Levantamento Da Apifauna Em Floresta Ombrófila Densa De Terras Baixas No Distrito De Pirabeiraba, Joinville, Sc, Brasil.
1. LEVANTAMENTO DA APIFAUNA EM FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE
TERRAS BAIXAS NO DISTRITO DE PIRABEIRABA, JOINVILLE, SC, BRASIL.
Johny Soares de Lima - Universidade da Região de Joinville, Departamento de Ciências
Biológicas, Joinville, SC, johnydelima@gmail.com
Andressa Karine Golinski dos Santos - Universidade da Região de Joinville,
Departamento de Ciências Biológicas, Joinville, SC
Manuel Warkentin - Universidade da Região de Joinville, Departamento de Ciências
Biológicas, Joinville, SC
Denise Monique Dubet da Silva Mouga - Universidade da Região de Joinville,
Departamento de Ciências Biológicas, Joinville, SC
INTRODUÇÃO
As plantas com flores oferecem recursos alimentares abundantes para os insetos que,
por sua vez, as polinizam, sendo os principais os himenópteros do grupo Apoidea,
(abelhas), que contribuem para a produção de frutas e sementes (Buzzi, 1985). O bioma
Mata Atlântica está reduzido a menos de 8% de sua cobertura original, acarretando alta
fragmentação de habitats, comprometimento de sua biota e desestabilização de todos os
ecossistemas do bioma (Rambaldi & Oliveira, 2003). Os serviços prestados pelos
polinizadores em relação à polinização das culturas são altamente dependentes da
conservação da vegetação silvestre próxima onde encontram abrigo e alimento e a
relação polinizadores-culturas pode implicar na procura preferencial das abelhas por
plantas cultiváveis ao invés da flora silvestre.
OBJETIVO
Visando verificar as preferências florais das abelhas em relação a plantas cultivadas e a
plantas silvestres, foi realizado o levantamento da apifauna em Joinville, SC, em
propriedade rural, e de suas plantas associadas, em relação à sua sazonalidade.
METODOLOGIA
Local de estudo
O projeto foi desenvolvido na localidade Vila Canela, Distrito de Pirabeiraba,
Município de Joinville (26°10'31.88"S, 48°55'5.79"O), SC, na APA Serra Dona
Francisca, com cobertura de floresta ombrófila densa de terras baixas (Klein, 1978). O
clima da região é o mesotérmico úmido com verão quente e sem estação seca, a média
anual de precipitação 2.298 mm (IPPUJ, 2013).
Planejamento da amostragem
As coletas foram realizadas em propriedade rural, em áreas florestadas e cultivadas (1/3
da área amostral), de agosto de 2014 a março de 2015, em intervalos bimensais. Foram
realizados transectos nos dois tipos de áreas e procuradas abelhas sobre as flores,
capturadas com rede entomológica e pratos armadilha (Rafael et al., 2012). Após, as
abelhas foram preparadas, numeradas e identificadas, recebendo também o número da
planta visitada, data e horário da coleta, tombadas na coleção de referência do LABEL –
Laboratório de Abelhas da UNIVILLE. Foram utilizadas chaves de identificação
(Silveira et al., 2002) e auxílio de especialistas. O material vegetal foi fotografado,
coletado, herborizado e identificado com auxílio de especialistas.
RESULTADOS
Foram amostrados 1044 indivíduos, de 31 espécies, 21 gêneros e de quatro subfamílias
[Andreninae (1 espécie), Apinae (19), Halictinae (6) e Megachilinae (5)], sendo que
2. Trigona spinipes (Fabricius, 1793) apresentou o maior número de indivíduos
(256)(24,5%), seguida de Apis melifera L., 1758 (206)(19,7%) e Tetragonisca
angustula (Latreille, 1811)(145)(13,8%). Foram coletadas 52 espécies botânicas de 20
famílias. O total de interações foi 1612. Sphagneticola trilobata (L.) pruski foi a espécie
com maior número de interações (112)(6,9%). A família botânica com maior número de
interações foi Asteraceae (191)(11,8%), seguida de Oxalidaceae (36)(2,23%), Rutaceae
(31)(1,92%) e Rosaceae (31)(1,92%). Do total de espécies de plantas amostradas (52),
27 são plantas cultivadas. Dentre estas, destacaram-se Averrhoa carambola L. (35
interações) (2,17 %), Citrus sinensis (L.) Osbeck (15) (0,93%) e Allium fistulosum L.
