2. Escritor português natural, de São Martinho
de Anta, Vila Real. Proveniente de uma família
Real.
humilde.
humilde.
Após uma breve passagem pelo seminário de
Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil.
Brasil.
De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o
1925,
ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso
de Medicina, que terminou em 1933.
1933.
3. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em
outras localidades do país, fixando-se definitivamente em
fixando-
Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941.
Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, dele se desligou
em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca
(outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em
1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve.
A sua saída da Presença reflecte uma característica fundamental
da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e
intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de
escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais
do meio português
4. A esta intensa consciência individual aliou-se, no entanto,
aliou-
uma profunda afirmação da sua pertença à natureza
humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças
que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam
elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga,
tendo como homem a experiência dos sofrimentos da
emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e
com a morte, tornou-se o poeta do mundo rural, das forças
tornou-
telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua
luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa
revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na
violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como
na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a
todas as criaturas no seu sofrimento.
5. Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma
arreligiosidade ou recusa da transcendência.
A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra-se, antes,
encontra-
imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica
o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A
ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península
Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor.
Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de
Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum,
pela rudeza e pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento
de expansão e opressões da história, e por certas características
humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica
de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos
crimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeu-lhe a
valeu-
apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a
prisão pela polícia política portuguesa.
6. Contista exímio, romancista, ensaísta, dramaturgo, autor de mais de 50
obras publicadas desde os 21 anos, estreou-se em 1928 com o volume de
estreou-
poesia Ansiedade. Também em poesia, publicou, entre outras obras,
Rampa (1930), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), Nihil
Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952),
Penas do Purgatório (1954) e Orfeu Rebelde (1958). Na ficção em prosa,
escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias
(1937, obra de fundo autobiográfico, continuada em O Terceiro Dia da
Criação do Mundo, 1938, O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939, O
Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974, e O Sexto Dia da Criação do
Mundo, 1981), Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), O Senhor
Ventura (1943, romance), Novos Contos da Montanha (1944), Vindima
(1945) e Fogo Preso (1976).
É ainda autor de peças de teatro (Terra Firme e Mar, 1941; O Paraíso,
1949; e Sinfonia, poema dramático, 1947) de volumes de impressões de
viagens (Portugal, 1950; Traço de União, 1955) e de um Diário em
dezasseis volumes, publicado entre 1941 e 1994.
7. Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade
da sua linguagem, frequentemente de cunho popular, mas de uma
força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu
conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que
associa uma imagística extremamente sugestiva e viva.
Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe
foram-
atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o
Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne
(1981), o prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da
Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da
Crítica, consagrando a sua obra (1993).
Em 2000, é publicado Poesia Completa
Em 17 de Janeiro morreu o poeta Miguel Torga. Repousa, sob uma
única laje, em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.
8. Em poesia, publicou, entre outras obras:
Rampa (1930)
O Outro Livro de Job (1936)
Lamentação (1943)
Nihil Sibi (1948)
Cântico do Homem (1950)
Alguns Poemas Ibéricos (1952)
Penas do Purgatório (1954)
Orfeu Rebelde (1958).
9. Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
10. Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
--- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
11. Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.
12. O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
13. Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.
Ariane,
14. Deixem
passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada
Deixem, que vai apenas
Beber água de sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão
Que vai ser uma estrela no chão.