692, essa obrigatoriedade passou a ser estendida a todas as séries do Ensino
Fundamental. No entanto, as disciplinas científicas passaram a ter caráter profissionalizante,
descaracterizando sua função no currículo.
Em 1994, os dispositivos da Lei 9494/96 (alterada pela Lei nº 11.274, de 2006) tornaram a disciplina de
Ciências obrigatória em todos os ciclos do Ensino Fundamental de nove anos.
Desse modo, na medida em que a Ciência e a Tecnologia foram reconhecidas como essenciais no
desenvolvimento econômico, cultural e social, o ensino da primeira foi ganhando mais destaque em todos
os níveis de ensino.
É possível identificar durante esse período mudanças no ensino dessa área. Em um primeiro momento, as
aulas resumiam-se à transmissão de conhecimentos por meio de aulas expositivas. Aos alunos cabia
responder aos questionários e nas provas repetir os conceitos apresentados nas aulas.
Em uma segunda fase prevaleceu a ideia da existência de uma sequência fixa e básica de comportamentos,
que caracterizaria o método científico na identificação de problemas, elaboração de hipóteses e verificação
experimental delas, o que permitiria chegar a uma conclusão e levantar novas questões.
Desse modo, a proposta de transmissão de conhecimentos foi mantida, porém, com inclusão de atividades
práticas e de experimentação como complementação das aulas teóricas, de modo que o aluno participasse
não pesquisando, mas apenas assistindo uma demonstração relacionada a um conceito.
Na fase atual percebe-se a necessidade do aluno construir o conhecimento científico, que não deveria ser
simplesmente repassado. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, as ideias prévias dos
educandos têm papel fundamental no processo de aprendizagem, que só é possível embasada naquilo que
ele já sabe. (MEC, 1997, p.45).
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Retomado a discussão do cientista, como eles nascem? Você sabe responder a esse
questionamento? Para ter uma ideia, leia o texto Como nascem os cientistas, de José Reis.
Disponível em: www.mat.uel.br (http://www.uel.br/pessoal/plnatti/Textos-
escolhidos/como_nascem_os_cientistas_.htm). Acesso em: 19 out. 2013.
REFERÊNCIA
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KRASILCHIK, Myriam. Reformas e realidade: o caso do ensino das ciências. São Paulo em Perspectiva, v.14,
n.1, p. 85-93, 2000.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 6 ed. São
Paulo: Atlas, 2005.
MORAIS, Marta Bouissou; ANDRADE, Maria Hilda de Paiva. Ciências: ensinar e aprender. Belo Horizonte:
Dimensão, 2009.
REIS, José. Educação é Investimento. São Paulo: IBRASA, 1968.
TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da Ciência. 3 ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.