(10) (0,62%). As abelhas que mais visitaram essas plantas foram A.mellifera e T.
spinipes. Verificaram-se floradas em sete espécies de plantas cultivadas em agosto, 10
em setembro, quatro em outubro, uma em novembro, duas em dezembro, três em
janeiro, seis em fevereiro e 9 em março. As espécies nativas T. spinipes e T. angustula
mostraram variação populacional, com valores mais baixos no inverno, seguidos de
aumento na primavera e baixa no outono. A espécie A. melífera mostrou-se abundante
em todos os meses de coleta.
DISCUSSÃO
A. mellifera, espécie exótica e atualmente cosmopolita, se constitui em polinizador
fundamental para a agricultura, amplamente empregada na produção de mel, é
generalista e possui comportamento social, o que implica em um grande número de
indivíduos e forte presença em regiões agrícolas (Minussi & Alves-dos-Santos, 2007).
Sua abundância aqui relatada se deve às plantas cultivadas e também à provável
presença de caixas de apicultores nas redondezas e eventuais enxames de A. melífera. A
variação na amostragem de indivíduos de T. spinipes e T. angustula evidencia
sazonalidade. A presença das abelhas nas culturas pode diminuir em função de floradas
de plantas silvestres concomitantes com floradas de plantas comerciais e também pode
ser aumentada em decorrência da destruição do habitat natural, substituído por culturas
comerciais (Malerbo-Souza et. al., 2003).
CONCLUSÃO
A variação na amostragem de indivíduos de T. spinipes e T. angustula, espécies nativas,
evidencia uma dependência destas abelhas nativos em relação à variação sazonal dos
fatores abióticos, diferentemente de A. mellifera.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFRICAS
BUZZI, Z. J. 1985. Entomologia didática. Curitiba: Editora Universidade Federal do Paraná. 579 p.
IPPUJ – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville. 2013. Joinville cidade em dados.
Joinville, SC. 207 p.
KLEIN, R. M. 1978. Mapa fitogeográfico do Estado de Santa Catarina. Itajaí: Herbário Barbosa
Rodrigues. 24 p.
MALERBO-SOUZA, D. T., NOGUEIRA-COUTO, R. H.; COUTO, L. A. 2003. Polinização em cultura
de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck, var. pera-rio). Brazilian Journal of Veterinary Research and
Animal Science, 40 (4): 239-242.
MINUSSI, L. C.; ALVES-DOS-SANTOS, I. 2007. Abelhas nativas versus Apis melífera Linnaeus,
espécie exótica (Hymenoptera: Apinae). Bioscience Journal, 23 (1): 58-62.
RAFAEL, J. A.; MELO, G. A. R.; CARVALHO, C. J. B,; CASARI, S. A.; CONSTANTINO, R. 2012.
Insetos do Brasil. Diversidade e taxonomia. Ribeirão Preto: Holos. 810 p.
RAMBALDI D. M.; OLIVEIRA, D. A. S. 2003. Fragmentação de ecossistemas: causas, efeitos sobre a
biodiversidade e recomendações de políticas públicas. Brasília: MMA/ SBF. 508 p.
SILVEIRA, F. A.; MELO, G. A. R.; ALMEIDA, E. A. B. 2002. Abelhas brasileiras: sistemática e
identificação. Belo Horizonte: Fernando A. Silveira. 253 p.